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A HISTÓRIA REPENSADA - CAP. 1
KEITH JENKINS – (1991)
Vítor Vieira Ferreira e Marcia Oliveira dos Santos
Introdução
 Propósito do livro: refletir sobre o conceito de história
 Público alvo: estudantes de história
 Crítica quanto à ausência de uma reflexão teórica sobre a História:
―No geral, os historiadores vigorosamente práticos demais ainda fogem de
discursos teóricos, e decerto os textos ocasionais sobre teoria da história não
exercem pressão com o mesmo grau de intensidade que muitos textos de teoria
literária, por exemplo, têm sobre o estudo da literatura‖ (p. 19).
 Modernização da história passa por uma reflexão sobre sua própria natureza
Capítulo 1 – O que é a História
 DA TEORIA
 DA PRÁTICA
 DA DEFINIÇÃO DE HISTÓRIA
Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]
 ―História é um discurso sobre o mundo, cujo objeto é o passado‖ (p.
23).
Embora esses discursos não criem o mundo
(aquela coisa física na qual aparentemente
vivemos), eles se apropriam do mundo e lhe
dão todos os significados que têm. (p. 23)
Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]
Argumento1
• Há uma relevante
distinção entre passado
e história.
Argumento 2
• Não é possível haver
uma única leitura
histórica do passado.
Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]
 Distinção entre passado e história
• A palavra “história”: refere-se tanto ao passado em si quanto ao registro desse passado
(historiografia).
Historie (gr. historiê) x Geschichte (al. geschehen)
Se até meados do século XVIII o termo história [Historie] era usado no
plural para designar as diversas narrativas particulares e descosidas
entre si que a tradição historiográfica acumulara (a história da guerra
do Peloponeso, a história de Florença etc.), Koselleck sustenta que, a
partir daquela época, é cada vez mais frequente o uso do termo
História [Geschichte] no singular para designar, de modo confluente,
tanto a sequência unificada dos eventos que constituem a marcha da
humanidade, como o seu relato (a História da civilização ou dos
progressos do espírito humano). (JASMIN, 2006:11)
Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]
 Distinção entre passado e história
• ―A história (historiografia) é um construto linguístico intertextual‖ (p. 26). É a partir dela que
estabelecemos um contato mediado com o passado. O passado nos chega como narrativa, e
não como “realidade”.
• Exemplos concretos: prova de história, historiografia feminista.
• Diferentes disciplinas produzem diferentes discursos sobre uma mesma realidade.
Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]
 Distinção entre passado e história
• Infinitude do discurso:
―(...) embora os historiadores e todos os outros não inventem a paisagem (todas aquelas coisas
parecem estar mesmo lá), eles realmente formulam todas as categorias descritivas dessa paisagem e
quaisquer significados que se possa dizer que ela tem. Eles elaboram as ferramentas analíticas e
metodológicas para extrair dessa matéria-prima as suas maneiras próprias de lê-la e falar a seu respeito:
o discurso. É nesse sentido que lemos o mundo como um texto, e tais leituras são, pela lógica, infinitas.
Não quero dizer com isso que nós simplesmente inventamos histórias sobre o mundo ou sobre o
passado (ou seja, que travamos conhecimento do mundo ou do passado e então inventamos narrativas
sobre ele), mas sim que a afirmação é muito mais forte: que o mundo ou o passado sempre nos chegam
como narrativas e que não podemos sair dessas narrativas para verificar se correspondem ao mundo ou
ao passado reais, pois elas constituem a ‗realidade‘ " (p. 28).
Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]
 Das infinitas leituras da história
―Dada a distinção entre passado e história, o problema para o historiador que de algum modo
quer captar o passado em seu discurso histórico torna-se este: como se conciliam aquelas duas
coisas?‖ (p. 29).
 Campos teóricos problemáticos: epistemologia, metodologia e ideologia.
Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]
 Questão epistemológica
 Crítica à pretensão de objetividade do passado
 Fragilidade epistemológica da história
 A história é inatingível em sua totalidade: “(...) nenhum historiador consegue abarcar e assim recuperar a totalidade dos acontecimentos
passados, porque o "conteúdo" desses acontecimentos é praticamente ilimitado‖ (p. 31).
