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PSICOLOGIA COGNITIVA




      RELATÓRIO

ATITUDES PERCEPTIVAS




Docente: Dr. Csongor Juhos

         Turma 8




                             Sónia Barroso 14883




    ISPA – 2007/2008
2




   ENQUADRAMENTO TEÓRICO


   Objectivo do estudo

   O objectivo do estudo é mostrar a influência da atitude perceptiva sobre a selecção
perceptiva.

   Revisão de literatura

   A percepção pode ser definida, segundo Anderson (2000), como a forma como os
sistemas sensoriais identificam os estímulos do mundo exterior. Indo a percepção para
além do simples registo desses estímulos, um aspecto importante é a interpretação dos
mesmos. Por conseguinte, segundo Anderson (2000), distinguem-se duas fases na
percepção: uma inicial, em que formas e objectos são captados do que é visto, e uma
posterior ou tardia, em que essas formas e objectos são reconhecidos.
   Segundo Quelhas, A. C., Ribeiro, O., Guerreiro, M., Juhos, Cs. (2002), Külpe, em
1904, referiu a importância das atitudes perceptivas. Em experiências com um
taquitoscópio, provou que o que é percepcionado depende (também) do estado de
preparação da pessoa no momento da estimulação, considerando-se, assim, a atitude
perceptiva a orientação para se ter uma percepção particular de certos estímulos (maior
ou menor facilidade; de uma ou de outra forma), sem alteração das condições periféricas
de estimulação. As atitudes perceptivas podem influenciar a percepção do tamanho, por
exemplo, bem como a selecção de estímulos.
   Os referidos autores consideram quatro os factores determinantes da atitude
perceptiva: sequência de estimulação; necessidade e outros factores motivacionais; -
factores culturais; instruções dadas em situação experimental. Consideram também que
as atitudes perceptivas produzem efeitos sobre: nível da selecção perceptiva; nível da
sensibilização perceptiva; nível das distorções perceptivas.


   Estudos realizados a partir das experiências de Külpe demonstraram, de novo, que a
acção de uma estimulação depende do estado geral do sujeito e que os estímulos não
3

agem sobre “sentidos puros”. As respostas perceptivas de um sujeito a estímulos vários,
em situação e em actividade, são sobredeterminadas por “esquemas perceptivos
activados” ou, em situação experimental, pelas instruções recebidas.
   Pode, assim, considerar-se que a actividade perceptiva não é só um processo de
recepção de informação, mas uma construção do meio perceptual envolvente do sujeito.



O Problema: Uma determinada atitude perceptiva influencia a selecção perceptiva?


Hipótese Teórica: Se numa situação a atitude perceptiva é função da instrução dada,
então a selecção perceptiva é influenciada pela instrução.


Hipótese operacional: Numa situação experimental – adaptação de uma experiência de
Fraisse, P. (1963) - se a instrução é dada previamente ao sujeito, então a selecção
perceptiva é superior em relação à situação em que a instrução é dada posteriormente.

Variável independente – a atitude perceptiva criada pela instrução.


Operacionalização da variável independente: a instrução prévia (“pré”) ou posterior
(“pós”) aleatória sobre uma categoria a processar.


Variável dependente – a selecção perceptiva.


Operacionalização da variável dependente: quantidade de caracteres percepcionados
correctamente, de diferentes categorias, com instrução prévia e com instrução posterior.


MÉTODO


Amostra


   Vinte e três sujeitos, constituindo um grupo “Within subject”, uma vez que todos os
elementos fizeram o seu próprio controlo, pertencentes à turma 8 do 1º ano do Mestrado
Integrado em Psicologia do ISPA.
   Idade média: 34,43 anos. Desvio padrão: 10,48 anos
   Dezassete sujeitos do sexo feminino e seis sujeitos do sexo masculino.
4




   Caracterização dos instrumentos


       Computador dotado do programa Superlab; seis pranchas diferentes com doze
   sinais cada (quatro de letras, quatro de algarismos e quatro de sinais de pontuação),
   organizadas em cinco séries.


