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PERCURSOS DE RAZÃO E AFETOS

  Homenagem aos Professores
  Maria da Assunção Carqueja
  e Adriano Vasco Rodrigues




         Coimbra • 2011
Título
PERCURSOS DE RAZÃO E AFETOS
Homenagem aos Professores Maria da Assunção Carqueja
e Adriano Vasco Rodrigues

Autores – Vários

Coordenação – Adília Fernandes

Capa – Isabel Caldeira (Arquiteta)

Fotografias cedidas por:
Adriano Vasco Rodrigues, Alcides Amaral, Ana Subtil Roque, Arnaldo
Silva – Núcleo Museológico da Fotografia do Douro Superior – Torre de
Moncorvo, Carlos Seixas, Jorge Trabulo Marques

© Adília Fernandes – 2011

Co-edição
CEPIHS – Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e
Social – Torre de Moncorvo
Palimage

Direitos reservados por Terra Ocre – unip. lda.
Apartado 10032
3031-601 Coimbra
palimage@palimage.pt
www.palimage.pt

Data de edição – outubro 2011

ISBN: 978-989-703-025-3

Depósito Legal n.º 334705/11

Impressão – Publito – Estúdio de Artes Gráficas, Lda. – Braga

Apoio – Câmara Municipal de Torre de Moncorvo

    Palimage é uma marca editorial da Terra Ocre - edições
PERCURSOS DE RAZÃO E AFETOS

  Homenagem aos Professores
  Maria da Assunção Carqueja
  e Adriano Vasco Rodrigues



           Coordenação
          Adília Fernandes




          A Imagem e A Palavra
Percursos de razão e afetos




                NOTA DE APRESENTAÇÃO


     É com muita alegria e a maior honra que, em
nome do CEPIHS – Centro de Estudos e Promoção
da Investigação Histórica e Social –, apresentamos este
registo de manifestação pública de louvor a Maria da
Assunção Carqueja Rodrigues e a Adriano Vasco da Fonseca
Rodrigues. Justo preito de homenagem resultante de um
sentir comum de amizade, reconhecimento e gratidão por
duas personalidades ímpares, de vida profissional e cívica
intensa e modelar. Eles são a referência de valores essenciais
incontestáveis, o guia precioso de sucessivas gerações, o
despertar do apreço pelo património, local e nacional, a
consciência da cidadania útil e do bem comum.
     Evoca-se, aqui, passo a passo, em tocantes depoimentos,
esse percurso brilhante e rico de importantes realizações,
ressaltando-se o lugar privilegiado que a nossa região
ocupa nele. Paralelamente, entretecem-se com aqueles
que testemunham uma convivência com afetos, cortesia e
sentido do outro, dádivas que são, igualmente, seu timbre.
     Face às distintas visões que os contemplam, fica-nos a
convicção, que não reivindicamos como inédita, que fluem
sob uma indiscutível coerência – todas os moldam como

                                  7
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


incontornáveis referências intelectuais e humanas. De
facto, se a constatação de que o seu importante labor – ou
missão – nos transporta para um conhecimento amplo das
nossas terras e das nossas gentes, não esbate a perceção de
estarmos perante dois seres humanos de excelência.

     Esta é, sobretudo, uma homenagem do coração.
Ele pulsa porque a Professora Maria da Assunção é uma
inestimável filha da nossa terra e porque o Professor Adriano
Vasco Rodrigues a adotou, orgulhosa e generosamente,
como sua também. O entusiasmo que esta iniciativa
gerou, alargado à autarquia, a instituições particulares,
aos inúmeros admiradores e amigos, é bem prova disso.
É prova, ainda, que apesar deste tributo pecar por tardio
não perdeu a sua pertinência nem a vontade de traduzir e
assinalar, hoje e sempre, a dívida de toda uma coletividade
a Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues,
porque, diligente e persistentemente, a beneficiaram
e, profundamente, a engrandeceram. Em boa hora se
congregaram vontades da parte da Câmara Municipal e do
CEPHIS para a sua organização.

     Desejamos todos, Senhores Professores, que prossigam
na senda a que nos habituaram, com a distinção e a sabedoria
que lhes é peculiar. Uma senda que se cruza, agora, com o
Centro de Estudos Transmontanos e Alto Durienses, com
sede em Torre de Moncorvo, superiormente prestigiado
com a presença de ambos e que conta com o Senhor

                                      8
Percursos de razão e afetos


Professor Adriano Moreira como patrono. Esta iniciativa,
cuja criação tanto lhes deve, simboliza, sem dúvida, o amor
à região e ao seu estudo e a determinação em continuarem
a trilhar e darem a trilhar caminhos proveitosos e atuantes.
      Terminamos, recorrendo a uns versos de Miguel Torga,
não só porque a poesia é constante nesta homenagem,
emprestando-lhe elegância e beleza, mas porque nos
remetem para os homenageados – figuras, intelectualmente,
combativas por ideais e princípios ligados a uma exemplar
visão do mundo e da vida.

                           De seguro
            Posso apenas dizer que havia um muro
               E que foi contra ele que arremeti
                         A vida inteira
                                                    Miguel Torga



                   Pel’ A Direção do CEPIHS,
                         Adília Fernandes




                                  9
Percursos de razão e afetos




           HOMENAGEM DO MUNICÍPIO
              DE TORRE DE MONCORVO
            AOS SENHORES PROFESSORES
          MARIA DA ASSUNÇÃO CARQUEJA
           E ADRIANO VASCO RODRIGUES



     Serei considerado obviamente suspeito, porque, tendo
tido sempre o apoio dos Senhores Professores Maria da
Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues tornar-se-ia
linear que, oportunamente, o viesse a retribuir.
     Tal apoio foi-me dispensado desde cedo, era, ainda,
um jovem liceal, amigo do seu filho Jorge. Interpreto esse
gesto como uma tendência inata para compreenderem
e estimularem gerações mais novas, confiando nas suas
capacidades, postura que há 30/25 anos não era habitual
nas relações entre os mais velhos e os mais novos. Postura
que, sem dúvida, está no cerne do seu sucesso educativo.

     Não sou eu, concerteza, que enveredei pela engenharia
e pela vida política local, a pessoa mais habilitada para
referir as suas qualidades como historiadores e pessoas de
letras.

                                11
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


     Porém, não posso deixar de recordar a atenção pública
com que foi seguida a experiência educativa inovadora do
Liceu Garcia de Orta, no Porto, de que o Professor Adriano
Vasco Rodrigues foi o obreiro como seu primeiro Reitor,
alguns anos antes do 25 de Abril.
     Posteriormente a esta data, registo a sua carreira
política como deputado e como Governador Civil.
     Bastante mais tarde, já Presidente da Câmara, lembro
o encontro com ambos, em Antuérpia.
     Foi nesse encontro que surgiu a ideia da geminação
de Moncorvo com Mol, de cuja Escola Europeia eram, à
época, Professores e o Dr. Adriano seu Diretor. Essa ideia
chegou a ter seguimento com a vinda, a Moncorvo, de
uma deputação belga, contudo, não veio a verificar-se a sua
concretização.

     Regressados a Portugal tive, então, várias oportunida-
des de privar com os agora homenageados, quer em
atividades culturais quer em encontros meramente sociais.
     Nuns e noutros pude apreciar a grandeza de espírito,
a lhaneza de trato e a profundidade intelectual, traços
marcantes da sua personalidade.
     Por estas razões, é-me particularmente gratificante
que, ainda como Presidente da Câmara, possa participar
nesta singela, justa e devida homenagem e que, em nome
do Município, possa dizer: Senhores Professores Maria
da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues, muito

                                      12
Percursos de razão e afetos


obrigado pelos inúmeros benefícios com que enriqueceram,
cultural e humanamente, a nossa – e vossa – região!


  O Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo,




                       Aires Ferreira




                                13
Percursos de razão e afetos




             HOMENAGEM AOS PROFESSORES
              ADRIANO VASCO RODRIGUES
                E ASSUNÇÃO CARQUEJA

                                                       Adriano Moreira*



     Gostaria de poder dar maior assistência ao Centro de
Estudos, criado em hora grave para Portugal, mas o tempo
corre para cada um de nós, e as agendas da velhice ativa
aumentam o peso de exigência. Mas não posso deixar de
participar nos testemunhos de admiração aos Professores
AdrianoVasco Rodrigues e Assunção Carqueja, em primeiro
lugar, por alinharem na fileira dos que não consentem que
o globalismo, que ninguém governa, afete as identidades,
como a da nossa gente e terra, e porque não confundem
aquele com a especificidade cultural e com a identidade das
regiões e comunidades.




* Presidente da Academia das Ciências de Lisboa.


                                    15
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


     Esta riqueza europeia é a defesa primeira contra
movimentos de unidade politica que esquecem que o
património imaterial da Humanidade é composto destas
unidades que se articulam mas não se deixam absorver.
     Ambos são merecedores da gratidão dos que os viram
servir o bem comum uma vida inteira, enriquecendo o
legado que fica para cada nova geração.




                                     16
Percursos de razão e afetos




                   PELO MUNDO DA ARTE

                                                      Agostinho Cordeiro*



     Não me foi difícil escolher o tema para poder participar
deste livro de homenagem, concebido e tecido em torno de
figuras maiores de historiadores, de cidadãos e, sobretudo,
de grandes e perenes Amigos – Maria da Assunção Carqueja
e Adriano Vasco Rodrigues.
     Naturalmente que escolhi o caminho mais previsível
e imediato – o mundo da arte –, porque capta a evidência
profunda de outra das facetas dos Senhores Professores e
porque, fundamentalmente, me toca por ser o meu mundo.
     Para ensaiar uma abordagem, despretensiosa mas
sentida, que justifique a minha presença neste variado
conjunto de testemunhos que desenham a sua rica
personalidade, basta começar por referir a cedência das
coleções que permitiram que o País passasse a contar com
mais dois museus: o Museu Judaico, em Belmonte (cuja
variedade e riqueza de peças estimulou a criação do Centro

* Proprietário das Galerias Cordeiro.


                                   17
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


de Estudos Judaicos Adriano Vasco Rodrigues), e o de Arte
Africana, em Almeida. Entre outros gestos neste domínio,
o altruísmo e a sobrevivência do seu legado, que adquiriu
dimensão institucional e se converteu em património
público, torna-os detentores de significação nacional.
     Não dissocio, de tais gestos, a sensibilidade estética que
preside à formação das suas coleções, uma sensibilidade que
me é dado observar aquando das visitas de Adriano Vasco
Rodrigues à minha Galeria, ou às exposições que organizo.
Se o artista idealiza, manipula materiais e comunica,
também propicia situações imaginárias, visuais e cognitivas.
A criação artística é um relato mil vezes contado, mil vezes
diferente, flexível e comprometido com o seu autor e a sua
época. E o Professor descodifica, em toda a sua extensão
e alcance, essa imensa quantidade de informação que uma
boa imagem formula. Em cada visita, experimentamos
uma considerável e sempre renovada satisfação face às
obras de arte que nos rodeiam, pela sua rica argumentação
e comunicação fácil, traço que lhe é tão característico e
apreciado.
     Só me resta declarar o quanto me apraz que, finalmente,
Moncorvo denuncie o apreço pelo inesgotável saber de
Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues e
a gratidão pelos benefícios que, ao longo de décadas, esse
saber lhe tem aportado.




                                       18
Percursos de razão e afetos




      ADRIANO VASCO DA FONSECA RODRIGUES

                                                       Alcides Amaral*



     Parafraseando Junqueiro – “O melro, eu conheci-o…”
– poderia começar do mesmo modo. Mas, em vez de
O Adriano, eu conheci-o… prefiro dizer – O Adriano, eu
conheço-o.
     Felizmente que assim é, pois tenho a sorte de conhecer
e conviver com um Homem, com H maiúsculo, que pode
ser exemplo para todos.
     Estudioso indefetível, profissional irrepreensível e
competente nos diversos campos do Ensino/Educação/
Investigação que integrou, Historiador e Académico
competente, independente, algo rebelde, Marido e Pai
extremoso e dedicado e, acima de tudo, um AMIGO, como
só ele sabe ser.
     O Adriano Vasco da Fonseca Rodrigues, é natural
do distrito da Guarda, onde nasceu a 4 de maio de
1928, frequentou o ensino primário, como aluno do Pai.

* Inspetor do Ensino (aposentado).


                                    19
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


Terminado este, rumou para a capital onde, como aluno
do Instituto do Professorado Primário – O Palheiro, nome
carinhoso, para os antigos alunos – iniciou os estudos
secundários no Liceu Gil Vicente, então no Mosteiro de
S. Vicente, ali à Feira da Ladra.
     Foi aquele espírito de independência e rebeldia que fez
com que, não aceitando uma atitude da direção do Instituto
para com ele, o levou a, com pouco mais de 12 anos, com
a anuência de um tio, residente em Lisboa, pedir licença aos
sapatos e pôr-se a mexer para a Guarda onde, no liceu local,
terminou o ano letivo e fez o resto do ensino liceal. Apesar
de curta, essa sua passagem pelo Instituto foi suficiente
para contrair a doença que, a todos os que por lá passámos,
nos atingiu e se chama a AMIZADE que une as gerações
que o frequentaram.
     Uma vez no Porto, local para onde o Pai viera lecionar,
por razões económicas fez o curso do Magistério Primário,
dando aulas numa das escolas da cidade. O seu espírito de
ir mais além, leva-o a aceitar o convite do então Secretário
de Estado da Educação –, Veiga de Macedo – para integrar
a equipa da Campanha Nacional de Educação de Adultos,
em Coimbra o que lhe possibilitaria a frequência da
Universidade.
     E, se hoje, as promessas nada valem, naquele tempo
também assim era! O governante esqueceu o convite
pessoal que fez, e nomeou outro.
     Convencido que estava de ocupar o lugar que não
pedira e lhe fora oferecido, não concorreu a nenhuma


                                      20
Percursos de razão e afetos


escola, nem do Porto, nem de Coimbra e, no outubro
seguinte, encontrou-se no desemprego…
     Dado que estava matriculado na Faculdade que queria
frequentar, sem disponibilidades económicas, a única
maneira que achou para resolver a situação, seria a de
acampar no campus da universidade… Deve ter sido dos
primeiros ocupas…
     Fruto da sua independência e sã rebeldia, se bem o
pensou, melhor o fez, de forma que, uma manhã, Coimbra
acorda com mais uma moradia na parte alta da cidade,
habitação que acolheu o Adriano, até o Magnífico Reitor
lhe dar ordem de despejo, vindo a acolher-se depois, já
com o provento do trabalho que entretanto arranjou, numa
república amiga.
     Nestes anos passados na Lusa Atenas conhece, e
enamora-se, de uma colega com quem veio a casar, a Dra.
Maria da Assunção Carqueja, que o tem acompanhado até
agora, casamento de que resultaram quatro filhos.
     Colocado como Professor, no Liceu que frequentara,
o da Guarda, por prepotência do Reitor, em função da
sua posição de defesa dos alunos, aquando da visita de
Humberto Delgado à cidade, foi dele corrido no ano letivo
seguinte não sendo reconduzido.
     Ruma, seguidamente, a Angola onde vai organizar a
Inspeção Provincial de Educação, a implementação do
Ciclo Preparatório do Ensino Secundário e a Formação de
Professores, atividades que desempenhou com competência
e mérito.


                               21
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


     Simultaneamente, faz o gosto ao dedo e, de 1965 a 1969,
integrado no Instituto de Investigação Cientifica de Angola,
agora já com a Esposa, responsável pela criação da Seção
de Pré-História e Arqueologia, trabalha em escavações
arqueológicas em todo o vasto território do país, que relata
nos saborosos livros que publicou sobre essa atividade.
Nessa altura elaborou a Primeira Carta de Pré-História de
Angola. Durante esse trabalho pôde, também, reunir um
acervo importantíssimo sobre Arte Negra que expôs, com
o título Divulgação da Arte Negra, em:

    1982 – Fundação Engenheiro António de Almeida, no
Porto;
    1984 – Museu Regional da Guarda;
    1990 e 1995 – Schola Europaea, em Mol, Bélgica;
    1997 – Potsdam, Alemanha;
    1998 – Universidade Portucalense, no Porto;
    2004 – Instituto Superior da Maia;
    2005 – Academia José Moreira da Silva, Porto;
    2006 – Junta de Freguesia de Lavra, Matosinhos e,
presentemente, no Museu de Arte Primitiva de Almeida
depositário do espólio.

     Aliás, esta atividade arqueológica tinha sido iniciada na
Guarda, onde procedeu a escavações relacionadas com os
lusitanos, trabalho que se estendeu até Espanha, na zona de
Cáceres.
     Também por desinteligências com o secretário
provincial da educação de Angola, a quem não vergou

                                      22
Percursos de razão e afetos


a cerviz, regressa a Portugal, trabalhando em alguns dos
liceus do Porto. O último, o Garcia da Orta, em experiência
pedagógica, foi o primeiro Reitor onde tomou, sempre, a
defesa dos alunos. São estes, a melhor testemunha (como
uma vez o testemunhei) de arriscar o seu lugar enfrentando
a polícia e a PIDE, antes do 25 de Abril.
     A seguir à Revolução dos Cravos, a nível concelhio,
continua a ocupar lugares relacionados com a política e
a cultura, acabando por ser eleito para a Assembleia da
República. Abandonou a Assembleia e depois de ter sido
Diretor-Geral do Ensino Particular e Cooperativo, foi
ocupar o lugar de Governador Civil da Guarda.
     Com a integração na CEE, por concurso internacional
com base no mérito pessoal, foi nomeado Diretor da Schola
Europaea, de Mol, Bélgica, lugar que brilhantemente,
desempenhou de 1989 a 1996. O que foi esse desempenho,
tivemos ocasião de o verificar, quando, em excursão, um
grupo de vinte e tal amigos, aí se deslocou, numa visita por
ele organizada.
     Regressado a Portugal, é dos grandes animadores na
criação de uma cooperativa de ensino, de que nasceu a
Universidade Portucalense, cuja docência integrou como
Professor Associado de História da Arte.
     Igualmente fez parte do grupo que criou a Academia
José Moreira da Silva no Porto donde surge o Instituto
Superior Joaquim Oliveira Guedes – Cooperativa de
Estudos de Economia Social, a cujo Conselho Científico
preside, e posteriormente, a Escola Profissional de Eco-
nomia Social.

                                 23
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


     No campo do Ensino/Educação, como costumo dizer,
ao Adriano apenas faltou ser ministro, para ocupar todos
os lugares relacionados com o assunto. Foi Professor do
Ensino Primário, foi Professor do Ensino Secundário, foi
Reitor de Liceu, foi membro da Comissão de Educação
da Assembleia da República e foi Diretor-Geral do Ensino
Particular e Cooperativo…
     Estudioso das questões judaicas – está farto de querer
convencer-me de que, pelo meu nariz, sou judeu – é ele que
está na origem da criação do Museu Judaico de Belmonte.
     Tudo isto é o que qualquer biógrafo, muito melhor do
que eu, poderá dizer a respeito do Adriano. A mim mais do
que ele foi, ou não foi, mais do que os lugares que ocupou,
o que me importa é o que o Adriano é.
     Não fomos contemporâneos no Palheiro. Mesmo que o
tivéssemos sido, a meia dúzia de anos que nos separa, era,
na altura, mais que suficiente para que o puto Alcides se
pusesse em sentido para falar com um grande…
     Daí que, o meu conhecimento do Adriano, identificado
por Vasco Rodrigues, fosse simplesmente de ouvido, com
referências às suas qualidades intelectuais, pessoais e
oratórias, de tal maneira grandes que, em meu entender, se
correspondessem só a metade, já eram muitas.
     Ainda bem que tive a sorte de integrar a tal excursão
a Mol, uma vez que ela me permitiu ver a justeza das
apreciações que lhe eram feitas, patenteadas pela lhaneza
com que nos recebeu, pelos conhecimentos que nos
transmitiu, pela maneira como nos mostrou dirigir a Schola


                                      24
Percursos de razão e afetos


Eurpeae, que integrava alunos de todas as raças, como em
casa dele, nos fez sentir como estando em nossa casa.
     O Adriano é, por tudo isto, uma Pessoa com a qual se
pode contar incondicionalmente.Teimoso, às vezes no café,
quando, ao tomarmos uma atitude (o outro nome do café
ou de uma cerveja que bebemos), puxa dos seus galões de
idade e avoca a ação de pagar…
     Senhor de uma cultura invulgar, bem patente em todas
as suas conversas, Humanista convicto, sofre as dificuldades
dos outros, preocupando-se com o Social. Sempre pronto
a acompanhar e a responder às necessidades dos outros,
sempre com uma palavra e um conselho amigo (eu que o
diga, por causa dos cigarros) que até canta bem, quando a
isso se dispõe, um conversador e contador incansável que
se adora ouvir.
     É deste Adriano de que eu gosto, é este Adriano que
eu admiro, é a este Adriano a quem eu agradeço a sorte de
ser meu AMIGO.




                                 25
Percursos de razão e afetos




                       HOJE COMO ONTEM

                                   Ana da Encarnação Subtil Roque*



     Creio que a amizade é a mais bela e pura expressão do
amor. É como um sacramento que todos desejamos porque
Deus para a amizade nos criou.
     A minha amizade com a Maria da Assunção começou
na Faculdade de Letras, em 1950. Vinda dos Açores,
matriculei-me no curso de Ciências Histórico-Filosóficas.
     Quase todos os dias, depois das aulas, ia do Lar dos
Coutinhos, que ficava próximo da Sé Velha, até à Rua da
Matemática onde a Assunção residia. Foram quatro anos de
estudo em conjunto no seu quarto de estudante. O convívio
prolongava-se nos jardins e cafés de Coimbra, para aliviar
a cabeça e encontrar a malta... Passados alguns anos, veio a
nossa Queima das Fitas de quaternistas. A Assunção fez-me
uns versos, para colocar na minha plaquete, que diziam:




* Colega de Faculdade de Maria da Assunção Carqueja.


                                   27
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


                     “São lindas as minhas fitas”
                     Repete a Ana contente...
                     E com jeito, docemente,
                     Beija as fitas tão bonitas.

                     Pergunto cá para mim
                     Ao lembrar-me disto tudo;
                     Se as fitas beijou assim
                     O que fará ao “canudo”?

     O 5.º ano do curso constava de um trabalho de
investigação para se obter a licenciatura na defesa da tese
do tema escolhido em Filosofo ou História.
     Dos alunos que iniciaram a sua vida universitária, em
1950, licenciaram-se seis, em 1955: a Maria da Assunção,
a Teresa Pinto Mendes, a Maria do Céu Cavalheiro, o Rui
Prado Leitão, a Rosa Alice e eu,Ana Roque. No ano seguinte,
foi a vez da Maria Clara Constantino, Cruz Pontes, Maria
de Lurdes Costa e Maria de Lurdes Lopes Porto. Os três
primeiros eram voluntários. A Lopes porto quis preparar a
defesa da tese em dois anos. Partilhámos com alegria a festa
de licenciatura de cada um de nós. Mas a amizade entre
todos não existiu, apenas, durante estes cinco ou seis anos,
continuámos amigos, muito amigos...
     A Maria do Céu Cavalheiro e eu organizávamos, de vez
em quando, reuniões de curso para matarmos saudades e
sabermos como ia a vida de todos os colegas. Dialogávamos
no decurso do almoço que tinha lugar num sítio romântico.
Eram autênticas tertúlias. Antes, participávamos de uma

                                      28
Percursos de razão e afetos


Missa na Capela da Universidade, rezada pelos Professores
e Colegas já falecidos. Apresentávamos os cumprimentos
ao Magnífico Reitor e tirávamos a tradicional fotografia
na escadaria do Pátio da Universidade. Foram belos estes
encontros... São tantas as fotografias e os nomes na lista de
participantes com as respetivas moradas!

