O documento discute os impactos do agronegócio na saúde, ambiente e condições de trabalho no estado de Mato Grosso. Apresenta dados sobre desmatamento, uso de agrotóxicos e expansão da pecuária e agricultura. Também descreve estudos realizados por equipe multidisciplinar sobre os riscos à saúde decorrentes das atividades agropecuárias.
Os impactos do agronegócio na saúde, ambiente e desenvolvimento sustentável
1. Impactos do agronegócio na saúde e ambiente
Oficina : por uma melhoria das condições de vida, trabalho e ambiente em setores do agronegócio
Organização: MS/SVS/DVSAST; SES-MT; CEREST-MT
Prof Dr. Wanderlei Pignati, UFMT/ISC; Cuiabá, novembro de 2010
2. Equipe do Núcleo de estudos ambientais e saúde
do trabalhador nestes estudos:
• Wanderlei Pignati - UFMT/ISC
• Eliana Dores - UFMT/Química
• Peter Zeilhofer - UFMT/Geografia
• Oscarlina Weber – UFMT/Agronomia
• Carolina Lourencetti – UFMT/Química
• Alicio Pinto UFMT/Química
• Tami Mott – UFMT/Biologia
• Marta Pignatti - UFMT/ISC
• Ageo Barros Silva - UFMT/ISC
• Mestrandos da Saúde Coletiva; do R.Hídricos; da Geografia, ...
• Bolsistas de graduação de Quim, Med, Biol, Geog, Agro, ...
• Técnicos dos laboratórios LARB/UFMT e do CESTEH/FIOCRUZ
• Técnicos e profissionais da SMS Lucas R Verde e Campo Verde
• Técnicos do CEREST, da SES, do INDEA, da SRTE e do INSS.
• Professores da FIOCRUZ (Josino, Frederico, Jorge, Minayo, ...)
5. “moderna agricultura conservadora” no Brasil:
1 - revolução verde aliada ao “ocupar, modificar a natureza e produzir” ;
2 - finalidade social da terra X agronegócio; código florestal X zoneamento e ...
3 - sem uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos, sementes melhoradas e matrizes
selecionadas/PO, não haverá produção suficiente de alimentos; falsa
4 – uso adequado de agrotóxico e fertilizantes químicos elimina os riscos
ocupacionais e ambientais; falsa
5 – a falta de informação e pouca escolaridade dos agricultores é a maior causa dos
acidentes ocupacionais e ambientais da zona rural; falsa
6 – Capacidade do Estado de fiscalizar?; o quê/quem? de vigiar?? o quê, quem? ;
Vigiar o homem/ambiente ou o boi/soja ??? de pesquisar???; o quê, para quem?
7 – Estado regulador?... de quem?? ... Implementador para quem???...
6. Etapas do processo produtivo do agronegócio e seus impactos na saúde do trabalhador, na população e no ambiente
Fonte: original do autor, Pignati WA, tese doutorado Fiocruz/Ensp, 2007, p.18.
14. Proteção, maio 2008, p 44
Agroindústria sucro-
alcooleira
Outros impactos na saúde-ambiente:
Absorção pulmonar de particulados com resíduos de agrotóxicos, fertilizantes quimicos e ...;
Aumento de internação e morbi-mortalidade ocupacionais
Aumento de internação e morbi-mortalidade em crianças e idosos na região
Contaminação das águas por agrotóxicos, fertilizantes químicos e vinhoto na região
Trabalho análogo aos escravos; precariedade dos alojamentos; ....
Biocombustíveis: etanol, biodiesel, ...
16. Agroindústria de suínos, aves, ...
EPI’s, ração, resíduos, LER/DORT, d.psiquiátricas, colônias “modernas” dos
17. Etapas do processo produtivo do agronegócio e seus impactos na saúde do trabalhador, na população e no ambiente
Fonte: original do autor, Pignati WA, tese doutorado Fiocruz/Ensp, 2007, p.18.