       Exemplo de uma prancha:




                                           Fig.1


       Papel (tabelas de anotação) e lápis ou caneta.


   Procedimentos


   Foram dadas instruções aos sujeitos sobre como se iria processar a experiência (ligar
computador, entrar no programa, execução de uma pré-experiência e forma de anotação
dos resultados individuais).
   As pranchas surgiram em seis situações diferentes.
    Em três era dada instrução precisa prévia no sentido de captar o máximo de letras,
algarismos ou sinais de pontuação.
   Nas outras três, surgia, após a visualização, uma instrução: “Atenção, olhe
atentamente.”, e, imediatamente após a apresentação da prancha, é que surgia a
instrução “Anote as letras [algarismos ou sinais de pontuação] que viu.”
   As diferentes situações sucederam-se várias vezes aleatoriamente.
   Foram apresentadas aos sujeito 5 séries de 6 pranchas.
5

   Posteriormente, cada sujeito realizou a verificação das respostas dadas, da seguinte
forma:
- não anotação das falsas respostas ou das não adequadas;
- anotação, por série, na coluna correspondente da folha de notação, do número de
letras, algarismos ou de sinais de pontuação percepcionados correctamente.


APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS


         Concluída a verificação das respostas individuais, foram somados todos os
resultados, cf. Anexo, e, posteriormente, calculados os valores totais, por categoria, do
grupo de sujeitos, os quais se apresentam no seguinte quadro:



                   Tabela de resultados correctos por categoria

                                                         SINAIS DE
                 LETRAS           ALGARISMOS                                TOTAL
                                                       PONTUAÇÃO

Total Pré           431                 435                   371            1237

Total Pós           237                 287                   191             715

   Total            668                 712                   562            1952


                                            Fig.2


   Os resultados totais referidos no quadro da Fig. 2 correspondem ao somatório dos
resultados individuais dos 23 sujeitos da amostra, nas três categorias (letras, algarismos
e sinais de pontuação), em situação de pré e pós instrução.
   Verifica-se – para todas as categorias: letras, algarismos e sinais de pontuação – que
nas situações de pré-instrução há uma maior quantidade de registos /caracteres
observados correctamente, do que na situação de pós instrução., sendo a diferença
bastante significativa: 1237 (“pré“) para, apenas, 715 (“pós”). As letras registaram um
total de 668 observações, das quais 431 corresponde à situação de pré-instrução e 237
correspondentes à situação de pós-istrução; os algarismos registaram um total de 712
observações, das quais 435 correspondem à situação de pré-instrução e 287
correspondem à situação de pós-instrução; os sinais de pontuação registaram um total
6

de 562 observações, das quais 371 correspondem à situação de pré-instrução e 191
correspondem a situação de pós-instrução.
   Ainda na situação de pré-instrução, de entre as três categorias de letras, algarismos e
sinais de pontuação – os algarismos obtiveram o maior número de registos (435) para
431 de letras e 371 de sinais de pontuação.
   Aliás, a categoria dos algarismos registou resultados superiores aos das outras duas
categorias (letras e sinais de pontuação) quer na situação de pré como de pós instrução.
   A categoria das letras – pré (431) e pós (237) - registou resultados inferiores aos dos
algarismos – pré (435) e pós (287) -, mas superiores aos da categoria de sinais de
pontuação – pré (371) e pós (191) -, também quer nas situações de pré como de pós
instrução.
       Na situação de pós-instrução, de entre as três categorias de letras, algarismos e
sinais de pontuação – foram igualmente os algarismos que obtiveram o maior número
de registos (287) para 237 de letras e 191 de sinais de pontuação.