      Prolonguei o sacramento da amizade através de uma
verdadeira aventura para a época – pus-me, sozinha,
a caminho da Bélgica, para passar uns dias com a minha
amiga. Na altura, a Assunção encontrava-se com o marido,
em serviço de grande prestígio e responsabilidade, naquele
país. Foram uns dias muito agradáveis, passados com
alegria e ar puro, numa frondosa floresta, em Mol, onde os
meus amigos viviam. A Assunção fazia parte da Comissão
Europeia de Filosofia e o Vasco exercia as funções de Reitor
da Escola Europeia. Não vou falar em detalhe do que aqui
vivi, do que com eles aprendi, de alguns dos seus familiares
presentes, dos muitos amigos e admiradores, da sua
dedicação a uma exigente tarefa desempenhada num pais
estrangeiro. Mas não posso deixar de mencionar os passeios
com tantos desses amigos, um deles a Antuérpia, das
conversas íntimas aos serões, dos deliciosos chocolates na
mesinha de cabeceira, da verdura da paisagem que avistava
mal abria a janela do quarto pela manhã, dos esquilos a
saltitar, das piscinas de água doce que ondulavam...
      Sobretudo, devo frisar a homenagem grandiosa que foi
prestada ao Vasco pelos seus brilhantes serviços e à qual tive
o privilégio de assistir.

                                 29
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


     É incontestável que a sua vida académica e familiar,
marcada, sempre, pelo amor e respeito pelo outro e
por todos, justifica a merecida homenagem a ambos,
inseparáveis companheiros numa vida rica de afetos e de
realizações.
     A profunda amizade pela Maria da Assunção, como
qualquer amizade deste teor, mantém viva, para além de
tempos e de espaços, caminhos andados, palavras e gestos
trocados. Este sentir, que me traz aqui e agora, tem-se
alimentado de saborosas conversas telefónicas. E não
perdemos a oportunidade de nos encontrarmos, como
aconteceu aquando da festa dos meus 80 anos, pretexto
que permitiu juntar familiares, amigos e colegas de curso.
     A Universidade trouxe-nos conhecimento e, também,
amigos que permanecem na nossa vida. Hoje, entre eles, é
para a Assunção que envio o abraço mais terno, o abraço de
sempre, da

    Ana, Anita ou Aninhas / Por qualquer do nome dá...




                                      30
Percursos de razão e afetos




              ADRIANO VASCO RODRIGUES
    O HOMEM QUE, HOJE E SEMPRE, INVESTIGA, PENSA E SONHA

           MARIA DA ASSUNÇÃO CARQUEJA
A MULHER QUE AO SEU LADO INVESTIGA, PENSA E SONHA EM POESIA


                                    António Alberto Barbosa Areosa*



     É incomensurável o valor e o mérito que julgo dever
sublinhar do Homem vertical e de cariz humanista que
facilmente vislumbro do que dele fui conhecendo, não
somente da vasta obra publicada, mas, ainda, dos cargos
que tão bem soube dignificar desde cedo. Acrescem
as entrelinhas das entrevistas lidas em que revejo no
Homem a dignidade de um caráter notável, inteiramente
dedicado à investigação e ao conhecimento de valor
expresso nas inúmeras cerimónias e homenagens que lhe
foram, merecidamente, dedicadas. E nessas palavras há a
autenticidade e a humildade de quem é grande e talvez
maior que o comum dos mortais, num mundo onde
prolifera a incompetência e arrogância.

* Diretor do Agrupamento de Escolas de Torre de Moncorvo.


                                   31
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


      Natural da Guarda, Adriano Vasco Rodrigues deu
cedo a conhecer o seu interesse pela arqueologia e história
desse distrito, tendo promovido vários trabalhos de
campo refletidos numa vasta bibliografia que se reparte
entre o Paleolítico e a Idade Média. Com vida dedicada e
repartida entre a investigação e a docência, nomeadamente
em Portugal, Angola e Bélgica, onde dirigiu a Schola
Europaea, foram valiosos e sobejamente conhecidos os
seus serviços na orientação do trabalho dos professores,
no aperfeiçoamento da avaliação dos alunos e respetiva
contextualização dos conhecimentos, particularmente
no que à Língua Portuguesa dizem respeito. Todo o seu
percurso profissional é, desta forma, exemplo para as
gerações contemporâneas, atendendo às características
de perfil que o notabilizam nesta área. Dessas subscrevo
a inteligência, o já antes sublinhado humanismo, o sentido
pedagógico, o enaltecimento patriótico e, sobretudo, a
nobreza de caráter.
     Mais recentemente, este investigador e docente,
que desempenhou, para além de deputado, as funções de
Governador Civil do Distrito da Guarda e dirigiu, durante
largos anos, a revista Altitude, foi justamente agraciado com
a Medalha de Ouro desta cidade. Pormenor que passaria
indelével não fosse o seu grande apego cultural às múltiplas
e diversas temáticas que mais interesse nele despertaram
e a continuidade de uma curiosidade pelo conhecimento,
que emerge de uma sensibilidade entusiástica e vitalidade
e que impressiona enquanto detentor de uma permanência
intelectual rara.

                                      32
Percursos de razão e afetos


     Adriano Vasco Rodrigues é assim o Homem que afirma
ocupar atualmente o seu tempo a investigar, a ler e, algumas
vezes, a pensar. Mas também a sonhar! E se o “Sonho
comanda a vida”, tal como o afirma António Gedeão, saber
que tão notável ser humano possui a capacidade do sonho,
grandiosa se revela a obra que nos lega e o perfil humano
que, gravado na pedra da cidade altaneira da Guarda, se
abre num sorriso de mestre sempre que é interpelado,
nada mais nele havendo que a claridade e a luminosidade
de quem é eterno aprendente da vida e do mundo que o
acolhe.
     De acordo com o próprio Adriano Vasco Rodrigues,
em conjunto com a Mulher, sua esposa e companheira, Dra.
Maria da Assunção Carqueja, esta proveniente da freguesia
do Felgar, do concelho de Torre de Moncorvo, possuem
vasta biblioteca, 35 a 40 mil volumes, muitos diapositivos
e fotografias e, também, documentação que se reparte
pelas várias áreas da História, desde a Arte à Política,
pela Etnografia, Arqueologia, Religião, Civilizações,
Monografias e obras centradas nos estudos e História
Judaica, entre outras que foram motivo de interesse da Dra.
Assunção, como sejam a Filosofia, a Pedagogia e a Didática.
Dela, diz ainda Adriano Vasco Rodrigues, em entrevista a
A Guarda, que foi Metodóloga, trabalhou a nível europeu
da União na área da formação em Filosofia e pertence à
Associação Internacional dos Professores de Filosofia.
     Do espólio documental de ambos a bibliografia é vasta,
sendo que aqui daria relevo à História Geral da Civilização
(2 volumes com 8 edições), publicada e divulgada entre

                                 33
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


1962 e 1975, à Retrospectiva Histórica dos Concelhos de Meda,
Longroiva e Marialva (1976) e, mais recentemente, ao livro
intitulado “De Cabinda ao Namibe”, cujo lançamento decorreu
no Porto, na Biblioteca Almeida Garrett, posteriormente
na Guarda e, de seguida, mais precisamente em 7 de maio,
do ano em curso, no auditório da Biblioteca de Torre de
Moncorvo. No livro, o autor revisita terras de Angola,
percorrendo todo o território como inspetor escolar,
registando à sua passagem aspetos significativos da História,
Arqueologia e da Antropologia Angolanas. É, ainda desse
livro, que salienta o papel de esperança e humanismo
das Missões Católicas e Protestantes, a par de uma visão
crítica que aí desponta na apreciação de um processo de
independência de algum modo distorcido, quase doloroso, e
do qual a História vindoura se encarregará de o corroborar.
      Contudo, devemos realçar o mérito daquela que se
tornou mulher e companheira do pedagogo.
      Autora de várias obras específicas de investigação
da sua área de estudos, foi autora de alguns trabalhos de
investigação, em parceria com Adriano Vasco Rodrigues, a
saber, O estudo das ferrarias do concelho de Torre de Moncorvo
(1962). Tendo anteriormente dado conta da sua atividade
profissional, da sua obra publicada destaco “Subsídios para
uma monografia da Vila de Torre de Moncorvo” (Coimbra,
1955), revista e publicada sob o título “Documentos Medievais
de Torre de Moncorvo” (editada com o apoio e patrocínio da
Câmara Municipal de Torre de Moncorvo em 2007), “Versos
do meu Diário” (sob o pseudónimo de Miriam) com alguns
poemas dedicados à freguesia do Felgar e a Trás-os-Montes,

                                      34
Percursos de razão e afetos


publicada em 1978 e por último “Jardim da Alma”, publicado
em dezembro de 2008.
     E é por se tratar de uma obra de expressão poética
que Jardim de Alma concilia as palavras de que são feitas as
emoções e os afetos com a inerente e já esperada reflexão
metafísica. Laivos de vivências de infância, ruralidade e
memórias desvanecidas nos tempos, mas nelas retomando
e abraçando a sua condição de Mulher – Menina sem
descurar o seu perfil de Mulher inquieta e reflexiva face
ao tempo e ao mundo em devir e que partilha do Sonho
de que inicialmente nos dava conta o seu marido, Adriano
Vasco Rodrigues.
     Diria, com a certeza do que foi permitido deles
conhecer, que quer em Adriano Vasco Rodrigues quer na
sua mulher Maria da Assunção Carqueja se revêem traços
de um caráter determinado, ávido de conhecimento e
partilha, a humildade de uma sabedoria gritante, que só
alguns possuem, e a busca eterna aliada à curiosidade dos
seres humanos de eleição.




                                 35
Percursos de razão e afetos




       OS LIVROS FORAM FEITOS PARA SEREM LIDOS

                                      António José Ramos de Oliveira*



     Após a formação obtida na Universidade de Coimbra,
em Ciências Documentais, variante de Biblioteca e
Documentação, impunha-se procurar um local para
desempenhar a minha profissão. Embora nada me ligasse
à Guarda, cidade onde nunca tinha estado e, como tal, não
conhecia, surgiu, entre outras possibilidades, a hipótese
de, mediante concurso público, aqui desempenhar o cargo
de Técnico Superior de Biblioteca e Documentação, ou
bibliotecário.
     Precisamente por não ser natural da Guarda, nem
conhecer a sua região, a primeira preocupação, na altura, foi
a de tomar conhecimento da sua realidade, nomeadamente
a História, ciência à qual me encontro também ligado por
uma licenciatura e pela paixão. Aliás, antes de ter ingressado
nesse curso, ainda vacilei pela carreira de arqueologia,

* Técnico Superior de Biblioteca e Documentação da Biblioteca Munici-
pal Eduardo Lourenço, Guarda.


                                    37
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


como é sabido, um tema muito caro ao Professor Adriano
Vasco Rodrigues
     O primeiro livro lido da e na Guarda, que requisitei
na biblioteca, foi a Monografia Artística da Guarda (a edição
de 1977), da autoria de Adriano Vasco Rodrigues, que me
acompanhou durante alguns dias, fosse numa viagem de
comboio, fosse numa fuga para uma esplanada. O livro
proporcionou-me um primeiro contacto com a História
Local, e o ter ficado por dentro de uma realidade regional
que desconhecia até então.
     Este livro mostrou-me que a Guarda tinha uma
existência milenar, considerando as suas origens, e
despertou-me curiosidade em conhecer a restante obra do
Professor, o que me proporcionaria mais tarde um contacto
direto com toda a sua obra existente na biblioteca.

    As Bibliotecas Municipal da Guarda e Fixa n.º 41 da
Fundação Calouste Gulbenkian, estiveram instaladas, de
1986 a 2007, no Solar Teles de Vasconcelos, no largo com o
mesmo nome, junto à Sé da Guarda.
    Nessa época, a Biblioteca Municipal era frequentada
maioritariamente por estudantes das escolas limítrofes
dos 2.º e 3.º Ciclos e Secundárias, bem como do Ensino
Superior, na altura existentes, como o ISACE (Instituto
Superior de Administração, Comunicação e Empresa), a
Escola Superior de Enfermagem e o Instituto Politécnico
da Guarda. As escolas, dos 2.º e 3.º Ciclos e Secundário,
ainda não estavam apetrechadas com as bibliotecas de que
dispõem atualmente, pelo que a Biblioteca Municipal/

                                      38
Percursos de razão e afetos


/Gulbenkian era o seu principal recurso para a obtenção de
informação considerada necessária.
     Assim, era frequente que as salas de leitura da biblioteca
estivessem lotadas com utilizadores, sobretudo estudantes,
que a procuravam para realização de trabalhos e requisição
de livros. No ano de 1998, a biblioteca passou a oferecer o
serviço de internet, o que, no início, colocaria o livro num
plano secundário.
     Na época, os temas procurados pelos utilizadores
eram bastante variados: Filosofia, Linguística, Geografia,
História Geral, Literatura, História Local, Literatura,
Ciências, Jornalismo, Marketing, Enfermagem, entre
outros. Esta procura tinha como base as matérias lecionadas
nos respetivos anos ou cursos frequentados.
     A biblioteca procurava responder da melhor forma às
solicitações, tentando, na medida do possível, reunir um
fundo documental adequado às solicitações dos utilizadores.
     Surgiu então a necessidade de formar um Fundo
Local (reunir no mesmo local as obras inseridas nesse
conceito), embora ficasse limitado às edições disponíveis,
para melhor atender os leitores interessados neste assunto.
Estas obras foram reunidas e colocadas numa estante da
Sala de Leitura do primeiro piso. Aqui se reuniram obras de
autores que fossem naturais do Distrito da Guarda (ou a ele
profundamente ligados) ou que tivessem escrito sobre ele.
     Embora não existisse na biblioteca uma extensa obra
que se enquadrasse nestas condições, conseguimos reunir
uma estante que ficou em local destacado, devidamente
identificada.

                                  39
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


     Cedo passou a ser o local da biblioteca com maior
número de obras consultadas. Era ali que estavam os livros
de João de Almeida, detentor de vasta obra da História da
Guarda, militar e não só, e do império português em África,
nas suas vertentes militar e política. Esta estante reunia
todas as monografias, existentes na biblioteca, referentes a
todas as localidades do nosso distrito. As obras eram muito
procuradas, pois incluíam assuntos como História, Usos
e Costumes, Tradições, Personalidades, etc. referentes às
regiões do Distrito da Guarda que retratavam. Dispunha
também das informações mais importantes sobre tradições
comemorativas do Carnaval, Páscoa, São Martinho, Natal,
Provérbios, entre outras.
     Outros autores presentes neste fundo eram Manuel
Ramos de Oliveira, Quelhas Bigotte, Pinharanda Gomes,
Virgílio Afonso, João de Almeida, António Monteiro da
Fonseca, Aires Dinis, Célio Rolinho Pires, Antonieta
Garcia, Américo Rodrigues, Nuno de Montemor, Augusto
Gil, Alípio da Rocha e muitos outros.
     Um dos autores selecionados para a referida estante
e dos mais importantes, considerando a pertinência e a
procura das suas obras, era AdrianoVasco Rodrigues. Os seus
livros foram objeto, quer de empréstimo domiciliário, quer
de consulta local, em centenas de pedidos de utilizadores.
Por exemplo, a obra Monografia Artística da Guarda, no início
com a edição de 1977 ou mesmo de 1958, era, talvez, a
obra mais consultada da biblioteca. Era-o seguramente no
que diz respeito ao Fundo Local. Centenas de utilizadores
consultaram a obra para saber mais da nossa História, das

                                      40
Percursos de razão e afetos


nossas origens, dos nossos monumentos. Mais tarde, no
ano 2000, seria editada a Guarda: Pré-História, História e Arte:
(monografia), que viria a substituir a edição de 1977 como
base neste tipo de consulta.
     Mas, como é certamente conhecido, Adriano Vasco
Rodrigues é detentor de uma vasta obra. Embora nos
debrucemos sobre a referida época da biblioteca, não
podemos deixar de referir, como bastante consultadas/
/requisitadas as seguintes obras:

      – Celorico da Beira e Linhares: monografia histórica e
artística. Obra também muito consultada, quando se
pretendia o estudo do concelho de Celorico da Beira, seja
na História, Usos e Costumes ou Património.
      – Escultura Africana: perenidade e mudança.Consulta no
âmbito do tema.
      – História geral da civilização. Manual escolar mas que
ainda era consultado para alguns temas da História.
      – Provérbios de origem sefardita no interior da Beira e em
Trás-os-Montes. Livro bastante consultado, não só porque
existia pouca bibliografia sobre o tema, mas porque o autor
possui vastos conhecimentos na matéria.
      – A Catedral da Guarda: na história e na poesia.
Recordemos que a Sé da Guarda era o monumento mais
procurado em investigações de leitores. Esta era uma das
obras mais utilizadas nesse âmbito.
      – Salvador do Nascimento: uma vida – um ideal. Embora
mais recente, trata-se de uma obra importante a nível
biográfico.

                                  41
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


      – O Despotismo e a Igreja: cartas régias para o Bispo da
Guarda na época pombalina. Obra, talvez única a debruçar-se
sobre o tema.
      – Os lusitanos: mito e realidade.
      – As lápides sepulcrais da Capela-Mor da Sé da Guarda.
Outra obra importante para o estudo da Catedral da
Guarda.
      – Terras da Meda: natureza e cultura: (monografia). Mais
um estudo monográfico, de outro concelho do distrito, e
que era bastante consultado.
      – Trabalhos de história e arqueologia da Guarda e regiões
confinantes: coletânea de quarenta e cinco estudos, cujas
publicações se encontram na quase totalidade esgotadas, oferecidas
pelo Autor à Biblioteca Pública da sua cidade natal período de
1944-1976. Gostaria de destacar esta curiosa publicação
artesanal, coletânea de vários artigos de Adriano Vasco
Rodrigues, que este, em boa hora, decidiu fazer e oferecer
à Biblioteca Municipal da sua terra natal. A esmagadora
maioria dos artigos são de índole arqueológica, sendo
bastante consultados os seguintes: Achados arqueológicos
do Mileu; Moinhos manuais na região da Guarda; Uma arma
com mais de 120.000 anos: o biface de Cairrão: (Guarda); Um
bracelete lusitano da estância arqueológica do Mileu; Espada
de Vilar Maior: idade do bronze: espada de Castelo Bom; A pro-
pósito de uma lápide do Mileu (Guarda); Estela de Meimão:
cabeça de guerreiro lusitano da Guarda; Inscrições romanas de
Valhelhas; Inscrição tipo «Porcom» e Aras Anepígrafes do Cabeço
das Fráguas (Guarda); Subsídios para o estudo do Paleolítico
no Distrito da Guarda: I Congresso Nacional de Arqueologia;

                                       42
Percursos de razão e afetos


Subsídios para o estudo do paleolítico na Beira Alta; O Castro do
Cabeço das Fráguas e a romanização das suas imediações: notícia
sobre uma prospeção arqueológica no concelho da Guarda; Subsídios
numismáticos para o estudo da dominação suévico-visigótica na
região da Guarda: elementos inéditos; Elementos para o estudo
da romanização nos Montes Hermínios: I: as escavações da Póvoa
de Mileu – Guarda; A Torre de «Centum Celas»: pretório de um
acampamento romano; Achados avulsos romanos; O templo romano
de Almofala: nova interpretação sobre o casarão da Torre.

     O presente texto não pretende ser uma análise,
completa ou incompleta, da obra de Adriano Vasco
Rodrigues. Trata apenas do impacto que a obra de Adriano
Vasco Rodrigues teve naquele período de funcionamento da
biblioteca, junto dos utilizadores, considerando a procura
que teve, em investigação ou requisição domiciliária.




                                  43
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues




    O castro do Cabeço das Fráguas e a romanização das suas imediações
 Uma separata de Adriano Vasco Rodrigues, exemplo de obra muito
consultada, na Biblioteca Municipal da Guarda, na época mencionada.


                                       44
Percursos de razão e afetos




               ADRIANO VASCO RODRIGUES
                   UMA REFERÊNCIA

                                             António Pimenta de Castro*



     Conheci pessoalmente o Senhor Professor Adriano
Vasco da Fonseca Rodrigues, já há quase trinta anos,
quando me encontrava a fazer uma visita habitual ao meu
saudoso amigo, Dr. Armando Pimentel, na sua casa situada
nos Estevais de Mogadouro. Sempre que me era possível,
quando terminava as aulas na Escola Secundária de Torre de
Moncorvo, a caminho do meu domicílio, em Mogadouro,
fazia um pequeno desvio e parava na casa do Dr. Armando
Pimentel, aristocrata no sangue e fidalgo de fino trato, para
uma amena cavaqueira, direi mesmo, uma pequena tertúlia,
com este grande intelectual transmontano e, por vezes, com
ilustres intelectuais que o visitavam, ou mesmo gente do
povo, que ele tanto estimava. Digo pessoalmente, porque
alguns dos seus trabalhos já os conhecia e muito me falava

* Professor da Escola Secundária Dr. Ramiro Salgado, Torre de Moncor-
vo; investigador.