21. Comercialização de agrotóxicos, por Estado – Brasil, 2008.
Estado da Federação
2008
Percentual de Vendas Vendas por 1,000 US$
BAHIA 6,5% 336.358
DEMAIS ESTADOS 7,1% 377.424
GO 8,8% 444.445
MT 20,1% 1.038.244
MS 4,7% 285.087
MG 9,0% 451.104
PR 13,4% 626.463
RS 10,4% 505.840
SC 2,1% 182.678
SP 17,9% 902.198
TOTAL 100,0% 5.149.841
Fonte: Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola - SINGAG (www.sindag.com.br acessado em setembro de 2009)
42. Vasilhames dos agrotóxicos: onde vão parar?
• Até o ano de 2.000 grande parte deles iam parar no solo das roças, terrenos
baldios, pastos ou eram queimados ou reutilizados;
• Após o ano 2.000 (lei 9974/00), a maior parte deles recebem a tríplice lavagem e
são estocados nas fazendas (almoxarifado apropriado; até 01 ano);
• Até serem encaminhados para os postos de coleta ou centrais de recebimento de
embalagens vazias de agrotóxicos;
• São prensados e encaminhados para diversas usinas de reciclagem de plásticos;
• Propagandas enganosas de quê são os vasilhames que agridem a natureza.
• Mas onde foram parar os agrotóxicos que
estavam dentro dos frascos vazios??
43. Onde foram parar os milhões de litros de agrotóxicos
usados nas lavouras ??
• 1 – Parte ínfima foi absorvida pela pele, pulmões e sistema gastro intestinal dos
trabalhadores, sua família e população do entorno;
• 2 - Parte ficou retido nas plantas e parte deste foi parar nos frutos, hortaliças e
cereais de consumo humano ou de ração animal;
• 3 – Outra parte ficou retida no capim dos pastos e parte deste foi parar na
carne, vísceras e gordura dos animais;
• 4 – Parte evaporou e foi se juntar às nuvens que através da chuva poluiu
outras plantações, o ar , as vilas rurais , a cidade e/ou cidades nas
vizinhanças;
• 5 – Parte foi carreada pelo vento que poluiu outras plantações do entorno, o
ar das casas das vilas rurais e da cidade que ficam nas vizinhanças;
• 5 – Outra parte foi degradada pelo sol, solo e água;
• 6 – Parte ficou retida no solo sem se degradar, persistindo ali, meses ou anos;
Pignati - UFMT, 2009
44. PARA : Resultados insatisfatórios (%)*
Cultura 2006 2007 2008 2009
Alface 28,6 40,0 19,8 38,4
Banana N 4,3 1,0 3,5
Batata 0 1,4 2,0 1,2
Cenoura N 9,9 30,4 24,8
Laranja 0 6,0 14,8 10,3
Mamão N 17,2 17,3 38,8
Maça 5,3 2,9 3,9 5,3
Morango 37,6 43,6 36,0 50,8
Tomate 2,0 44,7 18,3 32,6
Abacaxi 9,7 44,1
Arroz 4,4 27,2
Cebola 2,9 16,3
Feijão 2,9 3,0
Manga 1,0 8,1
Pimentão 64,4 80,0
Repolho 8,8 20,5
Uva 32,7 56,4
Fonte: Ministério da Saúde/ANVISA/PARA (jun/2010)
N = Ánalize não realizada
* Os resultados referem-se aos estados: AC, AM,BA,CE,
DF, ES, GO, MA, MT, MG, MS, PA, PB, PE, PI, PR, RJ,
RN, RS, RO, RR, SC, SE, TO
Resíduos de Agrotóxicos nos alimentos
47. Local de Coleta Data Concentração (ng.m-3
)
Unidade Rural 1
3/12/2008 1
β-endossulfam - <LQM
5/2/2009 2
α-endossulfam - <LQM
19/2/2009 3
Atrazina - <LQM
26/2/2009 α-endossulfam – <LQM
Centro
3/12/2008 α-endossulfam – <LQM
22/1/2009 α-endossulfam – <LQM
5/2/2009 α-endossulfam – <LQM
Centro/periferia 1
12/2/2009 α-endossulfam – <LQM
19/2/2009 α-endossulfam – <LQM
26/2/2009
α-endossulfam – <LQM
Atrazina - <LQM
Centro/periferia 2
19/2/2009 α-endossulfam – <LQM
5/3/2009 Atrazina – <LQM
19/3/2009 Atrazina <LQM
27/3/2009 α-endossulfam – <LQM
Tabela 4.1 - Níveis dos resíduos de agrotóxicos analisados em amostras de ar coletados
em 04 pontos (Escolas) em Lucas do Rio Verde – MT;
