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              Emanoel Francisco Pinto Barreto
              Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Brasil
              e.barreto@ufrnet.br
              G1-2 Historia de la Comunicación


            O protagonismo hegemônico de Assis Chateaubriand


                                         Resumo
O artigo tem por finalidade analisar a presença histórica de Francisco de Assis
Chateaubriand Bandeira de Melo como primeiro empresário brasileiro a constituir grupo
jornalístico de dimensão nacional a partir de discurso hegemônico, que mesclava interesses
pessoais a uma forte participação política e presença em eventos como a Revolução de 30,
que levou ao poder Getúlio Vargas, populista e autoritário. Veremos como Chatô, como
era chamado, adicionava a seu discurso favorável a um capitalismo nacional dependente,
concepções de mundo advindas do hitlerismo e fascismo como forma de justificar domínio
e direção das sociedades por elites conservadoras.

Palavras-chave: Chateaubriand, jornalismo, poder, política

                                         Abstract

This current work aims to express the Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de
Melo's contribution, as the first brazilian businessman, to develop a national journalistic
group starting with hegemoniacal speech which mixed personal interests, huge political
participation, and be present at the important events like the 1930 Revolution, which
elected Getúlio Vargas, who was popular and authoritarian. He was called "Chatô" as a
nickname and we'll see how he included in his pleasant speech, a dependent national
capitalism, world's conceptions from Hitler and fascism as a way to justify the
conservative elite's power and management.

Keywords: Chateaubriand, journalism, power, politics

       O jornalismo é espaço privilegiado para representação e análise do real histórico. E
isso em função de que tem a virtual possibilidade de apropriação dos fatos, dando-lhes a
versão desejada pelo grupo que detém o controle do jornal. A intervenção jornalística no
drama da história, pelo próprio fato de ser uma intervenção, é, ela mesma, parte da história
da disputa pelo poder, o qual, conquistado e mantido, integra as condições impositivas,
atributos e privilégios de quem o conquistou e o mantém, e assim fará a representação
legitimada da vida social, a dramaturgia redacional daquilo que aconteceu no theatrum
mundi. E isso sempre favorece as elites, que têm condições econômicas de assumir esse
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controle, avocar a si o discurso memorial do que se passou e fazer desse discurso seu
próprio apanágio e justificação hegemônica no contínuo ocorrer da história. Assim, parte
da luta das elites é assegurar a naturalização desse fazer-ver-o-mundo segundo uma
determinada forma, naturalizando o quadro instalado de uma determinada época como
sendo o certo e o conveniente – a si e às demais classes, às quais têm o dever de dirigir e
liderar. A partir de tais observações temos que o jornalismo é uma das maneiras desse
exercício de poder e, em si, uma forma de justificá-lo, em processo meta-histórico.
       Para a consecução de tal realidade – um jornalismo interventivo, de eficácia
editorial – exige-se a construção de empreendimentos de vulto, muitas vezes
sistematizados em redes empresariais poderosas as quais, por sua vez, ao enunciar o
discurso das elites, enunciam, dentro das elites, seu próprio discurso hegemônico perante a
concorrência setorial. É o caso do jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de
Melo, figura histórica fundadora do protagonismo comunicacional hegemônico no Brasil.
Como poucos, Chateaubriand encarnou o processo de hegemonização dos interesses
ideológicos do capital via jornalismo. A penetração de seus veículos de comunicação, com
sua eficácia editorial, tinha força suficiente para influir junto às elites, classe média e
ambientes populares, causando com isso a sensação de que estava ali a representação de
uns e de outros, uma espécie de fiel da balança, um jornalismo de compromisso. Seu
discurso modernizante dos meios de comunicação trouxe ao país a TV em setembro de
1950, consolidando seu império no setor. No auge, o conglomerado Diários Associados,
designação do grupo jornalístico sob seu comando, reunia em todo o Brasil 36 jornais, 18
revistas, 36 rádios e 18 emissoras de televisão, além de bater recordes de tiragem com a
revista O Cruzeiro (Fortes, 2009).
       A par disso, Chatô, como era conhecido, firmara a aura de defensor das artes,
inaugurando o Museu de Arte Moderna de São Paulo-Masp em 1947, mediante incisivo
trabalho de reunião de fundos junto à nata do capitalismo brasileiro. Jornalista, contribuiu
decisivamente com um discurso centrado nos valores e prioridades históricas do capital,
trabalhando pelo estabelecimento de um consenso passivo junto aos dominados, na
circunscrição do quartel histórico em que teve atuação. Empresário, tinha interesses que
iam do jornalismo à propriedade de terras, passando por investimentos na indústria
farmacêutica. Esse ser bifronte, assim, tinha desenvoltura suficiente investir na política,
tornar-se senador e embaixador do Brasil na Inglaterra, participando também da
conspiração que levou à Revolução de 30.        A presença de Chateaubriand, seu gesto
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ideológico – germanófilo, anticomunista, alinhamento com os EUA segundo um
capitalismo nacional dependente –, está inserida em período de grandes mudanças:
urbanização nascente e crescente, primeiros esgares da industrialização e, não há como
escusar, a presença hegemonista dos Diários Associados, sob sua direção. O trabalho que
desenvolveu junto à superestrutura dá pista suficientemente forte para que seja visto como
o primeiro grande mentor intelectual do jornalismo de rede no país, cujo trabalho rendia
dividendos na formulação de um discurso hegemônico das elites e, em processo
metadiscursivo, se afirmava perante o país – e concorrentes – como aquele que melhor
representava tais interesses, cobrando por isso um alto preço. Constituiu-se, desta forma,
em pregador e recipiendatário dos resultados daquilo que pregava. A análise a respeito do
personagem em apreço será realizada a partir da obra basilar Chatô, o rei do Brasil, de
Fernando Morais, e de pesquisa de textos de autoria do próprio Chateaubriand. Aí
encontraremos o núcleo deste trabalho: o discurso hegemonista de Chateaubriand dentro
do discurso hegemônico das elites nacionais, a quem impunha, com vigor incomum, o
poderio do seu pronunciamento. Para análise, tomaremos como recorte histórico o início
de sua vida profissional até o ano de 1945, período em que firmou os alicerces do seu
império comunicacional.


De índios, africanos e comunistas


       Um aspecto de relevo no estudo dos vultos, na biografia em seu sentido de
captação do homem em seu tempo histórico, diz respeito não só ao relato sequenciado dos
atos que perpetrou em seu roteiro impontual de vida; mais que isso, a biografia diz do
sujeito em suas pulsões, projetos, feitos, quando se misturam sua historicidade e condição
humana na unicidade do sujeito; o gesto/discurso do ator repercutindo no mundo e deste
recebendo o ato responsivo. É dentro de tal enquadramento que faremos, nos limites deste
artigo, o registro do perfil ora proposto. Complexo, carismático, Chatô tinha, para uso
perlocutório, autopromocional, uma espécie de autodefinição, onde, com inescondível
boutade, se apresentava:


        André Malraux alimentava a ilusão de escrever a biografia de Chiquinho
        Matarazzo, mas eu consegui demovê-lo dessa rematada besteira. Acho que, como
        vingança, tentou escrever um livro sobre a minha vida, mas acabou desistindo.
        Depois foi a vez do padre Dutra, que cercava parentes meus pelas esquinas, em
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         busca de informações para compor um livro sobre a minha vida. Quem também
         andou bisbilhotando as minhas misérias, com planos de imortalizar-me no papel,
         foi a princesa Bibescu, da Romênia, editora e escritora. Os três fracassaram, mas a
         todos eu havia feito uma modesta exigência: a obra teria de começar descrevendo
         a cena em que eu e minha filha Teresa apareceríamos nus, sentados na foz do rio
         Cururipe, comendo bispos portugueses, tal como fizeram meus ancestrais caetés,
         quatro séculos atrás. O deslumbrante piquenique, que já povoou alguns delírios
         meus, seria a forma ideal de divulgar a origem do meu sangue ameríndio na
         Europa (Chateaubriand, 1994, p.11).

