1) O documento descreve a história do Concelho de Sintra durante os períodos renascentista e barroco, quando foi um local favorito da corte real portuguesa.
2) D. Manuel I realizou grandes obras no Paço Real de Sintra e estabeleceu a vila como um local de recreio da corte após receber notícias importantes dos Descobrimentos portugueses.
3) Posteriormente, reinados como os de D. João III e D. Sebastião continuaram a trazer a corte a Sintra, embora de
1. Concelho de Sintra
ROTEIRO RENASCENTISTA E BARROCO
CONCELHO oe:: "'AFRA
N
CONCELHO oe:: CAs,CArs
Escala 1/100000 1 - Povoamento da
Caminho-de-Ferro praia das Maçãs
Estradas Nacionais 2 Estação da Pe-
Estradas Municipais
nhaLonga
Limites de Freguesia _.
3 Povoamento de
S.la Eufémia
4 Dolmen da Pe-
dra Erguida
5 - Dolmen do Mon-
te Abraão
2. 1. DA ESFERA AO JUGO
As naus há muito que partiram a demandar as Índias Orientais. E
neste promontório do ocidente, que é a Serra de Sintra, veraneia agora
um rei meditabundo, talvez preocupado com novas das caravelas da Cruz
de Cristo, talvez a pensar nas obras que há-de mandar executar nos
nobres paços desta vila mui prezada.
Por agora, neste ano de 1497,anda D. Manuel ansioso por tratar do
seu casamento com a Infanta D. Isabel, filha dos Reis Católicos. E Sintra é
lugar propício p'ara o recolhimento de um homem enamorado.
"1. .. 1 e dali (Evora) ho despachou acompanhado, quomo a tal embaixa-
da convinha, ho qual achou em taes termos ho que la sobreste caso nego-
ceara dom Alvaro, que partindo Devora no verão deste anno hos casa-
mentos se celebrarão no mez de Ouctubro, do mesmo anno, da qual cida-
de el Rei per caso das calmas depois de ho ter despachado se foi a Sintra
ter ho verão, por ser hum dos lugares da Europa mais fresco, e alegre
para qualquer Rei, Principe e senhor poder nelle passar ho tal tempo, por-
que alem dos bõs ares, que de si lança aquella serra, chamada pelos
antigos Promontorio da lua, há nella muita caça de veados, e outras ali-
marias, e sobre tudo muitas, e muito boas frutas de todo o genero das que
se em toda Hispanha podem achar e as milhores fontes de agoa, e mais
fria de toda ha Estremadura, ás quaes cousas todas acrecenta ho sabor
hos magnificos paços, que no mesmo lugar hos Reis tem, pera seu apo-
sento, e dos que com elles vão." (Damião de Goes, Crónica de El-Rei
D. Manuel, capo XXII.)
Mas este casamento, realizado em Valência de Alcântara, não duraria
muito. No ano seguinte, 1498,a rainha morreria ao dar à luz o primeiro
filho. E, de novo, D. Manuel se tornou a Sintra, a carpir as mágoas de tão
precoce viuvez. Contudo, foi neste período conturbado que o Venturoso
viria a receber a notícia do feito que mais esplendor lançou no seu reina-
do, e cuja importância na História da Humanidade nos escusamos de
realçar aqui: a volta das naus do Gama.
«La si erra de Sintra viene,
que estava triste del iiio,
gozar del triunfo mio,
que a su gracia conviene.
Es la sierra más hermosa
que yo siento en esta vida:
es como dama polida,
brava, dulce y graciosa,
namorada y engrandecida.
Bosque de cosas reales,
marinera y pescadora,
montera y gran caçadora,
reina de los animales.
Muy esquiva yalterosa,
balisa de navegantes,
sierra e sus caminantes
no cansa ninguma cosa.
Refrigerio en los calores,
de saludades minero,
contemplación de amores
la seiíora a que yo más quiero,
y con quién ando d'amotes.»
Gil Vicente, O Triunfo do Inverno
Conta a lenda que, estando D. Manuel a caçar no alto da Serra de
Sintra, pelas bandas da ermida de Nossa Senhora da Pena, terá avistado,
na barra do Tejo, a nau de Nicolau Coelho. E em memória da boa nova
que a Virgem lhe havia concedido, alguns anos mais tarde ali mandou
2
3. erguer o Real Mosteiro de Nossa Senhora da Pena. Talvez não passe de
fantasia popular; todavia, é facto que D. Manuel se encontrcvc em Sintra
quando soube da descoberta do caminho marítimo para a lndia. E assim:
"mandando demolir o cume do penhasco em uma área de 315 palmos de
Sul a Norte e 205 de Nascente a Poente, a 8 de Setembro de 1503 se deu
princípio ao real edifício que se completou em oito anos." (Memórias dos
estudos em que se criarão os monges de S. ]erónimo, in Boletim da
Biblioteca da Universidade de Coimbra, vol. 6, p. 206.)
