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TERRITÓRIO E
DES-TERRITORIALIZAÇÃO
           




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Estrutura Geral
•   Problemática e proposição
•   A trajetória conceitual do território
•   A ruptura das dicotomias
•   Territórios-zona e territórios-rede
•   A problemática da desterritorialização
•   Múltiplos (tipos de) territórios e de des-
    territorialização
•   Multiterritorialidade
•   O exemplo das diásporas de migrantes
•   Desterritorialização como inclusão precária
•   (Não) Concluindo
Problemática
Des-territorialização (DT), mobilidade (territórios-
   rede) e multiterritorialidade (ex. diásporas)

Muitos consideram a crescente mobilidade do nosso tempo
 sinônimo de desterritorialização. Estaríamos passando de
  um mundo dos territórios, mais estável, “enraizado”, para
 um mundo das redes, fluido, “desenraizado”. Os migrantes
 em diáspora, por ex., estariam “desterritorializados”. Trata-
   se de uma visão simplista e muitas vezes dicotômica da
     relação entre espaço e tempo, fixação e mobilidade,
   território e rede. Muito mais do que desterritorialização,
  temos um continuum desde as multiterritorialidades mais
        abertas às (uni)territorializações mais fechadas.
Proposição

• O que muitos denominam desterritorialização, pelo domínio
  das redes sobre os territórios, em perspectivas muitas vezes
  dicotômicas (espaço-tempo, fixação-mobilidade), refere-se à
  criação de novos tipos de território, construídos no e pelo
  movimento (como aqueles construídos pelos globetrotters e
  pelos migrantes em diáspora), os quais podemos denominar
  territórios-rede e, de forma mais complexa, a intensificação
  do fenômeno da multiterritorialidade – a vivência
  concomitante de múltiplos territórios. Desterritorialização se
  aplicaria melhor a situações de exclusão sócio-espacial ou
  de « territorialização precária »
O conceito de Território e sua
              trajetória
ORIGEM ETIMOLÓGICA: territorium – terra e terreo-territor
  (assustar [ terrere ], aterrorizar, aquele que aterroriza) –
  domínio da terra e terror. Domínio jurídico-político da terra
  (de onde somos expulsos ou advertidos para não entrar).
UM CONCEITO INTERDISCIPLINAR: Biologia (Etologia),
  Ciência Política (Estado), Antropologia (territorialidade),
  Sociologia, Psicologia
UM CONCEITO GEOGRÁFICO - clássicos: RATZEL,
  GOTTMAN, MALMBERG (o político-estatal, o político e
  simbólico, o “comportamental”)

DIFERENTES DIMENSÕES: “Natural” ou Biológica; Política ou
   Jurídico-Política, Econômica, Cultural ou Simbólica,
   “Integradora” (Geografia ?)
Ponto Comum: espaço e relações de PODER
Alguns conceitos de Território

• BIOLÓGICO: uma área do espaço, seja de água, de terra ou
  de ar, que um animal ou grupo de animais defende como uma
  reserva exclusiva. A palavra é também utilizada para
  descrever a compulsão interior em seres animados de possuir
  e defender tal espaço. (ARDREY, 1969:10)
• “ECONÔMICO”: Uma porção da natureza e, portanto, do
  espaço sobre o qual uma determinada sociedade reivindica e
  garante a todos ou a parte de seus membros direitos estáveis
  de acesso, de controle e de uso com respeito à totalidade ou
  parte dos recursos que aí se encontram e que ela deseja e é
  capaz de explorar. (GODELIER, 1984:112)
• POLÍTICO: O conjunto de terras agrupadas em uma unidade
  que depende de uma autoridade comum e que goza de um
  determinado regime. (...) um compartimento do espaço
  politicamente distinto. (GOTTMAN, 1952:71)
• POLÍTICO (cont.)
  A territorialidade é a tentativa, por um indivíduo ou grupo, de
  atingir/afetar, influenciar ou controlar pessoas, fen ômenos ou
  relacionamentos, pela delimitação e afirmação do controle
  sobre uma área geográfica. Esta área será chamada território.
  (SACK, 1986:6)
  O território é um campo de forças, as relações de poder
  espacialmente delimitadas e operando, destarte, sobre um
  substrato referencial. (SOUZA, 1995:97)
• CULTURAL: O território é primeiro um valor. (...) o território
  não diz respeito apenas à função ou ao ter, mas ao ser.
  Esquecer este princípio espiritual e não material é se sujeitar a
  não compreender a violência trágica de muitas lutas e conflitos
  que afetam o mundo de hoje: perder seu território é
  desaparecer.
  (BONNEMAISON e CAMBRÈZY, 1996)
• Território numa perspectiva integradora


