Pílulas digitais - A influencia dos blogs na comunicação
1. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES PÚBLICAS,
PROPAGANDA E TURISMO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
PÍLULAS
DIGITAIS
PÍLULAS
DIGITAIS
PÍLULAS
A INFLUÊNCIA DOS BLOGS
NA COMUNICAÇÃO
PAULA RICHA ROMANO
ORIENTADOR: PROF. DR. LUIZ GUILHERME ANTUNES
SÃO PAULO, 2005
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3. 2
Introdução
A segunda metade do século XIX foi marcada pela criação e popularização de
meios de comunicação eletrônicos. Eles trouxeram a Era da Informação, da
qual a quantidade de dados disponíveis e a rapidez e facilidade de acesso são
características marcantes. Na metade da década de 90, a popularização da internet
e o avanço da tecnologia ampliaram ainda mais o horizonte e mostraram que
além de ter acesso ao que era produzido, as pessoas também poderiam produzir
conteúdo e interagir umas com as outras através dos novos meios.
Neste contexto, outras formas de relacionamento e de comunicação surgiram.
Apesar destas novas ferramentas e tecnologias levarem algum tempo para serem
assimiladas ou mesmo estarem acessíveis à grande maioria das pessoas, muitas
delas se tornaram indispensáveis, como o e-mail e o telefone celular.
No campo da internet, umas das ferramentas que surgiu no final da década de
90 e se popularizou no início deste século foi o Weblog. Até o surgimento desta
ferramenta de publicação, também conhecida somente como blog, a internet
ainda era um campo restrito àqueles que possuíam conhecimentos técnicos para
produzir e inserir conteúdo na rede.
Os blogs são popularmente conhecidos como versões on-line de diários de
adolescentes, mas ao examiná-los detalhadamente pode-se notar que esta
ferramenta tem uma atuação maior no campo da comunicação e não está restrita
a uma faixa da população.
É possível que a identificação com o diário íntimo aconteça por algumas
características em comum entre os dois tipos de registro. Os blogs formam um
conjunto de relatos e opiniões pessoais organizados por data e não possuem uma
regra ou linguagem formal para a publicação dos textos, que podem variar de
uma pequena nota ou frase a uma longa reflexão. Sob esse aspecto, são como os
diários.
Os dois também têm uma origem semelhante na necessidade de registrar
acontecimentos. O diário surgiu de uma tradição coletiva de produzir registros
públicos de acontecimentos do dia-a-dia, como os diários de viagem. Mas a noção
de diário íntimo e privado só ganhou popularidade na Renascença, apesar de que
há registros do mesmo modelo de escrita no Japão do séc.X.
Registro de eventos cotidianos, o diário íntimo é visto como forma de
autoconhecimento e de expressão de uma vida interior. Ele revela a identidade
do escritor através do texto e também por outros elementos, como a escrita e a
bricolage característica de um diário privado escrito à mão.
Os diários íntimos representaram, até certo ponto, uma separação entre o que é de
domínio público e privado. A partir do momento em que autores de diários íntimos
passaram a publicar seus escritos, iniciou-se uma dissolução desta distinção, que
ficou cada vez menor com o surgimento da internet e da web.
Nestes espaços virtuais pode-se observar duas das características mais marcantes
da rede: sua capacidade de impulsionar a troca de experiências e informações e
de abrir espaço para o usuário se expressar. Através de seu blog o indivíduo pode
mostrar sua identidade, se comunicar com pessoas diferentes, mostrar trabalhos
pessoais, ativar uma rede social, manter contatos, contar fatos cotidianos, fazer
críticas, ter voz, compartilhar.
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4. 3
O diário é apenas uma das formas que o blog pode ter, mas, ainda assim, diferente
daquele feito com papel, caneta e colagens escondido em algum lugar do quarto.
A diferença é que o blog está exposto na rede mundial de computadores, e seu
autor sabe disto.
Segundo Nardi, Schiano e Gumbrecht1
, existe uma grande diversidade de formatos e
caminhos que um blog pode seguir, como atualizar os leitores sobre as atividades
do autor; expressar opiniões e formar opiniões; obter comentários; desenvolver
suas idéias através da escrita; e aliviar tensões emocionais.
Em três das cinco motivações detectadas, o reconhecimento do leitor é declarado
sendo que depoimentos dados pelos participantes da pesquisa mostram a
preocupação de não magoar ou constranger o leitor com suas opiniões. Mesmo
não declarada, a consciência da existência de leitores influencia o que é escrito.
O estudo mostra que mesmo agindo com indiferença, o autor reconhece a presença
da audiência. A relação com os leitores dependerá da personalidade do autor,
no entanto, muitos buscam gerar visitas para seu blog e também consideram a
opinião dos leitores ao escreverem seus textos. Neste sentido, o blog é um meio
que incentiva a alternância de papéis entre emissor e receptor, como acontece em
uma conversa natural.
O diário íntimo, por sua vez, mesmo que o autor tenha uma vontade secreta de
ser lido, não é construído em conjunto com seus leitores e, via de regra, descreve
todos os sentimentos e situações vividas pelo autor sem haver seleção do que
deve ou não ser colocado ali. Como não há interação, um não pode moldar o
outro.
Outra característica que diferencia o diário íntimo do blog é a construção de
sua identidade visual. A composição do diário, geralmente feita da colagem de
elementos simbólicos, também é muito importante para identificar o autor. No
caso dos blogs, a identidade do autor está melhor caracterizada no seu conteúdo. A
identidade visual do blog fica condicionada ao uso de linguagens de programação,
o que dificulta a personalização e é uma barreira para a total apropriação da
internet. Por outro lado, programas mais versáteis estão sendo desenvolvidos para
facilitar a vida do usuário e ampliar suas possibilidades.
Considerando que o blog não é apenas a versão digital de um diário íntimo, quais
as implicações destes novos meios de expressão na comunicação? O que está
mudando? É apenas uma febre passageira ou é um novo meio que está ganhando
influência? Com o avanço da tecnologia e uso cada vez maior da internet através
de telefones celulares, com a difusão de produtos e redes sem fio, que outros
caminhos o blog pode tomar? Neste trabalho será analisada a origem do blog,
seus precursores, a grande diversidade de tipos existentes, suas variações e
implicações para a comunicação.
1
Dados coletados em pesquisa de campo
com 23 blogueiros e relatados em NARDI,
Bonnie, SCHIANO, Diane, & GUMBRECHT,
Michelle. Blogging as Social Activity, or,
would you let 900 million people read
your diary? In:Proceedings of Conference
on Computer Supported Cooperative Work
(CSCW), Chicago, Estados Unidos, 2004.
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5. 4
1. Internet e páginas web
Celebrada como a rede das redes, a internet é definida como o mais democrático
dos meios de expressão e publicação. Para acessá-la é preciso um computador
multimídia conectado a ela e os programas adequados para operá-la, que são de
domínio público.
Apesar de ser muito fácil acessá-la, produzir e publicar conteúdo próprio requer
algum conhecimento técnico, que se torna mais simples a cada dia. Até pouco
tempo atrás, a produção de páginas na internet era restrita àqueles com know-
how para operar com intimidade os programas e processos necessários. Hoje isso
mudou, mas é sempre importante conhecer a estrutura que sustenta a web.
Como realmente funciona a rede mundial e quais as principais redes que existem
através dela?
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6. 5
1.1. Internet ≠ páginas web
É fácil confundir os termos Internet e Web, pois estão intimamente ligados. As
diferenças serão analisadas a seguir, mas, pode-se afirmar a princípio que a World
Wide Web é parte da internet.
Os primeiros esforços para formar uma rede de comunicação entre computadores
surgiram na época da Guerra Fria, com objetivos militares: a proposta era formar
uma rede de troca de informação para alimentar os escritórios de defesa. No final
da década de 60, alguns anos após sua fundação, a ARPA (Advanced Research
Projects Agency), órgão do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, iniciou
investimentos em um projeto para estabelecer a primeira rede de computadores,
a ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network, ou rede da Agência de
Projetos de Pesquisa Avançada).
Em 1983, a ARPANET alterou a tecnologia utilizada para transferência de dados
e abriu seu acesso às universidades e centros de pesquisa, definindo o formato
da internet como é conhecida hoje. No início, a internet se restringia aos meios
técnico e acadêmico, que utilizavam a rede para troca de informações sobre
pesquisas (essencialmente através de serviços de e-mail e chat, em interfaces de
texto puro que envolviam muita programação).
Foi com o surgimento da world wide web que o meio começaria a se popularizar. A
web é uma interface gráfica para a internet, baseada em estrutura de hipertexto e
padrões específicos para a troca de dados. Seu projeto nasceu no CERN (Conselho
Europeu para a Pesquisa Nuclear, em francês) em 1989, mas ainda era uma proposta
muito diferente da utilizada hoje.
O projeto formal de criação da web como é conhecida foi publicado pelo pesquisador
do CERN Tim Berners-Lee, em 1990. Ele reuniu as tecnologias existentes e criou
três ferramentas que tornariam a web viável: o http (código – ou protocolo – para
a transferência de hipertexto); o HTML (linguagem para programar páginas em
hipertexto); e o sistema de endereçamento URL (um conjunto de quatro números
separados por pontos – algo como 154.106.4.255 – únicos e atribuídos a cada
endereço da web, servindo para localizá-los).
Apesar de todas essas novas invenções, o acesso à web só se popularizaria três
anos mais tarde, com o lançamento do programa Mosaic, que proporcionava uma
interface multimídia para a leitura de páginas HTML. Essa categoria de programas
(os mais famosos são Internet Explorer, Netscape Communicator, Firefox, Opera e
Safari) é chamada de browser (termo em inglês equivalente a fuçador). Berners-
Lee tinha inventado toda a estrutura, mas se esquecera de fazer um programa
para lê-la. Isso foi inventado por um estudante de graduação, como parte do seu
trabalho em um laboratório de universidade.
Apesar de todas as especificações técnicas que a sustentam – e de muitas outras
fundamentais, como a estrutura de roteadores, redes ethernet, protocolo TCP/IP
etc. - a interface da web é baseada na simplicidade o que, aliado à sua abrangência
e potência, a tornou o sistema de comunicação que mais conecta pessoas ao redor
do mundo.
A web se tornou um dos serviços promovidos pela internet mais utilizados, a
ponto de, muitas vezes, serem tomados por sinônimos.
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7. 6
Quando utilizam a internet, as pessoas navegam por um ambiente virtual. Os
computadores operados, no entanto, são bastante reais. Os dados acessados
remotamente costumam estar arquivados em uma máquina capaz de se conectar
com os outros diversos computadores e aparelhos eletrônicos que estão acessando
seu conteúdo. Estes computadores de alta capacidade de conexão e armazenamento
são chamados de servidores.
Para que se possa acessar conteúdo da web, o computador, conectado à rede, deve
se comunicar com um servidor. Isto acontece através de um código de identificação
que todos os aparelhos conectados possuem. Quando o usuário digita o endereço
de uma página, ele está enviando um pedido de acesso a um servidor que identifica
a máquina solicitada e envia uma cópia dos dados do site de volta, que são lidos
pelo browser e disponibilizados na tela do computador.
Este diagrama mostra de uma forma simples como o processo funciona:.
O modo mais simples e barato de um computador se conectar à internet é através
do telefone (processo chamado de conexão discada ou dial-up). As limitações e
ruído nas linhas costumam tornar o processo pouco eficiente.
Outra forma muito mais eficiente e rápida de conexão e a Banda Larga, que tem
esse nome por causa da maior capacidade para a transferência de dados. Uma
conexão de banda larga pode ser feita através de uma linha telefônica digital
especial (também chamada de DSL – Digital Subscriber Line), por cabo, rádio ou
microondas (satélite). Independente do tipo de conexão, o computador deve se
comunicar com seu Provedor de Acesso ou Internet Service Provider (ISP). Isso
também vale para aparelhos como GPSs, PDAs e telefones celulares que acessam
a internet.
