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2010 03 11-anteprojeto de lei política estadual de combate à desertificação
1. SISTEMATIZAÇÃO DA PROPOSTA DA POLÍTICA
PROJETO DE LEI Nº ........../2009
Institui a Política Estadual de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos
da Seca e dá outras providências.
A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE PERNAMBUCO decreta:
CAPÍTULO I
DA POLÍTICA ESTADUAL DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E
MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA
Art. 1º - Este Projeto de Lei institui a Política Estadual de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca.
Parágrafo único. Para os fins do disposto neste Projeto de Lei, entende-se por:
I – desertificação: a degradação da terra nas zonas áridas, semiáridas, sub-úmidas e
secas resultantes de vários fatores incluindo as variações climáticas e as atividades
humanas;
II – degradação da terra: a degradação dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação
e a redução da qualidade de vida das populações afetadas;
III – combate à desertificação: atividades que fazem parte do aproveitamento integrado
da terra nas zonas áridas, semiáridas e sub-úmidas secas com vistas ao seu
desenvolvimento sustentável e que tem por objetivo a prevenção e/ou redução da
degradação das terras, a reabilitação de terras parcialmente degradadas e a
recuperação de terras degradadas;
IV – áreas susceptíveis à desertificação (ASD): espaços climaticamente caracterizados
como semiáridos e sub-úmidos secos onde as características ambientais sugerem a
ocorrência de processos de degradação tendentes a transformá-las em áreas também
sujeitas à desertificação, caso não sejam ali adotadas medidas de preservação e
conservação ambiental;
2. V – seca: fenômeno que ocorre naturalmente quando a precipitação registrada é
significativamente inferior aos valores normais, provocando sério desequilíbrio que
afeta de forma negativa a produtividade agrícola e os ecossistemas;
VI – mitigação dos efeitos da seca: atividades relacionadas com a previsão da seca e
dirigidas à redução da vulnerabilidade da sociedade e dos ecossistemas a esse
fenômeno, no que se refere ao combate à desertificação;
VII – degradação do solo: redução ou perda da produtividade biológica ou econômica
do solo devido aos sistemas de utilização da terra, das pastagens naturais, das
pastagens semeadas, das florestas, das matas nativas, das terras agrícolas irrigadas
ou a uma combinação de processos, tais como atividades antrópicas, erosão,
deterioração das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo e destruição da
vegetação, inclusive nas regiões de zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas;
VIII – convivência com o semiárido: relação entre o homem e seu habitat, que trabalha
na perspectiva do manejo sustentável dos recursos, através da capacidade de
aproveitamento dos potenciais naturais e culturais em atividades produtivas
apropriadas ao meio ambiente, inclusive do conhecimento tradicional e práticas
relacionados à forma de conhecer e intervir nessa realidade, visando melhorar as
condições de vida e permanência das famílias residentes no semiárido brasileiro;
IX - controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à
sociedade informações, representações técnicas e participação nos processos de
formulação de políticas, de planejamento e de avaliação relacionados ao combate e
prevenção à desertificação e à mitigação dos efeitos da seca;
X – desenvolvimento sustentável: é o desenvolvimento que visa atender as
necessidades da geração presente, sem comprometer as futuras gerações, tendo por
conteúdo a manutenção das bases vitais da produção e reprodução do homem e de
suas atividades, bem como da relação do homem com o meio ambiente, de forma a
assegurar a existência digna da pessoa humana; e,
XI - biodiversidade ou diversidade biológica: refere-se à variedade de vida no planeta
terra, incluindo a variedade genética dentro das populações e espécies, a variedade
de espécies da flora, da fauna e de microrganismos, a variedade de funções
ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; e a variedade de
comunidades, habitats e ecossistemas formados pelos organismos.
