SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 22
Caído na calçada  Coluna: David Coimbra, Zero Hora - 26 de setembro de 2008 N° 15740
Ontem saí de casa mais cedo do que o nor- mal e a temperatura era amena de primavera e o dia estava amarelo e azul e do som do meu carro se evolava o rock suave da Itapema e eu me sentia realmente bem.
Estacionei numa rua quase bucólica do Menino Deus e vi que ali perto um catador de papel puxava sua carrocinha sem pressa.
Era magro e alto, devia andar nas franjas dos 50 anos e tinha a pele luzidia de tão negra.   Ao seu lado saltitava  um menino de, calculei, uns quatro anos de idade, tal-vez menos.
Bem.   Ao menos foi o que jul- guei, certeza não podia ter.
Já ia me afastar quan- do, por entre as grades da cerca de uma creche próxi- ma, voou um brinquedo de plástico.
Um desses robôs cheios de luzes e vozes, que se trans- formam em nave espacial e prédio de apartamentos, ador a  do pelas crianças de hoje em dia.
Algum garoto devia ter ati- rado o brinquedo para cima por engano, ou fora uma gra- cinha sem graça de um amigo.
O menino que era dono do brinquedo colou o rosto na gr a  de como se fosse um presidiá- rio, angustiado.
O filho do catador de pa- pel correu até a calçada, co- lheu o robô do chão e não vaci lou um segundo: retornou face i  ro para junto do pai, o brinque- do na mão, feito um troféu.
Olhei para o menino atrás da cerca.   Estranhamente, ele não f a  lou nada, não gritou, nem re- clamou.
Ficou apenas olhando seu brinquedo se afastar na mão do outro, os olhos muito arregala- dos, a boca aberta de aflição.
O pai olhou.   E fez parar a carrocinha.  Largou-a encostada ao meio-fio.   Levou a mão calosa à cabeça do filho.
E se agachou até que os olhos de ambos ficassem no mesmo nível.  A essa altura, eu, estacado no canteiro da rua, não conse- guia me mover.
Queria ver o desfecho da cena.   O pai começou a falar com o menino.   Falava devagar, com o olhar grave, mas não pare- cia nervoso.
Explicava algo com paciência e seriedade.  O menino abaixou a cabeça, en- vergonhado, e o pai ergueu-lhe o quei- xo com os nós do dedo indicador.
Falou mais uma ou duas frases, até que o filho balançou a cabeça em concordância.   A seguir, o menino saiu correndo em direção à creche.
Parou na grade, em frente ao outro garoto.  Esticou o braço.   E, em silêncio, devolveu-lhe o brinquedo.
Voltou correndo para o pai, que lhe enviou um sorriso e le- vantou a carrocinha outra vez.   Seguiram em frente, o pai forcejando, o filho ao lado, agora não saltitante, mas pensativo, co n  centrado.
Então, tive certeza: aquele olhar com que o menino observara o pai era mesmo de admiração, ele era de fato o seu herói.
Faze com que teu filho, até os 10 anos te obedeça, até os 20 te ame,  e até a morte, te respeite.  Até os 10 anos sê teu mestre,  até os 20 sê seu pai, e até a morte,  sê seu amigo. Leandro Strauss
Composição de imagens: Google  Texto: Encrte Jornal Zero Hora Nº 15740  Música:  Richard Clayderman - You'll Never Walk   Alone   Formatação: adsrcatyb@terra.com.br  Revisão: ubiratan143@oi.com.br  Site:  www.momentos-pps.com.br   Respeite os direitos autorais e de quem formatou.

Mais conteúdo relacionado

Mais de Pride Commerce - Assessoria e Consultoria na Internet - Uma empresa do Grupo DESTAKE --- Diretor: Vagner Fernandes David

Mais de Pride Commerce - Assessoria e Consultoria na Internet - Uma empresa do Grupo DESTAKE --- Diretor: Vagner Fernandes David (20)

Cortes de carnes - Explicativo
Cortes de carnes - ExplicativoCortes de carnes - Explicativo
Cortes de carnes - Explicativo
 
Apresentação Isla Negra by Emporio Villa Real
Apresentação Isla Negra by Emporio Villa RealApresentação Isla Negra by Emporio Villa Real
Apresentação Isla Negra by Emporio Villa Real
 
Palavras positivas
Palavras positivasPalavras positivas
Palavras positivas
 
Sinais
SinaisSinais
Sinais
 
Hino a alegria
Hino a alegriaHino a alegria
Hino a alegria
 
Neuropeptideos
NeuropeptideosNeuropeptideos
Neuropeptideos
 
Uma mente dois cerebros
Uma mente dois cerebrosUma mente dois cerebros
Uma mente dois cerebros
 