datas: dez.2008 a mar.2009; Total de amostras: 61. fonte –UFMT-ISC-Pignati
1
LQM - 31,0 ng.m-3
;
2
LQM - 31,4 ng.m-3
;
3
LQM - 31,4 ng.m-3 Fonte: UFMT/ISC/Quí/Pignati, 2010
48. Tipo de
amostra
Agrotóxicos
Amostras positivas Médias
Intervalo
Urbana Rural Urbana Rural
Urina
Glifosato 35 35 1,07 1,92 0,41 - 22,31 ppb
Piretróides 35 34 4,20 2,30 0,21 - 5,05 ng/ml
Sangue
Aldrin - 4 - 0,25 0,7 -4,41 ng/ml
p,p'DDE 18 24 2,35 2,60 0,16 - 16,91 ng/ml
o,p'DDT - 1 - 0,01 0,4 ng/ml
p,p'DDT - 5 - 0,13 0,48 - 1,65 ng/ml
Mirex 2 16 0,10 0,50 0,31 - 4,34 ng/ml
Resultados das análises de resíduos de agrotóxicos detectados em exames de urina e sangue
de trabalhadores urbanos e rurais de Lucas do Rio Verde MT .
colhidos em mar.2009; total de amostras: 79 Fonte: UFMT/ISC/Quí/Pignati, 2010
Métodos: glifosato na urina por Elisa, piretróide na urina por cromatografia e clorados no sangue por cromatografia
Estudos: 0,32ng/ml de piretróide na urina e 2ng /ml de OC no plasma em população não expostas
49. Resultados das análises de resíduos de agrotóxicos em amostras de sangue de
13 indivíduos (anfíbios) coletados em 2009, em lagoas e córregos em Lucas do
Rio Verde MT;
Composto Lagoa Xixi (N=8) Córrego Cedro (N=5)
a-HCH 0,75 0,45
b-HCH 1,08 0,26
Dieldrin - 0,20
Endosulfan I 0,24 -
Endosulfan II 2,82 2,44
Endrin 2,88 -
Heptaclor 0,71 -
Mirex 1,16 0,35
o,p´– DDD 0,34 0,45
PCB Tetraclorobifenil 0,46 0,77
Fonte: UFMT/ISC/Bio/Motti, 2010
50. Resultado de análises de resíduos de agrotóxicos em amostras de sedimentos (SD) e água superficial
(AS) da lagoa do Xixi em Lucas do Rio Verde-MT
Agrotóxicos SD 1 SD2 SD3 SD4 SD5 SD6 SD7 AS-1 AS-2 AS-3 AS-4 AS-5 AS-6 AS-7
DIA ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND
DEA ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND
Trifluralina ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND
Atrazina <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM 0,18 0,18 0,20 0,20 <LQM 0,24 0,26
Metil parati. <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM
Malation <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM
Metolaclor <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM
Clorpirifós <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM ND ND 0,14 <LQM <LQM <LQM <LQM
Endos. alfa 0,25 0,74 <LQM <LQM 0,42 <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM
Flutriafol <LQM 0,49 0,25 0,36 <LQM 0,30 0,39 <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM
Endos. beta 0,54 0,38 <LQM <LQM 0,93 <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM
Endos. sulfato 0,16 <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM
Permetrina <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM
Cipermetrina <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM
Deltametrina <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM <LQM
Obs: Pontos de coleta: 1 - lado direito da lagoa; 2 - fundo da lagoa; 3 - lado esquerdo da lagoa; 4 - aterro de passagem dos carros; 5 - meio da lagoa; 6
- tanque do lado esquerdo (lado da estrada); 7 - tanque do lado direito (próximo à mata); resultados em µg/kg de sedimento ou µg/litro de água
ND Não Detectado
<LQM Abaixo do Limite de Quantificação do Método
Fonte: UFMT/ISC/Bio/Motti, 2010
51. Ectromelia do Tibulare-fibulare em Rhinella
schneideri. 2a- Aspecto radiográfico; 2b- Vista
ventral; 2c- Vista dorsal; 2d- Vista geral.
