SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 7
Descargar para leer sin conexión
Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus                    ARTIGO
26           eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32.            ORIGINAL



                    ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PACIENTE
              COM LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO UTILIZANDO A CIPEa


Greicy Kelly Gouveia Dias BITTENCOURTb
Patrícia Josefa Fernandes BESERRAc
Maria Miriam Lima da NÓBREGAd


                                                                RESUMO

Trata-se de um estudo de caso fundamentado na Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Horta e na Classificação
Internacional das Práticas de Enfermagem (CIPE®), objetivando a sistematização da assistência de enfermagem a uma
paciente portadora de Lupus Eritematoso Sistêmico. Foi desenvolvido no Hospital Universitário da Universidade da
Paraíba. Para a coleta de dados, utilizou-se um instrumento contemplando as necessidades psicobiológicas, psicossociais
e psicoespirituais baseadas na Teoria de Horta. Foram identificados os diagnósticos de enfermagem utilizando a CIPE®
Versão Beta 2, estabelecendo-se os resultados esperados e as intervenções de enfermagem, que foram implementadas e
avaliadas. Os resultados obtidos demonstram que a assistência de enfermagem a esta paciente foi direcionada para a
prevenção de complicações decorrentes da doença e para a promoção da melhoria de qualidade de vida.

Descritores: Processos de enfermagem. Lupus eritematoso sistêmico. Diagnóstico de enfermagem. Classificação.

                                                               RESUMEN
Es un estudio de caso basado en la Teoría de las Necesidades Humanas Básicas de Horta y en la Clasificación Internacional
de las Prácticas de Enfermería (CIPE®), con el objetivo de sistematizar la atención de enfermería a un paciente portador de
Lupus Sistémico Eritematozo. El estudio fue desarrollado en el Hospital Universitario de la Universidad de Paraíba, Brasil.
Para la toma de datos se utilizó un instrumento que contemplara las necesidades psico-biológicas, psico-sociales y psico-
espirituales basadas en la Teoría de Horta. Se identificaron los diagnósticos de enfermería utilizando CIPE® Versión Beta 2.
La aplicación de las etapas del proceso de enfermería permitió la identificación de los diagnósticos de enfermería, el
establecimiento de los resultados y de las intervenciones de enfermería que se llevaron a cabo y se evaluaron. Los resultados
obtenidos demuestran que la sistematización de la atención de enfermería a esta paciente, estuvo dirigida a la prevención de
complicaciones resultantes de la enfermedad y a la promoción de la mejora de calidad de vida.
Descriptores: Procesos de enfermería. Lupus eritematoso sistémico. Diagnóstico de enfermería. Clasificación.
Título: Atención de enfermería a una paciente portadora de lupus sistémico eritematoso, usando la ICNP.

                                                              ABSTRACT
It is a case study based on Horta’s Theory of the Basic Human Needs and on the International Classification of the Nursing
Practices (ICNP®), aimed a systematizing Nursing Care for a patient with lupus erythematous systemic. This study was carried
out at the Universidade da Paraíba University Hospital, a teaching hospital in the state of Paraíba, Brazil. Data collection
was conducted through an instrument that fulfilled the psychobiologic, psychosocial, and psychospiritual needs based on Horta’s
theory. Nursing diagnoses were identified using ICNP® Version Beta 2 establishing the expected outcomes and the nursing
interventions, which were implemented and appraised. The results demonstrate that Systematization of the Nursing Care for
this patient had the purpose of preventing disease complications and promoting the improvement of life quality.

Descriptors: Nursing process. Lupus erythematosus, systemic. Nursing diagnosis. Classification.
Title: Nursing care for a patient with lupus erythematosus systemic using ICNP.


a
    Trabalho desenvolvido na disciplina “Processo de Cuidar em Enfermagem” do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF),
    nível Mestrado, do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
b
    Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade
    Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil.
c
    Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente da Faculdade de Enfermagem Nova Esperança (FACENE), Paraíba, Brasil.
d
    Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Docente
    do Departamento de Enfermagem em Saúde Publica e Psiquiatria e do PPGENF do CCS da UFPB, Brasil.



Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Atención de enfer-          Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Nursing care for
                                                                                                                              .
mería a una paciente portadora de lupus sistémico eritematoso, usando   a patient with lupus erythematosus systemic using ICNP [abstract].
         .
la ICNP [resumén]. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008           Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26.
mar;29(1):26.
Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus
           eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32.   27

INTRODUÇÃO                                                      descrever, explicar e/ou predizer como os pacientes
                                                                respondem aos problemas de saúde ou aos processos
      O Lupus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma                 vitais, e determinar que aspectos dessas respostas
doença inflamatória crônica, auto-imune sistêmica,              exijam uma intervenção de enfermagem(4).
que se caracteriza por acometer múltiplos órgãos e                    O uso do processo de enfermagem tem favore-
apresentar alterações da resposta imunológica, com              cido o desenvolvimento de sistemas de classificação
presença de auto-anticorpos dirigidos contra pro-               para a documentação da prática de enfermagem.
teínas do próprio organismo. De etiologia desconhe-             Nestes sistemas de classificação, três elementos são
cida, o desenvolvimento da doença está associado à              componentes primários para a classificação da prá-
predisposição genética e aos fatores ambientais como            tica de enfermagem: diagnósticos, resultados e in-
a luz ultravioleta e alguns medicamentos. É uma                 tervenções de enfermagem(5).
doença pouco freqüente que acomete principalmente                     A Classificação Internacional das Práticas de
mulheres jovens, afetando 10 a 12 vezes a mulher                Enfermagem (CIPE®) é um sistema de classificação
em relação ao homem e, embora possa ocorrer em                  composto por três elementos: fenômeno, resultado e
qualquer idade, é mais freqüente entre os 20 e 45               ação de enfermagem. O uso desse sistema de clas-
anos, com maior incidência próximo aos 30 anos(1).              sificação estabelece padrões de cuidados, que podem
      A doença tem evolução crônica caracterizada               ser utilizados em qualquer parte do mundo, como
por períodos de atividade e remissões. As manifes-              também impulsiona uma padronização da linguagem
tações clínicas mais freqüentes são lesões de pele              de enfermagem e, conseqüentemente, permite uma
denominadas de lesões em vespertílio, ou asa de                 melhoria na qualidade da assistência, por meio da
borboleta, em maçãs do rosto e dorso do nariz e as              sistematização, registro e quantificação do que os
lesões discóides que são bem delimitadas e pro-                 componentes da equipe de enfermagem produzem(6).
fundas; dores nas articulações e edema, principal-                    Esse sistema de classificação iniciou em 1991
mente nas articulações das mãos; inflamação de                  com a realização de um levantamento bibliográfico
pleura ou pericárdio; inflamação no rim; alterações             na literatura da Enfermagem e de uma pesquisa
sanguíneas como diminuição dos glóbulos verme-                  junto às associações membros do Conselho Inter-
lhos (anemia), glóbulos brancos (leucopenia), lin-              nacional de Enfermeiros (CIE) para identificar, em
fócitos (linfopenia) ou plaquetas (plaquetopenia);              âmbito internacional, os sistemas de classificação
inflamações de pequenos vasos (vasculites) podem                usados pelas enfermeiras(6). Em dezembro de 1996,
causar lesões eritematosas e dolorosas em palmas                o CIE apresentou a Classificação Internacional para
da mão, planta dos pés, no palato ou nos membros;               a Prática de Enfermagem – Um Marco Unificador
queixas de febre na ausência de infecção, emagreci-             – Versão Alfa, constituída de Classificações de
mento e fraqueza são comuns quando a doença está                Fenômenos de Enfermagem e de Intervenções de
ativa. Outras manifestações como oculares, aumento              Enfermagem, com o objetivo de estimular a discus-
do fígado, baço e gânglios também podem ocorrer                 são e comentários, observações, críticas e recomen-
em fase ativa da doença(1).                                     dações de melhoria, a fim de se obterem subsídios
      Para estudar o caso em questão, utilizou-se a             para as próximas versões dessa classificação(7). Em
aplicação do processo de enfermagem fundamentado                sua evolução foi construída a Versão Beta, que foi
na Teoria das Necessidades Humanas Básicas de                   apresentada em julho de 1999 e, em janeiro de 2002,
Horta, que é entendido como uma forma sistemática               o CIE disponibilizou, via Internet, a Versão Beta com
e dinâmica de prestar os cuidados de enfermagem                 correções editoriais(6).
capaz de promover o cuidado humanizado, dirigido                      Os objetivos iniciais da CIPE®, delineados na
a resultados e de baixo custo(2). O processo impul-             Versão Alfa, foram revistos pelo Comitê de Avalia-
siona as enfermeiras a avaliarem sua prática no                 ção da CIPE® em 2000. Alguns deles são: a) esta-
sentido de que podem examinar o que estão fazendo               belecer uma linguagem comum para descrever a
e a estudar o que poderiam fazer melhor(3).                     prática de enfermagem, facilitando a comunicação
      O processo de cuidar em enfermagem, ou o                  entre os enfermeiros e dos enfermeiros com os ou-
processo de enfermagem, é um instrumento meto-                  tros profissionais da saúde; b) representar conceitos
dológico que possibilita identificar, compreender,              usados na prática local, em diferentes linguagens e
Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus
28             eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32.