 O passado não corresponde integralmente ao relato e nenhum relato pode ser o único, o primordial: “(...) não existe nenhuma narrativa, nenhuma
história "verdadeira", que, ao fim, nos possibilite confrontar todos os outros relatos com ela — isto é, não existe nenhum texto fundamentalmente
"correto" do qual as outras interpretações sejam apenas variações; o que existe são meras variações” (p. 32).
 Vemos sempre o passado com os olhos do presente. ―Assim como somos produtos do passado, assim também o passado conhecido (a história)
é um artefato nosso. Ninguém, não importando quão imerso esteja no passado, consegue despojar-se de seu conhecimento e de suas
pressuposições‖ (p. 33).
 Distanciamento com caráter positivo: “(...) graças a possibilidade de ver as coisas em retrospecto, nós de certa maneira sabemos mais sobre o
passado do que as pessoas que viveram lá. Ao traduzir o passado em termos modernos e usar conhecimentos que talvez não estivessem
disponíveis antes, o historiador descobre não só o que foi esquecido sobre o passado, mas também "reconstituí" coisas que, antes, nunca
estiveram constituídas como tal” (p. 34).
Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]
 Questão metodológica e ideológica
 Para alguns historiadores (Geoffrey Elton, E.P. Thompson, A. Marwick) a validade e a legitimidade do conhecimento “advém de
regras e procedimentos metodológicos rígidos‖, sendo ―isso que limita a liberdade interpretativa dos historiadores” (p. 36).
Para o autor, o que determina a interpretação é a ideologia.
 Os historiadores concordam que deva haver um método rigoroso. Há, porém, uma grande quantidade destes sem que haja um
“critério consensual para escolhermos dentre eles” (p. 37).
 Questão dos “conceitos históricos”
―Não vou argumentar que não se devam "trabalhar" conceitos, mas me preocupo com o fato de que, quando se apresentam esses
conceitos específicos, têm-se a forte impressão de que eles são mesmo óbvios e eternos e constituem os componentes básicos e
universais do conhecimento histórico. No entanto, isso é irônico, pois uma das coisas que a abertura das perspectivas
historiográficas para horizontes mais amplos devia ter feito era justamente historicizar a própria história - ver que todos os relatos
históricos não são prisioneiros do tempo e do espaço e, assim, ver que os conceitos historiográficos não são alicerces universais,
mas expressões localizadas e particulares‖ (p. 38).
Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]
 Questão metodológica e ideológica
 Questão institucional – exemplo da escolha por uma perspectiva negra, marxista e feminista.
Ora, essa vontade de verdade, como os outros sistemas de exclusão, apoia-
se sobre um suporte institucional: é ao mesmo tempo reforçada e
reconduzida por todo um compacto conjunto de práticas como a pedagogia,
é claro, como o sistema dos livros, da edição, das bibliotecas, como as
sociedades de sábios outrora, os laboratórios hoje. Mas ela é também
reconduzida, mais profundamente sem dúvida, pelo modo como o saber é
aplicado em uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e de
certo modo atribuído (FOUCAULT, 1996:16-7).
Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]
 Questão metodológica e ideológica
 Importância da ideologia
―(...) parece plausível que as formações sociais específicas querem que seus historiadores
expressem coisas específicas. Também parece plausível que as posições predominantemente
expressas serão do interesse dos blocos dominantes dentro daquelas formações sociais (não
que tais posições surjam automaticamente e depois sejam asseguradas para sempre, ponto-final,
sem sofrerem nenhuma contestação). O fato de que a história propriamente dita seja um
constructo ideológico significa que ela está sendo constantemente retrabalhada e reordenada por
todos aqueles que, em diferentes graus, são afetados pelas relações de poder – pois os
dominados, tanto quanto os dominantes, têm suas próprias versões do passado para legitimar
suas respectivas práticas, versões que precisam ser tachadas de impróprias e assim excluídas de
qualquer posição no projeto do discurso dominante‖ (p. 40).
Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]
 Questão metodológica e ideológica
 Importância da ideologia
Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos
dominantes; em outras palavras, a classe que é o poder material dominante numa determinada
sociedade é também o poder espiritual dominante. A classe que dispõe dos meios da produção
material dispõe também dos meios da produção intelectual, de tal modo que o pensamento
daqueles aos quais são negados os meios de produção intelectual está submetido também à
classe dominante. Os pensamentos dominantes nada mais são do que a expressão ideal das
relações materiais dominantes; eles são essas relações materiais dominantes consideradas sob
forma de idéias, portanto a expressão das relações que fazem de uma classe a classe
dominante; em outras palavras, são as idéias de sua dominação (MARX & ENGELS, 1998:48).
Capítulo 1 – O que é a História – [DA PRÁTICA]
 Na prática, a história profissional, em sua maioria realizada nas academias,
vincula-se às ideologias dominantes:
“Parece bastante óbvio que, vistos sob uma perspectiva cultural e "histórica"
mais ampla, investimentos institucionais multimilionários como aqueles feitos em
nossas universidades (por exemplo) são essenciais para reproduzir a presente
formação social e, portanto, estão na vanguarda das forças da tutela cultural
(padrões acadêmicos) e do controle ideológico. Seria certo descuido do campo
dominante se as coisas não fossem assim” (p. 44).
Capítulo 1 – O que é a História – [DA PRÁTICA]
 Existência de pressões acadêmicas na produção prática da história.
 Valores, posições e perspectivas ideológicas pessoais
 Pressupostos epistemológicos
 Metodologia
 Trabalho com fontes
 Pressões do cotidiano: família, amigos, local de trabalho, editoras, etc.
 Questão do consumo
Capítulo 1 – O que é a História – [DA PRÁTICA]
 A questão do relativismo
“(...) se entendemos que a história é o que fazem os historiadores; que eles a
fazem com base em frágeis comprovações; que a história é inevitavelmente
interpretativa; que há pelo menos meia dúzia de lados em cada discussão e que,
por isso, a história é relativa... Se entendemos tudo isso, então podemos muito
bem pensar: ‗Bom, se a história parece ser só interpretação e ninguém sabe nada
realmente, então para que estudá-la? Se tudo é relativo, para que fazer história?‘
Trata-se de um estado de espírito que poderíamos chamar ‗desventura do
relativismo’” (p. 50).
Capítulo 1 – O que é a História – [DA PRÁTICA]
 A questão do relativismo
 Mesmo com o relativismo, alguns relatos são dominantes e outros ficam à margem.
 O conhecimento relaciona-se ao poder – sua análise na prática nos leva à emancipação:
―Desconstruirmos as histórias de outras pessoas é pré-requisito para construirmos a nossa
própria, de maneira que dê a entender que sabemos o que estamos fazendo – ou seja, de maneira
que nos faça lembrar que a história é sempre a história destinada a alguém‖ (p. 51).
Capítulo 1 – O que é a História – [DA DEFINIÇÃO DE HISTÓRIA]
―A história é um discurso cambiante e problemático, tendo como pretexto um
aspecto do mundo, o passado, que é produzido por um grupo de trabalhadores
cuja cabeça está no presente (e que, em nossa cultura, são na imensa maioria
historiadores assalariados), que locam seu oficio de maneiras reconhecíveis uns
para os outros (maneiras que estão posicionadas em termos epistemológicos,
metodológicos, ideológicos e práticos) e cujos produtos, uma vez colocados em
circulação, vêem-se sujeitos a uma série de usos e abusos que são teoricamente
infinitos, mas que na realidade correspondem a uma gama de bases de poder que
existem naquele determinado momento e que estruturam e distribuem ao longo
de um espectro do tipo dominantes/marginais os significados das histórias
produzidas‖ (p. 52).
BIBLIOGRAFIA
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Edições Loyola: São Paulo, 1996.
JASMIN, Marcelo. Apresentação in KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado contribuição à semântica dos
tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.
