1) O documento discute os conceitos de técnica, tecnologia e industrialização, comparando as diferentes etapas históricas da industrialização humana.
2) A industrialização é dividida em três modelos (clássica, planificada e tardia) e três etapas ou revoluções industriais (primeira, segunda e terceira).
3) Cada modelo e etapa assinalou momentos importantes de desenvolvimento tecnológico e industrial na história da humanidade.
1. 0 que são técnica e tecnologia? porque os produtos são feitos por máquinas em série,
Chama-se técnica qualquer instrumento (ou sendo todos iguais. Assim, a Revolução Industrial foi o
conhecimento) que implica uma demonstração de momento em que a humanidade -ou melhor, alguns
inteligência humana, uma forma de inventar um método países e regiões específicos - se industrializou, isto é,
ou um objeto que facilite algum trabalho ou que sirva implantou a indústria moderna, com intensa
para controlar as forças da natureza de alguma maneira. mecanização e produção massificada ou em série.
A tecnologia é vista como uma técnica avançada, A industrialização pode ser dividida em diferentes tipos
resultado da aplicação do conhecimento científico, da ou modelos e, principalmente, em três etapas. Do ponto
ciência moderna que nasceu — ou se consolidou — nos de vista político-econômico, podemos dizer que houve
séculos XVII e XVIII e prossegue até os nossos dias. três modelos de industrialização: a clássica ou original, a
Assim, o arco e a flecha, a espada e o escudo, etc, planificada e a tardia, periférica ou retardatária. Do ponto
utilizados pelos agrupamentos humanos durante de vista da complexidade tecnológica e do transcorrer
séculos ou milénios, são considerados técnicas. O do tempo, ela pode ser dividida em três etapas ou fases:
computador, o avião moderno, o foguete espacial, a a Primeira, a Segunda e a Terceira Revolução Industrial.
bomba atómica, o robô e a fibra óptica, entre outros Vamos examinar, resumidamente, cada um desses
instrumentos ou aparelhos, são considerados modelos e etapas.
tecnologias. Toda tecnologia é uma técnica, mas o ■ Industrialização clássica ou original
inverso não é verdadeiro. A industrialização clássica ou original de uma forma
Também ideias ou teorias, elementos não materiais, geral foi típica dos países desenvolvidos, o atual
enfim, podem ser considerados tecnologias: um software Primeiro Mundo. Como o próprio nome diz, foi a
ou programa para computador, um novo método primeira, a original, bem anterior às demais.
administrativo mais racional e produtivo, o Começou na Inglaterra, em meados do século XVIII,
mapeamento genético de uma planta ou animal, etc. Em e, no século XIX, espalhou-se para outros países da
suma, tecnologia é uma técnica especial e moderna, Europa e de outros continentes (Estados Unidos, Japão).
resultante da aplicação do conhecimento científico, é Esses países pioneiros na revolução industrial formaram
todo produto científico (ideias ou coisas materiais) que as primeiras "sociedades de consumo" do planeta, os
tem aplicação prática para a humanidade, geralmente países afluentes ou desenvolvidos. Daí o
ligada ao avanço das conquistas humanas sobre a desenvolvimento económico durante muito tempo,
natureza, até mesmo sobre a nossa própria natureza desde meados do século XVIII, ter sido considerado
(para se viver mais, para curar doenças antes incuráveis, sinónimo de industrialização.
etc). Hoje em dia se valorizam mais outros elementos,
É evidente que, quanto maior for o grau de principalmente o desenvolvimento social (padrão ou
desenvolvimento tecnológico de uma sociedade, maior qualidade de vida de uma população), mas não há
será o seu nível de independência ou autonomia dúvidas de que a industrialização constitui o alicerce
(embora nunca total) em relação aos elementos da que permite uma elevação na qualidade de vida: maior
natureza. Esse grau varia muito no tempo e no espaço. produção económica e energética e, consequentemente,
As sociedades atuais, notadamente após a Revolução mais escolas e hospitais, mais alimentos, mais
Industrial, via de regra possuem técnicas bem mais residências, maior quantidade de equipamentos de
avançadas que as sociedades do passado e, dessa lazer, etc.