DISCUSSÃO


       O objectivo subjacente à experiência relatada é o de mostrar a influência da
atitude perceptiva sobre a selecção perceptiva.
   Para sabermos se uma determinada atitude perceptiva influencia a selecção
perceptiva, colocámos a seguinte hipótese teórica: “Se numa situação a atitude
perceptiva é função da instrução dada, então a selecção perceptiva é influenciada pela
instrução”. Esta hipótese foi operacionalizada assim: “Numa situação experimental,
adaptada de uma experiência de Fraisse, P. (1963), se a instrução é dada previamente ao
sujeito, então a selecção perceptiva é superior em relação à situação em que a instrução
é dada posteriormente.”
   Com os resultados obtidos nesta experiência constatámos que na situação de pré-
instrução os resultados obtidos nas três categorias são sempre superiores aos resultados
obtidos na situação de pós-instrução, em que se verificou um decréscimo de
observações nas mesmas categorias.
   Sendo assim, as hipóteses colocadas foram confirmadas pelos resultados da
experiência, uma vez que a selecção perceptiva veio a ser influenciada pela atitude
perceptiva em função da instrução, a qual confirmou resultados perceptivos superiores
na pré-instrução e resultados perceptivos inferiores na pós-instrução.
7

   Aliás, estes resultados não são surpreendentes tendo em conta estudos realizados,
como referem Quelhas, A. C., Ribeiro, O., Guerreiro, M., Juhos, Cs. (2002),
nomeadamente as experiências de Külpe que demonstrativas de que as respostas
perceptivas de um sujeito a estímulos vários - em situação experimental – são
sobredeterminadas pelas instruções dadas durante o período de testagem.




   REFERÊNCIAS


   Anderson, J. R. (2004). Psicologia cognitiva e suas implicações experimentais. Rio
      de Janeiro: LTC.
   Fraisse, P. (1963). L’influence de l’attitude sur la sélection perceptive. I P. Fraisse
       (Ed.), Manuel pratique de psychologie experimentale (pp. 190-192). Paris :
       PUF.
   Quelhas, A. C., Ribeiro, O., Guerreiro, M., Juhos, Cs. (2002). Atitudes perceptivas.
       (Caderno de Apoio às aulas práticas de Psicologia Cognitiva I). Lisboa: ISPA
8
9

                                             Anexo

                   Tabela de Registo dos Somatórios dos Resultados Analisados



                                                                        SINAIS DE
                                       LETRAS        ALGARISMOS
                                                                       PONTUAÇÃO
         NOMES             IDADE      PRÉ     PÓS     PRÉ      PÓS         PRÉ   PÓS   TOTAL
Ana Margarida            37            16      12       20      16         14    2         117
Ana Martins              21            12       5       16      10         16    12         92
Ana Nunes                50            20      12       20      14         15    11        142
Ana Pereira              26            20      10       20      14         19    7         116
André Leonor             31            20      15       20      12         19    6         123
Cláudia Dias             24            19      11       20      17         12    8         111
Fátima Mendes            47            20      12       20      11         17    10        137
Helena Almeida           24            20      11       15      13         17    11        111
João Matos               26            16       5       11       9         10     4         81
José Vieira              39            20      13       20      13         19    7         131
Liliana Cruz             22            19       5       20      11         19    12        108
Lucinda Curado           49            19       9       20      13         16    8         134
Luisa Miranda            28            19       4       20      11         16    4         102
Manuel Lima              44            19      10      20       11         15     6        125
Mariana Campos           18            19      14       20      13         20    11        115
Miguel Frederico         35            20      13       20      15         15    11        129
Paula Gomes              31            19       9       16      10         15    3         103
Paula Norte              42            16      12       20      13         14    7         124
Paulo Mourinha           33            20      13       18      16         15    12        127
Sónia Barroso            29            20      15       20      13         16    17        130
Susana Marques           31            18       9       20       9         17     6        110
Vera Costa               50            20       8       20       5         18     7        128
Zenilde Pereira          55            20      10       19      18         17     9        148



