Este relatório descreve uma pesquisa sobre os valores e projetos de vida de jovens universitários brasileiros. A pesquisa aplicou questionários online a 1.030 estudantes de 18 a 25 anos de diferentes regiões do Brasil. Os questionários avaliaram os valores, propósitos e satisfação de vida dos estudantes. Os resultados fornecerão informações sobre como os projetos de vida influenciam a identidade moral e ações de transformação social entre a juventude brasileira.
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
Relatorio Projetos de vida - universitarios
1.
Valores
e
projetos
de
jovens
universitários
brasileiros:
um
estudo
de
psicologia,
educação
e
cidadania
Relatório
de
pesquisa
Responsável:
Prof.
Dr.
Ulisses
Ferreira
de
Araújo
São
Paulo,
Abril
de
2012
1
2. Resumo
Este
Relatório
refere-‐se
à
Pesquisa
Valores
e
projetos
de
jovens
universitários
brasileiros:
um
estudo
de
psicologia,
educação
e
cidadania,
financiada
pela
FAPESP
–
Fundação
de
Amparo
à
Pesquisa
do
Estado
de
São
Paulo
(Processo
2008/57602-‐4).
Esta
pesquisa
estudou
os
valores
e
os
projetos
vitais
(purpose)
de
jovens
universitários
que
dedicam
uma
boa
parte
de
sua
vida
e
de
seu
tempo
em
prol
de
ações
de
transformação
do
mundo
e
em
direção
a
projetos
eticamente
desejáveis,
visando
trazer
indícios
importantes
para
a
compreensão
sobre
a
influência
que
os
projetos/purpose
têm
na
construção
de
identidades
morais
e
para
as
ações
que
envolvem
transformações
sociais.
Em
contraposição
estudou,
também,
os
mesmos
aspectos
em
sujeitos
que
adotam
outros
parâmetros
na
organização
de
sua
vida
pessoal
e
social,
afastados
de
preocupações
coletivas
e
mais
direcionados
à
satisfação
de
seus
interesses
e
necessidades
pessoais.
Dentre
os
objetivos
propostos,
destacamos:
• Identificar
os
valores
e
os
projetos
(purposes)
de
jovens
universitários
brasileiros.
• Identificar
possíveis
diferenças
entre
os
projetos
de
vida
(purposes)
daqueles
jovens
comprometidos
com
ações
de
ética
e
de
cidadania,
de
transformações
sociais,
e
daqueles
jovens
sem
este
tipo
de
envolvimento
social.
Método
e
amostra
A
coleta
de
dados
constou
da
aplicação
de
um
Survey,
eletrônico,
sobre
valores
e
projetos
de
vida
(purpose)
da
juventude.
Foram
entrevistados
1.030
jovens
estudantes
universitários,
situados
entre
18
e
25
anos
de
idade,
moradores
de
diferentes
regiões
brasileiras,
e
com
diferentes
formas
de
comprometimento
em
projetos
e
ações
de
transformação
social.
Esses
jovens
viviam
nas
cinco
regiões
geopolíticas
do
Brasil,
moradores
de
dois
tipos
de
municípios
(cidades
médias
do
interior
e
em
metrópoles
regionais).
Os
dados
foram
coletados
em:
Belém
-‐
PA
e
Araguaína
-‐
TO
(Região
Norte),
Fortaleza
-‐
CE
e
Imperatriz
-‐
MA
(Nordeste),
Goiânia
–
GO/Brasília-‐DF
e
Dourados
-‐
MS
(Centro
Oeste),
São
Paulo
–
SP
e
Rio
Claro,
Marília
e
Assis
-‐
SP
(Sudeste)
e
Curitiba
–
PR
e
Ponta
Grossa
-‐
PR
(Sul).
As
cidades,
ao
final,
foram
selecionadas
em
função
de
condições
objetivas
de
apoio
conseguidos
junto
a
colegas
professores
que
se
dispuseram
se
engajar
no
projeto
e
apoiar
na
coleta
de
dados.
Análise
dos
dados
O
Survey,
além
de
identificar
os
universitários
engajados
semanalmente
em
atividades
comunitárias
e
sociais,
foi
analisado
por
meio
de
escalas
reconhecidas
internacionalmente
e
que
tratam
das
temáticas
que
sustentam
a
pesquisa:
Identified
Purpose
Scale;
Life
Goals
Scale;
MLQ
-‐
Meaning
in
Life
Questionaire;
SWLS
-‐
Satisfaction
With
Life
Scale;
RYFF’S
Purpose
In
Life
Scale.