No caso de uma empresa ou qualquer outra instituição que possua diversos terminais
conectados, forma-se uma rede local ou Local Area Network (LAN) que fará a
comunicação com o provedor. Nessas estruturas que se dão as Intranets, redes de
comunicação restritas com o mesmo equipamento e interface da internet.
1.2. Servidores e linguagens
COMPUTADOR PESSOAL
COM BROWSER
SERVIDOR CONFIGURADO PARA
ACESSAR A INTERNET
O BROWSER SE CONECTA
AO SERVIDOR E SOLICITA
UMA PÁGINA
O SERVIDOR BUSCA A PÁGINA
E A ENVIA AO COMPUTADOR
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8. 7
Os provedores são conectados em cadeia até grandes concentradores (normalmente
em empresas de telefonia ou infra-estrutura) que distribuem o acesso para
uma grande área ou mesmo para um país inteiro através de uma rede de fibra
óptica. Essas máquinas se conectam aos backbones, principais canais de conexão
que interligam o mundo através de cabos submarinos, redes de fibra óptica e
satélites.
O diagrama abaixo mostra como funciona o esquema descrito:
A linguagem mais usada para formatar as páginas web é o HTML (Hypertext Markup
Language), que é uma forma simples de formatar textos, imagens e links e dispô-los
em uma página. No entanto, para se ter acesso a recursos mais sofisticados, como
a administração de bancos de dados, existem outras linguagens mais eficientes.
Outro grupo de linguagens é utilizado para a programação de páginas dinâmicas,
atualizadas automaticamente, animações e até para a inclusão de pequenos
programas no conteúdo das páginas.
À medida que se utilizam muitos recursos, o acesso pode ser dificultado para
usuários que não possuam banda larga ou computadores mais potentes. A
definição das limitações técnicas é muito importante para determinar o fluxo da
informação e do acesso e para mensurar se, para os usuários finais, os benefícios
compensam as barreiras.
LINHA TELEFÔNICA,
BANDA LARGA (DSL),
CABO OU SATÉLITE
RESIDENCIAL COMERCIAL
REDE
LOCAL
LINHA
DE ALTA
VELOCIDADE
(T1, T3)
PROVEDOR
LOCAL
BACK-
BONE
PROVEDOR
REGIONAL
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9. 8
Seguem listadas abaixo algumas das principais linguagens e recursos utilizados:
Apesar da web ser estabelecida sobre princípios básicos de simplicidade, existe
hoje muita técnica envolvida e diversos conceitos são desconhecidos pelo público
leigo. Existe até uma corrente de design chamada tableless que busca fazer a web
voltar às suas origens. Sites desenvolvidos segundo seus princípios costumam ser
mais compatíveis e fáceis de se usar, mas ela não se aplica para sistemas mais
sofisticados. Sua aplicação pode ser boa para evitar que se use aplicativos de
muita memória e complexidade – como Java – para realizar funções simples, como
animações.
Linguagem
HTML
(Hyper Text Markup Language)
Java
Javascript
CSS
(Cascading Style Sheets)
Plug-ins
(existem centenas, entre os mais
populares estão: Quick Time,
Real,iPix e Adobe Reader)
Flash
ASP,PHP
O que é?
Linguagem básica entendida por
qualquer programa de acesso à
web. É uma linguagem de marcação
de layouts, não uma linguagem de
programação completa.
Pacote completo de aplicativos
e linguagem executados para
internet.
Código pequeno, embutido na
página HTML, ampliando suas
funções.
Conjunto de regras para definir
estilos de apresentação (tipo de
tamanhos de letras, cores, etc.).
Mini-aplicativos instalados no
browser para suportar formatos
especiais (como vídeo) e expandir
a capacidade do mesmo.
Tipo especial de plug-in que
permite programação em ações
interativas com o usuário.
Programas para leitura de banco
de dados e geração de páginas
dinâmicas.
Uso
Usada para desenhar páginas web.
O HTML organiza a estrutura e
formata os elementos de um site.
Bom para gerenciar bancos de
dados e comunicação de rede.
Trabalha com diversas plataformas
e é segura. Usada em sistemas de
Home Banking.
Gera comandos para automatizar
tarefas de rotina. Alivia o servidor
e realiza tarefas no computador
do usuário. Pode travar algumas
máquinas menos potentes.
Usado em códigos HTML para
torná-los mais simples, uniformes e
eficientes.
Usados para leitura de
determinados formatos específicos
e efeitos especiais. Sobrecarregam
a memória e dificultam a
transmissão – devem ser usados
somente quando essenciais.
Usado geralmente em sites com
botões e ações animadas.
Usados geralmente em sites
atualizados automaticamente ou
que envolvam grandes bancos de
dados.
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10. 9
A tecnologia listada no tópico anterior é necessária para que a internet funcione.
Para publicar conteúdo é preciso, no entanto, outro conjunto de tecnologias e
linguagens.
Como já foi visto, para se estabelecer uma página na web seu conteúdo deve
estar arquivado em um servidor conectado à internet. Este conteúdo recebe uma
identidade, composta por quatro números. Para facilitar a memorização, criou-se
o registro de domínio, que nada mais é que um nome e categoria associados a esse
número. Por exemplo: bradesco.com.br e assim por diante.
No Brasil, a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo)
é a instituição responsável pela administração e registros de domínio. Existem
algumas convenções para registrar um domínio que podem ser encontradas no
site http://www.fapesp.org, mas as principais são: ausência de registro anterior
ativo; respeitar as regras de nomenclatura (evitar palavras de baixo calão, espaços
e certos caracteres especiais são algumas delas - domínios com extensão .br já
podem utilizar acentos e cedilhas); as diferenças de extensões (.com para registros
comerciais, .org para ONGs, etc.) e algumas regras específicas para pessoas físicas
e jurídicas.
Após o registro do domínio é necessário selecionar conteúdo e produzir a página,
normalmente em HTML. Páginas geradas em HTML se adaptam aos recursos
disponíveis, por isso podem gerar resultados diferentes conforme o computador
utilizado, versão e tipo de browser, tamanho da janela para visualização, aplicativos
instalados e assim por diante. Portanto, o material produzido deve ser testado em
vários equipamentos e browsers antes de sua publicação.
Cumpridas as etapas de produção e publicação, a página deve ser administrada
para corrigir problemas de conteúdo e atualizar informações. Tarefas mais simples
como estas, que não envolvem alteração de estrutura da página ou do banco de
dados, podem ser feitas por alguém sem conhecimento técnico, mas que saiba
utilizar um programa de administração de páginas. Estes programas, normalmente
feitos sob encomenda, costumam possuir uma interface amigável para alteração e
publicação de conteúdo, sem interferir na estrutura no site.
Assim, para publicar uma página web a ponto de poder controlar e configurar
todos os detalhes dela é preciso contratar equipes especializadas, adquirir
programas caros e realizar treinamentos, o que torna este tipo de publicação
restrito a empresas com bom volume de recursos.
Existem alguns serviços de hospedagem gratuitos para páginas pessoais, como o
GeoCities da Yahoo!, e mesmo para usuários registrados de alguns portais nacionais
como o Terra e o UOL, mas eles possuem limitações de espaço e de tecnologia,
obrigando o usuário a lidar com programas específicos para configurar e produzir
conteúdo para o site.
Analisar estes aspectos torna a internet menos atrativa para a publicação individual
e mostra que ela não é tão democrática como parece. Mas como é um meio em
constante evolução, novas tecnologias começam a surgir para tornar a produção
de páginas mais popular e interessante.
1.3. Publicar páginas web
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11. 10
Existem outras duas aplicações da internet que não fazem parte da web e são tão
usadas quanto ela, se não mais. São os serviços de e-mail (Eletronic Mail) e IM
(Instant Messaging).
Amplamente utilizados na internet, esses serviços têm como diferencial a troca de
mensagens entre indivíduos ou grupos restritos, não abertos para o público.
Enquanto a web é uma rede de informações disponível para acesso público, e-mail
e IM são serviços de comunicação privada entre indivíduos e grupos fechados.
É possível determinar qual desses serviços é mais utilizado? Quanto tempo
um indivíduo gasta com cada um deles? Estas questões mostram que o uso da
internet não está restrito à web. O tempo dispendido on-line a escrever e-mails,
respondê-los e utilizar ferramentas de IM costuma ser maior do que o tempo
gasto navegando pela web, o que mostra a importância que essas ferramentas de
comunicação aquiriram.
Sistemas de e-mail e IM são killer applications, termo usado para designar
ferramentas que se tornam muito populares e acabam formando um importante
nicho de mercado. O e-mail surgiu na década de 60, antes mesmo da internet,
como forma de comunicação entre os múltiplos usuários de um computador
mainframe. Logo depois começou a ser usado para passar mensagens entre
diferentes computadores. Com o surgimento da web, apareceram os serviços de
webmail, que permitem o acesso a e-mail direto de um website, sem a necessidade
de se configurar a máquina que os recebe. O serviço Hotmail, da Microsoft é o mais
popular, mas Google (Gmail) e Yahoo! também oferecem este serviço.
Ainda que os serviços de correio eletrônico possam ser configurados e acessados
via web, os mesmos formam uma rede distinta, para qual cada usuário possui sua
identificação e senha de acesso.
O IM possui como princípio a troca de mensagens instantâneas e estaria para o
telegrama assim como o e-mail está para a carta. O primeiro programa de IM para
a internet surgiu em 1996, o ICQ, uma brincadeira com a frase em inglês I seek
you. Depois do ICQ muitas outras versões surgiram, entre eles, MSN Messenger e
Yahoo! Messenger. Em 1998 a empresa America Online (AOL) comprou o ICQ e em
2002 patenteou nos Estados Unidos o termo instant messenger.
Para utilizar um programa de IM, o usuário deve instalar em seu computador o
aplicativo do serviço que escolher. A troca de mensagens também ocorre através
de um protocolo ou código, mas, neste caso, cada empresa desenvolveu um código
próprio e não há um padrão como existe para a troca de e-mails ou para a web.
Através de IM é possível trocar mensagens escritas, arquivos e mesmo realizar uma
vídeo conferência em tempo real, se os dois computadores possuírem webcam e o
sistema compatível para utilizar esta funcionalidade. De certa forma, para alguns
usos, o IM substituiu o e-mail pela facilidade e rapidez que possui.
Estas duas formas de comunicação digital ajudam a manter e ampliar o círculo
social do indivíduo, mas além delas existem outros meios de conviver em um
ambiente virtual.
1.4. E-mail e IM
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12. 11
Os dois sistemas de comunicação citados, e-mail e IM, são formas de interação e
troca de informações em grupos fechados. Os temas são os mais diversos e variam
conforme o interesse do indivíduo, mas geralmente são usados para mensagens
e assuntos pontuais, que não se estendem por longos períodos nem costumam
alcançar abrangência ou profundidade.
Outros sistemas de comunicação foram criados para darem suporte à discussão
em grupo mediada por computadores, como os fóruns on-line e listas de e-mail.
Os fóruns costumam ser mediados e ter temas fixos de discussão ou até permitir
que eles surjam com a interação de seus usuários. A função do mediador (ou
moderador) é assegurar que a discussão mantenha o foco no tópico estabelecido e
evitar propagandas, mensagens pessoais e outros tipos de conteúdo indesejado.
Já nas listas de e-mail, a dinâmica das conversas funciona de uma forma um pouco
diferente, pois os participantes recebem em suas caixas postais as mensagens
enviadas para o grupo, enquanto os participantes do fórum costumam visitar o
site em que o mesmo está hospedado. Elas têm diversos fins, de amigos mantendo
contato a veículos e empresas divulgando novidades.