       À assertiva que supostamente o apresentava como descendente de ameríndios
contrapunha outro aspecto do seu discurso, esse sim, essencial, cerne ideológico de sua
historicidade: quando acusado por adversários de negligenciar seus afazeres como
embaixador do Brasil na Inglaterra, passando a maior parte do tempo à frente de seus
negócios no Brasil, respondia: “Isso é coisa de comunistas, de índios botocudos. Gentinha
atrasada, esses jornalistas brasileiros. Pensam como africanos...” (Morais, 1994, p. 17).
       Originário da Paraíba, município de Umbuzeiro, região Nordeste do Brasil, nasceu
a 4 de outubro de 1892; era raquítico e gago; aos nove anos não lia nem escrevia (Morais,
1994, p. 30). Essas limitações, superadas a tempo, permitiram o crescimento de Assis
Chateaubriand em sua construção íntima, coadunada com o pensamento liberal. Ante isto,
vale ressaltar que se o homem/sujeito é de alguma forma assujeitado à sua identidade e a
seu tempo, e disto não tem como escapar, ele existe em situação idiossincrática na
condição de ser único; interpreta e reinterpreta o mundo a partir de si e consigo, daí
advindo aquilo que fará em gesto socialmente visível e segundo as suas possibilidades. O
homem, assim, é condicionado a seu tempo e a si próprio, mas vive esse condicionamento
de maneira bastante própria. Desta forma, se “a pluralidade é a condição da ação humana
porque somos todos iguais, isto é, humanos, de um modo tal que ninguém jamais é igual a
qualquer outro que viveu, vive ou viverá (Arendt, 2011, pp. 9-10), foi assim que
Chateaubriand, experienciando seu tempo, marcou-o com tipicidade única, individuada,
tirando proveito do comportamento da época quando “a moda na imprensa brasileira na
virada do século não era a notícia, mas a polêmica” (Morais, 1994, p. 60).
       O polemista tornou-se advogado, sagrou-se professor de Direito, nunca assumiu a
cadeira e em 1917 chega ao Rio de Janeiro para dedicar-se inteiramente ao jornalismo.
Antes, fora advogado da poderosa família Lundgren, estado de Pernambuco, em difícil
disputa. Numa assertiva demonstrou seu intento de vida e seus métodos: ao recusar-se a
receber pagamento da causa vitoriosa, justificou-se assim: “Prefiro tê-los eternamente
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como meus devedores. Melhor do que ter o dinheiro dos Lundgren é ter os próprios
Lundgren para sempre dentro do meu embornal (Morais, 1994, p. 94). Estava aí
configurado o ator social em sua essência anímica: Chatô, em seu relacionamento com a
burguesia, ao mesmo tempo em que a defendia tinha com ela uma relação cínica,
debochada, ajustando o discurso do poder ao seu talante de intelectual orgânico daquilo
que, apoiando, depreciava; e, depreciando, daquilo mesmo se servia. Ciente da
participação no jogo burguês justificou assim o pedido de aval a um amigo, o engenheiro
Eugênio Gudin, para a compra de um carro, algo tido em 1917 como consumo suntuário:


         – Seu Gudin, eu só advogo para ganhar dinheiro e comprar um jornal. Acha que
         andando de bonde e fazendo a vida de classe média inspiro confiança aos acionistas
         da futura gazeta? O carro próprio é hoje o melhor indício de prosperidade. O
         importante não é ter dinheiro, mas transmitir a ilusão de que ele não anda longe de
         mim. [...] As sociedades vivem de mitos. Quero que a burguesia alimente o mito da
         minha petulante fortuna, porque é dessa burguesia que precisarei, muito em breve
         (Morais, 1994, p. 97).

         Seu acesso à burguesia se dava, ao que se percebe, por confluência ideológica e
interesse pessoal. Assim, empilhava o discurso da ordem ao seu corolário idiossincrático.
A essa mescla incluía participação junto à intelectualidade brasileira, chegando a ser
convidado a participar da Semana de Arte Moderna de em fevereiro de 1922, em São
Paulo.


         [...] Graça Aranha [escritor] deu-lhe o privilégio de ler, em primeira mão, a
         “bomba” que preparara para a semana paulista: a conferência intitulada “A emoção
         estética na arte moderna” [...] Ao final da leitura, Chateaubriand livrou-se do maço
         de papéis [...] Partiu para cima do autor, a quem tratava pelo prenome, de dedo em
         riste: – Zé Pereira! Vocês enlouqueceram. Isto não é arte, não é literatura: é
         anticapitalismo puro. [...] Não quero desagradar o capitalismo. É com ele que estou
         metido [...] (Morais, 1994, pp. 127-128).

         A atitude de Chateaubriand se inseria no que preconiza Gramsci quando diz que o
empresário “deve ser um organizador da massa de homens, deve ser um organizador „de
confiança‟ dos que investem em sua empresa, dos compradores de sua mercadoria”
(Gramsci, 2001, p. 15). Ganhando a confiança do capitalismo a construção do império
jornalístico de Chateaubriand começou aos 32 anos de idade, quando, na manhã do dia 30
de outubro de 1924 assumia, como dono, a direção de O Jornal, adquirido com o apoio
exatamente das “classes conservadoras”, a fim de que pudesse paradoxalmente defender os
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“grandes interesses nacionais”, conjugando tal paradoxo ao fato de ser favorável a um
capitalismo dependente, o que de alguma forma se opõe ao nacionalismo (Morais, 1994,
pp. 138-140).


O Cruzeiro, Getúlio e a Revolução de 30


       A 10 de dezembro de 1928 lançou, com grande campanha publicitária, um dos
maiores marcos do seu futuro poderio: começava a circular, com tiragem de 50 mil
exemplares, rodada em Buenos Aires, a revista Cruzeiro, depois O Cruzeiro, o que muito
agradou ao futuro ditador Getúlio Vargas, então governador do Rio Grande do Sul.
Assessorado pelo americano Fitz Gibbon, cuja expertise importara do matutino The New
York American, Chateaubriand dele ouviu: a publicação seria o “mais moderno processo
americano de infiltração na consciência dos consumidores” (Morais, 1994, p. 187). Dois
anos depois apoiou à chamada Revolução de 30, que levaria ao poder Getúlio Vargas, a 24
de outubro daquele ano. Sinergizando seus dotes de intelectual orgânico e empresário de
comunicação aos pressupostos da Revolução conseguiu a oportuna conciliação, em seus
artigos, entre o nacionalismo getulista e seu pragmatismo do capitalista emergente: Getúlio
queria “redimir o país da servidão econômica e financeira”. Chatô, prestigiado e próximo
ao presidente, não iria perder a oportunidade. Em artigo onde esquecia que o nacionalismo
não fazia parte do seu corolário de crenças políticas, disse: “Usemos de preferência roupas
de algodão. [...] Eliminemos os ternos brancos de linho. [...] O Brasil produz artigos finos
de algodão. [...] Que todos os brasileiros não mandem fazer mais roupas senão de pano
brasileiro [...] (Morais, 1994, p. 255).
       Sob o título “Juízes da Revolução”, artigo publicado dia 4 de novembro daquele
ano permitia a Chatô afirmar sua lealdade ao movimento getulista: “Nada queremos para
nós. Não aceitamos cargos públicos, pela própria índole do mandato que já exercemos, da
opinião. A única posição que nos seduz na República nova é a de juízes desapaixonados
dos atos daqueles que vão dirigi-la” (Chateaubriand, 1998, p. 617). O pronunciamento traz,
junto à denotação político-ideológica, a conotação do jornalismo como missão, o jornalista
como ator desinteressado, apenas registrador objetivo da história. Mais que isso, o
jornalista como presuntivo representante do povo pelo mandato virtual que lhe teria sido
outorgado via opinião pública. Mesmo assumindo que o país se encontrava sob estado de
exceção, exaltava: “O ditador que se controla, que põe pesos ao próprio arbítrio, realiza um
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ato de sabedoria, como de prudência” (Chateaubriand, 1998, p. 656). Afirmava no mesmo
texto que a nação havia sido “brindada” pelo “governo revolucionário” com um “esboço
de Constituição”, para em seguida praticar culto à personalidade: “Com o Sr. Getúlio
Vargas dir-se-ia que é o guarda-noturno do regime. O vigilante noturno é um servidor da
ordem, querido em todo o bairro, porque ele implanta o respeito à lei, afugenta os
malfeitores, espalha a segurança e a paz, sem que ninguém se aperceba da sua autoridade.”
Sem que fosse a intenção, expunha todos os efeitos ideológicos do sistema de poder, uma
vez que é próprio da ideologia ocultar-se como fenômeno imposto em surdina.
       No artigo “Um monstro” invertia por completo a acepção do termo ao colocar o
ditador na condição de um ser grandioso. Datado do dia 18 de novembro de 1930, o texto
afirmava que, na companhia do ditador, na “sua intimidade, o que respiramos é um ar azul,
todo feito de amabilidades burguesas, de claridades geométricas, de razão harmoniosa e de
salubridade moral. [...] Maquiavel é pinto para o Sr. Getúlio Vargas” (Chateaubriand,
1998, p. 665). Trinta dias após a vitória do golpe, que vicejara ante a falência das
oligarquias da chamada República Velha, Chateaubriand fora a São Paulo para “ver uma
imponente parada de trabalhadores [...]. [...] as massas obreiras cantavam [...] possuídas de
entusiasmo [...]. Os líderes militares eram objeto de verdadeira ovação das associações
trabalhistas representadas naquele desfile”, segundo registrou no artigo “Uma impressão
de São Paulo” (Chateaubriand, 1998, p. 681). A chamada Revolução assumia assim ares de
benemerência das elites, uma espécie de favor ou caridade histórica ante um povo de
descamisados, agrupamento de incapazes sem luz própria. No mesmo artigo, porém,
admitia que presos políticos, ligado ao velho regime, encontravam-se incomunicáveis sem
que soubessem de que crimes eram acusados. O avanço conservador arrimava-se até na
surrada visão de ser o brasileiro um povo cordial, dado ao descanso, avesso ao trabalho,
justificando-se assim o movimento de 1930, visão que pode ser encontrada no texto
“Providências Necessárias”, onde está dito que o licenciamento e possível demissão de
muitos funcionários da Biblioteca da Câmara dos Deputados representaria justa retribuição
de pecados sociais praticados por funcionários apresentados na condição de “malandros”
(Chateaubriand, 1998, p. 785). Declarações do ditador foram apresentadas na íntegra por
Chateaubriand dia 17 de dezembro:


       – Certo, o regime de economias a que estamos submetendo os orçamentos e na
       maior parte sem prejudicar a eficiência administrativa, choca o sentimentalismo
       brasileiro. Alegam-se que há famílias ao desamparo porque os seus chefes foram
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       dispensados pelo governo. [...] Há muitas probabilidades de trabalhos fora dos
       quadros do funcionalismo e, agora mais do que nunca, pois para tutelar a economia
       brasileira vamos imprimir um surto considerável à produção nacional, quer no
       campo das atividades agrárias, quer no terreno das indústrias economicamente
       viáveis do País (Chateaubriand, 1998, p. 767).