2
3. I.
Estrutura
metodológica
da
pesquisa
Survey
-‐
Amostra
e
procedimentos
Como
anunciado,
propôs-‐se
inicialmente
como
objetivos
específicos
da
pesquisa
“Valores
e
projetos
vitais
de
jovens
universitários
brasileiros”
a
identificação
de
valores
e
projetos
de
vida
(purpose)
de
jovens
universitários
brasileiros,
bem
como
a
identificação
de
possíveis
diferenças
entre
os
projetos
de
vida
(purposes)
daqueles
jovens
comprometidos
com
ações
de
ética
e
de
cidadania,
de
transformações
sociais,
e
daqueles
jovens
sem
este
tipo
de
envolvimento
social.
Para
definir
a
amostra
total
da
pesquisa,
e
seguindo
o
critério
de
proporcionalidade
regional
para
atingir
uma
semelhança
com
a
população
útil
de
estudantes
universitários,
buscamos
dados
no
PNAD
2007
(Pesquisa
Nacional
por
Amostra
de
Domicílios)
do
IBGE,
para
identificar
a
proporção
aproximada
da
população
universitária
do
Brasil
em
cada
região
geopolítica
para,
com
isso,
definir
a
amostra
não
probabilística
para
cada
região.
Diferente
do
projeto
original,
houve
necessidade
de
adaptação
e
as
cidades,
ao
final,
foram
selecionadas
em
função
de
condições
objetivas
de
apoio
conseguidos
junto
a
colegas
professores
que
se
dispuseram
a
se
engajar
no
projeto
e
apoiar
na
coleta
de
dados.
Em
alguns
casos,
mais
de
uma
cidade
foi
utilizada
para
a
coleta
na
mesma
região,
caso
de
Goiânia
e
Brasília,
metrópoles
do
Centro-‐Oeste,
e
cidades
médias
do
interior
de
São
Paulo
por
terem
pólos
universitários,
caso
de
Rio
Claro,
Marília
e
Assis.
Quadro
1
–
Distribuição
da
amostra
REGIÃO Cidades
Percentual
de
Numero
de
população
jovem
sujeitos
da
estudantil amostra
Norte Belém(PA)
e
Araguaína(TO)
7% 70
Nordeste Fortaleza(CE)
e
Imperatriz
(MA)
20% 200
Centro-‐Oeste Goiânia/Brasília(GO)
e
Dourados(MS)
9% 100
Sudeste São
Paulo
e
Rio
Claro,Marília,Assis(SP)
47% 480
Sul Curitiba
e
Ponta
Grossa
(PR)
17% 180
Total
100% 1.030
3
4. A
amostra
de
cada
região
mencionada
acima
foi
dividida
pela
metade
em
cada
tipo
de
cidade:
50%
nas
metrópoles
regionais
e
50%
nas
cidades
medias
do
interior,
capitais
regionais.
As
mulheres
apresentaram
maior
disponibilidade
a
responder
ao
Survey.
Por
isso,
a
distribuição
da
amostra
total
por
Gênero
ficou
da
seguinte
forma:
Quadro
2
–
Distribuição
da
amostra
por
Gênero
Gênero
Numero
de
sujeitos
Percentual
Feminino
721
70%
Masculino
309
30%
Total
1030
100%
Como
forma
de
diferenciar
os
jovens
comprometidos
com
ações
de
ética
e
de
cidadania,
de
transformações
sociais,
daqueles
jovens
sem
este
tipo
de
envolvimento
social,
foi
aplicado
um
questionário
inicial
que
buscava
tal
comprometimento
em
diversos
domínios.
Numa
escala
de
Likert,
havia
5
alternativas
para
cada
uma
das
categorias
de
comprometimento:
Nunca
(1);
Quase
nunca
(2);
às
vezes
(3);
Semanalmente
(4);
Diariamente
(5).
Foi
considerado
“socialmente
comprometido”,
ou
engajado,
o
jovem
que
declarou
participar
de
atividades
comunitárias
e
sociais
pelo
menos
uma
vez
por
semana
ou
diariamente
nas
seguintes
atividades:
Organização
de
atividades
que
arrecadam
dinheiro
para
o
bairro/comunidade;
Dar
aula,
ou
ensinar
coisas
que
sabe,
para
outras
pessoas;
Trabalho
como
voluntário
(sem
receber)
com
crianças
do
bairro;
Trabalho
como
voluntário
(sem
receber)
em
grupos
que
ajudam
pessoas
passando
necessidades;
Trabalho
como
voluntário
(sem
receber)
em
associações
como
ONGs,
igreja/templo
ou
outras
instituições.