Assim como o fórum, a lista de e-mail pode ser moderada ou aberta para qualquer
interessado que se cadastre.
Neste sentido, a expressão individual fica limitada às convenções e limites daquele
espaço virtual. E-mails pessoais e IM são mais livres, porém menos abrangentes. As
páginas pessoais poderiam ocupar este espaço, mas como já foi visto, limitações
técnicas restringem a publicação de conteúdo a poucos experts.
A internet, nesses termos, parece bem menos democrática. É uma rede mundial
conectando pessoas, na qual poucos indivíduos com conhecimentos técnicos
podem publicar conteúdo e moderar grupos de discussão. A produção de
mensagens continua restrita a alguns pontos de discussão, nos quais os indivíduos
se expressam de forma fragmentada e/ou moderada.
Doc Searls e David Weinberger2
acreditam que existem três princípios básicos da
internet que contribuíram para a importância, influência e tamanho que ela possui
hoje: ninguém é proprietário da rede; todos podem utilizá-la; qualquer um pode
contribuir para sua melhoria. É justamente a sua característica anárquica que faz
com que a internet cresça organicamente e não exista forma de medir, controlar
seu tamanho ou direcionar os caminhos que a comunicação toma através dela. É
uma bela promessa, mais ainda não foi cumprida. A internet e a web ainda estão
sofrendo mudanças e ganhando acesso para que no futuro seus três princípios
básicos sejam realidade, acessíveis e usufruídos por todos.
Um formato novo de página pessoal e publicação é um passo nessa direção. Ele
começou a aparecer em meados dos anos 90, mas sua popularização só aconteceu
após 2001. Ele ainda não tem forma definida e novas soluções e propostas têm
surgido a cada instante. Este formato será analisado nas próximas páginas.
1.5. Discussões on-line
2
SEARLS, Doc, WEINBERGER, David. World
of Ends. What the Internet Is and How
to Stop Mistaking it for Something Else.
2003. http://www.worldofends.com
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13. 12
A velocidade com que novas tecnologias aparecem pode ser assustadora. No
entanto, mais assustadora é a rapidez com que novas ferramentas são assimiladas
e passam a fazer parte do cotidiano dos usuários da internet. Como foi o Orkut
em 2004. Esta ferramenta de relacionamento ou social networking se popularizou
rapidamente entre os usuários de internet brasileiros e gerou uma febre, a ponto
de ser impensável alguém não participar dela.
Os weblogs, ou simplesmente blogs, fazem parte deste universo. Esta ferramenta
de publicação de páginas pessoais está mostrando uma nova forma de encarar a
troca de informações e a construção da opinião pública. A onda de blogs começou
no Brasil aproximadamente no início do ano 2000, embora tenha tomado a
forma pela qual é conhecida hoje em 1997 com o Scripting News3
de Dave Winer,
programador que criou uma das primeiras ferramentas para a publicação de blogs.
Ele mantém seu blog até hoje.
Os blogs começaram a ganhar maior audiência em 2001, após os ataques de 11 de
Setembro, em razão da guerra contra o terrorismo iniciada pelos EUA. Muitos deles
apoiavam o governo norte-americano, que iniciou suas ações com a invasão do
Afeganistão em Outubro de 2001. Em 2002, essa forma de expressão continuou a
ganhar leitores e o número de blogueiros, como são chamados os autores de blogs,
aumentou com as ameaças de invasão do Iraque. Estes que ganharam projeção
na mídia tradicional foram chamados, devido à discussão que alimentavam, de
warblogs (blogs de guerra). O termo foi cunhado por Matt Welch, jornalista que
iniciou seu blog em 17 de Setembro de 2001. Seu primeiro texto mostra o clima
em que surgiram os warblogs4
:
Bem-vindos à Guerra. Soa como uma coisa estranha e desagradável
de dizer, mas estes são tempos estranhos e desagradáveis, pedindo
respostas incomuns. Como muitos de vocês, eu leio, ouço e assisto
a muita coisa sobre o horror de 11 de Setembro, e acho um
desafio entender a forma como isso muda nossas vidas. A grande
questão para os americanos e outros povos decentes é como o
mundo civilizado e o seu país mais forte deveriam responder a
esse assassinato em massa. Eu, pelo menos, defendo uma Guerra
Global para abolir o terrorismo. Muitos de vocês provavelmente
discordam. Existem – graças aos valores defendidos pelos Estados
Unidos – muitos fóruns para se discutir sobre os vários assuntos
que estão surgindo, de preocupações sobre as reduzidas liberdades
civis a um incrível aumento de segredos governamentais. Este será
o meu... e o seu também, se você quiser me enviar um e-mail
e concordar com que eu divida isso com os outros. Não existem
muitos que podem pensar e escrever claramente em razão desta
terrível tristeza, e eu não digo que sou um deles, mas tentarei.
Este site também será uma forma de acompanhar a imprensa,
permitindo que você e eu possamos monitorar e reagir à cobertura
dada e às opiniões conforme elas forem acontecendo. Eu sempre
esperei conduzir meus assuntos sem utilizar os blogs, mas novos
tempos pedem novas mídias. Vamos nos mexer.
09/17/2001 0:00
2. Blogs e a popularização
da expressão
3
http://www.scripting.com
4
http://mattwelch.com/archives/
week_2001_09_16.html
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14. 13
Muitos dos blogs que adotaram as discussões sobre a guerra também assumiram
caráter político pouco depois. Em 2004, ganharam notoriedade por seu papel nas
eleições dos EUA e também pela derrubada de dois grandes ícones do jornalismo
norte-americano, Dan Rather da CBS e Eason Jordan, diretor executivo da CNN. O
jornalista da CBS anunciou que se aposentaria após uma série de críticas iniciadas
em blogs a uma reportagem que se baseava em documentos falsos. Quanto ao
executivo da CNN, seu pedido de demissão resultou de uma declaração dada
durante o Fórum Econômico Mundial que desencadeou protestos entre blogueiros
e, a seguir, na mídia tradicional.
Os blogueiros também tiveram papel importante na identificação de vítimas
da Tsunami, no final de 2004 e início de 2005, assim como na arrecadação de
doações. Também foi por causa de seu blog que um jornalista iraniano, Sina
Motallebi, foi preso em 2003. Ele escrevia livremente sobre a situação no país e
sua prisão mobilizou blogueiros a pedirem sua libertação. Na Califórnia, no início
de 2005, foi iniciado um processo judicial que devia decidir se os blogueiros são
ou não jornalistas e se podem manter suas fontes em segredo. No final de 2004,
na Coréia do Sul, foi detectado que 30% dos usuários de internet (ou 11 milhões
de pessoas) possuíam um blog. Uma porcentagem maior que dos EUA, onde, na
mesma época, estimava-se em 7% (ou 8 milhões de pessoas).
Nunca houve um meio de comunicação como a internet, pela facilidade de
publicação, alcance, velocidade e democracia que esta nova mídia proporciona.
Até pouco tempo atrás, o privilégio de divulgar informações e opiniões estava
restrito a alguns veículos de grande circulação que faziam parte de grandes
conglomerados de comunicação. A multiplicidade de opiniões ficava prejudicada e
o leitor tinha uma atitude passiva diante destes grandes meios. Com a web e, mais
tarde, com a popularização do blog esta situação começou a mudar.
Os próximos tópicos buscam analisar as principais características e peculiaridades
dos blogs.
PAULA FINAL.indd 13 14/6/2005 15:00:21
15. 14
O termo surgiu da contração de web (rede) e log (registro). Foi Jorn Barger, que
escreve o Robot Wisdom, um blog que disponibiliza diariamente diversos links
para notícias, eventos e sites interessantes, quem utilizou a palavra weblog pela
primeira vez, em 1997. Logo, a ferramenta passou a ser chamada simplesmente de
blog. A palavra também ganhou derivações: escrever um blog é blogar; o autor é
o blogueiro; e blogosfera é utilizado para se referir ao universo que abrange todos
os blogs existentes.
Um blog pode ser descrito como uma página pessoal na internet que é atualizada
frequentemente e possui informações datadas organizadas em ordem cronológica
inversa (iniciando pelos acontecimentos mais atuais). Mas ainda é uma descrição
superficial daquilo que o blog pode representar. Como não existe uma definição
exata de blog, algumas serão apresentadas aqui.
Dave Winer, autor de um dos primeiros blogs existentes dá sua definição:
Weblogs são sites frequentemente atualizados que se referem a
artigos em algum lugar da web, geralmente com comentários, e
a artigos no próprio site. Um weblog é um tipo de tour contínuo,
com um guia humano que você acaba conhecendo. Existem muitos
guias para escolher e cada um desenvolve uma audiência. Existe
camaradagem e política entre as pessoas que o dirigem. Eles se
referem uns aos outros através de todos os tipos de estruturas,
gráficos, curvas, etc.5
Em Março de 2003, o Oxford English Dictionary incluiu as palavras weblog, weblogging
e weblogger. A definição de weblog dada: um site frequentemente atualizado que
consiste em observações pessoais, excertos de outras fontes, etc., tipicamente
dirigido por uma pessoa, e geralmente com hyperlinks para outros sites; um jornal
ou diário on-line. O dicionário on-line da Merriam-Webster, registrou que a palavra
blog foi a mais procurada em 2004. No Brasil, o novo dicionário Caldas Aulete traz
a seguinte definição para blog: página da internet com conteúdo livre que depende
da autorização do criador para que os visitantes possam adicionar comentário.
Biz Stone, blogueiro independente que depois foi contratado pela Google para
conduzir o blog do Blogger.com, uma das ferramentas e provedores de hospedagem
para blogs mais populares, publicou em seu livro Who Let The Blogs Out a seguinte
passagem:
Então, o que é um Blog?
O blog é um meio de se expressar, uma publicação pessoal, um
diário, jornalismo amador, a maior invenção tecnológica desde
o e-mail, uma comunidade on-line, mídia alternativa, currículo
para estudantes, uma estratégia de relacionamento com o
consumidor, gestão do conhecimento, reflexão inútil, uma solução
para o tédio, um trabalho dos sonhos, um estilo de escrita, uma
forma de mandar e-mail para todos, uma febre, a resposta para
o analfabetismo, uma identidade on-line, uma rede social, local
para divulgação de currículo, local para fotos de celular, ou algo
para esconder de sua mãe? É tudo isso e mais.
2.1. O que é um Blog?
5
http://www.scripting.com
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16. Um blog é uma coleção de conteúdo digital que, examinado durante
um período de tempo, mostra a alma intelectual do autor ou dos
autores. Blogar é o ato de criar, compor e publicar este conteúdo;
e um blogueiro é a pessoa atrás da cortina. Parte software social
e parte construção da web, blogar é uma publicação P2P (entre
amigos) – o futuro das nossas vidas conectadas.6
Está é talvez uma das explicações mais completas do que seja um blog. Mas não
pode ser considerada uma definição exata.
Outra tentativa de definição pode ser feita através da listagem dos tipos de blogs,
pois eles podem tomar caminhos e ter personalidades completamente distintas.
Na Wikipedia, enciclopédia on-line editada por qualquer usuário da internet, há
uma tentativa de categorizar os tipos de blogs pelo seu conteúdo ou formato:
Tipo
Pessoal
Tópico
Reflexivo
FriendBlog
Informativo
Colaborativo
Político
Legal
Diretório
Corporativo
Conteúdo
Diários íntimos nos quais são
publicadas experiências do
dia-a-dia, histórias pessoais,
pensamentos, comentários relativos
ao indivíduo, poemas, textos etc.
Textos sobre um único tipo de
assunto, às vezes técnico.
Comentários de caráter mais
filosófico sobre assuntos gerais.
Rede de amigos com os mesmos
interesses em que os blogs estão
conectados. O que for publicado em
um aparecerá nos outros.