       Com a assertiva o ditador deixava à mostra visão de ser o brasileiro povo
adocicado, transformando a questão social em caso de folhetim, sugerindo que o Estado
abria perspectivas novas, devendo todos se ajustar aos tempos. Distante, encarcerado na
Itália, temos a visão gramsciana a respeito do golpe de 30: na América do Sul a base
industrial era restrita e inexistiam superestruturas complexas, predominando assim duas
categorias de intelectuais tradicionais: “o clero e uma casta militar”, que haviam apoiado o
movimento de Getúlio (Gramsci, 1999, p. 31). Adiantando-nos no tempo vamos
reencontrar Chatô dia 3 de novembro de 1936, quando, ao analisar a guerra civil
espanhola, elogia o ditador português Oliveira Salazar, favorável à queda do governo legal
da Segunda República Espanhola. Alardeava o “perigo comunista” advertindo que
“Portugal seria cego ou estúpido se olhasse com indiferença a vizinhança de um país
sovietizado” (Chateaubriand, 1999a, p. 847). Seu pensamento reunia estranho
entendimento: no mesmo artigo, a par de apoiar a ditadura no Brasil e o golpe na Espanha,
criticava a resistência espanhola ao golpe: “Se os rebeldes vencessem, o mundo iria assistir
ao espetáculo do extermínio da liberdade.”


A defesa do partido único, a inspiração em Hitler


       Sua compreensão da marcha histórica era assim expressa:


       Tem o Brasil duas mentalidades opostas. A mentalidade tupi, que é a mentalidade
       do ameríndio, e a mentalidade transatlântica, que é a projeção do espírito
       debruçado sobre o mundo [...]. O índio, como os tipos inferiores, mostra a
       inatividade da faculdade de reflexão. Ele só pensa no presente. Só se ocupa das
       coisas e dos pequenos detalhes da hora que passa. [Não tem capacidade de]
       decompor fatos gerais complexos, desenvolver ideias abstratas para deles tirar
       verdades, explicar causas e consequências. [...] Desgraçadamente, é com o índio,
       com um modelo subalterno e degradado de vida social, que se quer padronizar a
       civilização brasileira (Chateaubriand, 1999a, pp. 850-851).
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       Apesar do racismo manifesto, postou-se contra atitude do Partido Integralista que, a
exemplo do Partido Nazista, desenvolvia aqui ação antissemita. De forma implausível
encontraria na nossa miscigenação as bases para contrariar a pregação integralista, não sem
antes contemporizar, conciliando o nazismo e a grandeza de sua obra, em artigo sob o
título “O Brasil para a humanidade”, dia 26 de abril de 1936:


       Não temos porque imitar a Alemanha do Sr. Hitler na guerra contra os judeus, até
       porque a Alemanha possui, na sua ciência, na sua história, na sua indústria, na sua
       poesia, na sua arte, coisas muito mais belas, muito mais nobres do que esse
       grotesco e subalterno aspecto da obra nazista. Fez o nacional-socialismo coisas
       prodigiosas pelo ressurgimento da Alemanha; na sua vigorosa pousée para a
       renascença imperial, só encontramos essa mácula, esse ponto obscuro, empanando
       o brilho do disco solar da ascensão germânica” (Chateaubriand, 1999a, p. 327).

       Ao tempo em que na Europa vicejavam os partidos nazista e fascista, o governo de
Getúlio apresentava esgares favoráveis ao partido único no Brasil, àqueles de alguma
forma assemelhado. Chateaubriand saiu em defesa da ideia. Corria o ano de 1937. Getúlio
instalara o Estado Novo a 10 de novembro, a pretexto de impedir suposto levante
comunista. Dia 23, o jornalista diria em seus jornais:


       Enunciou hoje o Sr. Agamemnon Magalhães uma verdade que desde vários dias
       repito neste pedaço de coluna. No Estado, que o golpe de 10 de novembro
       suspendeu, só existe uma ideologia. [...] Tal como Hitler consumou na Alemanha,
       Getúlio Vargas, na plenitude do seu poder de comando, golpeou de morte todos os
       resíduos autonomistas provincianos [criando um Estado unitário em lugar da
       Federação] (Chateaubriand, 1999b, pp. 929-930).

       Afirmaria no mesmo texto que a criação do Partido Nacional seria condição basilar
para a efetividade da convivência política. Defenderia, em novembro daquele ano, o
colonialismo na África e o “aproveitamento” daquele continente pelos europeus,
advertindo que o Brasil, como exportador de matéria-prima, teria ali sólido concorrente e
deveria ter pressa (Chateaubriand, 1999b, pp. 933-934). Novamente tocaria na tese do
partido único em novembro, dizendo que “entre a nação e o Estado só deve existir de hoje
por diante o Partido Nacional, depositário exclusivo e impessoal do ideal e da ordem de
Novembro [...] (Chateaubriand, 1999b, p. 946). Voltaria sua inspiração outra vez ao nazi-
fascismo dia 1º de dezembro:
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       Na Itália, ao Partido Fascista apenas é quem a lei concede o direito de existência.
       Un organo dello Stato, chama-o a lei. [...] Na Alemanha, desde julho de 1934, foi
       interdito o funcionamento de outro partido qualquer fora do nacional-socialista. [...]
       Em Portugal, a União Nacional é outrossim o partido único [...]” (Chateaubriand,
       1999b, p. 951).

       Chateaubriand, pela via inversa, defendia a ideia de partido dos comunistas a quem
tanto combatia, criticava o Estado liberal e partia em defesa das elites que elaboravam o
ideário do monismo partidário lembrando que estas seriam “dementes” se admitissem
deixar de pé “partidos obsoletos” (Chateaubriand, 1999b, p. 950). O partido único,
defendia, será assemelhado a um exército, sem que ali houvesse militantes, mas
milicianos. Em elaborado discurso ideológico fazia a inversão do real em função de que as
aparências pareciam confirmar aquilo que era dito. Assim, justificando a implantação do
Estado Novo como ordem favorável ao povo, afirmava que as elites haviam “contrariado
abertamente dezenas de milhares de interesses privados” (Chateaubriand, 1999b, p. 959).
Tanto que, no artigo intitulado “A alegria do dever cumprido”, de 5 de dezembro, elogiava
o Partido Integralista, de essência fascista, que entrava em processo de autodissolução
tática para agregar-se ao getulismo: “A maior força, na política, não consiste em alcançar o
poder, mas sim, resignados, o vermos exercido por quem é capaz de realizar as nossas
mais caras ideias e esperanças [...]” (Chateaubriand, 1999b, p. 964).