                                    45
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


dele o meu querido amigo e colega na Escola de Moncorvo,
o saudoso Senhor Padre Rebelo. Aquando da homenagem
feita ao Dr. Casimiro Henriques de Moraes Machado,
escreveu o Senhor Padre Joaquim Manuel Rebelo: “Creio
que foi em 1960 que encontrei, novamente, o Dr. Casimiro
no Vale da Vilariça, num acampamento de alunos de um
liceu do Porto, dirigido pelos meus ilustrados amigos,
Padre Dr. Domingos de Pinho Brandão e Dr. Adriano
Vasco Rodrigues (…)”. Estes estudantes estavam a realizar
escavações arqueológicas, superiormente orientados pelos
referidos professores.
     O Dr. Adriano Vasco Rodrigues, embora nascido na
Guarda, é um verdadeiro transmontano, e é-o pelo coração.
É uma das minhas maiores referências transmontanas,
juntamente com o Abade de Baçal, o Dr. Casimiro Machado,
o Abade Tavares (de Carviçais), o Senhor Padre Rebelo e
o próprio Dr. Armando Pimentel. O Dr. Adriano Vasco
Rodrigues, grande amigo do Dr. Armando Pimentel, tem
feito ultimamente vários apelos para que a maior biblioteca
particular de Trás-os-Montes, e não só – a do Dr. Armando
–, seja preservada, tendo-me “incumbido” de falar deste
problema ao seu amigo Dr. António Guilherme de Moraes
Machado, Presidente da Câmara Municipal de Mogadouro,
para levar a bom termo esta justa aspiração.
     Não vou falar aqui do seu brilhante curriculum como
intelectual, investigador, escritor, etnógrafo, arqueólogo,
deputado, pedagogo, fundador e diretor de revistas e autor
de “mais de cem livros e separatas que revelam as importantes

                                      46
Percursos de razão e afetos


incursões nos mais variados campos da História da Arte, a
par dos trabalhos de vanguarda da Pré-História Peninsular
e da Pré-História em Angola”1, incontáveis temas redigidos,
primorosamente, na língua de Camões, e dos quais saliento
os regionais. De facto, as raízes são fundamentais para a
identidade de um povo e de um país. Para mim, também
por esta razão, o Dr. Adriano é um verdadeiro exemplo.
     E não vou falar da sua vasta atividade por algumas
razões: porque existem várias e extensas referências a elas,
desde Enciclopédias ao Dicionário dos Mais IlustresTransmontanos
e Alto Durienses (vol. I, Guimarães,1998, páginas 530 a
532; a Dra. Maria da Assunção Carqueja Rodrigues consta
da página 542); porque nesta homenagem, por certo,
alguns colaboradores as irão referir e, finalmente, porque
quero dar o meu testemunho sobre as atividades em que
estive envolvido, pessoalmente, com o Dr. Adriano Vasco
Rodrigues.
     Devo acrescentar que, no seio dos seus múltiplos
interesses, há um tema comum que o Dr. Adriano Vasco
Rodrigues e eu temos em grande estima: a História dos
Judeus em Portugal. Na realidade, para além de livros e
outros estudos que o Dr. Adriano Vasco Rodrigues publicou
sobre este assunto (concretamente na Revista Altitude),
foi fundador (é o sócio n.º 1) da Associação de Amizade
e Relações Culturais Portugal – Israel (1979), Presidente
1
 Revista CEPIHS, Revista do Centro de Estudos e Promoção da Investigação
Histórica e Social (CEPIHS), n.º 1, p. 248, Coimbra, Palimage, 2011,
p. 248.

                                     47
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


da Direção, e, agora, seu Presidente Honorário. Desta
Associação também eu sou sócio (caso curioso e altamente
honroso para mim é que o meu cartão de sócio tem a
assinatura do Presidente da Direção, isto é, do Dr. Adriano
Vasco da Fonseca Rodrigues, datado de 1988, e que eu
guardo, religiosamente, no meu arquivo pessoal).
     Das atividades, nas quais coincidi com o Senhor Dr.
Adriano, destaco as seguintes: em 1988, em Mogadouro,
na Comemoração do Centenário do nascimento de
Casimiro Henriques de Moraes Machado, promovida
pela Câmara. Desta homenagem resultou a publicação
de um opúsculo com as palestras efetuadas pelo Dr.
Adriano Vasco Rodrigues, Dr. Armando Calejo Pires e
por mim próprio; no mesmo ano, prefaciou e apresentou
o livro do seu grande amigo, Dr. Casimiro Henriques de
Moraes Machado, Mogadouro – um olhar sobre o passado; em
2001, elaborou um trabalho intitulado “O Pelourinho de
Mogadouro”, para a Revista n.º 2, de dezembro, Fórum Terras
de Mogadouro, páginas 9 a 11, sendo diretores desta revista
António Moraes Machado, António Pimenta de Castro e
Maria da Natividade Ferreira; em 2004, escreveu o livro
Provérbios de Origem Sfardita no interior da Beira e em Trás-
-os-Montes, editado pela Câmara Municipal de Mogadouro,
a cujo lançamento tive o prazer de assistir; em 2006, em co-
-autoria com Maria da Assunção Carqueja Rodrigues,
saiu o excelente livro Felgar – História, Indústrias Artesanais,
Património, com apresentação em Moncorvo, fazendo eu
parte do grande número de pessoas que a ela acorreram;
em 2008, colaborou na Revista Campos Monteiro, n.º 3, com

                                       48
Percursos de razão e afetos


o artigo “Torre de Moncorvo e o alvorecer do Japão no
Ocidente”, a qual também integrei com o artigo “Guerra
Junqueiro – Epicurista”, tendo o privilégio de participar
no seu lançamento. Finalmente, em janeiro de 2011, foi
apresentada, na Escola Secundária Dr. Ramiro Salgado,
de Torre de Moncorvo, o n.º 1 da Revista CEPIHS, órgão
do Centro de Estudos e Promoção da Investigação
Histórica e Social, de que o Dr. Adriano Vasco Rodrigues é
fundador. Aquele exemplar integra o seu artigo intitulado
“Dissertação a propósito da Implantação da República em
Torre de Moncorvo”, em co-autoria com a Dra. Maria da
Assunção Carqueja Rodrigues. Colaborei nesta publicação
com o trabalho “O Projecto de Guerra Junqueiro para a
bandeira da República”.
     Esta revista foi dedicada aos dois investigadores, como
reconhecimento da sua importante ação cultural a favor da
nossa região, tal como o tributo presente, gestos que se
juntam aos muitos que coroaram a sua carreira, como o
facto de lhe ter sido conferido o título de Diretor Jubilado
da Schola Europaea e ser agraciado com vários louvores
e condecorações, nomeadamente, com a Comenda da
Ordem do Infante D. Henrique.
      Foi, para mim uma honra falar do Dr. Adriano Vasco
Rodrigues e prestar-lhe, assim, a minha sincera homenagem,
bem como à Dra. Maria da Assunção Carqueja Rodrigues,
símbolos das altas virtudes das nossas gentes.
     Estes investigadores enobrecem Trás-os-Montes e o
nosso país. Bem-hajam!


                                 49
Percursos de razão e afetos




                 DO OUTRO LADO DA LINHA...

                                                  Arnaldo Duarte da Silva*



      Estávamos em maio de 2009. Germinava na minha
cabeça um pulverizar de ideias acerca da personalidade que
iria ser o patrono do Núcleo Museológico da Fotografia do
Douro Superior, em Torre de Moncorvo.
      Fez-se luz. Na fotografia, a mesma tem a propriedade
de decompor os sais de prata que entram na composição da
camada sensível do suporte a sensibilizar. Mas a luz fixada
no meu pensamento era a do Senhor Professor Adriano
Vasco Rodrigues. Surgiu como um raio luminoso que iria,
com todo o seu saber, proporcionar um elevado grau de
sensibilidade nas pessoas presentes. Liguei-lhe pela noite
e do outro lado da linha, a lembrar Torga ou até a Isabel
Mateus, absorvo um quem é, não como intruso, mas sim
num posicionar esclarecido. E foi desse outro lado da linha,
com um grau de abertura extraordinário, tal como nas

* Diretor e proprietário do Núcleo Museológico da Fotografia do Douro
Superior, Torre de Moncorvo.


                                    51
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


objetivas que proporcionam e nos dão a possibilidade de
trabalhar melhor , experimentando vários efeitos de luz e
sempre com grande profundidade, que o Senhor Professor
anuiu, sem condições, ao meu convite. Mesmo assim,
ainda me penitenciei a pedir-lhe desculpas pelo incómodo,
sabendo que o mesmo lhe traria imensas satisfações.
     E são com elas que, discorrendo para a fotografia,
sabemos qual a forma ideal para encontrar o sucesso na
imagem. Este não depende só da exposição correta, do
melhor doseamento no revelador de brometo e potássio,
ou ainda quando o negativo é muito translúcido. A imagem
tem que ser vigorosa, com contraste o suficiente e,
inevitavelmente, qualidade superior.
     Do Senhor Professor absorvi, como atributos ímpares,
a transparência, o vigor e a qualidade.
     A transparência porque foi verdadeiro e didático ao
sugerir-me que não fizesse um espaço para depositar coisas,
mas que fosse, sobretudo, instrutivo.
     O vigor, atendendo à sua energia que o fez estar presente
no dia da inauguração, como portador dos elementos
necessários para melhorar a intensidade do registo, como
que estando a dosear o seu telémetro, sempre com a
vantagem de não ter pensado no erro de percurso entre o
Porto e Torre de Moncorvo. Senti-o focado, entusiasmado
e disponível.
     A qualidade, esta sim, foi visível no seu discurso
improvisado, mas aproximado ao objeto, para mais de 200


                                      52
Percursos de razão e afetos


pessoas que albergava o espaço inaugurado, no dia 12 de
julho de 2009.
     Abordou, com amplitude, a iniciativa com abertura
real. Porém, o mais importante foi a sua focagem na
abertura útil. Os seus olhos determinaram uma grande
profundidade de foco que não tem paralelo nas tabelas
aproximadas para conseguir que todos os planos fiquem
reproduzidos com nitidez. Os mesmos, abertos ao máximo
no seu diafragma, conseguiram atenção e sem deformação,
vulgarmente designada aberração. O seu discurso fluído,
coberto de saber, qual emulsão, foi ao encontro do que era
expectável. Não apresentou bolhas de ar, nem tão pouco
marcas de sódio ou potássio, ainda que a temperatura
do dia rondasse os quarenta e cinco graus. Apelou à
preservação e à recuperação. Situou este Douro desde o
Cachão da Ribeira a Barca d’Alva. Falou do Douro romano
e da sua importância. E, por fim, rematou, proferindo,
qual lembrança de erudito ou político da nossa terra, que o
Núcleo Museológico valia ouro. E, neste campo, tal como
espaço panorâmico do lugar, clicavam-se sorrisos e palmas
e, até nos planos mais longínquos, se sentia a temperatura
ideal, talvez equivalente em sorrisos de alegria, tal como as
lâmpadas de tungsténio ao serviço do cinema e do retrato
profissional.
     Foi uma grande festa. O Senhor Professor Adriano
Vasco Rodrigues foi, é e será a referência deste espaço
museológico nascido sem as cartilhas dos especialistas e,
muito menos, sem o conflito de interesses destas coisas
da cultura. Ele é a peça, a obra, que deverá ser lembrada

                                 53
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


tal como a máquina que registou as primeiras imagens de
Torre de Moncorvo.
     No arquivo existente, procurei, confesso com pouca
organização, imagens do Felgar. Logo surgiram cerca
de trinta das décadas de cinquenta e sessenta. As mais
impressionantes, talvez pelo sentir profundo emanado,
são as da Procissão da Senhora do Amparo, de 1956. As
outras, registos imortalizados pelo Senhor Zeca Peixe e
pelo Dr. Horácio Brilhante Simões, fazem luz de um tempo
eternizado em fórmulas preciosas ao revelar negativos.
Convém referir que muitos deles, e chegados até nós, foram
conservados atendendo a uma fórmula sábia de hipossulfito
de soda, metassulfito de potássio e água.
     Na realidade, as dezenas de milhares de imagens
reunidas no Núcleo Museológico da Fotografia do Douro
Superior e todo o seu espólio são um marco significativo,
sem halo, em toda a região transmontana. Mas, se as
imagens são também importantes para melhor homenagear
o Senhor Professor Adriano Vasco Rodrigues e a sua esposa,
é minha convição que os homenageados, pela humildade e
desinteressada forma de estar na vida, ficariam bem felizes
só pelo facto de lhes transmitirmos o nosso agradecimento.
Um muito obrigado.




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Percursos de razão e afetos


Fotografias do acervo do Núcleo Museológico da Fotografia
                    do Douro Superior
             Felgar – anos 50-60 do século XX




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                O TEMPO DE TERNA MEMÓRIA

                                                      Belmira Parente*



     Recebi, com alegria, o convite para me juntar à justa
homenagem que te dedicam, a ti e ao teu marido. E, numa
página, apenas, recordo a nossa vida de colegiais. Com
saudade!
     Fomos colegas desde a admissão ao Liceu até ao 6.º
ano (hoje, 10.º ano), no Colégio de Lamego. A nossa
amizade vem daí, de um tempo de crianças, de um tempo
de obrigações, de ensinamentos, de formação dos espíritos.
Atravessámos a vida com a esperança e o optimismo
inculcados então.
     Não posso deixar de registar alguma memória,
hoje, linda, na altura penosa: a Matemática, verdadeira
dor de cabeça, que a irmã Marieta teimava em acentuar;
a disciplina, que impunha levantarmo-nos às 7 horas da
manhã para irmos à missa; o castigo de prato na mão no
recreio, porque não comia a tempo, o que me impedia

* Colega de Maria da Assunção Carqueja, no Colégio de Lamego.


                                   61
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


de jogar à bola e ao ring contigo e as demais colegas; as
escassas idas a casa, só em férias, a saudade da família que
tentávamos atenuar falando dela, da casa, das brincadeiras
com os irmãos. Mas retenho, também, o doce sabor das
castanhas de amêndoas feitas pela tua Mãe e que connosco
partilhavas quando regressávamos de férias, e a imagem do
quanto estavas animada, naquele passeio do Colégio pela
estrada da Régua, por causa de uma tentadora árvore cheia
de medronhos...
     Uma outra lembrança permanece, a dos teus primeiros
versos! Escreveste-os quando estávamos prestes a fazer o
exame de admissão no Liceu, algo que denunciava, já, a
tua veia poética e perspetivava a grande Poeta que vieste a
revelar-te. Recordo-os aqui, com a ternura que nos remete
para esses momentos e para todos os momentos que, ao
longo destes anos, temos vivido em verdadeira amizade.

                     Lá em cima está a raposa
                     Cá em baixo a admissão
                     Juntaram-se os dois á esquina
                     E combinaram entre si
                     Não haver reprovação




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Percursos de razão e afetos




     PARA UMA BIBLIOGRAFIA ABRANGENTE DA
              FREGUESIA DO FELGAR:
        O CONTRIBUTO INTRANSPONÍVEL DE
    MARIA DA ASSUNÇÃO CARQUEJA RODRIGUES
           E ADRIANO VASCO RODRIGUES

                                                       Carlos d’Abreu*
                                                         Otília Lage**



     0. Intróito

     Amigos comuns, bem como a direção do Centro de
Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social
em Trás-os-Montes e Alto Douro (CEPIHS), com sede
nesta Vila – apesar de saberem desde a primeira hora que
estaríamos hoje e aqui neste lugar presentes –, fizeram
questão que nos associássemos diretamente à homenagem
de que seriam alvo, os nossos simpáticos concidadãos,
conterrâneos, pedagogos e investigadores, Professores


* Investigador.
** Colega de trabalho de Maria da Assunção Carqueja.


                                    63
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues,
ambos felgarenses e guardenses, ambos transmontano-
durienses e ribacodanos.
     Pois se ele “pagou o vinho” no Felgar para aí passar
a pertencer, ela, com o consórcio, ganhou foros de beirã,
uma vez que esse negócio pressupõe partilha, uma partilha
de meio século, ou para sermos mais rigorosos, de 55 anos
e 1 mês, uma vez que casaram neste mesmo dia, mas do
mês de setembro do ano de 1956.
     Somos por isso duplamente conterrâneos, não fora o
Douro a linha de união entre esses dois territórios, aliás o
grande coletor comum de milhentos cursos de água e um
dos principais elementos articuladores de toda a Península
Ibérica.
     O Professor Adriano atravessou-o vindo de Sul e a
Professora Assunção em sentido inverso. Encontraram-se
no caminho e passaram a caminhar juntos, numa longa e
frutífera jornada, que prossegue.

    1. Principal bibliografia dos autores relativa
    ao Felgar (e região envolvente)

     Na sua vasta bibliografia por várias áreas do Saber,
própria de quem negou o ócio por ter consciência de que
“o tempo dá-o a Natureza de graça”, cedo tomaram o gosto
pela investigação.
     Passando em revista a sua Obra, percebe-se que
amaram todas as terras onde viveram e trabalharam,
porquanto, sendo docentes, o mais “natural” era que as suas

                                      64
Percursos de razão e afetos


preocupações fossem para os temas gerais; todavia, eles
também desceram ao particular, dedicando trabalhos de
investigação a sítios e localidades, próximas e longínquas,
independentemente do seu estatuto administrativo, em
Portugal e Angola, no domínio da História, da Arqueologia,
da Arte, da Etnologia, do Património em geral e, até na arte
de cantar em verso, sempre com o fito de contribuírem
com alguma luz, ao ignoto, ao desconhecido, ao obscuro.
     Nessa senda, a freguesia do Felgar – e também o
concelho e região envolvente –, foi visada pelos olhos
atentos dos dois investigadores.
     E a primeira manifestação telúrica surge logo em 1955,
quando a estudante Maria da Assunção Carqueja apresenta
à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a sua
dissertação de Licenciatura intitulada Subsídios para uma
Monografia da Vila da Torre de Moncorvo, meritório trabalho
de leitura e estudo da documentação medieval do arquivo
histórico municipal (que havia sido iniciado pelo Abade de
Baçal) e cuja publicação há muito se impunha.
     Seguem-se vários outros trabalhos, ora por ela, ora
pelo marido, ora em parceria de ambos e, em alguns (raros)
casos até com outros autores, como sejam:
     – A Vila Morta de Santa Cruz da Vilariça, publicado em
1957;
     – Olarias do Felgar, em 1958;
     – Fabrico da telha no Felgar, ainda em 1958;
     – Necrópole de Civitas Aravorum. Marialva – Meda, em
1961;


                                 65
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


     – Missão de estudo arqueológico na região da Vilariça –
Moncorvo, em 1962;
     – Subsídios para o estudo das ferrarias do Reboredo –
Moncorvo, também em 1962;
     – Problema das fundições romanas de ferro. Escavação feita
segundo a técnica tridimensional numa ferraria do Reboredo
(Moncorvo), em 19651;
     – Retrospectiva Histórica dos Concelhos de Meda, Longroiva e
Marialva, em 1976;
     – Foz Coa contra Moncorvo – a disputa da barca do Douro, em
1980;
     – Terras de Meda – Natureza, Cultura e Arte, em 1983;
     – Retábulo flamengo da Parentela de Santa Ana na igreja
matriz de Torre de Moncorvo, em 1990;
     – Terras da Meda – Natureza, Cultura e Património (reed.)
em 2002;
     – A contribuição para o estudo do Paleolítico Inferior na
Região do Coa, 2003;
     – Provérbios de origem Sefardita no interior da Beira e em
Trás-os-Montes, em 2004;
     – Felgar, em 2006;


1
  Estes dois opúsculos influenciaram o nosso interesse (Cd’A) pela
mineração e metalurgia do ferro na nossa região e foram companheiros
durante anos, antes, durante e após, o levantamento que fizemos dos
escoriais de ferro, das escavações arqueológicas na ferraria da Chapa-
cunha (Mós) em que participámos e trabalhos ulteriores. O último
deles, constituiu mesmo, a primeira lição no âmbito da Arqueologia
Experimental.

                                        66
Percursos de razão e afetos


     – Documentos Medievais de Torre de Moncorvo, em 20072.
     Mas é sobre o Felgar e o seu livro, de autoria do casal,
que nos debruçaremos, como no título se percebeu e, não
obstante dele se apresentar na segunda parte deste artigo
uma recensão crítica, não poderemos deixar de referir
que nele, livro, as palavras constituídas pelos substantivos
próprios “Silhades” e “Sabor” são as mais utilizadas, depois
de “Felgar”. Não podia ser de outra maneira. É nessa
trilogia (termo que preferimos a troika) que esta freguesia,
esta paróquia, esta autarquia, esta aldeia, este povo e esta
comunidade radicam, desde os princípios dos tempos.
     Felgar, a única freguesia do Concelho cujo termo
se reparte entre as duas margens de um Rio, deve a sua
existência a Silhades e esta nasceu porque o Sabor ali passa.
     A vetusta Silhades, com assento na margem direita
daquele importante afluente do Douro, envolta por
excelentes terras de cultivo, foi propriedade realenga, ou
seja, régia, no início da Nacionalidade e com pergaminhos
mais antigos que o concelho de Torre de Moncorvo (1285),
ou mesmo o de Santa Cruz da Vilariça (1225), de quem
aquele herdou o termo e as prerrogativas.
     Localizava-se naquelas medievas eras nos limites
do antigo concelho de Mós (1162), a cujos habitantes
D. Sancho I em meados de maio de 1200, passou uma
carta de doação perpétua deste seu reguengo, com os seus

2
 Estes dois últimos livros incluem a compilação de vários opúsculos, que
assim se reúnem, revistos e ampliados. O segundo deles é preenchido
sobretudo pela dissertação de Licenciatura de MAC.

                                     67
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


termos novos e antigos, para que o povoassem [carta de
donationis aos populatoribus de Moos do nostro regalengo quod
uocatur Siliade… cum suis terminis nouis et ueteribus].
     Mas antes destes povoadores baixo-medievais, tivera
outros, numa ocupação sucessiva desde a Pré-história mais
longínqua, intensificada durante a Romanização, como
os abundantes vestígios arqueológicos atestam: desde
instrumentos líticos e gravuras rupestres do Paleolítico, até
à arte móvel, fortificações e outras estruturas arquitetónicas
da colonização romana e da Idade Média.
     A geomorfologia e a ação antrópica modelaram a sua
paisagem. Novos animais e novas plantas se instalaram.
Com o incremento da agricultura foi reduzida a área de
coberto vegetal natural. Mas como a Natureza é sábia,
reservou o leito de cheia do Sabor para arquivo, para
aí poder ir buscar as sementes sempre que necessário
e assim preservar a flora autótone. Só que a soberba do
homem cresceu e agora vai afogar o vale.
     Os mais atentos já perceberam onde queremos chegar.
     Durante os árduos anos de luta contra o projeto do
empreendimento hidroelétrico do Baixo-Sabor, isto é, a
construção de duas gigantescas presas, numa manifestação
popular in situ, ouvimos um felgarense exclamar: – querem-
-nos pôr a pescar da janela!
     Pois é. Por isso também os felgarenses aqui
homenageados – “como filhos de boa gente” – perguntam
a páginas tantas no seu livro, porque não se procuram outras
alternativas energéticas, ou em vez de megabarragens, hoje


                                      68
Percursos de razão e afetos


cientificamente condenadas, construírem pequenas barragens? (pp.
70-71).
      É certo e sabido que apesar das promessas de criação
de emprego e de progresso, através da construção de
barragens no Douro e seus afluentes, iniciadas durante as
ditaduras ibéricas, barragens essas que representam tanto
em potência como em produção quase 25% da produção
hidroelétrica nacional espanhola e mais de 60% da nacional
portuguesa, elas não contribuíram nem contribuem para
o desenvolvimento da região e, a prova está na sangria das
suas gentes desde então para cá, tornando-se numa região
de baixa densidade demográfica, em franco despovoamento
e muito envelhecida.
      É pois muito difícil perceber, como é que uma região
que produz tanta riqueza, pode ser tão pobre!

     2. Recensão crítica da obra: RODRIGUES,
     Maria da Assunção Carqueja, RODRIGUES,
     Adriano Vasco – Felgar: História, Indústrias
     artesanais, património. [Coimbra]: Edição dos
     Autores, 2006.

