Controlo da qualidade, segurança e higiene em soldadura
A estrutura celular da cortiça
1. I S V O U G A
Autor:
Sérgio Paulo Lopes da Rocha
2. Ciências dos Materiais “ A Cortiça”
Í NDICE
1. Origem da Cortiça (Sobreiro) ........................................................................................................ 3
2. Tipos e Classes de Cortiça............................................................................................................ 4
3. Estrutura celular da cortiça ............................................................................................................ 6
4. Composição quimica. .................................................................................................................... 7
4.1 Ceroides................................................................................................................................ 7
4.2 Taninos ................................................................................................................................. 7
4.3 Suberina................................................................................................................................ 7
4.4 Polisacáridos......................................................................................................................... 8
4.5 Lenhina ................................................................................................................................. 8
4.6 Cinzas e Outros .................................................................................................................... 8
5. Propriedades Mecâncias e Físicas................................................................................................ 9
5.1 Compressão.......................................................................................................................... 9
5.2 Resistência ao Desgaste .................................................................................................... 11
5.3 Atrito.................................................................................................................................... 11
5.4 Tracção e Fractura.............................................................................................................. 12
5.5 Dissipação de Energia de Vibrações .................................................................................. 13
5.6 Elasticidade......................................................................................................................... 13
5.7 Impermeabilidade................................................................................................................ 14
5.8 Condutibilidade Térmica ..................................................................................................... 14
6. Defeitos da Cortiça ...................................................................................................................... 15
6.1 Porosidade Excessiva......................................................................................................... 15
6.2 Densidade ........................................................................................................................... 15
7. Aplicações da Cortiça .................................................................................................................. 16
8. Bibliografia ................................................................................................................................... 19
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3. Ciências dos Materiais “ A Cortiça”
1. ORIGEM DA CORTIÇA (SOBREIRO)
O sobreiro (Quercus Suber) é uma árvore, que existe há mais de 60 milhões de anos e que
data desde a constituição da grande Bacia do Mediterrâneo, tornando-se uma das querníceas mais
jovens. Por este motivo, e devido a factores climáticos o Sobreiro abunda essencialmente nos países
da Bacia mediterrânea, instalando-se no Norte de África, no sul de França, Itália, Espanha, e,
sobretudo em Portugal, que se tornou sua pátria adoptiva.
O Sobreiro é uma das árvores florestais mais abundantes no nosso país colocando-se em área
ocupada (cerca de 20%) a seguir ao Pinheiro. Este produz tecido suberoso até aos 150 a 200 anos,
permitindo normalmente 15 a 18 descortiçamentos e cuja sua idade média em exploração dura 85
anos, é constituído por três zonas distintas. Essas zonas são visíveis quando o tronco do sobreiro é
cortado transversalmente, como é possível verificar através da figura:
Sendo assim , tem-se:
- uma zona interior, que se designa por Lenho;
- uma zona mais escura e delgada que cerca o Lenho e a que se dá nome de Entrecasco;
- finalmente, a Cortiça revestindo exteriormente o Entrecasco.
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2. TIPOS E CLASSES DE CORTIÇA
Normalmente, considera-se dois tipos de Cortiça: a Cortiça Virgem e a Cortiça de Reprodução.
Por sua vez, distinguem-se duas classes de Cortiça de Reprodução: a Cortiça Secundeira e a Cortiça
Amadia.
A Cortiça Virgem (1) é obtida no primeiro descortiçamento de sobreiros com 25 anos de idade e
no descortiçamento de sobreiros em produção de Cortiça Amadia como resultado de podas (Cortiça
Virgem de falca) e do seu crescimento em altura e em diâmetro, que tem como consequência o
aumento da zona descortiçavel (Cortiça Virgem de aumentos). A Cortiça Virgem apresenta uma
estrutura bastante irregular, uma vez que os anéis de crescimento não são concêntricos e os canais
lenticulares não se encontram alinhados segundo a direcção radial. Além disso, a superfície externa
(Costa ou Raspa) é muito rugosa e apresenta fissuras profundas. Por estes motivos, a Cortiça
Virgem, é usualmente utilizada na produção de aglomerados e decorativos.
A Cortiça Secundeira (2) é a primeira cortiça de reprodução, ou seja, é a cortiça extraída nove
anos após o primeiro descortiçamento. Esta cortiça apresenta uma estrutura não tão irregular como a
cortiça virgem, sendo já, alguma mas pouca, utilizada para o fabrico de rolhas com pequenos
diâmetros, continuando a ser a sua principal aplicação o fabrico de aglomerados.