Dessa
maneira,
a
amostra
da
pesquisa
ficou
assim
distribuída:
Quadro
3
–
Comprometimento
e
engajamento
social
Comprometimento
Numero
de
sujeitos
Percentual
Não
671
65%
Sim
359
35%
Total
1030
100%
4
5. O
Survey,
além
de
identificar
os
universitários
engajados
semanalmente
em
atividades
comunitárias
e
sociais,
baseou-‐se
em
modelo
criado
pelo
Stanford
Center
on
Adolescence
para
o
Youth
Purpose
Project,
coordenado
pelo
Prof.
William
Damon.
Além
de
perguntas
específicas
formuladas
pelos
pesquisadores
brasileiros,
a
grande
maioria
das
mais
de
200
questões
advinham
de
escalas
reconhecidas
internacionalmente
e
que
tratam
das
temáticas
que
sustentam
a
pesquisa:
Life
Goals
Scale;
Identified
Purpose
Scale;
MLQ
-‐
Meaning
in
Life
Questionaire;
SWLS
-‐
Satisfaction
With
Life
Scale;
RYFF’S
Purpose
In
Life
Scale.
Em
relação
a
essas
escalas,
no
segundo
tipo
de
análise
feita,
para
reforçar
a
análise,
os
estudantes
foram
agrupados
em
dois
grupos
segundo
os
valores
médios
obtidos,
definidos
segundo
a
importância
que
davam
aos
objetivos
em
cada
item
das
escalas:
a)
maior
ou
igual
a
3,5;
b)
menor
que
3,5.
Para
se
chegar
nessa
média,
em
cada
questão,
o
sujeito
escolhia
as
respostas:
não
tem
importância
(1);
pouco
importante
(2);
moderadamente
importante
(3);
muito
importante
(4);
extremamente
importante
(5).
Obteve-‐se
as
médias
das
respostas
das
questões
que
compõem
cada
categoria.
A
associação
entre
Engajamento
social
e
cada
categoria
nas
escalas
mencionadas
foi
feita
pelo
teste
do
qui-‐quadrado.
O
programa
estatístico
utilizado
foi
o
Stata
11.0,
e
o
nível
de
significância
adotado
foi
de
5%
(p
<
0,05).
A
coleta
de
dados
foi
realizada
eletronicamente,
por
meio
de
ferramenta
disponibilizada
na
internet
pela
empresa
“surveymonkey”
(www.surveymonkey.com).
Com
apoio
de
docentes
e
coordenadores
de
curso,
o
link
que
dava
acesso
ao
Survey
era
enviado
aos
alunos
de
cada
Faculdade
e,
voluntariamente,
eles
respondiam
ao
mesmo.
As
análises
foram
feitas
utilizando
o
programa
estatístico
Stata
11.0.
• Procedimentos
de
coleta
e
análise
de
dados
Dentre
os
1.030
sujeitos
que
participaram
do
Survey,
foi-‐lhes
enviado
um
convite
por
e-‐mail
para
que
respondessem
à
entrevista
disponibilizada
na
plataforma
Surveymonkey.
As
questões
eram
disponibilizadas
sequencialmente,
de
forma
que
o
sujeito
só
tinha
acesso
às
questões
posteriores
após,
necessariamente,
terem
respondido
às
anteriores.
5
6. II.
Resultados
da
pesquisa
Apresentaremos,
a
seguir,
os
dados
principais
das
escalas
empregadas
para
auxiliar
a
identificar
os
valores
e
projetos
de
vida
(purpose)
de
jovens
universitários
brasileiros,
e
para
identificar
possíveis
diferenças
entre
os
projetos
de
vida
(purposes)
daqueles
jovens
comprometidos
com
ações
de
ética
e
de
cidadania,
de
transformações
sociais,
e
daqueles
jovens
sem
este
tipo
de
envolvimento
social,
que
são
os
dois
primeiros
objetivos
desta
pesquisa.
Pela
enorme
quantidade
e
complexidade
dos
dados,
e
limitação
de
espaço
neste
relatório,
apenas
alguns
dados
serão
demonstrados,
ficando
as
análises
mais
completas,
com
análises
estatísticas
mais
complexas,
para
as
publicações
decorrentes
desta
pesquisa.
Nos
dados
aqui
apresentados,
nao
faremos
a
distribuição
por
região,
e
nem
por
tipo
de
cidade,
por
limitação
de
espaço
num
relatório,
e
por
termos
como
variável
geral
analisar
os
jovens
universitários
brasileiros,
e
não
sua
localização
geográfica.
Destaca-‐se
que
em
nenhuma
das
escalas
aplicadas
encontrou-‐se
diferenças
significativas
na
variável
Gênero
e,
por
isso,
tais
dados
não
serão
apresentados.
a)
Objetivos
de
Vida
(Life
Goals)
Os
objetivos
de
vida,
que
se
confundem
com
projeto
de
vida
em
nossa
terminologia,
são
um
importante
aspecto
do
projeto
vital,
pois
considera-‐se
que
o
projeto
vital
é
um
objetivo
de
vida
a
longo
prazo,
que
tem
a
característica
de
conferir
motivação
aos
demais
aspectos
da
existência
e
sentido
para
os
esforços
realizados
no
cotidiano
(DAMON,
2009;
BUNDICK,
2009).