     No contexto da bibliografia de referência histórica,
arqueológica e patrimonial de Moncorvo e do Felgar,
é fundamental determo-nos na leitura e apreciação da
importante obra que é Felgar: História, Indústrias artesanais,
património, da autoria coletiva de Maria da Assunção
Carqueja Rodrigues e Adriano Vasco Rodrigues, livro
graficamente muito cuidado, enriquecido de minuciosos

                                  69
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


mapas, belas fotografias e complementado ainda por
singular contributo estético – literário dos autores e seus
descendentes diretos, filhos e netos.
     Aliás, esta dimensão gostosamente afetiva e motivante,
simultaneamente humana e pedagógica que atravessa esta
importante obra de história local, destaca-se também,
desde logo, na apelativa e pedagógica nota de abertura
que é o empolgante “Hino Felgarense”, poema de Maria
da Assunção Carqueja de 1950 (pp. 9-10) e ainda na “chave
de ouro” que a encerra com “Alguns poemas dedicados
ao Felgar” da mesma autora, ficcionalmente auto-referida
como “Mariazinha persiste/era de lá, lá ficou” (versos do
último poema Mariazinha ficou…, pp. 327-328).
     Para além desta nota imediatamente apreensível,
sobressai igualmente de imediato o rigor analítico e a
exigência científica e académica do tratamento com que
os seus autores abordam os diversos conteúdos e variados
temas que fazem da presente obra uma referência decisiva
e inultrapassável para qualquer estudioso do Felgar e de
Moncorvo, terras de origem e adoção de seus autores.
     Consagrado à memória do grande empreendedor
económico e negociante de frutos secos, riqueza da
região, Gualdino Augusto Carqueja e esposa, Evangelina
da Conceição Carqueja, respetivamente pais e sogros dos
autores, este livro (332 páginas profusamente ilustradas),
com prefácio/carta do amigo comum dos autores, Dr.
Armando Pimentel, divide-se em três partes essenciais:
uma primeira considerada introdutória sobre a antiga e

                                      70
Percursos de razão e afetos


já longa história do Felgar, nos seus mais variados aspetos
e plurifacetadas dimensões (pp. 21-262); uma segunda
parte, em que se transcrevem e atualizam “Trabalhos de
arqueologia no Felgar” (pp. 263-312) e uma terceira e
última parte já atrás referenciada, com “Alguns poemas
dedicados ao Felgar” de Maria Assunção Carqueja (pp. 313-
-328).
     Ao longo da primeira parte do livro, podemos
acompanhar, numa narrativa histórica de sabor etnológico,
bem urdida, encadeada e referenciada, a longa evolução
histórica da povoação do Felgar (agrícola, industrial e de
traços urbanísticos), desde o seu distante passado pré-
-histórico com os seus castros e divindades trazidas pelos
romanos até aos desportos, lazeres, tradições comunitárias
e aprazíveis ambientes naturais da atualidade, sem esquecer
alguns ilustres felgarenses, passando pelas invasões e
cultos medievais, o domínio da Igreja e da Inquisição e a
presença dos Judeus, a noticia das devassas e inquirições
na paróquia e já na Idade Moderna, a introdução do
Ensino Publico, notícia das populações e curiosidades,
sem que se esqueça a referência às repercussões locais de
acontecimentos históricos nacionais como o Ultimato ou
mesmo internacionais de que é exemplo a Guerra Hispano-
-Americana de Cuba.
     Já na segunda parte da obra, o enfoque vai para a
descrição, estudo e análise especialmente de trabalhos de
escavações arqueológicas com destque para a arqueologia
do ferro, realizados pelos autores, relevando-se a sua


                                71
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


contribuição para o estudo mais pormenorizado e
aprofundado das ferrarias de Moncorvo.
     Conclui-se esta obra com uma terceira e última parte
em que é divulgada uma amostra de 7 composições poéticas
de Assunção Carqueja, de acentuado sabor memorialístico
e laivos etnográficos entretecidos por uma íntima
sensibilidade ligada à sua terra natal, “Aldeia pequenina em
que nasci” (título de um dos poemas), isto é, o Felgar de que
outros poemas evocam particularidades como a “varanda”,
o “luar”, os “lares” (e outros tantos títulos).
     Trata-se efetivamente de uma das mais relevantes obras
da bibliografia transmontana sobre a região de Moncorvo
e a localidade bem antiga e genuína de Felgar. Todos
quantos a consultem manifestarão o seu reconhecimento
pelos estudos minuciosos e eruditos realizados ao longo de
anos e aqui parcelarmente compilados como é o caso do
texto “Subsídios para o estudo das Ferrarias do Reboredo-
-Moncorvo” de autoria conjunta, publicado como separata
da revista Lucerna, Porto, vol II, n.º 1-2, 1962 (e inserido
com o título “Contributo para o estudo das Ferrarias
de Reboredo” e algumas pequenas adaptações, ao nível
das gravuras em apêndice, na obra que aqui é objeto de
recensão crítica, pp. 263-285), ou do texto de Adriano
Vasco Rodrigues, “O problema das fundições romanas
do ferro escavação feita segundo a técnica tridimensional
numa ferraria do Roboredo (Moncorvo)”, publicado
igualmente em separata da revista Lucerna, Porto, vol. IV,
n.º 1, 1964 (e incluído também na obra Felgar, pp. 287-
-304 e acrescentado com mais ilustrações, uma notícia

                                      72
Percursos de razão e afetos


sobre minas de ferro e um breve vocabulário ligado ao
ferro) – textos estes que se encontram bem enquadrados
e devidamente reconfigurados na estrutura geral da obra
monográfica em análise.
     Percorrendo um longuíssimo arco temporal, que
decorre entre a recuada Pré-história do território onde
se desenvolveu a moderna povoação do Felgar até à nossa
Contemporaneidade, os conteúdos desta obra, sob diversas
formas de abordagem em que são dominantes importantes
e pioneiros estudos arqueológicos contextualizados
localmente, e desenvolvidos/orientados pelos autores,
centram-se na história, património e arqueologia do
concelho de Moncorvo que documentam e iluminam, de
modo substancial, singular e muito atrativo.
     Informam e preparam a sólida ancoragem deste
trabalho dos autores, uma de várias outras publicações suas
mais recentes (consulte-se a bio-bibliografia atualizada de
AdrianoVasco Rodrigues e outras contribuições da presente
antologia), anteriores estudos eruditos aqui não compilados
de que, citando apenas alguns títulos, salientamos, por
exemplo, de Maria Assunção Carqueja, Documentos Medievais
de Torre de Moncorvo, publicado pela Câmara Municipal de
Torre de Moncorvo em 2007, importante repositório
de fontes e documentos, cujos originais se transcrevem
seguidos das respetivas transcrições, mas também de
Adriano Vasco Rodrigues, A vila morta de Santa Cruz da
Vilariça, publicada na revista Horizonte, n.º 44, Dez. 1957,
pp. 73-76, ou ainda o trabalho, Missão de estudo Arqueológico
na região da Vilariça-Moncorvo, comunicação conjunta de

                                 73
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


Adriano Vasco Rodrigues e Domingos de Pinho Brandão,
apresentada ao I Colóquio Portuense de Arqueologia,
1961, e publicado no Porto, no ano seguinte.
     Depreende-se da leitura proveitosa desta multifacetada
obra, simultaneamente erudita e de divulgação, que os
seus conteúdos científicos e históricos impõem aos seus
leitores um estudo atento e bem informado capaz de
valorar devidamente os seus inúmeros pontos fortes quer
em matéria de conteúdo quer ao nível da contextualização
dos mais variados assuntos abordados.
     Situa-se esta obra na vasta e erudita tradição dos mais
importantes estudos monográficos, de pesquisa de terreno
e de investigação produzidos sobre Trás-os-Montes por
alguns dos nossos mais destacados estudiosos, como os
Professores Leite de Vasconcelos e J. R. dos Santos Júnior e
o notável erudito Francisco Manuel Alves, mais conhecido
como Abade de Baçal, influências que se podem aí registar.
É esta plêiade de autores e sua obra valiosa de grande
erudição e pioneirismo que Assunção Carqueja e Adriano
Vasco Rodrigues de modo algum ignoram e tomam como
exemplo a seguir, conforme se pode deduzir da coerente
estrutura, metódica organização e bem alicerçada tessitura
deste seu livro e de muitos dos seus anteriores trabalhos que
este incorpora, contribuindo deste modo para um avanço
significativo do conhecimento e dos estudos transmontanos.
     Nesta medida se considera, do nosso ponto de
vista, assente numa perspetiva de conhecimento, situado
enquanto historiadora e transmontana, amiga e admiradora
dos dois autores que, para lá de possíveis pontos de discórdia

                                      74
Percursos de razão e afetos


(por exemplo, a ausência de bibliografia que esta obra bem
pedia!), completamente ultrapassados pelos muitos mais de
concordância face às teses bem apresentadas e argumentadas
nesta obra de muito agradável e proveitosa leitura que
estamos em presença de uma monografia exaustiva sobre
o Felgar e Moncorvo. Estes trabalhos tornaram-se possíveis
pelo estudo aturado, pela produção intelectual e pesquisa
especializada de largos anos e pela exemplar colaboração
científica dos dois investigadores e estudiosos que são os
seus autores. É, indubitavelmente, como dizíamos no início,
um contributo decisivo e intransponível para a bibliografia
histórica, etnográfica e arqueológica de Trás-os-Montes.

     3. Nota final

      Numa nota final, que não desprovida de igual
importância, registe-se, ainda, que da poética da Professora
Assunção, ao folhearmos a revista Altitude (a revista de cultura
do distrito da Guarda e publicada nesta cidade), detetámos
a seguinte contribuição, que poderá eventualmente ser útil
a quem o assunto vier a tratar:
      – A nossa casa, datado da Guarda, 1957 (publicado no
n. 5-6 da 2.ª série), 1982;
   os

      – Um Soneto, idem, idem (ibidem, n.º 1 da 3.ª série, e
atual), 2003;
      – Três Sonetos [“A minha liberdade”, de 1999; “Quisera
ser Deus por um momento”, de 25.XI.1999; “Eu sou aquele
que sou!”, de 23.XI.1998] (ibidem, n.º 5), 2000;
      – Trágica Lei daVida, soneto (ibidem, n.º 6), 2001;

                                  75
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


    – Mundo da Saudade!, soneto (ibidem, n.º 7), 2002;
    – Os Tempos do Tempo e O rapaz que bateu à nossa porta,
este também soneto (ibidem, n.º 8), 2003;
      – Dó, Ré, Mi… (ibidem, n.º 9), 2004;
      – Meditando, de 22.VII.2006 (ibidem, n.º 10), 2006;
      – Sim!, “nas Bodas de Ouro, 8.IX.2006”, assinala-se no
final (ibidem, n.º 12), 2009.




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Percursos de razão e afetos




                       NOTÁVEL CASAL

                                                      Carlos Sambade*



     O fervor e a vontade de progresso têm expressão
liminar nos períodos que se seguem a tormentas na natureza
ou no homem., ainda que não haja uma razão certa de causa
e efeito.
     Em Portugal e em meados do século XX incidência
houve, no campo educacional, documentada a vários títulos,
parecendo, a alguns, que se estava perante uma tentativa
desesperada de mostrar serviço no campo da alfabetização
de modo semelhante, salvaguardadas as diferenças e as
distâncias, à hoje verificada com a formação profissional de
base.
     A «regência» de escolas nos locais mais recônditos,
em «quintas» anexas a freguesias, era atribuída a pessoal
rapidamente preparado, supostamente com vocação
para o ensino para abreviar outras dificuldades, sendo a
certificação obtida em provas, escrita e de prática de sala
de aula. É assim que muitos dos que viam na instrução e na
* Professor; Mestre em Educação.


                                   77
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


educação um valor sempre presente procuram contribuir
para esse desígnio na forma que encontram ao alcance.
     A coleção de “Pontos modelos de preparação para os
exames de aptidão à Regência de Postos Escolares” (1954)
e os problemas (de matemática) que os acompanham,
respetivamente de Adriano Vasco Rodrigues e de Arnaldo
do Nascimento Rodrigues, dão-nos uma medida desse
tempo, singela que seja, aqui e agora.
     Os pontos em questão são vinte e cada um deles é
composto por uma prova de ortografia/ditado, um tema
proposto para redação e problemas de aritmética.
     Dos vinte ditados, o primeiro centra-se em Salazar,
chefe do governo de então, que, segundo J. P. d’Assac,
autor do trecho, «não se parece com ninguém». Por outro
lado, o tema de redação proposto nesse ponto pede “uma
história em que entre uma rua íngreme, um velho operário,
dois alunos da Escola Primária e um carro de mão com um
pesado fardo”.
     Seis dos ditados têm como base a história de Portugal,
outros seis são textos de autores portugueses clássicos, dois
são da lavra de Salazar. Nos restantes aborda-se o conceito
de linguagem, a criança, a domesticação de animais dando
como exemplo o cão, feitos dos homens e de Cristo.
Dir-se-á que nada disso importa para ditado, contando
mais a cadência relacionada com a tonalidade inerente
a cada palavra ou frase. Não será totalmente assim se
considerarmos que a um texto é imputável uma qualidade
intrínseca que extravasa o criar dificuldades a quem é
pedido que o reproduza.

                                      78
Percursos de razão e afetos


      Os temas propostos para provas de redação abarcam
os costumes, os recursos naturais, as festas cíclicas, a
(vantagem da) alfabetização.
      Os problemas de índole matemática baseiam-se em
operações de transação corrente, patenteiam a necessidade
do cálculo, assentam nos sistemas decimal e sexagesimal.
      No ano de 1962 surge o primeiro volume da História
Geral da Civilização a que o notável casal deita ombros e
que vai ter sucessivas edições e algumas modificações, uma
vez que, como é referido no início do manual, «trabalhos
desta índole são sempre difíceis e de critério discutível».
Na 1.ª edição há uma necessidade de maior parcimónia
na explicação de propósitos, nomeadamente no que se
refere “a interpretação das Instruções com base nos mais
recentes métodos e processos pedagógicos, (…), a prática
experimental aperfeiçoada conforme as reações dos alunos
(…) e os resultados colhidos”.
      Na edição de 1962 (doravante HGC62), introdução,
logo à cabeça se indica que “Não há uma definição de
história, mas vários conceitos de história”. Com semelhante
relevo, na edição de 1971 (doravante HGC71), se pergunta
“Por que razão estudamos a história?”.
      Na HGC62, “A cultura é o aspeto espiritual da
civilização, que permite ao homem discernir, julgar e
refletir sobre os valores”. Na HGC71 a cultura é também
isso mas dá-se conta, logo de seguida, da impossibilidade da
cultura enciclopédica, nos dias que correm.
      Tanto numa como noutra das referidas edições do
manual se expressa que a civilização é “o conjunto de

                                 79
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


conhecimentos, costumes e instituições que integram a
sociedade de um povo ou de uma raça”, sendo, assim, “um
ponto de chegada e um ponto de partida”.
      Na HGC71, imediatamente a seguir à introdução e sob
o título Das culturas indiferenciadas à civilização urbana, são
encaixadas, comparando com a HGC6, dezassete páginas,
com uma nota de rodapé na primeira de elas: “Embora o
Programa não faça menção especial a esta rubrica, julgamos
conveniente expressá-la em linhas gerais para melhor
compreensão das civilizações pré-helénicas”. Só depois se
abordam, na HGC61, “As Civilizações Orientais, a Ciência
e a Técnica” e na HGC71 “As Civilizações Orientais, a
Ciência, a Técnica e a Arte nas Civilizações Orientais e Pré-
-helénicas e a sua influência na génese da Civilização Grega”.
      Noutro campo (e não se incluirá a arqueologia na
certeza de que outros o farão com mais propriedade),
ficamos a saber melhor que houve várias mercadorias-
-padrão que não foram liminarmente abolidas com as
“unidades ponderais geralmente de forma anular” (As
Origens da Moeda, 1956, Separata do Jornal O Cávado,
Esposende).
      Da defesa de direitos de autor (1958) à possibilidade
de ampliar o campo especifica e essencialmente educacional
(1973) nele dando mais ênfase à arqueologia (nem que,
para isso, esta tenha, de certo modo, de se deixar adaptar),
passando pelas virtualidades e vicissitudes vividas, há mais
de quarenta anos, na potência-Angola, uma certeza fica, na
sombra e ao sol, abrigando-nos: “A saudade tem-se”. Este
ter é da ordem do ser.

                                       80
Percursos de razão e afetos




            MARIA DA ASSUNÇÃO CARQUEJA
              UMA ILUSTRE FELGARENSE

                                                          Carlos Seixas*



     1. A má porta veio bater pessoa Amiga quando me
escolheu, um obscuro escrevinhador de artigos, um simples
amador das letras e das coisas do antigamente, para, com 6
páginas de prosa tosca e sem brilho, participar numa mais
que justa e merecida Homenagem à Dra. Maria da Assunção
Carqueja, minha ilustre conterrânea.
     E tão acanhado me reconheço e sinto, que nem sequer
me atrevo, ainda que profundamente honrado, a fazer a
clássica apresentação de tão ilustre felgarense nas suas nobres
qualidades de extremosa Mãe, de insigne investigadora e
poetisa, de pedagoga e docente com vasta aptidão literária
e capacidade intelectual … e vá a responsabilidade a quem,
depois de ter tido a tão louvável ideia de Homenagem,
praticou o erro tremendo de encarregar um desconhecido
rabiscador, que nada vale, para alinhavar meia dúzia de ideias
de testemunho para uma homenageada que vale tanto!
* Advogado; investigador.


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Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


     É que sempre corro o risco de que alguém, sorrateiro e
malicioso, a sorrir, me pergunte ironicamente quem é que,
primeiramente, me apresenta a mim, visto que, mesmo
procurando e rebuscando os recantos mais esconsos e os
limbos da nossa existência terrena, de comum com tão
brilhante homenageada só um ponto nos une: o de sermos
ambos, com a diferença da idade de Jesus Cristo, nados e
criados no Felgar, naquele torreão natal que, concedo sem
relutância, a Dra. Maria da Assunção Carqueja ama mais
que eu, um Amor terno, bem manifestado na sua obra
poética e, em particular, melhor expresso no mote de um
seu poema de 1950: “És tão linda, ó minha aldeia”, mais
tarde adoptado como hino felgarense e brilhantemente
musicado pelo maestro e compositor António Pedro num
acasalamento mais do que perfeito de poesia e música.
        Ainda neste campo, cometeria uma enorme
ingratidão, se não fizesse também referência, ainda que ao
de leve, a outro exemplo de Amor à terra e que se traduziu
na publicação do excelente livro monográfico intitulado
Felgar, editado em 2006, seja, em ano de gozo das bodas
de ouro dos seus autores e ora homenageados, os quais,
em parceria, elaboraram uma obra de consulta obrigatória
sobre esta nossa aldeia e que sei ter tido uma óptima
aceitação por todos os felgarenses que se preocupam
em saber das suas raízes e em saber sempre mais sobre a
imensidade dos fastos históricos aí narrados. Bastaria esta
obra monográfica, e até agora única, para que o nome dos
seus autores seja para sempre recordado e associado a uma
importante iniciativa e a uma mui válida pedrada no charco

                                      82
Percursos de razão e afetos


que veio abanar o marasmo cultural das águas calmas em
que o Felgar navegava.
    Oxalá que tão exemplar comportamento sirva para
nortear e atiçar outros curiosos ou entidades a promoverem
mais estudos e publicações deste cariz. De certeza que as
nossas aldeias e a região culturalmente só tinham a ganhar
com idênticas iniciativas.

     2. E foi, ainda menino e moço, na década de 70 do
século passado, ao som dos acordes musicais da Banda
Filarmónica Felgarense, em dias de nomeada, festivos ou
de romaria, ou a ouvir as vozes das mulheres cantadeiras da
nossa terra, em dias de labuta doméstica ou lide rural, que
tantas vezes entoavam e trauteavam o hino felgarense, que
me levou à natural curiosidade de saber quem era o autor
de tão belo poema. A resposta veio célere e algo explicativa.
– É a Dra. Maria da Assunção, filha do Senhor Gualdino
–, respondiam-me os mais idosos. Logo, por ser filha de
quem era, consegui identificar a autora, pois, naquela
altura, o berço ainda gozava de foros de autenticidade e de
consideração social e sendo, como alguém já escreveu, o
Felgar uma terra com memória constatei, um tanto ufano e com
sentido orgulho bairrista que, afinal, no campo feminino,
a par de outra poetisa felgarense, Brígida Janeiro (1894-
-1974), com quem cheguei ainda a conviver e a escutar
atenciosamente a leitura e declamação de alguma da sua
poesia, em longínquos e saudosos serões culturais que se
perdem na bruma da minha memória, o Felgar tinha no seu
seio e era terra natal de outra poetisa, a ora homenageada.
Assim, a nossa memória, coletiva e individual, inequívoca e
indelevelmente ficava mais rica. Muito mais rica.

                                 83
Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


     3. Mais tarde, já adulto, estando naquela fase da super
curiosidade relativamente à causa das coisas e na de tentar
recolher avidamente o máximo de informação oral e escrita
sobre o passado do Felgar ou de compilar tudo o que à nossa
terra dissesse respeito, reparo, ao consultar as folhas delidas
e gastas do jornal A Torre, editado nos meados do século
passado aqui em Torre de Moncorvo, com alguns poemas
assinados sob o pseudónimo de Carqueja da Serra. Agora,
já não precisei de perguntar ou de pedir auxilio a terceiros
para apurar da identidade de tão ilustre autora. O nome
com as suas 2 singelas palavras dizia tudo. Sem precisarmos
de ser especialista ou de ter passado tempo a dissecar
sementes de filologia, é fácil dar com o rasto etimológico
ao nome Carqueja, a Pterospartum tridentatum do latim, e
que é um arbusto que abunda nos matagais das encostas
da Serrinha e do Cabeço da Mua, cuja flor tem alguma
importância medicinal, manuseada em tisanas ou mezinhas
caseiras para combater as constipações ou para fazer-se
um chá para atacar os males do fígado. Não olvidamos,
ainda, que a propriedade principal deste arbusto, que pode
atingir o máximo de 1 metro de altura, era a de ser ideal
para produzir a combustão, para fazer-se lume e aquecer-
se o forno da poia, importante e imprescindível atividade
industrial da época.
     Daí, se nos afigurar que aquelas que se dedicavam à
venda deste arbusto e de tal faziam profissão eram conhecidas
como as “carquejeiras”, ou as “carquejas” ou, pelo lado
masculino, os “carquejos”.
     Estava assim o étimo Carqueja duplamente bem ligado
à toponímia por, como se intui, visar homenagear a Serrinha

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Percursos de razão e afetos


e o Cabeço da Mua, o tal “altar que tem aos seus pés o
povo do Felgar” e à onomástica felgarense, cuja existência
e conhecimentos de antroponomia e genealógicos me
levam aos inícios do século XIX, mais precisamente ao
trisavô da Dra. Assunção, Domingos Manuel Carquejo,
ancião com vasta prole e descendentes com ocupação nos
modestos ofícios de jornaleiros e artífices, até chegarmos
a seu Pai, Gualdino Augusto Carqueja (1907-2003), senhor
que, paulatinamente, passo a passo, construiu um império
comercial e ocupa, por direito próprio, um lugar merecido
e destacado nos notáveis felgarenses do século XX. Assim,
a história seja justa e lhe reconheça tal posição.