áreas de especialidades; c) descrever mundialmente               pesquisadores, educadores e gerentes possam, a
a prestação do cuidado de enfermagem prestado às                 partir desses dados, identificarem a contribuição da
pessoas (indivíduo, famílias e comunidades); d) es-              Enfermagem no cuidado da saúde e, ao mesmo
timular a pesquisa de enfermagem através de liga-                tempo, assegurar a qualidade na prática de enferma-
ções entre os dados disponíveis e os sistemas de                 gem ou promover mudanças nessa prática, através
informação de saúde dentre outros(7).                            da educação, administração e pesquisa(7).
      Após correções editoriais na CIPE® Versão                       Na tentativa de sistematizar a assistência de
Beta, é publicada a Versão Beta 2. As definições con-            enfermagem a uma paciente portadora de Lupus
tidas na Classificação de Fenômenos de Enferma-                  Eritematoso Sistêmico objetivou-se, neste estudo,
gem são organizadas numa abordagem multiaxial,                   aplicar o processo de enfermagem utilizando a
formada pelos seguintes eixos: Foco da prática de                CIPE® Versão Beta 2.
enfermagem, Julgamento, Freqüência, Duração,
Topologia, Localização anatômica, Probabilidade,                 METODOLOGIA
Portador. Na Versão Beta2, “Fenômeno de enferma-
gem” é definido como um fator que influencia o                         Este trabalho foi estruturado na abordagem
estado de saúde e constitui o objeto das ações de                estudo de caso, que se trata de um tipo de pesquisa
enfermagem, e, “Diagnósticos de Enfermagem”,                     qualitativa cujo objeto é uma unidade, que pode ser
como um título dado pela enfermeira para uma de-                 o indivíduo, que se analisa de maneira detalhada e
cisão sobre um fenômeno de enfermagem, que é o                   profunda(9).
foco das intervenções de enfermagem(7).                                Foi desenvolvido com a participação de uma
      A Classificação de Ações de Enfermagem é                   mulher portadora de Lupus Eritematoso Sistêmico
constituída de oito eixos: Tipo de ação, Alvo, Meios,            internada na Clínica Médica do Hospital Universi-
Tempo, Topologia, Localização, Via e Beneficiário.               tário Lauro Wanderley (HULW) da Universidade
Nessa versão, Ação de Enfermagem é definida como                 Federal da Paraíba (UFPB). Atendendo às exigên-
o comportamento desempenhado pelas enfermeiras                   cias contidas na Resolução 196/96 do Conselho
na prática assistencial, e, as Intervenções de Enfer-            Nacional de Saúde sobre pesquisas envolvendo seres
magem referem-se à ação realizada em resposta a                  humanos(10), este estudo foi encaminhado ao Comitê
um diagnóstico de enfermagem visando à obtenção                  de Ética em Pesquisa do HULW, recebendo parecer
de um resultado de enfermagem. Na CIPE® Versão                   favorável para sua publicação. Além disso, solicitou-
Beta 2, Resultado de Enfermagem é definido como                  se o consentimento da paciente para participar do
a medida ou o estado de um diagnóstico de enfer-                 estudo, sendo-lhe assegurado sigilo de identidade.
magem, em um determinado período, após a inter-                        Para a coleta de dados, utilizou-se um instru-
venção de enfermagem(7).                                         mento contemplando as necessidades psicobioló-
      A CIPE® Versão 1.0 foi divulgada e, segundo                gicas, psicossociais e psicoespirituais baseadas na
o CIE, sua utilização na prática profissional apresen-           Teoria de Horta(2). A partir dessa coleta de dados,
tará algumas vantagens, como o fácil entendimento                foram identificados os diagnósticos de enfermagem
e correção de problemas existentes na CIPE ®                     utilizando a CIPE® Versão Beta 2, estabelecendo-
Versão Beta 2, como a duplicação e a ambigüidade                 se os resultados esperados e as intervenções de
de termos nos diferentes eixos, através da utilização            enfermagem para uma posterior avaliação.
do Modelo dos 7 eixos, na elaboração dos diagnós-                      Para a elaboração dos diagnósticos de enfer-
ticos, das intervenções e dos resultados de enfer-               magem foram utilizados os seguintes passos: após
magem(8).                                                        a leitura do caso, os dados significativos foram su-
      Para o CIE, a CIPE® é um instrumento de                    blinhados; posteriormente fez-se uma leitura atenta
informação para descrever a prática de enfermagem                das informações sublinhadas; após essa interpre-
e, conseqüentemente, prover dados que represen-                  tação, fez-se o agrupamento das informações; em
tem essa prática nos sistemas de informação em                   seguida, para a denominação desse agrupamento
saúde. Essa Classificação pode ser usada para tornar             utilizaram-se as orientações constantes na CIPE®
a prática de enfermagem visível nos sistemas de                  para a construção de um diagnóstico de enferma-
informação da saúde, a fim de que, dessa forma,                  gem, ou seja, foram incluídos, como obrigatórios,
Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus
           eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32.      29

um termo do eixo Foco e outro termo do eixo Jul-                com turgor e elasticidade diminuídos, mucosas hipo-
gamento, podendo ser incluídos termos adicionais                coradas, lesões eritematosas planas não pruriginosas
dos outros eixos. Para a construção das interven-               nos membros superiores, petéquias no membro
ções de enfermagem também se utilizou as regras                 superior esquerdo e na coxa do membro inferior
da CIPE®, ou seja, como obrigatórios, um termo                  esquerdo. Em corticoterapia, apresentando alopecia e
do eixo Ação e outro termo do eixo Foco, podendo                discreto edema de face. Presença de sangramento
ser incluídos termos adicionais dos outros eixos.               conjuntival. Eupnéica, ritmo cardíaco regular em 2T,
                                                                abdome semigloboso indolor à palpação, ruídos
RESULTADOS E DISCUSSÃO                                          hidroaéreos presentes, eliminações vesicais e intesti-
                                                                nais com características e freqüência normais.
      Após o levantamento de dados, elaborou-se o                     Os exames laboratoriais revelam: Tempo de
histórico de enfermagem da paciente. Em seguida,                Sangria = 45s, valor de referência (VR): até 5 min;
foram estabelecidos os diagnósticos de enfermagem               Tempo de coagulação = 7 min, VR: até 12 min; Pla-
e os resultados esperados utilizando a Classificação            quetas = 116.000/mm³, VR: 150 a 450 mil/mm³.
de Fenômenos de Enfermagem da CIPE®. Para a                     Hemácias = 3,2 milhões/mm³, VR: 3,6 a 5,0 mi-
elaboração das intervenções de enfermagem,                      lhões/mm³; Hemoglobina = 9,1g/dl, VR: 12 a 16
utilizou-se a Classificação de Ações de Enfermagem              g/dl; Hematócrito = 28,1%, VR: 36 a 48%; Leu-
da CIPE®.                                                       cócitos = 2100 mm³, VR: 5000 a 10.000 mm³. A
                                                                paciente é bastante comunicativa e demonstra
Histórico de enfermagem                                         satisfação com o tratamento recebido, porém está
                                                                muito ansiosa pela alta hospitalar devido à saudade
      J.M.P., 34 anos, sexo feminino, 1º grau in-               que sente dos 2 filhos e do marido, além de demons-
completo, casada, doméstica, católica. Admitida na              trar preocupação com seus afazeres domésticos.
Clínica Médica queixando-se de edema nos lábios
e no membro inferior esquerdo, manchas averme-                  Planejamento da assistência de enfermagem
lhadas e pruriginosas por todo o corpo, fraqueza
generalizada, falta de apetite e dores nas arti-                      O ensino do autocuidado ao paciente portador
culações.                                                       de LES é um aspecto essencial da assistência de
      Encontra-se no 16º dia de internação hospita-             enfermagem por promover maior independência ao
lar, apresentando estado geral estável, consciente,             indivíduo no momento de lidar com alterações rela-
orientada, deambulante. Relata tomar 1 banho/dia                cionadas ao distúrbio, ao regime terapêutico, às
(manhã) devido à temperatura baixa da água, escova              reações adversas de medicamentos e à sua segu-
os dentes após as refeições e ao dormir (3 vezes/               rança em casa(11).
dia), apresenta falhas dentárias, porém não usa                       Os problemas mais comuns nos pacientes com
prótese. Dorme 8h por noite e repousa após o al-                LES incluem fadiga, integridade cutânea prejudicada,
moço. Relata não gostar da alimentação do hospital              distúrbio da imagem corporal e falta de conhecimento
por ser hipossódica e pastosa, porém ela procura                para as decisões sobre o autotratamento. A assistência
fazer seis refeições diárias por entender que precisa           de enfermagem deve ser voltada ao fornecimento de
se recuperar. Ingere pouca água (dois copos/dia).               informações sobre a doença, os cuidados de controle
Já fez uso de diclofenaco sódico, e durante o trata-            diário e suporte social, além de atentar para a exposição
mento apresentou edema de face. Relata que, ao usar             solar ou ultravioleta pela capacidade de aumentar ou
Soro Glicosado, apresenta edema nos lábios e nos                exacerbar a atividade da doença(11).
olhos e dor na garganta.                                              Neste estudo, os diagnósticos de enfermagem
      Diagnóstico médico: Lupus Eritematoso Sis-                identificados foram: Integridade da pele compro-
têmico (LES).                                                   metida, Sistema imune comprometido, Retenção de
      Ao exame físico apresenta: Temperatura axi-               líquidos e Ansiedade moderada (Quadro 1). Obser-
lar (Tax) = 36,5°C, Pulso (P) = 78 bpm, Respiração              va-se que os diagnósticos de enfermagem estão
(R) = 19 irpm, Pressão Arterial (PA) = 120x80 mmHg,             relacionados, principalmente, às alterações orgâni-
Freqüência Cardíaca (FC) = 80 bpm, pele ressecada               cas acarretadas pela doença crônica e auto-imune
Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus
30               eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32.


