A informalidade na indústria da cerâmica vermelha - Estudo de caso
1. Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia
CONTECC 2014
Centro de Convenções Atlantic City - Teresina - PI
12 a 15 de agosto de 2014
A INFORMALIDADE NA INDÚSTRIA DE CERÂMICA VERMELHA - ESTUDO DE
CASO - FÁBRICA EM HIDROLÂNDIA-CE
WEBER ALVES BRAGA1
, FRANCISCO DA SILVA BRANDÃO2
,
MAX WENDELL LIMA CUNHA DOS SANTOS3
, JUSCELINO CHAVES SALES4
1
Graduando em Engenharia Civil, UVA, Sobral-CE; Fone: (88) 9785-4106, weberfila15@gmail.com
2
Graduando em Engenharia Civil, UVA, Sobral-CE; Fone: (88) 9950-3750, fransciscosilvamuc@bol.com.br
3
Graduando em Engenharia Civil, UVA, Sobral-CE; Fone: (85) 9996-2720, max_cunha_18@hotmail.com
4
Ms. Professor Engenharia Civil, UVA, Sobral-CE. Fone: (85) 9160-4446, juscelinochaves@hotmail.com
Apresentado no
Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia – CONTECC 2014
12 a 15 de agosto de 2014 - Teresina-PI, Brasil
RESUMO: A indústria da cerâmica vermelha é um setor essencial para a economia brasileira, pois
supre a cadeia produtiva da construção civil em todo o território nacional, sendo também fundamental
para o setor da habitação. No município de Hidrolândia-CE, está situada uma fábrica de blocos
cerâmicos que exerce atividade informal. O presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo de
caso da qualidade do processo produtivo de uma fábrica de cerâmica vermelha localizada no interior
do Ceará e, ao mesmo tempo, discorrer sobre a situação atual do mercado informal da cerâmica
vermelha no Estado do Ceará. A metodologia desenvolveu-se a partir da revisão bibliográfica, da
coleta de dados, de entrevistas com o proprietário e funcionários da fábrica e de ensaios de controle
tecnológico.
PALAVRAS–CHAVE: cerâmica vermelha, indústria, informalidade, Ceará.
THE INFORMALITY IN RED CERAMIC INDUSTRY - CASE STUDY - FACTORY FROM
HIDROLÂNDIA-CEARÁ
ABSTRACT: The red ceramic industry is an essential sector of the Brazilian economy, because it
supplies the construction through national territory productive chain. Also it is critical to the habitation
sector. In the city of Hidrolândia-CE, is located a factory of ceramic blocks holding informal activity.
The present study does a case study of the quality of the production process in a red ceramic factory
located in Ceará while that discuss the current situation of the informal market of the ceramic in the
State of Ceará. The methodology was developed from the literature review, data collection, interviews
with the owner and staff and technical testing.
KEYWORDS: red ceramic, industry, informality, Ceará.
INTRODUÇÃO: A cerâmica vermelha é com certeza o material de construção mais tradicional. No
Brasil, ela corresponde em torno de 90% de todas as alvenarias e coberturas, sendo, portanto, um setor
de fundamental importância para a construção civil, ao desenvolvimento regional e ao crescimento da
economia nacional. Blocos, tijolos, telhas e tubos correspondem à quase totalidade de artigos de
cerâmica vermelha empregados na construção civil. Compostos essencialmente de argila, estes
produtos são responsáveis pela geração de milhares de empregos diretos e um faturamento anual na
faixa dos bilhões de reais. Segundo a ANICER (Associação Nacional da Indústria Cerâmica), o
mercado nacional da cerâmica vermelha conta com 5.500 empresas, cerca de 400 mil empregos diretos
e 1,25 milhões indiretos, gerando um faturamento anual de R$ 6 bilhões. Já a ABC (Associação
Brasileira de Cerâmica), contabiliza cerca de 11.000 empresas de pequeno porte em todo o território
brasileiro, empregando cerca de 300 mil pessoas, e gerando um faturamento da ordem de R$ 2,8
bilhões. A grande divergência nas informações fornecidas pelos órgãos em questão é um fenômeno
que pode ser explicado pelo alto índice de informalidade da indústria da construção civil no Brasil.