 O território é uma espécie de “experiência total” do espaço que
 faz conjugar-se num mesmo lugar [continuidade] os diversos
 componentes da vida social [“totalidade”] : espaço bem
 circunscrito pelo limite entre interior e exterior, entre o Outro e
 o semelhante [distinção clara dentro-fora] (...).
 (CHIVALLON,1999:5)

 Se não é mais possível uma “experiência total” do espaço, num
 mesmo lugar, contínuo, podemos ter uma “experiência
 integrada” do espaço, ainda que descontínuo e articulado em
 rede
 (o “território-rede”)
Os múltiplos conceitos de
               território
                       (quadro-síntese)
1.  Território em perspectivas mais materialistas
   • Território como espaço material ou “substratum”:
       – Materialidade – Distância Física – Recurso Natural ou Abrigo
   • Território como espaço relacional mais concreto:
       – “Localização” econômica
       – Espaço de dominação política (“zona de acesso controlado”)
1. Território em perspectivas mais idealistas
   • Território como espaço de apropriação simbólica
       (espaço de referência identitária, “valor”)
3. Território em perspectivas integradoras:
   • “totalizadoras”: “experiência total do espaço” (território-zona)
   • múltiplas: espaço “móbile” funcional-expressivo (território-rede)
Rompendo as Dicotomias
Fixação e Mobilidade: território também
pode ser construído no e pelo movimento

     ESPAÇO                   TEMPO
     Estático, imóvel         Dinâmico, móvel
     Estável, imutável        Instável, mutável
     Simultâneo, sincrônico   Sucessivo, diacrônico
     Presente                 Passado
     Material, concreto             Imaterial, abstrato
     Objetos, fixos           Ações, fluxos

     “Sistema de objetos e sistema de ações”
     Tempo como a quarta dimensão do tempo
                       (teoria da relatividade)
     Multiplicidade do EspaçoTempo (Nigel Thrift)
Rompendo as dicotomias
Continuidade e Descontinuidade :
Territórios podem ser construídos pela
          articulação em Rede
      TERRITÓRIO                     REDE
      intrínseco, centrípeto   extrínseca, centrífuga
      (mais introvertido)      (mais extrovertida)
      zonas, superfícies             pontos (nós) e linhas
 (fluxos)
      delimitação              ruptura de limites
      enraizamento             desenraizamento
      maior estabilidade       maior instabilidade

                  Noções Correlatas:
      espaço areolar         espaço reticular (Berque)
      espaço de lugares      espaço de fluxos (Castells)
      métrica topográfica    métrica topológica (J. Lévy)

                  Territórios- Rede
Rompendo as Dicotomias
          Funcional e Simbólico

GOTTMAN - “sistemas de movimento” materiais e
“sistemas de resistência ao movimento”
(“iconografias”), simbólicos

CHIVALLON – território como “experiência total [e
contínua] do espaço” (território-zona)

DELEUZE e GUATTARI – território funcional e
expressivo, repetição do movimento (território-rede)
Rompendo as dicotomias
       Funcional e Simbólico (cont.)