A Cortiça Amadia (3) é extraída nos descortiçamentos posteriores (de nove em nove anos) e
apresenta um,a estrutura de tal modo regular que é usada no fabrico de rolhas.
Estes tipos de cortiças apresentam valores distintos de densidade, sendo a cortiça virgem crua
cerca de 15 a 20% mais densa que todas as outras.
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Contudo, como já foi referido, nem todo o tipo de cortiça vai para a indústria aglomeradora. A
cortiça mais utilizada na granulação e posteriormente na aglomeração é a “broca”, que não é mais do
que sobras da indústria da rolha, alguma virgem e o “refugo”, cortiça que não serve para qualquer
outro tipo de aplicação.
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3. ESTRUTURA CELULAR DA CORTIÇA
A cortiça deve ser considerada como um “material compósito”, com afinidade, devido á
estrutura molecular dos seus constituintes, com os polímeros. No entanto e por força da sua estrutura
celular, a cortiça é mais convenientemente colocada na categoria de materiais celulares, não no
sentido biológico, mas sim no facto destes materiais serem caracterizados por uma estrutura porosa,
formada por células justa-postas.
A cortiça é um material de origem biológica (tecido vegetal) variável sob os pontos de vista
anatómico, físico-mecânico e químico. Este material é formado por microcélulas mortas,
apresentando normalemente uma forma poliédrica de catorze lados, dispostas de forma compacta,
estando os espaços intercelulares totalmente preenchidos com uma mistura gasosa quase idêntica á
do ar.
A célula de cortiça apresenta uma quantidade mínima de material sólido e uma quantidade
máxima de matéria gasosa, essencialmente formada por ar atmosférico isento de dióxido de Corbono.
Os diâmetros destas células oscilam entre os 10 e os 50 mícron, predominando as que possuem
diâmetros entre 30 a 40 mícron. A altura das células e a espessura das membranas celulares varia
consoante as estações do ano, apresentando valores entre 10 a 70 mícron, e de 1 a 2,5 mícron
respectivamente. Esta desigualdade, tanto na espessura da membrana como na altura e diâmetro da
célula, interfere em algumas propriedades mecânicas e físicas da cortiça, nomeadamente na sua
compressibilidade e elasticidade.
As camadas intracelulares da cortiça são constituídas por cinco partes:
- celulose (duas partes), as quais revestem as câmaras celulares cheias de ar;
- suberina (uma parte), matéria dura e impermeável à água;
- ceras (uma parte), matéria dura e impermeável à água;
- lenhosa (uma parte), permite manter a estrutura e rigidez necessárias.
São as camadas de suberina e ceras que conferem à cortiça a elasticidade característica deste
material.
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4. COMPOSIÇÃO QUIMICA.
A cortiça pode ser quimicamente dividida em seis grupos:
Ceroides, Taninos, Suberina, Polisacáridos, Lenhina e Cinzas e outros.
4.1 C EROIDES
Os ceroides são um grupo de compostos de baixa polaridade responsáveis pela
impermeabilidade da cortiça. Representam cerca de 5% da cortiça. Deste grupo de compostos fazem
parte compostos parafínicos com átomos de carbono de 20 a 34 alcanoídes com C20 e C26 e
compostos triterpénicos, sendo os mais usuais a cerina e a friedelina.
4.2 T ANINOS
Os taninos representam cerca de 6% da cortiça. São compostos polifenólicos que podem ser
extraídos com solventes polares.
Os taninos obtidos classificam-se em dois grupos:
- Hidrolizáveis, são formados por ésteres de glucose do ácido gálico e do ácido
hexahidroxidifénico.
- Condensáveis, são formados por poli condensação de percursores do tipo flavonóide.
4.3 S UBERINA
A Suberina é o componente da cortiça que aparece em maior percentagem, isto é, a suberina é
o grupo maioritário da cortiça, representando cerca de 45%.
Esta substância é constituída por uma mistura de ácidos gordos de peso molecular elevado,
obtidos por saponificação e posterior extracção com solventes polares.
A suberina pode ser considerada, praticamente, infusível e insolúvel nos dissolventes usuais:
água, éter, clorofórmio, ácido sulfúrico concentrado, ácido clorídrico e amoníaco.
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8. Ciências dos Materiais “ A Cortiça”
Os principais constituintes da suberina são:
- Constituintes neutro;
- Constituintes ácidos;
- Constituintes não identificados (devido á complexidade da sua estrutura).
A presença da suberina, torna as células impermeáveis aos líquidos e a gases. A grande
flexibilidade das suas menbranas, imprimem ao tecido suberoso outras propriedades tais como a
compressibilidade e a elasticidade.
É ainda, importante referir que, a diferente formação da cortiça (virgem e de reprodução
amadia) influencia claramente a sua composição química, sendo esta influencia observada no
conteúdo da suberina. Uma vez que, a cortiça original do Quercus Suber (cortiça virgem) contém,
aproximadamente, mais 10% de suberina que a cortiça formada após a extracção original e da
primeira cortiça regenerada (cortiça de reprodução amadia).
4.4 P OLISACÁRIDOS
A fracção de polisacáridos constitui cerca de 12% da cortiça, sendo formada, essencialmente
por celulose (polímero linear de D-glucose em β).
4.5 L ENHINA
A lenhina é um resíduo obtido após as operações necessárias á separação das outras
fracções, que fazem parte da cortiça, e representa cerca de 27% da mesma.
A lenhina é um poliéster complexo de massa molecular elevada. As unidades monoméricas são
constituídas pelos álcoois coniferílico, p-hidroxicinâmico e sinapílico.
Pelo facto das ligações entre os monómeros serem de diferentes tipos (éter, acetal, glucoídica,
etc.), este composto dificilmente é hidrolisável e a sua estrutura é ainda deficientemente conhecida.
4.6 C INZAS E O UTROS
Nas cinzas da cortiça identificou-se os seguintes metais: cálcio, potássio, manganês, ferro,
alumínio, magnésio, sódio, bário, estrôncio, cobre, lítio, crómio e titânio, sendo o cálcio e o potássio
os elementos que se encontram em maior quantidade.
Existem ainda, outros constituintes diversos formados essencialmente por água, glicerina,
minirais, etc..
Em suma, a cortiça é saponificada pelos álcalis fortes, e desagregada pelo ácidp azótico e
pelos oxidantes halogéneos. Devido á sua composição química este material apresenta uma
resistência ao ataque biológico e a degradação originada por agentes químicos, sendo por esta razão
usualmente utilizada como vedante de produtos alimentares (vinho).
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5. PROPRIEDADES MECÂNCIAS E FÍSICAS.
Algumas das propriedades físicas e mecânicas da cortiça encontram-se descritas na seguinte
tabela:
A cortiça devido á sua estrutura é um material anisótropo, ou seja, as suas propriedades variam
com a direcção em que lhe é aplicada um estímulo mas, a direcção radial é, aproximadamente, uma
direcção de simetria, quer á escala do milímetro quer á escala das dimensões celulares, o que
significa que todas as direcções não-radiais são equivalentes. Isto é, o mesmo quer dizer, que a
cortiça é globalmente anisótropa mas é transversalmente isótropa.
No entanto, as propriedades mecânicas e físicas da cortiça, são as principais responsáveis
pelos bons resultados e pelas características finais das aplicações da mesma.
5.1 C OMPRESSÃO
Uma vez que, num grande número de aplicações e processos de fabrico a cortiça é submetida
a esforços de compressão, torna-se necessário conhecer o seu comportamento mecânico quando lhe
é aplicada uma força desde tipo.
O comportamento mecânico da cortiça, quando submetida a um esforço de compressão, é
expresso através das “curvas de compressão”.
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A figura acima ilustra a compressão uniaxial da cortiça:
(a) Definição da tensão, σ, e da extensão, ε.
(b) Curvas σ-ε em compressão radial (R) e não-radial (NR).
A figura acima ilustra a compressão uniaxial da cortiça:
(a) forma idealizada das curvas de compressão, com 3 regiões bem defenidas.
(b) efeito da velocidade de deformação ε = dε/dt, na curva de compressão radial.
Quando um sólido é comprimido numa direcção há, em geral, aumento das dimensões
transversais.
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11. Ciências dos Materiais “ A Cortiça”
A figura acima ilustra o efeito de Poisson na cortiça. A compressão numa direcção provoca
alteração nas dimensões transversais. As curvas mostram essa alteração (εT) em função do grau de
compressão (εL). Por exemplo: R/NR significa que a compressão é na direcção radial (R) e a
dimensão transversal é medida numa direcção não-radial (NR).
O Coeficiente de Poisson é então expresso por : v = -εT/εL .
5.2 R ESISTÊNCIA AO D ESGASTE
O Desgaste, na cortiça, origina um pó muito fino em que as partículas mais pequenas contém
apenas algumas dezenas de células. Estas partículas tais como em todos os sólidos que sofrem
desgaste, são resultantes de fracturas junto á superfície, sendo a cortiça um dos materiais mais
resistentes. De facto, a resistência da cortiça, ao desgaste por atrito é notável, assim como o seu
elevado coeficiente de fricção. Estas duas qualidades da cortiça devem-se á natureza alveolar da
superfície suberosa e á sua elevada capacidade de dissipar energia.
O desgaste da cortiça é importante aquando da sua aplicação em pavimento e também no
contexto das operações de corte. Uma vez que, o corte origina um pó que é considerado desperdício
que é utilizado como combustível nas caldeiras.
5.3 A TRITO
Esta propriedade mecânica é bastante importante tendo em conta as aplicações da cortiça.
Numa situação em que existe atrito de rolamento, isto é, numa situação em um objecto
cilíndrico de um dado material rola sobre uma superfície de cortiça, ou vice-versa, há uma elevada
dissipação de energia que é traduzida por uma elevada força de atrito a cortiça é comprimida pelo
cilindro, á frente deste, e depois é descarragado quando o cilindro passa.
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Numa situação de deslizamento, atrito de escorregamento, a causa do elevado atrito da cortiça
é diferente. Porque, embora haja uma contribuição devido á dissipação de energia de deformação
provocada pelas asperidades das superfícies em contacto, o factor mais importante é a elevada
adesão entre a superfície e as paredes celulares da cortiça. Este facto, constata-se quando se
procede á lubrificação da superfície (por ex. com água), uma vez que é observada uma redução
apreciável do atrito de escorregamento e uma reduzida ou até nenhuma diminuição no atrito de
rolamento.
5.4 T RACÇÃO E F RACTURA
O comportamento da cortiça em tracção é muito diferente do seu comportamento em
compressão.
As curvas de tracção (tensão-extensão) não mostram 3 regiões características das curvas das
curvas de compressão. Em tracção não há encurvadura das paredes celulares mas há igualmente
flexão das paredes inclinadas em relação á direcção de tracção. As paredes celulares são esticadas
na direcção de tracção e as ondulações atenuam-se. Isto, faz com que os Módulos de Young em
tracção sejam superiores aos que se medem em compressão.
Se a força de tracção aplicada é segundo uma direcção não-radial (NR) a sua curva tensão-
deformação é contínua não sendo possível identificar desta forma regiões distintas. Ocorrendo
fractura quando se atinge uma tensão suficientemente elevada.
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A tensão de fractura depende das dimensões transversais dos canais lenticulares que existem
no provete, já que estes actuam como concentradores de tensão.
Em princípio, a fractura iniciar-se-á junto ao canal de maior diâmetro transversal em relação á
direcção de tracção. A superfície de fractura é uma superfície irregular, revelando uma propagação
não plana da fenda, mas é em média perpendicular ao eixo de tracção. Se a direcção da força de
tracção aplicada for radial (R), a curva tensão-extensão é inicialmente contínua mas a partir de cerca
de 1% de extensão apresenta-se serrilhada sobretudo para altas tensões. A fractura em tracção radial
ocorre por quebra das paredes laterais das células.
5.5 D ISSIPAÇÃO DE E NERGIA DE V IBRAÇÕES
A capacidade de dissipação de energia de vibrações é medida em ensaios em que se submete
a cortiça alternadamente á compressão e descarga. Os resultados obtidos nestes ensaios são
expressos curvas de Histerese.
Quando a cortiça é submetida a ciclos de compressão-descarga, a curva σ-ε na descarga não
coincide com a curva de carga. A área delimitada pelas duas curvas mede a energia dissipada num
ciclo.
Da análise da figura anterior é fácil constatar que em cada ciclo, a tensão de compressão
atinge um mesmo valor máximo e que a curva tensão-extensão correspondente é constituída por
sucessivos ciclos que, a partir de certa altura, mantém a sua forma.
Conclui-se então que, o bom isolamento sonoro que a cortiça fornece, é devido, entre outros
factores, a esta capacidade de dissipação de energia de vibrações, ou seja, a não propagação da
amplitude de uma onda sonora da cortiça.
5.6 E LASTICIDADE
A grande flexibilidade das menbranas celulares confere á cortiça compressibilidade e
elastiçade, ou seja, o poder de readquirir a forma primitiva depois de ter sofrido uma pressão. Esta ao
ser submetida a uma elevada pressão, a mistura de gases contidos nas células é comprimida e o
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14. Ciências dos Materiais “ A Cortiça”
volume destas reduz-se consideravelmente. Liberta de pressão, a cortiça recupera imediatamente o
volume inicial sem conservar sinais de ter sofrido uma deformação sensível.
5.7 I MPERMEABILIDADE
A presença da suberina confere ao tecido suberoso impermeabilidade, tanto aos gases como
aos líquidos, permitindo que a cortiça não apodreça, e seja considerada o melhor vedante que existe.
A existência de taninos e a escassez de elementos albuminóides (substâncias solúveis em
água) contribuem para a eficácia desta propriedade, podendo desta forma o tecido suberoso ser
considerado imputrescível e inalterável sob acção da humidade.
5.8 C ONDUTIBILIDADE T ÉRMICA
A cortiça tem como característica uma má condutibilidade do ponto de vista, quer térmico, quer
acústico e vibratório (como foi referido anteriormente). Ela é devida ao facto de o elemento gasoso se
encontrar encerrado em minúsculos compartimentos estanques, por sua vez isolados uns dos outros
por um material de baixo peso específico não higroscópico. Daí que a cortiça, entre todas as
substâncias naturais figure entre as que se apresentam dotadas de mais elevado poder isolante.
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6. DEFEITOS DA CORTIÇA
6.1 P OROSIDADE E XCESSIVA
Atendendo a que, uma das grandes particularidades da cortiça é a sua permeabilidade ao ar,
sendo esta, ao contrário do que se poderia esperar, não dependente da estrutura alveolar das células
mas sim dos poros existentes no tecido suberoso (denominados por lentículas). São lentículas as
responsáveis pela porosidade, e esta depende, não do número de poros ou lentículas existentes na
superfície da prancha, mas sim da área ocupada pelos canais lenticulares nos cortes da cortiça
executados tangencialmente.
6.2 D ENSIDADE
Dá-se o nome de densidade à relação entre a massa de um corpo e o volume que ele ocupa. A
do tecido suberoso é normalmente muito baixa, a ela se devendo a bem patente flutuabilidade e
leveza da cortiça.
A densidade anormal provém, quer da largura dos raios liberinos que formam paredes muito
espessas, originando a cortiça preguenta, quer da presença de de esclerênquima e de tecidos
liberinos e felodérmicos no tecido suberoso ao qual se dá o nome de cortiça madeirenta.
A excessiva densidade provoca dureza o que excluí a cortiça de aplicações onde a elasticidade
seja o principal requisito.
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16. Ciências dos Materiais “ A Cortiça”
7. APLICAÇÕES DA CORTIÇA
Embora a imagem da cortiça esteja intimamente ligada às rolhas, as utilizações desta matéria
prima natural não se esgotam por aqui. Pelo contrário, as características únicas da cortiça potenciam
vários usos alternativos.
A cortiça é um material que tem acompanhado a Humanidade desde tempos imemoriais, tendo
já assumido, ao longo desta história comum, as mais diversificadas utilizações. As primeiras
referências às suas aplicações remontam a mais de 3000 anos a.C., em regiões como a China e o
Egipto, nomeadamente como vedante ou aparelhagem flutuante, seguindo-se aplicações em calçado,
isolamento de habitações (por exemplo, no Convento dos Capuchos em Sintra), sendo ainda
referenciadas aplicações em utensílios domésticos e mesmo com fins terapêuticos. Depois do início
da utilização das rolhas na vedação do vinho engarrafado, com o surgimento do champanhe, e do
aparecimento dos primeiros aglomerados simples ou compostos, foram também surgindo diversas
aplicações, como em coletes salva-vidas, em isolamentos na indústria da guerra, em filtros de
cigarros, como fonte de determinados compostos químicos, em aeronáutica espacial, na indústria dos
transportes, no desporto, na construção civil e numa infinidade de outras utilizações.
De uma maneira geral, qualquer pessoa, mesmo sem dominar o que se passa no sector
corticeiro, identifica, à partida, duas aplicações da cortiça: as rolhas e os aglomerados para
revestimentos. Algumas pessoas com maior conhecimento poderão indicar aplicações mais
pormenorizadas, como as rolhas de cortiça natural, as de cortiça aglomerada e as rolhas para
champanhe, os revestimentos de piso e de parede, os solados de calçado, as juntas para motores e
os isolamentos térmicos em derivados de cortiça.
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A estes usos, os mais conhecedores adicionarão ainda as rolhas mais recentes do tipo “1+1”,
os isolamentos acústicos e vibráticos, as aplicações nos volantes de badmington ou em bolas
(críquete, hóquei…), as juntas de dilatação e os “underlays”.
Os peritos e especialistas poderão ainda referenciar as aplicações em isolamentos em mísseis,
foguetões e submarinos, a obtenção de produtos químicos para fins farmacêuticos, peças de
instrumentos de sopro, marroquinaria e muitas outras.
Verifica-se assim, desde já, que existe um grande número de usos alternativos da cortiça, mas
este número não pára de crescer, muito devido ao esforço em I&D (projectos de Investigação e
Desenvolvimento) efectuado pelos vários intervenientes, empresas, instituições de investigação e
universidades. Assim, é possível fazer uma pequena resenha de alguns dos novos usos alternativos
para a cortiça, desenvolvidos nos últimos anos, a nível mundial e internacional.
Deste modo, como usos alternativos de cortiça, já desenvolvidos ou em desenvolvimento, a
maior parte patenteados, mas sem estarem disponíveis no mercado, temos:
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Painéis rígidos peças rígidas para divisórias amovíveis, painéis de portas e mobiliário, com
características diferenciadas em relação aos materiais tradicionais, quer técnicas quer estéticas.
Estes aglomerados rígidos de cortiça podem ter várias origens, como sejam a densificação
irreversível do aglomerado expandido de cortiça ou aglomerados compostos com termoplásticos.
Estes produtos permitem uma trabalhabilidade similar à da madeira e podem, inclusive, ser usados
como bases de pisos flutuantes.
Uso de granulados e/ou desperdícios da trituração da cortiça para limpeza de peças e/ou
estátuas e/ou fachadas expostas à poluição ambiental. Este sistema tem sido aplicado à limpeza dos
isoladores eléctricos dos postes de alta tensão e permite a substituição de materiais importados e o
regular fornecimento em função das necessidades. As partículas de cortiça são projectadas contra a
superfície a limpar, mas a sua constituição não degrada o material que se limpa, sendo, por isso,
particularmente indicadas para a limpeza de superfícies sensíveis.
Um dos resíduos do fabrico do aglomerado expandido são os condensados do seu vapor de
cozimento. Estes podem ter uma utilização em bruto para a preparação de soluções, em solventes
para aplicação em madeira, permitindo conferir uma maior estabilidade dimensional, uma maior
resistência ao ataque dos fungos e mesmo colorações interessantes para determinadas aplicações
(mobiliário).
Este resíduo pode também ser uma matéria-prima muito importante para a obtenção de
produtos para química fina e farmacêutica. Após purificação e separação química são obtidos
compostos com aplicações diversas, entre as quais um adjuvante de vacinas. Houve, inclusive,
estudos em tratamentos anti-cancerígenos e como anti-fágicos para insectos.
Com base no pó de cortiça podem ser obtidos uma série de compostos químicos, por extracção
directa ou indirecta após reacção química. Por exemplo, podem ser obtidos hidroxiácidos com
interesse para fins medicamentosos.
Embora a cortiça já seja usada na indústria automóvel em juntas (cabeça do motor, caixa de
velocidades etc.) e em pisos de transportes públicos, foram estudadas aplicações de produtos de
cortiça no interior do habitáculo, por exemplo, em apliques, nos punhos do travão de mão e da
alavanca de velocidades, no revestimento do volante e tablier, etc..
O poder de auto-adesividade do pó de cortiça, devido à existência das resinas naturais da
própria cortiça, permite o fabrico de aglomerados de cortiça por prensagem a quente, a frio ou por
extrusão, permitindo a obtenção de painéis (com eventual incorporação de outras partículas), de
pastilhas de alta densidade e de briquetes para fins diversos.
Para além destes usos alternativos, estão ainda previstos ou referenciados o estudo do fabrico
de perfis de compósitos cortiça/plástico, contraplacados com lamelas de derivados de cortiça, discos
de embraiagem com incorporação de cortiça, usos em pout-pourris, enchimentos, etc., ou seja, uma
panóplia de aplicações em que a cortiça ou é o componente principal ou participa para conferir
especiais características aos produtos que integra.
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8. BIBLIOGRAFIA
Manuel Alves de Oliveira, Leonel de Oliveira, “A Cortiça, ed. Grupo Amorim, 1991
www.apcor.pt
www.naturlink.pt
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