Seção I
Dos Princípios
Art. 2º - A Política Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da
Seca tem por objetivo garantir às populações locais condições de vida digna para
convivência com o semiárido, promovendo o desenvolvimento socioambiental
sustentável e a manutenção da integridade dos ecossistemas característicos desta
região, atendidos os seguintes princípios:
3. I – Democratização do acesso à terra, à água, à biodiversidade e à
agrobiodiversidade;
II – Preservação, conservação e recuperação da biodiversidade, da
agrobiodiversidade e do equilíbrio ecológico do semiárido pernambucano;
III – Superação da condição de pobreza e da vulnerabilidade das populações
situadas em áreas afetadas ou suscetíveis à desertificação;
IV – Participação das comunidades e controle social no planejamento,
desenvolvimento e gestão das ações voltadas ao combate à desertificação e
mitigação aos efeitos da seca;
V – Gestão participativa permanente e integrada dos recursos hídricos, visando
à sustentabilidade das bacias hidrográficas, que devem ser utilizadas como
unidades de planejamento de políticas públicas e projetos privados;
VI – Adoção de tecnologia e de novas fontes de energias renováveis, através
do apoio à pesquisa, desenvolvimento e disseminação, para a convivência com
o semiárido e o combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca;
VII – Socialização dos conhecimentos técnicos e incorporação dos
conhecimentos tradicionais locais nas ações voltadas à convivência com o
semiárido e ao combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca;
VIII – Promoção de atividades produtivas sustentáveis que assegurem a
qualidade de vida e convivência digna das populações rurais com o semiárido,
sendo-lhes garantidas as condições indispensáveis de infra-estrutura produtiva
e social;
IX – Correlação das discussões e ações de prevenção e combate à
desertificação e mitigação dos efeitos da seca com as de mudanças climáticas;
e,
X - Integração e articulação entre as políticas públicas governamentais
municipais, estaduais e federais e as iniciativas não-governamentais, dos
povos e comunidades tradicionais e da agricultura familiar, demais setores
produtivos, do empresariado e detentores de terra, visando otimizar a aplicação
dos recursos financeiros e o intercâmbio de conhecimentos e informações
sobre o combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca, a fim de
promover o desenvolvimento sustentável local.
Seção II
Dos Objetivos
Art. 3º - A Política Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da
Seca tem por objetivos:
4. I – Prevenir e combater o processo de desertificação e recuperar as áreas afetadas no
território do Estado de Pernambuco;
II – Proteger, monitorar e efetuar controle socioambiental dos recursos naturais das
áreas afetadas e susceptíveis à desertificação, através de mecanismos adaptados às
condições socioambientais da região;
III – Incentivar o desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas voltadas ao
desenvolvimento sustentável no semiárido pernambucano e à preservação e
conservação do Bioma Caatinga;
IV – Fomentar e apoiar práticas sustentáveis, como a agroecologia e o manejo
florestal sustentável de uso múltiplo, na agricultura familiar e demais arranjos
produtivos, garantindo a valorização dos recursos naturais nativos e a utilização
sustentável dos recursos naturais nativos e da agrobiodiversidade para a autonomia e
segurança alimentar e nutricional da população da região;
V - Estimular a manutenção e a recuperação das Áreas de Preservação
Permanente (APPs) e Áreas de Reserva Legal (RL), nos termos da Lei Federal
nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, que instituiu o Código Florestal,
promovendo a adequação ambiental das propriedades rurais;
VI – Criar e implantar novas Unidades de Conservação (UCs) de proteção
integral e de uso sustentável no Bioma Caatinga e elaborar e desenvolver os
seus planos de manejo participativo;
VII – Implementar e difundir a educação ambiental contextualizada nas
instituições de ensino e organizações e comunidades locais, a partir da
construção participativa de metodologias, instrumentos e materiais didáticos e
pedagógicos;
VIII – Capacitar e promover a formação continuada de professores, gestores
públicos e agentes comunitários, sobre a temática da desertificação e sobre a
promoção de tecnologias e práticas socioambientais de convivência com o
semiárido;
IX – Assegurar o fornecimento de assistência técnica e extensão