                                                     Valores totais de :

                                                                        SINAIS DE
                                       LETRAS        ALGARISMOS
                                                                       PONTUAÇÃO
                                      PRÉ     PÓS     PRÉ      POS      PRÉ   POS
                                       431    237      435      287        371   191
10

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Atitudes perceptivas

  • 1. PSICOLOGIA COGNITIVA RELATÓRIO ATITUDES PERCEPTIVAS Docente: Dr. Csongor Juhos Turma 8 Sónia Barroso 14883 ISPA – 2007/2008
  • 2. 2 ENQUADRAMENTO TEÓRICO Objectivo do estudo O objectivo do estudo é mostrar a influência da atitude perceptiva sobre a selecção perceptiva. Revisão de literatura A percepção pode ser definida, segundo Anderson (2000), como a forma como os sistemas sensoriais identificam os estímulos do mundo exterior. Indo a percepção para além do simples registo desses estímulos, um aspecto importante é a interpretação dos mesmos. Por conseguinte, segundo Anderson (2000), distinguem-se duas fases na percepção: uma inicial, em que formas e objectos são captados do que é visto, e uma posterior ou tardia, em que essas formas e objectos são reconhecidos. Segundo Quelhas, A. C., Ribeiro, O., Guerreiro, M., Juhos, Cs. (2002), Külpe, em 1904, referiu a importância das atitudes perceptivas. Em experiências com um taquitoscópio, provou que o que é percepcionado depende (também) do estado de preparação da pessoa no momento da estimulação, considerando-se, assim, a atitude perceptiva a orientação para se ter uma percepção particular de certos estímulos (maior ou menor facilidade; de uma ou de outra forma), sem alteração das condições periféricas de estimulação. As atitudes perceptivas podem influenciar a percepção do tamanho, por exemplo, bem como a selecção de estímulos. Os referidos autores consideram quatro os factores determinantes da atitude perceptiva: sequência de estimulação; necessidade e outros factores motivacionais; - factores culturais; instruções dadas em situação experimental. Consideram também que as atitudes perceptivas produzem efeitos sobre: nível da selecção perceptiva; nível da sensibilização perceptiva; nível das distorções perceptivas. Estudos realizados a partir das experiências de Külpe demonstraram, de novo, que a acção de uma estimulação depende do estado geral do sujeito e que os estímulos não
  • 3. 3 agem sobre “sentidos puros”. As respostas perceptivas de um sujeito a estímulos vários, em situação e em actividade, são sobredeterminadas por “esquemas perceptivos activados” ou, em situação experimental, pelas instruções recebidas. Pode, assim, considerar-se que a actividade perceptiva não é só um processo de recepção de informação, mas uma construção do meio perceptual envolvente do sujeito. O Problema: Uma determinada atitude perceptiva influencia a selecção perceptiva? Hipótese Teórica: Se numa situação a atitude perceptiva é função da instrução dada, então a selecção perceptiva é influenciada pela instrução. Hipótese operacional: Numa situação experimental – adaptação de uma experiência de Fraisse, P. (1963) - se a instrução é dada previamente ao sujeito, então a selecção perceptiva é superior em relação à situação em que a instrução é dada posteriormente. Variável independente – a atitude perceptiva criada pela instrução. Operacionalização da variável independente: a instrução prévia (“pré”) ou posterior (“pós”) aleatória sobre uma categoria a processar. Variável dependente – a selecção perceptiva. Operacionalização da variável dependente: quantidade de caracteres percepcionados correctamente, de diferentes categorias, com instrução prévia e com instrução posterior. MÉTODO Amostra Vinte e três sujeitos, constituindo um grupo “Within subject”, uma vez que todos os elementos fizeram o seu próprio controlo, pertencentes à turma 8 do 1º ano do Mestrado Integrado em Psicologia do ISPA. Idade média: 34,43 anos. Desvio padrão: 10,48 anos Dezassete sujeitos do sexo feminino e seis sujeitos do sexo masculino.