O uso reaparece em acentuado conflito com a troca no
espaço, pois ele implica “apropriação” e não
“propriedade” [dominação]. Ora, a própria apropriação
implica tempo e tempos, um ritmo ou ritmos, símbolos
e uma prática. Tanto mais o espaço é funcionalizado,
tanto mais ele é dominado pelos “agentes” que o
manipulam tornando-o unifuncional, menos ele se
presta à apropriação. Por quê? Porque ele se coloca
fora do tempo vivido, aquele dos usuários, tempo
diverso e complexo.
      (LEFEBVRE, 1986:411-412, grifo do autor)
Continuum Funcional-Simbólico
“Território funcional”                      “Território simbólico”
 
Processos de Dominação                         Apropriação (Lefebvre)
“Territórios da desigualdade”                 “Territórios da diferença”
 
Território sem territorialidade            Territorialidade sem território
(empiricamente impossível)           (ex.: “Terra Prometida” dos judeus)

Princípio da exclusividade                   Princípio da multiplicidade
(no extremo: unifuncionalidade)      (no extremo: múltiplas identidades)

Território como recurso,                        Território como símbolo,
valor de troca                                   valor de uso, simbólico
(controle físico, produção, lucro)      (“abrigo”, “lar”, segurança afetiva)
Território e Poder
 (dicotomia material – simbólico do poder)

                     Poder
Não centralizado (na figura do Estado)
Mais difuso (multi-escalar: macro e micro-poderes) :
  macro e micro-territórios

Dimensão material (como coerção física, material):
   controle de fronteiras
Dimensão simbólica (como consenso ou
hegemonia):
   controle “ideológico”, identitário
   (“comunidades imaginadas”, territorialidades)
Território

TERRITÓRIO como produto do movimento combinado de
  TERRITORIALIZAÇÃO-DESTERRITORIALIZAÇÃO do
  espaço, isto é, de relações de poder construídas no e com
  o espaço, tanto de poder no sentido mais concreto, de
  dominação (político-econômica), quanto mais simbólico, de
  apropriação (cultural).

O território envolve sempre, ao mesmo tempo (...), uma dimensão
  simbólica, cultural, por meio de uma identidade territorial atribuída
  pelos grupos sociais, como forma de controle simbólico sobre o espaço
  onde vivem (sendo também, portanto, uma forma de apropriação), e
  uma dimensão mais concreta, de caráter político-disciplinar: a
  apropriação e ordenação do espaço como forma de domínio e
  disciplinarização dos indivíduos. (Haesbaert, 1997:42)
Território e Territorialidade

Territorialidade

    - a nível conceitual (epistemológico): “abstração”,
 condição genérica para a existência do território
 (dependendo do conceito de território adotado)

     - a nível ontológico:
     materialidade: controle físico do acesso (fronteira)
     imaterialidade: controle simbólico, identidade
           territorial (comunidade territorial imaginada)
Elementos do Território

    “Invariantes territoriais” para Raffestin:
           malhas, nós e redes
    (privilegiados diferentemente conforme a sociedade)

                Propomos:
Zonas (áreas), linhas (fluxos) e pontos (pólos) – os
 dois últimos conjugados formando as redes
           Daí duas lógicas territoriais de controle:
 Lógica zonal (controle de áreas) e lógica reticular
 (controle de redes: fluxos e pólos de conexão)
Territórios-zona e Territórios-rede
Um território, antes de ser uma fronteira, é primeiro um conjunto
 de lugares (...) conectados a uma rede de itinerários. (...) A
 territorialização (...) engloba ao mesmo tempo aquilo que é
 fixação [enraizamento] e aquilo que é mobilidade, em outras
 palavras, tanto os itinerários quanto os lugares.
 (BONNEMAISON, 1981:253-254)


Territórios-zona (tradicionais e modernos)