maneira, modificam a natureza original num grau bem Origens: do feudalismo ao capitalismo
maior. As origens da industrialização clássica são
praticamente as mesmas do capitalismo, sistema
A industrialização da humanidade socioeconómico baseado numa economia de mercado e
A atividade industrial é a que mais profundamente
numa sociedade de classes. Por economia de mercado
modifica o espaço geográfico. Ela incentiva a geração de
devemos entender a situação em que predominam as
tecnologia, produz novas máquinas, aumenta o
empresas particulares e o mercado desempenha o papel
consumo de energia, amplia as trocas entre as regiões e
principal nas decisões económicas. Tais decisões são
os países, desenvolvendo, assim, o comércio e os meios
tomadas pelos donos das empresas privadas (os
de transporte.
capitalistas ou burgueses) ou então — como é mais
Antes da indústria moderna, que nasceu em meados
comum nos dias de hoje, com o predomínio das
do século XVIII, havia somente o artesanato e a
sociedades anónimas (com milhares de acionistas) —
manufatura1. A indústria moderna, que no início era
por seus representantes (diretores e administradores). O
identificada com a fábrica e as suas chaminés (hoje não
objetivo principal da empresa capitalista é a busca de
mais, pois falamos também em "indústrias, ou fábricas, lucros.
sem chaminés", como nas indústrias produtoras de
O capitalismo, embora tenha começado timidamente
softwares), consiste numa produção em massa e
nos séculos XV e XVI, só se tornou o sistema dominante
padronizada. Em massa porque produz com o uso de
e atingiu o seu estágio pleno com a Revolução Industrial
modernas máquinas, que fabricam milhares de produtos
e a urbanização que a acompanhou. Esse sistema
num tempo curto. E estandardizada ou padronizada
socioeconómico só existe de fato — capitalismo pleno —
com a indústria moderna e com a sociedade urbanizada.
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2. O período que vai do século XVI ao XVIII pode ser A partir do final dos anos 1980, quase todas as
considerado uma etapa primitiva do capitalismo (o economias planificadas se tornaram, em maior ou menor
capitalismo comercial), mas não ainda o capitalismo grau, economias de mercado. Esse tipo de economia
plenamente desenvolvido. O capitalismo, como mostra o existiu durante várias décadas do século XX, em vários
estudo da história, surgiu após o feudalismo, sistema países — a ex-União Soviética, a Polónia, a antiga
socioeconómico predominante na Europa durante a Alemanha Oriental, a Hungria, etc. —, e produziu um
Idade Média (século V ao XV). A transição do tipo específico de industrialização, a planificada.
feudalismo para o capitalismo pleno, tendo como etapa Essa industrialização consistiu num notável esforço
fundamental a Revolução Industrial, foi um processo para ampliar os estabelecimentos industriais, com um
longo, que durou vários séculos. Esse processo amplo predomínio das empresas estatais e a ênfase nas
significou não somente uma mudança de sistema indústrias pesadas ou de meios de produção
socioeconómico, mas também, como vimos, uma nova (siderúrgica, metalúrgica, petroquímica, de cimento e
maneira de encarar o espaço e de agir sobre ele, o início outras). Ela foi importante para o avanço industrial dos
de uma verdadeira produção do espaço. países que adotavam economias planificadas.
Com o desenvolvimento do comércio e o crescimento
urbano causado pelas constantes fugas dos camponeses ■ Industrialização tardia, periférica ou
dos feudos para as cidades a partir do século XI, houve retardatária
um progressivo enfraquecimento do feudalismo. Isso Essa forma de industrialização é a que nos interessa
porque tal sistema socioeconómico fundamentava-se mais de perto por ter ocorrido no Brasil. Trata-se de uma
numa economia natural, com base na agricultura e na qual industrialização que, como o nome sugere, foi
cada feudo produzia tudo aquilo de que necessitava, historicamente atrasada em relação à original e ocorreu
havendo pouco comércio. Com a expansão do comércio, em muitos países subdesenvolvidos, o chamado Terceiro
a economia de mercado (de trocas) aos poucos ocupou o Mundo, ou Sul geoeconômico. Foi mais comum no
lugar da economia natural. Esse processo foi século XX, embora, em alguns casos, tenha se iniciado de
acompanhado pelo surgimento de uma nova classe, a forma tímida no fim do século XIX.
burguesia, que se tornou cada vez mais poderosa. Ela difere dos outros dois tipos por várias razões.