JENKINS, Keith; Tradução de Mario Vilela. A história repensada. o Paulo: Contexto, 2001.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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A história repensada: reflexões sobre a natureza do discurso histórico

  • 1. A HISTÓRIA REPENSADA - CAP. 1 KEITH JENKINS – (1991) Vítor Vieira Ferreira e Marcia Oliveira dos Santos
  • 2. Introdução  Propósito do livro: refletir sobre o conceito de história  Público alvo: estudantes de história  Crítica quanto à ausência de uma reflexão teórica sobre a História: ―No geral, os historiadores vigorosamente práticos demais ainda fogem de discursos teóricos, e decerto os textos ocasionais sobre teoria da história não exercem pressão com o mesmo grau de intensidade que muitos textos de teoria literária, por exemplo, têm sobre o estudo da literatura‖ (p. 19).  Modernização da história passa por uma reflexão sobre sua própria natureza
  • 3. Capítulo 1 – O que é a História  DA TEORIA  DA PRÁTICA  DA DEFINIÇÃO DE HISTÓRIA
  • 4. Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]  ―História é um discurso sobre o mundo, cujo objeto é o passado‖ (p. 23). Embora esses discursos não criem o mundo (aquela coisa física na qual aparentemente vivemos), eles se apropriam do mundo e lhe dão todos os significados que têm. (p. 23)
  • 5. Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA] Argumento1 • Há uma relevante distinção entre passado e história. Argumento 2 • Não é possível haver uma única leitura histórica do passado.
  • 6. Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]  Distinção entre passado e história • A palavra “história”: refere-se tanto ao passado em si quanto ao registro desse passado (historiografia). Historie (gr. historiê) x Geschichte (al. geschehen) Se até meados do século XVIII o termo história [Historie] era usado no plural para designar as diversas narrativas particulares e descosidas entre si que a tradição historiográfica acumulara (a história da guerra do Peloponeso, a história de Florença etc.), Koselleck sustenta que, a partir daquela época, é cada vez mais frequente o uso do termo História [Geschichte] no singular para designar, de modo confluente, tanto a sequência unificada dos eventos que constituem a marcha da humanidade, como o seu relato (a História da civilização ou dos progressos do espírito humano). (JASMIN, 2006:11)
  • 7. Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]  Distinção entre passado e história • ―A história (historiografia) é um construto linguístico intertextual‖ (p. 26). É a partir dela que estabelecemos um contato mediado com o passado. O passado nos chega como narrativa, e não como “realidade”. • Exemplos concretos: prova de história, historiografia feminista. • Diferentes disciplinas produzem diferentes discursos sobre uma mesma realidade.
  • 8. Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]  Distinção entre passado e história • Infinitude do discurso: ―(...) embora os historiadores e todos os outros não inventem a paisagem (todas aquelas coisas parecem estar mesmo lá), eles realmente formulam todas as categorias descritivas dessa paisagem e quaisquer significados que se possa dizer que ela tem. Eles elaboram as ferramentas analíticas e metodológicas para extrair dessa matéria-prima as suas maneiras próprias de lê-la e falar a seu respeito: o discurso. É nesse sentido que lemos o mundo como um texto, e tais leituras são, pela lógica, infinitas. Não quero dizer com isso que nós simplesmente inventamos histórias sobre o mundo ou sobre o passado (ou seja, que travamos conhecimento do mundo ou do passado e então inventamos narrativas sobre ele), mas sim que a afirmação é muito mais forte: que o mundo ou o passado sempre nos chegam como narrativas e que não podemos sair dessas narrativas para verificar se correspondem ao mundo ou ao passado reais, pois elas constituem a ‗realidade‘ " (p. 28).
  • 9. Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]  Das infinitas leituras da história ―Dada a distinção entre passado e história, o problema para o historiador que de algum modo quer captar o passado em seu discurso histórico torna-se este: como se conciliam aquelas duas coisas?‖ (p. 29).  Campos teóricos problemáticos: epistemologia, metodologia e ideologia.