Filho & Bezerra (2010) aponta a existência de cerca de 2.500 unidades de produção no Brasil, que vão
desde olarias e microempresas de operação informal e/ou sazonal a empresas não automatizadas, com
2. processos arcaicos, manuais, que muitas vezes não se constituem de empresas devidamente
registradas. Problemas relacionados à matéria-prima, ao processo produtivo propriamente dito
(extrusão, secagem e queima), à conformidade das peças ou equipamentos (mecânicos ou de
operação), e outros de cunho gerencial, são arrolados como os de ocorrência mais comum nas
cerâmicas (Silva, 2009). Um dos problemas mais comuns nas cerâmicas do Brasil é a falta de
conhecimento técnico da matéria-prima utilizada. Erros na preparação da argila, o descumprimento do
tempo correto de sazonamento, umidade insuficiente da massa são falhas comuns cometidas pelos
ceramistas. A análise laboratorial da argila ainda é uma prática rara nas fábricas do Brasil. Isto gera
desperdício de material, eleva os custos de energia e interfere na qualidade do produto final. Os
processos de extrusão, secagem e queima são os principais geradores de desperdícios na produção de
cerâmica vermelha. Perdas durante a extrusão decorrem, principalmente, da utilização de boquilhas
mal reguladas e desgastadas, que se deve em muito a incompatibilidades do maquinário. Quanto à
secagem, muitas fábricas no Nordeste interrompem a produção nos períodos chuvosos por não
possuírem secadores artificiais. Já na queima, ocorrem falhas devido ao mau planejamento na
construção dos fornos, que acabam provocando gastos desnecessários de energia, e a falta de
monitoramento da temperatura de queima que ocasiona trincas no material ou requeima, diminuindo o
valor estético do produto. A informalidade do setor está ligada a uma série de fatores econômicos e
sociais, como a alta taxa tributária sobre donos de microempresas, o abuso das leis ambientais e
trabalhistas e a burocracia estatal, entre outros. A informalidade é um sério problema que tem levado a
indústria da construção civil a baixos patamares de produtividade, visto que, está diretamente
relacionada a outros problemas do setor que são considerados críticos, como o assalariamento ilegal
dos funcionários, descumprimentos das normas de saúde e segurança das instalações fabris, extração
ilegal da matéria-prima e da lenha, e a desconformidade de seus produtos. O setor da cerâmica
vermelha no Ceará conta com 412 empresas de pequeno, médio e grande porte e emprega 12.000
pessoas diretamente e 40.000 indiretamente (FIEC, 2013). Em 2012, o faturamento de todas as
empresas cearenses foi de, aproximadamente, R$ 1 bilhão, sendo este o quinto melhor desempenho do
país e o primeiro do Nordeste, segundo levantamento da ANICER (DIÁRIO, 2012). Uma pesquisa
realizada pelo Instituto Evaldo Lodi (IEL), no ano de 2013, constatou que 90,5% das empresas de
cerâmica vermelha do Ceará se concentram em zona rural. O Vale do Jaguaribe é a região de maior
atividade de empresas de cerâmica no estado. Em seguida, destacam-se o Norte, o Noroeste e a Região
Metropolitana (FIEC, 2013). A região Noroeste do estado ainda possui desempenho tímido - produção
mensal pouco maior que 20 milhões de blocos, com 1.667 pessoas diretamente empregadas. Porém,
esta região possui um mercado com grande potencial, tendo em vista o aquecimento da construção
civil para habitação e comércio. No município de Hidrolândia-CE, está situada uma fábrica que produz
blocos cerâmicos de vedação. A fábrica em questão funciona em regime informal por não apresentar
registro de funcionários e produtos desconformes em relação às normas técnicas. Um estudo realizado
por alunos do curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA-CE) avaliou
a qualidade dos blocos cerâmicos da fábrica em questão. Os resultados, visíveis na Tabela 1, mostram
que a identificação dos blocos e a medidas das faces estão em desacordo com a ABNT NBR 15575-
1:2005. Constatou-se também uma baixa uniformidade dos blocos quanto a medidas das paredes e
septos e, também, grande variação dos valores de resistência à compressão.
Tabela 1. Resultados dos ensaios dos blocos da fábrica estudo de caso
Características Resultados
Identificação Reprovado
Características visuais Aprovado
Medida das faces Reprovado
Espessura das paredes externas Aprovado
Espessura dos septos Aprovado
Desvio em relação ao esquadro Aprovado
Planeza das faces Aprovado
Absorção d’água Aprovado
Resistência à compressão Aprovado
3. O presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo de caso da qualidade do processo produtivo
de uma fábrica de cerâmica vermelha localizada no interior do Ceará e, ao mesmo tempo, discorrer
sobre a situação atual do mercado informal da cerâmica vermelha no Estado do Ceará, utilizando a
fábrica como exemplo prático. A metodologia desenvolveu-se a partir da revisão bibliográfica, da
coleta de dados, de entrevistas com o proprietário e funcionários da fábrica. Por meio de visitas
técnicas à fábrica, buscou-se entender e descrever as etapas de produção, bem como ilustrar os
principais problemas detectados em cada um dos processos produtivos, relacionados à informalidade.