socioambiental contextualizada aos agricultores familiares, no intuito de
disseminar e fortalecer práticas sustentáveis no setor produtivo;
X - Democratizar e universalizar o acesso à terra, à água, à biodiversidade, à
agrobiodiversidade e às energias renováveis, para fins de utilização humana e
desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis;
XI – Garantir o gerenciamento racional e a sustentabilidade dos recursos
hídricos do semiárido pernambucano, de forma integrada com as ações de
prevenção e combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca, por
meio de novas tecnologias, práticas e ações sustentáveis, levando-se em
consideração os conhecimentos tradicionais das populações locais;
5. XII – Fortalecer as entidades sociais, conselhos, instituições e órgãos estaduais
responsáveis pela prevenção e combate à desertificação e mitigação dos
efeitos da seca e a convivência com o semiárido, fomentando a criação de
núcleos regionais descentralizados;
XIII – Fomentar e desenvolver a melhoria da eficiência energética com a
utilização sustentável de energias limpas e renováveis nos processos
produtivos e nos consumos comerciais, domiciliares e escolares no semiárido
pernambucano;
XIV - Estimular e fortalecer a agroindústria sustentável, observando-se os
limites e as peculiaridades dos ecossistemas locais;
XV – Diagnosticar e efetuar o zoneamento das áreas afetadas e susceptíveis à
desertificação, identificando suas potencialidades e fragilidades
socioambientais, de estrutura fundiária e de infraestrutura produtiva,
destacando-se áreas prioritárias para intervenção;
XVI – Garantir o acesso público e contínuo a informações sobre a prevenção e
o combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca e a convivência
socioambiental sustentável com o semiárido; e,
XVII – Estimular e incentivar a elaboração e a implantação de programas e
projetos voltados ao desenvolvimento socioambiental sustentável do semiárido
pernambucano no combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca.
Seção III
Dos Instrumentos
Art. 4º - São Instrumentos da Política Estadual de Combate à Desertificação e
Mitigação dos Efeitos da Seca:
I - Programa de Ação Estadual de Pernambuco para o Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAE-PE;
II – Fundo Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da
Seca;
III – Cadastro Estadual das Áreas Susceptíveis à Desertificação;
IV – Sistema Estadual de Informação sobre a prevenção e combate à
desertificação e mitigação dos efeitos da seca;
V – Diagnóstico e zoneamento das áreas susceptíveis e afetadas pela
desertificação;
VI – Monitoramento e Fiscalização socioambiental das Áreas Susceptíveis à
Desertificação;
6. VII – Subsídios e incentivos fiscais e financeiros para elaboração e implantação
de pesquisas, projetos e ações voltados ao combate à desertificação e
mitigação dos efeitos da seca e à convivência socioambiental sustentável com
o semiárido; e,
VIII - Incentivos fiscais e financeiros para a criação e implementação de
Unidades de Conservação voltadas à proteção do Bioma Caatinga.
Subseção I
Programa Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos da Seca
Art. 5º - O Programa Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos da Seca tem por objetivo implementar a Política Estadual de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca e desenvolver as ações de
convivência socioambiental sustentável com o semiárido pernambucano.
Parágrafo Único. A regulamentação do Programa Estadual de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca será estabelecida através de
norma estadual específica, que fixará regras e instruções necessárias à sua
implantação e ao seu funcionamento administrativo e operacional.
Art. 6º - O Programa Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da
Seca terá a sua execução coordenada pela Secretaria Estadual de Ciência,
Tecnologia e Meio Ambiente – SECTMA em articulação e integração com as demais
secretarias, órgãos públicos e organizações da sociedade civil.
Subseção II
Fundo Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos da Seca
Art. 7º - O Fundo Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos
Efeitos da Seca tem por objetivo assegurar os meios necessários ao
desenvolvimento e execução de programas, projetos e ações voltados ao
combate à desertificação e ao gerenciamento racional e sustentável dos
recursos naturais do semiárido pernambucano.