(LES). O diagnóstico de Ansiedade moderada apa-                     coleta de dados, encontrava-se com uma necessidade
rece como um aspecto peculiar da alta permanência                   visível de verbalizar seus sentimentos e toda sua
no hospital.                                                        trajetória antes de ser admitida na Clínica Médica
      Algumas intervenções de enfermagem foram                      onde foi confirmado o diagnóstico de Lupus
realizadas junto à paciente, que, no momento da                     Eritematoso Sistêmico (Quadro 1).


       Diagnóstico                    Resultado
                                                                               Intervenções de enfermagem
      de enfermagem                   esperado

 Integridade da pele            Integridade da pele          • Examinar diariamente a pele;
 comprometida                   melhorada                    • Ensinar quanto à limpeza das lesões com sabonete antibacte-
                                                               riano;
                                                             • Orientar quanto ao uso de sabonete alcalino sobre a pele;
                                                             • Orientar quanto à aplicação de emolientes à área afetada;
                                                             • Orientar quanto ao uso de proteção durante exposição ao sol.

 Sistema imune                  Sistema imune menos          • Monitorar sinais e sintomas sistêmicos e locais de infecção;
 comprometido                   comprometido                 • Monitorar a contagem de glóbulos brancos;
                                                             • Orientar quanto à necessidade de ingestão protéica adequada
                                                               com redução de sal, de lipídios e de carboidratos;
                                                             • Ensinar a paciente às formas de evitar infecção: boa higiene
                                                               corporal, lavagem das mãos ao usar o banheiro e antes das refei-
                                                               ções, manterem as unhas limpas e cortadas.

 Retenção de fluidos            Retenção de fluidos          •   Observar sinais de edema nos membros inferiores e na face;
                                reduzida                     •   Verificar os sinais vitais (T, P, R e PA) três vezes ao dia;
                                                             •   Fazer controle da ingestão de líquidos;
                                                             •   Explicar as reações adversas da corticoterapia.

 Ansiedade moderada             Ansiedade reduzida           • Oferecer informações sobre a doença e o tratamento;
                                                             • Encorajar a paciente a ouvir música, envolver-se em conversa,
                                                               relatar um acontecimento ou história;
                                                             • Encorajar a verbalização de sentimentos, percepções e medo;
                                                             • Ouvir atentamente a paciente.

Quadro 1 – Planejamento da assistência de enfermagem a uma paciente portadora de Lupus Eritematoso
             Sistêmico. João Pessoa, 2006.
Legenda: T: temperatura; P: pulso; R: respiração; PA: pressão arterial.



      O portador de LES necessita de constante                      moção de uma melhoria na qualidade de vida da
vigilância na tentativa de manter a remissão da                     paciente, uma vez que, a partir daquele momento,
doença. O LES difere de outras doenças crônicas por                 ela precisaria conhecer sobre a doença, a terapia
apresentar fases assintomáticas, existindo a tendên-                medicamentosa e os cuidados que deveria ter para
cia, por parte do paciente, de negligenciar nos cui-                a recuperação de sua saúde.
dados com a saúde frente às medidas de prevenção                          Num estudo desenvolvido numa região de clima
secundária. A necessidade de controlar-se é uma                     tropical, as manifestações cutâneas foram as mais
preocupação, exigindo cuidados de saúde que oscilam                 freqüentes entre os pacientes com LES, o que revela
entre momentos de aflição e de descuido(12).                        a influência da radiação solar ainda maior nos meses
      Como a paciente apresentava um estado geral                   de verão(13). Neste estudo, discorre-se sobre a preo-
estável, as intervenções de enfermagem implemen-                    cupação com a educação em saúde, no sentido de in-
tadas foram aquelas voltadas para a prevenção de                    centivar a adequada proteção solar da população, em
complicações decorrentes da doença e para a pro-                    especial dos pacientes portadores de LES.
Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus
            eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32.   31

      Na paciente em estudo, a integridade da pele               rotina, como o uso de protetor solar durante a ex-
comprometida foi considerada o problema prioritá-                posição ao sol e a ingestão de uma dieta hipossódica.
rio, por isso, os cuidados com os problemas derma-
tológicos mostraram-se essenciais na assistência de              CONSIDERAÇÕES FINAIS
enfermagem. O uso de agentes antimicrobianos ma-
ta ou impede o crescimento de organismos infeccio-                     A aplicação do processo de enfermagem funda-
sos. O tratamento do ressecamento da pele faz-se                 mentado na Teoria das Necessidades Humanas
necessário, uma vez que a pele seca pode produzir                Básicas de Horta(2) direciona a assistência de enfer-
áreas de dermatite com rubor, prurido, descamação,               magem na busca de soluções para o atendimento
edema, formação de bolhas, rachaduras e exsudação.               das necessidades afetadas do paciente. É importante
Além disso, o cuidado com a hidratação efetiva da                mencionar que, através do processo de enfermagem,
pele é importante porque evita o comprometimento                 os cuidados prestados são individualizados e dire-
da camada de barreira da pele(11).                               cionados aos problemas de saúde do paciente que
      Na tentativa de minimizar o comprometimen-                 requerem a assistência de enfermagem.
to do sistema imune, fez-se necessária a orientação                    A utilização dos diagnósticos de enfermagem
sobre uma nutrição balanceada com ingestão de                    na prática de enfermagem possibilita o aperfeiçoa-
proteínas, redução de sal, de lipídios e de carboi-              mento e a atualização dos conhecimentos de enfer-
dratos. A nutrição adequada é essencial para o                   meiras, proporcionando raciocínio clínico e visão
funcionamento ótimo do sistema imune. A ingesta                  crítica sobre a temática. Além disso, permite o re-
inadequada de vitaminas e proteínas pode levar à                 gistro do trabalho da Enfermagem, resultando em
deficiência protéico-calórica e, conseqüentemente,               maior visibilidade profissional(14).
à função imune prejudicada. A depleção de reserva                      O emprego da CIPE® Versão Beta 2 possibi-
protéica resulta em atrofia dos tecidos linfóides, de-           litou o planejamento da assistência de enfermagem
pressão da resposta de anticorpos, redução do nú-                através da identificação dos diagnósticos de enfer-
mero de células T circulantes, o que pode aumentar               magem, que necessitavam de intervenções de enfer-
a susceptibilidade à infecção(11).                               magem, de forma que os padrões de cuidados estabe-
      A corticoterapia acarreta, em curto prazo, al-             lecidos permitiram a operacionalização do processo
gumas complicações, como retenção de líquidos,                   de enfermagem. Acredita-se que o uso da CIPE® na
retenção de sódio, perda de potássio e hipertensão.              prática profissional estabelece uma melhoria na qua-
Por esse motivo, foi essencial a atenção aos sinais              lidade da assistência, bem como promove uma maior
de edema, bem como os cuidados com os sinais vitais              visibilidade da atuação da enfermagem através do
da paciente.                                                     registro das atividades implementadas.
      Na busca da redução da ansiedade demons-                         Apesar da cultura do cuidado centrar-se no
trada pela paciente, fez-se necessário oferecer infor-           domínio da técnica e do conhecimento das ciências
mação sobre a doença e o tratamento a que estava                 biológicas, é possível tratar o paciente como ser
submetida. Oferecer informações ao paciente, ouvir               humano em sua complexidade com determinantes
atentamente, avaliar seus medos e suas preocupa-                 culturais, ambientais, familiares e emocionais(15).
ções proporciona ao profissional de saúde a opor-                Neste estudo, os resultados obtidos demonstram que
tunidade para neutralizar a ansiedade indevida e                 a assistência de enfermagem a uma paciente portadora
restaurar a realidade da situação, isto porque, apoiar           de Lupus Eritematoso Sistêmico foi direcionada para
os esforços de um paciente num momento de                        a prevenção de complicações decorrentes da doença e
adaptação pode ser valioso na promoção da auto-                  para a promoção da melhoria de qualidade de vida. A
aceitação e socialização(11).                                    paciente demonstrou uma boa apreensão no que se
      Implementadas as intervenções mencionadas,                 refere às intervenções de enfermagem estabelecidas e
observou-se que a paciente apreendeu as orientações              verbalizou os seus sentimentos. Acredita-se que um
repassadas, bem como verbalizou seus sentimentos,                fato importante para o alcance dos resultados foi o
relatou toda sua trajetória vivenciada antes da inter-           relacionamento empático entre o ser que cuida e o ser
nação na Clínica Médica e demonstrou interesse em                que é cuidado, visto que promoveu uma relação de
adotar condutas que antes não faziam parte de sua                respeito mútuo e de confiança.
Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus
32             eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32.