MATERIAL E MÉTODOS: Esta metodologia iniciou-se com a realização de visitas técnicas à
fábrica, no intuito de conhecê-la e analisar o seu processo produtivo. As visitas técnicas representaram
a fase essencial desta pesquisa, pois foi uma oportunidade para a observação e diagnóstico da cadeia
produtiva da fábrica em questão. Para que houvesse um diagnóstico mais eficiente, foi realizado o
acompanhamento das etapas de produção dos blocos cerâmicos, entrevistas com a gerência e com
profissionais envolvidos com a cadeia produtiva, e coleta de material fotográfico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Depois de realizadas as visitas técnicas e as entrevistas, foi
possível obter conclusões acerca do funcionamento da fábrica caso de estudo. O processo produtivo
desta fábrica é realmente deficiente devido a uma série de falhas referentes à gestão inexperiente, falta
de capacitação técnica dos funcionários e descumprimento das normas de meio ambiente e de
segurança do trabalho. A falta de conhecimento técnico da matéria-prima é notável visto que, na
fábrica, é utilizada apenas uma argila, que é obtida por terceiros e que nunca passou por análise
laboratorial. A argila é, tatilmente, bastante plástica, indicando que deva ser de várzea, fato
confirmado pelo proprietário do negócio. Além disso, não é realizada, na fábrica, sazonamento da
massa. A massa não passa por preparação para o seu processamento e umidificada apenas no momento
do beneficiamento. Por não haver preparação da massa, a fábrica conta apenas com um caixão
alimentador, um laminador e uma esteira de transporte da massa, todos de segunda mão. O
beneficiamento é manual (Figura 1) e o cálculo da dosagem de água é realizado empiricamente.
Figura 1. Argila para beneficiamento.
Fonte: Autoria própria (2013)
A fábrica conta com uma extrusora com bomba de vácuo que não possui medição de pressão
manométrica. A boquilha utilizada possui apenas uma abertura e o corte é feito manualmente. Foram
constatados sérios problemas no processo de extrusão que correm para o desperdício. A umidade
insuficiente da argila, boquilhas desgastadas, como citado anteriormente, além de problemas no motor
do vácuo, estão entre os principais motivos de parada do processo e do retrabalho das peças (Figura 2).
Cita-se também a falta de capacitação dos funcionários que, por não saberem, retornam as peças
defeituosas diretamente à entrada da extrusora. Isto causa consumo elevado de energia e entupimento
da extrusora. Foi constatado ainda um elevado desgaste da boquilha, pois esta peça vem sendo
reparada várias vezes com o auxílio de uma solda metálica.
4. Figura 2. Máquina manual de corte.
Fonte: Autoria própria (2013)
A secagem dos blocos é natural e ocorre em galpão coberto. O proprietário da fábrica relatou que em
períodos chuvosos as atividades são interrompidas, pois o excesso de umidade do ar impossibilita a
secagem dos blocos. A fábrica conta com dois fornos intermitentes tipo paulistinha, cada um com
capacidade de queima de 18 mil blocos (Figura 3). Constatou-se um grave problema com o isolamento
dos fornos, pois um deles não possui cobertura superior e a queima ocorre ao relento. O proprietário
relatou que a construção dos fornos foi realizada artesanalmente com blocos da própria fábrica. Outro
sério problema é a utilização de lenha como combustível que é extraída da vegetação ao redor da
fábrica, e atualmente a licença ambiental para a atividade está vencida.
Figura 3. Forno da fábrica estudo de caso.
Fonte: Autoria própria (2013)
CONCLUSÕES: Neste trabalho foi possível entender alguns dos problemas mais típicos de uma
fábrica informal de cerâmica vermelha. As falhas relatadas geram não só desperdício de material, mas
também provocam a perda da qualidade do produto. A desconformidade ainda é um dos problemas
mais graves na construção civil e tem como grande causa, a informalidade. A fiscalização não obterá
resultados se não for acompanhada do empenho do governo em facilitar a vida do microempresário
ceramista, sancionando leis menos abusivas.
REFERÊNCIAS
DIÁRIO do Nordeste. Indústria cerâmica do Ceará assume 1º lugar no Nordeste. Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1173916>. Acesso em: 27 dez 2013.
FIEC. Gestão, sustentabilidade e inovação. Revista da FIEC, ano VII, ed.76, p.14-18, 2013.
Filho, L. L. R.; Bezerra, F. D. Informe Setorial. Cerâmica Vermelha. Fortaleza: BNB, 2008. 202p.
Silva, A. V. Análise do processo produtivo dos tijolos cerâmicos no estado do Ceará. Da extração da
matéria-prima à fabricação. Fortaleza: UFC, 2009. 104p. Monografia Bacharelado.