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EDUCAÇÃO FINANCEIRA DO
CONSUMIDOR BRASILEIRO
Pesquisa realizada pela CNDL e SPC Brasil buscou avaliar a educação
financeira do consumidor brasileiro.
Foram ouvidos em todo o país 646 consumidores. A pesquisa foi reali-
zada em todas as capitais com alocação em cada capital proporcional
ao tamanho da população economicamente ativa (PEA), com mar-
gem de erro de 3,9% a um intervalo de confiança de 95%.
Caracterização dos entrevistados
Na pesquisa a maioria dos entrevistados foi do sexo feminino, 57%, e 43% masculino. A faixa etária mais cita-
da foi de 25 a 34 anos (36%) e renda mensal de R$906,00 a R$2.200,00 (33%).
O nível de escolaridade da maioria é superior incompleto e completo (44%). No entanto, quando foi realizado
o corte por classe, a AB possui um grau de escolaridade maior, 80% estão entre curso superior e pós-gradu-
ação. Enquanto, 83% da classe CD se concentra em segundo grau e superior completo e incompleto, sendo
que a maioria, 51%, possui apenas segundo grau. Pode-se observar que ainda a maior educação está muito
ligada à faixa de renda, no entanto espera-se que com a inserção mais elevada da classe CD no mercado de
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trabalho com melhores posições, aliado a ampliação da renda, crédito e às políticas públicas de incentivo a
educação esse quadro sofra alterações.
Na pesquisa 66% das pessoas (empregados de empresa privada, autônomo, funcionário público, profissional
liberal, empresário/comerciante) estão empregadas, ou exercendo alguma atividade que gere rendimentos,
isso demonstra o atual quadro da economia brasileira com queda do desemprego e aumento da renda.
Comportamento de compra
No que diz respeito ao comportamento de consumo, 54% dos entrevistados realizam algumas vezes compras
por impulso, enquanto 31% afirmaram que sempre ou quase compram. Pode-se observar que a compra por
impulso ainda é marcante no comportamento do brasileiro, visto que, os que responderam que compram
(43%) geralmente estão em situações de pressão. Atualmente vivemos em um mundo onde a alta compe-
titividade, pressões no trabalho, problemas de mobilidade urbana (cada vez mais as pessoas estão ficando
fora de casa), maior acesso às informações e maior diversidade na oferta de bens e serviços, vem gerando
angústias e ansiedades nas pessoas os levando agirem de forma emocional no momento de consumo.
Na classe CD é maior o percentual de quem nunca faz
compras sem planejamento prévio, chegando a 20%, en-
quanto nas classes AB este percentual é 9%. Este é um re-
flexo natural, tendo em vista que o orçamento de consu-
midores pertencentes à classe CD é mais comprometido
com as necessidades de primeira ordem (aluguel, contas
de água, luz, telefone, etc) se comparado a um orçamento
típico da classe AB.
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Quanto à forma de pagamento mais utilizada a maioria dos entrevistados realiza as compras em dinheiro
(72%), seguido do cartão de crédito, abrangendo 63% dos entrevistados. No entanto, podemos observar na
pesquisa uma maior citação de cartões como forma de pagamento.
Quanto à ordem de prioridade nas compras, 79% prio-
riza necessidade pelo produto em questão, 72% prioriza
promoções e descontos e 64% leva em consideração o
orçamento. Ainda neste âmbito, a classe AB se preocupa
mais com orçamento em relação à classe CD na hora de
realizar as compras (71% contra 60%, respectivamente).
Como a classe CD possui um orçamento mais reduzido,
é comum neste extrato que se extrapole os gastos a fim
de suprir as necessidades da casa, como pagamento de
contas, por exemplo. Diante disso, a preocupação em ul-
trapassar o orçamento acaba sendo colocada em segun-
do plano, o que não ocorre com a mesma frequência nas
classes AB, tendo em vista que nesta há uma folga maior
no orçamento para que se possa controlar o pagamento
das despesas.