                  REFERÊNCIAS                                    9 Triviños ANS. Introdução à pesquisa em ciências
                                                                   sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São
1 Sociedade Brasileira de Reumatologia. Lupus Eri-                 Paulo: Atlas; 1995.
  tematoso Sistêmico: acometimento cutâneo/articular.
  Revista da Associação Médica Brasileira [periódico na          10 Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saúde,
  Internet] 2006 [citado 2007 mar 29];52(6):384-6.                  Comitê Nacional de Ética em Pesquisa em Seres
  Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ramb/                     Humanos. Resolução 196, de 10 de outubro de 1996:
  v52n6/a12v52n6.pdf.                                               diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa
                                                                    envolvendo seres humanos. Brasília (DF); 1997.
2 Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo:
  EPU; 1979.                                                     11 Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth: tratado
                                                                    de enfermagem médico-cirúrgica. 10ª ed. Rio de
3 Alfaro-Lefevre R. Aplicação do processo de enfer-                 Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.
  magem: promoção do cuidado colaborativo. 5ª ed.
  Porto Alegre: Artmed; 2005.                                    12 Mattje GD, Turato ER. Experiências de vida com
                                                                    Lupus Eritematoso Sistêmico como relatadas na
4 Garcia TR, Nóbrega MML. Sistematização da                         perspectiva de pacientes ambulatoriais no Brasil: um
  assistência de enfermagem: reflexões sobre o                      estudo clínico-qualitativo. Revista Latino-Americana
  processo. In: Anais do 52º Congresso Brasileiro de                de Enfermagem [periódico na Internet] 2006 [cita-
  Enfermagem; 2000 out 21-26; Olinda, Brasil. Recife:               do 2007 maio 28];14(4):475-82. Disponível em:
  ABEn; 2002. p. 231-43.                                            http://www.scielo.br/pdf/rlae/v14n4/v14n4a02.pdf.

5 International Council of Nursing. Nursing’s next               13 Bezerra ELM, Vilar MJP, Barbosa OFC, Santos SQ,
  advance: an International Classification System for               Castro MA, Trindade MC, et al. Lupus Eritematoso
  Nursing practice (ICNP). Geneva; 1993.                            Sistêmico (LES): perfil clínico-laboratorial dos
                                                                    pacientes do Hospital Universitário Onofre Lopes
6 Nóbrega MML. Classificação Internacional para a                   (UFRN-Natal/Brasil) e índice de dano nos pacientes
  Prática de Enfermagem é projeto do CIE. Nursing                   com diagnóstico recente. Revista Brasileira de
  (São Paulo) 2002;5(51):12-4.                                      Reumatologia [periódico na Internet] 2005 [cita-
                                                                    do 2007 maio 28];45(6):339-42. Disponível em:
7 Conselho Internacional de Enfermagem. Classifi-                   http://www.scielo.br/pdf/rbr/v45n6/28680.pdf.
  cação Internacional para Prática de Enfermagem
  CIPE® Beta 2. São Paulo: CENFOBS/UNIFESP;                      14 Elizalde AC, Almeida MA. Percepções de enfermei-
  2003.                                                             ras de um hospital universitário sobre a implantação
                                                                    dos diagnósticos de enfermagem. Revista Gaúcha de
8 International Council of Nursing. International                   Enfermagem 2006;27(4):564-74.
  Classification for Nursing Practice: ICNP® Version
  1 [homepage on the Internet]. Geneva; 2007 [cited              15 Lucena AF, Crossetti MGO. Significado do cuidar
  2007 July 17]. Disponível em: http://www.icn.ch/                  na unidade de terapia intensiva. Revista Gaúcha de
  icnp_v1.htm.                                                      Enfermagem 2004;25(2):243-56.




Endereço da autora / Dirección del autor /                       Recebido em: 15/08/2007
Author’s address:                                                Aprovado em: 31/01/2008
Greicy Kelly Gouveia Dias Bittencourt
Av. Cristóvão Colombo, 4105, ap. 902B, Higienópolis
90560-005, Porto Alegre, RS
E-mail: greicykel@gmail.com

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Autocuidado e diagnósticos de enfermagem em idosos
Autocuidado e diagnósticos de enfermagem em idososAutocuidado e diagnósticos de enfermagem em idosos
Autocuidado e diagnósticos de enfermagem em idososCurso Nery
 
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomias
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomiasDiagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomias
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomiasresenfe2013
 
Lombalgia em trabalho hospitalar enfermeiros
Lombalgia em trabalho hospitalar   enfermeirosLombalgia em trabalho hospitalar   enfermeiros
Lombalgia em trabalho hospitalar enfermeirosCosmo Palasio
 
Wanda De Aguiar Horta V Final
Wanda De Aguiar Horta V FinalWanda De Aguiar Horta V Final
Wanda De Aguiar Horta V FinalMarcos Moraes
 
Avalia+º+úo col vertebral
Avalia+º+úo col vertebralAvalia+º+úo col vertebral
Avalia+º+úo col vertebraljuuliacarolina
 
Assistencia de enfermagem e dor em pacientes ortopedicos n recuperacao aneste...
Assistencia de enfermagem e dor em pacientes ortopedicos n recuperacao aneste...Assistencia de enfermagem e dor em pacientes ortopedicos n recuperacao aneste...
Assistencia de enfermagem e dor em pacientes ortopedicos n recuperacao aneste...Danielle Batista Porto
 
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)Amanda Moura
 
Aula 1.1 introdução à sistematização do cuidado ii
Aula 1.1  introdução à sistematização do cuidado iiAula 1.1  introdução à sistematização do cuidado ii
Aula 1.1 introdução à sistematização do cuidado iibrigidasilva98
 
Resolução cofen 358 2009
Resolução cofen 358  2009Resolução cofen 358  2009
Resolução cofen 358 2009Cleusa Lopes
 
Importância da anamnese e do exame físico
Importância da anamnese e do exame físicoImportância da anamnese e do exame físico
Importância da anamnese e do exame físicoGuilherme Barbosa
 
Avaliação Fisioterapêutica na Unidade de Terapia Intensiva Uma Revisão Biblio...
Avaliação Fisioterapêutica na Unidade de Terapia Intensiva Uma Revisão Biblio...Avaliação Fisioterapêutica na Unidade de Terapia Intensiva Uma Revisão Biblio...
Avaliação Fisioterapêutica na Unidade de Terapia Intensiva Uma Revisão Biblio...Luana Cabral
 

La actualidad más candente (20)

Sae pronto unic
Sae pronto unicSae pronto unic
Sae pronto unic
 
Autocuidado e diagnósticos de enfermagem em idosos
Autocuidado e diagnósticos de enfermagem em idososAutocuidado e diagnósticos de enfermagem em idosos
Autocuidado e diagnósticos de enfermagem em idosos
 
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomias
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomiasDiagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomias
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomias
 
Sae aula .. (1)
Sae aula .. (1)Sae aula .. (1)
Sae aula .. (1)
 
Cipesc
CipescCipesc
Cipesc
 
Processo de Enfermagem
Processo de Enfermagem Processo de Enfermagem
Processo de Enfermagem
 
Sae nanda 2013
Sae nanda 2013Sae nanda 2013
Sae nanda 2013
 
Lombalgia em trabalho hospitalar enfermeiros
Lombalgia em trabalho hospitalar   enfermeirosLombalgia em trabalho hospitalar   enfermeiros
Lombalgia em trabalho hospitalar enfermeiros
 
Sae
SaeSae
Sae
 
Wanda De Aguiar Horta V Final
Wanda De Aguiar Horta V FinalWanda De Aguiar Horta V Final
Wanda De Aguiar Horta V Final
 
Avalia+º+úo col vertebral
Avalia+º+úo col vertebralAvalia+º+úo col vertebral
Avalia+º+úo col vertebral
 
Manual dor
Manual dorManual dor
Manual dor
 
Assistencia de enfermagem e dor em pacientes ortopedicos n recuperacao aneste...
Assistencia de enfermagem e dor em pacientes ortopedicos n recuperacao aneste...Assistencia de enfermagem e dor em pacientes ortopedicos n recuperacao aneste...
Assistencia de enfermagem e dor em pacientes ortopedicos n recuperacao aneste...
 