Pois é, não há dúvida que com o apogeu dos Descobrimentos
Portugueses atingido .no reinado de D. Manuel r, cujo desvendar do cami-
nho marítimo para a lndia e a descoberta do Brasil (notícia que o sobera-
no também recebeu em Sintra, no ano de 1501) são os acontecimentos
mais salientes, Portugal viveu o período mais áureo da sua História.
E Sintra, essa vila mui prezada, mereceu cuidado especial por parte do
rei Venturoso. Sobretudo, há-de D. Manuel imprimir à paisagem sin-
trense, que tanto o atraía e encantava, um tão indelével cunho da sua
época.
Estandarte e padrão desse ccrjnho são as obras que mandou efectuar,
entre 1505 e 1520, no Paço Real. E, numa primeira fase, o acrescento do
corpo ocidental, incluindo a Sala dos Brasões (1508);para, em segunda
etapa, alargar o palácio a oriente (1517), essa ala inteiramente manueli-
na e onde se salientam as formosas janelas que lhe embelezam a facha-
da. Pelo meio ficava ainda toda uma série de campanhas de decoração
dos interiores, enriquecidas com aplicações de azulejos, revestimentos de
fresco e dourado, animação de câmaras, pátios e jardins, tudo isto numa
empreitada que envolveu largos cabedais da coroa e que chamou, para
nela trabalhar, um avultado número de artistas e artífices. E graças a
dois preciosos documentos podemos apreender, neste tempo nosso, a
grandeza da empreitada. São eles os "Desenhos" de Duarte D Armas e o
"Lo. truncado da receita e despesa de André Gonsalves".
Por altura da conclusão da primeira fase das obras, em 1509, outro
acontecimento se passou no palco sintrense, por certo importante para a
história nacional. Ficou conhecido para os vindouros pelo nome de
Convenção de Sintra e pretendeu solucionor .os problemas existentes
entre Castela e Portugal no Norte de Africa. A margem do Tratado de
Tordesilhas, foi necessário efectivar uma convenção sobre as esferas de
influência dos dois países naquela região.
A preocupação com a reg}ão sintrense e com o povo que nela habita-
va é notória em D. Manuel. E talvez por isso que atribui novos forais a
Sintra (1514)e também à vila de Colares (1516).
Neste primeiro quartel do séc. XVI, e muito por força da apetência da
corte pela vila, Sintra conheceu uma das suas fases de maior esplendor,
quer pelas obras do Paço e os importantes saraus e festividades que nele
se realizaram, como ainda pelo surto arquitectónico que fez despoletar,
um pouco por toda a parte do espaço envolvente, com a construção de
grandes palacetes, mosteiros e igrejas.
Com a subida ao trono de D. João III, a corte portuguesa perdeu muito
do seu brilho. Mesmo assim, Sintra ainda vai ser local privilegiado para
os poucos folguedos de um reinado marcado pela introdução da
lnquisição em Portugal.
Vem D. João III menos à vila mui prezada do que seu pai; contudo, há-
-de continuar as obras do Paço e trazer a Sintra, ainda que esporadica-
mente, os homens grandes do seu tempo.
Quem vai pontificar no panorama cultural da sociedade portuguesa
deste período é a lnfanta D. Maria, filha de D. Manuel, reunindo à sua
volta um leque de sábios e artistas que vão animar os famosos serões,
ora em Santos-a-Velho, ora no Paço Real da Vila de Sintra. Com a sua
casa constituída à parte, e sendo grande amante das letras e da música,
a lnfanta acompanhou D. João III e D. Catarina naquela que terá sido a
mais prolongada estadia da corte em Sintra, no ano de 1543,animando as
noites com os seus famosos Serões, celebres na História e na Literatura.
Neles brilharam mulheres como Joana Vaz, a Vazia dos latinistas; Paula
Vicente, a tangedora, filha de Gil Vicente; D. Leonor Coutinho, autora de
um romance de cavalaria; D. Leonor de Noronha, que traduziu do original
latino uma história universal; Luisa Sigea, dama latina e poliglota, junta-
mente com sua irmã, Angela Sigea, esta versada na música; e tantas
outras que contribuíram para o enriquecimento cultural do século XVI.
Embora sem a pompa dos tempos manuelinos, a corte de D. João III
não foi apenas devotada à religião. Diz Carolina Michaelis: «E a quem
objectar que a Côrte de D. João III e de D. Catharina, introductores e fauto-
3
4. res fanaticos da Inquisição e da Companhia de Jesus, era antes que tudo
escola de Santa Doutrina, respondo que nem por isso deixou de ser o que
fôra nos seculos anteriores: escola de fina galantaria de onde saiam mes-
tres e modelos na arte de amar, e selva de aventuras romanticas onde se
desenrolaram innumeros dramas de amor."
Drama foi por certo o reinado de D. Sebastião, o Desejado, aquele rei
que sonhou travar o avanço do turco e formar um grande império cristão.