    Controle do espaço através de zonas e limites ou fronteiras
    (domina o elemento zona ou área), prioridade à estabilidade
    (“identidade”) ou à fixação (“enraizamento”)
     • Podem ser mais funcionais ou mais simbólicos
     • Ex. “experiência total do espaço” em comunidades tradicionais;
       propriedade privada da terra; controle político-territorial dos
       Estados-nações.
Territórios-zona e Territórios-
                 Rede
Territórios-Rede

Sempre houve territórios descontínuos, os dos comerciantes
  (...), os das peregrinações e de suas igrejas e romarias,
  “territórios-rede” (...) que hoje dominam, dando um outro
  significado aos recortes tradicionais, sobretudo políticos.
  (BOURDIN, 2001:167)

Territórios-rede como territórios descontínuos, marcados pela
  mobilidade, em que predomina, portanto, o elemento rede,
  ou seja, o controle dos fluxos pelo controle das redes
  (pontos de conexão). Podem ser territórios-zona articulados
  em rede (questão de escala).
Múltiplos (Tipos de) Territórios
De uma “experiência total” e contínua do espaço (um
 território-zona) para “experiências integradas” do
 espaço, ainda que descontínuas e articuladas em
 rede (um “território-rede”)

• Territórios dos mais funcionais (econômico-políticos) aos
  mais simbólicos (“territorialidades”)
• Territórios dos mais fechados aos mais abertos ou flexíveis,
  dos mais estáveis aos mais fluidos
• Territórios dos mais contínuos e/ou homogêneos aos mais
  fragmentados e/ou múltiplos ou “híbridos”
• Dos territórios-zona aos territórios-rede
Múltiplas Des-territorializações
1. Território em perspectivas mais materialistas
   • Território como espaço material ou “substratum”:
       – Materialidade: DT como ciberespaço ou mundo virtual
       –   Distancia física: DT como “fim das distâncias” ou compressão tempo-espaço
       –   Recurso natural ou abrigo: “DT da Terra”
   •   Território como espaço relacional mais concreto:
       – “Localização” econômica: DT como “deslocalização”
       – Espaço de dominação política: DT = fim do Estado e das fronteiras
1. Território em perspectivas mais idealistas
   • Território como espaço de apropriação simbólica: DT como
      hibridismo cultural, desenraizamento ou espaço multi-identitário
3. Território em perspectivas integradoras ou “totalizadoras”
   • Território como “experiência total do espaço”: DT = redes
   • Território como espaço “móbile” funcional-expressivo
      (território-rede): DT conjugada à T (T-D-R) – multiterritorialidade
Multiterritorialidade

• Mais do que sob a “desterritorialização”, o mundo vive
  hoje sob o domínio de novas formas de
  territorialização, como os territórios-rede, e da
  combinação de uma multiplicidade de territórios que
  permite falar na intensificação da vivência de uma
  MULTITERRITORIALIDADE, a possibilidade, que
  sempre existiu, mas nunca nos níveis atuais
  (especialmente com a “compressão espaço-tempo” e o
  hibridismo cultural), de experimentar simultânea
  ou sucessivamente diferentes territórios,
  reconstruindo constantemente o nosso.
Compressão Espaço-Tempo

Espaço “moderno” ou das sociedades disciplinares:
 macropoder do Estado e micropoderes “celulares”
 (territórios-zona) – capitalismo fordista (redes
 hierárquicas) – fronteiras – insiders e outsiders
Espaço “pós-moderno” ou das sociedades de controle:
 macropoder das corporações financeiras,micropoderes
 “rizomáticos” (territórios-rede, aglomerados) –
 capitalismo flexível (redes complementares) – limiares
 – confusão entre dentro e fora (glocalização,
 hibridismo)
Hibridismo