A sociedade feudal era dividida em duas principais Entre elas, menciona-se que:
classes: os servos — camponeses, que trabalhavam em > geralmente, é feita com uma grande participação de
troca de proteção e do uso em proveito próprio de uma capitais estrangeiros, ao contrário das outras duas (a
porção de terras do feudo; e os senhores feudais — a classe clássica e a planificada), nas quais predominam os
dominante, proprietária dos feudos. capitais nacionais;
Com a expansão do comércio e, a partir do século > tem por base um maior desenvolvimento das in-
XV, com a manufatura, desenvolveu-se uma nova dústrias de bens de consumo, diferentemente da
relação de trabalho, diferente da relação servil: a relação industrialização planificada, em que predominam as
assalariada. Nessa relação, os camponeses que fugiram indústrias de base, e da clássica, que é caracterizada por
para as cidades trabalhavam para os burgueses em troca um desenvolvimento equilibrado entre esses dois tipos
de um salário, passando assim a ser proletários e não de indústria;
mais servos. > utiliza basicamente tecnologia estrangeira, ao
contrário dos outros dois tipos de industrialização, que
■ Industrialização planificada criam ou adaptam as tecnologias em função de suas
A industrialização planificada ocorreu somente no realidades.
século XX, no antigo Segundo Mundo, isto é, os países Quanto à diferença entre Primeira, Segunda e
denominados socialistas e que adotavam economias Terceira Revolução Industrial, pode-se afirmar que cada
planificadas. uma assinalou um momento de desenvolvimento
A economia planificada, que praticamente não existe tecnológico.
mais nos dias de hoje, consistiu numa tentativa de ■ Primeira Revolução Industrial
superar a economia capitalista ou de mercado. Numa A Primeira Revolução Industrial, feita com bases
economia planificada, os meios de produção (fábricas, técnicas mais simples (máquina a vapor, carvão como
bancos, fazendas, empresas de seguros ou de finanças, principal fonte de energia, força de trabalho não
etc.) são estatais e, no lugar do mercado, o que norteia a especializada nem qualificada), ocorreu até o fim do
produção e os preços são os planos. Estes, que podem século XIX. Caracterizou-se pelo fato de o Reino Unido
ser anuais ou plurianuais (geralmente quinquenais), são (Inglaterra) ter sido a grande potência mundial - e
elaborados por órgãos técnicos — embora sempre exista principal exemplo de industrialização - e as indústrias
uma evidente influência política — ou setores estatais têxteis, o se-tor de vanguarda.
encarregados de fixar metas (quanto se vai produzir ■ Segunda Revolução Industrial
neste ou naquele setor durante certo tempo, onde A Segunda Revolução Industrial exigiu uma base
comprar matérias-primas, a que preços vender, etc). Ou técnica mais complexa (refino do petróleo, que se tornou
seja, a economia planificada é mais centralizada que a a principal fonte de energia do século XX, máquinas e
economia de mercado, em que cada empresa planeja a motores mais sofisticados e movidos a energia elétrica,
sua atividade, faz os seus planos para o futuro. mão de obra especializada) e predominou do fim do
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3. século XIX até meados dos anos 1970. Ela se prolonga em alguns Estados: Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e
até os nossos dias, uma vez que uma imensa parte do Hong Kong (hoje reincorporado à China).
globo ainda não ingressou, de fato, na Terceira A lógica do fordismo consiste na seguinte ideia: para
Revolução Industrial e, ao mesmo tempo, existem produzir em massa é necessário que existam
diversos países subdesenvolvidos - em especial na consumidores para comprar toda essa produção (de
África e no sul e sudeste da Ásia - que nem sequer automóveis, por exemplo, o grande símbolo do
consolidaram o estágio da Segunda Revolução fordismo). Ora, para isso, torna-se necessário um imenso
Industrial. mercado consumidor, e a maioria da população de
Os Estados Unidos foram a grande potência qualquer país é constituída pelos trabalhadores; logo, é
económica e o principal modelo de industrialização preciso pagar bem aos trabalhadores para que eles
dessa fase ou estágio da Revolução Industrial, possam comprar, possam consumir em grandes
caracterizada ainda pelo predomínio da indústria quantidades, o que aumenta a produção e os lucros.