Aquele rei cheio de poesia e que não fazia versos como D. Dinis nem insti-
tuía serões literários como D. Manuel. Foi ele próprio a poesia, persona-
gem epopeica do fado português, glória e perda de Portugal.
Misterioso é o rei como misteriosa é a serra que o fascina. Talvez por
isso D. Sebastião buscasse Sintra com tanta frequência, a procurar ali-
mento para o seu espírito impregnado de religiosidade, ora no Convento
de Santa Cruz da Serra a comungar juntamente com os frades francisca-
nos, ora embrenhando-se nos bosques densos e nocturnos a escutar
sinais do Criador:
Sintra se chama esta deleitosa
Parte onde repouso o moço engeita,
Vai pensativo achar hua cavernosa
Pedra de largo ventre & porta estreita,
Ousado entra na gruta cavernosa,
E huma 1amina dentro escrita espreita,
Toda Arabios versos a occupavam,
Que grandes causas lhe pronosticavam.
Assim escreve Luís Pereira Brandão, poeta que acompanhou
D. Sebastião na jornada a Africa, de má memória, e ficou cativo em
Alcácer Quibir. Havia sido incumbido de cantar a vitória, mas como esta,
infelizmente, se não alcançou, lembrou-se o poeta de legar à posteridade
um poema em que minuciosamente narrasse a batalha e a martirização
de tantas vidas. Chamou-lhe E1egíada, Poema Heróico de 18 Cantos,
Guerra, Perda e Morte de E1-Rei D. Sebastião.
No Paço Real da Vila de Sintra terá dado a sua última audiência este
rei, onde alguns nobres e eclesiásticos mais velhos tentaram dissuadi-lo
de prosseguir os seus intentos sem antes deixar sucessor para o trono de
Portugal. Em vão foram, pois, as palavras sábias, e a surdez do rei deter-
minou a sua morte e a morte da independência do país.
Também outro grande homem da nossa História morreu com a pátria.
Çhamou-se Luís Vaz de Camões, esse vate maior das Letras portuguesas.
E tradição afirmar-se que terá sido em Sintra, no Paço Real. que Camões
leu Os Lusíadas a D. Sebastião, a quem o poema é dedicado.
Durante a dinastia dos Filipes, a vila, tal como o país, caiu na modor-
ra e no abandono. Apenas D. Filipe I visita Sintra e, ao que parece, ficou
bem impressionado, como podemos verificar através de uma carta que
envia às suas filhas, datada de 2 de Outubro de 1581:
«1. .. 1 Entrámos en la galera y fuymos á Cascaes, que son cinco leguas,
en tres horas, que nos hizo buen tiempo, y fuymos à la vela ... Otro dia, que
lo hera de Sant Miguel (29 de Setembro), uymos misa y comymos all, i y
fuymos à Pefiulonqu. qu'es monesterio de Sant Hieronimo, el primero
huvo acá de su órden, y uymos vísperas suyas. Y el sábado, que hera su
dia, estuvimos alli y uymos misa y sermon, y yo visperas, porque my
sobrino fué á caça y mató un venado, y oyó bramar no sé quantos ciervos
ay por alli. y él avia visto ántes los jardines y huertas, y yo los vi después,
y son buenos y muchos, y muy buenas fuentes, que las tomaria yo por
allá. El domingo uymos misa cantada y comimos, y después venímos á
otro monasterio de la misma órden, y pequeno, que se llama Nuestra
Sefiorc da Pena, porqu'estó todo él sobre una pena muy alta, de adónde
se descubre gran vista de mar y tierra, sino que ay tanta niéblaque lo
más del tiempo no se vee, y asi me embaraçó ayer para que no lo pudie-
semos ver bien. Y ay una legua ccsí de subida deI un monasterio ol otro; y
cierto el de arriva es de ver, y el otro tambien por las fuentes y jardines; y
llámase Penalonga por una pena que tiene alli junto, bien estrofic. En el
de arriva uymos vísperas, y después nos baxámos á este lugar (Sintrcr).
qu'es muy fresco y dicen que muy bueno de verano, y báxase más de
media legua. Llegámos ya tarde, que no pude ver sino un poco de la casa.
Oy no he salido d'elln, por despachar este correo y por ver esta casa (o
Paço), que, aunque es antigua, tiene muy buenas casas y algunas que no
me parece que en ninguna parte las he vista tales; y holgára yo harto de
veros en ella, porque creo que holgárades, que tiene jardines y fuentes. Y
4
5. no quiero decir más della porque seria cosa larga, y será mejor dexarlo
para contaroslo quando, placiendo á Dios, os vecr.»