Resumos, comentários e links para
notícias diversas.
Textos, geralmente sobre um tópico
específico, escritos por mais de
uma pessoa.
Comentários sobre política.
Conteúdo legal e questões judiciais.
Blog que recomenda websites.
Produzidos por funcionários
das empresas ou pelas próprias
empresas como forma de se
comunicar com seus públicos.
Exemplo
http://www.meurefrigerador.blogger.
com.br
http://www.brunasurfistinha.com/
blog
http://10paezinhos.blog.uol.com.br
http://eternalchild.blogspot.com
http://www.funchain.com
http://www.nominimo.com.br
http://www.despropaganda.blogger.
com.br
http://www.markun.weblogger.terra.
com.br
http://crimlaw.blogspot.com
http://robotwisdom.com
http://www.microsoft.com/
communities/blogs/PortalHome.
mspx
6
STONE, Biz. Who Let the Blogs Out? A
Hyperconnected Peek at the World of
Weblogs. Griffin: St. Martin’s, Nova
Iorque, EUA, 2004, pp.34-35.
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17. A classificação da tabela é arbitrária, já que muitos blogs podem ser categorizados
em mais de um dos tipos listados. As possibilidades de categorização dos blogs
são infinitas, pois é possível ter subtipos. Por exemplo, em blogs pessoais é
possível identificar desde blogs de produção literária pessoal a blogs de garotas de
programa. E mesmo nestes subtipos serão encontradas diferenças significativas.
Independente do tipo de blog, ele é um espaço aberto para discussões. Uma
das características mais marcantes da internet é sua capacidade de impulsionar
a troca de experiências e informações assim como abrir espaço para o usuário
expressar sua opinião. Neste sentido, pode-se dizer que o blog é uma evolução das
primeiras formas de troca on-line. Fóruns e listas de e-mail são, sob este aspecto,
precursores dos blogs. Nestes espaços virtuais os usuários começaram a exercitar
a possibilidade de discutir sobre os mais variados tópicos, dar sua opinião e ser
reconhecido. Mas ainda eram limitantes do ponto-de-vista da expressão individual.
O blog funciona como uma ferramenta mais elaborada que permite ao usuário
criar suas próprias discussões, expressar suas opiniões com maior profundidade,
continuidade e compartilhá-las com vários outros, conhecidos ou não.
Geralmente o blogueiro é independente. Não costuma existir compromisso com
linha editorial ou códigos de ética, senão os do próprio autor. Além disso, a
própria estrutura do blog incentiva a interação. Ao final de cada post (texto
inserido no blog) existe um canal para que o leitor deixe seus comentários e
indique o endereço de seu próprio blog para dar início a uma possível discussão
ou relacionamento. Estes comentários ficam disponíveis para todos os que tiverem
interesse.
O blog também costuma exibir uma lista de links para outros blogs, indicando que
existe uma conversa ou algum interesse nos links apontados. Outras ferramentas
populares, que serão detalhadas em outro tópico, permitem indicar ao blogueiro
que seu texto foi citado em outro blog. Por tudo isso, a blogosfera é um ambiente
propício para a interação e participação.
Tipo
Dicas
Formatos Especiais
Áudio
Fotografia
(fotolog)
Vídeo
Conteúdo
Sugestões sobre determinado
assunto.
Blogs com forma de apresentação
especial. O moblog (mobile blog)
é baseado essencialmente em
conteúdo multimídia gerado por
telefones celularers (fotos, sons,
textos, vídeos).
Blogs que disponibilizam sons,
normalmente em formato MP3.
Para divulgar e compartilhar fotos.
Conteúdo complementados (ou até
substituído) por vídeos.
Exemplo
http://ksuweb.kennesaw.edu/
~showard
http://www.jamieoliver.com/moblog
http://www.curry.com
http://www.fotolog.net/tonemai
http://michaelverdi.com/index.htm
Mais informações sobre fóruns e
listas de e-mail no tópico 1.5.
Mais informações no tópico 2.2, página 23.
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18. 17
É verdade que nem todos os blogs disponibilizam espaços para comentários, mas
estes são uma minoria e, mesmo assim, costumam disponibilizar um endereço de
e-mail para contato.
O blog Dooce é um exemplo: a autora disponibilizava um espaço para comentários
na área em que publicava fotos, mas teve que desligá-la porque a quantidade
visitas diárias e o número de comentários estavam sobrecarregando seu servidor.
Seu blog é um dos mais visitados.
http://www.mindgap.blogger.com.br
Na esquerda estão links para outros blogs
e o link para deixar comentários está no
final do primeiro texto, onde se lê “2
Oooooops!”. A estrutura é simples e todos
os blogs seguem quase o mesmo padrão,
por isso se torna intuitiva para o leitor.
Quando se clica no link de comentários,
uma janela se abre com espaço para
o leitor deixar suas opiniões. Lá
também estão listados os comentários
já deixados por outros usuários.
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19. 18
O blog pode ser definido, portanto, como um local para se expressar e construir
relacionamentos. A blogosfera, conjunto de conteúdo e interação formado pelos
blogs, é um como organismo vivo em constante transformação. Através das visitas
regulares a outros blogs, dos comentários deixados, das discussões geradas e
links feitos para blogs ou posts surgem afinidades e conversas, delas emergem
naturalmente pequenas comunidades, que desenvolvem cumplicidade e também
códigos internos.
Essa rede de blogs é como uma cidade do interior de tamanho
monumental7
Desta interação entre os blogueiros que ora são autores, ora leitores, decorre a
multiplicidade de idéias. Os papéis se invertem e a construção do blog é feita em
conjunto com a audiência, que comenta, discute e dá idéias.
No entanto, manter um blog não é simples. Exige paciência e vontade. Por isso
é grande o número de blogs que surgem diariamente, mas poucos os que duram
por um longo tempo e se mantêm atualizados. Justamente porque para mantê-los
vivos e ativos é necessário ser sincero, ter o que dizer e paixão pela atividade.
O blog acaba por funcionar como uma persona digital do autor e é isso que o
mantém vivo.
Diante disso, existe uma outra questão que pode ser apresentada: muitos veículos
tradicionais adicionaram um blog à sua versão on-line, como a revista americana
Business Week ou o jornal inglês The Guardian. São páginas com a estrutura de
um blog, que contêm posts curtos em linguagem informal feitos por um ou mais
jornalistas, links e espaço para comentários dos leitores. Estes meios podem
realmente ser considerados blogs? De uma forma ou de outra existe uma linha
editorial a ser cumprida e regras do veículo, como no Blogspotting da Business
Week em que os comentários são lidos e filtrados antes de serem publicados.
Pode-se dizer destes que seriam pseudoblogs? E o que dizer de blogs criados para
campanhas de relações públicas, como o do desodorante Sparkle Body Spray? Ou o
projeto Vespablogs, que reunirá conteúdo escrito por blogueiros contratados pela
divisão dos EUA da fabricante das motos Scooter?
http://www.dooce.com
7
SCHITTINE, Denise. Blog: comunicação
e escrita íntima na internet. Civilização
Brasileira, Rio de Janeiro, 2004, p.91.
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20. 19
O blog Sparkle Body Spray, lançado pela empresa Procter & Gamble como parte de sua
campanha publicitária para atrair consumidoras pré-adolescentes e adolescentes.
O site funciona como um blog coletivo em que cada uma das quatro fragrâncias
do desodorante é transformada em um personagem fictícia, na faixa etária do
público-alvo, e publica textos relacionados ao dia-a-dia de uma adolescente.
O projeto Vespablogs pretende reunir blogs temáticos dirigidos ao publico jovem,
consumidor da Scooter, que serão escritos por pessoas que já possuem blogs. A
idéia é contratar autores que tenham intimidade com o produto e a blogosfera.
Não está no escopo deste trabalho definir se estes podem realmente ser
considerados blogs. Estas questões foram levantadas para discussão e devem ser
abordadas em futuros questionamentos. Da mesma forma, não se pretende chegar
a uma conclusão definitiva do que é um blog, pois o meio ainda não chegou a um
formato definitivo, se é que um dia chegará ou que a expressão formato definitivo
faz algum sentido quando se trata do assunto. Chegar a tal resposta mudaria o
foco desta análise que pretende verificar o impacto dos blogs na comunicação e
analisar as suas variações. É o que será visto a seguir.
http://www.sparklebodyspray.com
http://www.vespablogs.com
Mais informações sobre esse case no tópico
2.4, página 34.
Mais informações sobre esse case no tópico
2.4, página 35.
PAULA FINAL.indd 19 14/6/2005 15:00:34
21. Como qualquer outro meio de comunicação, os blogs possuem elementos essenciais
que possibilitam denominá-los como categoria, diferenciando-os das páginas
pessoais, websites individuais programados e desenhados por seus autores. Neste
tópico serão listadas algumas dessas características nem todas recorrentes e
fundamentais.
Cada blog possui traços próprios, que definem sua identidade e o diferenciam dos
outros. O tema abordado, estilo de escrita, design, formatação da página, funções
disponíveis, formas de mostrar links e indicações, são os principais elementos
que são apropriados por cada blogueiro de uma forma diferente dos outros e
determinam a personalização do seu blog sem que deixe de fazer parte desta
categoria, identificada pela flexibilidade e facilidade de uso.
Por ordem de complexidade:
Post – é o texto publicado pelo autor. Formado pelo título (em algumas ferramentas,
opcional); link, referência a algum arquivo do próprio blog ou outra página da
web (não obrigatório, mas muito usado); e descrição ou corpo do texto. São
organizados na página em ordem cronológica inversa (iniciando pelo texto mais
recente).
Comentários – normalmente dispostos em outra janela, que se abre para dispor
os comentários deixados por outros leitores e as respostas do autor. Para deixar
comentários, é preciso, normalmente, preencher três campos com as seguintes
informações, não obrigatórias: nome, e-mail e endereço do seu site ou blog.
2.2. Características
e anatomia
http://www.casadochico.blogspot.com
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22. 21
Arquivos – a home page do blog costuma possuir um limite máximo da quantidade
de posts a exibir (15 textos ou o conteúdo dos últimos 7 dias, dependendo da
configuração do autor). Quando o conteúdo excede o limite, ele passa a ser
arquivado por data em outra página, com link disponibilizado na home page.
Arquivo em forma de calendário
em http://todos.apostos.com
Arquivos disponibilizados por mês
em http://www.odeioescolherurl.
blogspot.com
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23. 22
Permalinks – cada texto publicado geralmente possui um permalink (permanent
link), ou endereço que permite fazer o link direto para este texto sem a
necessidade de buscá-lo entre os arquivos. Esta função é configurada pelo autor
e, normalmente, o endereço pode ser exibido clicando o sinal # ou a hora em que
o post foi publicado. Um exemplo de permalink: http://pilulasdigitais.blogspot.
com/2005/05/o-que-um-blog.html - o endereço do blog, o mês e ano de publicação
seguido do título, para identificar o texto específico.
Envie o post por e-mail – esta ferramenta possibilita que um leitor envie
facilmente por e-mail um link para o texto de sua escolha para algum amigo.
Templates – são os padrões de formatação e design utilizados para cada tipo de
informação localizada no blog. Os serviços de blog costumam oferecer modelos
para que o usuário escolha o seu. Para alterá-los, no entanto, o usuário deve ter
conhecimentos técnicos de programação. Com alguma experiência não é difícil,
mas ainda é uma barreira para a total apropriação do meio.
http://pilulasdigitais.blogspot.
com/2005/05/podcast-ser-
transmitido-por-estao-de.html
Neste exemplo, o permalink pode ser obtido
clicando no horário de publicação do post
Exemplo de e-mail enviado indicando o post.
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24. Categorias – algumas ferramentas também permitem a categorização dos posts
que, em vez de serem arquivados por ordem cronológica, ficam organizados por
assunto. O blogueiro cria suas próprias categorias.
Site Feed – é uma forma de obter notificações sobre a atualização da página
sem precisar acessá-la. Isso é feito através de programas leitores de formato RSS
(Really Simple Syndication). Um endereço ou URL que mostra o conteúdo em RSS
é disponibilizado e somente é necessário cadastrar o endereço no programa do
usuário. O link também pode aparecer em forma de selos escritos XML, ATOM, RSS
ou como syndication.
Pings – quando um blog é atualizado ele pode ser configurado para enviar,
automaticamente, um aviso para alguns sites como Weblogs.com, Technorati ou
blo.gs. Estes sites agregam informações sobre blogs para serem disponibilizadas
para os blogueiros, por exemplo, uma lista dos últimos blogs cadastrados que
foram atualizados. Ping é a palavra utilizada para designar esta notificação.
Trackback – é uma ferramenta que possibilita ao autor de um blog notificar
outro blog sobre uma referência feita ao post publicado originalmente por este.
Os links e a notificação ficam expostos junto ao post para que um leitor possa
seguir a discussão sobre aquele tópico. Os dois blogs precisam ter a ferramenta
instalada.
Notificação via e-mail – algumas ferramentas possibilitam o envio de um e-mail
avisando sobre a atualização do blog para membros de comunidades ou outros
autores do mesmo blog.
Estatísticas – indicam a quantidade de visitas, páginas visitadas e duração de
cada visita e permitem identificar de onde veio o link para o blog (por exemplo, de
algum outro website). Alguns serviços de blogs possuem suas próprias estatísticas
e aplicativos independentes, como o Sitemeter, realizam a mesma tarefa. A
quantidade e profundidade dos dados variam conforme o serviço.
Blogroll – é uma lista de links para outros blogs ou sites que o autor considere
interessante. Segundo Dave Winer8
, aqui é possível observar as relações políticas
entre os blogueiros tomando forma.
No lado direito é possível ver uma lista de
links com endereços já adaptados a cada
um destes programas leitores de RSS.
http://www.micropersuasion.com
8
WINER, Dave. What Makes a Weblog
a Weblog? Weblogs At Harvard Law
School, Cambridge, Estados Unidos,
2003. http://blogs.law.harvard.
edu/whatMakesAWeblogAWeblog
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25. Os blogs também possuem características diversas em relação a seu sistema editorial:
Níveis de acesso – certas ferramentas possibilitam que os membros de um blog
tenham níveis de acesso distintos, que variam conforme o tipo de alteração que
podem fazer no blog.
Perfil do autor – uma página pode ser disponibilizada com dados sobre o autor,
ou caso existam mais autores pode ser disponibilizada uma página para cada um.
As informações contidas nesta página são gerenciadas pelo blogueiro, que decide
o que será divulgado.
Grupos de discussão – algumas ferramentas também disponibilizam um grupo
de discussão entre os autores do blog, para o qual cada post publicado também
é enviado.
E, em relação ao conteúdo:
Texto – o texto completo pode estar disponível na página principal ou apenas um
resumo e um link para a leitura em outra página.
Imagens – dependem do padrão de cada ferramenta. Algumas permitem a
publicação através de outros aplicativos (como o programa Hello, disponível para
o Blogger.com). Imagens também podem ser publicadas através do celular, neste
caso o blog é chamado de Moblog. Existem também os Fotologs, uma variação na
qual as imagens possuem destaque e são o elemento principal - textos são usados
como legendas ou comentários às fotos.
Blog utilizando uma imagem
para complementar o post
http://www.blowg.pixelzine.com
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26. Audio - através de aplicativos também é possível disponibilizar arquivos de áudio
no blog. O podcast é uma tecnologia que ampliou esta possibilidade ao utilizar o
formato RSS: o usuário cadastra o endereço e recebe os novos arquivos de áudio à
medida que forem publicados, sem precisar acessar a página.
Fotolog.
http://www.fotolog.com/
tonemai/?pid=10007295
Moblog.
http://www.bloggerme.
co.uk/alistairs_moblog/
No lado direito abaixo da imagem
está o link para o podcast
http://www.cliqueaqui.com.br/impressoes/
Mais informações sobre RSS na página 23.
PAULA FINAL.indd 25 14/6/2005 15:00:48
27. 26
Vídeo – em alguns blogs, vídeos complementam os textos ou até os substituem.
Em relação às características essenciais que faz um blog ser realmente um blog,
Dave Winer tem uma opinião interessante:
(...) [Os blogueiros] escrevem sobre suas próprias experiências.
Se existe edição, isso não interfere no estilo da escrita. As
personalidades dos autores vêm à tona. Este é o elemento essencial
da escrita de um weblog. Quase todos os outros elementos podem
faltar e até mesmo as regras [que conhecemos] podem ser
violadas, contanto que a voz de uma pessoa se sobressaia. Isto é
um weblog.9
Videolog.
http://michaelverdi.com/index.htm
9
WINER, Dave. What Makes a Weblog
a Weblog? Weblogs At Harvard Law
School, Cambridge, Estados Unidos,
2003. http://blogs.law.harvard.
edu/whatMakesAWeblogAWeblog
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28. 27
Já que os blogs são mais que simples versões de diários on-line e que não são
criados e mantidos só por adolescentes. Quem seriam, então, os outros autores
da blogosfera?
Denise Schittine10
, jornalista que desenvolveu sua tese de mestrado sobre blogs,
realizou uma pesquisa de campo ao longo do seu trabalho e constatou que a
maioria dos blogueiros brasileiros era composta por adultos. O mesmo fato foi
constado pelas pesquisas a seguir.
No Brasil, o Jornal do Blogueiro11
, página popular na comunidade, realizou uma
enquete sobre o uso de blogs através de seu site e de uma comunidade no Orkut
durante o período de Outubro de 2004 a Janeiro de 2005. As respostas foram
enviadas por e-mail ou respondidas on-line. Por sua informalidade, não pode ser
considerada uma pesquisa científica (nem o número de pessoas entrevistadas está
disponível), mas a pesquisa é significativa pela popularidade do site entre os
blogueiros e pelas questões elaboradas.
Das pessoas que responderam à pesquisa do Jornal do Blogueiro, 66,37% tinham
entre 19 e 33 anos e 77,5% deles possuíam mais de 18 anos12
.
Na mesma pesquisa, 66,92% dos que responderam eram mulheres. Contudo, a
pesquisa também questionava o tipo de blog que o autor escrevia e o resultado
foi que 53,38% classificaram seu blog como pessoal. Considerando que não houve
amostragem para a pesquisa e que esta recebeu respostas espontaneamente, talvez
o dado mostre que mulheres tendam a escrever blogs mais pessoais, por isso a
grande quantidade de blogs femininos detectados pelo Jornal do Blogueiro.
O Jornal também fez outra questão interessante: o tempo de blog que os
respondentes possuíam. 38,98% afirmaram que escrevem seu blog há um ou dois
anos. Os que tinham menos de 6 meses representavam 19,49%. Considerando que
muitos blogs são iniciados e abandonados com pouco tempo de vida, o último
dado reforça o que Denise Schittine já havia constatado:
... a exigência de escrever com regularidade aliada à necessidade
de leitura pelo público desencoraja a maioria.13
Neste sentido, a blogosfera pode ser um pouco instável fora do núcleo representado
por autores mais antigos e consolidados. Sabe-se que muitos blogs surgem
diariamente, como mostrou o dado da pesquisa aproximadamente um em cada
cinco dos participantes eram autores de blogs recentes, mas poucos são mantidos
por um longo período.
Outra questão feita pela mesma pesquisa mostrou que um terço dos respondentes
possuíam mais de um blog, o que pode mostrar intensa atividade, provavelmente
dividida entre blogs temáticos, fotográficos, individuais e/ou coletivos.
Outros dados foram obtidos através do IBOPE/Netratings, e se referem ao período
de Janeiro de 2005.
A pesquisa realizada pelo IBOPE/NetRatings mostrou que 41,75% dos blogueiros
brasileiros têm entre 18 e 34 anos e 66,5% deles, mais de 18 anos. Os dados
mostram que a maioria dos autores de blogs não é adolescente. Também mostram
2.3. Quem tem um Blog?
12
Veja gráficos comparativos
no apêndice IV.
11
http://jornaldoblogueiro.blogger.com.br
10
SCHITTINE, Denise. Blog: comunicação
e escrita íntima na internet. Civilização
Brasileira, Rio de Janeiro, 2004.
13
SCHITTINE, Denise. Blog: comunicação
e escrita íntima na internet. Civilização
Brasileira, Rio de Janeiro, 2004, p.14.
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29. 28
que apesar da informalidade da pesquisa realizada pelo Jornal do Blogueiro, eles
chegaram próximo do que parece ser a realidade brasileira.
Com relação ao sexo dos autores, o IBOPE/NetRatings constatou que 54,71% dos
autores de blogs são homens, enquanto 45,29% são mulheres. Considerando que
os blogs costumam ser identificados, erroneamente, com diários on-line, este
dado é surpreendente, pois diários íntimos são geralmente escritos por mulheres.
Para entender melhor o dado seria necessário identificar tipos de blogs existentes
entre os brasileiros.
Algumas pesquisas feitas nos Estados Unidos, apesar de se tratar de outro país,
outra cultura, na qual o fenômeno blog ganhou proporções diferentes do Brasil,
trazem algumas informações interessantes.
O Pew Internet & American Life Project14
, responsável pela sondagem, é uma
fundação que estuda o impacto social da internet nos Estados Unidos. O centro de
estudos realiza pesquisas por telefone com usuários de internet acima de 18 anos,
com amostra que abrange todo o país. As perguntas sobre blogs foram iniciadas
em meados de 2002, o que possibilita uma visão histórica dos dados.
Em Junho de 2002, 3% dos usuários adultos de internet afirmaram ter um blog.
No início de 2004 este número era 5%; no final daquele ano estava em 7%15
; e
na última pesquisa realizada, entre Janeiro e Março de 2005, a porcentagem de
blogueiros entre os usuários adultos de internet era de 9%, o que representa mais
de 10 milhões de pessoas16
. Em relação aos autores de blogs adultos, com idade
superior a 18 anos, 57% são homens. Os blogueiros também são jovens, 48% deles
possuem entre 18 e 30 anos.
Outros dados interessantes sobre os autores de blogs são: 82% usam a internet há
seis anos ou mais; 39% possuem diplomas de curso técnico ou universitário; 70%
possuem banda larga em casa. Isto mostra que grande parte daqueles que usam a
internet com desenvoltura a ponto de manter uma publicação adquiriu intimidade
com o meio, o que também implica algum conhecimento técnico, além de acesso
a uma conexão que permita transitar pela rede sem problemas.
E quanto aos leitores de blogs? O Pew Internet & American Life Project incluiu
questões sobre a leitura de blogs, pela primeira vez, em 2003. Os primeiros
resultados mostraram que 11% dos usuários adultos de internet leram blogs.
No início de 2004, os leitores de blogs chegaram a 17% dos usuários; no final
daquele ano a porcentagem subiu para 27%. Não se pode esquecer que em 2004
aconteceram as eleições nos Estados Unidos e os blogs participaram ativamente
das discussões, ganhando exposição na mídia e, consequentemente, atraindo
leitores. Por esse motivo, talvez, a última pesquisa feita, entre Janeiro e Março de
2005, após as eleições, tenha detectado uma leve diminuição na porcentagem de
leitores de blogs entre os usuários da internet, 25%, devido à ausência de temas
polêmicos que demandem opiniões individuais.
Quanto às demais características, os leitores de blogs mantêm os mesmos traços
dos próprios blogueiros, pela própria intersecção existente entre os dois grupos:
formado em sua maioria por homens, entre 18 e 30 anos, com bom nível educacional
e usuários da internet há um bom tempo.
