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IDENTIDADES E SABERES NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Daniela da Graça Stieh 1
RESUMO:
O presente artigo referente ao estágio supervisionado III com ênfase na gestão pedagógica na EJA
articula vivências e teoriza sobre a autonomia do sujeito, e a avaliação da aprendizagem
desenvolvida no Núcleo de Educação na EJA não presencial. Discute-se a existência de uma
avaliação, onde o candidato/a é avaliado apenas por notas, a partir do estudo autônomo e
conhecimentos prévios já existentes. Problematizar uma avaliação por meio de notas questiona os
princípios do processo de aprendizagem daquele aluno/a. Será que este candidato/a está realmente
contribuindo para construção de seu conhecimento, ou somente está realizando provas para sua
qualificação profissional. Estes questionamentos são reflexões construídas na prática de observação
participante, mediadas ao longo de conversas e registro de relatos das vivências e práticas dos/das
educadores/as no Núcleo, que provocaram inquietações. Pois, nesta proposta é o sujeito que transita
entre os módulos, ela não é processual, ela é eliminatória e excludente visando somente à aprovação
e a reprovação, ao final das etapas, caracterizadas pela aplicação de exames classificatórios,
contradizendo o que diz o regimento do Núcleo que a avaliação da aprendizagem é emancipatória.
No ambiente educativo não presencial, não há possibilidade de se fazer valer uma avaliação
emancipatória, pois o candidato/a não tem uma interação sistemática com o/a docente, sendo assim
a avaliação não é processo continuo, ela é classificatória. Buscar compreender os diferentes
momentos do processo de aprendizagem remete à qualificação da intervenção pedagógica de forma
construtiva, evidenciando conflitos cognitivos, necessários à construção do pensamento autônomo.
Palavras chave: Avaliação; aprendizagem; autonomia; qualificação profissional.
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Acadêmica da Disciplina de Prática de Pesquisa em Educação, do Curso de Pedagogia, do Centro
Universitário Metodista - IPA, turma PDS61. Orientadora: Professora Simone Dorneles, docente da
disciplina
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INTRODUÇÃO
O Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos – NEEJA é um
estabelecimento de ensino destinado à oferta de exames supletivos fracionados, nos
termos da Lei Nº 9394, de 20 de dezembro de 1996 e da resolução CEED nº 250, de
10 de novembro de 1999.
Para conferir os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos candidatos/as
por meios formais ou informais, o NEEJA aplica exames supletivos globalizados e/
ou fracionados, em nível de Ensino Fundamental e Médio, abrangendo todas as
umas das disciplinas e áreas de conhecimento, oferecendo orientação para a
preparação dos exames.
Os Núcleos contemplam especificidades e rompem com a estrutura
tradicional curricular, por esse motivo o Parecer nº 11/2000, do CNE, afirma que a
EJA é momento significativo de reconstruir experiências da vida ativa ressignificando
conhecimentos e etapas anteriores da escolarização articulando-os com os saberes
escolares.
Frente à demanda de jovens e adultos (que tem uma rotatividade de três mil
candidatos/as por mês) que buscam a escolarização via exames supletivos, o
NEEJA flexibiliza a apropria a proposta pedagógica às características, às
necessidades e aos conhecimentos dos alunos/as candidatos/as, adquiridos a partir
de vivências e do mundo do trabalho.
O Núcleo é um espaço educativo para jovens e adultos, onde as atividades de
apoio e os programas existentes podem e devem ter nova significação, pois jovens e
adultos apresentam, experiências e saberes sociais que podem ser sistematizados.
O currículo a ser cumprido para a conclusão dos níveis fundamental e médio
deva estar atento as diferentes realidades, integrando as áreas do conhecimento e
desenvolvidos nas atividades de apoio (orientação) com visão de oferecer e facilitar
os estudos para os candidatos/as. Desta forma, a aprendizagem e a avaliação
destes candidato/as favorece a autonomia do mesmo no processo de construção do
saber.
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1 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA EJA EM AMBIENTE NÃO PRESENCIAL
Uma das maiores defensoras e questionadoras sobre a avaliação é a autora
Jussara Hoffmamm, que conceitua a avaliação como a tomada de consciência da
prática avaliativa que sofremos em nossa trajetória de alunos/as e professores/as. A
autora se refere à tomada de consciência no sentido que não se reproduza,
inconscientemente, a arbitrariedade e o autoritarismo do qual sempre contestamos.
A importância da avaliação para o/a aluno/a é conhecer os resultados de
seu desempenho e esforço, não só pela satisfação da aprendizagem, mas,
especialmente, pelo significado que tem o conhecimento de suas capacidades para
futuras aprendizagens.
As atividades avaliativas contribuem para o desenvolvimento intelectual,
social e moral dos/as alunos/as. Através da análise dos resultados, o aluno tem mais
uma oportunidade de aprendizagem. Estes momentos muitas vezes, são os mais
significativos para o aluno/a, pois ao enfrentar o desafio de ter que resolver
determinados problemas sozinho, e verificar que não consegue, ele sente a
necessidade de saber buscar soluções. É o caso do NEEJA Vicente Scherer, onde
não há aulas presenciais e o aluno/a que é chamado de candiodato/a faz, muitas
vezes, a prova estudando autonomamente, verificando a não aprovação, toma
consciência de que precisa de orientação por parte de um/a docente que está
disponível para tirar dúvidas. Do mesmo modo que o estudo autônomo proporciona
crescimento ao candidato/a em nível intelectual, também, as dimensões social e
moral do seu desenvolvimento são influenciadas pelos seus sucessos e fracassos.
Paulo Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia afirma que:
Com novas práticas pedagógicas que possibilitem a autonomia, o indivíduo
integra-se, desenvolvendo a curiosidade e por sua vez chegando ao
conhecimento. (FREIRE, 1996)
A discussão sobre os resultados propicia um bom relacionamento entre
professor/a candidato/a, visto que esta proximidade no Núcleo somente se efetiva
através de encontros de orientação, favorecendo o desenvolvimento da
sociabilidade, da autoconfiança, do respeito mútuo entre todos os participantes do
processo. Estas atitudes favorecem o desenvolvimento da cognição, pois
predispõem à aprendizagem.
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O/a aprendiz tem necessidade de conhecer suas possibilidade para poder
situar-se em relação ao que está sendo proposto e buscar novos caminhos para
construir novas estruturas. Em relação a isso, Saul (1988, p.61) diz que:
O compromisso principal da avaliação é o de fazer com que as pessoas
direta ou indiretamente envolvidas em uma ação educacional escrevam a
sua própria história e gerem as suas próprias alternativas de ação.
Assim, a avaliação serve para os/as alunos/as como um instrumento de
diagnóstico de sua situação, tendo em vista a definição de encaminhamentos
adequados para sua aprendizagem.
A importância da avaliação para o professor/a também é importante, pois os
resultados dos seus alunos/as (candidatos/as no caso do NEEJA) poderão contribuir
para análise reflexiva, no sentido de avaliar a eficácia de seu desempenho. A partir
desses resultados, o professor tem a possibilidade de melhor sua compreensão das
formas de aprendizagem dos/as alunos/as e do processo de ensino e aprendizagem.
A seguir segue um relato registrado e sistematizado a partir de um diálogo
com uma professora do Núcleo de Educação de Jovens e Adultos e de Cultura
Popular Cardeal Alfredo Vicente Scherer. Professora e bibliotecária do NEEJA J. L.
de 50 anos diz que: “a avaliação para faz parte do processo, eu avalio meus alunos/
as a todo instante. Com meus alunos da 4º série, por exemplo, não fazia provas os
avaliava pela escrita, participação, comprometimento, vontade, motivação e
desempenho. Tudo o que o aluno/a faz é avaliado não somente a partir de provas.
Muitas vezes era mau vista na escola por ter essa concepção de avaliação
emancipatória, mas briguei bastante para que esta tal avaliação classificatória
mudasse. Gostaria que a avaliação aqui no NEEJA fosse de outra forma, mesmo
sendo um Núcleo não presencial, pois sou contra a reprovação se o aluno tem suas
potencialidades e se esforça, a escola ou Núcleos tem de fazer algo para aquele
aluno/a ou candidato/a não reprove. Sei que é complicado, mas o sistema deveria
mudar aqui no NEEJA, se tratando de adultos que trabalham as vezes quase doze
horas por dia e voltam a estudar para seu aprendizagem e se estimularem. A
reprovação ao meu ver, vem a desestimular alguns sujeitos”.
Tendo em vista este relato, registre-se que, as informações que o/a
professor/a vai obtendo no decorrer do processo subsidiam-no a modificar
gradativamente seu parecer sobre o/a aluno/a candidato/a, em relação as suas
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potencialidades e suas limitações, sem esquecer que cada estágio de
desenvolvimento e de conhecimentos dos indivíduos é provisório. Com base na
análise dessas informações e da conduta do aluno, é possível ao professor/a
formular hipóteses sobre o próprio processo de ensino e aprendizagem e sobre as
etapas de desenvolvimento de cada um dos/as alunos/as.
A questão essencial não consiste em saber se o/a aluno/a deve receber esta
ou aquela nota, mas sim em desafiá-lo a encontrar a resposta correta ao problema
em questão. Conforme o relato da professora e a teorização, é importante avaliar,
por exemplo, o texto do aluno/a, para conhecer a etapa de conhecimento linguístico
em que ele se encontra e planejar atividades que o induzam a avanços na produção
de seu conhecimento. Por outro lado, as atividades avaliativas auxiliarão o/a
professor/a a identificar não só o que o/a aluno/a não sabe mas, principalmente o
porquê de ele não saber quais são suas dificuldades. No NEEJA o/a aluno/a tem
acesso a orientações de escrita, mas tudo depende de sua autonomia para chegar
até essas orientações. O erro deve ser dimensionado e todas as situações
convertidas em instrumento de melhoria e crescimento.
A avaliação tem considerável importância na medida em que contribui para o
aprofundamento dos aspectos mais relevantes, que serão enfocados com maior
ênfase nas ações pedagógicas desenvolvidas, e, especialmente, nas discussões
dos resultados apresentados pelo aluno/a. Além disso, favorece a integração dos
conteúdos trabalhados, possibilitando a análise das diferentes partes e a interligação
entre elas de forma a permitir a percepção conjunta do todo. Isso, por sua vez,
favorece a aplicação do anteriormente aprendido a novas situações e permite até
mesmo, as generalizações.
Desta forma, a avaliação atingirá sua função didático-pedagógica de auxiliar
o/a educando e o professor/a a verificar eficácia do processo ensino e aprendizagem
quando for conduzida de acordo com seu verdadeiro significado.
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1.2 QUE TIPO DE AVALIAÇÃO É NECESSÁRIA
Quando se percebe um número grande de professores/as utilizando ações
como testar, observar, medir ou atribuir nota como se isso fosse avaliar, se pode
entender o porquê dos questionamentos feitos por alguns professores/as sobre a
necessidade e importância da avaliação. Avaliação só com essa concepção não é
necessária e nem deveria ser feita. Segundo a avaliação necessária Castro (1992,
p.13) diz: “a avaliação não deve ser vista como uma caça aos incompetentes mas
como uma busca de excelência pela organização escolar como um todo”.
Aplicar um teste ou fazer uma observação são técnicas que podem ser
usadas pelo/a professor/a para colher informações sobre o atual estágio de
desenvolvimento dos/as alunos/as. Atribuir uma nota é apenas, expressar os
resultados e não avaliar.
A avaliação necessária é muito mais do que aplicar uma prova, fazer uma
observação ou atribuir uma nota. A avaliação necessária é aquela que consegue
verificar como o/a aluno/a é capaz de se movimentar num campo de estudos e
estimulá-lo, através de uma reflexão conjunta sobre o que ele/ela realizou, a
encontrar os caminhos do seu próprio desenvolvimento.
Segundo Luckesi (1988,p.52), “ a avaliação deve ser um instrumento auxiliar
da aprendizagem e não um instrumento de aprovação ou reprovação de alunos”. A
avaliação deve ajudar tanto professor como o aluno a se auto-avaliarem e, em
conjunto, encontrarem uma forma de prosseguir no processo, redirecionando,
quando necessário, a caminhada. A avaliação parece, não ter cumprido sua
verdadeira função de mecanismos a serviço da construção do melhor resultado
possível.
A prática de avaliação exige uma mudança não somente nos instrumentos e
técnicas aplicados para tal fim, mas também na postura de todos os elementos
envolvidos no processo ensino e aprendizagem. Conforme BOAVIDA et alii (1992,p.
3):
“a avaliação só tem sentido se for acompanhada por uma mudança de
atitudes, por uma concepção diferente do que seja, por parte do professor e
dos alunos, a avaliação. Isto é, qual a sua função, o que é que se lhe deve
pedir, como devemos atuar, em suma, quais são os seus reais objetivos”.
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Para que ocorram mudanças significativas na educação é necessário um
melhor preparo do/a professor/a, não só quanto aos aspectos técnicos, mas
também, principalmente, quanto a uma conscientização maior em relação ao
comprometimento com a proposta pedagógica institucional à qual está vinculado.
Avaliar, no processo de ensino aprendizagem, só tem sentido na medida em
que serve para o diagnóstico da execução do processo, em função dos resultados
que estão sendo buscados na ação educativa. A avaliação só é possível se for
realizada como elemento integrante do processo de construção do conhecimento,
comprometida com o projeto pedagógico e com características que conduzam a uma
avaliação eficaz.
A avaliação, embora seja fundamental no processo de ensino e
aprendizagem, constitui apenas um dos elementos desse processo. Por isso, não se
pode falar na ação avaliativa sem uma referência ao processo de ensino e
aprendizagem. A avaliação é um dos elementos do sistema constituído por este
processo. Portanto, é uma parte do todo, que recebe influência e é influenciada
pelos demais elementos de forma dinâmica e interativa. Ao refletir e organizar a
ação pedagógica como um todo, deve-se refletir e organizar as ações de cada uma
das partes deste todo, de forma que uma dependa da outra.
A avaliação é um elemento que perpassa todo o processo, fazendo uma
interligação entre os diferentes momentos da ação pedagógica. Para que o/a
professor/a possa estabelecer seus objetivos e metas, ele tem de conhecer as
condições concretas de vida de seus alunos/as, saberes e valores necessitando,
portanto, de informações anteriores ao processo, que servirão de subsídios para
fazer um diagnóstico da real situação do grupo.
Segundo LUCKESI (1982,P.2), “o exercício avaliativo não pode estar
desvinculado do planejamento...” O planejamento também não pode estar
desvinculado da avaliação, pois ele sempre deve iniciar fundamentado num
diagnóstico da situação e ser reformulado sempre que os resultados não forem
satisfatórios.
Nesse exercício reflexivo e teórico identifica-se que um dos grandes
problemas da avaliação é sua desvinculação dos demais elementos do processo. O
professor/a desenvolve sua atividade pedagógica sem se preocupar com a
avaliação. No entanto, a escola exige um resultado e ele passa a se preocupar com
a avaliação apenas com a função de controle. Assim, a finalidade da avaliação fica
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descaracterizada. Então se avalia para atribuir um resultado e o aluno estuda para
obter uma nota, que seria o caso do Núcleo de Educação de Jovens e Adultos.
A conseqüência deste modo de avaliar é o temor que os/as estudantes
candidatos/as ao NEEJA e alunos/as de instituições de ensino regular têm de
avaliações. Pois, entende-se que quando a avaliação é feita apenas com função de
controle, são considerados somente os momentos avaliativos, representados por um
teste, trabalhos em grupo ou individuais. Ou o/a professor/a lhe atribui um valor
qualquer, sem uma fundamentação, sem que o aluno tenha a mínima idéia de como
foi avaliado. É evidente que no NEEJA, a avaliação é através de notas, por se tratar
de um Núcleo onde o inscrito estuda usando sua autonomia e presta somente as
provas, mas entendo que poderia ser diferente.
A valorização do entendimento dos/as aluno/as frente a algumas questões,
por outros recursos pedagógicos que não somente uma prova para atribuir nota para
completar os estudos. Tendo em vista que esses inscritos/as têm a sua
disponibilidade uma orientação de um professor/a específico da área, mas vejo que
poderia ser mais dinâmico e todas estas orientações poderiam fazer parte do
processo. Visto que, o perfil deste alunado são jovens e adultos trabalhadores que
não tem um tempo disponível para assistir aulas, e somente querem seu certificado
ao final da totalidade.