Hybris: desmedida, ultrapassagem de fronteiras, ultraje,
  miscigenação que viola leis naturais
Hybrida: filho de pais de diferentes países ou de condições
  diversas; o que participa de dois ou mais conjuntos,
  gêneros ou estilos
Do sentido lato na Filosofia (Bruno Latour) ao sentido restrito
  dos Estudos Culturais (Homi Bhabha – viés literário e
  psicanalítico, e Canclini – abordagem antropo-sociológica)
Do sentido negativo original (“anômalo”) para o sentido
  positivo contemporâneo
Correlatos: miscigenação, creólisation, sincretismo,
  transculturação
Exemplo paradigmático: Diásporas de imigrantes
Multiterritorialidade “tradicional”                ou pela
sobreposição/ encaixe de Territórios-zona. Ex.: propriedade
           privada e territórios político-estatais
Multiterritorialidade e Territórios-rede
 ex. organizações do narcotráfico
Multiterritorialidade e hibridismo cultural
O exemplo das “Diásporas” de
             Migrantes
ELEMENTOS DE DEFINIÇÃO (speiro=dispersão)
  - origem a partir de conflitos ou crises agudas;
  - longa duração dos vínculos na dispersão;
  - forte organização em rede dos grupos dispersos, com rica vida
  associativa (política, econômica e cultural);
  - forte consciência identitária, étnica ou nacional;
  - contatos « reais » ou imaginários com o território de origem.

RELEVÂNCIA do fenômeno:
      Espécie de laboratório das experiências sócio-espaciais « pós-
  modernas » e de fenômenos correlatos como a fragilização de alguns
  Estados nacionais, a fluidez econômica e o hibridismo cultural
DT, Território e Diáspora
• GILROY (1994) considera os migrantes em diáspora
  “desterritorializados” por subverterem os princípios da
  moderna cidadania estatal.
     • Território-zona político-estatal
• COHEN (1997) afirma que as diásporas são
  “desterritorializadas, multilíngues e capazes de preencher a
  lacuna entre as tendências globais e locais” (p. 176).
     • Território-zona cultural-identitário
• MA MUNG (1999) fala da “extraterritorialidade” da diáspora,
  “entidade social de alguma modo a-territorial”, traduzindo “a
  idéia de uma vida fora do território”.
  – Dicotomia Território-rede, Fixação-Mobilidade, Tempo-Espaço
Diáspora e Novas Territorialidades

Coesão (“Comunidade” [“de destino”]) na Dispersão
Articulação territorial de espaços descontínuos em rede:
 Territórios-Rede (no movimento, movimento sob controle)
Elevada carga simbólico-territorial (“geografias
 imaginárias”)

Relações econômicas: “recurso” ou “trunfo espacial” na
 dispersão
Relações políticas: nova concepção de cidadania
 transnacional
 (ex.: indianos não-residentes)
Relações culturais: mescla entre intenso hibridismo e
 fortalecimento da identidade étnica do grupo
 (identidades múltiplas)
Multiterritorialidade das Diásporas


Multiterritorialidade a partir da:
     - multi-escalaridade / multiplicidade de poderes (local-
 nacional-global) e elevada conectividade (conexões espaciais
  efetivas e potenciais entre os diferentes espaços do grupo migrante)
      - multipolaridade (“espaços equivalentes”)
      - multi-identidade (múltiplos espaço-tempos de referência
  identitária)
Tipos de Multiterritorialidade
• Por sobreposição de territórios-zona / multi-
  escalaridade: “espacialidade diferencial” de Lacoste
• Por articulação de territórios-zona em territórios-rede:
  – Simultânea (via intensificação da compressão espaço-
    tempo pelo ciberespaço): ex. controle de empresas à
    distância (distinguir poder “multiterritorial” por tele-visão e tele-ação).
  – Sucessiva (via intensificação da mobilidade física): ex.
    “Topoligamia” de Ulrich Beck, multiterritorialidade dos
    “turistas” de Zigmunt Bauman.
     • Usufruto de territórios comuns ou funcional e simbolicamente
       semelhantes (ex. “burguesia” global)
     • Usufruto de múltiplos territórios, funcional e/ou simbolicamente
       distintos (ex. megaterrorismo, alguns membros de diásporas)
Multiterritorialidade para quem?
Exemplos: indígenas e brasiguaios (sem-terra) “desterritorializados” na luta
                    pelos seus “territórios mínimos”
Desterritorialização como
      exclusão sócio-espacial ou
           inclusão precária
(...) rigorosamente falando, não existe exclusão: existe
   contradição, existem vítimas de processos sociais,
   políticos e econômicos excludentes; existe o conflito
   pelo qual a vítima dos processos excludentes proclama
   seu inconformismo (...) e sua reivindicação corrosiva.
   (José de Souza Martins)