E quanto aos usuários de internet em geral, eles sabem com segurança o que
significa a palavra blog? Segundo os dados da pesquisa, 38% dos usuários
afirmaram que sim, enquanto 62% confessaram não ter certeza do significado
da palavra. A pesquisa ainda detectou que os 38% que conheciam o termo eram
antigos usuários que acessam a internet com freqüência e possuem um bom nível
14
http://www.pewinternet.org
15
RAINIE, Lee. The State of Blogging.
Pew Internet & American Life Project,
2005. http://www.pewinternet.
org/PPF/r/144/report_display.asp.
16
Atualização encontrada em: RAINIE,
Lee. New Data on Blogs and Blogging.
Pew Internet & American Life Project,
2005. http://www.pewinternet.
org/PPF/p/1083/pipcomments.asp
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30. 29
de escolaridade. Já os 62% que não tinham certeza sobre o significado da palavra
blog, mostraram ter menos intimidade com a rede e nível de escolaridade menor.
A grande porcentagem de usuários que desconhecem o significado correto da
palavra blog, 62%, surpreende pelo fato da pesquisa ter sido feita no final de
2004, que, como já foi dito, ficou marcado pela presença e participação dos blogs
na disputa política dos Estados Unidos.
Apesar dos dados apresentados mostrarem um panorama mais completo sobre os
blogs nos Estados Unidos, algumas informações coincidem com o Brasil: maior
número de blogueiros homens; concentrados na faixa etária dos 18 aos 30 anos;
e, também constatado pelo IBOPE/NetRatings, um bom nível de escolaridade.
Estas informações demográficas ajudam a contestar a visão de que o blog é um
diário íntimo na internet feito por adolescentes e, por outro lado, levantam
diversas questões: por que as mulheres são menos ativas na blogosfera? Já que a
maioria dos blogs é feita por homens, o gênero influi no tom ou conteúdo? Quais
as motivações para se escrever um blog? Por que muitos desistem de escrevê-los?
Quantos blogs são criados diariamente, e quantos abandonados? O que os leitores
de blogs procuram?
Estas e muitas outras questões precisam ser feitas para tornar a blogosfera menos
obscura e descobrir possíveis tendências indicadas pelos resultados, não somente
em relação aos blogs, mas também referentes ao futuro da relação das pessoas
com os meios de comunicação e através deles.
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31. O mundo globalizado vive um acelerado processo de modernização e urbanização.
Nesta sociedade em transformação, o indivíduo se confronta com a massificação,
o anonimato (típico das grandes cidades) e, recentemente, com uma cultura
digital emergente que, entre outras coisas, dá acesso a um enorme volume de
informações e a novas ferramentas de comunicação e expressão.
Neste contexto, nota-se entre as pessoas uma grande necessidade de expressar sua
personalidade, que se manifesta de diversas formas: modificações no corpo (como
tatuagem, piercing, cirurgia plástica); diferentes estilos de se vestir (seguindo a
moda ou misturando referências); gírias; atitudes de identificação com um grupo
ou de destaque entre seus membros; e assim por diante. Esta necessidade de fixar
uma identidade tem relação com o momento histórico atual:
Em oposição ao panorama cético proposto por Baudrillard, Frederic
Jameson defende o homem que habita o ambiente pós-moderno e
o classifica não como alienado, mas fragmentado. Segundo ele, a
noção de alienação presume um “eu” unitário e centralizado que
poderia ficar perdido. Mas se, de ponto de vista pós-modernista,
esse “eu” é descentralizado e múltiplo, o conceito de alienação se
desfaz e o que sobra é uma ansiedade por identidade.17
O blog é mais uma forma para o indivíduo se expressar, libertar-se da massificação
e do anonimato e dar voz à sua personalidade. Pode servir, portanto, como ponto
de partida para estabelecer conexões e expressar opiniões, funcionando como uma
extensão do autor no ambiente virtual.
Mais do que nunca, nesse ambiente os usuários terão acesso a
novos campos de expressão pessoal, uma vez que poderão ser
senhores de sua própria forma. Ao mesclar aparência física e
linguagem em uma imagem construída surge uma miríade de
recursos para a (re)construção de sua identidade.18
Para isso, no entanto, é preciso ter algo para dizer, pois manter um blog ativo,
atualizado, interessante e com alta visitação acarreta muito trabalho, paciência e
determinação.Oblogporsisónãoéumasoluçãoparaanecessidadedemanifestação
de identidade, mas pode funcionar como um eficiente meio de expressão. O autor
deve verificar se esta ferramenta é adequada para seus propósitos e se conseguirá
utilizá-la de forma eficiente para mostrar sua identidade.
Também é preciso destacar que o blog é construído ao longo do tempo. Funciona,
assim, como um organismo vivo que se desenvolve e toma forma aos poucos.
Independente do estilo que o autor inicialmente escolha, somente após um
período esta identidade estará consolidada:
Os diferentes “estilos de blog” não são estanques, e a tendência
é que, com o tempo e o amadurecimento do blogueiro, eles
comecem a se misturar cada vez mais até que se chegue a um tom
totalmente específico e pessoal de escrita.19
2.4. Para que serve
um Blog?
17
ANTUNES, Luiz. Cyrano Digital. A
Busca por Identidade em uma Sociedade
em Transformação. Tese de doutorado,
Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo, 2002, p.43.
18
ANTUNES, Luiz. Cyrano Digital. A
Busca por Identidade em uma Sociedade
em Transformação. Tese de doutorado,
Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo, 2002, p.54.
19
SCHITTINE, Denise. Blog: comunicação
e escrita íntima na internet. Civilização
Brasileira, Rio de Janeiro, 2004, p.161.
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32. 31
Não existem formatos e regras fixas para o uso que cada blogueiro faz da sua
página. Às vezes o blog começa com diretrizes definidas, em outras vezes o tom
vai se desenvolvendo ao longo do tempo até chegar à sua forma final. É necessário
tempo para que a identidade do autor seja sólida. Como se trata de um organismo
vivo, muitas vezes acaba por tomar um formato diferente do imaginado no começo,
como pode ser visto no exemplo abaixo:
Cacofonias e Desafinos
19/04/2005
::::::::::Ediorial
Relembrando as origens deste blog, vejo que depois de mais de um
ano e meio, ele não tem nenhuma de suas serventias originais.
Quando abri isso aqui, tinha acabado de encerrar um outro blog.
Passara mais de mês sem escrever, e resolvi parar.
O Cacofonias não começou por uma necessidade minha de escrever,
embora, de repente, eu tivesse um monte de temas e assuntos
novos sobre os quais falar. Era um lance meio terapêutico, mas
acima de tudo era um pretexto pra falar algumas coisas para
algumas pessoas. Posso dizer que ele tinha duas funções, mas
não me comprometo dizendo quais eram. É por isso que existe
um diferença tão grande dos primeiros posts pros mais atuais
(sim, existem alguns posts atuais). Acho que ele foi passando
da pessoalidade para a impessoalidade, no mesmo ritmo que fui
resolvendo um monte de problemas na minha cabeça.
Acho que a pouca freqüência de posts aqui é porque agora que
o blog não é mais utilizado como muro das lamentações, acabou
ficando mais voltado para fora, para quem (ainda) lê. Tento colocar
coisas que eu considere interessantes ou divertidas por aqui; vez
ou outra um protesto besta ou uma pequena declaração, mas o
filtro é mais severo. Então, na maioria das vezes que paro pra
escrever, acabo sem publicar nada, simplesmente porque considero
que o que saiu não vale a pena.
Tá vendo, eu publico pouco hoje, mas é pro seu bem! Cacofonias,
trabalhando por você.20
Assim mesmo, muitos blogueiros têm necessidade de iniciar seu blog explicando
para quais objetivos servirá aquela página, como uma tentativa de mostrar e
definir quem é ou quem será naquele espaço.
Outros exemplos:
Impressões Imprecisas
10/07/2002
Jeito estranho de começar um blog
Você leu a nota aí de baixo? Estranha forma de começar um blog,
não acha? Mas eu tinha de começar de algum jeito, e a falta de
assunto (ou de saco, apesar do saco que a NET me deu) prevaleceu
e fez-me começar assim, com essa nota meio chinfrim, meio
esquisita, coisa de quem não tem nada para dizer. Por ora. Ou
por meses: a data da nota anterior prova isso, irrefutavelmente.
20
http://cacofoniasedesafinos.blogspot.
com/2005_04_01_cacofoniasedesafinos_
archive.html#111392341914953032
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33. Mas aqui estou de volta, querido diário, prometendo tudo, menos
assiduidade.
...
Eagoravejo-meaqui,enchendolingüiçanesteblogque,diferentedo
meu diário anterior, lá no Mesozóico, é para ser despudoradamente
lido por qualquer navegante que, incautamente, caia nestas
páginas. Vou dividir minha falta de assunto com vocês. Só não me
perguntem até quando.21
Homem é tudo Palhaço
30/01/2002
No Aurélio......
[Do it. pagliaccio] S.m.
1. Artista que, em espetáculos circenses ou em outros, se veste
de maneira grotesca e faz pilhérias e momices para divertir o
público.
2. Fantasia de palhaço
3. Fig. Pessoa que por atos ou palavras faz que os outros riam
4. Pop. Pessoa que só diz tolices ou faz papel ridículo; pessoa
sem importância, títere
5. Fig. V. fantoche (3) Não se pode confiar no que ele diz, é
um palhaço.
Homem é tudo palhaço
Cada vez mais tenho certeza disso. E acontecimentos recentes da
minha vida me deram essa certeza. Mas a inspiração para o blog
veio de uma conversa telefônica. Liguei pra minha amiga Camila:
– Camlinha, é isso mesmo? Homem é tudo palhaço?
– É amiga, é tudo palhaço. Quando não c**** na entrada
c**** na saída.22
Jesus me Chicoteia
07/02/2002
L’aventure commence, como diz aquela mina do Pulp Fiction.
Pois é. Aqui estou eu fazendo blog. Quem diria. Eu não queria fazer
blog. Juro que não. Tô falando que não, p****! Imagina, fazer
blog... Parece que é algum barulho que o cara faz. “Olha, aquele
ali faz blog”. “Sério? Por onde???”. Triste, triste. Mas meu cérebro
anda sofrendo um ataque de escorpiões sádicos e eu preciso fazer
algumas punções no pobre coitado pra deixar escorrer o veneno.
Ou vai ver nem é nada disso, vai ver é só a veadagem de sempre.
De um modo ou de outro, sejam quais forem as conseqüências, a
culpa é da Bárbara, que tanto insistiu para que eu me tornasse
essa abjeção, um fazedor de blog. Humpf!23
21
http://www.cliqueaqui.com.
br/impressoes/archives/week_
2002_07_07.html#000151
22
http://tudopalhaco.blogspot.com/2002_
01_01_tudopalhaco_archive.html#9209458
23
http://www.jesusmechicoteia.
com.br/archives/002897.html
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34. Meu Refrigerador Não Funciona
07/08/2004
histórias reais, inventadas, e um pouco de cada. sejam bem vindos
ao meu pequeno mundo. bem pequeno agora. Finalmente.24
Pura Goiaba
06/11/2001
Boa noite, ladies and gentlemen (na expectativa absurdamente
otimista de que alguém esteja lendo o que escrevo). Bem-vindos ao
puragoiaba. Aqui vocês não correrão, nunca, o risco de encontrar
algo interessante.25
Nemonox
(sem data)
Diálogo da Megalópole by Nemo Nox - 1998
Depois de ter morado em cidades tão diferentes entre si como
Santos, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Madrid, Lloret de Mar,
London, Caxias do Sul, Lisboa e Águas de Lindóia, instalei-me em
fins de março de 1998 em São Paulo, o maior aglomerado urbano
do Brasil. Este é o meu diário da megalópole.26
Uma Dama Não Comenta
23/08/2001
Bom, bom, bom, mais um blog que eu participo, mais um com uma
GRANDE amiga minha. Nossa intenção não é arrasar ninguém, mas
sim publicar nossas viagens coletivas. Esperamos divertir... (não,
não vou largar meu biririzinho querido = )27
BlogCount
06/03/2003
BlogCount FAQ - Blogcount charter
Qual o tamanho da blogosfera? Como é seu formato, cor e sua
natureza?