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Quando questionados se procuram saber se teriam algum desconto quando realizam compra parcelada, a
maioria 85% respondeu que sim. Apesar de questionarem, o brasileiro ainda tem o hábito de comprar a prazo
e prestar a atenção na maioria das vezes se a prestação cabe no bolso (37%), ou seja, no seu valor. Esse com-
portamento é mais marcante na classe CD (42% contra 30% na AB), pois é uma classe que está em ascensão e
aprendendo a lidar com o crédito e realizam suas compras principalmente, as de bens de maior valor, a prazo.
Na pesquisa também foi citado que no ato do consumo observam a taxa de juros cobrada sobre a parcela
(31%) e o valor final da compra após o pagamento de todas as parcelas (20%).
Receitas e investimentos
42% dos entrevistados não guarda nenhuma parte de seus
rendimentos. Considerando-se somente a classe CD esse
percentual é ainda maior, chegando a 53% contra 28% na
classe AB. Isso se deve à menor renda disponível na classe
CD impossibilitando estes consumidores de guardar algu-
ma parcela de seus rendimentos. Já na classe AB torna-
-se mais viável separar uma parte dos rendimentos em
função da maior renda disponível após o pagamento das
contas e das necessidades primárias (aluguel, contas de
água, luz, telefone, etc).
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A pesquisa mostra uma relação direta entre guardar parte
dos rendimentos e o tempo de manutenção do padrão
de vida no caso de uma perda total das fontes de ren-
dimentos. A maioria dos entrevistados (50%) que não
guardam nada de seus rendimentos conseguiriam manter
seu padrão de vida por menos de um mês. É perceptível
que quanto maior o percentual do valor guardado, por
mais tempo o consumidor consegue manter seu padrão
de vida. Metade dos entrevistados que guardam mais de
40% dos rendimentos conseguiriam permanecer no seu
estilo de vida por mais de um ano.
Contas do domicílio
No que diz respeito à responsabilidade pelo pagamento
das contas do seu domicílio, 55%, respondeu que compar-
tilha suas contas com os outros moradores da casa, como
a maioria dos entrevistados possui uma renda mensal de
R$906,00 a R$2.200,00, torna-se necessário esse com-
partilhamento. Quando questionados sobre o que pode-
ria levar a dificuldades financeiras a maioria respondeu,
41%, baixo salário, o que pode vir a comprovar o fato da
divisão dessas despesas. Já 29% dos entrevistados con-
Quando questionados se possuem algum investimento
fixo, a maioria dos entrevistados, 74% respondeu que
não, quando foi realizado o corte por classe o percentual
de pessoas que não investem na CD é maior, 82% contra a
AB, 63%. Podemos observar claramente que a população
brasileira ainda não tem por hábito investir que pode ser
reflexo da falta de conhecimento sobre como e em que re-
alizar seus investimentos e da forma como lidar com seus
ganhos.
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sidera a utilização do cartão de crédito, com compras parceladas,
como uma possível causa de dificuldades financeiras. As facilidades
de pagamento resultantes das menores taxas de juros muitas vezes
contribuem para que os consumidores realizem suas compras sem
pensar no impacto no controle do orçamento, o que muitas vezes só
é percebido em uma situação de endividamento.
Em uma situação de perda total das fontes de rendimentos, 35%
afirmaram que conseguiriam manter o padrão de vida de um a três
meses, enquanto 30% não conseguiriam manter nem por um mês e
17% manteriam o seu padrão de vida de 4 a 6 meses. Isso demons-
tra que apesar de buscarem informações no que tange a descontos e taxa de juros a população brasileira
ainda não tem compreensão de que a educação financeira é necessária para melhorar sua qualidade de
vida e realizar escolhas que promovam seu bem-estar e proteção financeira.
Planejamento financeiro e Educação financeira
64% dos entrevistados faz acompanhamento mensal das despesas. Considerando somente a classe AB
este percentual é ainda maior, chegando a 72%, contra 58% na classe CD. A principal forma de acompa-
nhamento é via extrato bancário (55% dos entrevistados). A opção pelo extrato se justifica por meio da fa-
cilidade de acompanhar o saldo disponível e as transações realizadas em determinado período de tempo.
