O documento discute três conceitos-chave da antropologia:
1) Paidéia, que se refere à cultura grega antiga como um todo, incluindo tradições, literatura e educação;
2) Alteridade, a qualidade de ser diferente do outro e como o conhecimento de outras culturas nos faz perceber nossa própria cultura;
3) Relativismo cultural, a ideia de que culturas devem ser entendidas em seus próprios termos, sem julgamentos baseados em apenas um ponto de vista.
3. PAIDEIA
* JAEGER, Werner. Paidéia: A Formação do Homem
Grego. 3ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
Paidéia, a partir do século V vem a referir-se na cultura grega a "todas as
formas e criações espirituais e ao tesouro completo da sua tradição, tal
como nós o designamos por Bildung ou pela palavra latina, cultura."*
Ao trazermos aos nossos os dias o termo fica claro então que não se
pode “evitar o emprego de expressões modernas como civilização,
tradição, literatura, ou educação; nenhuma delas coincidindo, porém, com
o que os gregos entendiam por paideia. Cada um daqueles termos se
limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para abranger o
campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só
vez."*
5. Alteridade – Qualidade do que é outro ou do que pertence ou
caracteriza o outro; carater ou estado do que é diferente; que
se opõe a identidade.
“A experiência da alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver
aquilo que nem teríamos conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em
fixar nossa atenção no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que
consideramos „evidente‟. Aos poucos, notamos que o menor dos nossos
comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem
realmente nada de „natural‟. Começamos, então, a nos surpreender com
aquilo que diz respeito a nós mesmos, a nos espiar. O conhecimento
(antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento
das outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma
cultura possível entre tantas outras, mas não a única.”
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: ed. Brasiliense, 2000.
6. Relativismo
O relativismo cultural - é um método de se observar sistemas
culturais, sem uma visão etnocêntrica da sociedade vigente, ou
seja, realizar a observação sem usar nem um meio ou
parâmetro pré concebido pela cultura ocidental e, assim,
realizar um estudo e/ou observação do sistema cultural sem
nenhum pré conceito. Com isso, realizar a avaliação sem
privilegiar os valores de um só ponto de vista, e estruturar o
corpo social a partir de suas próprias características. Adquirem,
assim, seus próprios sistemas de valores e sua própria
integridade cultural.
7. Civilization
“O conceito de “civilization” refere-se a uma larga variedade
de fatos: ao nível tecnológico, as formas do comportament,
ao desenvolvimento do conhecimento científico, aos
costumes e ideias religiosas<...> não há nada que não
possa ser feito de forma “civilizada” ou “incivilizada”; por
isso, parece sempre dificil resumir em poucas palavras
tudo o que se descreve como “civilization”. Mas quando se
examina qual a função geral do conceito de civilization
realmente, e quais qualidades comuns guiam todos essas
diferentes atitudes humanas e atividades descritas como
civilizadas, inicia-se com uma muito simples descoberta:
Esse conceito expressa a autoconsciência do Ocidente.”
(tradução livre)
Norbert Elias em “O Processo civilizador”
8. Kultur
But “civilization” does not mean the same thing to different Western
nations. Above all, there is a great difference between the English and
French use of the word, on the one hand, and the German use of it,
on the other. For the former, the concept sums up in a single term
their pride in the significance of their own nations for the progress of
the West and of humankind. But in German usage, Zivilisation means
something which is indeed useful, but nevertheless only a value of the
second rank, comprising only the outer appearance of human beings,
the surface of human existence. The word through which Germans
interpret themselves, which more than any other expresses their pride
in their own achievements and their own being, is Kultur.
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