O Blogcount relaciona esforços feitos para responder a essas
perguntas. Nós coletamos e organizamos as melhores reportagens
e análises sobre estes assuntos, inspirados no grande trabalho
feito pela Nua Internet Surveys.28
Os objetivos e características iniciais, no entanto, sofrem mudanças e adaptações
ao longo do tempo até alcançarem sua forma final como extensão do autor:
24
http://www.meurefrigerador.blogger.com.
br/2004_08_01_archive.html#30432873
25
http://www.wunderblogs.com/
puragoiaba/archives/002531.html
26
página de abertura do blog iniciado
em 19/04/1998 - http://www.
nemonox.com/megalopole/
27
http://www.dama.blogspot.com/2001_
08_01_dama_archive.html#5245276
28
http://dijest.com/bc/2003/03/
blogcount-faq.html
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35. 34
Weblogs, no entanto, foram desenhados para uma audiência. Eles
têm voz. Eles têm personalidade. De uma forma simples, eles são
uma extensão interativa de quem você (o blogueiro) é.29
Os blogs individuais ou coletivos que não possuam objetivos comerciais (pelo
menos não a princípio) podem servir à necessidade do autor de se destacar e
se distinguir socialmente através da expressão de idéias e opiniões, ainda que
somente no ambiente virtual.
Por outro lado, desde que a blogosfera passou a ter exposição na mídia tradicional,
algumas empresas pararam para prestar um pouco mais de atenção ao fenômeno.
Desde então têm sido concebidos blogs com objetivos corporativos e/ou comerciais.
Algumas empresas, principalmente as de tecnologia de consumo, disponibilizam e
incentivam seus funcionários a criarem blogs sobre assuntos relacionados à área
de atuação da corporação, darem idéias e as discutirem, como a IBM (http://www.
ibm.com/developerworks/blogs). Outras estão utilizando blogs para promover
seus produtos, como a Microsoft (http://www.microsoft.com/communities/blogs/
PortalHome.mspx).
Em um discurso feito em Maio de 2004, Bill Gates, presidente da Microsoft, fala da
estrutura dos blogs e como ela pode ser útil para as corporações:
Outro novo fenômeno que se conecta a este é um que começou fora
do mundo dos negócios, mas no espaço entusiasmado corporativo
e técnico, uma coisa chamada blog. E um padrão ao redor disso
chamado RSS que notifica o usuário de que alguma coisa mudou.
(...) Blogs e essas notificações significam que fica muito fácil
escrever alguma coisa que você precise, como um e-mail, mas
enviá-lo para uma página web. Pessoas que se interessam pelo
assunto recebem uma pequena notificação. (...) A idéia mais
importante [por trás desse processo] é que deveríamos conseguir
a informação que quisermos quando quisermos. Nós estamos
progressivamente nos tornando melhores nisso observando seu
comportamento [o dos blogs], ordenando as coisas de formas
diferentes.30
Os blogs podem servir de canal de relacionamento com os consumidores. A
Microsoft possui um portal com blogs escritos por seus funcionários sobre
produtos e tecnologias da empresa que, como descrito na página de apresentação
da comunidade, podem ajudar os clientes com idéias e opiniões para utilizarem os
serviços oferecidos por ela.
Outro tipo de blog tem surgido com o objetivo de promover produtos e buscar
identidade com seus públicos. Como mencionado anteriormente, foi lançado em
Março de 2005, pela empresa Procter & Gamble, um blog para divulgação do
desodorante feminino Secret Sparkle Body Spray, destinado a adolescentes. Para a
campanha de relacionamento com o público-alvo, cada uma das quatro fragrâncias
do produto foi transformada em um personagem da faixa etária das consumidoras.
Elas publicam posts sobre sua vida pessoal relacionando conflitos e desejos comuns
às adolescentes.
29
BARRETT, Cameron. Anatomy of a
Weblog. CanWorld.1999. http://www.
camworld.com/journal/rants/99/01/26.
html – O CamWorld foi um dos primeiros
blogs a existir e continua ativo até
hoje em http://www.camworld.com
30
MICROSOFT CEO SUMMIT 2004.
http://www.microsoft.com/billgates/
speeches/2004/05-20CEOSummit.asp
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36. 35
A questão persiste: as adolescentes realmente se identificarão? Por mais que o
redator ou redatora por trás destes personagens conheça o universo das jovens,
não é uma delas, nem está verdadeiramente envolvido com os quesionamentos
postados. Além de ser uma obra de ficção, nos textos fica clara a falta de
naturalidade das personagens.
O blog da Procter & Gamble se distancia de algumas características originais que
fazem da categoria um espaço de expressão de idéias e mesmo de sentimentos
sem função comercial. Uma ação de venda disfarçada, como a citada, pode ter
o mesmo tipo de efeito que os SPAMs têm sobre o uso de e-mails: ser ignorada
ou abertamente rejeitada, com efeito contrário ao planejado. Ainda é cedo para
saber se há algum tipo de formato de blog que sustente uma ação comercial, mas
sabe-se que qualquer tipo de ação de venda disfarçada não agrada o consumidor.
Outro exemplo de blog feito para promover um produto é o Vespablogs31
. A
agência responsável pelas ações de relações públicas da fabricante de motos
modelo scooter, Vespa USA, divulgou um projeto para o lançamento de sua
nova campanha envolvendo a contratação de blogueiros para escreverem blogs
temáticos sobre assuntos relacionados a adolescentes e motos e criar intimidade
com eventuais consumidores. Como estes blogs ainda não foram publicados, resta
saber se conseguirão ganhar naturalidade para se relacionarem com o público-
alvo da campanha. Se os blogueiros conseguirem gerar empatia, prover conteúdo
relevante ou interessante, e manter razoável independência editorial da empresa,
é provável que tenham sucesso.
Um exemplo bastante interessante nessa linha é o inesperado blog iniciado por um
cliente da Nokia. Dono de um novo modelo de telefone celular, sua página permite
que outras pessoas que possuam o mesmo modelo publiquem comentários sobre
experiências vividas com o aparelho. O blog ganhou notoriedade e suspeitou-se
que era uma ação promocional da empresa, mas logo a informação foi desmentida.
Independente da origem do conteúdo, a empresa ganhou divulgação gratuita
devido à emergência natural do relacionamento e das conversas entre clientes.
O que destaca este caso dos demais é a naturalidade com que surgiu a discussão
entre clientes e a força da informação que é transmitida através do blog, pois é
feita por pessoas reais relatando suas experiências, o que reforça a veracidade da
informação e o vínculo com a marca.
31
http://www.vespablogs.com
http://rodrigo.typepad.com/nokia7710
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37. 36
Vale a pena ressaltar que esse tipo de ação deve ser espontânea e só pode ser
utilizada por marcas e produtos de valor inquestionável.
Observando este caso em detalhe, percebe-se que independente do tipo de blog
utilizado, ele é uma extensão virtual da personalidade um indivíduo ou de um
grupo, pois através deles se reproduzem relações existentes na sociedade. Para
que estas conexões se estabeleçam naturalmente elas precisam ser verdadeiras.
Ou pelo menos verossímeis.
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38. 37
Como a web, a blogosfera não possui limites definidos crescendo de forma
orgânica e sem muitas restrições. Navegar e descobrir fontes interessantes neste
mar de informações se torna, portanto, complicado sem ferramentas que ajudem
a organizar e pesquisar o ambiente virtual. As ferramentas de busca, listas de
links e referências de usuários são peças-chave para se conseguir a informação
procurada em meio à infinidade de blogs.
Os sites de busca, como o Google, também servem para conteúdo em blogs,
mas existem ferramentas específicas para estabelecer, mensurar e organizar suas
relações. Estes serviços são importantes para facilitar a interação entre os usuários
e as conversas que se desenvolvem. Eles também indicam uma forma de encontrar
algum tipo de organização em um ambiente que se desenvolve sem controles
oficiais e sem regras. Os principais tipos de ferramentas são:
Medição de estatísticas: um tipo de serviço já conhecido antes da existência
dos blogs é o de medição de acesso. As principais ferramentas fazem a contagem
do número de visitas; verificam se existem outras páginas direcionando links
para o blog; e identificam o endereço através do qual o visitante acessou o blog.
O serviço pode ser oferecido pela própria ferramenta de criação dos blogs ou
contratado à parte.
Estatísticas de visitas do blog
Despropaganda, em http://www.
sitemeter.com/default.asp?action
=stats&site=s16despropaganda
2.5. Organizando
a Blogosfera
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39. 38
Identificação de temas: outro tipo de ferramenta rastreia as conversas que são
desenvolvidas entre os blogs. Isto é feito através de tags, que são como etiquetas
anexadas em cada arquivo. Alguns álbuns de foto virtuais permitem que, ao
publicar a foto, o usuário adicione uma tag a ela, determinando a categoria em
que será arquivada. Em álbuns públicos de fotografia e vídeos, isso possibilita que
a imagem seja disponibilizada num banco de dados sob a categoria determinada,
como uma palavra-chave para busca.
Para os blogs, as tags funcionam de forma similar. As ferramentas de publicação que
possibilitam a organização dos arquivos por categoria, já incluem automaticamente
uma tag a cada um deles, correspondente à categoria criada pelo autor.
A questão mais importante na determinação destas categorias é a sua relevância
para o assunto abordado pelo post, pois ela servirá como palavra-chave para
arquivar e buscar conversas relacionadas àquele tema.
As tags são resultado do trabalho colaborativo dos usuários que produzem listas e
bancos de dados em uma relação ativa com o meio.
Baseados nas tags, o site Technorati busca categorias nos blogs de seu banco
de dados (cujo cadastro é aberto) e as disponibiliza em uma lista, que funciona
como um indicador dos principais temas publicados, dando acesso a eles. É uma
maneira simples de descobrir o que os blogs estão comentando sobre um tema
como entretenimento, por exemplo.
Estatísticas fornecidas pelo Blogger.com,
embaixo no canto esquerdo. Dados de
http://www.blogger.com/profile/4889750
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40. 39
Já o Blogdex, um projeto de pesquisa do MIT Media Laboratory para determinar
os fatos mais comentados pelos blogs, rastreia conversas de uma forma diferente.
Apesar de também trabalhar com blogs cadastrados em seu banco de dados, sua
lista se refere aos sites que receberam maior número de links em posts, dando
acesso tanto ao site mencionado quanto aos blogs que colocaram o link.
http://www.technorati.com/tag
As categorias, ou tags, são dispostas por
ordem alfabética e o tamanho da letra
indica quantidade de referências a ela.
http://blogdex.net
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41. Identificação de atualizações: serviços como o Weblogs, listam os blogs que
foram atualizados nas últimas horas. Alguns funcionam com blogs cadastrados,
outros, como o Weblogs, identificam as mudanças nas bases de dados de grandes
ferramentas, como Blogger.com. Para cada publicação feita, uma notificação é
automaticamente enviada para o serviço.
Esses sites e funcionalidades agregam informações sobre toda a blogosfera. Mas
também existem outras ferramentas utilizadas pelos blogueiros individualmente e
que reúnem informações sobre suas conversas e preferências.