Terá sido esta a única visita real a Sintra durante a ocupação caste-
lhana. Nem mesmo a Restauração de Portugal, ocorrida em 1640,trouxe
de novo a corte para esta vila. Apenas existe notícia de uma esporádica
passagem por Sintra da rainha D. Luísa de Gusmão e do príncipe
D. Teodósio em 1652;e de uma temporária estadia de D. João IVem 1654.
Esta vila, outrora animada pelo brilho da corte e mimada pela realeza
nacional, passou adormecida pela centúria de seiscentos. O Paço Real
apenas vai servir de cárcere a um rei deposto, D. Afonso VI, e por certo
não se transformaria em prisão um lugar que se pretendesse habitar!
Ainda hoje se pode observar o quarto onde o infeliz monarca esteve
encarcerado durante nove anos, até morrer em 14de Setembro de 1683.
D. João V, posto que não fizesse de Sintra a sua residência favorita,
nem o centro da sua faustosa corte, visitou algumas vezes o palácio, onde
já se ia apagando a memória lúgubre do seu tio Afonso VI. Não o atraía
demasiadamente nem a poesia da serra, nem a arquitectura extravagan-
te do Paço, nascida espontaneamente do génio do acaso, mas incompre-
ensível para esse rei e para a sua época, que tinham como ideal de arte
as regras clássicas que haviam de predominar no grandioso Convento de
Mafra.
Tempo escuro para Sintra este que dura há quase dois séculos. Talvez
seja um tempo de ocultação, de pausa, para daí nascer uma nova luz.
A ver... a ver. ..
5
6. 2. DO RENASCIMENTO AO BARROCO
Os ricos e variados acervos patrimoniais que Sintra possui possibili-
tam a concretização de múltiplos roteiros temáticos. Se, por opção meto-
dológica, preferirmos sectorizar correntes estéticas, literárias, ou edifícios
de uma determinada tipologia dentro do território deste concelho, a tarefa
não se apresenta muito complicada graças ao vasto legado que, através
da História, o homem nos deixou. Outra vertente passível de estudo é a
reconstituição histórica. Com os cenários a transpirarem ainda eras anti-
gas, torna-se acessível. por exemplo, revi ver os famosos Serões do Paço
da Infanta D. Maria; a última audiência de D. Sebastião; recriar o quotidi-
ano dos frades franciscanos no Convento dos Capuchos; etc. Contudo,
não é esse o presente objectivo, mas antes dar a conhecer um pouco da
história e das estórias de cada monumento, com o intuito de fornecer uma
base documental para fruição de quem procure Sintra e o seu passado.
«Naquela cova Sibilária, muito sábio e prudentíssimo Senhor, o
autor foi ensinado que há três mil anos que ua generosa ninfa chamada
Lisibeia, filha de ua Rainha da Berbéria, e de um Príncipe marinho que
a esta Lisibeia os fados deram por morada naquelas medonhas barro-
cas que estão da parte do Sol. ao pé da serra de Sintra, que naquele
tempo se chamava Solércia. E como por vezes o Sol passasse polo opósi-
to da lustrante Lisibeia, e a visse nua, sem nenhua cobertura, tão perfei-
ta em suas corporais proporções, como fermoza em todolos lugares de
sua gentileza, houve dela ua filha tão ornada de luz, que lhe puseram
nome Lusitânia, que foi diesa e senhora desta província. Neste mesmo
tempo, havia na Grécia um famoso cavaleiro e mui namordo em extre-
mo, e grandíssimo caçador, que se chamava Portugal. o qual. estando
em Hungria, ouviu dizer das diversas e famosas caças da serra Solércia,
e veio-a buscar. E como este Portugal. todo fundado em amores, visse a
fermosura sobrenatural de Lusitânia, filha do Sol, improviso se achou
perdido por ela,»
Gil Vicente, Farsa da Lusitânia
2.1. Palácio Nacional de Sintra
Gloriosamente assentado no meio do casario da chamada Vila Velha,
o Paço Real constitui o principal conjunto arquitectónico sintrense e a
mais fascinante construção áulico-realenga que subsiste em Portugal.
Trata-se de um palácio que não foi concebido de uma só vez nem em uma
só época, mas sim de um harmonioso e sedutor somatório de partes dis-
tintas, edificadas em sucessivas fases ao sabor de estilos díspares. E é
esse conjunto de múltiplos gostos e mentalidades que contribui, sobrema-
neira, para a estranha beleza deste palácio.
De entre as diferentes fases de edificação sobressaem, porém, duas
grandes épocas que determinaram o carácter e as dimensões do palácio:
a de D. João r. ou seja, o primeiro terço do séc. XV e, um século depois, o
primeiro quartel de quinhentos, no reinado de D. Manuel L
Palco privilegiado de inúmeros acontecimentos da História nacional.
que viu nascer e morrer dentro das suas paredes D. Afonso V, coroar
D. João Il, partir D. Sebastião para a nefasta batalha de Alcácer Quibir,
cárcere lamentável do infeliz D. Afonso VI;foi este palácio' estância dilec-
ta de lazer, simultaneamente centro lúdico e didáctico, da realeza nacio-
nal. No seu interior deambulou o bucólico Bernardim Ribeiro, representou
Gil Vicente, escreveu João de Barros, Camões terá lido pela primeira vez
Os Lusíadas à D. Sebastião.