  • 10. Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]  Questão epistemológica  Crítica à pretensão de objetividade do passado  Fragilidade epistemológica da história  A história é inatingível em sua totalidade: “(...) nenhum historiador consegue abarcar e assim recuperar a totalidade dos acontecimentos passados, porque o "conteúdo" desses acontecimentos é praticamente ilimitado‖ (p. 31).  O passado não corresponde integralmente ao relato e nenhum relato pode ser o único, o primordial: “(...) não existe nenhuma narrativa, nenhuma história "verdadeira", que, ao fim, nos possibilite confrontar todos os outros relatos com ela — isto é, não existe nenhum texto fundamentalmente "correto" do qual as outras interpretações sejam apenas variações; o que existe são meras variações” (p. 32).  Vemos sempre o passado com os olhos do presente. ―Assim como somos produtos do passado, assim também o passado conhecido (a história) é um artefato nosso. Ninguém, não importando quão imerso esteja no passado, consegue despojar-se de seu conhecimento e de suas pressuposições‖ (p. 33).  Distanciamento com caráter positivo: “(...) graças a possibilidade de ver as coisas em retrospecto, nós de certa maneira sabemos mais sobre o passado do que as pessoas que viveram lá. Ao traduzir o passado em termos modernos e usar conhecimentos que talvez não estivessem disponíveis antes, o historiador descobre não só o que foi esquecido sobre o passado, mas também "reconstituí" coisas que, antes, nunca estiveram constituídas como tal” (p. 34).
  • 11. Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]  Questão metodológica e ideológica  Para alguns historiadores (Geoffrey Elton, E.P. Thompson, A. Marwick) a validade e a legitimidade do conhecimento “advém de regras e procedimentos metodológicos rígidos‖, sendo ―isso que limita a liberdade interpretativa dos historiadores” (p. 36). Para o autor, o que determina a interpretação é a ideologia.  Os historiadores concordam que deva haver um método rigoroso. Há, porém, uma grande quantidade destes sem que haja um “critério consensual para escolhermos dentre eles” (p. 37).  Questão dos “conceitos históricos” ―Não vou argumentar que não se devam "trabalhar" conceitos, mas me preocupo com o fato de que, quando se apresentam esses conceitos específicos, têm-se a forte impressão de que eles são mesmo óbvios e eternos e constituem os componentes básicos e universais do conhecimento histórico. No entanto, isso é irônico, pois uma das coisas que a abertura das perspectivas historiográficas para horizontes mais amplos devia ter feito era justamente historicizar a própria história - ver que todos os relatos históricos não são prisioneiros do tempo e do espaço e, assim, ver que os conceitos historiográficos não são alicerces universais, mas expressões localizadas e particulares‖ (p. 38).
  • 12. Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]  Questão metodológica e ideológica  Questão institucional – exemplo da escolha por uma perspectiva negra, marxista e feminista. Ora, essa vontade de verdade, como os outros sistemas de exclusão, apoia- se sobre um suporte institucional: é ao mesmo tempo reforçada e reconduzida por todo um compacto conjunto de práticas como a pedagogia, é claro, como o sistema dos livros, da edição, das bibliotecas, como as sociedades de sábios outrora, os laboratórios hoje. Mas ela é também reconduzida, mais profundamente sem dúvida, pelo modo como o saber é aplicado em uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e de certo modo atribuído (FOUCAULT, 1996:16-7).
  • 13. Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]  Questão metodológica e ideológica  Importância da ideologia ―(...) parece plausível que as formações sociais específicas querem que seus historiadores expressem coisas específicas. Também parece plausível que as posições predominantemente expressas serão do interesse dos blocos dominantes dentro daquelas formações sociais (não que tais posições surjam automaticamente e depois sejam asseguradas para sempre, ponto-final, sem sofrerem nenhuma contestação). O fato de que a história propriamente dita seja um constructo ideológico significa que ela está sendo constantemente retrabalhada e reordenada por todos aqueles que, em diferentes graus, são afetados pelas relações de poder – pois os dominados, tanto quanto os dominantes, têm suas próprias versões do passado para legitimar suas respectivas práticas, versões que precisam ser tachadas de impróprias e assim excluídas de qualquer posição no projeto do discurso dominante‖ (p. 40).
  • 14. Capítulo 1 – O que é a História – [DA TEORIA]  Questão metodológica e ideológica  Importância da ideologia Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes; em outras palavras, a classe que é o poder material dominante numa determinada sociedade é também o poder espiritual dominante. A classe que dispõe dos meios da produção material dispõe também dos meios da produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles aos quais são negados os meios de produção intelectual está submetido também à classe dominante. Os pensamentos dominantes nada mais são do que a expressão ideal das relações materiais dominantes; eles são essas relações materiais dominantes consideradas sob forma de idéias, portanto a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante; em outras palavras, são as idéias de sua dominação (MARX & ENGELS, 1998:48).
  • 15. Capítulo 1 – O que é a História – [DA PRÁTICA]  Na prática, a história profissional, em sua maioria realizada nas academias, vincula-se às ideologias dominantes: “Parece bastante óbvio que, vistos sob uma perspectiva cultural e "histórica" mais ampla, investimentos institucionais multimilionários como aqueles feitos em nossas universidades (por exemplo) são essenciais para reproduzir a presente formação social e, portanto, estão na vanguarda das forças da tutela cultural (padrões acadêmicos) e do controle ideológico. Seria certo descuido do campo dominante se as coisas não fossem assim” (p. 44).
  • 16. Capítulo 1 – O que é a História – [DA PRÁTICA]  Existência de pressões acadêmicas na produção prática da história.  Valores, posições e perspectivas ideológicas pessoais  Pressupostos epistemológicos  Metodologia  Trabalho com fontes  Pressões do cotidiano: família, amigos, local de trabalho, editoras, etc.  Questão do consumo
  • 17. Capítulo 1 – O que é a História – [DA PRÁTICA]  A questão do relativismo “(...) se entendemos que a história é o que fazem os historiadores; que eles a fazem com base em frágeis comprovações; que a história é inevitavelmente interpretativa; que há pelo menos meia dúzia de lados em cada discussão e que, por isso, a história é relativa... Se entendemos tudo isso, então podemos muito bem pensar: ‗Bom, se a história parece ser só interpretação e ninguém sabe nada realmente, então para que estudá-la? Se tudo é relativo, para que fazer história?‘ Trata-se de um estado de espírito que poderíamos chamar ‗desventura do relativismo’” (p. 50).
  • 18. Capítulo 1 – O que é a História – [DA PRÁTICA]  A questão do relativismo  Mesmo com o relativismo, alguns relatos são dominantes e outros ficam à margem.  O conhecimento relaciona-se ao poder – sua análise na prática nos leva à emancipação: ―Desconstruirmos as histórias de outras pessoas é pré-requisito para construirmos a nossa própria, de maneira que dê a entender que sabemos o que estamos fazendo – ou seja, de maneira que nos faça lembrar que a história é sempre a história destinada a alguém‖ (p. 51).
  • 19. Capítulo 1 – O que é a História – [DA DEFINIÇÃO DE HISTÓRIA] ―A história é um discurso cambiante e problemático, tendo como pretexto um aspecto do mundo, o passado, que é produzido por um grupo de trabalhadores cuja cabeça está no presente (e que, em nossa cultura, são na imensa maioria historiadores assalariados), que locam seu oficio de maneiras reconhecíveis uns para os outros (maneiras que estão posicionadas em termos epistemológicos, metodológicos, ideológicos e práticos) e cujos produtos, uma vez colocados em circulação, vêem-se sujeitos a uma série de usos e abusos que são teoricamente infinitos, mas que na realidade correspondem a uma gama de bases de poder que existem naquele determinado momento e que estruturam e distribuem ao longo de um espectro do tipo dominantes/marginais os significados das histórias produzidas‖ (p. 52).
  • 20. BIBLIOGRAFIA FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Edições Loyola: São Paulo, 1996. JASMIN, Marcelo. Apresentação in KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006. JENKINS, Keith; Tradução de Mario Vilela. A história repensada. o Paulo: Contexto, 2001. MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998.