  • 4. 4 Caracterização dos instrumentos Computador dotado do programa Superlab; seis pranchas diferentes com doze sinais cada (quatro de letras, quatro de algarismos e quatro de sinais de pontuação), organizadas em cinco séries. Exemplo de uma prancha: Fig.1 Papel (tabelas de anotação) e lápis ou caneta. Procedimentos Foram dadas instruções aos sujeitos sobre como se iria processar a experiência (ligar computador, entrar no programa, execução de uma pré-experiência e forma de anotação dos resultados individuais). As pranchas surgiram em seis situações diferentes. Em três era dada instrução precisa prévia no sentido de captar o máximo de letras, algarismos ou sinais de pontuação. Nas outras três, surgia, após a visualização, uma instrução: “Atenção, olhe atentamente.”, e, imediatamente após a apresentação da prancha, é que surgia a instrução “Anote as letras [algarismos ou sinais de pontuação] que viu.” As diferentes situações sucederam-se várias vezes aleatoriamente. Foram apresentadas aos sujeito 5 séries de 6 pranchas.
  • 5. 5 Posteriormente, cada sujeito realizou a verificação das respostas dadas, da seguinte forma: - não anotação das falsas respostas ou das não adequadas; - anotação, por série, na coluna correspondente da folha de notação, do número de letras, algarismos ou de sinais de pontuação percepcionados correctamente. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Concluída a verificação das respostas individuais, foram somados todos os resultados, cf. Anexo, e, posteriormente, calculados os valores totais, por categoria, do grupo de sujeitos, os quais se apresentam no seguinte quadro: Tabela de resultados correctos por categoria SINAIS DE LETRAS ALGARISMOS TOTAL PONTUAÇÃO Total Pré 431 435 371 1237 Total Pós 237 287 191 715 Total 668 712 562 1952 Fig.2 Os resultados totais referidos no quadro da Fig. 2 correspondem ao somatório dos resultados individuais dos 23 sujeitos da amostra, nas três categorias (letras, algarismos e sinais de pontuação), em situação de pré e pós instrução. Verifica-se – para todas as categorias: letras, algarismos e sinais de pontuação – que nas situações de pré-instrução há uma maior quantidade de registos /caracteres observados correctamente, do que na situação de pós instrução., sendo a diferença bastante significativa: 1237 (“pré“) para, apenas, 715 (“pós”). As letras registaram um total de 668 observações, das quais 431 corresponde à situação de pré-instrução e 237 correspondentes à situação de pós-istrução; os algarismos registaram um total de 712 observações, das quais 435 correspondem à situação de pré-instrução e 287 correspondem à situação de pós-instrução; os sinais de pontuação registaram um total