automobilística e outras indústrias a ela ligadas Ao contrário do taylorismo, que se preocupava mais
(petroquímica, siderúrgica, metalúrgica, etc). com a máxima utilização do tempo de trabalho do
operário, o fordismo se preocupa também com o tempo
Taylorismo e fordismo livre e, principalmente, com o consumo. Não se trata
Dentro da Segunda Revolução Industrial dois apenas de trabalhar mais intensamente, como no
aspectos ou processos se destacam, ambos típicos do taylorismo, e sim de trabalhar menos, com maior
século XX: o taylorismo e, especialmente, o fordismo. especialização e produtividade, e consumir mais. A
O taylorismo, organização do trabalho sistematizada generalização do fordismo, dessa forma, foi um dos
pelo engenheiro estadunidense Frederich W Taylor por fatores que ajudaram na melhoria dos padrões de vida
volta de 1900, consiste na rígida separação do trabalho dos países desenvolvidos no século XX.
por tarefas e níveis hierárquicos (executivos e operários).
Existe um controle sobre o tempo gasto em cada tarefa e ■ Terceira Revolução Industrial ou revolução
um constante esforço de racionalização, para que a técnico-científica
tarefa seja executada num tempo mínimo. O tempo de A Terceira Revolução Industrial, também de-
cada trabalhador passa a ser vigiado e cronometrado, e nominada revolução técnico-científica, encontra-se em
aqueles que produzem mais em menos tempo recebem andamento desde meados dos anos 1970 e deverá
prémios como incentivo; com o tempo, todos serão desenvolver-se mais plenamente no transcorrer do
obrigados a produzir num tempo mínimo certa século XXI. Ela se iniciou tanto nos Estados Unidos,
quantidade de peças ou produtos. O taylorismo sobretudo na Califórnia (informática, telecomunicações),
aumenta a produtividade da fábrica e a exploração do como no Japão (robótica, microeletrônica) e na Europa
trabalhador, que passa a produzir mais em menos ocidental, em particular na Alemanha (biotecnologia,
tempo. química fina). É marcada pelo predomínio de indústrias
Como complemento do taylorismo, surgiu na década altamente sofisticadas, como as mencionadas, e que
de 1920 o fordismo, termo que vem do nome do exigem muita tecnologia e maior qualificação da força
industrial estadunidense Henry Ford, um pioneiro da de trabalho.
indústria automobilística no início do século passado. Na Segunda e, principalmente, na Primeira Re-
Esse processo consiste num conjunto de métodos volução Industrial, a procura por mão de obra barata e
voltados para produzir em massa, em quantidades sem qualificação era imensa, assim como tinham muita
nunca vistas anteriormente. Ele absorve algumas importância as matérias-primas em geral.
técnicas do taylorismo e vai além: trata de organizar a Agora, com o avanço da revolução técnico-científica,
linha de montagem de cada fábrica para produzir mais, diminui a procura por força de trabalho pouco
controlando melhor as fontes de matérias-primas e de qualificada, que pode ser substituída por robôs, e
energia, a formação da mão de obra, os transportes, o também ocorre uma desvalorização das matérias-primas
aperfeiçoamento das máquinas para ampliar a produ- em geral, pelo menos da imensa maioria delas (minérios,
ção, etc. O fordismo buscava ampliar a produção e o produtos agrícolas, etc).
consumo. Seu grande lema era "produção em massa e Isso porque aumenta constantemente a reciclagem de
consumo em massa". produtos, e as indústrias de novos materiais criam novas
O fordismo marcou a supremacia industrial dos Estados matérias-primas (novas ligas metálicas, novos materiais
Unidos no século XX e foi adotado em praticamente para gravação de som e imagem, para a fuselagem de
todos os países desenvolvidos. Nos demais países, aviões, para os automóveis, etc), que utilizam produtos
houve — ou em alguns casos, ainda há — um fordismo mais abundantes e baratos.