Assim,
utilizando-‐se
do
instrumento
de
pesquisa
criado
por
Robert
e
Robins
(2000),
a
primeira
escala
empregada
buscou
compreender
quais
são
os
principais
objetivos
de
vida
dos
universitários
participantes
da
pesquisa.
Seguindo
os
princípios
da
Life
Goals
Scale,
de
Robert
e
Robins
(2000),
composta
por
16
alternativas
de
objetivos
de
vida,
as
análises
foram
feitas
considerando
as
seguintes
categorias
de
objetivos
de
vida:
econômicos,
estéticos,
hedonistas,
políticos,
pró-‐sociais,
relacionais
e
religiosos.
Os
resultados
encontrados
foram:
6
7. Tabela
1
–
Life
Goals
–
Resultados
gerais
Categoria
de
n
Média
Desvio
Padrão
Objetivos
de
Vida
Econômicos
1006
3.20
.8416
Estéticos
1026
2.27
1.1888
Pró-‐sociais
1011
3.03
.7531
Relacionais
1012
4.17
.7331
Hedonistas
1000
3.93
.6742
Religiosos
1018
3.23
1.3541
Políticos
1015
2,50
.9309
Salienta-‐se
que
neste
item
do
Survey
numa
escala
de
Likert,
havia
5
alternativas
para
cada
uma
das
categorias
de
projetos
de
vida:
Não
tem
importância
(1);
Pouco
importante
(2);
Moderadamente
importante
(3);
Muito
importante
(4);
Extremamente
importante
(5).
Assim,
a
média
foi
calculada
a
partir
dessas
variáveis.
O
gráfico,
a
seguir,
ajuda
a
visualizar
os
resultados
gerais
deste
item,
por
ordem
decrescente
da
média
encontrada:
Gráfico
1
–
Objetivos
de
vida
Percebe-‐se
que
os
objetivos
de
vida
relacionais,
como
aqueles
vinculados
à
família
e
ter
filhos,
receberam
a
maior
média
por
parte
dos
sujeitos
da
pesquisa,
com
um
baixo
desvio
7
8. padrão,
denotando
que
houve
pouca
variação
nessa
categoria
de
objetivo
de
vida.
Na
sequência,
encontramos
objetivos
hedonistas,
como
ter
uma
vida
cheia
de
emoções
ou
divertir-‐me.
Seguidos
das
categorias
de
objetivos
de
vida
religiosos,
econômicos,
pró-‐sociais,
políticos
e
estéticos.
Gráfico
2
–
Objetivos
de
vida
e
engajamento
social
Buscando
identificar
diferenças
entre
os
objetivos
de
vida
daqueles
jovens
engajados
ou
não
em
ações
de
ética
e
de
cidadania,
encontramos
uma
maior
tendência
dos
jovens
engajados
socialmente
em
atribuir
maior
valoração
em
objetivos
de
vida
de
natureza
social,
como:
pró-‐social,
religiosos
e
políticos.
No
segundo
tipo
de
análise
feita,
associando
Engajamento
social
(ou
não)
com
a
escala
de
Objetivos
de
Vida,
os
seguintes
dados
foram
encontrados:
Tabela
2
-‐
Categoria
de
Objetivos
de
Vida
Comprometimento
Categoria
de
Objetivos
social
de
Vida
Sim Não P
%
Econômicos
38,8 41,7 0,367
Estéticos
22,9 14,7 0,001
Pró-‐sociais
75,4 61,3 <0,001
Políticos
27,8 15,9 <0,001
Relacionais
82,2 83,9 0,493
Hedonistas
79,6 72,4 0,012
Religiosos
59,0 47,3 <0,001
8
9. Como
análise
geral,
encontramos
na
amostra
com
jovens
universitários
brasileiros
que
o
engajamento
social
está
positivamente
associado
com
as
categorias
Estéticos,
Pró-‐
social,
Políticos,
Hedonistas
e
Religiosos.
Assim,
a
proporção
de
estudantes
universitários
com
valores
médios
maiores
ou
igual
a
3,5
em
cada
uma
dessas
categorias
é
maior
naqueles
que
têm
comprometimento
social.
b)
Identificação
de
Projetos
de
Vida
(identified
Purpose)
O
grupo
do
Stanford
Center
on
Adolescence
(Moran,
Bundick,
Malin
and
Reilly,
2009)
elaborou
uma
escala
com
17
itens
de
categorias
de
projetos
de
vida,
baseando-‐se
nas
fontes
de
significados
de
vida
encontradas
por
DeVogler
&
Ebersole,
1980;
e
Reker
&
Wong,
1988.