     4. Igualmente, já nos idos do mês de março de 1995,
tive o enorme prazer de ter descoberto e obtido fotocópias
de uma obra, completamente esgotada, de difícil acesso
e já por mim tão procurada. Refiro-me à dissertação de
licenciatura Subsídios para uma monografia da vila de Torre
de Moncorvo apresentada e defendida, em 1955, pela Dra.
Maria da Assunção Carqueja na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, e que o Município em boa
hora veio a reeditar, tendo a autora revisto e procedido
a atualizações com novas notas e fotografias que muito
enriqueceram a edição. Tornou-se obra de consulta
indispensável para qualquer investigador, amador ou
profissional, amante ou mero curioso da história local.
      E foi esta uma obra que muito me ensinou sobre as
nossas origens e importância que Moncorvo teve em eras
passadas, quando, inclusive, foi tida como a maior comarca

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Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues


de Portugal. Igualmente, e já o escrevi noutras paragens,
foi num documento aí publicado que vi a primeira
referência escrita ao Felgar, enquanto aldeia e que informa
que, em 1326, quatro moradores felgarenses assinam,
como testemunhas, uma postura da Câmara que proibia a
entrada do vinho de fora no concelho, enquanto houvesse
vinho da vila e do seu termo. Essa referência, para ser
bem compreendida, carece de oportuno enquadramento,
alguma explicação e desenvolvimento em futuro trabalho.
      Permita-se-me, agora, abrir um pequeno parênteses
para contar um acontecimento real. Na única vez que tive o
prazer de falar mais demoradamente com a homenageada,
aos 25 de setembro de 2005, após a realização de uma
jornada cultural na freguesia de Felgar presidida pelo seu
marido, Dr. Adriano Vasco Rodrigues, sob o patrocínio
da Junta de Freguesia, veio, no meio da conversa e a
talhe de foice, uma alusão a esta sua obra e lembro-me,
perfeitamente, de ter pedido e insistido, várias vezes,
com a Dra. Maria da Assunção para a necessidade de
reeditar aquela sua obra, por se me afigurar que, além da
velha e quase inacessível monografia do Abade de Baçal
sobre Moncorvo, de 1908, as poucas obras monográficas
existentes relativas ao concelho deixavam muito a desejar.
Era necessário dotar os novos investigadores de uma obra
mais acessível para se ler e consultar, com riquíssimo
valor histórico, fruto da consulta e transcrição das fontes
originais primárias, consubstanciadas em 39 documentos
de um núcleo de pergaminhos medievais do arquivo
municipal. O seu valor histórico é incalculável, por abordar

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Percursos de razão e afetos: homenagem aos professores Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues
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Percursos de razão e afetos: homenagem aos professores Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues

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  • 3. PERCURSOS DE RAZÃO E AFETOS Homenagem aos Professores Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues Coimbra • 2011
  • 4. Título PERCURSOS DE RAZÃO E AFETOS Homenagem aos Professores Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues Autores – Vários Coordenação – Adília Fernandes Capa – Isabel Caldeira (Arquiteta) Fotografias cedidas por: Adriano Vasco Rodrigues, Alcides Amaral, Ana Subtil Roque, Arnaldo Silva – Núcleo Museológico da Fotografia do Douro Superior – Torre de Moncorvo, Carlos Seixas, Jorge Trabulo Marques © Adília Fernandes – 2011 Co-edição CEPIHS – Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social – Torre de Moncorvo Palimage Direitos reservados por Terra Ocre – unip. lda. Apartado 10032 3031-601 Coimbra palimage@palimage.pt www.palimage.pt Data de edição – outubro 2011 ISBN: 978-989-703-025-3 Depósito Legal n.º 334705/11 Impressão – Publito – Estúdio de Artes Gráficas, Lda. – Braga Apoio – Câmara Municipal de Torre de Moncorvo Palimage é uma marca editorial da Terra Ocre - edições
  • 5. PERCURSOS DE RAZÃO E AFETOS Homenagem aos Professores Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues Coordenação Adília Fernandes A Imagem e A Palavra
  • 6.
  • 7. Percursos de razão e afetos NOTA DE APRESENTAÇÃO É com muita alegria e a maior honra que, em nome do CEPIHS – Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social –, apresentamos este registo de manifestação pública de louvor a Maria da Assunção Carqueja Rodrigues e a Adriano Vasco da Fonseca Rodrigues. Justo preito de homenagem resultante de um sentir comum de amizade, reconhecimento e gratidão por duas personalidades ímpares, de vida profissional e cívica intensa e modelar. Eles são a referência de valores essenciais incontestáveis, o guia precioso de sucessivas gerações, o despertar do apreço pelo património, local e nacional, a consciência da cidadania útil e do bem comum. Evoca-se, aqui, passo a passo, em tocantes depoimentos, esse percurso brilhante e rico de importantes realizações, ressaltando-se o lugar privilegiado que a nossa região ocupa nele. Paralelamente, entretecem-se com aqueles que testemunham uma convivência com afetos, cortesia e sentido do outro, dádivas que são, igualmente, seu timbre. Face às distintas visões que os contemplam, fica-nos a convicção, que não reivindicamos como inédita, que fluem sob uma indiscutível coerência – todas os moldam como 7
  • 8. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues incontornáveis referências intelectuais e humanas. De facto, se a constatação de que o seu importante labor – ou missão – nos transporta para um conhecimento amplo das nossas terras e das nossas gentes, não esbate a perceção de estarmos perante dois seres humanos de excelência. Esta é, sobretudo, uma homenagem do coração. Ele pulsa porque a Professora Maria da Assunção é uma inestimável filha da nossa terra e porque o Professor Adriano Vasco Rodrigues a adotou, orgulhosa e generosamente, como sua também. O entusiasmo que esta iniciativa gerou, alargado à autarquia, a instituições particulares, aos inúmeros admiradores e amigos, é bem prova disso. É prova, ainda, que apesar deste tributo pecar por tardio não perdeu a sua pertinência nem a vontade de traduzir e assinalar, hoje e sempre, a dívida de toda uma coletividade a Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues, porque, diligente e persistentemente, a beneficiaram e, profundamente, a engrandeceram. Em boa hora se congregaram vontades da parte da Câmara Municipal e do CEPHIS para a sua organização. Desejamos todos, Senhores Professores, que prossigam na senda a que nos habituaram, com a distinção e a sabedoria que lhes é peculiar. Uma senda que se cruza, agora, com o Centro de Estudos Transmontanos e Alto Durienses, com sede em Torre de Moncorvo, superiormente prestigiado com a presença de ambos e que conta com o Senhor 8
  • 9. Percursos de razão e afetos Professor Adriano Moreira como patrono. Esta iniciativa, cuja criação tanto lhes deve, simboliza, sem dúvida, o amor à região e ao seu estudo e a determinação em continuarem a trilhar e darem a trilhar caminhos proveitosos e atuantes. Terminamos, recorrendo a uns versos de Miguel Torga, não só porque a poesia é constante nesta homenagem, emprestando-lhe elegância e beleza, mas porque nos remetem para os homenageados – figuras, intelectualmente, combativas por ideais e princípios ligados a uma exemplar visão do mundo e da vida. De seguro Posso apenas dizer que havia um muro E que foi contra ele que arremeti A vida inteira Miguel Torga Pel’ A Direção do CEPIHS, Adília Fernandes 9
  • 10.
  • 11. Percursos de razão e afetos HOMENAGEM DO MUNICÍPIO DE TORRE DE MONCORVO AOS SENHORES PROFESSORES MARIA DA ASSUNÇÃO CARQUEJA E ADRIANO VASCO RODRIGUES Serei considerado obviamente suspeito, porque, tendo tido sempre o apoio dos Senhores Professores Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues tornar-se-ia linear que, oportunamente, o viesse a retribuir. Tal apoio foi-me dispensado desde cedo, era, ainda, um jovem liceal, amigo do seu filho Jorge. Interpreto esse gesto como uma tendência inata para compreenderem e estimularem gerações mais novas, confiando nas suas capacidades, postura que há 30/25 anos não era habitual nas relações entre os mais velhos e os mais novos. Postura que, sem dúvida, está no cerne do seu sucesso educativo. Não sou eu, concerteza, que enveredei pela engenharia e pela vida política local, a pessoa mais habilitada para referir as suas qualidades como historiadores e pessoas de letras. 11
  • 12. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues Porém, não posso deixar de recordar a atenção pública com que foi seguida a experiência educativa inovadora do Liceu Garcia de Orta, no Porto, de que o Professor Adriano Vasco Rodrigues foi o obreiro como seu primeiro Reitor, alguns anos antes do 25 de Abril. Posteriormente a esta data, registo a sua carreira política como deputado e como Governador Civil. Bastante mais tarde, já Presidente da Câmara, lembro o encontro com ambos, em Antuérpia. Foi nesse encontro que surgiu a ideia da geminação de Moncorvo com Mol, de cuja Escola Europeia eram, à época, Professores e o Dr. Adriano seu Diretor. Essa ideia chegou a ter seguimento com a vinda, a Moncorvo, de uma deputação belga, contudo, não veio a verificar-se a sua concretização. Regressados a Portugal tive, então, várias oportunida- des de privar com os agora homenageados, quer em atividades culturais quer em encontros meramente sociais. Nuns e noutros pude apreciar a grandeza de espírito, a lhaneza de trato e a profundidade intelectual, traços marcantes da sua personalidade. Por estas razões, é-me particularmente gratificante que, ainda como Presidente da Câmara, possa participar nesta singela, justa e devida homenagem e que, em nome do Município, possa dizer: Senhores Professores Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues, muito 12
  • 13. Percursos de razão e afetos obrigado pelos inúmeros benefícios com que enriqueceram, cultural e humanamente, a nossa – e vossa – região! O Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, Aires Ferreira 13
  • 14.
  • 15. Percursos de razão e afetos HOMENAGEM AOS PROFESSORES ADRIANO VASCO RODRIGUES E ASSUNÇÃO CARQUEJA Adriano Moreira* Gostaria de poder dar maior assistência ao Centro de Estudos, criado em hora grave para Portugal, mas o tempo corre para cada um de nós, e as agendas da velhice ativa aumentam o peso de exigência. Mas não posso deixar de participar nos testemunhos de admiração aos Professores AdrianoVasco Rodrigues e Assunção Carqueja, em primeiro lugar, por alinharem na fileira dos que não consentem que o globalismo, que ninguém governa, afete as identidades, como a da nossa gente e terra, e porque não confundem aquele com a especificidade cultural e com a identidade das regiões e comunidades. * Presidente da Academia das Ciências de Lisboa. 15
  • 16. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues Esta riqueza europeia é a defesa primeira contra movimentos de unidade politica que esquecem que o património imaterial da Humanidade é composto destas unidades que se articulam mas não se deixam absorver. Ambos são merecedores da gratidão dos que os viram servir o bem comum uma vida inteira, enriquecendo o legado que fica para cada nova geração. 16
  • 17. Percursos de razão e afetos PELO MUNDO DA ARTE Agostinho Cordeiro* Não me foi difícil escolher o tema para poder participar deste livro de homenagem, concebido e tecido em torno de figuras maiores de historiadores, de cidadãos e, sobretudo, de grandes e perenes Amigos – Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues. Naturalmente que escolhi o caminho mais previsível e imediato – o mundo da arte –, porque capta a evidência profunda de outra das facetas dos Senhores Professores e porque, fundamentalmente, me toca por ser o meu mundo. Para ensaiar uma abordagem, despretensiosa mas sentida, que justifique a minha presença neste variado conjunto de testemunhos que desenham a sua rica personalidade, basta começar por referir a cedência das coleções que permitiram que o País passasse a contar com mais dois museus: o Museu Judaico, em Belmonte (cuja variedade e riqueza de peças estimulou a criação do Centro * Proprietário das Galerias Cordeiro. 17
  • 18. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues de Estudos Judaicos Adriano Vasco Rodrigues), e o de Arte Africana, em Almeida. Entre outros gestos neste domínio, o altruísmo e a sobrevivência do seu legado, que adquiriu dimensão institucional e se converteu em património público, torna-os detentores de significação nacional. Não dissocio, de tais gestos, a sensibilidade estética que preside à formação das suas coleções, uma sensibilidade que me é dado observar aquando das visitas de Adriano Vasco Rodrigues à minha Galeria, ou às exposições que organizo. Se o artista idealiza, manipula materiais e comunica, também propicia situações imaginárias, visuais e cognitivas. A criação artística é um relato mil vezes contado, mil vezes diferente, flexível e comprometido com o seu autor e a sua época. E o Professor descodifica, em toda a sua extensão e alcance, essa imensa quantidade de informação que uma boa imagem formula. Em cada visita, experimentamos uma considerável e sempre renovada satisfação face às obras de arte que nos rodeiam, pela sua rica argumentação e comunicação fácil, traço que lhe é tão característico e apreciado. Só me resta declarar o quanto me apraz que, finalmente, Moncorvo denuncie o apreço pelo inesgotável saber de Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues e a gratidão pelos benefícios que, ao longo de décadas, esse saber lhe tem aportado. 18
  • 19. Percursos de razão e afetos ADRIANO VASCO DA FONSECA RODRIGUES Alcides Amaral* Parafraseando Junqueiro – “O melro, eu conheci-o…” – poderia começar do mesmo modo. Mas, em vez de O Adriano, eu conheci-o… prefiro dizer – O Adriano, eu conheço-o. Felizmente que assim é, pois tenho a sorte de conhecer e conviver com um Homem, com H maiúsculo, que pode ser exemplo para todos. Estudioso indefetível, profissional irrepreensível e competente nos diversos campos do Ensino/Educação/ Investigação que integrou, Historiador e Académico competente, independente, algo rebelde, Marido e Pai extremoso e dedicado e, acima de tudo, um AMIGO, como só ele sabe ser. O Adriano Vasco da Fonseca Rodrigues, é natural do distrito da Guarda, onde nasceu a 4 de maio de 1928, frequentou o ensino primário, como aluno do Pai. * Inspetor do Ensino (aposentado). 19
  • 20. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues Terminado este, rumou para a capital onde, como aluno do Instituto do Professorado Primário – O Palheiro, nome carinhoso, para os antigos alunos – iniciou os estudos secundários no Liceu Gil Vicente, então no Mosteiro de S. Vicente, ali à Feira da Ladra. Foi aquele espírito de independência e rebeldia que fez com que, não aceitando uma atitude da direção do Instituto para com ele, o levou a, com pouco mais de 12 anos, com a anuência de um tio, residente em Lisboa, pedir licença aos sapatos e pôr-se a mexer para a Guarda onde, no liceu local, terminou o ano letivo e fez o resto do ensino liceal. Apesar de curta, essa sua passagem pelo Instituto foi suficiente para contrair a doença que, a todos os que por lá passámos, nos atingiu e se chama a AMIZADE que une as gerações que o frequentaram. Uma vez no Porto, local para onde o Pai viera lecionar, por razões económicas fez o curso do Magistério Primário, dando aulas numa das escolas da cidade. O seu espírito de ir mais além, leva-o a aceitar o convite do então Secretário de Estado da Educação –, Veiga de Macedo – para integrar a equipa da Campanha Nacional de Educação de Adultos, em Coimbra o que lhe possibilitaria a frequência da Universidade. E, se hoje, as promessas nada valem, naquele tempo também assim era! O governante esqueceu o convite pessoal que fez, e nomeou outro. Convencido que estava de ocupar o lugar que não pedira e lhe fora oferecido, não concorreu a nenhuma 20
  • 21. Percursos de razão e afetos escola, nem do Porto, nem de Coimbra e, no outubro seguinte, encontrou-se no desemprego… Dado que estava matriculado na Faculdade que queria frequentar, sem disponibilidades económicas, a única maneira que achou para resolver a situação, seria a de acampar no campus da universidade… Deve ter sido dos primeiros ocupas… Fruto da sua independência e sã rebeldia, se bem o pensou, melhor o fez, de forma que, uma manhã, Coimbra acorda com mais uma moradia na parte alta da cidade, habitação que acolheu o Adriano, até o Magnífico Reitor lhe dar ordem de despejo, vindo a acolher-se depois, já com o provento do trabalho que entretanto arranjou, numa república amiga. Nestes anos passados na Lusa Atenas conhece, e enamora-se, de uma colega com quem veio a casar, a Dra. Maria da Assunção Carqueja, que o tem acompanhado até agora, casamento de que resultaram quatro filhos. Colocado como Professor, no Liceu que frequentara, o da Guarda, por prepotência do Reitor, em função da sua posição de defesa dos alunos, aquando da visita de Humberto Delgado à cidade, foi dele corrido no ano letivo seguinte não sendo reconduzido. Ruma, seguidamente, a Angola onde vai organizar a Inspeção Provincial de Educação, a implementação do Ciclo Preparatório do Ensino Secundário e a Formação de Professores, atividades que desempenhou com competência e mérito. 21
  • 22. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues Simultaneamente, faz o gosto ao dedo e, de 1965 a 1969, integrado no Instituto de Investigação Cientifica de Angola, agora já com a Esposa, responsável pela criação da Seção de Pré-História e Arqueologia, trabalha em escavações arqueológicas em todo o vasto território do país, que relata nos saborosos livros que publicou sobre essa atividade. Nessa altura elaborou a Primeira Carta de Pré-História de Angola. Durante esse trabalho pôde, também, reunir um acervo importantíssimo sobre Arte Negra que expôs, com o título Divulgação da Arte Negra, em: 1982 – Fundação Engenheiro António de Almeida, no Porto; 1984 – Museu Regional da Guarda; 1990 e 1995 – Schola Europaea, em Mol, Bélgica; 1997 – Potsdam, Alemanha; 1998 – Universidade Portucalense, no Porto; 2004 – Instituto Superior da Maia; 2005 – Academia José Moreira da Silva, Porto; 2006 – Junta de Freguesia de Lavra, Matosinhos e, presentemente, no Museu de Arte Primitiva de Almeida depositário do espólio. Aliás, esta atividade arqueológica tinha sido iniciada na Guarda, onde procedeu a escavações relacionadas com os lusitanos, trabalho que se estendeu até Espanha, na zona de Cáceres. Também por desinteligências com o secretário provincial da educação de Angola, a quem não vergou 22
  • 23. Percursos de razão e afetos a cerviz, regressa a Portugal, trabalhando em alguns dos liceus do Porto. O último, o Garcia da Orta, em experiência pedagógica, foi o primeiro Reitor onde tomou, sempre, a defesa dos alunos. São estes, a melhor testemunha (como uma vez o testemunhei) de arriscar o seu lugar enfrentando a polícia e a PIDE, antes do 25 de Abril. A seguir à Revolução dos Cravos, a nível concelhio, continua a ocupar lugares relacionados com a política e a cultura, acabando por ser eleito para a Assembleia da República. Abandonou a Assembleia e depois de ter sido Diretor-Geral do Ensino Particular e Cooperativo, foi ocupar o lugar de Governador Civil da Guarda. Com a integração na CEE, por concurso internacional com base no mérito pessoal, foi nomeado Diretor da Schola Europaea, de Mol, Bélgica, lugar que brilhantemente, desempenhou de 1989 a 1996. O que foi esse desempenho, tivemos ocasião de o verificar, quando, em excursão, um grupo de vinte e tal amigos, aí se deslocou, numa visita por ele organizada. Regressado a Portugal, é dos grandes animadores na criação de uma cooperativa de ensino, de que nasceu a Universidade Portucalense, cuja docência integrou como Professor Associado de História da Arte. Igualmente fez parte do grupo que criou a Academia José Moreira da Silva no Porto donde surge o Instituto Superior Joaquim Oliveira Guedes – Cooperativa de Estudos de Economia Social, a cujo Conselho Científico preside, e posteriormente, a Escola Profissional de Eco- nomia Social. 23
  • 24. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues No campo do Ensino/Educação, como costumo dizer, ao Adriano apenas faltou ser ministro, para ocupar todos os lugares relacionados com o assunto. Foi Professor do Ensino Primário, foi Professor do Ensino Secundário, foi Reitor de Liceu, foi membro da Comissão de Educação da Assembleia da República e foi Diretor-Geral do Ensino Particular e Cooperativo… Estudioso das questões judaicas – está farto de querer convencer-me de que, pelo meu nariz, sou judeu – é ele que está na origem da criação do Museu Judaico de Belmonte. Tudo isto é o que qualquer biógrafo, muito melhor do que eu, poderá dizer a respeito do Adriano. A mim mais do que ele foi, ou não foi, mais do que os lugares que ocupou, o que me importa é o que o Adriano é. Não fomos contemporâneos no Palheiro. Mesmo que o tivéssemos sido, a meia dúzia de anos que nos separa, era, na altura, mais que suficiente para que o puto Alcides se pusesse em sentido para falar com um grande… Daí que, o meu conhecimento do Adriano, identificado por Vasco Rodrigues, fosse simplesmente de ouvido, com referências às suas qualidades intelectuais, pessoais e oratórias, de tal maneira grandes que, em meu entender, se correspondessem só a metade, já eram muitas. Ainda bem que tive a sorte de integrar a tal excursão a Mol, uma vez que ela me permitiu ver a justeza das apreciações que lhe eram feitas, patenteadas pela lhaneza com que nos recebeu, pelos conhecimentos que nos transmitiu, pela maneira como nos mostrou dirigir a Schola 24
  • 25. Percursos de razão e afetos Eurpeae, que integrava alunos de todas as raças, como em casa dele, nos fez sentir como estando em nossa casa. O Adriano é, por tudo isto, uma Pessoa com a qual se pode contar incondicionalmente.Teimoso, às vezes no café, quando, ao tomarmos uma atitude (o outro nome do café ou de uma cerveja que bebemos), puxa dos seus galões de idade e avoca a ação de pagar… Senhor de uma cultura invulgar, bem patente em todas as suas conversas, Humanista convicto, sofre as dificuldades dos outros, preocupando-se com o Social. Sempre pronto a acompanhar e a responder às necessidades dos outros, sempre com uma palavra e um conselho amigo (eu que o diga, por causa dos cigarros) que até canta bem, quando a isso se dispõe, um conversador e contador incansável que se adora ouvir. É deste Adriano de que eu gosto, é este Adriano que eu admiro, é a este Adriano a quem eu agradeço a sorte de ser meu AMIGO. 25
  • 26.
  • 27. Percursos de razão e afetos HOJE COMO ONTEM Ana da Encarnação Subtil Roque* Creio que a amizade é a mais bela e pura expressão do amor. É como um sacramento que todos desejamos porque Deus para a amizade nos criou. A minha amizade com a Maria da Assunção começou na Faculdade de Letras, em 1950. Vinda dos Açores, matriculei-me no curso de Ciências Histórico-Filosóficas. Quase todos os dias, depois das aulas, ia do Lar dos Coutinhos, que ficava próximo da Sé Velha, até à Rua da Matemática onde a Assunção residia. Foram quatro anos de estudo em conjunto no seu quarto de estudante. O convívio prolongava-se nos jardins e cafés de Coimbra, para aliviar a cabeça e encontrar a malta... Passados alguns anos, veio a nossa Queima das Fitas de quaternistas. A Assunção fez-me uns versos, para colocar na minha plaquete, que diziam: * Colega de Faculdade de Maria da Assunção Carqueja. 27
  • 28. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues “São lindas as minhas fitas” Repete a Ana contente... E com jeito, docemente, Beija as fitas tão bonitas. Pergunto cá para mim Ao lembrar-me disto tudo; Se as fitas beijou assim O que fará ao “canudo”? O 5.º ano do curso constava de um trabalho de investigação para se obter a licenciatura na defesa da tese do tema escolhido em Filosofo ou História. Dos alunos que iniciaram a sua vida universitária, em 1950, licenciaram-se seis, em 1955: a Maria da Assunção, a Teresa Pinto Mendes, a Maria do Céu Cavalheiro, o Rui Prado Leitão, a Rosa Alice e eu,Ana Roque. No ano seguinte, foi a vez da Maria Clara Constantino, Cruz Pontes, Maria de Lurdes Costa e Maria de Lurdes Lopes Porto. Os três primeiros eram voluntários. A Lopes porto quis preparar a defesa da tese em dois anos. Partilhámos com alegria a festa de licenciatura de cada um de nós. Mas a amizade entre todos não existiu, apenas, durante estes cinco ou seis anos, continuámos amigos, muito amigos... A Maria do Céu Cavalheiro e eu organizávamos, de vez em quando, reuniões de curso para matarmos saudades e sabermos como ia a vida de todos os colegas. Dialogávamos no decurso do almoço que tinha lugar num sítio romântico. Eram autênticas tertúlias. Antes, participávamos de uma 28
  • 29. Percursos de razão e afetos Missa na Capela da Universidade, rezada pelos Professores e Colegas já falecidos. Apresentávamos os cumprimentos ao Magnífico Reitor e tirávamos a tradicional fotografia na escadaria do Pátio da Universidade. Foram belos estes encontros... São tantas as fotografias e os nomes na lista de participantes com as respetivas moradas! Prolonguei o sacramento da amizade através de uma verdadeira aventura para a época – pus-me, sozinha, a caminho da Bélgica, para passar uns dias com a minha amiga. Na altura, a Assunção encontrava-se com o marido, em serviço de grande prestígio e responsabilidade, naquele país. Foram uns dias muito agradáveis, passados com alegria e ar puro, numa frondosa floresta, em Mol, onde os meus amigos viviam. A Assunção fazia parte da Comissão Europeia de Filosofia e o Vasco exercia as funções de Reitor da Escola Europeia. Não vou falar em detalhe do que aqui vivi, do que com eles aprendi, de alguns dos seus familiares presentes, dos muitos amigos e admiradores, da sua dedicação a uma exigente tarefa desempenhada num pais estrangeiro. Mas não posso deixar de mencionar os passeios com tantos desses amigos, um deles a Antuérpia, das conversas íntimas aos serões, dos deliciosos chocolates na mesinha de cabeceira, da verdura da paisagem que avistava mal abria a janela do quarto pela manhã, dos esquilos a saltitar, das piscinas de água doce que ondulavam... Sobretudo, devo frisar a homenagem grandiosa que foi prestada ao Vasco pelos seus brilhantes serviços e à qual tive o privilégio de assistir. 29
  • 30. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues É incontestável que a sua vida académica e familiar, marcada, sempre, pelo amor e respeito pelo outro e por todos, justifica a merecida homenagem a ambos, inseparáveis companheiros numa vida rica de afetos e de realizações. A profunda amizade pela Maria da Assunção, como qualquer amizade deste teor, mantém viva, para além de tempos e de espaços, caminhos andados, palavras e gestos trocados. Este sentir, que me traz aqui e agora, tem-se alimentado de saborosas conversas telefónicas. E não perdemos a oportunidade de nos encontrarmos, como aconteceu aquando da festa dos meus 80 anos, pretexto que permitiu juntar familiares, amigos e colegas de curso. A Universidade trouxe-nos conhecimento e, também, amigos que permanecem na nossa vida. Hoje, entre eles, é para a Assunção que envio o abraço mais terno, o abraço de sempre, da Ana, Anita ou Aninhas / Por qualquer do nome dá... 30
  • 31. Percursos de razão e afetos ADRIANO VASCO RODRIGUES O HOMEM QUE, HOJE E SEMPRE, INVESTIGA, PENSA E SONHA MARIA DA ASSUNÇÃO CARQUEJA A MULHER QUE AO SEU LADO INVESTIGA, PENSA E SONHA EM POESIA António Alberto Barbosa Areosa* É incomensurável o valor e o mérito que julgo dever sublinhar do Homem vertical e de cariz humanista que facilmente vislumbro do que dele fui conhecendo, não somente da vasta obra publicada, mas, ainda, dos cargos que tão bem soube dignificar desde cedo. Acrescem as entrelinhas das entrevistas lidas em que revejo no Homem a dignidade de um caráter notável, inteiramente dedicado à investigação e ao conhecimento de valor expresso nas inúmeras cerimónias e homenagens que lhe foram, merecidamente, dedicadas. E nessas palavras há a autenticidade e a humildade de quem é grande e talvez maior que o comum dos mortais, num mundo onde prolifera a incompetência e arrogância. * Diretor do Agrupamento de Escolas de Torre de Moncorvo. 31
  • 32. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues Natural da Guarda, Adriano Vasco Rodrigues deu cedo a conhecer o seu interesse pela arqueologia e história desse distrito, tendo promovido vários trabalhos de campo refletidos numa vasta bibliografia que se reparte entre o Paleolítico e a Idade Média. Com vida dedicada e repartida entre a investigação e a docência, nomeadamente em Portugal, Angola e Bélgica, onde dirigiu a Schola Europaea, foram valiosos e sobejamente conhecidos os seus serviços na orientação do trabalho dos professores, no aperfeiçoamento da avaliação dos alunos e respetiva contextualização dos conhecimentos, particularmente no que à Língua Portuguesa dizem respeito. Todo o seu percurso profissional é, desta forma, exemplo para as gerações contemporâneas, atendendo às características de perfil que o notabilizam nesta área. Dessas subscrevo a inteligência, o já antes sublinhado humanismo, o sentido pedagógico, o enaltecimento patriótico e, sobretudo, a nobreza de caráter. Mais recentemente, este investigador e docente, que desempenhou, para além de deputado, as funções de Governador Civil do Distrito da Guarda e dirigiu, durante largos anos, a revista Altitude, foi justamente agraciado com a Medalha de Ouro desta cidade. Pormenor que passaria indelével não fosse o seu grande apego cultural às múltiplas e diversas temáticas que mais interesse nele despertaram e a continuidade de uma curiosidade pelo conhecimento, que emerge de uma sensibilidade entusiástica e vitalidade e que impressiona enquanto detentor de uma permanência intelectual rara. 32
  • 33. Percursos de razão e afetos Adriano Vasco Rodrigues é assim o Homem que afirma ocupar atualmente o seu tempo a investigar, a ler e, algumas vezes, a pensar. Mas também a sonhar! E se o “Sonho comanda a vida”, tal como o afirma António Gedeão, saber que tão notável ser humano possui a capacidade do sonho, grandiosa se revela a obra que nos lega e o perfil humano que, gravado na pedra da cidade altaneira da Guarda, se abre num sorriso de mestre sempre que é interpelado, nada mais nele havendo que a claridade e a luminosidade de quem é eterno aprendente da vida e do mundo que o acolhe. De acordo com o próprio Adriano Vasco Rodrigues, em conjunto com a Mulher, sua esposa e companheira, Dra. Maria da Assunção Carqueja, esta proveniente da freguesia do Felgar, do concelho de Torre de Moncorvo, possuem vasta biblioteca, 35 a 40 mil volumes, muitos diapositivos e fotografias e, também, documentação que se reparte pelas várias áreas da História, desde a Arte à Política, pela Etnografia, Arqueologia, Religião, Civilizações, Monografias e obras centradas nos estudos e História Judaica, entre outras que foram motivo de interesse da Dra. Assunção, como sejam a Filosofia, a Pedagogia e a Didática. Dela, diz ainda Adriano Vasco Rodrigues, em entrevista a A Guarda, que foi Metodóloga, trabalhou a nível europeu da União na área da formação em Filosofia e pertence à Associação Internacional dos Professores de Filosofia. Do espólio documental de ambos a bibliografia é vasta, sendo que aqui daria relevo à História Geral da Civilização (2 volumes com 8 edições), publicada e divulgada entre 33
  • 34. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues 1962 e 1975, à Retrospectiva Histórica dos Concelhos de Meda, Longroiva e Marialva (1976) e, mais recentemente, ao livro intitulado “De Cabinda ao Namibe”, cujo lançamento decorreu no Porto, na Biblioteca Almeida Garrett, posteriormente na Guarda e, de seguida, mais precisamente em 7 de maio, do ano em curso, no auditório da Biblioteca de Torre de Moncorvo. No livro, o autor revisita terras de Angola, percorrendo todo o território como inspetor escolar, registando à sua passagem aspetos significativos da História, Arqueologia e da Antropologia Angolanas. É, ainda desse livro, que salienta o papel de esperança e humanismo das Missões Católicas e Protestantes, a par de uma visão crítica que aí desponta na apreciação de um processo de independência de algum modo distorcido, quase doloroso, e do qual a História vindoura se encarregará de o corroborar. Contudo, devemos realçar o mérito daquela que se tornou mulher e companheira do pedagogo. Autora de várias obras específicas de investigação da sua área de estudos, foi autora de alguns trabalhos de investigação, em parceria com Adriano Vasco Rodrigues, a saber, O estudo das ferrarias do concelho de Torre de Moncorvo (1962). Tendo anteriormente dado conta da sua atividade profissional, da sua obra publicada destaco “Subsídios para uma monografia da Vila de Torre de Moncorvo” (Coimbra, 1955), revista e publicada sob o título “Documentos Medievais de Torre de Moncorvo” (editada com o apoio e patrocínio da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo em 2007), “Versos do meu Diário” (sob o pseudónimo de Miriam) com alguns poemas dedicados à freguesia do Felgar e a Trás-os-Montes, 34
