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O TEMPO DAS
  VACAS MAGRAS
                        António Torrado
                        escreveu e
               Cristina Malaquias ilustrou



                                                             18 de Maio
                                                          Dia dos Museu




   O s reis que mandavam no Egipto de antigamente eram
os faraós. Um deles, uma vez, teve um sonho.
   No princípio do sonho, o faraó viu-se junto à margem de
um rio. Do rio saíram sete vacas bonitas e gordas, que se
puseram a pastar na erva. Passado algum tempo, outras
sete vacas saíram do rio, mas estas eram enfezadas e feias.
   Depois – coisa estranha! – as sete vacas magras devo-
raram as sete vacas gordas. Só em sonhos isto pode acon-
tecer.
   Foi este o pensamento do faraó, ao acordar. Sentia-se
incomodado com o sonho que tivera e todo o dia empreen-
deu nele, a ponto de o contar aos seu séquito, com todos os
pormenores, como se ainda o estivesse a sonhar.

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– Há-de ser um sinal, um aviso – dizia, constantemente,
o faraó. – Mas que sinal, que aviso?
   Alguém se lembrou de um escravo, chamado José, que
tinha fama de interpretar os sonhos mais escabrosos.
Naquele tempo, acreditava-se que os sonhos eram
recomendações divinas para guiar a conduta dos homens.
   Chamado à corte, José ouviu do faraó o estranho sonho.
Os cortesãos já quase o sabiam de cor.
   José ouviu e ficou, depois, em meditações, como se
estivesse a rezar. À sua volta, aumentava a impaciência.
   Até que José anunciou:
   – As sete vacas gordas vão ser sete anos de abundância.
A seguir virão sete anos de fome, como sete vacas magras.
A riqueza dos sete primeiros anos será consumida pelos
sete anos seguintes, em que o Egipto, devastado, se for mal
gerido, conhecerá a miséria.
   O faraó concordou. Algo lhe dizia que as palavras do
escravo eram portadoras da verdade.
   – Que devo, então, fazer? – perguntou o faraó.
   José respondeu, como se fosse um profeta:
   – Deveis mandar acumular toda a alimentação excedente
desses anos férteis, que se aproximam. O trigo armazena-
do ficará de reserva, como recurso para minorar os sete
anos de fome.
   – Visto que o teu Deus te revelou tudo isso, não há
ninguém, no Egipto, mais sábio do que tu – proclamou o
faraó. – Tu mesmo serás o chefe da minha casa. Todo o
meu povo será governado por ti, como primeiro represen-
tante do meu mando.
   Então, o faraó tirou da sua mão direita um anel e entre-
gou-o a José.

                                              2
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Tudo aconteceu como ele previra. Quando chegaram os
anos de seca, a fome tomou conta dos países vizinhos, mas
no Egipto não faltou o pão. Por isso o povo glorificou o
nome do antigo escravo que ensinara ao faraó as regras do
bom governo e os ditames da prudência.

   FIM




                                              3
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O tempo das vacas magras

  • 1. O TEMPO DAS VACAS MAGRAS António Torrado escreveu e Cristina Malaquias ilustrou 18 de Maio Dia dos Museu O s reis que mandavam no Egipto de antigamente eram os faraós. Um deles, uma vez, teve um sonho. No princípio do sonho, o faraó viu-se junto à margem de um rio. Do rio saíram sete vacas bonitas e gordas, que se puseram a pastar na erva. Passado algum tempo, outras sete vacas saíram do rio, mas estas eram enfezadas e feias. Depois – coisa estranha! – as sete vacas magras devo- raram as sete vacas gordas. Só em sonhos isto pode acon- tecer. Foi este o pensamento do faraó, ao acordar. Sentia-se incomodado com o sonho que tivera e todo o dia empreen- deu nele, a ponto de o contar aos seu séquito, com todos os pormenores, como se ainda o estivesse a sonhar. 1 © APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
  • 2. – Há-de ser um sinal, um aviso – dizia, constantemente, o faraó. – Mas que sinal, que aviso? Alguém se lembrou de um escravo, chamado José, que tinha fama de interpretar os sonhos mais escabrosos. Naquele tempo, acreditava-se que os sonhos eram recomendações divinas para guiar a conduta dos homens. Chamado à corte, José ouviu do faraó o estranho sonho. Os cortesãos já quase o sabiam de cor. José ouviu e ficou, depois, em meditações, como se estivesse a rezar. À sua volta, aumentava a impaciência. Até que José anunciou: – As sete vacas gordas vão ser sete anos de abundância. A seguir virão sete anos de fome, como sete vacas magras. A riqueza dos sete primeiros anos será consumida pelos sete anos seguintes, em que o Egipto, devastado, se for mal gerido, conhecerá a miséria. O faraó concordou. Algo lhe dizia que as palavras do escravo eram portadoras da verdade. – Que devo, então, fazer? – perguntou o faraó. José respondeu, como se fosse um profeta: – Deveis mandar acumular toda a alimentação excedente desses anos férteis, que se aproximam. O trigo armazena- do ficará de reserva, como recurso para minorar os sete anos de fome. – Visto que o teu Deus te revelou tudo isso, não há ninguém, no Egipto, mais sábio do que tu – proclamou o faraó. – Tu mesmo serás o chefe da minha casa. Todo o meu povo será governado por ti, como primeiro represen- tante do meu mando. Então, o faraó tirou da sua mão direita um anel e entre- gou-o a José. 2 © APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
  • 3. Tudo aconteceu como ele previra. Quando chegaram os anos de seca, a fome tomou conta dos países vizinhos, mas no Egipto não faltou o pão. Por isso o povo glorificou o nome do antigo escravo que ensinara ao faraó as regras do bom governo e os ditames da prudência. FIM 3 © APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros