Patrimônio arqueológico e turismo:Proposições a respeito dos municípios deGaropaba, Imbituba e Imaruí (SC).
Autores: Viegas Fernandes da Costa e Clóvis Reis.
2014.
Literaturas africanas contemporâneas: o texto lendo o contexto.
Patrimônio arqueológico e turismo:Proposições a respeito dos municípios deGaropaba, Imbituba e Imaruí (SC)
1. Patrimônio arqueológico e turismo:
Proposições a respeito dos municípios de
Garopaba, Imbituba e Imaruí (SC)
Viegas Fernandes da Costa
(Prof. IF-SC e Mestrando
PPGDR/FURB)
Dr. Clóvis Reis
(Prof. do PPGDR/FURB)
2. OBJETIVOS
Propor o aproveitamento do patrimônio arqueológico dos municípios de
Garopaba, Imbituba e Imaruí (SC) no incremento das atividades turísticas da
região.
Apresentar um breve diagnóstico do patrimônio arqueológico dos três
municípios e procurar situá-los em seus aspectos históricos, identitários,
populacionais, sociais e econômicos.
4. Os municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba integram diferentes regiões de
Santa Catarina, definidas segundo interesses diversos. No âmbito do
Gerenciamento Costeiro de Santa Catarina (GERCO), estes municípios estão
incluídos no Litoral Centro Sul, que se estende do município de Paulo Lopes
(Norte) ao município de Jaguaruna (Sul). Já nas regiões turísticas definidas
pela Santa Catarina Turismo (Santur), estes fazem parte da grande região
denominada de Encantos do Sul, que se estende de Paulo Lopes (Norte) a
Forquilhinha (Sul), abrangendo 30 municípios.
Na Divisão Regional do IBGE, os três municípios pertencem à mesorregião
Sul Catarinense e na Microrregião do Vale do Tubarão. Na escala local,
Imbituba e Imaruí inserem-se na Associação dos Municípios da Região de
Laguna (AMUREL), enquanto Garopaba integra a Associação dos Municípios
da Região da Grande Florianópolis (GRANFPOLIS).
5. Para efeitos da discussão aqui proposta, compreende-se que os
municípios de Garopaba, Imaruí e Imbituba podem ser pensados
enquanto região, considerando-se o estado dos seus sítios
arqueológicos, suas características históricas e seus aspectos sociais,
econômicos e populacionais.
6. Sítios arqueológicos registrados junto ao Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional segundo o Cadastro Nacional de Sítios
Arqueológicos (CNSA/IPHAN)
GAROPABA 05
IMARUÍ 16
IMBITUBA 24
A maior parte dos sítios dos municípios de Garopaba, Imbituba e
Imaruí não está devidamente inventariada pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e está sob risco de
desaparecimento mediante ações do intemperismo, da gentrificação, da
ação antrópica, do vandalismo e das explorações extrativistas.
7. A região compreendida pelos municípios de Garopaba, Imbituba e
Imaruí é resultado de múltiplas ocupações identitárias, desde os
tempos pré-coloniais. Estudos arqueológicos desenvolvidos por João
Alfredo Rohr, principalmente na segunda metade do século XX,
apontam para a presença humana na região desde
aproximadamente 7 mil anos AP. Culturas como a Umbu e Humaitá,
assim como diversos grupos sambaquieiros e, mais recentemente
(1500 A.P), povos ceramistas Itararé e Carijó, habitaram em
diferentes tempos a região, estabelecendo relações interculturais de
intercâmbios e conflitos. Como resultado destas ocupações,
permanecem nesta região uma grande quantidade de vestígios
arqueológicos, como sambaquis, inscrições rupestres, marcos
astronômicos, sítios ceramistas, oficinas líticas e nominações
topográficas.
8. Segundo Prous (1992), ao tratar dos sítios rupestres da “tradição
litorânea catarinense”, encontrados em uma área litorânea específica
que envolve a Ilha de Santa Catarina e municípios adjacentes,
estendendo-se ao Sul até Garopaba, estes sítios possuem um
caráter único. Afirma que “esta tradição, muito bem circunscrita, não
pode ser comparada com nenhum outro conjunto rupestre conhecido
atualmente, tratando-se certamente de uma criação local. A
constatação de Prous garante a importância dos estudos destas
inscrições rupestres, cujos autores permanecem ainda
indeterminados, bem como seu potencial de atrativo para o turismo
arqueológico na região.
9. Modalidades de sítios
arqueológicos encontrados na
região
Sambaquis
Sítios Ceramistas
Oficinas Líticas
Sítios de inscrições rupestres.
Oficinas líticas – Praia da Vigia – Garopaba
Foto: João Henrique Quoos (IF-SC)
10. Inscrições rupestres na Pedra do Galeão (Garopaba/SC). À esquerda grafismo
pré-colonial e, à direita, a inscrição de um touro, ato de vandalismo recente neste
importante sítio arqueológico. (Crédito da foto: João Henrique Quoos/IF-SC)
11. Turistas caminham sobre a oficina lítica na Barra, em Garopaba, em
janeiro de 2014. O local não dispõe de informações e segurança.
(Crédito da foto: Juliani Walotek, IF-SC)
13. Um tipo de sítio arqueológico bastante comum na região é o
sambaqui. Alguns dos maiores sambaquis do continente americano
localizam-se no litoral sul catarinense, boa parte deles, entretanto,
destruídos ou bastante danificados pela atividade extrativista, construção
civil ou pela ocupação urbana. Conhecidos pelas populações locais como
montanhas de conchas, concheiros ou cemitério de índios, os sambaquis
foram construídos por uma cultura particular, identificada como
sambaquieira pela arqueologia. Esta cultura possuía uma organização
social complexa e sua população encontrou a extinção por volta de 1000
AP.
14. DIAGNÓSTICO PRELIMINAR
Apesar da grande quantidade de vestígios arqueológicos já registrados
em Garopaba, Imbituba e Imaruí, não há uma política de turismo voltada
para o desenvolvimento do turismo arqueológico no âmbito da região
Encantos do Sul. Sequer estes sítios e vestígios são mencionados na
publicação “Bíblia do Turismo”, principal guia voltado para os profissionais
de turismo com atuação em Santa Catarina.
Dos sítios arqueológicos registrados no CNSA/IPHAN, não é possível
precisar quantos ainda oferecem condições de pesquisa e de visitação.
Uma grande parte deles encontrava-se em propriedades particulares e,
devido à antiguidade dos registros, a paisagem dos sítios possivelmente
sofreu alterações importantes. No município de Garopaba, por exemplo, no
local conhecido como Barra, trilhas foram abertas sobre um sambaqui
localizado junto ao mar e à foz de uma lagoa de água doce. A localidade é
intensamente ocupada por veranistas durante a alta temporada, e o uso
não controlado das referidas trilhas contribui para a compactação do solo,
bem como para o permanente desgaste do sambaqui e das oficinas líticas
que integram o sítio
15. TURISMO ARQUEOLÓGICO ENQUANTO ESTRATÉGIA
DE RENDA E DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL
A promoção do turismo arqueológico como estratégia de renda para
os municípios de Garopaba, Imbituba e Imaruí, não significa conceber
esta modalidade de turismo enquanto solução para os problemas de
trabalho e renda da população local. Por este motivo o uso do termo
“estratégia de renda”, parece mais adequada e indica uma ideia de
complementaridade. Esta ressalva também foi apontada por Pardi
(2007), quando a autora afirma que o turismo em sítios arqueológicos
não pode ser concebido apenas sob o aspecto economicista. Entretanto,
são inegáveis as potencialidades do turismo como promotor de trabalho
e renda, em complementaridade às demais atividades econômicas da
região.
17. Em termos absolutos, houve crescimento populacional em Garopaba e
Imbituba no período compreendido entre 1991 e 2010, e decréscimo
populacional em Imaruí. Em Garopaba, a população praticamente dobrou no
período de 19 anos, passando de 9.918 habitantes para 18.138 habitantes.
No mesmo período, em Imbituba, o número de habitantes cresceu
praticamente um terço.
A observação do crescimento populacional é importante na medida em que
pode significar uma pressão sobre o patrimônio arqueológico remanescente.
Os dados apresentados pelo IBGE demonstram fragilidades sociais e
econômicas na região, principalmente relacionadas à questão do trabalho e
da renda.
Segundo a Santur, Garopaba, Imbituba e Imaruí integram a região
Encantos do Sul, que tem no patrimônio natural e no patrimônio histórico
seus principais atrativos turísticos.
18. O turismo de verão e de observação da baleia franca são importantes
atividades econômicas em Garopaba e Imbituba. Imaruí, apesar de possuir
sua principal atividade econômica na pesca tradicional, e atualmente não
desenvolver o turismo, transita nas cidades do entorno.
Considerando estes aspectos e o potencial dos vestígios arqueológicos
comuns aos três municípios, é possível defender a premissa do turismo
arqueológico como alternativa econômica complementar para a população
local, agregando valor às atividades turísticas já existentes e desenvolvendo
atividades correlatas, como o artesanato com base na arqueologia local.
Outra vantagem do turismo arqueológico a ser apontada para o
desenvolvimento da região está no seu caráter não sazonal e na capacidade
de atrair públicos específicos para a região.
19. Considerações Finais
Além de representar alternativa de renda às populações locais dos sítios
arqueológicos, o envolvimento delas no turismo cultural/arqueológico pode
representar também um processo educativo que a fará olhar para o
patrimônio arqueológico de modo a valorá-lo simbolicamente.
A inserção do turismo arqueológico na região, considerando-o enquanto
fomentador de práticas de educação patrimonial, resultado de planos de
gestão e acompanhado, tanto em seu planejamento quanto na sua gestão e
na interface com o turista, por profissionais especializados, pode contribuir
especialmente para práticas de conhecimento dos sítios ainda existentes,
para atividades de educação que permitam às comunidades locais o
empoderamento sobre estes espaços e uma relação de reconhecimento
destes vestígios enquanto constituidores da identidade local, e como fonte
alternativa e/ou complementar de trabalho e renda.
20. REFERÊNCIAS
Barreto, Margarita (2007). Cultura e turismo: discussões contemporâneas. Campinas (SP):
Papirus.
Beni, Mário Carlos (2008). Análise estrutural do turismo. São Paulo: Editora Senac São Paulo.
Besen, José Artulino (1996). São Joaquim de Garopaba: Recordações da Freguesia (1830-1980).
Passo Fundo: Gráfica e Editora Pe. Berthier.
Bíblia do Turismo: Guia para profissionais – Santa Catarina, Brasil (s.d). Florianópolis: Letras
Brasileiras.
Bitencourt, Fernando (2005). Armações baleeiras: da Costa Basca a Garopaba. Garopaba: Edição
do autor.
Gaspar, Madu (2000). Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Glissant, Édouard (2005). Introdução a uma poética da diversidade. Juiz de Fora: UFJF.
Gomes, Paulo Cesar da Costa (1995). O conceito de região e sua discussão. In. Castro, José
Elias; Gomes, Paulo Cesar da Costa; Correa, Roberto Lobato. Geografia: conceitos e temas. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, p. 49-76.
Hall, Stuart (2004). Quem precisa da identidade? In. Silva, Tomaz Tadeu da. Identidade e
diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, p. 103-133.
ICOMOS (1976). Carta de Turismo Cultural. Bruxelas, Bélgica: Internacional Council on
Monuments and Sites, Disponível em http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=248.
Acessado em: 7 jun. 2014.
IPHAN (2014). Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos. Disponível em www.iphan.gov.br
Acessado em: 9 jun. 2014.
Lucas, Keler (1996). Arte rupestre em Santa Catarina. Florianópolis: Rupestre.
21. Martins, Manoel de Oliveira (s.d). Imbituba: história e desenvolvimento.
Manzato, Fabiana (2013). Socialização do patrimônio arqueológico no estado de São Paulo:
proposta de plano de gestão, interpretação e visitação turística em áreas arqueológicas. Tese
(Doutorado em Arqueologia). Universidade de São Paulo. São Paulo.
Manzato, Fabiana (2005). Turismo arqueológico: Diagnóstico em sítios pré-históricos e
históricos no estado de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Turismo). Universidade de Caxias
do Sul. Caxias do Sul, RS.
Pardi, Maria Lúcia Franco (2007). A preservação do patrimônio arqueológico e o turismo.
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, v. 33, p. 305-337.
Prous, André (1992). Arqueologia brasileira. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
Rohr, João Alfredo (1984). Sítios arqueológicos de Santa Catarina. Anais do Museu de
Antropologia, UFSC, Florianópolis, nº 17, p. 77-168.