Se com as empreitadas efectuadas nos séculos XIV, XV e XVI ficam defi-
nidas as mais importantes construções do palácio, no qual se conjugam
harmoniosamente o gosto gótico-mourisco, o manuelino e o italianizante,
vai o Paço, no entanto, sofrer ao longo dos tempos obras significativas,
6
7. nem sempre de grande qualidade. Após a morte de D. Afonso VI.
D. Pedro II ordena importantes trabalhos de restauro, no tempo do
Superintendente-Geral das obras do Reino, D. João da Costa, Conde de
Soure, das quais se destacam o restauro do tecto da Sala dos Brasões,
edificada havia já quase dois séculos.
No tempo de D. João V, continuam as obras de conservação a cargo de
Custódio Vieira e Manuel do Couto, que se encarregam, sucessivamente,
dos restauros dos tectos da Sala dos Cisnes e da Sala das Pêgas.
Fortemente danificado pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755, é
encarregado de recuperá-lo Carlos Mardel. O viajante italiano Guiseppe
Baretti, que vem a Sintra cinco anos após a catástrofe, relata os estragos,
apontando que apenas se encontravam de pé as salas dos Cisnes, das
Pêgas e dos Brasões, e que D. José ordenara que fosse reconstruído ao
antigo gosto mourisco.
Embora ainda no reinado de D. Maria I se tenham efectuado grandes
obras, durante o primeiro terço do século XIXnada há a registar de signi-
ficativo. Apenas quando, a partir de 1838,D. Maria II e D. Fernando aqui
se instalam, para seguirem de perto as obras da Pena, o palácio se revita-
liza. Por ocasião do casamento entre D. Pedro e D. Estefânia, as duas
maiores salas da chamada ala manuelina são divididas em vários apo-
sentos.
Com o devir da República, a magnífica residência régia passa para o
Património do Estado, e a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais encarrega o arquitecto Raul Lino de fornecer ao palácio o seu
aspecto original. Este vai redecorar os interiores com peças pertencentes
às colecções régias ou adquiridas especialmente para o efeito, sobretudo
dentro do gosto artístico dos séculos XVI, XVII e XVIII.
De destacar - entre o labiríntico e surpreendente conjunto de salas,
pátios, escadarias, corredores e galerias - a mais vasta e rica série de
azulejaria mudéjar existente na Península Ibérica, o que, atendendo à
especificidade peninsular deste tipo de materiais cerâmicos, equivale a
dizer a mais vasta e rica série de azulejos mudéjares do Mundo. Depois,
vá sentindo que está penetrando num paço mourisco, de conto de fadas, e
deslumbre-se com o tecto da Sala dos Cisnes que nos recorda o casamen-
to da Infanta D. Isabel de Portugal com Filipe «o Bom» da Borgonha, a
revivalização de lendas medievas, algo maliciosas, na Sala das Pêgas; a
fantástica Sala dos Brasões, espelho glorioso da nobreza lusitana; o pavi-
mento desgastado pelos contínuos passos de D. Afonso VI, enclausurado
nos derradeiros nove anos da sua vida naquela sala. E, ao sair, deite um
último olhar às chaminés descomunais que coroam a grande cozinha
monacal e que constituem o mais conhecido e difundido ex-libris da Vila
de Sintra.
7
8. I
"
-........--------
------- . • 2 Cozinha • 3
1 Sala dos Ar~heldOeSs 4 Sala Moura
•
Quarto de Hospe Sala Chinesa • 7
• 5 Capela • 6 VI. 8 Sala dos
Quarto D. Af0.n~oda Carranca. 10
Brasões • .9 Paho 1 Sala de César •
Pátio de DlOnci•
12 Quarto e
b .
Sebastião ou
13 Sala das
Câmara do OUí
Sereias • 14 ~a a
o das Pêgas • 15
(E ao mesmo
Pátio do Esgu~~hMo~ros • 17 Pátio
nível) 1.~B~nh. 18 Sala dos Infantes
da Audle.nclO • 19 Terreiro de Meca
ou dos Cisnes uinhos • 21
• 20 Pátio ~os. Ta~~ de Lindaraia
Jardim dos PnnGPi~ s • 23 Pátio do
• 22 Sala das d eD Manuel • 25
Leão • 24 Sala D Maria Pia • 26
Apartamentos de (ob a Sala dos
Brasoes) • ~7IJ~d~m do Palácio.