Nessa modalidade de ensino identifica-se que há alunos/as candidatos/as
esforçados que dispõem da autonomia para estudar em casa para realização da
prova. Muitas vezes, esse inscrito/a chega ao núcleo cansado depois de uma
jornada de trabalho pesada, e em alguns casos, não se concentra para a realização
das provas. Ou seja, o processo de ensino poderia ser ampliado somando recursos
do universo do alunado, a fim de não reduzir a aprovação a um instrumento, mas
também valorizando outras situações didáticas que poderiam sem dúvida fazer parte
do processo avaliativo.
Assim, o/a professor/a não tem como conhecer o perfil de aluno/a que tem
em sala de aula, nas orientações pré prova. Sendo que fica difícil o mesmo fazer
registros dos desempenhos e/ou dificuldades de seus alunos/as, durante o
processo, e desta forma não terá condições ao emitir um resultado para cada aluno/
as. Nesta perspectiva a avaliação no NEEJA deveria mudar. Mas como? Onde?
Como deve ser feito? Para estas perguntas neste momento não existem respostas,
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mas registre-se a compreensão de que este processo deve passar por mudanças
que contemplem um projeto diferenciado de ensino para o NEEJA.
A avaliação realizada de forma desvinculada do processo, além de não
cumprir suas funções didático-pedagógicas e de diagnóstico, ainda pode cometer
injustiças, atribuindo resultados que não correspondem aos desempenhos dos/as
alunos/as candidatos/as.
Na elaboração dos objetivos, se faz necessário pensar nas formas
avaliativas correspondentes às expectativas que o/a professor/a tem em relação ao
alcance do aluno. Esse elo entre objetivo e avaliação é que determina o tipo de
procedimento que deve ter o/a professor/a na proposta de atividades que fará ao
aluno/a. Sendo no Núcleo como o/a professor/a fará elaboração de objetivos para as
formas avaliativas se somente o que está em questão é a reprovação e aprovação?
Não há um processo continuo para que o mesmo acompanhe o desempenho do
aluno/a candidato/a. Desta forma fica difícil até mesmo para o professor/a repensar
uma avaliação processual.
Um dos exemplos é que se o objetivo do/a professor/a é que o/a aluno/a
aprenda o Hino Nacional e, especificamente, se o professor/a quer que o aluno
memorize a letra do hino, ele vai trabalhar de uma forma. Mas se pretende que o
aluno/a candidato/a interprete a letra do hino, ele terá que se valer de outro
procedimento e, conseqüentemente, avaliar de uma outra forma. Esta outra forma é
o que falta no NEEJA.
A maior preocupação do professor/a, ao desenvolver sua ação pedagógica,
não deve ser com um ou outro elemento do processo de ensino aprendizagem, mas
com questões mais amplas sobre a proposta pedagógica a que está vinculado. Essa
proposta deve ser fruto das discussões da comunidade escolar como um todo,
respondendo em conjunto a questões como: que escola temos? Que tipo de
instituição de ensino queremos? São necessárias mudanças? Que mudanças? Em
que direção?
Segundo GUARESCHI (1990, p.77):
“tentar uma prática alternativa de avaliação virá, consequentemente,
questionar todo o nosso modo de pensar e de agir, nossa consciência,
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nossa prática pedagógica e social, virá questionar a sociedade como um
todo”.
Através da avaliação, deve acontecer uma interação: primeiro, entre
avaliando e avaliador, para repensar o papel de cada um e os passos seguintes da
caminhada; depois; entre a comunidade escolar como um todo, numa discussão que
vai despertar a consciência crítica, dentro de um compromisso com a práxis
dialética, em um projeto histórico de transformação. Propiciar a discussão com toda
a comunidade não é uma decisão simples, mas é indispensável que seja
concretizada, pois não se concebe uma ação pedagógica individualizada e
descontextualizada.
O papel das instituições regulares ou não, não deve ser entendida como um
somatório de interesses individuais ou corporativos, mas, como a dimensão política
concreta, da atuação integrada de todos os componentes da comunidade escolar
que têm os mesmos interesses, em relação ao desenvolvimento de cada um de
seus elementos e do grupo como um todo. Isso pressupõe capacidade profissional
em nível técnico-científico, não como saber acabado, mas sob controle da
consciência profissional e da vontade política dos sujeitos envolvidos que vão
produzir o desenvolvimento através da prática e da reflexão.