Esse
material,
que
articula
objetivos
de
vida
com
projetos
de
vida,
gerou
uma
nova
escala
(ou
sub-‐escala),
Identificação
de
Projetos
de
Vida
que
utilizamos
nesta
pesquisa.
Essa
nova
escala,
composta
por
10
itens,
busca
identificar
os
projetos
de
vida
centrados
no
próprio
sujeito
(Self-‐oriented),
com
5
itens,
e
os
projetos
de
vida
que
extrapolam
os
interesses
do
próprio
sujeito
(BTS
–
Beyond-‐the-‐Self).
Esta
segunda
categoria
de
itens
refletindo
nitidamente
o
conceito
de
Purpose
estudado
por
William
Damon.
Numa
escala
de
Likert,
os
sujeitos
da
pesquisa
tinha
que
valorar
cada
item
da
da
pergunta
“O
grande
projeto
da
minha
vida
é...”,
da
seguinte
forma:
discordo
totalmente
(1);
discordo
(2);
não
concordo,
nem
discordo
(3);
concordo
(4);
concordo
totalmente
(5).
Os
itens
self-‐oriented
de
projetos
de
vida
eram:
Ter
uma
boa
carreira
profissional;
Divertir-‐me;
Ganhar
dinheiro;
Ser
bem
sucedido;
Conquistar
o
respeito
dos
outros.
Os
itens
Beyond-‐the-‐Self
eram:
Fazer
as
coisas
de
forma
correta;
Ajudar
os
outros;
Fazer
um
mundo
melhor;
Servir
a
Deus
ou
a
um
poder
maior;
Ajudar
a
minha
família
e
os
meus
amigos.
O
gráfico
a
seguir
demonstra
os
resultados
gerais
encontrados
nos
jovens
universitários
brasileiros:
9
10. Gráfico
3
–
Identificação
de
projetos
de
vida
Buscando
diferenciar
os
projetos
de
vida
self-‐oriented
e
Beyond-‐the-‐self
oriented
dos
jovens
engajados
ou
não
socialmente
em
ações
de
ética
e
de
cidadania,
encontramos
uma
pequena
tendência
dos
jovens
engajados
socialmente
em
atribuir
maior
valoração
a
projetos
de
vida
Beyond-‐the-‐self.
Gráfico
4
–
Identificação
de
projetos
de
vida-‐
Self
e
BTS
No
segundo
tipo
de
análise
feita,
associando
Engajamento
social
(ou
não)
com
a
escala
de
Identificação
de
Projetos
de
Vida,
os
seguintes
dados
foram
encontrados:
10
11. Tabela
3
-‐
Categorias
de
Identificação
de
Projetos
de
Vida
Categorias
de
Comprometimento
Identificação
de
social
Projetos
de
Vida Sim Não P
%
Self Oriented 92,5 91,3 0,509
Bts_oriented 94,0 87,9 0,002
Neste
caso,
percebe-‐se
que
o
comprometimento
com
atividades
de
natureza
social
está
positivamente
associado
com
a
categoria
BTS-‐Oriented,
e
não
com
a
categoria
self-‐
oriented.
Ou
seja,
a
proporção
de
indivíduos
com
valor
médio
maior
ou
igual
a
3,5
é
maior
entre
quem
tem
comprometimento
social;
c)
Escala
de
Significado
de
vida
(Meaning
in
Life
Questionnaire
–
MLQ)
O
questionário
sobre
Significado
de
Vida
-‐
Presence
(MLQ-‐P)
de
Steger
et
al
(2006)
é
uma
escala
curta,
com
5
itens
no
modelo
de
Likert,
mas
que
tem
demonstrado
um
forte
poder
psicométrico
em
todo
o
mundo.
Esses
5
itens
compõem
uma
sub-‐escala
(MLQ-‐
Presence),
de
acordo
com
Bundick
(2009),
que
avalia
mais
os
projetos
de
vida
(purpose)
do
que
o
significado
de
vida.
Isso
porque,
dos
5
itens,
3
perguntam
diretamente
aos
sujeitos
sobre
seus
projetos
de
vida
(purpose)
(Eu
estou
sempre
procurando
encontrar
meu
projeto
de
vida;
Estou
procurando
um
projeto
ou
uma
missão
para
a
minha
vida;
Eu
tenho
um
projeto
de
vida
que
me
satisfaz).
Os
outros
2
itens,
embora
não
empreguem
o
termo
projeto
de
vida
(purpose)
(Eu
sei
qual
é
o
significado
da
minha
vida;
Eu
tenho
uma
boa
noção
sobre
o
que
dá
sentido
à
minha
vida),
referem-‐se
à
busca
pelo
projeto
de
vida
das
pessoas.