parcial, localizado apenas em algumas áreas ou setores O importante passa a ser a tecnologia e, conse-
económicos específicos e atingindo somente uma quentemente, as pesquisas científicas e tecnológicas.
pequena parcela da população. Dessa forma, nos países Metais raros são substituídos por outros mais
periféricos ou subdesenvolvidos, como regra geral não abundantes, produzem-se novas variedades de géneros
houve a completa generalização do fordismo, princi- agrícolas e desenvolvem-se fontes de energia em
palmente no seu aspecto social — o consumo em massa, laboratórios, entre tantas outras inovações.
que pressupõe um bom poder aquisitivo para a imensa Desse modo, em termos relativos diminui a im-
maioria da população —, a não ser no fim do século XX portância da natureza - isto é, o tamanho do território de
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4. um país, os seus recursos naturais em geral - e aumenta necessidades do consumidor, fabricando somente o
o valor da ciência e da tecnologia com o seu alicerce ou a necessário e com grande controle de qualidade. Para
sua base, que é a educação. Em outras palavras, comparar, podemos lembrar que as indústrias Ford,
aumenta muito o valor dos chamados "recursos quando foram para o Reino Unido nas primeiras
humanos" ou, como afirmam alguns autores, do "poder décadas do século XX, passaram a fabricar automóveis
cerebral": novas ideias e técnicas, funcionários exatamente iguais aos dos Estados Unidos, até mesmo
qualificados e com maior escolaridade, etc. com o volante do lado esquerdo (os ingleses preferem
A Terceira Revolução Industrial utiliza muito mais a do lado direito), tal a necessidade de massificação.
ciência e a tecnologia do que as duas anteriores. É por As empresas japonesas nas décadas de 1970 e 1980, e
esse motivo que se fala em "revolução técnico-científica" hoje até as estadunidenses e as europeias, já fabricavam
para designá-la. carros e outros bens personalizados, ou seja, ao gosto de
No decorrer da História, a humanidade sempre criou e cada cliente ou consumidor, com detalhes e diferenças
utilizou recursos técnicos - basta lembrar o controle do que o fordismo jamais levou em consideração. Com essa
fogo, a invenção da roda, a domesticação de animais e mudança, o desperdício diminui e também a relação
plantas há milhares de anos, etc. Mas a regra geral era produção-consumo passa a ser mais igualitária, com in-
que, primeiro, se conhecesse algo na prática e, depois, fluências recíprocas.
viesse a teoria, isto é, a ciência. Nas últimas décadas, isso Mas essa mudança precisa de outra, que lhe é
mudou: os novos setores de ponta em tecnologia e na complementar: a substituição da linha de montagem (na
indústria representam aplicações de conhecimentos qual cada objeto é produzido de forma idêntica aos
científicos - da microfísica, da ecologia, de teorias demais, com controle de tempo sobre cada trabalhador)
avançadas da matemática, da genética, etc. -, que, no por uma produção mais flexível. Isso é facilitado pela
início, foram considerados "inúteis", ou seja, informática, pela robo-tização e pelo uso de uma força
conhecimento puro e sem aplicação. Além disso, a de trabalho mais qualificada, que substitui a mão de
importância da ciência e da tecnologia avançada mudou obra técnica e repetitiva predominante no fordismo.
radicalmente. Em vez de serem apenas um elemento a Na Segunda Revolução Industrial, a força de trabalho
mais, até mesmo dispensá vel, como ocorria em geral era especializada - não no sentido de
anteriormente, elas passaram a ser elementos centrais, qualificação ou estudos, e sim no de fazer uma só
aqueles que comandam o ritmo e os rumos das atividade - e mecânica, com atividades repetitivas. Por
mudanças. isso, eram necessários horários rígidos, com controle
sobre o uso do tempo de cada funcionário. Hoje ocorre
Do fordismo à produção flexível uma mudança. Com a Terceira Revolução Industrial, as
A Terceira Revolução Industrial representa também atividades se tornam mais criativas e exigem mais
uma progressiva mudança nos métodos de produção e qualificação, mas, ao mesmo tempo, o horário já não é
de trabalho, no consumo, nas relações entre as empresas tão importante. Mais da metade dos trabalhadores nos
e seus funcionários e entre as empresas e os Estados Unidos, por exemplo, já tem um horário
consumidores. É a passagem do fordismo para o pós- flexível. Eles devem trabalhar seis ou sete horas por dia,
fordismo, também conhecido como produção flexível. O mas podem começar às 8 ou às 11 horas; se começarem a
Japão foi o grande exemplo dessa nova organização jornada mais cedo, terminarão antes, caso contrário
capitalista, seguido pela Alemanha e por outros países. ficarão até mais tarde. O controle do ponto, do horário,
Mas, desde os anos 1990, praticamente todas as já perdeu importância para a qualidade do trabalho.