  • 35. Percursos de razão e afetos publicada em 1978 e por último “Jardim da Alma”, publicado em dezembro de 2008. E é por se tratar de uma obra de expressão poética que Jardim de Alma concilia as palavras de que são feitas as emoções e os afetos com a inerente e já esperada reflexão metafísica. Laivos de vivências de infância, ruralidade e memórias desvanecidas nos tempos, mas nelas retomando e abraçando a sua condição de Mulher – Menina sem descurar o seu perfil de Mulher inquieta e reflexiva face ao tempo e ao mundo em devir e que partilha do Sonho de que inicialmente nos dava conta o seu marido, Adriano Vasco Rodrigues. Diria, com a certeza do que foi permitido deles conhecer, que quer em Adriano Vasco Rodrigues quer na sua mulher Maria da Assunção Carqueja se revêem traços de um caráter determinado, ávido de conhecimento e partilha, a humildade de uma sabedoria gritante, que só alguns possuem, e a busca eterna aliada à curiosidade dos seres humanos de eleição. 35
  • 36.
  • 37. Percursos de razão e afetos OS LIVROS FORAM FEITOS PARA SEREM LIDOS António José Ramos de Oliveira* Após a formação obtida na Universidade de Coimbra, em Ciências Documentais, variante de Biblioteca e Documentação, impunha-se procurar um local para desempenhar a minha profissão. Embora nada me ligasse à Guarda, cidade onde nunca tinha estado e, como tal, não conhecia, surgiu, entre outras possibilidades, a hipótese de, mediante concurso público, aqui desempenhar o cargo de Técnico Superior de Biblioteca e Documentação, ou bibliotecário. Precisamente por não ser natural da Guarda, nem conhecer a sua região, a primeira preocupação, na altura, foi a de tomar conhecimento da sua realidade, nomeadamente a História, ciência à qual me encontro também ligado por uma licenciatura e pela paixão. Aliás, antes de ter ingressado nesse curso, ainda vacilei pela carreira de arqueologia, * Técnico Superior de Biblioteca e Documentação da Biblioteca Munici- pal Eduardo Lourenço, Guarda. 37
  • 38. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues como é sabido, um tema muito caro ao Professor Adriano Vasco Rodrigues O primeiro livro lido da e na Guarda, que requisitei na biblioteca, foi a Monografia Artística da Guarda (a edição de 1977), da autoria de Adriano Vasco Rodrigues, que me acompanhou durante alguns dias, fosse numa viagem de comboio, fosse numa fuga para uma esplanada. O livro proporcionou-me um primeiro contacto com a História Local, e o ter ficado por dentro de uma realidade regional que desconhecia até então. Este livro mostrou-me que a Guarda tinha uma existência milenar, considerando as suas origens, e despertou-me curiosidade em conhecer a restante obra do Professor, o que me proporcionaria mais tarde um contacto direto com toda a sua obra existente na biblioteca. As Bibliotecas Municipal da Guarda e Fixa n.º 41 da Fundação Calouste Gulbenkian, estiveram instaladas, de 1986 a 2007, no Solar Teles de Vasconcelos, no largo com o mesmo nome, junto à Sé da Guarda. Nessa época, a Biblioteca Municipal era frequentada maioritariamente por estudantes das escolas limítrofes dos 2.º e 3.º Ciclos e Secundárias, bem como do Ensino Superior, na altura existentes, como o ISACE (Instituto Superior de Administração, Comunicação e Empresa), a Escola Superior de Enfermagem e o Instituto Politécnico da Guarda. As escolas, dos 2.º e 3.º Ciclos e Secundário, ainda não estavam apetrechadas com as bibliotecas de que dispõem atualmente, pelo que a Biblioteca Municipal/ 38
  • 39. Percursos de razão e afetos /Gulbenkian era o seu principal recurso para a obtenção de informação considerada necessária. Assim, era frequente que as salas de leitura da biblioteca estivessem lotadas com utilizadores, sobretudo estudantes, que a procuravam para realização de trabalhos e requisição de livros. No ano de 1998, a biblioteca passou a oferecer o serviço de internet, o que, no início, colocaria o livro num plano secundário. Na época, os temas procurados pelos utilizadores eram bastante variados: Filosofia, Linguística, Geografia, História Geral, Literatura, História Local, Literatura, Ciências, Jornalismo, Marketing, Enfermagem, entre outros. Esta procura tinha como base as matérias lecionadas nos respetivos anos ou cursos frequentados. A biblioteca procurava responder da melhor forma às solicitações, tentando, na medida do possível, reunir um fundo documental adequado às solicitações dos utilizadores. Surgiu então a necessidade de formar um Fundo Local (reunir no mesmo local as obras inseridas nesse conceito), embora ficasse limitado às edições disponíveis, para melhor atender os leitores interessados neste assunto. Estas obras foram reunidas e colocadas numa estante da Sala de Leitura do primeiro piso. Aqui se reuniram obras de autores que fossem naturais do Distrito da Guarda (ou a ele profundamente ligados) ou que tivessem escrito sobre ele. Embora não existisse na biblioteca uma extensa obra que se enquadrasse nestas condições, conseguimos reunir uma estante que ficou em local destacado, devidamente identificada. 39
  • 40. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues Cedo passou a ser o local da biblioteca com maior número de obras consultadas. Era ali que estavam os livros de João de Almeida, detentor de vasta obra da História da Guarda, militar e não só, e do império português em África, nas suas vertentes militar e política. Esta estante reunia todas as monografias, existentes na biblioteca, referentes a todas as localidades do nosso distrito. As obras eram muito procuradas, pois incluíam assuntos como História, Usos e Costumes, Tradições, Personalidades, etc. referentes às regiões do Distrito da Guarda que retratavam. Dispunha também das informações mais importantes sobre tradições comemorativas do Carnaval, Páscoa, São Martinho, Natal, Provérbios, entre outras. Outros autores presentes neste fundo eram Manuel Ramos de Oliveira, Quelhas Bigotte, Pinharanda Gomes, Virgílio Afonso, João de Almeida, António Monteiro da Fonseca, Aires Dinis, Célio Rolinho Pires, Antonieta Garcia, Américo Rodrigues, Nuno de Montemor, Augusto Gil, Alípio da Rocha e muitos outros. Um dos autores selecionados para a referida estante e dos mais importantes, considerando a pertinência e a procura das suas obras, era AdrianoVasco Rodrigues. Os seus livros foram objeto, quer de empréstimo domiciliário, quer de consulta local, em centenas de pedidos de utilizadores. Por exemplo, a obra Monografia Artística da Guarda, no início com a edição de 1977 ou mesmo de 1958, era, talvez, a obra mais consultada da biblioteca. Era-o seguramente no que diz respeito ao Fundo Local. Centenas de utilizadores consultaram a obra para saber mais da nossa História, das 40
  • 41. Percursos de razão e afetos nossas origens, dos nossos monumentos. Mais tarde, no ano 2000, seria editada a Guarda: Pré-História, História e Arte: (monografia), que viria a substituir a edição de 1977 como base neste tipo de consulta. Mas, como é certamente conhecido, Adriano Vasco Rodrigues é detentor de uma vasta obra. Embora nos debrucemos sobre a referida época da biblioteca, não podemos deixar de referir, como bastante consultadas/ /requisitadas as seguintes obras: – Celorico da Beira e Linhares: monografia histórica e artística. Obra também muito consultada, quando se pretendia o estudo do concelho de Celorico da Beira, seja na História, Usos e Costumes ou Património. – Escultura Africana: perenidade e mudança.Consulta no âmbito do tema. – História geral da civilização. Manual escolar mas que ainda era consultado para alguns temas da História. – Provérbios de origem sefardita no interior da Beira e em Trás-os-Montes. Livro bastante consultado, não só porque existia pouca bibliografia sobre o tema, mas porque o autor possui vastos conhecimentos na matéria. – A Catedral da Guarda: na história e na poesia. Recordemos que a Sé da Guarda era o monumento mais procurado em investigações de leitores. Esta era uma das obras mais utilizadas nesse âmbito. – Salvador do Nascimento: uma vida – um ideal. Embora mais recente, trata-se de uma obra importante a nível biográfico. 41
  • 42. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues – O Despotismo e a Igreja: cartas régias para o Bispo da Guarda na época pombalina. Obra, talvez única a debruçar-se sobre o tema. – Os lusitanos: mito e realidade. – As lápides sepulcrais da Capela-Mor da Sé da Guarda. Outra obra importante para o estudo da Catedral da Guarda. – Terras da Meda: natureza e cultura: (monografia). Mais um estudo monográfico, de outro concelho do distrito, e que era bastante consultado. – Trabalhos de história e arqueologia da Guarda e regiões confinantes: coletânea de quarenta e cinco estudos, cujas publicações se encontram na quase totalidade esgotadas, oferecidas pelo Autor à Biblioteca Pública da sua cidade natal período de 1944-1976. Gostaria de destacar esta curiosa publicação artesanal, coletânea de vários artigos de Adriano Vasco Rodrigues, que este, em boa hora, decidiu fazer e oferecer à Biblioteca Municipal da sua terra natal. A esmagadora maioria dos artigos são de índole arqueológica, sendo bastante consultados os seguintes: Achados arqueológicos do Mileu; Moinhos manuais na região da Guarda; Uma arma com mais de 120.000 anos: o biface de Cairrão: (Guarda); Um bracelete lusitano da estância arqueológica do Mileu; Espada de Vilar Maior: idade do bronze: espada de Castelo Bom; A pro- pósito de uma lápide do Mileu (Guarda); Estela de Meimão: cabeça de guerreiro lusitano da Guarda; Inscrições romanas de Valhelhas; Inscrição tipo «Porcom» e Aras Anepígrafes do Cabeço das Fráguas (Guarda); Subsídios para o estudo do Paleolítico no Distrito da Guarda: I Congresso Nacional de Arqueologia; 42
  • 43. Percursos de razão e afetos Subsídios para o estudo do paleolítico na Beira Alta; O Castro do Cabeço das Fráguas e a romanização das suas imediações: notícia sobre uma prospeção arqueológica no concelho da Guarda; Subsídios numismáticos para o estudo da dominação suévico-visigótica na região da Guarda: elementos inéditos; Elementos para o estudo da romanização nos Montes Hermínios: I: as escavações da Póvoa de Mileu – Guarda; A Torre de «Centum Celas»: pretório de um acampamento romano; Achados avulsos romanos; O templo romano de Almofala: nova interpretação sobre o casarão da Torre. O presente texto não pretende ser uma análise, completa ou incompleta, da obra de Adriano Vasco Rodrigues. Trata apenas do impacto que a obra de Adriano Vasco Rodrigues teve naquele período de funcionamento da biblioteca, junto dos utilizadores, considerando a procura que teve, em investigação ou requisição domiciliária. 43
  • 44. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues O castro do Cabeço das Fráguas e a romanização das suas imediações Uma separata de Adriano Vasco Rodrigues, exemplo de obra muito consultada, na Biblioteca Municipal da Guarda, na época mencionada. 44
  • 45. Percursos de razão e afetos ADRIANO VASCO RODRIGUES UMA REFERÊNCIA António Pimenta de Castro* Conheci pessoalmente o Senhor Professor Adriano Vasco da Fonseca Rodrigues, já há quase trinta anos, quando me encontrava a fazer uma visita habitual ao meu saudoso amigo, Dr. Armando Pimentel, na sua casa situada nos Estevais de Mogadouro. Sempre que me era possível, quando terminava as aulas na Escola Secundária de Torre de Moncorvo, a caminho do meu domicílio, em Mogadouro, fazia um pequeno desvio e parava na casa do Dr. Armando Pimentel, aristocrata no sangue e fidalgo de fino trato, para uma amena cavaqueira, direi mesmo, uma pequena tertúlia, com este grande intelectual transmontano e, por vezes, com ilustres intelectuais que o visitavam, ou mesmo gente do povo, que ele tanto estimava. Digo pessoalmente, porque alguns dos seus trabalhos já os conhecia e muito me falava * Professor da Escola Secundária Dr. Ramiro Salgado, Torre de Moncor- vo; investigador. 45
  • 46. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues dele o meu querido amigo e colega na Escola de Moncorvo, o saudoso Senhor Padre Rebelo. Aquando da homenagem feita ao Dr. Casimiro Henriques de Moraes Machado, escreveu o Senhor Padre Joaquim Manuel Rebelo: “Creio que foi em 1960 que encontrei, novamente, o Dr. Casimiro no Vale da Vilariça, num acampamento de alunos de um liceu do Porto, dirigido pelos meus ilustrados amigos, Padre Dr. Domingos de Pinho Brandão e Dr. Adriano Vasco Rodrigues (…)”. Estes estudantes estavam a realizar escavações arqueológicas, superiormente orientados pelos referidos professores. O Dr. Adriano Vasco Rodrigues, embora nascido na Guarda, é um verdadeiro transmontano, e é-o pelo coração. É uma das minhas maiores referências transmontanas, juntamente com o Abade de Baçal, o Dr. Casimiro Machado, o Abade Tavares (de Carviçais), o Senhor Padre Rebelo e o próprio Dr. Armando Pimentel. O Dr. Adriano Vasco Rodrigues, grande amigo do Dr. Armando Pimentel, tem feito ultimamente vários apelos para que a maior biblioteca particular de Trás-os-Montes, e não só – a do Dr. Armando –, seja preservada, tendo-me “incumbido” de falar deste problema ao seu amigo Dr. António Guilherme de Moraes Machado, Presidente da Câmara Municipal de Mogadouro, para levar a bom termo esta justa aspiração. Não vou falar aqui do seu brilhante curriculum como intelectual, investigador, escritor, etnógrafo, arqueólogo, deputado, pedagogo, fundador e diretor de revistas e autor de “mais de cem livros e separatas que revelam as importantes 46
  • 47. Percursos de razão e afetos incursões nos mais variados campos da História da Arte, a par dos trabalhos de vanguarda da Pré-História Peninsular e da Pré-História em Angola”1, incontáveis temas redigidos, primorosamente, na língua de Camões, e dos quais saliento os regionais. De facto, as raízes são fundamentais para a identidade de um povo e de um país. Para mim, também por esta razão, o Dr. Adriano é um verdadeiro exemplo. E não vou falar da sua vasta atividade por algumas razões: porque existem várias e extensas referências a elas, desde Enciclopédias ao Dicionário dos Mais IlustresTransmontanos e Alto Durienses (vol. I, Guimarães,1998, páginas 530 a 532; a Dra. Maria da Assunção Carqueja Rodrigues consta da página 542); porque nesta homenagem, por certo, alguns colaboradores as irão referir e, finalmente, porque quero dar o meu testemunho sobre as atividades em que estive envolvido, pessoalmente, com o Dr. Adriano Vasco Rodrigues. Devo acrescentar que, no seio dos seus múltiplos interesses, há um tema comum que o Dr. Adriano Vasco Rodrigues e eu temos em grande estima: a História dos Judeus em Portugal. Na realidade, para além de livros e outros estudos que o Dr. Adriano Vasco Rodrigues publicou sobre este assunto (concretamente na Revista Altitude), foi fundador (é o sócio n.º 1) da Associação de Amizade e Relações Culturais Portugal – Israel (1979), Presidente 1 Revista CEPIHS, Revista do Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social (CEPIHS), n.º 1, p. 248, Coimbra, Palimage, 2011, p. 248. 47
  • 48. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues da Direção, e, agora, seu Presidente Honorário. Desta Associação também eu sou sócio (caso curioso e altamente honroso para mim é que o meu cartão de sócio tem a assinatura do Presidente da Direção, isto é, do Dr. Adriano Vasco da Fonseca Rodrigues, datado de 1988, e que eu guardo, religiosamente, no meu arquivo pessoal). Das atividades, nas quais coincidi com o Senhor Dr. Adriano, destaco as seguintes: em 1988, em Mogadouro, na Comemoração do Centenário do nascimento de Casimiro Henriques de Moraes Machado, promovida pela Câmara. Desta homenagem resultou a publicação de um opúsculo com as palestras efetuadas pelo Dr. Adriano Vasco Rodrigues, Dr. Armando Calejo Pires e por mim próprio; no mesmo ano, prefaciou e apresentou o livro do seu grande amigo, Dr. Casimiro Henriques de Moraes Machado, Mogadouro – um olhar sobre o passado; em 2001, elaborou um trabalho intitulado “O Pelourinho de Mogadouro”, para a Revista n.º 2, de dezembro, Fórum Terras de Mogadouro, páginas 9 a 11, sendo diretores desta revista António Moraes Machado, António Pimenta de Castro e Maria da Natividade Ferreira; em 2004, escreveu o livro Provérbios de Origem Sfardita no interior da Beira e em Trás- -os-Montes, editado pela Câmara Municipal de Mogadouro, a cujo lançamento tive o prazer de assistir; em 2006, em co- -autoria com Maria da Assunção Carqueja Rodrigues, saiu o excelente livro Felgar – História, Indústrias Artesanais, Património, com apresentação em Moncorvo, fazendo eu parte do grande número de pessoas que a ela acorreram; em 2008, colaborou na Revista Campos Monteiro, n.º 3, com 48
  • 49. Percursos de razão e afetos o artigo “Torre de Moncorvo e o alvorecer do Japão no Ocidente”, a qual também integrei com o artigo “Guerra Junqueiro – Epicurista”, tendo o privilégio de participar no seu lançamento. Finalmente, em janeiro de 2011, foi apresentada, na Escola Secundária Dr. Ramiro Salgado, de Torre de Moncorvo, o n.º 1 da Revista CEPIHS, órgão do Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social, de que o Dr. Adriano Vasco Rodrigues é fundador. Aquele exemplar integra o seu artigo intitulado “Dissertação a propósito da Implantação da República em Torre de Moncorvo”, em co-autoria com a Dra. Maria da Assunção Carqueja Rodrigues. Colaborei nesta publicação com o trabalho “O Projecto de Guerra Junqueiro para a bandeira da República”. Esta revista foi dedicada aos dois investigadores, como reconhecimento da sua importante ação cultural a favor da nossa região, tal como o tributo presente, gestos que se juntam aos muitos que coroaram a sua carreira, como o facto de lhe ter sido conferido o título de Diretor Jubilado da Schola Europaea e ser agraciado com vários louvores e condecorações, nomeadamente, com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique. Foi, para mim uma honra falar do Dr. Adriano Vasco Rodrigues e prestar-lhe, assim, a minha sincera homenagem, bem como à Dra. Maria da Assunção Carqueja Rodrigues, símbolos das altas virtudes das nossas gentes. Estes investigadores enobrecem Trás-os-Montes e o nosso país. Bem-hajam! 49
  • 50.
  • 51. Percursos de razão e afetos DO OUTRO LADO DA LINHA... Arnaldo Duarte da Silva* Estávamos em maio de 2009. Germinava na minha cabeça um pulverizar de ideias acerca da personalidade que iria ser o patrono do Núcleo Museológico da Fotografia do Douro Superior, em Torre de Moncorvo. Fez-se luz. Na fotografia, a mesma tem a propriedade de decompor os sais de prata que entram na composição da camada sensível do suporte a sensibilizar. Mas a luz fixada no meu pensamento era a do Senhor Professor Adriano Vasco Rodrigues. Surgiu como um raio luminoso que iria, com todo o seu saber, proporcionar um elevado grau de sensibilidade nas pessoas presentes. Liguei-lhe pela noite e do outro lado da linha, a lembrar Torga ou até a Isabel Mateus, absorvo um quem é, não como intruso, mas sim num posicionar esclarecido. E foi desse outro lado da linha, com um grau de abertura extraordinário, tal como nas * Diretor e proprietário do Núcleo Museológico da Fotografia do Douro Superior, Torre de Moncorvo. 51
  • 52. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues objetivas que proporcionam e nos dão a possibilidade de trabalhar melhor , experimentando vários efeitos de luz e sempre com grande profundidade, que o Senhor Professor anuiu, sem condições, ao meu convite. Mesmo assim, ainda me penitenciei a pedir-lhe desculpas pelo incómodo, sabendo que o mesmo lhe traria imensas satisfações. E são com elas que, discorrendo para a fotografia, sabemos qual a forma ideal para encontrar o sucesso na imagem. Este não depende só da exposição correta, do melhor doseamento no revelador de brometo e potássio, ou ainda quando o negativo é muito translúcido. A imagem tem que ser vigorosa, com contraste o suficiente e, inevitavelmente, qualidade superior. Do Senhor Professor absorvi, como atributos ímpares, a transparência, o vigor e a qualidade. A transparência porque foi verdadeiro e didático ao sugerir-me que não fizesse um espaço para depositar coisas, mas que fosse, sobretudo, instrutivo. O vigor, atendendo à sua energia que o fez estar presente no dia da inauguração, como portador dos elementos necessários para melhorar a intensidade do registo, como que estando a dosear o seu telémetro, sempre com a vantagem de não ter pensado no erro de percurso entre o Porto e Torre de Moncorvo. Senti-o focado, entusiasmado e disponível. A qualidade, esta sim, foi visível no seu discurso improvisado, mas aproximado ao objeto, para mais de 200 52
  • 53. Percursos de razão e afetos pessoas que albergava o espaço inaugurado, no dia 12 de julho de 2009. Abordou, com amplitude, a iniciativa com abertura real. Porém, o mais importante foi a sua focagem na abertura útil. Os seus olhos determinaram uma grande profundidade de foco que não tem paralelo nas tabelas aproximadas para conseguir que todos os planos fiquem reproduzidos com nitidez. Os mesmos, abertos ao máximo no seu diafragma, conseguiram atenção e sem deformação, vulgarmente designada aberração. O seu discurso fluído, coberto de saber, qual emulsão, foi ao encontro do que era expectável. Não apresentou bolhas de ar, nem tão pouco marcas de sódio ou potássio, ainda que a temperatura do dia rondasse os quarenta e cinco graus. Apelou à preservação e à recuperação. Situou este Douro desde o Cachão da Ribeira a Barca d’Alva. Falou do Douro romano e da sua importância. E, por fim, rematou, proferindo, qual lembrança de erudito ou político da nossa terra, que o Núcleo Museológico valia ouro. E, neste campo, tal como espaço panorâmico do lugar, clicavam-se sorrisos e palmas e, até nos planos mais longínquos, se sentia a temperatura ideal, talvez equivalente em sorrisos de alegria, tal como as lâmpadas de tungsténio ao serviço do cinema e do retrato profissional. Foi uma grande festa. O Senhor Professor Adriano Vasco Rodrigues foi, é e será a referência deste espaço museológico nascido sem as cartilhas dos especialistas e, muito menos, sem o conflito de interesses destas coisas da cultura. Ele é a peça, a obra, que deverá ser lembrada 53
  • 54. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues tal como a máquina que registou as primeiras imagens de Torre de Moncorvo. No arquivo existente, procurei, confesso com pouca organização, imagens do Felgar. Logo surgiram cerca de trinta das décadas de cinquenta e sessenta. As mais impressionantes, talvez pelo sentir profundo emanado, são as da Procissão da Senhora do Amparo, de 1956. As outras, registos imortalizados pelo Senhor Zeca Peixe e pelo Dr. Horácio Brilhante Simões, fazem luz de um tempo eternizado em fórmulas preciosas ao revelar negativos. Convém referir que muitos deles, e chegados até nós, foram conservados atendendo a uma fórmula sábia de hipossulfito de soda, metassulfito de potássio e água. Na realidade, as dezenas de milhares de imagens reunidas no Núcleo Museológico da Fotografia do Douro Superior e todo o seu espólio são um marco significativo, sem halo, em toda a região transmontana. Mas, se as imagens são também importantes para melhor homenagear o Senhor Professor Adriano Vasco Rodrigues e a sua esposa, é minha convição que os homenageados, pela humildade e desinteressada forma de estar na vida, ficariam bem felizes só pelo facto de lhes transmitirmos o nosso agradecimento. Um muito obrigado. 54
  • 55. Percursos de razão e afetos Fotografias do acervo do Núcleo Museológico da Fotografia do Douro Superior Felgar – anos 50-60 do século XX 55
  • 56. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues 56
  • 57. Percursos de razão e afetos 57
  • 58. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues 58
  • 59. Percursos de razão e afetos 59
  • 60.
  • 61. Percursos de razão e afetos O TEMPO DE TERNA MEMÓRIA Belmira Parente* Recebi, com alegria, o convite para me juntar à justa homenagem que te dedicam, a ti e ao teu marido. E, numa página, apenas, recordo a nossa vida de colegiais. Com saudade! Fomos colegas desde a admissão ao Liceu até ao 6.º ano (hoje, 10.º ano), no Colégio de Lamego. A nossa amizade vem daí, de um tempo de crianças, de um tempo de obrigações, de ensinamentos, de formação dos espíritos. Atravessámos a vida com a esperança e o optimismo inculcados então. Não posso deixar de registar alguma memória, hoje, linda, na altura penosa: a Matemática, verdadeira dor de cabeça, que a irmã Marieta teimava em acentuar; a disciplina, que impunha levantarmo-nos às 7 horas da manhã para irmos à missa; o castigo de prato na mão no recreio, porque não comia a tempo, o que me impedia * Colega de Maria da Assunção Carqueja, no Colégio de Lamego. 61
  • 62. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues de jogar à bola e ao ring contigo e as demais colegas; as escassas idas a casa, só em férias, a saudade da família que tentávamos atenuar falando dela, da casa, das brincadeiras com os irmãos. Mas retenho, também, o doce sabor das castanhas de amêndoas feitas pela tua Mãe e que connosco partilhavas quando regressávamos de férias, e a imagem do quanto estavas animada, naquele passeio do Colégio pela estrada da Régua, por causa de uma tentadora árvore cheia de medronhos... Uma outra lembrança permanece, a dos teus primeiros versos! Escreveste-os quando estávamos prestes a fazer o exame de admissão no Liceu, algo que denunciava, já, a tua veia poética e perspetivava a grande Poeta que vieste a revelar-te. Recordo-os aqui, com a ternura que nos remete para esses momentos e para todos os momentos que, ao longo destes anos, temos vivido em verdadeira amizade. Lá em cima está a raposa Cá em baixo a admissão Juntaram-se os dois á esquina E combinaram entre si Não haver reprovação 62
  • 63. Percursos de razão e afetos PARA UMA BIBLIOGRAFIA ABRANGENTE DA FREGUESIA DO FELGAR: O CONTRIBUTO INTRANSPONÍVEL DE MARIA DA ASSUNÇÃO CARQUEJA RODRIGUES E ADRIANO VASCO RODRIGUES Carlos d’Abreu* Otília Lage** 0. Intróito Amigos comuns, bem como a direção do Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social em Trás-os-Montes e Alto Douro (CEPIHS), com sede nesta Vila – apesar de saberem desde a primeira hora que estaríamos hoje e aqui neste lugar presentes –, fizeram questão que nos associássemos diretamente à homenagem de que seriam alvo, os nossos simpáticos concidadãos, conterrâneos, pedagogos e investigadores, Professores * Investigador. ** Colega de trabalho de Maria da Assunção Carqueja. 63
  • 64. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues Maria da Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues, ambos felgarenses e guardenses, ambos transmontano- durienses e ribacodanos. Pois se ele “pagou o vinho” no Felgar para aí passar a pertencer, ela, com o consórcio, ganhou foros de beirã, uma vez que esse negócio pressupõe partilha, uma partilha de meio século, ou para sermos mais rigorosos, de 55 anos e 1 mês, uma vez que casaram neste mesmo dia, mas do mês de setembro do ano de 1956. Somos por isso duplamente conterrâneos, não fora o Douro a linha de união entre esses dois territórios, aliás o grande coletor comum de milhentos cursos de água e um dos principais elementos articuladores de toda a Península Ibérica. O Professor Adriano atravessou-o vindo de Sul e a Professora Assunção em sentido inverso. Encontraram-se no caminho e passaram a caminhar juntos, numa longa e frutífera jornada, que prossegue. 1. Principal bibliografia dos autores relativa ao Felgar (e região envolvente) Na sua vasta bibliografia por várias áreas do Saber, própria de quem negou o ócio por ter consciência de que “o tempo dá-o a Natureza de graça”, cedo tomaram o gosto pela investigação. Passando em revista a sua Obra, percebe-se que amaram todas as terras onde viveram e trabalharam, porquanto, sendo docentes, o mais “natural” era que as suas 64
  • 65. Percursos de razão e afetos preocupações fossem para os temas gerais; todavia, eles também desceram ao particular, dedicando trabalhos de investigação a sítios e localidades, próximas e longínquas, independentemente do seu estatuto administrativo, em Portugal e Angola, no domínio da História, da Arqueologia, da Arte, da Etnologia, do Património em geral e, até na arte de cantar em verso, sempre com o fito de contribuírem com alguma luz, ao ignoto, ao desconhecido, ao obscuro. Nessa senda, a freguesia do Felgar – e também o concelho e região envolvente –, foi visada pelos olhos atentos dos dois investigadores. E a primeira manifestação telúrica surge logo em 1955, quando a estudante Maria da Assunção Carqueja apresenta à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a sua dissertação de Licenciatura intitulada Subsídios para uma Monografia da Vila da Torre de Moncorvo, meritório trabalho de leitura e estudo da documentação medieval do arquivo histórico municipal (que havia sido iniciado pelo Abade de Baçal) e cuja publicação há muito se impunha. Seguem-se vários outros trabalhos, ora por ela, ora pelo marido, ora em parceria de ambos e, em alguns (raros) casos até com outros autores, como sejam: – A Vila Morta de Santa Cruz da Vilariça, publicado em 1957; – Olarias do Felgar, em 1958; – Fabrico da telha no Felgar, ainda em 1958; – Necrópole de Civitas Aravorum. Marialva – Meda, em 1961; 65