Por
isso,
essa
sub-‐escala
pode
ser
um
importante
instrumento
para
nos
ajudar
no
estudo
dos
projetos
de
vida
dos
jovens
brasileiros.
Nestes
5
itens
que
compõe
a
escala
MLQ-‐P,
os
universitários
que
participaram
da
pesquisa
avaliaram
os
itens
num
modelo
de
Likert
de
variáveis:
discordo
totalmente
(1);
discordo
(2);
não
concordo,
nem
discordo
(3);
concordo
(4);
concordo
totalmente
(5).
11
12. Gráfico
5
–
Significado
de
vida
Novamente,
embora
as
diferenças
nas
médias
encontradas
não
sejam
grandes,
3,6
contra
3,4,
ela
reforça
a
tendência
de
que
os
sujeitos
engajados
socialmente
possuem
maior
consciência
de
seus
projetos
de
vida,
medidos
por
essa
escala.
Isso
é
corroborado
no
segundo
tipo
de
análise
feita
com
os
dados
coletados
na
amostra
de
universitários
brasileiros,
quando
associamos
o
Engajamento
social
(ou
não)
com
a
escala
de
Significado
de
Vida.
Os
dados
encontrados
demonstram
a
escala
estudada
criada
por
M.
Steger
está
positivamente
associada
com
o
Comprometimento
Social
dos
jovens
brasileiros:
Tabela
4
-‐
Categorias
de
Significados
de
Vida
Comprometimento
Categoria
de
social
Significados
Vida
Sim Não p
%
MLQp 52,7 43,8 0,009
d)
Escala
de
Projetos
de
Vida
–
RYFF
(RYFF’s
Purpose
in
Life
Scale)
Esse
instrumento
é,
de
fato,
uma
sub-‐escala
da
escala
mais
ampla
criada
por
Carol
Ryff
(1989)
que
explora
o
significado
de
Bem
Estar
Psicológico
das
pessoas
(PWB
-‐
Psychological
Well-‐Being).
No
caso
da
sub-‐escala
utilizada
nesta
pesquisa
(PWB-‐P),
os
itens
12
13. referem-‐se
à
busca
de
projetos
de
vida
(purpose),
identificando
até
que
ponto
os
respondentes
da
pesquisa
estão
focados
nos
seus
planos
de
vida
futuros
e
orientados
em
atingir
os
seus
objetivos
de
vida.
Os
sujeitos
manifestaram
a
sua
concordância
ou
não
a
9
itens,
na
escala
de
Likert:
discordo
totalmente
(1);
discordo
(2);
não
concordo,
nem
discordo
(3);
concordo
(4);
concordo
totalmente
(5).
Os
itens
que
compõem
esta
sub-‐escala
PWB-‐P
são:
Gosto
de
fazer
planos
para
o
futuro
e
trabalhar
para
torná-‐los
realidade;
Eu
sou
uma
pessoa
ativa
e
busco
realizar
os
meus
planos;
Eu
acho
que
algumas
pessoas
vivem
sem
ter
um
rumo
certo,
sem
ter
um
objetivo
de
vida,
mas
eu
não
sou
assim;
Eu
vivo
cada
dia
e
não
me
preocupo
com
o
futuro;
Eu
me
preocupo
mais
com
o
presente
porque
o
futuro
quase
sempre
me
traz
problemas;
Minhas
atividades
diárias,
muitas
vezes,
me
parecem
comuns
e
sem
importância;
Eu
não
sei
o
que
eu
quero
alcançar
na
vida;
Eu
costumava
definir
objetivos
para
a
minha
vida,
mas
agora
isso
me
parece
perda
de
tempo;
Às
vezes
eu
acho
que
já
fiz
tudo
o
que
eu
precisava
fazer
na
vida.
Gráfico
6
–
Projetos
de
vida
(Ryff)
Em
mais
esta
escala,
criada
por
Carol
Ryff
e
colaboradores,
buscando
identificar
a
busca
de
projetos
de
vida
(purpose),
e
até
que
ponto
os
respondentes
da
pesquisa
estão
focados
nos
seus
planos
de
vida
futuros
e
orientados
em
atingir
os
seus
objetivos
de
vida,
embora
as
diferenças
nas
médias
encontradas
não
sejam
grandes,
4,1
contra
3,8,
ela
reforça
13
14. ainda
mais
a
tendência
de
que
os
sujeitos
engajados
socialmente
estão
orientados
em
atingir
os
seus
objetivos
de
vida.