  • 6. 6 de 562 observações, das quais 371 correspondem à situação de pré-instrução e 191 correspondem a situação de pós-instrução. Ainda na situação de pré-instrução, de entre as três categorias de letras, algarismos e sinais de pontuação – os algarismos obtiveram o maior número de registos (435) para 431 de letras e 371 de sinais de pontuação. Aliás, a categoria dos algarismos registou resultados superiores aos das outras duas categorias (letras e sinais de pontuação) quer na situação de pré como de pós instrução. A categoria das letras – pré (431) e pós (237) - registou resultados inferiores aos dos algarismos – pré (435) e pós (287) -, mas superiores aos da categoria de sinais de pontuação – pré (371) e pós (191) -, também quer nas situações de pré como de pós instrução. Na situação de pós-instrução, de entre as três categorias de letras, algarismos e sinais de pontuação – foram igualmente os algarismos que obtiveram o maior número de registos (287) para 237 de letras e 191 de sinais de pontuação. DISCUSSÃO O objectivo subjacente à experiência relatada é o de mostrar a influência da atitude perceptiva sobre a selecção perceptiva. Para sabermos se uma determinada atitude perceptiva influencia a selecção perceptiva, colocámos a seguinte hipótese teórica: “Se numa situação a atitude perceptiva é função da instrução dada, então a selecção perceptiva é influenciada pela instrução”. Esta hipótese foi operacionalizada assim: “Numa situação experimental, adaptada de uma experiência de Fraisse, P. (1963), se a instrução é dada previamente ao sujeito, então a selecção perceptiva é superior em relação à situação em que a instrução é dada posteriormente.” Com os resultados obtidos nesta experiência constatámos que na situação de pré- instrução os resultados obtidos nas três categorias são sempre superiores aos resultados obtidos na situação de pós-instrução, em que se verificou um decréscimo de observações nas mesmas categorias. Sendo assim, as hipóteses colocadas foram confirmadas pelos resultados da experiência, uma vez que a selecção perceptiva veio a ser influenciada pela atitude perceptiva em função da instrução, a qual confirmou resultados perceptivos superiores na pré-instrução e resultados perceptivos inferiores na pós-instrução.
  • 7. 7 Aliás, estes resultados não são surpreendentes tendo em conta estudos realizados, como referem Quelhas, A. C., Ribeiro, O., Guerreiro, M., Juhos, Cs. (2002), nomeadamente as experiências de Külpe que demonstrativas de que as respostas perceptivas de um sujeito a estímulos vários - em situação experimental – são sobredeterminadas pelas instruções dadas durante o período de testagem. REFERÊNCIAS Anderson, J. R. (2004). Psicologia cognitiva e suas implicações experimentais. Rio de Janeiro: LTC. Fraisse, P. (1963). L’influence de l’attitude sur la sélection perceptive. I P. Fraisse (Ed.), Manuel pratique de psychologie experimentale (pp. 190-192). Paris : PUF. Quelhas, A. C., Ribeiro, O., Guerreiro, M., Juhos, Cs. (2002). Atitudes perceptivas. (Caderno de Apoio às aulas práticas de Psicologia Cognitiva I). Lisboa: ISPA
  • 8. 8
  • 9. 9 Anexo Tabela de Registo dos Somatórios dos Resultados Analisados SINAIS DE LETRAS ALGARISMOS PONTUAÇÃO NOMES IDADE PRÉ PÓS PRÉ PÓS PRÉ PÓS TOTAL Ana Margarida 37 16 12 20 16 14 2 117 Ana Martins 21 12 5 16 10 16 12 92 Ana Nunes 50 20 12 20 14 15 11 142 Ana Pereira 26 20 10 20 14 19 7 116 André Leonor 31 20 15 20 12 19 6 123 Cláudia Dias 24 19 11 20 17 12 8 111 Fátima Mendes 47 20 12 20 11 17 10 137 Helena Almeida 24 20 11 15 13 17 11 111 João Matos 26 16 5 11 9 10 4 81 José Vieira 39 20 13 20 13 19 7 131 Liliana Cruz 22 19 5 20 11 19 12 108 Lucinda Curado 49 19 9 20 13 16 8 134 Luisa Miranda 28 19 4 20 11 16 4 102 Manuel Lima 44 19 10 20 11 15 6 125 Mariana Campos 18 19 14 20 13 20 11 115 Miguel Frederico 35 20 13 20 15 15 11 129 Paula Gomes 31 19 9 16 10 15 3 103 Paula Norte 42 16 12 20 13 14 7 124 Paulo Mourinha 33 20 13 18 16 15 12 127 Sónia Barroso 29 20 15 20 13 16 17 130 Susana Marques 31 18 9 20 9 17 6 110 Vera Costa 50 20 8 20 5 18 7 128 Zenilde Pereira 55 20 10 19 18 17 9 148 Valores totais de : SINAIS DE LETRAS ALGARISMOS PONTUAÇÃO PRÉ PÓS PRÉ POS PRÉ POS 431 237 435 287 371 191
  • 10. 10