Rodrigues et al 2009. Congresso Brasileiro de
Herpetologia
Radiografias e aspectos morfológicos de anfíbios com malformações coletados
me lagoas e córregos em Lucas do Rio Verde MT, em 2009
A literatura científica nos informa que malformações em anfíbios podem ocorrer por vários
fatores ambientais (radiação ultravioleta, ação de parasitos e agrotóxicos).
Fonte: UFMT/ISC/Bio/Motti, 2010
52. Outros estudos:
1 – resíduos de agrotóxicos em soja tradicional (0,5 a 1mg glifosato/kg de soja) e
transgênica (4 a 6 mg) em MT; e no milho??? E no leite de vaca???
2 – resíduos de agrotóxicos em leite materno de nutrizes em L RV;
3 – estudos dos impactos dos agrotóxicos nas malformações, neoplasias e agravos
respiratórios em MT;
4- estudos de solos contaminados por agrotóxicos e distúrbios morfofisiológicos e
genéticos em minhocas em Lucas RV;
5 – estudos das ações dos agrotóxicos em anfíbios, peixes e mamíferos no Mato
Grosso;
6 – resíduos de agrotóxicos nos rios da bacia do Pantanal-Paraguai; Amazonas
(??); Araguaia (??); S. Francisco (??); Aquíferos (??)
7 – agrotóxicos proibidos em outros países e usados no Brasil; (14)
8 – e os transgênicos ??? Quem estuda e avalia os impactos???
53. “Legalização” da poluição
• 1 - LMR = legalização da poluição:
• a) Água potável: (metais P/solv/agtx/desinf); Portaria 518/04/MS
(13/13/22/6), Portaria 03/90 (11/7/13/2), Portaria 56/77 (10/0/12/0)
ex. glifosato na água: 0,5mg e na UE é 0,0001mg/L/água ou 0,1µg/L
• b) rios, lagos e subterrâneas: Res 357/05 (CONAMA);
• c) LMR de agrotóxicos nos alimentos: PARA
• d) monografias da ANVISA; ex: glifosato na soja era 0,2 mg/kg até
• 2003, mas foi para 10mg/kg;
• e) na chuva, no ar, no leite materno humano???
• f) na UE o limite é 0,2mg glifosato/Kg/soja e proibidos outros 14
• 2 - deriva = culpabilização do clima ou ato inseguro
• 3 - aplicação de agrotóxico = poluição intencional
• 4 - uso seguro de utiliz de agtx e fert quím = markting de venda e
didática reprodutora de hegemonia. Seguro para quem? Para o
54. algumas SUGESTÕES a serem incorporadas na vigilância à saúde para diminuir os
impactos do agronegócio na saúde e ambiente:
1. Imediata vigilância à saúde ou vigilância do desenvolvimento;
• 2. estímulos aos movimentos pelo desenvolvimento sustentável;
3. implantação de sistemas municipais de vigilância à saúde humana e ambiental,
participativos e integrados intra e interinstitucional;
• 4. fazer cumprir código florestal, a Lei 7802/89 e a NR 31. Ir além da “deriva”, do
culposo, do uso seguro de agrotóxicos, da “legalização da poluição”;
5. monitoramento de resíduos de agrotóxicos e fertilizantes qui. em água potável,
rios, lagos e pantanal; Incluir no PARA:leite, milho, soja, carnes, peixes, ...
• 6. implantar FÓRUNS de elaboração de normas, de monitoramento, de vigilância
do desenvolvimento local e regional;
7. financiamento público apenas para as agropecuárias que investirem em
tecnologias sustentáveis;
• 8. tratar este “modo de produção” do agronegócio como problema de saúde
pública e como modelo de desenvolvimento insustentável
55. Trabalho é o desenvolvimento das forças físicas e
mentais para transformar a natureza com a finalidade
de manter a vida e/ou melhorar sua qualidade;
(mas a mais valia, o lucro e a “usura” do capital, os transformaram em
mercadorias)
Saúde é uma conquista;
é direito do cidadão, dever do Estado e
responsabilidade social das empresas;
Lutem pela vida ou pelo desenvolvimento sócio-
econômico-democrático e ambientalmente
sustentável;
56. final
ou
início de novos estudos
ou
novas lutas sanitárias
obrigado pela atenção
Prof. Pignati – UFMT/ISC; pignatimt@terra.com.br