Os nórdicos e a miscigenação pura


       Chateaubriand continuaria a defender o partido único, de minoria, cujos membros,
selecionados, militantes, funcionaram como seus intelectuais orgânicos. Os grandes
intelectuais formulariam a essência de um Estado plenipotenciário e os demais militantes
se encarregariam de fazer a difusão de tal ideário. Para ele, Vargas e o partido único
tinham um “sentido de missão” “educativo e reeducativo do povo, para fazê-lo aceitar e
identificar-se com as grandes reformas do regime” (Chateaubriand, 1999b, p. 971). A
proposta de ensinar o povo a pensar tinha como paradigmas o Partido Nacional Socialista
alemão, o Partido Fascista italiano e a União Nacional, portuguesa. Dizia que a nenhum
brasileiro assistiria o direito de filiar-se a um partido que não aquele em fase de
preconização. E afirmava: “O Sr. Goebels formulou com uma clarividência solar a tese de
minoria partidária, da minoria militante, dentro do vasto organismo da democracia
autoritária (Chateaubriand, 1999b, p. 973). Coroando seu pronunciamento, ensinava: “[...]
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adianta Hitler: „Todos os alemães ideologicamente precisam receber uma educação
nacional-socialista. E os melhores nacionais-socialistas é que deverão ser os filiados do
partido, como os melhores partidários é que deverão assumir a direção do Estado‟”
(Chateaubriand, 1999b, p. 974). A ação de Assis Chateaubriand, perfilhada ao ditador
Vargas, conseguia criar condições para que levasse adiante seus propósitos pessoais: o de
tornar-se proprietário de uma grande cadeia de comunicação, inscrita num sistema
autoritário. As filigranas desse método as vamos encontrar no fato de que, defendendo o
Estado autoritário, seria possível sim chegar a tais objetivos: ele funcionaria como
intelectual orgânico e teria assim ampla margem de manobra, uma vez que é próprio do
intelectual orgânico a crítica ao sistema ao qual se acha agregado.
       Ainda falando sobre o Brasil e a Alemanha nazista faria uma diferenciação:
“Temos aqui, sim, uma democracia autoritária, mas não a ditadura de um homem sobre o
Estado e a Nação [...]” (Chateaubriand, 1999b, p. 967). Utilizando-se de argumentação
sutil, estabelecia e legitimava a ação getulista a partir da seguinte argumentação: na
Alemanha havia o “predomínio da raça nórdica” a dar sustentação ao nazismo que
defendia a “pureza imaculada do arianismo”. Quanto ao autoritarismo brasileiro estaria
embasado exatamente em situação contrária, a de miscigenação, o que, paradoxalmente, os
aproximaria pela dimensão suprema do poder lá e cá. Seria exatamente aí que, no Brasil, o
autoritarismo se fincaria: a defesa dessa compactada e pura miscigenação, sua
continuidade, seria missão do poder instalado: “Aqui, o poder estatal é uma armadura
política que se destina à organização do povo e à sua disciplina” (Chateaubriand, 1999b, p.
966). Assim estaria justificada a presença do ditador e de um pretendido partido único. Na
Alemanha era preciso preservar a pureza de uma suposta raça superior; aqui era necessário
unificar, no amalgamado puro das etnias, toda a sociedade.


       [...] O que tínhamos no Brasil era o tipo do Estado neutro. [...] o Brasil deve agora
       passar, de um Estado neutro para o totalitário, a fim de se conservar amanhã apenas
       autoritário. No instante em que se segue ao golpe de Estado este e a sociedade
       deverão se confundir numa só entidade. [...] Mas o objetivo do Estado, em um
       futuro imediato, está escrito. Ele restituirá às iniciativas privadas, uma vez
       organizadas, a sua iniciativa criadora, de modo que voltem a funcionar livremente
       os seus órgãos, dentro dos novos limites que lhes forem traçados. É uma
       concentração hoje para uma descentralização amanhã (Chateaubriand, 1999b, p.
       983).
12



       A pregação em torno do “Estado neutro” assegurava a formulação da proposta do
“Estado integral”. Em ambos os casos ficava a sociedade a reboque, justificando-se o
poder das elites que voltariam a ter espaço e participação a tempo devido no Estado
totalitário/autoritário, garantindo-se “a ordem econômica, a ordem moral, a ordem política
e a ordem espiritual da Nação” (Chateaubriand, 1999b, p. 985). Novamente recorrendo ao
ideário de Hitler, lembrava: “O Estado dos nossos dias, afirma o Fuhrer, não existe porque
nós lhe damos leis, senão porque as nossas leis encontram a sua sanção no coração do
povo (Adolf Hitler, citado em Chateaubriand, 1999b, p. 989).
       Outros aspectos do seu conservadorismo podemos encontrá-los em artigo do dia
29 de setembro de 1937, intitulado “Atos novos e palavras antigas”, em que defendia a
necessidade de uma hegemonização à base de um Estado policialesco: “No quadro dos
interesses sociais, exclamava o Sr. Getúlio Vargas, o poder de polícia do Estado chega
atingir os interesses privados. E cravando a lança no coração do liberalismo, trucidava-o
com estas palavras: „A velha fórmula política dos direitos do homem parece estar
decadente‟” (Getúlio Vargas, citado em Chateaubriand, 1999b, p. 1028).
       Um dia antes do artigo acima, expressara novamente sua gemanofilia ao lembrar
que, ao tomar o poder, Hitler tivera como primeira preocupação implantar uma escola de
formação de quadros com base no “direito natural” de uma suposta elite a isso destinada
(Chateaubriand, 1999b, pp. 1025-1026).
       É verdade que Chatô chegara a ser preso algumas vezes em 1932 ao aliar-se ao
movimento que exigia o retorno à democracia (Morais, 1994, p. 287), mas isso não fora
suficiente para que deixasse de apoiar Getúlio em seus jornais, após as prisões. O
desenrolar da Segunda Guerra permitiu-lhe enfatizar suas convicções germanófilas mesmo
admitindo que os Aliados seriam vencedores. O artigo “Velho Canibal”, de 1º de maio de
1941, é típico quando registra o poderio do exército alemão, sua competência tática e sua
virtual invencibilidade. Todo o artigo é desenvolvido ao elencar de tais virtudes bélicas,
para apenas nas últimas linhas admitir que Hitler não tinha uma armada poderosa,
tampouco lograva dominar a aviação. Encerrando o texto, diz: “O oceano é o seu calcanhar
de Aquiles; é aí que o Reich acabará afogando os seus estupendos triunfos em terra. O mar
é um velho canibal telúrico” (Chateaubriand, 1999c, p. 281).
       Na sequência de textos relativos ao tema vamos encontrá-lo mais esquivo aos nazis
em 1944, quando, a 21 de março, denunciava plano daqueles para agregar simpatizantes no
Brasil. Chegou a falar na “praga nazista” que intentava se estabelecer aqui (Chateaubriand,
13



1999d, p. 272). O ano de 1944 registrava sua refluência elogiosa. Criticava a “Gestapo”,
enaltecia os “direitos do homem” e repudiava a “opressão política” como algo
“monstruoso”, para dizer: “Fascismo e nazismo degeneraram em opressão coletiva como a
humanidade só as conheceu na Idade Média” (Chateaubriand, 1999d, p. 1194).
       Em 1945, final da Guerra, os Estados Unidos eram elogiados e tidos como nação
amiga do Brasil (Chateaubriand, 2000, p. 437). Do início, até o final do recorte temporal
escolhido para este artigo, percebemos o articulador obstinado, com telos bastante incisivo:
tornar-se figura influente nas elites nacionais. E afinal, quando da derrocada de Getúlio,
deposto, assim a registrou no artigo “O triste fim de Policarpo Vargas”, datado de 1º de
novembro daquele ano, quando passaria a criticar o ex-ditador:


       As circunstâncias que cercam o ocaso do Sr. Getúlio Vargas oferecem a sensação
       do fenômeno da decrepitude de um homem, e que é um dos mais curiosos em que
       poderíamos meditar. [...] É o Sr. Getúlio Vargas mais um temperamento passivo do
       que ativo. Adora trabalhar por omissão (Chateaubriand, 2000, pp. 957-961).

       A ordem jurídica institucional é fraudada ao povo pelos chefes totalitários,
       justamente para lhe oferecer em troca ordem, tranqüilidade e justiça
       (Chateaubriand, 2000, p. 992).

       A essa época já estava estabelecido como magnata da comunicação. Dia 20 de
março de 1968, gravemente enfermo, hospitalizado, escreveu pequeno artigo
comemorando que, dali a três meses seria inaugurado em Natal, Rio Grande do Norte, o
Museu Regional de Natal. Após isso, disse: “Não vou escrever nem ditar mais nada.
Acabou” (Morais, 1994, p. 639). Morreria dia 4 de abril daquele ano.


Considerações Finais


       Chateaubriand representou a quintessência do pensamento conservador de sua
época. Viu nos regimes autoritários a solução hegemônica para a manutenção e
perpetuação de status quo em que a sociedade teria em elites esclarecidas e autoritárias
taumaturgos a guiar as massas não-pensantes. A aparência dos fenômenos nazista e
fascista parecia confirmar tão concepção. Não seria uma coisa ou outra, mas um liberal
disposto a tirar partido de qualquer situação. Sua figura idiossincrática permitiu a
construção de um império com notável presença na formulação de uma certa consciência
14



política e imaginário nacionais, contribuindo para a cristalização das elites econômicas das
quais se tornara membro e porta-voz.


REFERÊNCIAS

Arendt, H. (2010). A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária.

Chateaubriand, A. (1994). (Epígrafe). In MORAIS, F. Chatô – O Rei do Brasil (p. 11). São
Paulo: Companhia das Letras.

______. (1998). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1930
(Vol.7). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand.

______. (1999a). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1936
(Vol.13). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand.

______. (1999b). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1937
(Vol.14). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand.

______. (1999c). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1941
(Vol. 18). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand. .