Parágrafo Único. A regulamentação do Fundo Estadual de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca será estabelecida através de
norma estadual específica, que fixará regras e instruções necessárias à sua
implantação e ao seu funcionamento administrativo e operacional.
• Art. 8º - A aplicação de recursos financeiros do Fundo Estadual de
Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca seguirá os
princípios, e buscará atender aos objetivos, desta Política Estadual, em
compatibilidade com o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes
Orçamentárias e com o Orçamento Anual do Estado de Pernambuco.
7. Subseção III
Cadastro Estadual das Áreas Susceptíveis à Desertificação
Art. 9º - Compete ao Poder Público Estadual estabelecer o Cadastro das Áreas
Susceptíveis à Desertificação, com o objetivo de identificá-las em todo território do
Estado de Pernambuco e registrar dados que subsidiem:
I – A realização do diagnóstico das áreas susceptíveis à desertificação; e,
II – A definição de ações de gerenciamento voltadas a coibir o desenvolvimento de
atividades que contribuam para a evolução do processo de desertificação.
Parágrafo único. A regulamentação do Cadastro Estadual das Áreas Susceptíveis à
Desertificação, definido em norma própria, deverá conter o prazo para conclusão dos
registros e a periodicidade de atualização do cadastro, prevendo os mecanismos que
garantam a sua publicidade.
Art. 10° - O Cadastro das Áreas Susceptíveis à Desertificação do Estado de
Pernambuco deverá conter, no mínimo, as seguintes informações:
I - Localização (coordenadas geográficas);
II – Dimensões da área identificada; e,
III – Indicadores socioambientais relativos ao grau de susceptibilidade e de ocorrência
de processos de desertificação.
Subseção IV
Sistema Estadual de Informação sobre o Combate e Prevenção à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca
Art. 11 - O Sistema Estadual de Informação sobre o Combate e Prevenção à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca é o instrumento informatizado
responsável pela organização, integração, compartilhamento e disponibilização de
informação ambiental, no âmbito estadual, acerca das ações públicas e privadas
relacionadas à desertificação e à mitigação dos efeitos da seca.
Parágrafo único. A regulamentação normativa pertinente estabelecerá os critérios e
procedimentos básicos necessários à implementação e à operação do Sistema
Estadual de Informação sobre o Combate e Prevenção à Desertificação e Mitigação
dos Efeitos da Seca.
8. Art. 12 - São princípios básicos para o funcionamento do Sistema Estadual de
Informação sobre o Combate e Prevenção à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da
Seca:
I - Descentralização da obtenção e produção de dados e informações;
II - Coordenação unificada do sistema;
III - Acesso público aos dados e informações ambientais; e,
IV - Linguagem acessível e de fácil compreensão;
Art. 13 - São objetivos do Sistema Estadual de Informação sobre o Combate e
Prevenção à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca:
I - Controlar e monitorar as ações do Poder Público que intervenham no semiárido
pernambucano;
II - Reunir, divulgar e atualizar permanentemente os dados e informações ambientais
sobre desertificação e mitigação dos efeitos da seca;
III - Atualizar permanentemente as informações sobre as Áreas Afetadas e
Susceptíveis à Desertificação; e,
IV - Fornecer subsídios e estrutura de divulgação para pesquisas, programas, projetos
e ações voltados ao Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca;
Subseção V
Diagnóstico e Zoneamento das Áreas Susceptíveis e Afetadas pela
Desertificação
Art. 14 - O Diagnóstico e Zoneamento das Áreas Susceptíveis e Afetadas pela
Desertificação consistem, respectivamente, no levantamento de informações
sobre as potencialidades e fragilidades socioambientais, de estrutura fundiária
e de infraestrutura produtiva do semiárido pernambucano e na divisão deste
território em zonas, de acordo com as especificidades diagnosticadas em cada
localidade, destacando-se áreas prioritárias para intervenção.