Esses
dados
estão
corroborados
também
no
segundo
tipo
de
análise
feita
com
os
dados
coletados
na
amostra
de
universitários
brasileiros,
quando
associamos
o
Engajamento
social
(ou
não)
com
a
escala
de
Carol
Ryff
de
Projetos
de
Vida
(Purpose).
Os
sujeitos
comprometidos
socialmente
estão
positivamente
associados
com
essa
escala:
Tabela
5
-‐
Categorias
de
Projetos
de
Vida
Comprometimento
Categoria
de
Projetos
social
de
Vida
(Ryff)
Sim Não p
%
Ryffs 84,5 76,5 0,005
Os
próximos
dois
dados
que
serão
discutidos
e
apresentados
buscam
investigar
o
tipo
de
engajamento
que
os
jovens
tem
com
diferentes
tipos
de
atividade,
e
para
isso
fora,
solicitados
a
identificar
a
frequência
com
que
desenvolvem
determinados
tipos
de
atividades,
e
também
o
nível
de
satisfação
com
a
vida,
quando
empregamos
a
escala
criada
E.
Diener
e
colegas
(SWLS).
e)
Engajamento
em
atividades
O
envolvimento
em
diferentes
tipos
de
atividades
é
elemento
essencial
para
se
estudar
os
projetos
de
vida
(Purpose)
das
pessoas,
no
sentido
de
se
analisar
se
o
jovem
está
envolvido
em
ações
que
o
levem,
no
decorrer
da
vida,
a
buscar
a
realização
de
seus
projetos.
É
um
elemento
importante
para
diferenciar
os
jovens
com
engajamento
daqueles
que
Damon
(2009)
chama
de
sonhadores,
caracterizados
como
aqueles
que
enunciam
projetos
de
vida,
mas
não
possuem
envolvimento
em
atividades
que
vislumbrem
a
sua
concretização.
Para
investigar
o
engajamento
dos
jovens
universitários
em
diferentes
tipos
de
atividades,
foi
aplicado
um
questionário
que
buscava
tal
comprometimento
em
diversos
domínios.
Numa
escala
de
Likert,
havia
5
alternativas
para
cada
uma
das
categorias
de
14
15. comprometimento:
Nunca
(1);
Quase
nunca
(2);
às
vezes
(3);
Semanalmente
(4);
Diariamente
(5).
As
categorias
empregadas
na
análise
dos
dados
sobre
a
frequência
com
que
realizavam
atividades,
com
os
respectivos
itens
perguntados
aos
sujeitos,
foram
os
seguintes:
Familiares
(Reunir-‐me
com
minha
família;
Sair
com
os
meus
amigos;
Encontrar
com
meus
parentes;
Festas/eventos
familiares),
Pró-‐sociais
(Trabalho
comunitário
voluntário;
Ajudar
as
pessoas
necessitadas;
Trabalhar
em
uma
campanha
ou
causa
política;
Trabalho
em
causa
social;
Participar
de
atividades
de
ONGs),
Religiosas
(Rezar;
Frequentar/participar
de
atividades
religiosas
ou
espirituais;
Ler
livros
religiosos),
Escolares/carreira
profissional
(Estudar;
Participar
de
projetos
com
seus
professores
fora
do
horário
de
aulas;
Trabalho
remunerado;
Cursos
extracurriculares,
fora
da
universidade
(inglês,
computação,
etc.),
Estética/lazer
(Produção
artística;
Sair
para
dançar;
Tocar
instrumentos
musicais;
Praticar
esportes;
Navegar
na
Internet).
Os
dados
da
pesquisa
são:
Gráfico
6
–
Engajamento
em
atividades
Percebe-‐se
que
os
sujeitos
engajados
socialmente
são
aqueles
com
maior
media
no
engajamento
em
atividades
em
todos
os
níveis,
reafirmando
que
tendem
a
ser
pessoas
mais
ativas
e
comprometidas
com
a
vida,
com
a
família,
com
o
mundo.
15
16. Esse
dado
também
é
corroborado
com
o
segundo
tipo
de
análise
que
desenvolvemos,
associando
Engajamento
social
(ou
não)
com
a
escala
de
Engajamento
em
Atividades.
Os
seguintes
dados
foram
encontrados:
Tabela
6
-‐
Categorias
de
Engajamento
em
Atividades
Categorias
de
Comprometimento
Engajamento
em
social
Atividades
Sim
Não
p
%
Familiares
31,5
24,8
0,032
Pró-‐sociais
3,8
0,0
<0,001
Religiosas
32,6
20,0
<0,001
Escolares/carreira
46,1
27,4
<0,001
Estética/lazer
profissional
8,4
4,0
0,005
Assim,
vemos
que
todas
as
categorias
estão
positivamente
associadas
com
Comprometimento
Social,
com
p<0,005.
f)
SWLS
–
Escala
de
Satisfação
com
a
Vida
Como
última
análise
feita
a
partir
de
escalas
psicométricas,
aplicamos
a
SWLS
-‐
Satisfaction
With
Life
Scale,
elaborada
por
Diener,
E.,
Emmons,
R.