______. (1999d). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1944
(Vol. 21). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand. .

______. (2000). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1945 (Vol.
22). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand. .

FORTES, J. (2009). História dos Diários Associados. Recuperado em 21 dez, 2011, de
http://www.meionorte.com/josefortes/historia-dos-diarios-associados-102463.html.

Gramsci, A. (2001). Cadernos do Cárcere (Vol. 2, 2a ed.). Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2001.

Morais, F. (1994). Chatô – O Rei do Brasil (p. 11). São Paulo: Companhia das Letras.

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O protagonismo hegemônico de assis chateaubriand

  • 1. 1 Emanoel Francisco Pinto Barreto Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Brasil e.barreto@ufrnet.br G1-2 Historia de la Comunicación O protagonismo hegemônico de Assis Chateaubriand Resumo O artigo tem por finalidade analisar a presença histórica de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo como primeiro empresário brasileiro a constituir grupo jornalístico de dimensão nacional a partir de discurso hegemônico, que mesclava interesses pessoais a uma forte participação política e presença em eventos como a Revolução de 30, que levou ao poder Getúlio Vargas, populista e autoritário. Veremos como Chatô, como era chamado, adicionava a seu discurso favorável a um capitalismo nacional dependente, concepções de mundo advindas do hitlerismo e fascismo como forma de justificar domínio e direção das sociedades por elites conservadoras. Palavras-chave: Chateaubriand, jornalismo, poder, política Abstract This current work aims to express the Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo's contribution, as the first brazilian businessman, to develop a national journalistic group starting with hegemoniacal speech which mixed personal interests, huge political participation, and be present at the important events like the 1930 Revolution, which elected Getúlio Vargas, who was popular and authoritarian. He was called "Chatô" as a nickname and we'll see how he included in his pleasant speech, a dependent national capitalism, world's conceptions from Hitler and fascism as a way to justify the conservative elite's power and management. Keywords: Chateaubriand, journalism, power, politics O jornalismo é espaço privilegiado para representação e análise do real histórico. E isso em função de que tem a virtual possibilidade de apropriação dos fatos, dando-lhes a versão desejada pelo grupo que detém o controle do jornal. A intervenção jornalística no drama da história, pelo próprio fato de ser uma intervenção, é, ela mesma, parte da história da disputa pelo poder, o qual, conquistado e mantido, integra as condições impositivas, atributos e privilégios de quem o conquistou e o mantém, e assim fará a representação legitimada da vida social, a dramaturgia redacional daquilo que aconteceu no theatrum mundi. E isso sempre favorece as elites, que têm condições econômicas de assumir esse
  • 2. 2 controle, avocar a si o discurso memorial do que se passou e fazer desse discurso seu próprio apanágio e justificação hegemônica no contínuo ocorrer da história. Assim, parte da luta das elites é assegurar a naturalização desse fazer-ver-o-mundo segundo uma determinada forma, naturalizando o quadro instalado de uma determinada época como sendo o certo e o conveniente – a si e às demais classes, às quais têm o dever de dirigir e liderar. A partir de tais observações temos que o jornalismo é uma das maneiras desse exercício de poder e, em si, uma forma de justificá-lo, em processo meta-histórico. Para a consecução de tal realidade – um jornalismo interventivo, de eficácia editorial – exige-se a construção de empreendimentos de vulto, muitas vezes sistematizados em redes empresariais poderosas as quais, por sua vez, ao enunciar o discurso das elites, enunciam, dentro das elites, seu próprio discurso hegemônico perante a concorrência setorial. É o caso do jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, figura histórica fundadora do protagonismo comunicacional hegemônico no Brasil. Como poucos, Chateaubriand encarnou o processo de hegemonização dos interesses ideológicos do capital via jornalismo. A penetração de seus veículos de comunicação, com sua eficácia editorial, tinha força suficiente para influir junto às elites, classe média e ambientes populares, causando com isso a sensação de que estava ali a representação de uns e de outros, uma espécie de fiel da balança, um jornalismo de compromisso. Seu discurso modernizante dos meios de comunicação trouxe ao país a TV em setembro de 1950, consolidando seu império no setor. No auge, o conglomerado Diários Associados, designação do grupo jornalístico sob seu comando, reunia em todo o Brasil 36 jornais, 18 revistas, 36 rádios e 18 emissoras de televisão, além de bater recordes de tiragem com a revista O Cruzeiro (Fortes, 2009). A par disso, Chatô, como era conhecido, firmara a aura de defensor das artes, inaugurando o Museu de Arte Moderna de São Paulo-Masp em 1947, mediante incisivo trabalho de reunião de fundos junto à nata do capitalismo brasileiro. Jornalista, contribuiu decisivamente com um discurso centrado nos valores e prioridades históricas do capital, trabalhando pelo estabelecimento de um consenso passivo junto aos dominados, na circunscrição do quartel histórico em que teve atuação. Empresário, tinha interesses que iam do jornalismo à propriedade de terras, passando por investimentos na indústria farmacêutica. Esse ser bifronte, assim, tinha desenvoltura suficiente investir na política, tornar-se senador e embaixador do Brasil na Inglaterra, participando também da conspiração que levou à Revolução de 30. A presença de Chateaubriand, seu gesto
  • 3. 3 ideológico – germanófilo, anticomunista, alinhamento com os EUA segundo um capitalismo nacional dependente –, está inserida em período de grandes mudanças: urbanização nascente e crescente, primeiros esgares da industrialização e, não há como escusar, a presença hegemonista dos Diários Associados, sob sua direção. O trabalho que desenvolveu junto à superestrutura dá pista suficientemente forte para que seja visto como o primeiro grande mentor intelectual do jornalismo de rede no país, cujo trabalho rendia dividendos na formulação de um discurso hegemônico das elites e, em processo metadiscursivo, se afirmava perante o país – e concorrentes – como aquele que melhor representava tais interesses, cobrando por isso um alto preço. Constituiu-se, desta forma, em pregador e recipiendatário dos resultados daquilo que pregava. A análise a respeito do personagem em apreço será realizada a partir da obra basilar Chatô, o rei do Brasil, de Fernando Morais, e de pesquisa de textos de autoria do próprio Chateaubriand. Aí encontraremos o núcleo deste trabalho: o discurso hegemonista de Chateaubriand dentro do discurso hegemônico das elites nacionais, a quem impunha, com vigor incomum, o poderio do seu pronunciamento. Para análise, tomaremos como recorte histórico o início de sua vida profissional até o ano de 1945, período em que firmou os alicerces do seu império comunicacional. De índios, africanos e comunistas Um aspecto de relevo no estudo dos vultos, na biografia em seu sentido de captação do homem em seu tempo histórico, diz respeito não só ao relato sequenciado dos atos que perpetrou em seu roteiro impontual de vida; mais que isso, a biografia diz do sujeito em suas pulsões, projetos, feitos, quando se misturam sua historicidade e condição humana na unicidade do sujeito; o gesto/discurso do ator repercutindo no mundo e deste recebendo o ato responsivo. É dentro de tal enquadramento que faremos, nos limites deste artigo, o registro do perfil ora proposto. Complexo, carismático, Chatô tinha, para uso perlocutório, autopromocional, uma espécie de autodefinição, onde, com inescondível boutade, se apresentava: André Malraux alimentava a ilusão de escrever a biografia de Chiquinho Matarazzo, mas eu consegui demovê-lo dessa rematada besteira. Acho que, como vingança, tentou escrever um livro sobre a minha vida, mas acabou desistindo. Depois foi a vez do padre Dutra, que cercava parentes meus pelas esquinas, em