Sala_ das
8
9. 2.2. Paço dos Ribafria
Gaspar Gonçalves, embora de origem humilde, angariou uma fortuna
apreciável e mereceu a confiança da Casa Real. Em 1518, D. Manuel
designou-o porteiro-mar da real câmara, posto que o obrigou a estabele-
cer-se com carácter quase permanente em Sintra. Assim, no ano de 1534,
Gaspar Gonçalves ergueu, perto do Paço ReaL a sua residência. Mais
tarde, em 1541,quando reinava D. João IlI, foi-lhe outorgado o título nobili-
árquico de Senhor de Ribafria, e, em 1569,recebeu o cargo de alcaide-mor
de Sintra, lugar exercido por membros da sua família durante várias
gerações.
André Gonçalves, filho de Gaspar Gonçalves, veio a casar com
D. Luísa de Albuquerque, facto que contribuiu sobremaneira para a con-
solidação da novel linhagem dos Ribafrias. Foi nessa casa da Vila de
Sintra que nasceu André de Albuquerque Ribafria (neto do primeiro
Ribafria), militar distinto, morto em 1659 no cerco de Elvas, aquando da
Guerra da Restauração.
Porém, em 1727, Pedra de Saldanha Castro Ribafria vendeu o seu
paço a Paulo de Carvalho de Ataíde, arcipreste da Santa Igreja
PatriarcaL que o legou ao sobrinho, Sebastião José de Carvalho e Melo,
Conde de Oeiras e Marquês de PombaL ministro plenipotenciário de
D. José r.
Por tudo isto, o Paço dos Ribafria apresenta, logo na sua fachada auste-
ra, alterações ocasionadas por diversas campanhas de restauro. Assim, a
par das janelas manuelinas, evidenciam-se outras de cunho já pombalino.
A residência é constituída por três corpos dispostos em U, que formam
um pátio interior. O acesso a esse pátio processa-se através de um portão
circundado por uma singela cantaria chanfrada. Deveras significativo é o
átrio abobadado, cujas ogivas assentam num complexo jogo de arcos e
nervuras, nascidos dos diversos ângulos. Este átrio está ornamentado
com tímpanos de temática medievaL enquanto os fechos de abóbada se
apresentam já concebidos segundo as renovadas concepções artísticas
da época. Destaca-se ainda a existência de dois arcos de volta perfei-
ta, suportados por colunas e capitéis italianizantes, e ornamentados
com volutas e carrancas. No capitel centraL pode ler-se a seguinte ins-
crição:
« Esta obra fez Pero Pexão no anno de myl e quinhêtos XXXIIII
annos»
"Vindo eu das Índias ao Ocidente com outros navegantes, depois
de passarmos no mar grandes naufragios, viemos, com tormenta, ter a
Portugal; e do mar olhamos para uma alta montanha, balisa de mare-
antes, chamada serra de Cintra; e, vendo em um alto pinaculo d'ella
uma coisa, que se não podia divisar se era alli situada, se penedo alli
creado, perguntamos a um português, que comnosco vinha: 'Que era
aquillo', e elle nos disse: 'que era um devoto mosteiro de S. Jeronymo,
chamado Nossa Senhora da Pena, que certo, ao longe, mais parecia
ninho d'águia que habitação humana'. E, como fomos certificados que
era casa de Nossa Senhora, a saudamos do navio: e, postos de joelhos,
lhe dissemos a salve, pedindo-lhe, com lágrimas, intercedesse por nós
a seu bento Filho. E, pois a primeira coisa que viamos em Portugal era
a sua pena, nos livrasse da nossa, merecida por nossa culpa.»
Frei Heitor Pinto, Imagem da Vida Cristã
2.3. Real Mosteiro de Nossa Senhora da Pena
Os ecos de uma lenda antiga contam-nos que, ondcndo D. Manuel I a
caçar pelo alto da serra e preocupado com novas da India, avistou do
cimo de um monte onde já existia uma pequena ermida dedicada a Nossa
Senhora da Pena, a nau de Nicolau Coelho a entrar a barra do Tejo. E
pela graça concedida mandou erguer, em 1503,o Real Mosteiro de Nossa
Senhora da Pena, confiando-o à Ordem de S. [erónimo.
Do mosteiro quinhentista, integrado hoje no Palácio Nacional da
Pena, restam apenas a pequena igreja e respectivos anexos, bem como o
claustro e o refeitório.
9
10. A igreja é de planta em ângulo recto e encontra-se inteiramente
revestida de azulejos, verdes e brancos na nave, e polícromos tanto na
capela-mar como no coro, o qual se prolonga para o lado da Epístola.
Esses ricos azulejos de tapete seiscentista devem-se a D. Filipe lI, que
mandou reparar as paredes da capela em 1619. No corpo da igreja inscre-
vem-se dois altares, hoje vazios, mas que foram destinados às imagens
de Nossa Senhora da Pena e de S. Jerónimo.
Sob a abóbada mestra ergue-se, no altar-mar, um magnífico retábulo
em alabastro e mármore negro da autoria de Nicolau Chanterene, datado
de 1532. Todo o retábulo é repartido por colunas e pilastras, encimado
pela representação da Sagrada Família. As restantes superfícies encer-
ram, entre finas edículas, uma profusão de altos relevos e estatuetas
representando episódios bíblicos.