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)
 
Aula 1.1 introdução à sistematização do cuidado ii
Aula 1.1  introdução à sistematização do cuidado iiAula 1.1  introdução à sistematização do cuidado ii
Aula 1.1 introdução à sistematização do cuidado ii
 
Interação interdisciplinar na unidade de tratamento intensivo
Interação interdisciplinar na unidade de tratamento intensivoInteração interdisciplinar na unidade de tratamento intensivo
Interação interdisciplinar na unidade de tratamento intensivo
 
Enfermagem
EnfermagemEnfermagem
Enfermagem
 
Resolução cofen 358 2009
Resolução cofen 358  2009Resolução cofen 358  2009
Resolução cofen 358 2009
 
Importância da anamnese e do exame físico
Importância da anamnese e do exame físicoImportância da anamnese e do exame físico
Importância da anamnese e do exame físico
 
Avaliação Fisioterapêutica na Unidade de Terapia Intensiva Uma Revisão Biblio...
Avaliação Fisioterapêutica na Unidade de Terapia Intensiva Uma Revisão Biblio...Avaliação Fisioterapêutica na Unidade de Terapia Intensiva Uma Revisão Biblio...
Avaliação Fisioterapêutica na Unidade de Terapia Intensiva Uma Revisão Biblio...
 

Similar a 5260 16704-1-pb

Apresentação pioatrite e piomiosite
Apresentação pioatrite e piomiositeApresentação pioatrite e piomiosite
Apresentação pioatrite e piomiositeEvelyn Monte
 
AULA Enf Domiciliar Unid_01 (1), aula teorica
AULA Enf Domiciliar Unid_01 (1), aula teoricaAULA Enf Domiciliar Unid_01 (1), aula teorica
AULA Enf Domiciliar Unid_01 (1), aula teoricaHiEster2
 
TEORIAS DE ENF.pptx
TEORIAS DE ENF.pptxTEORIAS DE ENF.pptx
TEORIAS DE ENF.pptxMilena Ramos
 
Enferagem em clinica médica em clínica médica
Enferagem em clinica médica em clínica médica Enferagem em clinica médica em clínica médica
Enferagem em clinica médica em clínica médica Jackson Silva
 
Enfermagememclnicamdicai 140822172753-phpapp01
Enfermagememclnicamdicai 140822172753-phpapp01Enfermagememclnicamdicai 140822172753-phpapp01
Enfermagememclnicamdicai 140822172753-phpapp01Ctops Saúde
 
Sistematização da Assistência de Enfermagem
Sistematização da Assistência de EnfermagemSistematização da Assistência de Enfermagem
Sistematização da Assistência de EnfermagemWhevergton Santos
 
Diagnósticos de enfermagem
Diagnósticos de enfermagemDiagnósticos de enfermagem
Diagnósticos de enfermagemresenfe2013
 
Avaliação e o processo de Enfermagem
Avaliação e o processo de EnfermagemAvaliação e o processo de Enfermagem
Avaliação e o processo de Enfermagemresenfe2013
 
Aula 3 Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE (2) (1).pdf
Aula 3 Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE  (2) (1).pdfAula 3 Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE  (2) (1).pdf
Aula 3 Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE (2) (1).pdfLarissaMachado97
 
Processo de Enfermagem aplicado a um portador de Cirrose Hepática
Processo de Enfermagem aplicado a um portador de Cirrose HepáticaProcesso de Enfermagem aplicado a um portador de Cirrose Hepática
Processo de Enfermagem aplicado a um portador de Cirrose Hepáticacuidadoaoadulto
 
AULA PROCESSO DE ENFERMAGEM.pdf
AULA PROCESSO DE ENFERMAGEM.pdfAULA PROCESSO DE ENFERMAGEM.pdf
AULA PROCESSO DE ENFERMAGEM.pdfnagelasouza1
 
3a. Aula Planejamento dos Resultados Esperados.pptx
3a. Aula Planejamento dos Resultados Esperados.pptx3a. Aula Planejamento dos Resultados Esperados.pptx
3a. Aula Planejamento dos Resultados Esperados.pptxSocorro Carneiro
 
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptRaquelOlimpio1
 
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptJoaraSilva1
 
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptRicaTatiane2
 
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptAndriellyFernandaSPi
 
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptDheniseMikaelly
 

Similar a 5260 16704-1-pb (20)

Planejamento dos cuidados de enfermagem
Planejamento dos cuidados de enfermagemPlanejamento dos cuidados de enfermagem
Planejamento dos cuidados de enfermagem
 
Apresentação pioatrite e piomiosite
Apresentação pioatrite e piomiositeApresentação pioatrite e piomiosite
Apresentação pioatrite e piomiosite
 
AULA Enf Domiciliar Unid_01 (1), aula teorica
AULA Enf Domiciliar Unid_01 (1), aula teoricaAULA Enf Domiciliar Unid_01 (1), aula teorica
AULA Enf Domiciliar Unid_01 (1), aula teorica
 
TEORIAS DE ENF.pptx
TEORIAS DE ENF.pptxTEORIAS DE ENF.pptx
TEORIAS DE ENF.pptx
 
Enferagem em clinica médica em clínica médica
Enferagem em clinica médica em clínica médica Enferagem em clinica médica em clínica médica
Enferagem em clinica médica em clínica médica
 
Enfermagememclnicamdicai 140822172753-phpapp01
Enfermagememclnicamdicai 140822172753-phpapp01Enfermagememclnicamdicai 140822172753-phpapp01
Enfermagememclnicamdicai 140822172753-phpapp01
 
011
011011
011
 
7 abdomen agudo
7 abdomen agudo7 abdomen agudo
7 abdomen agudo
 
Sistematização da Assistência de Enfermagem
Sistematização da Assistência de EnfermagemSistematização da Assistência de Enfermagem
Sistematização da Assistência de Enfermagem
 
Diagnósticos de enfermagem
Diagnósticos de enfermagemDiagnósticos de enfermagem
Diagnósticos de enfermagem
 
Avaliação e o processo de Enfermagem
Avaliação e o processo de EnfermagemAvaliação e o processo de Enfermagem
Avaliação e o processo de Enfermagem
 
Aula 3 Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE (2) (1).pdf
Aula 3 Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE  (2) (1).pdfAula 3 Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE  (2) (1).pdf
Aula 3 Sistematização da Assistência de Enfermagem – SAE (2) (1).pdf
 
Processo de Enfermagem aplicado a um portador de Cirrose Hepática
Processo de Enfermagem aplicado a um portador de Cirrose HepáticaProcesso de Enfermagem aplicado a um portador de Cirrose Hepática
Processo de Enfermagem aplicado a um portador de Cirrose Hepática
 
AULA PROCESSO DE ENFERMAGEM.pdf
AULA PROCESSO DE ENFERMAGEM.pdfAULA PROCESSO DE ENFERMAGEM.pdf
AULA PROCESSO DE ENFERMAGEM.pdf
 
3a. Aula Planejamento dos Resultados Esperados.pptx
3a. Aula Planejamento dos Resultados Esperados.pptx3a. Aula Planejamento dos Resultados Esperados.pptx
3a. Aula Planejamento dos Resultados Esperados.pptx
 
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
 
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
 
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
 
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
 
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.pptME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
ME e Angelina - aula anotações de enfermagem.ppt
 