A.,
Larsen,
R.
J.,
&
Griffin,
S.
(1985).
Essa
escala,
com
5
itens,
é
das
mais
aplicadas
no
mundo
inteiro
e
seus
resultados
estão
bem
documentados
na
literatura
internacional.
Seu
objetivo
é
avaliar,
numa
dimensão
cognitiva,
o
juízo
das
pessoas
sobre
a
percepção
geral
que
tem
de
satisfação
com
a
sua
vida.
Vislumbramos
como
um
aspecto
interessante
poder
estabelecer
associações
entre
o
engajamento
social
dos
jovens
universitários
com
a
satisfação
com
a
vida,
pois
esse
pode
ser
um
elemento
importante
para
se
compreender
a
importância
dos
projetos
de
vida
para
a
vida
geral
das
pessoas,
pensando
no
âmbito
dos
princípios
da
Psicologia
Positiva.
16
17. Empregando
uma
escala
de
Likert,
os
sujeitos
da
pesquisa
tinha
que
valorar
cada
item
da
pergunta
“O
quanto
você
concorda
ou
discorda
das
seguintes
afirmações:”,
da
seguinte
forma:
discordo
totalmente
(1);
discordo
(2);
não
concordo,
nem
discordo
(3);
concordo
(4);
concordo
totalmente
(5).
Os
itens
avaliados
na
escala
são:
Eu
estou
satisfeito
com
a
minha
vida;
Se
eu
pudesse
voltar
atrás
na
minha
vida,
eu
não
mudaria
quase
nada;
As
minhas
condições
de
vida
são
excelentes;
Na
maior
parte
das
vezes,
a
minha
vida
é
exatamente
como
eu
gostaria
que
fosse;
Até
agora
eu
tenho
conseguido
coisas
importantes,
coisas
que
eu
quero
para
a
minha
vida.
Gráfico
7
–
Satisfação
com
a
vida
Seguindo
todos
os
resultados
apresentados
até
aqui,
encontramos
uma
tendência
dos
sujeitos
comprometidos
com
atividades
de
cidadania
em
suas
vidas
a
apresentarem
maior
satisfação
com
a
vida:
média
de
3,5
dos
engajados
socialmente
contra
3,3
daqueles
não
engajados
socialmente.
Na
mesma
direção,
na
análise
feita
buscando
ver
os
sujeitos
que
afirmaram
concordar
(4)
e
concordar
totalmente
(5)
com
os
itens
da
escala
que
lhes
foram
17
18. apresentados,
encontramos
que
a
escala
está
positivamente
associada
com
o
Comprometimento
social
dos
jovens
universitários
brasileiros:
Tabela
7
-‐
Categorias
de
Satisfação
com
a
Vida
Comprometimento
Categoria
de
Satisfação
social
com
a
Vida
Sim Não p
%
Swls 50,0 39,6 0,002
Considerações
finais
De
maneira
geral
o
Survey,
além
de
identificar
os
universitários
engajados
semanalmente
em
atividades
comunitárias
e
sociais,
foi
utilizado
para
auxiliar
na
identificação
dos
projetos
de
vida
dos
jovens
brasileiros,
por
meio
de
escalas
reconhecidas
internacionalmente:
Identified
Purpose
Scale;
Life
Goals
Scale;
MLQ
-‐
Meaning
in
Life
Questionaire;
SWLS
-‐
Satisfaction
With
Life
Scale;
RYFF’S
Purpose
In
Life
Scale.
Como
vimos,
em
todas
as
escalas
e
análises
feitas,
os
universitários
engajados
semanalmente
em
atividades
comunitárias
e
sociais
apresentaram
maior
tendência
a
apresentar
projetos
de
vida
(purpose)
mais
consolidados
e
mais
voltados
a
questões
de
cidadania.
Os
resultados
de
nossa
pesquisa
trazem
fortes
indícios
de
que
os
projetos
vitais
são
construídos
com
base
em
princípios
e
valores
morais
vinculados
à
preocupação
com
o
bem-‐
estar
de
outras
pessoas,
mas
também
com
base
nos
interesses
pessoais
e
na
satisfação
do
próprio
sujeito.
Além
disso,
as
relações
interpessoais
estabelecidas
pareceram
constituir-‐se
como
elemento
importante
no
raciocínio
dos
jovens.
Prof.
Dr.
Ulisses
Ferreira
de
Araújo
Universidade
de
São
Paulo
18