§ 1º O objetivo do Diagnóstico e Zoneamento das Áreas Susceptíveis e
Afetadas pela Desertificação é garantir o tratamento adequado a cada área,
assegurando que as ações de combate à desertificação e mitigação dos efeitos
da seca considerem as peculiaridades do semiárido pernambucano.
§ 2º Esse instrumento deverá ser desenvolvido em consonância com o
Zoneamento Ecológico-Econômico do Nordeste.
Subseção VI
9. Monitoramento e Fiscalização Ambiental das Áreas Susceptíveis à
Desertificação
Art. 15 - As atividades de monitoramento e fiscalização ambiental, no que se refere
ao combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca, visam à promoção do
desenvolvimento sustentável e manutenção do equilíbrio ecológico nas áreas
susceptíveis à desertificação, por meio de mecanismos próprios do poder de polícia.
§1º - O monitoramento e a fiscalização devem se orientar pelo princípio da
prevenção, objetivando coibir o início ou a evolução do processo de desertificação
nas áreas identificadas e de repreender práticas prejudiciais ao ecossistema do
semiárido.
§2º - A fiscalização e controle da aplicação das normas estabelecidas nesse Projeto
de Lei serão realizados pelos órgãos ambientais competentes integrantes do
SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente.
Subseção VII
Dos Instrumentos Econômicos e Financeiros
Art. 16 - Os instrumentos econômicos e financeiros da Política Estadual de
Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca quando destinados
a subsidiar e incentivar a elaboração e implantação de pesquisas, projetos e
ações voltados ao combate à desertificação, mitigação dos efeitos da seca e à
convivência com o semiárido, deverão considerar prioritárias as seguintes
áreas temáticas:
I - Monitoramento e controle ambiental do semiárido;
II - Recuperação de áreas afetadas pelo processo de desertificação;
III - Planejamento, implantação e gestão de Unidades de Conservação;
IV – Práticas produtivas sustentáveis; e,
V - Pesquisa e desenvolvimento de tecnologias apropriadas para a prevenção
e o combate à desertificação, mitigação dos efeitos da seca e convivência com
o semiárido pernambucano.
Parágrafo único. Regulamentação específica disporá sobre os instrumentos
econômicos e fiscais de que trata esta subseção.
CAPÍTULO II
DA COMPETÊNCIA
Art. 17 - Compete à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente –
SECTMA coordenar a execução da Política Estadual de Combate à Desertificação e
Mitigação dos Efeitos da Seca em articulação e integração com as demais secretarias,
órgãos públicos e organizações da sociedade civil.
10. Art. 18 - O monitoramento e o controle social desta Política Estadual, deverá se dar no
CONSEMA – Conselho Estadual de Meio Ambiente, assegurada a participação dos
diversos segmentos locais representativos da sociedade.
CAPÍTULO III
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 19 - As diretrizes da Política Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação
dos Efeitos da Seca deverão estar articuladas com as demais políticas públicas e
serem observadas em normas, planos, programas e projetos, destinados a orientar a
ação do Estado e Municípios no que se relaciona com a manutenção do equilíbrio
ecológico e preservação da qualidade socioambiental do semiárido pernambucano,
obedecidos os princípios estabelecidos neste Projeto de Lei.
Parágrafo único. As atividades empresariais, públicas ou privadas, serão exercidas
em consonância com as diretrizes da Política Estadual de Combate à Desertificação e
Mitigação dos Efeitos da Seca.
Art. 20 - Este Projeto de Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Sala das Sessões, ..... de junho de 2009.
JUSTIFICATIVA
O processo de desertificação consiste na “degradação da terra nas zonas
áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas resultantes de fatores diversos, tais
como as variações climáticas e as atividades humanas". A degradação da
terra, por sua vez, representa a "degradação dos solos e dos recursos hídricos;
a degradação da vegetação e da biodiversidade; e a redução da qualidade de
vida da população afetada", conforme conceituou a Agenda 21 Global,
resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio de Janeiro/1992).