  • 66. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues – Missão de estudo arqueológico na região da Vilariça – Moncorvo, em 1962; – Subsídios para o estudo das ferrarias do Reboredo – Moncorvo, também em 1962; – Problema das fundições romanas de ferro. Escavação feita segundo a técnica tridimensional numa ferraria do Reboredo (Moncorvo), em 19651; – Retrospectiva Histórica dos Concelhos de Meda, Longroiva e Marialva, em 1976; – Foz Coa contra Moncorvo – a disputa da barca do Douro, em 1980; – Terras de Meda – Natureza, Cultura e Arte, em 1983; – Retábulo flamengo da Parentela de Santa Ana na igreja matriz de Torre de Moncorvo, em 1990; – Terras da Meda – Natureza, Cultura e Património (reed.) em 2002; – A contribuição para o estudo do Paleolítico Inferior na Região do Coa, 2003; – Provérbios de origem Sefardita no interior da Beira e em Trás-os-Montes, em 2004; – Felgar, em 2006; 1 Estes dois opúsculos influenciaram o nosso interesse (Cd’A) pela mineração e metalurgia do ferro na nossa região e foram companheiros durante anos, antes, durante e após, o levantamento que fizemos dos escoriais de ferro, das escavações arqueológicas na ferraria da Chapa- cunha (Mós) em que participámos e trabalhos ulteriores. O último deles, constituiu mesmo, a primeira lição no âmbito da Arqueologia Experimental. 66
  • 67. Percursos de razão e afetos – Documentos Medievais de Torre de Moncorvo, em 20072. Mas é sobre o Felgar e o seu livro, de autoria do casal, que nos debruçaremos, como no título se percebeu e, não obstante dele se apresentar na segunda parte deste artigo uma recensão crítica, não poderemos deixar de referir que nele, livro, as palavras constituídas pelos substantivos próprios “Silhades” e “Sabor” são as mais utilizadas, depois de “Felgar”. Não podia ser de outra maneira. É nessa trilogia (termo que preferimos a troika) que esta freguesia, esta paróquia, esta autarquia, esta aldeia, este povo e esta comunidade radicam, desde os princípios dos tempos. Felgar, a única freguesia do Concelho cujo termo se reparte entre as duas margens de um Rio, deve a sua existência a Silhades e esta nasceu porque o Sabor ali passa. A vetusta Silhades, com assento na margem direita daquele importante afluente do Douro, envolta por excelentes terras de cultivo, foi propriedade realenga, ou seja, régia, no início da Nacionalidade e com pergaminhos mais antigos que o concelho de Torre de Moncorvo (1285), ou mesmo o de Santa Cruz da Vilariça (1225), de quem aquele herdou o termo e as prerrogativas. Localizava-se naquelas medievas eras nos limites do antigo concelho de Mós (1162), a cujos habitantes D. Sancho I em meados de maio de 1200, passou uma carta de doação perpétua deste seu reguengo, com os seus 2 Estes dois últimos livros incluem a compilação de vários opúsculos, que assim se reúnem, revistos e ampliados. O segundo deles é preenchido sobretudo pela dissertação de Licenciatura de MAC. 67
  • 68. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues termos novos e antigos, para que o povoassem [carta de donationis aos populatoribus de Moos do nostro regalengo quod uocatur Siliade… cum suis terminis nouis et ueteribus]. Mas antes destes povoadores baixo-medievais, tivera outros, numa ocupação sucessiva desde a Pré-história mais longínqua, intensificada durante a Romanização, como os abundantes vestígios arqueológicos atestam: desde instrumentos líticos e gravuras rupestres do Paleolítico, até à arte móvel, fortificações e outras estruturas arquitetónicas da colonização romana e da Idade Média. A geomorfologia e a ação antrópica modelaram a sua paisagem. Novos animais e novas plantas se instalaram. Com o incremento da agricultura foi reduzida a área de coberto vegetal natural. Mas como a Natureza é sábia, reservou o leito de cheia do Sabor para arquivo, para aí poder ir buscar as sementes sempre que necessário e assim preservar a flora autótone. Só que a soberba do homem cresceu e agora vai afogar o vale. Os mais atentos já perceberam onde queremos chegar. Durante os árduos anos de luta contra o projeto do empreendimento hidroelétrico do Baixo-Sabor, isto é, a construção de duas gigantescas presas, numa manifestação popular in situ, ouvimos um felgarense exclamar: – querem- -nos pôr a pescar da janela! Pois é. Por isso também os felgarenses aqui homenageados – “como filhos de boa gente” – perguntam a páginas tantas no seu livro, porque não se procuram outras alternativas energéticas, ou em vez de megabarragens, hoje 68
  • 69. Percursos de razão e afetos cientificamente condenadas, construírem pequenas barragens? (pp. 70-71). É certo e sabido que apesar das promessas de criação de emprego e de progresso, através da construção de barragens no Douro e seus afluentes, iniciadas durante as ditaduras ibéricas, barragens essas que representam tanto em potência como em produção quase 25% da produção hidroelétrica nacional espanhola e mais de 60% da nacional portuguesa, elas não contribuíram nem contribuem para o desenvolvimento da região e, a prova está na sangria das suas gentes desde então para cá, tornando-se numa região de baixa densidade demográfica, em franco despovoamento e muito envelhecida. É pois muito difícil perceber, como é que uma região que produz tanta riqueza, pode ser tão pobre! 2. Recensão crítica da obra: RODRIGUES, Maria da Assunção Carqueja, RODRIGUES, Adriano Vasco – Felgar: História, Indústrias artesanais, património. [Coimbra]: Edição dos Autores, 2006. No contexto da bibliografia de referência histórica, arqueológica e patrimonial de Moncorvo e do Felgar, é fundamental determo-nos na leitura e apreciação da importante obra que é Felgar: História, Indústrias artesanais, património, da autoria coletiva de Maria da Assunção Carqueja Rodrigues e Adriano Vasco Rodrigues, livro graficamente muito cuidado, enriquecido de minuciosos 69
  • 70. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues mapas, belas fotografias e complementado ainda por singular contributo estético – literário dos autores e seus descendentes diretos, filhos e netos. Aliás, esta dimensão gostosamente afetiva e motivante, simultaneamente humana e pedagógica que atravessa esta importante obra de história local, destaca-se também, desde logo, na apelativa e pedagógica nota de abertura que é o empolgante “Hino Felgarense”, poema de Maria da Assunção Carqueja de 1950 (pp. 9-10) e ainda na “chave de ouro” que a encerra com “Alguns poemas dedicados ao Felgar” da mesma autora, ficcionalmente auto-referida como “Mariazinha persiste/era de lá, lá ficou” (versos do último poema Mariazinha ficou…, pp. 327-328). Para além desta nota imediatamente apreensível, sobressai igualmente de imediato o rigor analítico e a exigência científica e académica do tratamento com que os seus autores abordam os diversos conteúdos e variados temas que fazem da presente obra uma referência decisiva e inultrapassável para qualquer estudioso do Felgar e de Moncorvo, terras de origem e adoção de seus autores. Consagrado à memória do grande empreendedor económico e negociante de frutos secos, riqueza da região, Gualdino Augusto Carqueja e esposa, Evangelina da Conceição Carqueja, respetivamente pais e sogros dos autores, este livro (332 páginas profusamente ilustradas), com prefácio/carta do amigo comum dos autores, Dr. Armando Pimentel, divide-se em três partes essenciais: uma primeira considerada introdutória sobre a antiga e 70
  • 71. Percursos de razão e afetos já longa história do Felgar, nos seus mais variados aspetos e plurifacetadas dimensões (pp. 21-262); uma segunda parte, em que se transcrevem e atualizam “Trabalhos de arqueologia no Felgar” (pp. 263-312) e uma terceira e última parte já atrás referenciada, com “Alguns poemas dedicados ao Felgar” de Maria Assunção Carqueja (pp. 313- -328). Ao longo da primeira parte do livro, podemos acompanhar, numa narrativa histórica de sabor etnológico, bem urdida, encadeada e referenciada, a longa evolução histórica da povoação do Felgar (agrícola, industrial e de traços urbanísticos), desde o seu distante passado pré- -histórico com os seus castros e divindades trazidas pelos romanos até aos desportos, lazeres, tradições comunitárias e aprazíveis ambientes naturais da atualidade, sem esquecer alguns ilustres felgarenses, passando pelas invasões e cultos medievais, o domínio da Igreja e da Inquisição e a presença dos Judeus, a noticia das devassas e inquirições na paróquia e já na Idade Moderna, a introdução do Ensino Publico, notícia das populações e curiosidades, sem que se esqueça a referência às repercussões locais de acontecimentos históricos nacionais como o Ultimato ou mesmo internacionais de que é exemplo a Guerra Hispano- -Americana de Cuba. Já na segunda parte da obra, o enfoque vai para a descrição, estudo e análise especialmente de trabalhos de escavações arqueológicas com destque para a arqueologia do ferro, realizados pelos autores, relevando-se a sua 71
  • 72. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues contribuição para o estudo mais pormenorizado e aprofundado das ferrarias de Moncorvo. Conclui-se esta obra com uma terceira e última parte em que é divulgada uma amostra de 7 composições poéticas de Assunção Carqueja, de acentuado sabor memorialístico e laivos etnográficos entretecidos por uma íntima sensibilidade ligada à sua terra natal, “Aldeia pequenina em que nasci” (título de um dos poemas), isto é, o Felgar de que outros poemas evocam particularidades como a “varanda”, o “luar”, os “lares” (e outros tantos títulos). Trata-se efetivamente de uma das mais relevantes obras da bibliografia transmontana sobre a região de Moncorvo e a localidade bem antiga e genuína de Felgar. Todos quantos a consultem manifestarão o seu reconhecimento pelos estudos minuciosos e eruditos realizados ao longo de anos e aqui parcelarmente compilados como é o caso do texto “Subsídios para o estudo das Ferrarias do Reboredo- -Moncorvo” de autoria conjunta, publicado como separata da revista Lucerna, Porto, vol II, n.º 1-2, 1962 (e inserido com o título “Contributo para o estudo das Ferrarias de Reboredo” e algumas pequenas adaptações, ao nível das gravuras em apêndice, na obra que aqui é objeto de recensão crítica, pp. 263-285), ou do texto de Adriano Vasco Rodrigues, “O problema das fundições romanas do ferro escavação feita segundo a técnica tridimensional numa ferraria do Roboredo (Moncorvo)”, publicado igualmente em separata da revista Lucerna, Porto, vol. IV, n.º 1, 1964 (e incluído também na obra Felgar, pp. 287- -304 e acrescentado com mais ilustrações, uma notícia 72
  • 73. Percursos de razão e afetos sobre minas de ferro e um breve vocabulário ligado ao ferro) – textos estes que se encontram bem enquadrados e devidamente reconfigurados na estrutura geral da obra monográfica em análise. Percorrendo um longuíssimo arco temporal, que decorre entre a recuada Pré-história do território onde se desenvolveu a moderna povoação do Felgar até à nossa Contemporaneidade, os conteúdos desta obra, sob diversas formas de abordagem em que são dominantes importantes e pioneiros estudos arqueológicos contextualizados localmente, e desenvolvidos/orientados pelos autores, centram-se na história, património e arqueologia do concelho de Moncorvo que documentam e iluminam, de modo substancial, singular e muito atrativo. Informam e preparam a sólida ancoragem deste trabalho dos autores, uma de várias outras publicações suas mais recentes (consulte-se a bio-bibliografia atualizada de AdrianoVasco Rodrigues e outras contribuições da presente antologia), anteriores estudos eruditos aqui não compilados de que, citando apenas alguns títulos, salientamos, por exemplo, de Maria Assunção Carqueja, Documentos Medievais de Torre de Moncorvo, publicado pela Câmara Municipal de Torre de Moncorvo em 2007, importante repositório de fontes e documentos, cujos originais se transcrevem seguidos das respetivas transcrições, mas também de Adriano Vasco Rodrigues, A vila morta de Santa Cruz da Vilariça, publicada na revista Horizonte, n.º 44, Dez. 1957, pp. 73-76, ou ainda o trabalho, Missão de estudo Arqueológico na região da Vilariça-Moncorvo, comunicação conjunta de 73
  • 74. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues Adriano Vasco Rodrigues e Domingos de Pinho Brandão, apresentada ao I Colóquio Portuense de Arqueologia, 1961, e publicado no Porto, no ano seguinte. Depreende-se da leitura proveitosa desta multifacetada obra, simultaneamente erudita e de divulgação, que os seus conteúdos científicos e históricos impõem aos seus leitores um estudo atento e bem informado capaz de valorar devidamente os seus inúmeros pontos fortes quer em matéria de conteúdo quer ao nível da contextualização dos mais variados assuntos abordados. Situa-se esta obra na vasta e erudita tradição dos mais importantes estudos monográficos, de pesquisa de terreno e de investigação produzidos sobre Trás-os-Montes por alguns dos nossos mais destacados estudiosos, como os Professores Leite de Vasconcelos e J. R. dos Santos Júnior e o notável erudito Francisco Manuel Alves, mais conhecido como Abade de Baçal, influências que se podem aí registar. É esta plêiade de autores e sua obra valiosa de grande erudição e pioneirismo que Assunção Carqueja e Adriano Vasco Rodrigues de modo algum ignoram e tomam como exemplo a seguir, conforme se pode deduzir da coerente estrutura, metódica organização e bem alicerçada tessitura deste seu livro e de muitos dos seus anteriores trabalhos que este incorpora, contribuindo deste modo para um avanço significativo do conhecimento e dos estudos transmontanos. Nesta medida se considera, do nosso ponto de vista, assente numa perspetiva de conhecimento, situado enquanto historiadora e transmontana, amiga e admiradora dos dois autores que, para lá de possíveis pontos de discórdia 74
  • 75. Percursos de razão e afetos (por exemplo, a ausência de bibliografia que esta obra bem pedia!), completamente ultrapassados pelos muitos mais de concordância face às teses bem apresentadas e argumentadas nesta obra de muito agradável e proveitosa leitura que estamos em presença de uma monografia exaustiva sobre o Felgar e Moncorvo. Estes trabalhos tornaram-se possíveis pelo estudo aturado, pela produção intelectual e pesquisa especializada de largos anos e pela exemplar colaboração científica dos dois investigadores e estudiosos que são os seus autores. É, indubitavelmente, como dizíamos no início, um contributo decisivo e intransponível para a bibliografia histórica, etnográfica e arqueológica de Trás-os-Montes. 3. Nota final Numa nota final, que não desprovida de igual importância, registe-se, ainda, que da poética da Professora Assunção, ao folhearmos a revista Altitude (a revista de cultura do distrito da Guarda e publicada nesta cidade), detetámos a seguinte contribuição, que poderá eventualmente ser útil a quem o assunto vier a tratar: – A nossa casa, datado da Guarda, 1957 (publicado no n. 5-6 da 2.ª série), 1982; os – Um Soneto, idem, idem (ibidem, n.º 1 da 3.ª série, e atual), 2003; – Três Sonetos [“A minha liberdade”, de 1999; “Quisera ser Deus por um momento”, de 25.XI.1999; “Eu sou aquele que sou!”, de 23.XI.1998] (ibidem, n.º 5), 2000; – Trágica Lei daVida, soneto (ibidem, n.º 6), 2001; 75
  • 76. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues – Mundo da Saudade!, soneto (ibidem, n.º 7), 2002; – Os Tempos do Tempo e O rapaz que bateu à nossa porta, este também soneto (ibidem, n.º 8), 2003; – Dó, Ré, Mi… (ibidem, n.º 9), 2004; – Meditando, de 22.VII.2006 (ibidem, n.º 10), 2006; – Sim!, “nas Bodas de Ouro, 8.IX.2006”, assinala-se no final (ibidem, n.º 12), 2009. 76
  • 77. Percursos de razão e afetos NOTÁVEL CASAL Carlos Sambade* O fervor e a vontade de progresso têm expressão liminar nos períodos que se seguem a tormentas na natureza ou no homem., ainda que não haja uma razão certa de causa e efeito. Em Portugal e em meados do século XX incidência houve, no campo educacional, documentada a vários títulos, parecendo, a alguns, que se estava perante uma tentativa desesperada de mostrar serviço no campo da alfabetização de modo semelhante, salvaguardadas as diferenças e as distâncias, à hoje verificada com a formação profissional de base. A «regência» de escolas nos locais mais recônditos, em «quintas» anexas a freguesias, era atribuída a pessoal rapidamente preparado, supostamente com vocação para o ensino para abreviar outras dificuldades, sendo a certificação obtida em provas, escrita e de prática de sala de aula. É assim que muitos dos que viam na instrução e na * Professor; Mestre em Educação. 77
  • 78. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues educação um valor sempre presente procuram contribuir para esse desígnio na forma que encontram ao alcance. A coleção de “Pontos modelos de preparação para os exames de aptidão à Regência de Postos Escolares” (1954) e os problemas (de matemática) que os acompanham, respetivamente de Adriano Vasco Rodrigues e de Arnaldo do Nascimento Rodrigues, dão-nos uma medida desse tempo, singela que seja, aqui e agora. Os pontos em questão são vinte e cada um deles é composto por uma prova de ortografia/ditado, um tema proposto para redação e problemas de aritmética. Dos vinte ditados, o primeiro centra-se em Salazar, chefe do governo de então, que, segundo J. P. d’Assac, autor do trecho, «não se parece com ninguém». Por outro lado, o tema de redação proposto nesse ponto pede “uma história em que entre uma rua íngreme, um velho operário, dois alunos da Escola Primária e um carro de mão com um pesado fardo”. Seis dos ditados têm como base a história de Portugal, outros seis são textos de autores portugueses clássicos, dois são da lavra de Salazar. Nos restantes aborda-se o conceito de linguagem, a criança, a domesticação de animais dando como exemplo o cão, feitos dos homens e de Cristo. Dir-se-á que nada disso importa para ditado, contando mais a cadência relacionada com a tonalidade inerente a cada palavra ou frase. Não será totalmente assim se considerarmos que a um texto é imputável uma qualidade intrínseca que extravasa o criar dificuldades a quem é pedido que o reproduza. 78
  • 79. Percursos de razão e afetos Os temas propostos para provas de redação abarcam os costumes, os recursos naturais, as festas cíclicas, a (vantagem da) alfabetização. Os problemas de índole matemática baseiam-se em operações de transação corrente, patenteiam a necessidade do cálculo, assentam nos sistemas decimal e sexagesimal. No ano de 1962 surge o primeiro volume da História Geral da Civilização a que o notável casal deita ombros e que vai ter sucessivas edições e algumas modificações, uma vez que, como é referido no início do manual, «trabalhos desta índole são sempre difíceis e de critério discutível». Na 1.ª edição há uma necessidade de maior parcimónia na explicação de propósitos, nomeadamente no que se refere “a interpretação das Instruções com base nos mais recentes métodos e processos pedagógicos, (…), a prática experimental aperfeiçoada conforme as reações dos alunos (…) e os resultados colhidos”. Na edição de 1962 (doravante HGC62), introdução, logo à cabeça se indica que “Não há uma definição de história, mas vários conceitos de história”. Com semelhante relevo, na edição de 1971 (doravante HGC71), se pergunta “Por que razão estudamos a história?”. Na HGC62, “A cultura é o aspeto espiritual da civilização, que permite ao homem discernir, julgar e refletir sobre os valores”. Na HGC71 a cultura é também isso mas dá-se conta, logo de seguida, da impossibilidade da cultura enciclopédica, nos dias que correm. Tanto numa como noutra das referidas edições do manual se expressa que a civilização é “o conjunto de 79
  • 80. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues conhecimentos, costumes e instituições que integram a sociedade de um povo ou de uma raça”, sendo, assim, “um ponto de chegada e um ponto de partida”. Na HGC71, imediatamente a seguir à introdução e sob o título Das culturas indiferenciadas à civilização urbana, são encaixadas, comparando com a HGC6, dezassete páginas, com uma nota de rodapé na primeira de elas: “Embora o Programa não faça menção especial a esta rubrica, julgamos conveniente expressá-la em linhas gerais para melhor compreensão das civilizações pré-helénicas”. Só depois se abordam, na HGC61, “As Civilizações Orientais, a Ciência e a Técnica” e na HGC71 “As Civilizações Orientais, a Ciência, a Técnica e a Arte nas Civilizações Orientais e Pré- -helénicas e a sua influência na génese da Civilização Grega”. Noutro campo (e não se incluirá a arqueologia na certeza de que outros o farão com mais propriedade), ficamos a saber melhor que houve várias mercadorias- -padrão que não foram liminarmente abolidas com as “unidades ponderais geralmente de forma anular” (As Origens da Moeda, 1956, Separata do Jornal O Cávado, Esposende). Da defesa de direitos de autor (1958) à possibilidade de ampliar o campo especifica e essencialmente educacional (1973) nele dando mais ênfase à arqueologia (nem que, para isso, esta tenha, de certo modo, de se deixar adaptar), passando pelas virtualidades e vicissitudes vividas, há mais de quarenta anos, na potência-Angola, uma certeza fica, na sombra e ao sol, abrigando-nos: “A saudade tem-se”. Este ter é da ordem do ser. 80
  • 81. Percursos de razão e afetos MARIA DA ASSUNÇÃO CARQUEJA UMA ILUSTRE FELGARENSE Carlos Seixas* 1. A má porta veio bater pessoa Amiga quando me escolheu, um obscuro escrevinhador de artigos, um simples amador das letras e das coisas do antigamente, para, com 6 páginas de prosa tosca e sem brilho, participar numa mais que justa e merecida Homenagem à Dra. Maria da Assunção Carqueja, minha ilustre conterrânea. E tão acanhado me reconheço e sinto, que nem sequer me atrevo, ainda que profundamente honrado, a fazer a clássica apresentação de tão ilustre felgarense nas suas nobres qualidades de extremosa Mãe, de insigne investigadora e poetisa, de pedagoga e docente com vasta aptidão literária e capacidade intelectual … e vá a responsabilidade a quem, depois de ter tido a tão louvável ideia de Homenagem, praticou o erro tremendo de encarregar um desconhecido rabiscador, que nada vale, para alinhavar meia dúzia de ideias de testemunho para uma homenageada que vale tanto! * Advogado; investigador. 81
  • 82. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues É que sempre corro o risco de que alguém, sorrateiro e malicioso, a sorrir, me pergunte ironicamente quem é que, primeiramente, me apresenta a mim, visto que, mesmo procurando e rebuscando os recantos mais esconsos e os limbos da nossa existência terrena, de comum com tão brilhante homenageada só um ponto nos une: o de sermos ambos, com a diferença da idade de Jesus Cristo, nados e criados no Felgar, naquele torreão natal que, concedo sem relutância, a Dra. Maria da Assunção Carqueja ama mais que eu, um Amor terno, bem manifestado na sua obra poética e, em particular, melhor expresso no mote de um seu poema de 1950: “És tão linda, ó minha aldeia”, mais tarde adoptado como hino felgarense e brilhantemente musicado pelo maestro e compositor António Pedro num acasalamento mais do que perfeito de poesia e música. Ainda neste campo, cometeria uma enorme ingratidão, se não fizesse também referência, ainda que ao de leve, a outro exemplo de Amor à terra e que se traduziu na publicação do excelente livro monográfico intitulado Felgar, editado em 2006, seja, em ano de gozo das bodas de ouro dos seus autores e ora homenageados, os quais, em parceria, elaboraram uma obra de consulta obrigatória sobre esta nossa aldeia e que sei ter tido uma óptima aceitação por todos os felgarenses que se preocupam em saber das suas raízes e em saber sempre mais sobre a imensidade dos fastos históricos aí narrados. Bastaria esta obra monográfica, e até agora única, para que o nome dos seus autores seja para sempre recordado e associado a uma importante iniciativa e a uma mui válida pedrada no charco 82
  • 83. Percursos de razão e afetos que veio abanar o marasmo cultural das águas calmas em que o Felgar navegava. Oxalá que tão exemplar comportamento sirva para nortear e atiçar outros curiosos ou entidades a promoverem mais estudos e publicações deste cariz. De certeza que as nossas aldeias e a região culturalmente só tinham a ganhar com idênticas iniciativas. 2. E foi, ainda menino e moço, na década de 70 do século passado, ao som dos acordes musicais da Banda Filarmónica Felgarense, em dias de nomeada, festivos ou de romaria, ou a ouvir as vozes das mulheres cantadeiras da nossa terra, em dias de labuta doméstica ou lide rural, que tantas vezes entoavam e trauteavam o hino felgarense, que me levou à natural curiosidade de saber quem era o autor de tão belo poema. A resposta veio célere e algo explicativa. – É a Dra. Maria da Assunção, filha do Senhor Gualdino –, respondiam-me os mais idosos. Logo, por ser filha de quem era, consegui identificar a autora, pois, naquela altura, o berço ainda gozava de foros de autenticidade e de consideração social e sendo, como alguém já escreveu, o Felgar uma terra com memória constatei, um tanto ufano e com sentido orgulho bairrista que, afinal, no campo feminino, a par de outra poetisa felgarense, Brígida Janeiro (1894- -1974), com quem cheguei ainda a conviver e a escutar atenciosamente a leitura e declamação de alguma da sua poesia, em longínquos e saudosos serões culturais que se perdem na bruma da minha memória, o Felgar tinha no seu seio e era terra natal de outra poetisa, a ora homenageada. Assim, a nossa memória, coletiva e individual, inequívoca e indelevelmente ficava mais rica. Muito mais rica. 83
  • 84. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues 3. Mais tarde, já adulto, estando naquela fase da super curiosidade relativamente à causa das coisas e na de tentar recolher avidamente o máximo de informação oral e escrita sobre o passado do Felgar ou de compilar tudo o que à nossa terra dissesse respeito, reparo, ao consultar as folhas delidas e gastas do jornal A Torre, editado nos meados do século passado aqui em Torre de Moncorvo, com alguns poemas assinados sob o pseudónimo de Carqueja da Serra. Agora, já não precisei de perguntar ou de pedir auxilio a terceiros para apurar da identidade de tão ilustre autora. O nome com as suas 2 singelas palavras dizia tudo. Sem precisarmos de ser especialista ou de ter passado tempo a dissecar sementes de filologia, é fácil dar com o rasto etimológico ao nome Carqueja, a Pterospartum tridentatum do latim, e que é um arbusto que abunda nos matagais das encostas da Serrinha e do Cabeço da Mua, cuja flor tem alguma importância medicinal, manuseada em tisanas ou mezinhas caseiras para combater as constipações ou para fazer-se um chá para atacar os males do fígado. Não olvidamos, ainda, que a propriedade principal deste arbusto, que pode atingir o máximo de 1 metro de altura, era a de ser ideal para produzir a combustão, para fazer-se lume e aquecer- se o forno da poia, importante e imprescindível atividade industrial da época. Daí, se nos afigurar que aquelas que se dedicavam à venda deste arbusto e de tal faziam profissão eram conhecidas como as “carquejeiras”, ou as “carquejas” ou, pelo lado masculino, os “carquejos”. Estava assim o étimo Carqueja duplamente bem ligado à toponímia por, como se intui, visar homenagear a Serrinha 84
  • 85. Percursos de razão e afetos e o Cabeço da Mua, o tal “altar que tem aos seus pés o povo do Felgar” e à onomástica felgarense, cuja existência e conhecimentos de antroponomia e genealógicos me levam aos inícios do século XIX, mais precisamente ao trisavô da Dra. Assunção, Domingos Manuel Carquejo, ancião com vasta prole e descendentes com ocupação nos modestos ofícios de jornaleiros e artífices, até chegarmos a seu Pai, Gualdino Augusto Carqueja (1907-2003), senhor que, paulatinamente, passo a passo, construiu um império comercial e ocupa, por direito próprio, um lugar merecido e destacado nos notáveis felgarenses do século XX. Assim, a história seja justa e lhe reconheça tal posição. 4. Igualmente, já nos idos do mês de março de 1995, tive o enorme prazer de ter descoberto e obtido fotocópias de uma obra, completamente esgotada, de difícil acesso e já por mim tão procurada. Refiro-me à dissertação de licenciatura Subsídios para uma monografia da vila de Torre de Moncorvo apresentada e defendida, em 1955, pela Dra. Maria da Assunção Carqueja na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e que o Município em boa hora veio a reeditar, tendo a autora revisto e procedido a atualizações com novas notas e fotografias que muito enriqueceram a edição. Tornou-se obra de consulta indispensável para qualquer investigador, amador ou profissional, amante ou mero curioso da história local. E foi esta uma obra que muito me ensinou sobre as nossas origens e importância que Moncorvo teve em eras passadas, quando, inclusive, foi tida como a maior comarca 85
  • 86. Homenagem a Maria da Assunção Carqueja e AdrianoVasco Rodrigues de Portugal. Igualmente, e já o escrevi noutras paragens, foi num documento aí publicado que vi a primeira referência escrita ao Felgar, enquanto aldeia e que informa que, em 1326, quatro moradores felgarenses assinam, como testemunhas, uma postura da Câmara que proibia a entrada do vinho de fora no concelho, enquanto houvesse vinho da vila e do seu termo. Essa referência, para ser bem compreendida, carece de oportuno enquadramento, alguma explicação e desenvolvimento em futuro trabalho. Permita-se-me, agora, abrir um pequeno parênteses para contar um acontecimento real. Na única vez que tive o prazer de falar mais demoradamente com a homenageada, aos 25 de setembro de 2005, após a realização de uma jornada cultural na freguesia de Felgar presidida pelo seu marido, Dr. Adriano Vasco Rodrigues, sob o patrocínio da Junta de Freguesia, veio, no meio da conversa e a talhe de foice, uma alusão a esta sua obra e lembro-me, perfeitamente, de ter pedido e insistido, várias vezes, com a Dra. Maria da Assunção para a necessidade de reeditar aquela sua obra, por se me afigurar que, além da velha e quase inacessível monografia do Abade de Baçal sobre Moncorvo, de 1908, as poucas obras monográficas existentes relativas ao concelho deixavam muito a desejar. Era necessário dotar os novos investigadores de uma obra mais acessível para se ler e consultar, com riquíssimo valor histórico, fruto da consulta e transcrição das fontes originais primárias, consubstanciadas em 39 documentos de um núcleo de pergaminhos medievais do arquivo municipal. O seu valor histórico é incalculável, por abordar 86