Rigorosamente falando, não existe desterritorialização,
  porque simplesmente não há homem sem território,
  mas diversas formas extremamente precárias de
  territorialização
Da DT às “Multiterritorializações”
                Alternativas
“Territórios alternativos” na globalização: efetiva apropriação dos
  espaços numa multiterritorialidade mundialmente articulada
(Não) Concluindo
Territorialização e
   Desterritorialização, como
 território e rede, espaço e tempo,
   não podem ser dissociados. A
   grande questão, hoje, não é a
desterritorialização, mas o reforço,
        lado a lado, da efetiva
  multiterritorialidade para uns
   poucos (a elite globalizada), a
      segregação territorial (em
“territórios totais” como os campos
  de controle de refugiados) para
outros e a territorialização precária
e luta pelo “território mínimo” para
   tantos (sem-teto, sem-terra...).

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Tterritorio e desterritorializacao

  • 1. TERRITÓRIO E DES-TERRITORIALIZAÇÃO   VISITE E CONHEÇA MEU BLOG WWW.GEOGRAFIADOBEM.BLOGSPOT.COM
  • 2. Estrutura Geral • Problemática e proposição • A trajetória conceitual do território • A ruptura das dicotomias • Territórios-zona e territórios-rede • A problemática da desterritorialização • Múltiplos (tipos de) territórios e de des- territorialização • Multiterritorialidade • O exemplo das diásporas de migrantes • Desterritorialização como inclusão precária • (Não) Concluindo
  • 3. Problemática Des-territorialização (DT), mobilidade (territórios- rede) e multiterritorialidade (ex. diásporas) Muitos consideram a crescente mobilidade do nosso tempo sinônimo de desterritorialização. Estaríamos passando de um mundo dos territórios, mais estável, “enraizado”, para um mundo das redes, fluido, “desenraizado”. Os migrantes em diáspora, por ex., estariam “desterritorializados”. Trata- se de uma visão simplista e muitas vezes dicotômica da relação entre espaço e tempo, fixação e mobilidade, território e rede. Muito mais do que desterritorialização, temos um continuum desde as multiterritorialidades mais abertas às (uni)territorializações mais fechadas.
  • 4. Proposição • O que muitos denominam desterritorialização, pelo domínio das redes sobre os territórios, em perspectivas muitas vezes dicotômicas (espaço-tempo, fixação-mobilidade), refere-se à criação de novos tipos de território, construídos no e pelo movimento (como aqueles construídos pelos globetrotters e pelos migrantes em diáspora), os quais podemos denominar territórios-rede e, de forma mais complexa, a intensificação do fenômeno da multiterritorialidade – a vivência concomitante de múltiplos territórios. Desterritorialização se aplicaria melhor a situações de exclusão sócio-espacial ou de « territorialização precária »
  • 5. O conceito de Território e sua trajetória ORIGEM ETIMOLÓGICA: territorium – terra e terreo-territor (assustar [ terrere ], aterrorizar, aquele que aterroriza) – domínio da terra e terror. Domínio jurídico-político da terra (de onde somos expulsos ou advertidos para não entrar). UM CONCEITO INTERDISCIPLINAR: Biologia (Etologia), Ciência Política (Estado), Antropologia (territorialidade), Sociologia, Psicologia UM CONCEITO GEOGRÁFICO - clássicos: RATZEL, GOTTMAN, MALMBERG (o político-estatal, o político e simbólico, o “comportamental”) DIFERENTES DIMENSÕES: “Natural” ou Biológica; Política ou Jurídico-Política, Econômica, Cultural ou Simbólica, “Integradora” (Geografia ?) Ponto Comum: espaço e relações de PODER