Evidencia-se, pois, que a desertificação resulta de complexas causas que
articulam desde aspectos do meio físico-biológico aos de origem
socioeconômica, política e cultural, acarretando conseqüências sobre estas
diversas variáveis. Assim sendo, os problemas subjacentes à semi-aridez
também apresentam uma expressiva dimensão social.
11. Dessa forma, é possível afirmar que a qualidade de vida dos contingentes
populacionais da região do semiárido está diretamente relacionada com o processo de
desertificação. Os fatores naturais do clima que causam grandes períodos de seca e
ocasionam a desertificação, agravados por práticas prejudiciais ao ecossistema do
semiárido, provocam inúmeras reações sinérgicas, dentre as quais a inviabilidade de
práticas produtivas na região, o que, por sua vez, ocasiona a evasão de populações e
consequentemente a aglomeração desordenada nos centros urbanos.
Essa problemática ganha proporções alarmantes no semiárido brasileiro onde
ocorre a desertificação no país. Estudo realizado pela Embrapa Semi-Árido,
empresa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
revela que, na região, mais de 20 milhões de hectares representam o tamanho
da área atingida por processos de degradação em níveis que variam de baixo a
acentuado, moderado e severo. A maior parte dessa área, aproximadamente
62%, encontra-se na situação mais intensa de deterioração ambiental.
O Estado de Pernambuco não destoa da realidade que assola a Região
Nordeste do País. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE/2000), a área total do estado é de 98.311,616 Km², dos quais
89.309,500 Km² estão inseridos em Áreas Suscetíveis ao Processo de
Desertificação, estando 23,28% dessa última área submetida ao processo de
desertificação em estágio classificado por “muito grave”.
Em outras palavras, Pernambuco apresenta aproximadamente 90,00% de suas
terras em áreas ameaçadas pelo processo de desertificação.
A incidência desses processos no estado é tamanha, que estudos efetuados
pelo renomado pesquisador pernambucano João Vasconcelos Sobrinho
(1982), cujos dados foram oficializados pelo Ministério do Meio Ambiente em
1998/1999, já identificavam em Pernambuco a ocorrência de um, dos quatro
Núcleos de Desertificação1 existentes no País. Trata-se do Núcleo de
Desertificação de Cabrobó, composto pelos municípios de Belém de São
Francisco, Cabrobó, Floresta, Carnaubeira da Penha e Itacuruba2.
A região do semiárido pernambucano apresenta inúmeras manifestações
sócioculturais e conhecimentos tradicionais valiosos, carentes de uma política
pública que os reconheça e incorpore. Ainda sobre os aspectos positivos do
semiárido, convém mencionar a grande riqueza de sua biodiversidade,
1
Nas áreas semi-áridas e subúmidas secas a degradação ambiental ampliada é denunciada pelo aparecimento de
manchas circulares formadas por solos desnudos, onde é escassa a presença da cobertura vegetal nativa. Essas
manchas podem ser observadas, de forma nítida, em vários pontos das Áreas Susceptíveis à Desertificação. As áreas
assim caracterizadas foram denominadas por Vasconcelos Sobrinho de Núcleos de Desertificação. Os Núcleos de
Desertificação apresentam tendência a se expandirem, em detrimento das áreas vizinhas.
2
O Núcleo de Cabrobó esteve originalmente integrado pelos Municípios de Belém de São Francisco, Cabrobó e
Floresta. A esses foram acrescentados, pelo Programa de Combate à Desertificação – Proágua Semiárido –
Antidesertificação (2006), mais dois: Carnaubeira da Penha e Itacuruba.
12. representada, em sua maior parte, pela Caatinga, único Bioma exclusivamente
brasileiro, que compõe o cenário das áreas susceptíveis à desertificação.