Uma delas é a já mencionada ferramenta trackback, que permite ao blogueiro saber
quem leu seus posts e escreveu referências a eles. Para isso é preciso instalar a
ferramenta no blog e quem fizer a referência deve identificar a fonte.
http://weblogs.com
http://www.loiclemeur.com/
english/2005/05/a_french_
blogge.html#trackback
Abaixo do post estão links para as
referências feitas a ele por outros blogs.
Tal ferramenta foi mencionada
no tópico 2.2., página 23.
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42. 41
A ferramenta de trackback permite que posts de outros blogs, referentes ao assunto
abordado pelo autor, sejam listados e disponibilizados para o leitor. Funciona
como uma espécie de lista de discussão que, inicialmente, gira em torno do blog
que iniciou a publicação, mas pode se desdobrar para outros blogs. Neste sentido,
é uma ferramenta mais completa que o campo de comentários.
Outra funcionalidade que permite ao blogueiro estreitar laços, estabelecer uma
comunidade informal e divulgar seus interesses são os links que disponibiliza.
Eles podem ser feitos através dos chamados blogrolls ou das social bookmarks. Os
blogrolls são listas de links para outros blogs ou sites, conforme o autor desejar.
Geralmente ficam expostos nas laterais do blog.
Já as ferramentas de social bookmarks, como o site del.icio.us33
, têm um conceito
mais elaborado e dinâmico. Primeiramente, os links não ficam expostos no
blog, para acessá-los o leitor deve clicar no link representado por My del.icio.
us links exposto na página. Os links selecionados podem ser organizados em
categorias, as tags, e o autor pode adicionar comentários a eles. Diferentemente
do blogroll, estes links tendem a ser mais dinâmicos e, portanto, alterados com
mais freqüência, além de serem mais numerosos e detalhados. Os links de todos
os usuários cadastrados estão disponíveis através do site del.icio.us, organizados
pelas categorias, ou tags, definidas pelos autores.
Os blogrolls e social bookmarks são, além de referências para os leitores, fontes de
informação sobre os interesses do autor e uma forma de relacionamento político
com aqueles sites indicados pelos links.
Outra ferramenta que muda a forma de se consumir informações na internet são
os programas leitores de RSS, já mencionados. Esta nova forma de distribuição de
notícias e informações, ainda que pouco difundida, altera a relação entre o leitor
e os veículos de comunicação. Com estes programas, os usuários cadastram os
sites dos quais têm interesse em receber atualizações eliminando a necessidade
de visitar um por um, correndo o risco de não encontrar novidades. Através destes
aplicativos o leitor customiza sua fonte de informação.
A publicação e consulta de material em RSS, apesar de não se restringir aos blogs,
é um tipo de prática comum entre blogueiros, tanto que muitos dos serviços de
blogs já produzem automaticamente a versão RSS dos textos.
http://del.icio.us
RSS foi mencionado no tópico
2.2., página 23.
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43. 42
As funcionalidades acima agregam serviços à blogosfera e são como catalisadores
das conexões e conversas que se formam, pois facilitam encontrar informações
sobre algum assunto, organizar temas e rastrear referências. Como o blog, são
ferramentas de acesso público, mas têm seu uso e construção de contexto feitos
pelo próprio usuário.
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44. 43
Apesar de ser publicado em um meio com recursos multimídia, o blog tradicional
favorece o uso da escrita (o formato mais simples, com relação à tecnologia).
Considerando as limitações desta forma de comunicação, não é difícil imaginar
que um leitor possa interpretar de forma errada o que o autor tentou mostrar.
Mesmo quando emissor e receptor estão presentes fisicamente, pode ocorrer um
mal-entendido.
Pensado nisso que linguagem se deve utilizar para se transmitir os pensamentos
e a personalidade de um blogueiro através de um meio frio como o computador?
Segundo Steve Pinker32
, o pensamento é um conjunto de conceitos representados
por símbolos e relacionados logicamente entre si por outros arranjos de conceitos.
Em outras palavras, pensamento e linguagem funcionariam de forma semelhante.
Desenvolvendo essa idéia, o autor defende que existe uma linguagem própria do
pensamento. Ela seria comum a todas as pessoas e funcionaria independente da
língua falada.
A esta linguagem universal o autor chama de mentalês e defende que, por sua
natureza, sempre que é traduzida para a linguagem oral perde um pouco de seu
sentido.
Pense a respeito. Todos tivemos a experiência de enunciar ou
escrever uma frase, parar e perceber que não era exatamente o que
queríamos dizer. Para que haja esse sentimento, é preciso haver
um o que queríamos dizer diferente do que dissemos. Nem sempre
é fácil encontrar as palavras que expressam adequadamente um
pensamento. Ao escutar ou ler, geralmente recordamos o ponto
principal, não as palavras exatas, portanto deve haver algo como
um ponto principal que é diferente de uma coleção de palavras.33
No mesmo livro, Pinker cita a descrição de Albert Einstein sobre o pensamento:
As entidades físicas que parecem servir de elementos para o
pensamento são certos indícios e imagens mais ou menos claros, que
podem ser “voluntariamente” reproduzidos e combinados... Esse
jogo combinatório parece ser o aspecto essencial do pensamento
produtivo – antes de qualquer conexão com construções lógicas
expressas em palavras ou outros tipos de signos que possam ser
comunicados aos outros. Os elementos acima mencionados são,
no meu caso, de tipo visual e um pouco muscular. Somente numa
segunda fase é que as palavras convencionais ou outros signos
têm de ser laboriosamente buscado, quando o jogo associativo
mencionado estiver suficientemente estabelecido e puder ser
reproduzido à vontade.34
Pinker mostra que mesmo que se utilizem todos os tipos de signos e representações,
ainda há riscos de não se reproduzir fielmente o que foi pensado. Mesmo que a
reprodução seja perfeita, existe ainda a possibilidade de má interpretação do
receptor e interferência do contexto na compreensão.
2.6. Flogs, Vlogs,
Audioblogs, Moblogs...
32
PINKER, Steven. O Instinto da Linguagem.
Como a mente cria a linguagem.
Martins Fontes, São Paulo, 2004.
33
Id. Ibid, p. 62.
34
Id. Ibid, p. 80.
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45. 44
Neste sentido, o blog tradicional, por mais que tenha recursos gráficos (cores,
tipos e tamanhos de letras, links e fotografias), ainda oferece muitas limitações
para o autor, que tem toda sua força de expressão restrita ao design de seu blog
e à retórica de seu texto, habilidades de persuasão não comuns a todos. Para
algumas idéias, portanto, outros artifícios devem ser utilizados para que a força
inicial não se perca.
As variações que surgiram após os blogs são uma tentativa de usar recursos de
hipermídia (hipertexto combinado à multimídia) para suprir tais necessidades de
comunicação.
FOTOLOGS
O primeiro Fotolog (blog para a exposição de fotografias e imagens) publicava fotos
de bares, eventos, pessoas e lugares com curtas legendas e comentários sobre
cada uma delas. A idéia se tornou popular em 2002 e hoje é quase tão comum
quanto os blogs. Aliás, muitos blogueiros mantêm um fotolog em paralelo.
Nos fotologs mais populares, não existe uma ordem cronológica das fotos, que
são publicadas conforme a vontade do autor e dependendo do que quer dizer. Para
cada foto o autor possui espaços para descrever a imagem e receber comentários,
além de arquivo de posts antigos, links para outros fotologs, um campo para
publicar seu perfil etc.
Eles funcionam como os blogs tradicionais, usando software e servidores
apropriados para a publicação de fotos. Alguns fotologs publicam ilustrações,
outros fotos pessoais, alguns publicam fotos temáticas. Como nos blogs, não
existe regra, apenas ter algo para mostrar.
http://www.fotolog.net/metro
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Existem também aqueles que usam o próprio blog para publicação de fotos e
o fazem com freqüência, sendo este o elemento principal da página, como um
fotolog, o que talvez demande mais trabalho técnico.
http://fotolog.terra.com.br/lordelobo
http://www.narua.org/blog
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MOBLOGS
Outra variação do blog é o Moblog, nome da publicação de um post através do
telefone celular. É possível publicar textos, fotos, arquivos de áudio e vídeo, tudo
depende de aplicativos compatíveis com o software do blog e com o aparelho
celular do usuário.
Também existem serviços configurados diretamente para a publicação de moblogs,
como o http://moblog.co.uk, que permite a publicação de posts sem o uso de um
computador conectado à rede.
A publicação pode ser feita de onde o autor estiver através do celular, contanto que
exista conexão disponível. O moblog pode ser utilizado para divulgar informações
imediatas de algum evento.
VIDEOLOGS (ou VLOGS)
O Vlog, como já foi dito, é um blog que publica vídeos. Existe uma controvérsia
sobre a definição correta de vlog. Um blog com apenas alguns vídeos pode ser
realmente um vlog? E quanto a vídeos produzidos por terceiros e não pelo próprio
autor? Podem ser reproduzidos? Apesar da discussão poder se estender aos fotologs
e aos próprios blogs, ela parece ser restrita aos produtores de vlogs.
O fato é que o formato ainda não está popularizado e existem poucos vlogs,
provavelmente por limitações de equipamento, espaço para armazenamento e
largura de banda para transmissão. Além disso, como as outras variações de blogs,
o meio está em constante evolução.
A grande diferença desta forma de blog para os tradicionais diz respeito à
tecnologia utilizada: para se manter um blog não é necessário nem mesmo ter seu
http://joi.ito.com/moblog
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48. próprio computador, já que os posts podem ser publicados de um cibercafé ou de
qualquer outra máquina pública ou compartilhada.
Já o vlog requer acesso a uma câmera de vídeo digital, além de todas as etapas
anteriores à publicação: gravação; cópia para o computador; edição; trilha etc.
Por esses motivos o formato ainda oferece limitações e não é tão democrático
quanto o blog. Mas para quem possui acesso a estes aparelhos já é possível
produzir um vlog gratuitamente. O site http://freevlog.org explica passo a passo
o que é necessário fazer.
AUDIOBLOGS
O Audioblog permite que arquivos sejam disponibilizados como posts em formato
MP3 (o mais popular para distribuição de arquivos de áudio pela internet). Alguns
sites fazem seleção e comentários sobre música, como o exemplo abaixo:
http://www.fluxblog.org
http://ryanedit.blogspot.com
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Outros produzem seus próprios programas informativos de rádio:
O audioblog também pode ser divulgado via podcast (distribuição de arquivos
MP3 no formato RSS).
Com exceção do fotolog, os outros formatos citados não são muito populares,
pois requerem o uso de equipamentos e tecnologias mais sofisticadas, não
acessíveis a todos. O próprio uso do fotolog possui certa limitação em relação ao
blog tradicional, pois o autor deve ter acesso a uma câmera digital ou scanner
(aparelho que captura a imagem digital de um documento). Por outro lado, a
existência desses recursos de hipermídia é excitante, pois amplia as possibilidades
de comunicação do autor e, dependendo do uso, sua forma pode se aproximar do
mentalês de Pinker.
O conteúdo deste audioblog é, em
parte, captado por telefone celular.
http://show.ericrice.com
A tecnologia podcast foi apresentada
no item 2.2, página 26.
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50. Os blogs mostram que a internet está entrando em uma nova fase, em que
colaboração, participação e interatividade são elementos-chave. Percebe-se
que essas características começam a influenciar outros meios de comunicação,
que passam a chamar o público para maiores detalhes de alguma matéria de um
programa de jornalismo na internet, responder enquêtes pelo site, ou mesmo
enviar sugestões de reportagem referente ao conteúdo editorial.
O caderno Link do jornal O Estado de S. Paulo frequentemente disponibiliza
conteúdo complementar na internet, as revistas Veja e Exame também seguem
este modelo.
A mesma matéria no website do jornal.
(acima) Trecho do jornal O Estado De
S. Paulo, edição de 17/01/2005
3. Blogs e o futuro
da mídia
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