economias desenvolvidas, inclusive a estadunidense Com isso, a influência dos funcionários aumenta,
(que até os anos 1980 criticava o "modelo aponês"), vêm, apesar de diminuir a necessidade da força de trabalho.
em maior ou menor grau, imitando ou adaptando Precisa-se a cada dia de menos trabalhadores, porém
alguns métodos japoneses e se modernizaram. mais qualificados e importantíssimos para o
O fordismo, como vimos, implica produção em massa, funcionamento da produção flexível. A mão de obra
utilizando a linha de montagem e a padronização dos criativa substitui aos poucos a força de trabalho técnica.
bens ou serviços, além de consuni de massa. Para tanto, Por esse motivo, esses funcionários qualificados passam
existe uma prioridade da produção, da empresa, sobre o a ser essenciais numa empresa moderna, mais
consumidor, visto somente pelo seu poder de compra a importantes que as matérias-primas ou as fontes de
função da publicidade é massificar, é fazer as pessoas energia.
desejarem alguma coisa, mesmo que não rrecisem dela
nesse método existe uma imensa produção e ao mesmo ■ Novas regiões industriais ou tecnopolos
tempo, um grande desperdício: pois se produz em Por causa da importância da ciência e da tecnologia,
enormes quantidades, sem preocupações com a hoje as novas regiões industriais, aquelas de tecnologia
qualidade das merciorias; depois se vende ou se tenta de ponta ou de vanguarda, não se localizam mais nas
vender . Nos custos de produção já se embute o áreas onde existem matérias-primas (carvão, minérios),
desperdício (artigos defeituosos em grande quantidade, como ocorria nas velhas regiões industriais. Elas se
objetos que não encontram compradores, o que encontram principalmente nas proximidades de
encarece os produtos. importantes centros de pesquisa e de ensino
Para amenizar esse problema está se introduzindo o just- universitário.
in-tíme, um método de produção que parte das
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5. Algumas vezes, existe uma coincidência entre as
velhas e as novas regiões industriais, ou uma
continuação delas, tais como os casos de Paris, Londres,
Tóquio ou Milão, mas o importante não é mais a
existência de recursos naturais nem mesmo o mercado
consumidor local, e sim as universidades e institutos de
pesquisas que existem nessas áreas.
Há inúmeros exemplos dessas novas regiões
industriais de ponta, que reúnem centros produtores de
tecnologia e indústrias de informações ou
biotecnológicas. Alguns autores chamam essas novas
regiões industriais da Terceira Revolução Industrial de
tecnopolos. O grande exemplo é o Vale do Silício (Silicon
Valley), a 48 km ao sul de São Francisco, no condado de
Santa Clara, entre Palo Alto (onde está a Universidade
de Stan-ford, considerada a iniciadora e impulsionadora
desse polo tecnológico) e San José, na costa oeste dos
Estados Unidos.
Outros exemplos importantes de tecnopolos são: a
chamada Route 128, perto de Boston e do Instituto
Tecnológico de Massachusetts, no nordeste dos Estados
Unidos; a região de Tóquio, no Japão; a região Paris-
Sud, no sul de Paris, França; o chamado Corredor M4,
ao redor de Londres, Reino Unido; a região de Milão, na
Itália; as regiões de Berlim e do Vale do Neckar (onde se
encontram a Universidade de Heidelberg e o Instituto
Max Plank de biotecnologia), na Alemanha.
A ciência e a tecnologia se desenvolvem princi-
palmente em universidades e institutos de pesquisas,
que são muito comuns - e de óti-ma qualidade nessas
regiões, onde há uma integração entre as indústrias de
alta tecnologia e esses institutos e universidade.
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