  • 4. 4 busca de informações para compor um livro sobre a minha vida. Quem também andou bisbilhotando as minhas misérias, com planos de imortalizar-me no papel, foi a princesa Bibescu, da Romênia, editora e escritora. Os três fracassaram, mas a todos eu havia feito uma modesta exigência: a obra teria de começar descrevendo a cena em que eu e minha filha Teresa apareceríamos nus, sentados na foz do rio Cururipe, comendo bispos portugueses, tal como fizeram meus ancestrais caetés, quatro séculos atrás. O deslumbrante piquenique, que já povoou alguns delírios meus, seria a forma ideal de divulgar a origem do meu sangue ameríndio na Europa (Chateaubriand, 1994, p.11). À assertiva que supostamente o apresentava como descendente de ameríndios contrapunha outro aspecto do seu discurso, esse sim, essencial, cerne ideológico de sua historicidade: quando acusado por adversários de negligenciar seus afazeres como embaixador do Brasil na Inglaterra, passando a maior parte do tempo à frente de seus negócios no Brasil, respondia: “Isso é coisa de comunistas, de índios botocudos. Gentinha atrasada, esses jornalistas brasileiros. Pensam como africanos...” (Morais, 1994, p. 17). Originário da Paraíba, município de Umbuzeiro, região Nordeste do Brasil, nasceu a 4 de outubro de 1892; era raquítico e gago; aos nove anos não lia nem escrevia (Morais, 1994, p. 30). Essas limitações, superadas a tempo, permitiram o crescimento de Assis Chateaubriand em sua construção íntima, coadunada com o pensamento liberal. Ante isto, vale ressaltar que se o homem/sujeito é de alguma forma assujeitado à sua identidade e a seu tempo, e disto não tem como escapar, ele existe em situação idiossincrática na condição de ser único; interpreta e reinterpreta o mundo a partir de si e consigo, daí advindo aquilo que fará em gesto socialmente visível e segundo as suas possibilidades. O homem, assim, é condicionado a seu tempo e a si próprio, mas vive esse condicionamento de maneira bastante própria. Desta forma, se “a pluralidade é a condição da ação humana porque somos todos iguais, isto é, humanos, de um modo tal que ninguém jamais é igual a qualquer outro que viveu, vive ou viverá (Arendt, 2011, pp. 9-10), foi assim que Chateaubriand, experienciando seu tempo, marcou-o com tipicidade única, individuada, tirando proveito do comportamento da época quando “a moda na imprensa brasileira na virada do século não era a notícia, mas a polêmica” (Morais, 1994, p. 60). O polemista tornou-se advogado, sagrou-se professor de Direito, nunca assumiu a cadeira e em 1917 chega ao Rio de Janeiro para dedicar-se inteiramente ao jornalismo. Antes, fora advogado da poderosa família Lundgren, estado de Pernambuco, em difícil disputa. Numa assertiva demonstrou seu intento de vida e seus métodos: ao recusar-se a receber pagamento da causa vitoriosa, justificou-se assim: “Prefiro tê-los eternamente
  • 5. 5 como meus devedores. Melhor do que ter o dinheiro dos Lundgren é ter os próprios Lundgren para sempre dentro do meu embornal (Morais, 1994, p. 94). Estava aí configurado o ator social em sua essência anímica: Chatô, em seu relacionamento com a burguesia, ao mesmo tempo em que a defendia tinha com ela uma relação cínica, debochada, ajustando o discurso do poder ao seu talante de intelectual orgânico daquilo que, apoiando, depreciava; e, depreciando, daquilo mesmo se servia. Ciente da participação no jogo burguês justificou assim o pedido de aval a um amigo, o engenheiro Eugênio Gudin, para a compra de um carro, algo tido em 1917 como consumo suntuário: – Seu Gudin, eu só advogo para ganhar dinheiro e comprar um jornal. Acha que andando de bonde e fazendo a vida de classe média inspiro confiança aos acionistas da futura gazeta? O carro próprio é hoje o melhor indício de prosperidade. O importante não é ter dinheiro, mas transmitir a ilusão de que ele não anda longe de mim. [...] As sociedades vivem de mitos. Quero que a burguesia alimente o mito da minha petulante fortuna, porque é dessa burguesia que precisarei, muito em breve (Morais, 1994, p. 97). Seu acesso à burguesia se dava, ao que se percebe, por confluência ideológica e interesse pessoal. Assim, empilhava o discurso da ordem ao seu corolário idiossincrático. A essa mescla incluía participação junto à intelectualidade brasileira, chegando a ser convidado a participar da Semana de Arte Moderna de em fevereiro de 1922, em São Paulo. [...] Graça Aranha [escritor] deu-lhe o privilégio de ler, em primeira mão, a “bomba” que preparara para a semana paulista: a conferência intitulada “A emoção estética na arte moderna” [...] Ao final da leitura, Chateaubriand livrou-se do maço de papéis [...] Partiu para cima do autor, a quem tratava pelo prenome, de dedo em riste: – Zé Pereira! Vocês enlouqueceram. Isto não é arte, não é literatura: é anticapitalismo puro. [...] Não quero desagradar o capitalismo. É com ele que estou metido [...] (Morais, 1994, pp. 127-128). A atitude de Chateaubriand se inseria no que preconiza Gramsci quando diz que o empresário “deve ser um organizador da massa de homens, deve ser um organizador „de confiança‟ dos que investem em sua empresa, dos compradores de sua mercadoria” (Gramsci, 2001, p. 15). Ganhando a confiança do capitalismo a construção do império jornalístico de Chateaubriand começou aos 32 anos de idade, quando, na manhã do dia 30 de outubro de 1924 assumia, como dono, a direção de O Jornal, adquirido com o apoio exatamente das “classes conservadoras”, a fim de que pudesse paradoxalmente defender os
  • 6. 6 “grandes interesses nacionais”, conjugando tal paradoxo ao fato de ser favorável a um capitalismo dependente, o que de alguma forma se opõe ao nacionalismo (Morais, 1994, pp. 138-140). O Cruzeiro, Getúlio e a Revolução de 30 A 10 de dezembro de 1928 lançou, com grande campanha publicitária, um dos maiores marcos do seu futuro poderio: começava a circular, com tiragem de 50 mil exemplares, rodada em Buenos Aires, a revista Cruzeiro, depois O Cruzeiro, o que muito agradou ao futuro ditador Getúlio Vargas, então governador do Rio Grande do Sul. Assessorado pelo americano Fitz Gibbon, cuja expertise importara do matutino The New York American, Chateaubriand dele ouviu: a publicação seria o “mais moderno processo americano de infiltração na consciência dos consumidores” (Morais, 1994, p. 187). Dois anos depois apoiou à chamada Revolução de 30, que levaria ao poder Getúlio Vargas, a 24 de outubro daquele ano. Sinergizando seus dotes de intelectual orgânico e empresário de comunicação aos pressupostos da Revolução conseguiu a oportuna conciliação, em seus artigos, entre o nacionalismo getulista e seu pragmatismo do capitalista emergente: Getúlio queria “redimir o país da servidão econômica e financeira”. Chatô, prestigiado e próximo ao presidente, não iria perder a oportunidade. Em artigo onde esquecia que o nacionalismo não fazia parte do seu corolário de crenças políticas, disse: “Usemos de preferência roupas de algodão. [...] Eliminemos os ternos brancos de linho. [...] O Brasil produz artigos finos de algodão. [...] Que todos os brasileiros não mandem fazer mais roupas senão de pano brasileiro [...] (Morais, 1994, p. 255). Sob o título “Juízes da Revolução”, artigo publicado dia 4 de novembro daquele ano permitia a Chatô afirmar sua lealdade ao movimento getulista: “Nada queremos para nós. Não aceitamos cargos públicos, pela própria índole do mandato que já exercemos, da opinião. A única posição que nos seduz na República nova é a de juízes desapaixonados dos atos daqueles que vão dirigi-la” (Chateaubriand, 1998, p. 617). O pronunciamento traz, junto à denotação político-ideológica, a conotação do jornalismo como missão, o jornalista como ator desinteressado, apenas registrador objetivo da história. Mais que isso, o jornalista como presuntivo representante do povo pelo mandato virtual que lhe teria sido outorgado via opinião pública. Mesmo assumindo que o país se encontrava sob estado de exceção, exaltava: “O ditador que se controla, que põe pesos ao próprio arbítrio, realiza um
  • 7. 7 ato de sabedoria, como de prudência” (Chateaubriand, 1998, p. 656). Afirmava no mesmo texto que a nação havia sido “brindada” pelo “governo revolucionário” com um “esboço de Constituição”, para em seguida praticar culto à personalidade: “Com o Sr. Getúlio Vargas dir-se-ia que é o guarda-noturno do regime. O vigilante noturno é um servidor da ordem, querido em todo o bairro, porque ele implanta o respeito à lei, afugenta os malfeitores, espalha a segurança e a paz, sem que ninguém se aperceba da sua autoridade.” Sem que fosse a intenção, expunha todos os efeitos ideológicos do sistema de poder, uma vez que é próprio da ideologia ocultar-se como fenômeno imposto em surdina. No artigo “Um monstro” invertia por completo a acepção do termo ao colocar o ditador na condição de um ser grandioso. Datado do dia 18 de novembro de 1930, o texto afirmava que, na companhia do ditador, na “sua intimidade, o que respiramos é um ar azul, todo feito de amabilidades burguesas, de claridades geométricas, de razão harmoniosa e de salubridade moral. [...] Maquiavel é pinto para o Sr. Getúlio Vargas” (Chateaubriand, 1998, p. 665). Trinta dias após a vitória do golpe, que vicejara ante a falência das oligarquias da chamada República Velha, Chateaubriand fora a São Paulo para “ver uma imponente parada de trabalhadores [...]. [...] as massas obreiras cantavam [...] possuídas de entusiasmo [...]. Os líderes militares eram objeto de verdadeira ovação das associações trabalhistas representadas naquele desfile”, segundo registrou no artigo “Uma impressão de São Paulo” (Chateaubriand, 1998, p. 681). A chamada Revolução assumia assim ares de benemerência das elites, uma espécie de favor ou caridade histórica ante um povo de descamisados, agrupamento de incapazes sem luz própria. No mesmo artigo, porém, admitia que presos políticos, ligado ao velho regime, encontravam-se incomunicáveis sem que soubessem de que crimes eram acusados. O avanço conservador arrimava-se até na surrada visão de ser o brasileiro um povo cordial, dado ao descanso, avesso ao trabalho, justificando-se assim o movimento de 1930, visão que pode ser encontrada no texto “Providências Necessárias”, onde está dito que o licenciamento e possível demissão de muitos funcionários da Biblioteca da Câmara dos Deputados representaria justa retribuição de pecados sociais praticados por funcionários apresentados na condição de “malandros” (Chateaubriand, 1998, p. 785). Declarações do ditador foram apresentadas na íntegra por Chateaubriand dia 17 de dezembro: – Certo, o regime de economias a que estamos submetendo os orçamentos e na maior parte sem prejudicar a eficiência administrativa, choca o sentimentalismo brasileiro. Alegam-se que há famílias ao desamparo porque os seus chefes foram