5260 16704-1-pb

  • 1. Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus ARTIGO 26 eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32. ORIGINAL ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PACIENTE COM LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO UTILIZANDO A CIPEa Greicy Kelly Gouveia Dias BITTENCOURTb Patrícia Josefa Fernandes BESERRAc Maria Miriam Lima da NÓBREGAd RESUMO Trata-se de um estudo de caso fundamentado na Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Horta e na Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem (CIPE®), objetivando a sistematização da assistência de enfermagem a uma paciente portadora de Lupus Eritematoso Sistêmico. Foi desenvolvido no Hospital Universitário da Universidade da Paraíba. Para a coleta de dados, utilizou-se um instrumento contemplando as necessidades psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais baseadas na Teoria de Horta. Foram identificados os diagnósticos de enfermagem utilizando a CIPE® Versão Beta 2, estabelecendo-se os resultados esperados e as intervenções de enfermagem, que foram implementadas e avaliadas. Os resultados obtidos demonstram que a assistência de enfermagem a esta paciente foi direcionada para a prevenção de complicações decorrentes da doença e para a promoção da melhoria de qualidade de vida. Descritores: Processos de enfermagem. Lupus eritematoso sistêmico. Diagnóstico de enfermagem. Classificação. RESUMEN Es un estudio de caso basado en la Teoría de las Necesidades Humanas Básicas de Horta y en la Clasificación Internacional de las Prácticas de Enfermería (CIPE®), con el objetivo de sistematizar la atención de enfermería a un paciente portador de Lupus Sistémico Eritematozo. El estudio fue desarrollado en el Hospital Universitario de la Universidad de Paraíba, Brasil. Para la toma de datos se utilizó un instrumento que contemplara las necesidades psico-biológicas, psico-sociales y psico- espirituales basadas en la Teoría de Horta. Se identificaron los diagnósticos de enfermería utilizando CIPE® Versión Beta 2. La aplicación de las etapas del proceso de enfermería permitió la identificación de los diagnósticos de enfermería, el establecimiento de los resultados y de las intervenciones de enfermería que se llevaron a cabo y se evaluaron. Los resultados obtenidos demuestran que la sistematización de la atención de enfermería a esta paciente, estuvo dirigida a la prevención de complicaciones resultantes de la enfermedad y a la promoción de la mejora de calidad de vida. Descriptores: Procesos de enfermería. Lupus eritematoso sistémico. Diagnóstico de enfermería. Clasificación. Título: Atención de enfermería a una paciente portadora de lupus sistémico eritematoso, usando la ICNP. ABSTRACT It is a case study based on Horta’s Theory of the Basic Human Needs and on the International Classification of the Nursing Practices (ICNP®), aimed a systematizing Nursing Care for a patient with lupus erythematous systemic. This study was carried out at the Universidade da Paraíba University Hospital, a teaching hospital in the state of Paraíba, Brazil. Data collection was conducted through an instrument that fulfilled the psychobiologic, psychosocial, and psychospiritual needs based on Horta’s theory. Nursing diagnoses were identified using ICNP® Version Beta 2 establishing the expected outcomes and the nursing interventions, which were implemented and appraised. The results demonstrate that Systematization of the Nursing Care for this patient had the purpose of preventing disease complications and promoting the improvement of life quality. Descriptors: Nursing process. Lupus erythematosus, systemic. Nursing diagnosis. Classification. Title: Nursing care for a patient with lupus erythematosus systemic using ICNP. a Trabalho desenvolvido na disciplina “Processo de Cuidar em Enfermagem” do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF), nível Mestrado, do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). b Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil. c Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente da Faculdade de Enfermagem Nova Esperança (FACENE), Paraíba, Brasil. d Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Docente do Departamento de Enfermagem em Saúde Publica e Psiquiatria e do PPGENF do CCS da UFPB, Brasil. Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Atención de enfer- Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Nursing care for . mería a una paciente portadora de lupus sistémico eritematoso, usando a patient with lupus erythematosus systemic using ICNP [abstract]. . la ICNP [resumén]. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26. mar;29(1):26.
  • 2. Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32. 27 INTRODUÇÃO descrever, explicar e/ou predizer como os pacientes respondem aos problemas de saúde ou aos processos O Lupus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma vitais, e determinar que aspectos dessas respostas doença inflamatória crônica, auto-imune sistêmica, exijam uma intervenção de enfermagem(4). que se caracteriza por acometer múltiplos órgãos e O uso do processo de enfermagem tem favore- apresentar alterações da resposta imunológica, com cido o desenvolvimento de sistemas de classificação presença de auto-anticorpos dirigidos contra pro- para a documentação da prática de enfermagem. teínas do próprio organismo. De etiologia desconhe- Nestes sistemas de classificação, três elementos são cida, o desenvolvimento da doença está associado à componentes primários para a classificação da prá- predisposição genética e aos fatores ambientais como tica de enfermagem: diagnósticos, resultados e in- a luz ultravioleta e alguns medicamentos. É uma tervenções de enfermagem(5). doença pouco freqüente que acomete principalmente A Classificação Internacional das Práticas de mulheres jovens, afetando 10 a 12 vezes a mulher Enfermagem (CIPE®) é um sistema de classificação em relação ao homem e, embora possa ocorrer em composto por três elementos: fenômeno, resultado e qualquer idade, é mais freqüente entre os 20 e 45 ação de enfermagem. O uso desse sistema de clas- anos, com maior incidência próximo aos 30 anos(1). sificação estabelece padrões de cuidados, que podem A doença tem evolução crônica caracterizada ser utilizados em qualquer parte do mundo, como por períodos de atividade e remissões. As manifes- também impulsiona uma padronização da linguagem tações clínicas mais freqüentes são lesões de pele de enfermagem e, conseqüentemente, permite uma denominadas de lesões em vespertílio, ou asa de melhoria na qualidade da assistência, por meio da borboleta, em maçãs do rosto e dorso do nariz e as sistematização, registro e quantificação do que os lesões discóides que são bem delimitadas e pro- componentes da equipe de enfermagem produzem(6). fundas; dores nas articulações e edema, principal- Esse sistema de classificação iniciou em 1991 mente nas articulações das mãos; inflamação de com a realização de um levantamento bibliográfico pleura ou pericárdio; inflamação no rim; alterações na literatura da Enfermagem e de uma pesquisa sanguíneas como diminuição dos glóbulos verme- junto às associações membros do Conselho Inter- lhos (anemia), glóbulos brancos (leucopenia), lin- nacional de Enfermeiros (CIE) para identificar, em fócitos (linfopenia) ou plaquetas (plaquetopenia); âmbito internacional, os sistemas de classificação inflamações de pequenos vasos (vasculites) podem usados pelas enfermeiras(6). Em dezembro de 1996, causar lesões eritematosas e dolorosas em palmas o CIE apresentou a Classificação Internacional para da mão, planta dos pés, no palato ou nos membros; a Prática de Enfermagem – Um Marco Unificador queixas de febre na ausência de infecção, emagreci- – Versão Alfa, constituída de Classificações de mento e fraqueza são comuns quando a doença está Fenômenos de Enfermagem e de Intervenções de ativa. Outras manifestações como oculares, aumento Enfermagem, com o objetivo de estimular a discus- do fígado, baço e gânglios também podem ocorrer são e comentários, observações, críticas e recomen- em fase ativa da doença(1). dações de melhoria, a fim de se obterem subsídios Para estudar o caso em questão, utilizou-se a para as próximas versões dessa classificação(7). Em aplicação do processo de enfermagem fundamentado sua evolução foi construída a Versão Beta, que foi na Teoria das Necessidades Humanas Básicas de apresentada em julho de 1999 e, em janeiro de 2002, Horta, que é entendido como uma forma sistemática o CIE disponibilizou, via Internet, a Versão Beta com e dinâmica de prestar os cuidados de enfermagem correções editoriais(6). capaz de promover o cuidado humanizado, dirigido Os objetivos iniciais da CIPE®, delineados na a resultados e de baixo custo(2). O processo impul- Versão Alfa, foram revistos pelo Comitê de Avalia- siona as enfermeiras a avaliarem sua prática no ção da CIPE® em 2000. Alguns deles são: a) esta- sentido de que podem examinar o que estão fazendo belecer uma linguagem comum para descrever a e a estudar o que poderiam fazer melhor(3). prática de enfermagem, facilitando a comunicação O processo de cuidar em enfermagem, ou o entre os enfermeiros e dos enfermeiros com os ou- processo de enfermagem, é um instrumento meto- tros profissionais da saúde; b) representar conceitos dológico que possibilita identificar, compreender, usados na prática local, em diferentes linguagens e
