Movimento que defende retração do PIB para salvar o clima ganha força Financial Times Por Martin Sandbu Tradução de Paulo Migliacci No começo do mês, parlamentares europeus organizaram a segunda edição de uma conferência intitulada "Além do Crescimento" (a primeira foi em 2018). Philippe Lamberts, um parlamentar europeu do Partido Verde que participou de ambos os eventos, diz que enfrentou "muita resistência da Comissão [Europeia]" na primeira vez. A visão na época, diz ele, era de que, "se eu não acreditasse em crescimento, deveria procurar outro emprego". Cinco anos depois, a história é diferente. Agora, "os figurões" as principais autoridades da União Europeia "estão participando do jogo" e do debate, diz Lamberts. O fato de que o parlamentar europeu não tenha, de fato, apelado pelo fim do crescimento, pode ajudar. O material de apoio da conferência evitava deliberadamente a palavra "decrescimento". Lamberts diz que prefere falar de "prosperidade compartilhada dentro dos limites do planeta". Ele argumenta que devemos debater quais desenvolvimentos econômicos são compatíveis com isso e agir de acordo "discutir essas coisas não é mais visto como sacrilégio” e ainda “um modelo de crescimento centrado em combustíveis fósseis é simplesmente obsoleto". Há outros, no entanto, que vão além. Por exemplo, em um artigo publicado na revista científica Nature em dezembro do ano passado, um grupo de ecologistas, cientistas ambientais e economistas escreveu que "as economias ricas devem abandonar o crescimento do produto interno bruto [PIB] como meta, diminuir as formas destrutivas e desnecessárias de produção para reduzir o uso de energia e materiais, e concentrar a atividade econômica na garantia das necessidades e do bem-estar humano. O decrescimento é uma estratégia intencional para estabilizar as economias e atingir metas sociais e ecológicas." Essa divergência entre as emissões de carbono e o crescimento econômico é conhecida como "dissociação", e as divergências sobre as políticas climáticas dependem, em grande parte, do grau de dissociação que as pessoas consideram realista esperar. "Se for possível dissociar o PIB do uso de materiais e energia, então é possível ter crescimento", concorda Lamberts. Mas "caso contrário, quais são as implicações para a política fiscal, a seguridade social, os mercados de trabalho e a política comercial? É sobre isso que queremos iniciar uma discussão". Na Europa, em especial, o debate foi impulsionado pela Guerra da Ucrânia e pela crise de energia gerada pela transformação do gás natural em arma. Menos de um ano após a invasão russa em grande escala, os grandes países da União Europeia reduziram seu consumo de gás natural em mais de 20% em comparação com a média de cinco anos, sem um aumento correspondente no uso de petróleo e carvão. Sua produção industrial geral, no entanto, se manteve forte. A experiência de 2022, em outras palavras, mostrou que grandes cortes no uso de energia e nas emissões são possíveis com
Movimento que defende retração do PIB para salvar o clima ganha força Financial Times Por Martin Sandbu Tradução de Paulo Migliacci No começo do mês, parlamentares europeus organizaram a segunda edição de uma conferência intitulada "Além do Crescimento" (a primeira foi em 2018). Philippe Lamberts, um parlamentar europeu do Partido Verde que participou de ambos os eventos, diz que enfrentou "muita resistência da Comissão [Europeia]" na primeira vez. A visão na época, diz ele, era de que, "se eu não acreditasse em crescimento, deveria procurar outro emprego". Cinco anos depois, a história é diferente. Agora, "os figurões" as principais autoridades da União Europeia "estão participando do jogo" e do debate, diz Lamberts. O fato de que o parlamentar europeu não tenha, de fato, apelado pelo fim do crescimento, pode ajudar. O material de apoio da conferência evitava deliberadamente a palavra "decrescimento". Lamberts diz que prefere falar de "prosperidade compartilhada dentro dos limites do planeta". Ele argumenta que devemos debater quais desenvolvimentos econômicos são compatíveis com isso e agir de acordo "discutir essas coisas não é mais visto como sacrilégio” e ainda “um modelo de crescimento centrado em combustíveis fósseis é simplesmente obsoleto". Há outros, no entanto, que vão além. Por exemplo, em um artigo publicado na revista científica Nature em dezembro do ano passado, um grupo de ecologistas, cientistas ambientais e economistas escreveu que "as economias ricas devem abandonar o crescimento do produto interno bruto [PIB] como meta, diminuir as formas destrutivas e desnecessárias de produção para reduzir o uso de energia e materiais, e concentrar a atividade econômica na garantia das necessidades e do bem-estar humano. O decrescimento é uma estratégia intencional para estabilizar as economias e atingir metas sociais e ecológicas." Essa divergência entre as emissões de carbono e o crescimento econômico é conhecida como "dissociação", e as divergências sobre as políticas climáticas dependem, em grande parte, do grau de dissociação que as pessoas consideram realista esperar. "Se for possível dissociar o PIB do uso de materiais e energia, então é possível ter crescimento", concorda Lamberts. Mas "caso contrário, quais são as implicações para a política fiscal, a seguridade social, os mercados de trabalho e a política comercial? É sobre isso que queremos iniciar uma discussão". Na Europa, em especial, o debate foi impulsionado pela Guerra da Ucrânia e pela crise de energia gerada pela transformação do gás natural em arma. Menos de um ano após a invasão russa em grande escala, os grandes países da União Europeia reduziram seu consumo de gás natural em mais de 20% em comparação com a média de cinco anos, sem um aumento correspondente no uso de petróleo e carvão. Sua produção industrial geral, no entanto, se manteve forte. A experiência de 2022, em outras palavras, mostrou que grandes cortes no uso de energia e nas emissões são possíveis com