  • 8. 8 dispensados pelo governo. [...] Há muitas probabilidades de trabalhos fora dos quadros do funcionalismo e, agora mais do que nunca, pois para tutelar a economia brasileira vamos imprimir um surto considerável à produção nacional, quer no campo das atividades agrárias, quer no terreno das indústrias economicamente viáveis do País (Chateaubriand, 1998, p. 767). Com a assertiva o ditador deixava à mostra visão de ser o brasileiro povo adocicado, transformando a questão social em caso de folhetim, sugerindo que o Estado abria perspectivas novas, devendo todos se ajustar aos tempos. Distante, encarcerado na Itália, temos a visão gramsciana a respeito do golpe de 30: na América do Sul a base industrial era restrita e inexistiam superestruturas complexas, predominando assim duas categorias de intelectuais tradicionais: “o clero e uma casta militar”, que haviam apoiado o movimento de Getúlio (Gramsci, 1999, p. 31). Adiantando-nos no tempo vamos reencontrar Chatô dia 3 de novembro de 1936, quando, ao analisar a guerra civil espanhola, elogia o ditador português Oliveira Salazar, favorável à queda do governo legal da Segunda República Espanhola. Alardeava o “perigo comunista” advertindo que “Portugal seria cego ou estúpido se olhasse com indiferença a vizinhança de um país sovietizado” (Chateaubriand, 1999a, p. 847). Seu pensamento reunia estranho entendimento: no mesmo artigo, a par de apoiar a ditadura no Brasil e o golpe na Espanha, criticava a resistência espanhola ao golpe: “Se os rebeldes vencessem, o mundo iria assistir ao espetáculo do extermínio da liberdade.” A defesa do partido único, a inspiração em Hitler Sua compreensão da marcha histórica era assim expressa: Tem o Brasil duas mentalidades opostas. A mentalidade tupi, que é a mentalidade do ameríndio, e a mentalidade transatlântica, que é a projeção do espírito debruçado sobre o mundo [...]. O índio, como os tipos inferiores, mostra a inatividade da faculdade de reflexão. Ele só pensa no presente. Só se ocupa das coisas e dos pequenos detalhes da hora que passa. [Não tem capacidade de] decompor fatos gerais complexos, desenvolver ideias abstratas para deles tirar verdades, explicar causas e consequências. [...] Desgraçadamente, é com o índio, com um modelo subalterno e degradado de vida social, que se quer padronizar a civilização brasileira (Chateaubriand, 1999a, pp. 850-851).
  • 9. 9 Apesar do racismo manifesto, postou-se contra atitude do Partido Integralista que, a exemplo do Partido Nazista, desenvolvia aqui ação antissemita. De forma implausível encontraria na nossa miscigenação as bases para contrariar a pregação integralista, não sem antes contemporizar, conciliando o nazismo e a grandeza de sua obra, em artigo sob o título “O Brasil para a humanidade”, dia 26 de abril de 1936: Não temos porque imitar a Alemanha do Sr. Hitler na guerra contra os judeus, até porque a Alemanha possui, na sua ciência, na sua história, na sua indústria, na sua poesia, na sua arte, coisas muito mais belas, muito mais nobres do que esse grotesco e subalterno aspecto da obra nazista. Fez o nacional-socialismo coisas prodigiosas pelo ressurgimento da Alemanha; na sua vigorosa pousée para a renascença imperial, só encontramos essa mácula, esse ponto obscuro, empanando o brilho do disco solar da ascensão germânica” (Chateaubriand, 1999a, p. 327). Ao tempo em que na Europa vicejavam os partidos nazista e fascista, o governo de Getúlio apresentava esgares favoráveis ao partido único no Brasil, àqueles de alguma forma assemelhado. Chateaubriand saiu em defesa da ideia. Corria o ano de 1937. Getúlio instalara o Estado Novo a 10 de novembro, a pretexto de impedir suposto levante comunista. Dia 23, o jornalista diria em seus jornais: Enunciou hoje o Sr. Agamemnon Magalhães uma verdade que desde vários dias repito neste pedaço de coluna. No Estado, que o golpe de 10 de novembro suspendeu, só existe uma ideologia. [...] Tal como Hitler consumou na Alemanha, Getúlio Vargas, na plenitude do seu poder de comando, golpeou de morte todos os resíduos autonomistas provincianos [criando um Estado unitário em lugar da Federação] (Chateaubriand, 1999b, pp. 929-930). Afirmaria no mesmo texto que a criação do Partido Nacional seria condição basilar para a efetividade da convivência política. Defenderia, em novembro daquele ano, o colonialismo na África e o “aproveitamento” daquele continente pelos europeus, advertindo que o Brasil, como exportador de matéria-prima, teria ali sólido concorrente e deveria ter pressa (Chateaubriand, 1999b, pp. 933-934). Novamente tocaria na tese do partido único em novembro, dizendo que “entre a nação e o Estado só deve existir de hoje por diante o Partido Nacional, depositário exclusivo e impessoal do ideal e da ordem de Novembro [...] (Chateaubriand, 1999b, p. 946). Voltaria sua inspiração outra vez ao nazi- fascismo dia 1º de dezembro:
  • 10. 10 Na Itália, ao Partido Fascista apenas é quem a lei concede o direito de existência. Un organo dello Stato, chama-o a lei. [...] Na Alemanha, desde julho de 1934, foi interdito o funcionamento de outro partido qualquer fora do nacional-socialista. [...] Em Portugal, a União Nacional é outrossim o partido único [...]” (Chateaubriand, 1999b, p. 951). Chateaubriand, pela via inversa, defendia a ideia de partido dos comunistas a quem tanto combatia, criticava o Estado liberal e partia em defesa das elites que elaboravam o ideário do monismo partidário lembrando que estas seriam “dementes” se admitissem deixar de pé “partidos obsoletos” (Chateaubriand, 1999b, p. 950). O partido único, defendia, será assemelhado a um exército, sem que ali houvesse militantes, mas milicianos. Em elaborado discurso ideológico fazia a inversão do real em função de que as aparências pareciam confirmar aquilo que era dito. Assim, justificando a implantação do Estado Novo como ordem favorável ao povo, afirmava que as elites haviam “contrariado abertamente dezenas de milhares de interesses privados” (Chateaubriand, 1999b, p. 959). Tanto que, no artigo intitulado “A alegria do dever cumprido”, de 5 de dezembro, elogiava o Partido Integralista, de essência fascista, que entrava em processo de autodissolução tática para agregar-se ao getulismo: “A maior força, na política, não consiste em alcançar o poder, mas sim, resignados, o vermos exercido por quem é capaz de realizar as nossas mais caras ideias e esperanças [...]” (Chateaubriand, 1999b, p. 964). Os nórdicos e a miscigenação pura Chateaubriand continuaria a defender o partido único, de minoria, cujos membros, selecionados, militantes, funcionaram como seus intelectuais orgânicos. Os grandes intelectuais formulariam a essência de um Estado plenipotenciário e os demais militantes se encarregariam de fazer a difusão de tal ideário. Para ele, Vargas e o partido único tinham um “sentido de missão” “educativo e reeducativo do povo, para fazê-lo aceitar e identificar-se com as grandes reformas do regime” (Chateaubriand, 1999b, p. 971). A proposta de ensinar o povo a pensar tinha como paradigmas o Partido Nacional Socialista alemão, o Partido Fascista italiano e a União Nacional, portuguesa. Dizia que a nenhum brasileiro assistiria o direito de filiar-se a um partido que não aquele em fase de preconização. E afirmava: “O Sr. Goebels formulou com uma clarividência solar a tese de minoria partidária, da minoria militante, dentro do vasto organismo da democracia autoritária (Chateaubriand, 1999b, p. 973). Coroando seu pronunciamento, ensinava: “[...]