  • 3. Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus 28 eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32. áreas de especialidades; c) descrever mundialmente pesquisadores, educadores e gerentes possam, a a prestação do cuidado de enfermagem prestado às partir desses dados, identificarem a contribuição da pessoas (indivíduo, famílias e comunidades); d) es- Enfermagem no cuidado da saúde e, ao mesmo timular a pesquisa de enfermagem através de liga- tempo, assegurar a qualidade na prática de enferma- ções entre os dados disponíveis e os sistemas de gem ou promover mudanças nessa prática, através informação de saúde dentre outros(7). da educação, administração e pesquisa(7). Após correções editoriais na CIPE® Versão Na tentativa de sistematizar a assistência de Beta, é publicada a Versão Beta 2. As definições con- enfermagem a uma paciente portadora de Lupus tidas na Classificação de Fenômenos de Enferma- Eritematoso Sistêmico objetivou-se, neste estudo, gem são organizadas numa abordagem multiaxial, aplicar o processo de enfermagem utilizando a formada pelos seguintes eixos: Foco da prática de CIPE® Versão Beta 2. enfermagem, Julgamento, Freqüência, Duração, Topologia, Localização anatômica, Probabilidade, METODOLOGIA Portador. Na Versão Beta2, “Fenômeno de enferma- gem” é definido como um fator que influencia o Este trabalho foi estruturado na abordagem estado de saúde e constitui o objeto das ações de estudo de caso, que se trata de um tipo de pesquisa enfermagem, e, “Diagnósticos de Enfermagem”, qualitativa cujo objeto é uma unidade, que pode ser como um título dado pela enfermeira para uma de- o indivíduo, que se analisa de maneira detalhada e cisão sobre um fenômeno de enfermagem, que é o profunda(9). foco das intervenções de enfermagem(7). Foi desenvolvido com a participação de uma A Classificação de Ações de Enfermagem é mulher portadora de Lupus Eritematoso Sistêmico constituída de oito eixos: Tipo de ação, Alvo, Meios, internada na Clínica Médica do Hospital Universi- Tempo, Topologia, Localização, Via e Beneficiário. tário Lauro Wanderley (HULW) da Universidade Nessa versão, Ação de Enfermagem é definida como Federal da Paraíba (UFPB). Atendendo às exigên- o comportamento desempenhado pelas enfermeiras cias contidas na Resolução 196/96 do Conselho na prática assistencial, e, as Intervenções de Enfer- Nacional de Saúde sobre pesquisas envolvendo seres magem referem-se à ação realizada em resposta a humanos(10), este estudo foi encaminhado ao Comitê um diagnóstico de enfermagem visando à obtenção de Ética em Pesquisa do HULW, recebendo parecer de um resultado de enfermagem. Na CIPE® Versão favorável para sua publicação. Além disso, solicitou- Beta 2, Resultado de Enfermagem é definido como se o consentimento da paciente para participar do a medida ou o estado de um diagnóstico de enfer- estudo, sendo-lhe assegurado sigilo de identidade. magem, em um determinado período, após a inter- Para a coleta de dados, utilizou-se um instru- venção de enfermagem(7). mento contemplando as necessidades psicobioló- A CIPE® Versão 1.0 foi divulgada e, segundo gicas, psicossociais e psicoespirituais baseadas na o CIE, sua utilização na prática profissional apresen- Teoria de Horta(2). A partir dessa coleta de dados, tará algumas vantagens, como o fácil entendimento foram identificados os diagnósticos de enfermagem e correção de problemas existentes na CIPE ® utilizando a CIPE® Versão Beta 2, estabelecendo- Versão Beta 2, como a duplicação e a ambigüidade se os resultados esperados e as intervenções de de termos nos diferentes eixos, através da utilização enfermagem para uma posterior avaliação. do Modelo dos 7 eixos, na elaboração dos diagnós- Para a elaboração dos diagnósticos de enfer- ticos, das intervenções e dos resultados de enfer- magem foram utilizados os seguintes passos: após magem(8). a leitura do caso, os dados significativos foram su- Para o CIE, a CIPE® é um instrumento de blinhados; posteriormente fez-se uma leitura atenta informação para descrever a prática de enfermagem das informações sublinhadas; após essa interpre- e, conseqüentemente, prover dados que represen- tação, fez-se o agrupamento das informações; em tem essa prática nos sistemas de informação em seguida, para a denominação desse agrupamento saúde. Essa Classificação pode ser usada para tornar utilizaram-se as orientações constantes na CIPE® a prática de enfermagem visível nos sistemas de para a construção de um diagnóstico de enferma- informação da saúde, a fim de que, dessa forma, gem, ou seja, foram incluídos, como obrigatórios,
  • 4. Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32. 29 um termo do eixo Foco e outro termo do eixo Jul- com turgor e elasticidade diminuídos, mucosas hipo- gamento, podendo ser incluídos termos adicionais coradas, lesões eritematosas planas não pruriginosas dos outros eixos. Para a construção das interven- nos membros superiores, petéquias no membro ções de enfermagem também se utilizou as regras superior esquerdo e na coxa do membro inferior da CIPE®, ou seja, como obrigatórios, um termo esquerdo. Em corticoterapia, apresentando alopecia e do eixo Ação e outro termo do eixo Foco, podendo discreto edema de face. Presença de sangramento ser incluídos termos adicionais dos outros eixos. conjuntival. Eupnéica, ritmo cardíaco regular em 2T, abdome semigloboso indolor à palpação, ruídos RESULTADOS E DISCUSSÃO hidroaéreos presentes, eliminações vesicais e intesti- nais com características e freqüência normais. Após o levantamento de dados, elaborou-se o Os exames laboratoriais revelam: Tempo de histórico de enfermagem da paciente. Em seguida, Sangria = 45s, valor de referência (VR): até 5 min; foram estabelecidos os diagnósticos de enfermagem Tempo de coagulação = 7 min, VR: até 12 min; Pla- e os resultados esperados utilizando a Classificação quetas = 116.000/mm³, VR: 150 a 450 mil/mm³. de Fenômenos de Enfermagem da CIPE®. Para a Hemácias = 3,2 milhões/mm³, VR: 3,6 a 5,0 mi- elaboração das intervenções de enfermagem, lhões/mm³; Hemoglobina = 9,1g/dl, VR: 12 a 16 utilizou-se a Classificação de Ações de Enfermagem g/dl; Hematócrito = 28,1%, VR: 36 a 48%; Leu- da CIPE®. cócitos = 2100 mm³, VR: 5000 a 10.000 mm³. A paciente é bastante comunicativa e demonstra Histórico de enfermagem satisfação com o tratamento recebido, porém está muito ansiosa pela alta hospitalar devido à saudade J.M.P., 34 anos, sexo feminino, 1º grau in- que sente dos 2 filhos e do marido, além de demons- completo, casada, doméstica, católica. Admitida na trar preocupação com seus afazeres domésticos. Clínica Médica queixando-se de edema nos lábios e no membro inferior esquerdo, manchas averme- Planejamento da assistência de enfermagem lhadas e pruriginosas por todo o corpo, fraqueza generalizada, falta de apetite e dores nas arti- O ensino do autocuidado ao paciente portador culações. de LES é um aspecto essencial da assistência de Encontra-se no 16º dia de internação hospita- enfermagem por promover maior independência ao lar, apresentando estado geral estável, consciente, indivíduo no momento de lidar com alterações rela- orientada, deambulante. Relata tomar 1 banho/dia cionadas ao distúrbio, ao regime terapêutico, às (manhã) devido à temperatura baixa da água, escova reações adversas de medicamentos e à sua segu- os dentes após as refeições e ao dormir (3 vezes/ rança em casa(11). dia), apresenta falhas dentárias, porém não usa Os problemas mais comuns nos pacientes com prótese. Dorme 8h por noite e repousa após o al- LES incluem fadiga, integridade cutânea prejudicada, moço. Relata não gostar da alimentação do hospital distúrbio da imagem corporal e falta de conhecimento por ser hipossódica e pastosa, porém ela procura para as decisões sobre o autotratamento. A assistência fazer seis refeições diárias por entender que precisa de enfermagem deve ser voltada ao fornecimento de se recuperar. Ingere pouca água (dois copos/dia). informações sobre a doença, os cuidados de controle Já fez uso de diclofenaco sódico, e durante o trata- diário e suporte social, além de atentar para a exposição mento apresentou edema de face. Relata que, ao usar solar ou ultravioleta pela capacidade de aumentar ou Soro Glicosado, apresenta edema nos lábios e nos exacerbar a atividade da doença(11). olhos e dor na garganta. Neste estudo, os diagnósticos de enfermagem Diagnóstico médico: Lupus Eritematoso Sis- identificados foram: Integridade da pele compro- têmico (LES). metida, Sistema imune comprometido, Retenção de Ao exame físico apresenta: Temperatura axi- líquidos e Ansiedade moderada (Quadro 1). Obser- lar (Tax) = 36,5°C, Pulso (P) = 78 bpm, Respiração va-se que os diagnósticos de enfermagem estão (R) = 19 irpm, Pressão Arterial (PA) = 120x80 mmHg, relacionados, principalmente, às alterações orgâni- Freqüência Cardíaca (FC) = 80 bpm, pele ressecada cas acarretadas pela doença crônica e auto-imune
  • 5. Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus 30 eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32. (LES). O diagnóstico de Ansiedade moderada apa- coleta de dados, encontrava-se com uma necessidade rece como um aspecto peculiar da alta permanência visível de verbalizar seus sentimentos e toda sua no hospital. trajetória antes de ser admitida na Clínica Médica Algumas intervenções de enfermagem foram onde foi confirmado o diagnóstico de Lupus realizadas junto à paciente, que, no momento da Eritematoso Sistêmico (Quadro 1). Diagnóstico Resultado Intervenções de enfermagem de enfermagem esperado Integridade da pele Integridade da pele • Examinar diariamente a pele; comprometida melhorada • Ensinar quanto à limpeza das lesões com sabonete antibacte- riano; • Orientar quanto ao uso de sabonete alcalino sobre a pele; • Orientar quanto à aplicação de emolientes à área afetada; • Orientar quanto ao uso de proteção durante exposição ao sol. Sistema imune Sistema imune menos • Monitorar sinais e sintomas sistêmicos e locais de infecção; comprometido comprometido • Monitorar a contagem de glóbulos brancos; • Orientar quanto à necessidade de ingestão protéica adequada com redução de sal, de lipídios e de carboidratos; • Ensinar a paciente às formas de evitar infecção: boa higiene corporal, lavagem das mãos ao usar o banheiro e antes das refei- ções, manterem as unhas limpas e cortadas. Retenção de fluidos Retenção de fluidos • Observar sinais de edema nos membros inferiores e na face; reduzida • Verificar os