Sendo a avaliação um dos elementos do processo de ensino e
aprendizagem, as mudanças na forma de desenvolvimento desse processo
implicam, necessariamente, mudanças nas formas da ação avaliativa. Do mesmo
modo, as alterações no processo de avaliação poderão conduzir a uma
transformação no processo de ensino.
Conforme Ott et alii, (apud KRAHE, 1990, p.20),
“o processo de avaliação é uma etapa de um processo mais amplo que
inicia na sociedade, define o sistema educacional, se institucionaliza na
escola e acontece em sala de aula. Neste sentido a avaliação da
aprendizagem deve ser a avaliação do processo de ensino e aprendizagem,
que, por sua vez, têm que ser contextualizados na escola entendidos na
sociedade, que é o contexto mais global que se inclui”.
No NEEJA não basta então mudar apenas os métodos e as técnicas ou
instrumentos de avaliação. As mudanças requerem alterações mais profundas, no
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sentido de um retorno às raízes dos problemas e da busca das questões de fundo,
tanto na avaliação como no processo de ensino e aprendizagem como um todo.
Se o/a professor/a realizar a avaliação, sob a forma de acompanhamento da
construção do conhecimento do/a aluno/a candidato/a ele/ela terá de desenvolver a
ação pedagógica de modo diferente, pois, deverá propor atividades alternativas
diversificadas sempre que constatar que alguma etapa não foi vencida por um ou
outro aluno/a. Assim, as alterações no processo de avaliação poderão conduzir a
uma transformação no processo de ensino e o processo terá de mudar.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática em gestão escolar oportunizou um olhar diferenciado para a questão
da avaliação que é o tema transversal neste artigo. A partir de vivências, relatos e
diálogos registrados e sistematizados com professores/as do Núcleo, analisa-se que
a avaliação neste espaço educativo precisa passar por uma reformulação,
desafiando à mudança em um sentido mais amplo, onde o candidato/a possa fazer
parte do processo.
A avaliação é um elemento indispensável para a reorientação dos desvios
ocorridos durante o processo e para gerar novos desafios ao aprendiz. A avaliação
necessária é aquela feita de forma eficaz. Ela deve ser realizada individualmente,
cada um fazendo sua própria reflexão e, em conjunto, por professor/a, aluno/a e
demais envolvidos no processo, com a finalidade de avaliar as hipóteses levantadas
e de decidir sobre as providências necessárias. No NEEJA o tipo de avaliação que
ocorre é a classificatória, onde o aluno estuda com toda a sua autonomia, e presta
uma prova onde é reprovado ou aprovado. Acredito que uma prova não poderá
mensurar o desempenho de tal aluno. Pois avaliar não é “medir”, “testar”...
A avaliação, na perspectiva de construção do conhecimento, parte de duas
premissas básicas: confiança na possibilidade dos candidatos/as construírem suas
próprias verdades e valorização de suas manifestações e interesses, mas
infelizmente não é isso que vejo no Núcleo
A avaliação deve ser resultado de uma discussão de forma honesta e clara,
entre todos os elementos envolvidos no processo. Nessa questão, a postura do
professor/a é fundamental. O aluno deve se considerar, bem como perceber no/a
professor/a, um dos elementos co-responsáveis pelos resultados obtidos no
processo de ensino aprendizagem se for realizada com base num projeto
pedagógico amplo e de acordo com as normas técnicas exigidas pela cientificidade
da ação.
Percebe-se, na finalização deste processo de aprendizagem construído no
NEEJA que a compreensão de muitos/as professores/as é que “tudo pode ser
medido”, sem se dar conta que muitas notas são atribuídas ao alunos/as candidatos/
as arbitrariamente, ou seja, por critérios individuais, vagos e confusos, ou precisos
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demais para situações didáticas tão complexas em ambiente educativo não
presencial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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25 (3 série Mar/Abr. Lisboa: Editorial Caminho S.A., 1992.
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Nº 13. agosto, 1992.
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SAUL, A. M. Avaliação emancipatória. São Paulo: Cortez, 1988
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LUCKESI, C. C. Equívocos teóricos na prática educacional. Estudos e Pesquisas.
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