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67% dos entrevistados fazem algum tipo de planejamen-
to orçamentário, seja ele pessoal ou familiar (ou ambos),
enquanto 32% dos entrevistados não faz nenhum tipo de
planejamento (familiar e pessoal). Isto é mais bem cons-
tatado na classe CD, na qual 35% dos entrevistados não
realizam qualquer planejamento, ante 28% pertencentes
à classe AB. Embora ainda seja alto o percentual de con-
sumidores que não realizam qualquer tipo de controle de
seus orçamentos, pode-se dizer que a consciência quanto
à importância do planejamento orçamentário tem ganha-
do cada vez mais espaço, tendo em vista a possibilidade
de uma melhor alocação dos recursos disponíveis.
Os principais incentivos dos entrevistados a realizar o pla-
nejamento o orçamentário são a aquisição da casa pró-
pria (24%), garantir fundos para o futuro (18%), quitar
dívidas e financiamentos (15%) e aquisição de automóvel
(14%). Com a estabilidade no mercado de trabalho e os
maiores rendimentos, os consumidores tendem a querer
se planejar e a obter conhecimento de como fazer para
adquirir bens de maior valor agregado (como casa própria
e automóvel), bem como para poupar ou ainda quitar dí-
vidas pendentes.
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89% dos entrevistados veem benefícios em realizar o planejamento financeiro, e 58% busca informações
sobre como realizar este planejamento. Na classe AB tal busca é maior, abrangendo 61% dos entrevistados,
ante 55% na classe CD. Diante de maiores incentivos ao consumo proporcionados pela combinação de um
mercado de trabalho aquecido com baixa taxa de desemprego, maiores rendimentos, com ampliação da ofer-
ta de crédito e baixas taxas de juros, torna-se natural que aumente o número de interessados na educação
financeira como forma de melhor realizar o controle dos orçamentos familiar e pessoal.
Além disso, 74% dos entrevistados incentivam os amigos e familiares a fazer o planejamento, demonstrando
como o consumidor, ao perceber as vantagens do controle financeiro, acaba por agir como uma espécie de
“multiplicador”, ao propagar para as pessoas mais próximas maneiras eficientes de realizar o planejamento
orçamentário.
76% dos entrevistados nunca participaram de
algum curso sobre educação financeira, mas
67% possui interesse em fazer algum curso. Isso
demonstra que há uma demanda a ser explora-
da no Brasil no que tange à educação financei-
ra. Além disso, 75% considera útil o ensino de
educação financeira nas escolas. Tendo em vista
que é a parcela de jovens que se encontram em
situação de inadimplência, a preocupação em
como realizar um planejamento orçamentário
se faz presente cada vez mais cedo, justificando
assim a importância dada à educação financeira
já nos níveis de ensino fundamental e médio.
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CONCLUSÃO
O cenário econômico e social brasileiro no período recen-
te, com ênfase para a última década, revela uma melhoria
do padrão de vida dos cidadãos impulsionada por alguns
fatores, como um crescente número de trabalhadores
empregados com rendimentos maiores, além de uma
intensificação dos programas de transferência de renda
como o bolsa-família, que também caracteriza o período
em questão. A combinação de tais fatores fez emergir no
Brasil a chamada “nova classe média”, ou seja, ascensão
de uma significativa parcela da sociedade ao mercado de
consumo.
O novo padrão de consumo que vem se estabelecendo em decorrência destas mudanças vai além das neces-
sidades consideradas primárias e abrange produtos e serviços que outrora possuíam o acesso limitado a um
percentual restrito de consumidores. O estímulo ao consumo também é uma consequência de medidas do
Governo Federal como ampliação da oferta de crédito, redução do IPI para alguns setores e redução da taxa
de juros, que viabilizam o parcelamento da compra de produtos de maior valor agregado.
Diante desta configuração de aumento da renda disponível e facilidades para realizar o consumo, uma ques-
tão que se faz importante é como o novo consumidor brasileiro lidará com suas finanças. Daí surge à impor-
tância da educação financeira como forma de contribuir ativamente para aumentar o nível de consciência
financeira da população brasileira, possibilitando um mercado mais transparente com vantagens para todos
que utilizam o crédito.