Por outro lado, contrapondo-se à sua importância e desconsiderando sua
fragilidade, o referido Bioma tem sido severamente devastado pela ação
humana em seus processos de ocupação e exploração de recursos naturais e
humanos, resultando em esgotamento de grande parte do solo e processos
erosivos e de salinização. Entretanto, os esforços para proteção e conservação
da Caatinga devem se unir à nova feição reservada ao Bioma diante das atuais
discussões que o pretendem elevar à categoria de Patrimônio Nacional,
resguardada constitucionalmente.
O setor produtivo, por seu turno, encontra na região condições propícias para o
desenvolvimento das mais diversas atividades – cite-se, por exemplo, a
existência da agricultura irrigada, do pólo gesseiro, pólo têxtil, da agricultura de
sequeiro, da pecuária extensiva, etc. Apesar disso, fatores históricos e
estruturais vêm condicionando seus padrões de organização social e
exploração dos recursos naturais, provocando perdas econômicas e ambientais
significativas, destruindo a produtividade da terra, contribuindo para o aumento
da pobreza e, conseqüentemente, aumentando dos índices de êxodo rural no
Estado.
A problemática da Desertificação recebeu tratamento específico no Brasil
quando o país ratificou a Convenção das Nações Unidas de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (UNCCD), cujos termos já
obrigavam “os países partes a elaborarem Programas de Ação Nacional,
Regional e Sub-regional como elemento central de sua estratégia de combate à
desertificação e de mitigação dos efeitos da seca”.
O Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação aos
Efeitos da Seca (PAN-Brasil) já foi um passo também cumprido pelo Governo
Federal, mas requer que seja rebatido nas especificidades estaduais.
Merece destaque a intensa participação de diversos segmentos da sociedade
em todo o percurso histórico de construção e implementação de ações, de
desenvolvimento de novas tecnologias à luz da perspectiva de convivência
socioambiental sustentável com o semiárido. A temática alçou condição de
destaque no processo da III Conferência Estadual de Meio Ambiente,
culminando em um conjunto de proposições das quais a construção do PAE-
PE foi priorizada. O Governo do Estado, através da Sectma, lançou ainda edital
através do Fundo Estadual de Meio Ambiente (FEMA) para apoio a projetos
voltados à temática.
A construção deste Projeto de Lei resultou de um intenso processo de escuta e
participação da sociedade, através de oficinas descentralizadas em cinco
regiões estratégicas do Estado, realizadas pela Secretaria de Ciências,
Tecnologias e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco – Sectma.
Nessas oficinas foi possível ouvir e dialogar com representantes de 127
municípios pernambucanos, que se manifestaram sobre os problemas
13. causados pela desertificação em suas regiões e sobre dificuldades enfrentadas
pela população.
Assim, o encaminhamento deste Projeto de Lei reflete a demanda da sociedade que
pressiona por mudanças, sempre motivada pelos elevados custos socioeconômicos e
ambientais que suporta.
Historicamente, as políticas públicas têm investido recursos financeiros para o
combate à seca. No entanto, têm se mostrado pouco eficientes para mudar a
realidade da população das áreas susceptíveis à desertificação. Um dos
principais equívocos é buscar soluções somente quando o problema já está
instalado. A seca é um fator climático natural daquela região e, portanto, esse
fator deve ser considerado na elaboração de todas as políticas públicas
agrícola, de preservação ambiental, macroeconômicas, de expansão urbana,
entre outras.
De fato, o semiárido pernambucano é carente de instrumentos e recursos
financeiros que assegurem a integridade do ecossistema local e, com isso,
propiciem a prevenção e o combate à desertificação, a mitigação dos efeitos da
seca e a convivência com o semiárido, requerendo a implementação de um
conjunto de ações articuladas, norteadas pela Política ora encaminhada e
efetivadas pelo Programa de Ação Estadual de Pernambuco para o Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAE-PE).
Portanto, em atendimento à Convenção das Nações Unidas de Combate à
Desertificação e diante dos demais fundamentos, consideramos de elevada
importância a participação dos nobres parlamentares no esforço para a aprovação do
presente projeto de Lei para a implementação de uma Política Estadual de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca no Estado de Pernambuco.
Sala das sessões.