Do coro passa-se à arcaria do claustro, curioso espécime gótico-
-manuelino, rude e forte, cujas paredes se encontram revestidas de azule-
jos mudéjares do século XVI. Este claustro conduz-nos, através de um por-
tal mainelado, ao que teriam sido os restantes compartimentos do edifício
quinhentista, entretanto desaparecidos e substituídos pela construção
romântica de D. Fernando 11.
«Já a vista pouco a pouco se desterra
Daquelles patrios montes, que ficavam;
Ficava o charo Tejo e a fresca serra
De Sintra, e nella os olhos se alongavam;
Ficava-nos também na amada terra
O coração. que as mágoas lá deixavam;
E já, depois que toda se escondeo,
Não vimos mais em fim que mar e céu.»
Camões, Os Lusíadas
Canto V, Est. 3
2.4. Quinta da Penha Verde
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11. D. João de Castro, o vice-rei da Índia que empenhou as barbas para
reconstruir a cidade de Diu, foi um notável militar e homem de grande
erudição. Armado cavaleiro aos dezoito ano~ em Tânger por D. Duarte de
Meneses, partiu, pela primeira vez para a India, em 1536.Durante essa
estada no Oriente, e paralelamente à sua actividade militar, redigiu três
célebres Roteiros sobre a região, nos quais se revelou um perspicaz
investigador e verdadeiro homem de ciência.
De volta à Pátria, em 1542, serviu como capitão-mor da armada de
guarda-costas. Assim, em 13 de Agosto de 1543,D. João de Castro coman-
dou uma expedição contra o pirata Barba-Roxa, que saqueava as costas
mediterrânicas. Como recompensa, o cavaleiro apenas pediu a D. João III
que lhe «fosse dado um rochedo com seis árvores» junto à Quinta da
Penha Verde que possuía em Sintra, onde mais tarde construiu a capela
de Santa Catarina.
Em 1547, era nomeado governador da Índia, pelo que voltou à Ásia
onde deparou com uma grave crise, porquanto teve que reconquistar a
fortaleza de Diu, que entretanto caíra na posse dos turcos aliados ao rei
de Cambaia. Tomada a cidade, D. João de Castro empreendeu a sua
reconstrução, contando, para isso, com a ajuda dos moradores portugue-
ses, e chegando inclusivamente a empenhar as próprias barbas, a fim de
obter o necessário crédito junto da Câmara de Goa. Com a máxima dis-
tinção pelos seus notáveis feitos, D. João III honrou-o com o título de Vice-
-Rei da India. Porém, D. João de Castro morreu em Goa, no ano de 1548,
três semanas depois de ter recebido o cargo e, por isso, não se cumpriu a
disposição testamentária, na qual pretendia ser sepultado perto da
Capela de Nossa Senhora do Monte, na Penha Verde.
No entanto, durante a sua conturbada vida, e enquanto permanecia
no país, D. João de Castro passava grandes temporadas na bela Quinta
da Penha Verde, onde, num acto de profundo desprezo pelos bens tempo-
rais, mandou arrancar todas as árvores de fruto, deixando a vegetação
selvagem crescer livremente. Aí organizou um importante centro de cultu-
ra e de arte, onde estanciaram, para além do Infante D. Luís, os maiores
vultos renascentistas de Portugal.
D. Álvaro de Castro, filho de D. João de Castro, foi capitão-mor do mar
da Índia, vedor da fazenda e ilustre diplomata. Em Sintra, conservou a
propriedade inculta, cumprindo assim os votos de seu pai.
Posteriormente, o neto do vice-rei, D. Francisco de Castro, bispo inqui-
sidor e doutor em Teologia, fez erguer na Penha Verde as capelinhas de
Santa Catarina e de São João Baptista. Data também do séc. XVII a abertu-
ra da Capela de São Brás, integrada na casa senhorial, bem como a cons-
trução de algumas fontes e pavilhões.
António Saldanha de Albuquerque Castro Ribafria veio a herdar, por
via materna, a Quinta da Penha Verde. Falecido em 1723,o seu coração
foi inumado defronte da capela de Nossa Senhora do Monte.
«Esta é, respondeu Fanimor, a mãe de todo o esforço, que dará
seus filhos para reparo do sangue de Cristo, chamada Monte da Lua, o
qual nome antes de pouco tempo perderá, chamando-se Roca de
Sintra, para enquanto o mundo durar; e não ficará parte nele, que o
não saiba, assim como aquele que os sinais desta terra terá tão vivos,
que nunca os perderá dos olhos; a qual roca é mostra do reino de
Portugal, que em linhagem Sática quer dizer Todo Bem.»