sinais vitais (T, P, R e PA) três vezes ao dia; • Fazer controle da ingestão de líquidos; • Explicar as reações adversas da corticoterapia. Ansiedade moderada Ansiedade reduzida • Oferecer informações sobre a doença e o tratamento; • Encorajar a paciente a ouvir música, envolver-se em conversa, relatar um acontecimento ou história; • Encorajar a verbalização de sentimentos, percepções e medo; • Ouvir atentamente a paciente. Quadro 1 – Planejamento da assistência de enfermagem a uma paciente portadora de Lupus Eritematoso Sistêmico. João Pessoa, 2006. Legenda: T: temperatura; P: pulso; R: respiração; PA: pressão arterial. O portador de LES necessita de constante moção de uma melhoria na qualidade de vida da vigilância na tentativa de manter a remissão da paciente, uma vez que, a partir daquele momento, doença. O LES difere de outras doenças crônicas por ela precisaria conhecer sobre a doença, a terapia apresentar fases assintomáticas, existindo a tendên- medicamentosa e os cuidados que deveria ter para cia, por parte do paciente, de negligenciar nos cui- a recuperação de sua saúde. dados com a saúde frente às medidas de prevenção Num estudo desenvolvido numa região de clima secundária. A necessidade de controlar-se é uma tropical, as manifestações cutâneas foram as mais preocupação, exigindo cuidados de saúde que oscilam freqüentes entre os pacientes com LES, o que revela entre momentos de aflição e de descuido(12). a influência da radiação solar ainda maior nos meses Como a paciente apresentava um estado geral de verão(13). Neste estudo, discorre-se sobre a preo- estável, as intervenções de enfermagem implemen- cupação com a educação em saúde, no sentido de in- tadas foram aquelas voltadas para a prevenção de centivar a adequada proteção solar da população, em complicações decorrentes da doença e para a pro- especial dos pacientes portadores de LES.
  • 6. Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32. 31 Na paciente em estudo, a integridade da pele rotina, como o uso de protetor solar durante a ex- comprometida foi considerada o problema prioritá- posição ao sol e a ingestão de uma dieta hipossódica. rio, por isso, os cuidados com os problemas derma- tológicos mostraram-se essenciais na assistência de CONSIDERAÇÕES FINAIS enfermagem. O uso de agentes antimicrobianos ma- ta ou impede o crescimento de organismos infeccio- A aplicação do processo de enfermagem funda- sos. O tratamento do ressecamento da pele faz-se mentado na Teoria das Necessidades Humanas necessário, uma vez que a pele seca pode produzir Básicas de Horta(2) direciona a assistência de enfer- áreas de dermatite com rubor, prurido, descamação, magem na busca de soluções para o atendimento edema, formação de bolhas, rachaduras e exsudação. das necessidades afetadas do paciente. É importante Além disso, o cuidado com a hidratação efetiva da mencionar que, através do processo de enfermagem, pele é importante porque evita o comprometimento os cuidados prestados são individualizados e dire- da camada de barreira da pele(11). cionados aos problemas de saúde do paciente que Na tentativa de minimizar o comprometimen- requerem a assistência de enfermagem. to do sistema imune, fez-se necessária a orientação A utilização dos diagnósticos de enfermagem sobre uma nutrição balanceada com ingestão de na prática de enfermagem possibilita o aperfeiçoa- proteínas, redução de sal, de lipídios e de carboi- mento e a atualização dos conhecimentos de enfer- dratos. A nutrição adequada é essencial para o meiras, proporcionando raciocínio clínico e visão funcionamento ótimo do sistema imune. A ingesta crítica sobre a temática. Além disso, permite o re- inadequada de vitaminas e proteínas pode levar à gistro do trabalho da Enfermagem, resultando em deficiência protéico-calórica e, conseqüentemente, maior visibilidade profissional(14). à função imune prejudicada. A depleção de reserva O emprego da CIPE® Versão Beta 2 possibi- protéica resulta em atrofia dos tecidos linfóides, de- litou o planejamento da assistência de enfermagem pressão da resposta de anticorpos, redução do nú- através da identificação dos diagnósticos de enfer- mero de células T circulantes, o que pode aumentar magem, que necessitavam de intervenções de enfer- a susceptibilidade à infecção(11). magem, de forma que os padrões de cuidados estabe- A corticoterapia acarreta, em curto prazo, al- lecidos permitiram a operacionalização do processo gumas complicações, como retenção de líquidos, de enfermagem. Acredita-se que o uso da CIPE® na retenção de sódio, perda de potássio e hipertensão. prática profissional estabelece uma melhoria na qua- Por esse motivo, foi essencial a atenção aos sinais lidade da assistência, bem como promove uma maior de edema, bem como os cuidados com os sinais vitais visibilidade da atuação da enfermagem através do da paciente. registro das atividades implementadas. Na busca da redução da ansiedade demons- Apesar da cultura do cuidado centrar-se no trada pela paciente, fez-se necessário oferecer infor- domínio da técnica e do conhecimento das ciências mação sobre a doença e o tratamento a que estava biológicas, é possível tratar o paciente como ser submetida. Oferecer informações ao paciente, ouvir humano em sua complexidade com determinantes atentamente, avaliar seus medos e suas preocupa- culturais, ambientais, familiares e emocionais(15). ções proporciona ao profissional de saúde a opor- Neste estudo, os resultados obtidos demonstram que tunidade para neutralizar a ansiedade indevida e a assistência de enfermagem a uma paciente portadora restaurar a realidade da situação, isto porque, apoiar de Lupus Eritematoso Sistêmico foi direcionada para os esforços de um paciente num momento de a prevenção de complicações decorrentes da doença e adaptação pode ser valioso na promoção da auto- para a promoção da melhoria de qualidade de vida. A aceitação e socialização(11). paciente demonstrou uma boa apreensão no que se Implementadas as intervenções mencionadas, refere às intervenções de enfermagem estabelecidas e observou-se que a paciente apreendeu as orientações verbalizou os seus sentimentos. Acredita-se que um repassadas, bem como verbalizou seus sentimentos, fato importante para o alcance dos resultados foi o relatou toda sua trajetória vivenciada antes da inter- relacionamento empático entre o ser que cuida e o ser nação na Clínica Médica e demonstrou interesse em que é cuidado, visto que promoveu uma relação de adotar condutas que antes não faziam parte de sua respeito mútuo e de confiança.
  • 7. Bittencourt GKGD, Beserra PJF, Nóbrega MML. Assistência de enfermagem a paciente com lupus 32 eritematoso sistêmico utilizando a CIPE. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 mar;29(1):26-32. REFERÊNCIAS 9 Triviños ANS. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São 1 Sociedade Brasileira de Reumatologia. Lupus Eri- Paulo: Atlas; 1995. tematoso Sistêmico: acometimento cutâneo/articular. Revista da Associação Médica Brasileira [periódico na 10 Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saúde, Internet] 2006 [citado 2007 mar 29];52(6):384-6. Comitê Nacional de Ética em Pesquisa em Seres Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ramb/ Humanos. Resolução 196, de 10 de outubro de 1996: v52n6/a12v52n6.pdf. diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF); 1997. 2 Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU; 1979. 11 Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth: tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 10ª ed. Rio de 3 Alfaro-Lefevre R. Aplicação do processo de enfer- Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. magem: promoção do cuidado colaborativo. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2005. 12 Mattje GD, Turato ER. Experiências de vida com Lupus Eritematoso Sistêmico como relatadas na 4 Garcia TR, Nóbrega MML. Sistematização da perspectiva de pacientes ambulatoriais no Brasil: um assistência de enfermagem: reflexões sobre o estudo clínico-qualitativo. Revista Latino-Americana processo. In: Anais do 52º Congresso Brasileiro de de Enfermagem [periódico na Internet] 2006 [cita- Enfermagem; 2000 out 21-26; Olinda, Brasil. Recife: do 2007 maio 28];14(4):475-82. Disponível em: ABEn; 2002. p. 231-43. http://www.scielo.br/pdf/rlae/v14n4/v14n4a02.pdf. 5 International Council of Nursing. Nursing’s next 13 Bezerra ELM, Vilar MJP, Barbosa OFC, Santos SQ, advance: an International Classification System for Castro MA, Trindade MC, et al. Lupus Eritematoso Nursing practice (ICNP). Geneva; 1993. Sistêmico (LES): perfil clínico-laboratorial dos pacientes do Hospital Universitário Onofre Lopes 6 Nóbrega MML. Classificação Internacional para a (UFRN-Natal/Brasil) e índice de dano nos pacientes Prática de Enfermagem é projeto do CIE. Nursing com diagnóstico recente. Revista Brasileira de (São Paulo) 2002;5(51):12-4. Reumatologia [periódico na Internet] 2005 [cita- do 2007 maio 28];45(6):339-42. Disponível em: 7 Conselho Internacional de Enfermagem. Classifi- http://www.scielo.br/pdf/rbr/v45n6/28680.pdf. cação Internacional para Prática de Enfermagem CIPE® Beta 2. São Paulo: CENFOBS/UNIFESP; 14 Elizalde AC, Almeida MA. Percepções de enfermei- 2003. ras de um hospital universitário sobre a implantação dos diagnósticos de enfermagem. Revista Gaúcha de 8 International Council of Nursing. International Enfermagem 2006;27(4):564-74. Classification for Nursing Practice: ICNP® Version 1 [homepage on the Internet]. Geneva; 2007 [cited 15 Lucena AF, Crossetti MGO. Significado do cuidar 2007 July 17]. Disponível em: http://www.icn.ch/ na unidade de terapia intensiva. Revista Gaúcha de icnp_v1.htm. Enfermagem 2004;25(2):243-56. Endereço da autora / Dirección del autor / Recebido em: 15/08/2007 Author’s address: Aprovado em: 31/01/2008 Greicy Kelly Gouveia Dias Bittencourt Av. Cristóvão Colombo, 4105, ap. 902B, Higienópolis 90560-005, Porto Alegre, RS E-mail: greicykel@gmail.com