  • 11. 11 adianta Hitler: „Todos os alemães ideologicamente precisam receber uma educação nacional-socialista. E os melhores nacionais-socialistas é que deverão ser os filiados do partido, como os melhores partidários é que deverão assumir a direção do Estado‟” (Chateaubriand, 1999b, p. 974). A ação de Assis Chateaubriand, perfilhada ao ditador Vargas, conseguia criar condições para que levasse adiante seus propósitos pessoais: o de tornar-se proprietário de uma grande cadeia de comunicação, inscrita num sistema autoritário. As filigranas desse método as vamos encontrar no fato de que, defendendo o Estado autoritário, seria possível sim chegar a tais objetivos: ele funcionaria como intelectual orgânico e teria assim ampla margem de manobra, uma vez que é próprio do intelectual orgânico a crítica ao sistema ao qual se acha agregado. Ainda falando sobre o Brasil e a Alemanha nazista faria uma diferenciação: “Temos aqui, sim, uma democracia autoritária, mas não a ditadura de um homem sobre o Estado e a Nação [...]” (Chateaubriand, 1999b, p. 967). Utilizando-se de argumentação sutil, estabelecia e legitimava a ação getulista a partir da seguinte argumentação: na Alemanha havia o “predomínio da raça nórdica” a dar sustentação ao nazismo que defendia a “pureza imaculada do arianismo”. Quanto ao autoritarismo brasileiro estaria embasado exatamente em situação contrária, a de miscigenação, o que, paradoxalmente, os aproximaria pela dimensão suprema do poder lá e cá. Seria exatamente aí que, no Brasil, o autoritarismo se fincaria: a defesa dessa compactada e pura miscigenação, sua continuidade, seria missão do poder instalado: “Aqui, o poder estatal é uma armadura política que se destina à organização do povo e à sua disciplina” (Chateaubriand, 1999b, p. 966). Assim estaria justificada a presença do ditador e de um pretendido partido único. Na Alemanha era preciso preservar a pureza de uma suposta raça superior; aqui era necessário unificar, no amalgamado puro das etnias, toda a sociedade. [...] O que tínhamos no Brasil era o tipo do Estado neutro. [...] o Brasil deve agora passar, de um Estado neutro para o totalitário, a fim de se conservar amanhã apenas autoritário. No instante em que se segue ao golpe de Estado este e a sociedade deverão se confundir numa só entidade. [...] Mas o objetivo do Estado, em um futuro imediato, está escrito. Ele restituirá às iniciativas privadas, uma vez organizadas, a sua iniciativa criadora, de modo que voltem a funcionar livremente os seus órgãos, dentro dos novos limites que lhes forem traçados. É uma concentração hoje para uma descentralização amanhã (Chateaubriand, 1999b, p. 983).
  • 12. 12 A pregação em torno do “Estado neutro” assegurava a formulação da proposta do “Estado integral”. Em ambos os casos ficava a sociedade a reboque, justificando-se o poder das elites que voltariam a ter espaço e participação a tempo devido no Estado totalitário/autoritário, garantindo-se “a ordem econômica, a ordem moral, a ordem política e a ordem espiritual da Nação” (Chateaubriand, 1999b, p. 985). Novamente recorrendo ao ideário de Hitler, lembrava: “O Estado dos nossos dias, afirma o Fuhrer, não existe porque nós lhe damos leis, senão porque as nossas leis encontram a sua sanção no coração do povo (Adolf Hitler, citado em Chateaubriand, 1999b, p. 989). Outros aspectos do seu conservadorismo podemos encontrá-los em artigo do dia 29 de setembro de 1937, intitulado “Atos novos e palavras antigas”, em que defendia a necessidade de uma hegemonização à base de um Estado policialesco: “No quadro dos interesses sociais, exclamava o Sr. Getúlio Vargas, o poder de polícia do Estado chega atingir os interesses privados. E cravando a lança no coração do liberalismo, trucidava-o com estas palavras: „A velha fórmula política dos direitos do homem parece estar decadente‟” (Getúlio Vargas, citado em Chateaubriand, 1999b, p. 1028). Um dia antes do artigo acima, expressara novamente sua gemanofilia ao lembrar que, ao tomar o poder, Hitler tivera como primeira preocupação implantar uma escola de formação de quadros com base no “direito natural” de uma suposta elite a isso destinada (Chateaubriand, 1999b, pp. 1025-1026). É verdade que Chatô chegara a ser preso algumas vezes em 1932 ao aliar-se ao movimento que exigia o retorno à democracia (Morais, 1994, p. 287), mas isso não fora suficiente para que deixasse de apoiar Getúlio em seus jornais, após as prisões. O desenrolar da Segunda Guerra permitiu-lhe enfatizar suas convicções germanófilas mesmo admitindo que os Aliados seriam vencedores. O artigo “Velho Canibal”, de 1º de maio de 1941, é típico quando registra o poderio do exército alemão, sua competência tática e sua virtual invencibilidade. Todo o artigo é desenvolvido ao elencar de tais virtudes bélicas, para apenas nas últimas linhas admitir que Hitler não tinha uma armada poderosa, tampouco lograva dominar a aviação. Encerrando o texto, diz: “O oceano é o seu calcanhar de Aquiles; é aí que o Reich acabará afogando os seus estupendos triunfos em terra. O mar é um velho canibal telúrico” (Chateaubriand, 1999c, p. 281). Na sequência de textos relativos ao tema vamos encontrá-lo mais esquivo aos nazis em 1944, quando, a 21 de março, denunciava plano daqueles para agregar simpatizantes no Brasil. Chegou a falar na “praga nazista” que intentava se estabelecer aqui (Chateaubriand,
  • 13. 13 1999d, p. 272). O ano de 1944 registrava sua refluência elogiosa. Criticava a “Gestapo”, enaltecia os “direitos do homem” e repudiava a “opressão política” como algo “monstruoso”, para dizer: “Fascismo e nazismo degeneraram em opressão coletiva como a humanidade só as conheceu na Idade Média” (Chateaubriand, 1999d, p. 1194). Em 1945, final da Guerra, os Estados Unidos eram elogiados e tidos como nação amiga do Brasil (Chateaubriand, 2000, p. 437). Do início, até o final do recorte temporal escolhido para este artigo, percebemos o articulador obstinado, com telos bastante incisivo: tornar-se figura influente nas elites nacionais. E afinal, quando da derrocada de Getúlio, deposto, assim a registrou no artigo “O triste fim de Policarpo Vargas”, datado de 1º de novembro daquele ano, quando passaria a criticar o ex-ditador: As circunstâncias que cercam o ocaso do Sr. Getúlio Vargas oferecem a sensação do fenômeno da decrepitude de um homem, e que é um dos mais curiosos em que poderíamos meditar. [...] É o Sr. Getúlio Vargas mais um temperamento passivo do que ativo. Adora trabalhar por omissão (Chateaubriand, 2000, pp. 957-961). A ordem jurídica institucional é fraudada ao povo pelos chefes totalitários, justamente para lhe oferecer em troca ordem, tranqüilidade e justiça (Chateaubriand, 2000, p. 992). A essa época já estava estabelecido como magnata da comunicação. Dia 20 de março de 1968, gravemente enfermo, hospitalizado, escreveu pequeno artigo comemorando que, dali a três meses seria inaugurado em Natal, Rio Grande do Norte, o Museu Regional de Natal. Após isso, disse: “Não vou escrever nem ditar mais nada. Acabou” (Morais, 1994, p. 639). Morreria dia 4 de abril daquele ano. Considerações Finais Chateaubriand representou a quintessência do pensamento conservador de sua época. Viu nos regimes autoritários a solução hegemônica para a manutenção e perpetuação de status quo em que a sociedade teria em elites esclarecidas e autoritárias taumaturgos a guiar as massas não-pensantes. A aparência dos fenômenos nazista e fascista parecia confirmar tão concepção. Não seria uma coisa ou outra, mas um liberal disposto a tirar partido de qualquer situação. Sua figura idiossincrática permitiu a construção de um império com notável presença na formulação de uma certa consciência
  • 14. 14 política e imaginário nacionais, contribuindo para a cristalização das elites econômicas das quais se tornara membro e porta-voz. REFERÊNCIAS Arendt, H. (2010). A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária. Chateaubriand, A. (1994). (Epígrafe). In MORAIS, F. Chatô – O Rei do Brasil (p. 11). São Paulo: Companhia das Letras. ______. (1998). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1930 (Vol.7). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand. ______. (1999a). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1936 (Vol.13). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand. ______. (1999b). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1937 (Vol.14). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand. ______. (1999c). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1941 (Vol. 18). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand. . ______. (1999d). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1944 (Vol. 21). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand. . ______. (2000). O pensamento de Assis Chateaubriand: artigos publicados em 1945 (Vol. 22). Brasília: Fundação Assis Chateaubriand. . FORTES, J. (2009). História dos Diários Associados. Recuperado em 21 dez, 2011, de http://www.meionorte.com/josefortes/historia-dos-diarios-associados-102463.html. Gramsci, A. (2001). Cadernos do Cárcere (Vol. 2, 2a ed.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. Morais, F. (1994). Chatô – O Rei do Brasil (p. 11). São Paulo: Companhia das Letras.