João de Barros. Crónica do Imperador Clarimundo
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12. 2.5. Convento dos Capuchos
Há-de o visitante pensar, naquele bucólico pedaço de serra, que não
está vendo um convento, mas sim um amontuado de gongóricos penedos,
entalando, aqui e ali, um pouco de telhado ou uma velha parede de alve-
naria. E ao penetrar no singelo Convento de Santa Cruz da Serra, vulgo
Capuchos ou da Cortiça, sentirá a vera austeridade dos monges que ali
professaram, a imensa escassez material. e, no entanto, vai desejar per-
manecer ali por algum tempo, interiorizado, apenas falando consigo pró-
prio e com o Absoluto.
Depois, só depois. vale a pena saber que aquele cenóbio foi fundado
em 1560,por D. Alvaro de Ccstro, em cumprimento de um voto que fizera
seu pai, o grande vice-rei da India, D. João de Castro, e entregue à Ordem
de São Francisco.
D. Filipe I de Portugal. o maior monarca da Cristandade, já que uniu
as duas coroas que dividiam entre si o mundo, terá dito quando, em 1581,
visitou Sintra e, nomeadamente, o Convento dos Capuchos, que possuía
em seus reinos as duas jóias mais preciosas: o Mosteiro do Escurirrl, por
muito rico, e os Capuchos por muito pobre.
Subindo uma vereda nas traseiras do convento, é possível admirar a
Gruta de Frei Honório. eremita que ali se isolou das coisas terrenas,
durante trinta anos, segundo reza a tradição, por ter possuído tentações
diabólicas ou ... simples desejos do eterno feminino.
"Perto da cidade principal da Lusitânia está ua graciosa aldeia
que, com igual distância, fica situada à vista do Mar Oceano, fresca
no Verão, com muitos favores da natureza, e rica no Estio e no Inverno
com fmitos e comodidades que ajudam a passar a vida saborosamen-
te; porque, com a vizinhança dos portos de mar, por ua parte, e da
outra com a comunicação de ua ribeira que enche os seus vales e
outeiros de arvoredos e verduras, tem, em todos os tempos do ano, o
que em diferentes lugares costuma buscar a necessidade dos homens;
e, por este respeito, foi sempre o sítio escolhido para desvio da corte e
voluntário desterro do tráfego dela, dos cortesãos que ali tinham quin-
tas, amigos ou heranças que costumam ser velhacouto dos excessivos
gastos da cidade.»
Francisco Rodrigues Lobo, Corte na Aldeia
2.6. Peninha
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13. A 13 quilómetros de distância da sede de concelho, a Peninha coroa
um dos últimos montes da Serra de Sintra a Ocidente, sobranceiro ao
cabo da Roca. Aqui se pode disfrutar de um dilatado panorama paisagís-
tico, a uma altura de 486 metros.
Visita obrigatória merece a Capela de Nossa Senhora da Conceição,
fundada em finais de seiscentos por Frei Pedra da Conceição, que com-
porta um aprimorado conjunto de mármores e azulejos do início do sé-
culo XVIII. Na ilharga da Capela ergue-se o palacete romântico-revivalista
mandado construir pelo rico capitalista António Augusto Carvalho
Monteiro, no ano recente de 1918, mas que beneficia do contexto ambien-
cicl, integrando-se perfeitamente na ancestralidade do conjunto.
«Foi Estella por elle alli roubada:
Hymeneo, que lha déra por esposa,
Assiste sem cothurnos, e apagada
A tacha d'antes clara, e luminosa:
De Cynthia tomou Cintra celebrada
O nome, que em rochedos he famosa,
Gorgoris nasce, e como a idade chega,
Perseo se parte, e o Reino ao filho entrega.»
Gabriel Pereira de Castro, Ulisseia
2.7. Palácio Nacional de Queluz
Edificado a partir de um antigo palácio rural dos Marqueses de
Castelo Rodrigo, o Palácio Nacional de Queluz é hoje um magnífico exem-
plo da residência real de veraneio, dentro da gramática arquitectónica do
século XVIII. Iniciado em 1747pelo Infante D. Pedro, futuro D. Pedro III, foi
completado após o casamento deste príncipe com D. Maria Francisca,
depois D. Maria I (1760).
De formas baixas e serpenteadas, decoração harmoniosa e intimista,
contendo no interior nobres e opulentos salões, o palácio apresenta-se
rodeado de ricos jardins salpicados de fontenários barrocos, de estátuas e
recantos propícios ao folguedo.
Várias vezes comparado ao palácio de Versailles, difere do conjunto
de Luís XIVno sentido de escala e de proporções que a sua traça revela,
com uma distribuição de valores gráficos mais equilibrada, dentro de um
neoclassicismo ainda muito apegado ao formulário rococó. Nota-se ape-
nas semelhança com o palácio francês no chamado «Pavilhão Hobillion».
onde interveio o grande mestre Jean Baptiste Robillion. Tudo o resto é
bem português, nas escalas e no próprio espírito artístico.
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