Rain drops
Rain dropsRain drops
Rain drops
 
Principio 90 10-stephen covey
Principio 90 10-stephen coveyPrincipio 90 10-stephen covey
Principio 90 10-stephen covey
 
O tempo do tempo
O tempo do tempoO tempo do tempo
O tempo do tempo
 
Gente fina
Gente finaGente fina
Gente fina
 
Eu desisto
Eu desistoEu desisto
Eu desisto
 
Danca nas nuvens
Danca nas nuvensDanca nas nuvens
Danca nas nuvens
 
Amizade não é isso
Amizade não é issoAmizade não é isso
Amizade não é isso
 
A velhice existe
A velhice existeA velhice existe
A velhice existe
 
O baile da vida
O baile da vidaO baile da vida
O baile da vida
 
Vai passar
Vai passarVai passar
Vai passar
 
Um mestre indiano osho
Um mestre indiano oshoUm mestre indiano osho
Um mestre indiano osho
 
Sem etiqueta sem preço
Sem etiqueta   sem preçoSem etiqueta   sem preço
Sem etiqueta sem preço
 
Seja
Seja Seja
Seja
 

Caido na calcada

  • 1. Caído na calçada Coluna: David Coimbra, Zero Hora - 26 de setembro de 2008 N° 15740
  • 2. Ontem saí de casa mais cedo do que o nor- mal e a temperatura era amena de primavera e o dia estava amarelo e azul e do som do meu carro se evolava o rock suave da Itapema e eu me sentia realmente bem.
  • 3. Estacionei numa rua quase bucólica do Menino Deus e vi que ali perto um catador de papel puxava sua carrocinha sem pressa.
  • 4. Era magro e alto, devia andar nas franjas dos 50 anos e tinha a pele luzidia de tão negra. Ao seu lado saltitava um menino de, calculei, uns quatro anos de idade, tal-vez menos.
  • 5. Bem. Ao menos foi o que jul- guei, certeza não podia ter.
  • 6. Já ia me afastar quan- do, por entre as grades da cerca de uma creche próxi- ma, voou um brinquedo de plástico.
  • 7. Um desses robôs cheios de luzes e vozes, que se trans- formam em nave espacial e prédio de apartamentos, ador a do pelas crianças de hoje em dia.
  • 8. Algum garoto devia ter ati- rado o brinquedo para cima por engano, ou fora uma gra- cinha sem graça de um amigo.
  • 9. O menino que era dono do brinquedo colou o rosto na gr a de como se fosse um presidiá- rio, angustiado.
  • 10. O filho do catador de pa- pel correu até a calçada, co- lheu o robô do chão e não vaci lou um segundo: retornou face i ro para junto do pai, o brinque- do na mão, feito um troféu.
  • 11. Olhei para o menino atrás da cerca. Estranhamente, ele não f a lou nada, não gritou, nem re- clamou.
  • 12. Ficou apenas olhando seu brinquedo se afastar na mão do outro, os olhos muito arregala- dos, a boca aberta de aflição.
  • 13. O pai olhou. E fez parar a carrocinha. Largou-a encostada ao meio-fio. Levou a mão calosa à cabeça do filho.
  • 14. E se agachou até que os olhos de ambos ficassem no mesmo nível. A essa altura, eu, estacado no canteiro da rua, não conse- guia me mover.
  • 15. Queria ver o desfecho da cena. O pai começou a falar com o menino. Falava devagar, com o olhar grave, mas não pare- cia nervoso.
  • 16. Explicava algo com paciência e seriedade. O menino abaixou a cabeça, en- vergonhado, e o pai ergueu-lhe o quei- xo com os nós do dedo indicador.
  • 17. Falou mais uma ou duas frases, até que o filho balançou a cabeça em concordância. A seguir, o menino saiu correndo em direção à creche.
  • 18. Parou na grade, em frente ao outro garoto. Esticou o braço. E, em silêncio, devolveu-lhe o brinquedo.
  • 19. Voltou correndo para o pai, que lhe enviou um sorriso e le- vantou a carrocinha outra vez. Seguiram em frente, o pai forcejando, o filho ao lado, agora não saltitante, mas pensativo, co n centrado.
  • 20. Então, tive certeza: aquele olhar com que o menino observara o pai era mesmo de admiração, ele era de fato o seu herói.
  • 21. Faze com que teu filho, até os 10 anos te obedeça, até os 20 te ame, e até a morte, te respeite. Até os 10 anos sê teu mestre, até os 20 sê seu pai, e até a morte, sê seu amigo. Leandro Strauss
  • 22. Composição de imagens: Google Texto: Encrte Jornal Zero Hora Nº 15740 Música: Richard Clayderman - You'll Never Walk Alone Formatação: adsrcatyb@terra.com.br Revisão: ubiratan143@oi.com.br Site: www.momentos-pps.com.br Respeite os direitos autorais e de quem formatou.