  • 6. Alguns conceitos de Território • BIOLÓGICO: uma área do espaço, seja de água, de terra ou de ar, que um animal ou grupo de animais defende como uma reserva exclusiva. A palavra é também utilizada para descrever a compulsão interior em seres animados de possuir e defender tal espaço. (ARDREY, 1969:10) • “ECONÔMICO”: Uma porção da natureza e, portanto, do espaço sobre o qual uma determinada sociedade reivindica e garante a todos ou a parte de seus membros direitos estáveis de acesso, de controle e de uso com respeito à totalidade ou parte dos recursos que aí se encontram e que ela deseja e é capaz de explorar. (GODELIER, 1984:112) • POLÍTICO: O conjunto de terras agrupadas em uma unidade que depende de uma autoridade comum e que goza de um determinado regime. (...) um compartimento do espaço politicamente distinto. (GOTTMAN, 1952:71)
  • 7. • POLÍTICO (cont.) A territorialidade é a tentativa, por um indivíduo ou grupo, de atingir/afetar, influenciar ou controlar pessoas, fen ômenos ou relacionamentos, pela delimitação e afirmação do controle sobre uma área geográfica. Esta área será chamada território. (SACK, 1986:6) O território é um campo de forças, as relações de poder espacialmente delimitadas e operando, destarte, sobre um substrato referencial. (SOUZA, 1995:97) • CULTURAL: O território é primeiro um valor. (...) o território não diz respeito apenas à função ou ao ter, mas ao ser. Esquecer este princípio espiritual e não material é se sujeitar a não compreender a violência trágica de muitas lutas e conflitos que afetam o mundo de hoje: perder seu território é desaparecer. (BONNEMAISON e CAMBRÈZY, 1996)
  • 8. • Território numa perspectiva integradora O território é uma espécie de “experiência total” do espaço que faz conjugar-se num mesmo lugar [continuidade] os diversos componentes da vida social [“totalidade”] : espaço bem circunscrito pelo limite entre interior e exterior, entre o Outro e o semelhante [distinção clara dentro-fora] (...). (CHIVALLON,1999:5) Se não é mais possível uma “experiência total” do espaço, num mesmo lugar, contínuo, podemos ter uma “experiência integrada” do espaço, ainda que descontínuo e articulado em rede (o “território-rede”)
  • 9. Os múltiplos conceitos de território (quadro-síntese) 1. Território em perspectivas mais materialistas • Território como espaço material ou “substratum”: – Materialidade – Distância Física – Recurso Natural ou Abrigo • Território como espaço relacional mais concreto: – “Localização” econômica – Espaço de dominação política (“zona de acesso controlado”) 1. Território em perspectivas mais idealistas • Território como espaço de apropriação simbólica (espaço de referência identitária, “valor”) 3. Território em perspectivas integradoras: • “totalizadoras”: “experiência total do espaço” (território-zona) • múltiplas: espaço “móbile” funcional-expressivo (território-rede)
  • 10. Rompendo as Dicotomias Fixação e Mobilidade: território também pode ser construído no e pelo movimento ESPAÇO TEMPO Estático, imóvel Dinâmico, móvel Estável, imutável Instável, mutável Simultâneo, sincrônico Sucessivo, diacrônico Presente Passado Material, concreto Imaterial, abstrato Objetos, fixos Ações, fluxos “Sistema de objetos e sistema de ações” Tempo como a quarta dimensão do tempo (teoria da relatividade) Multiplicidade do EspaçoTempo (Nigel Thrift)
  • 11. Rompendo as dicotomias Continuidade e Descontinuidade : Territórios podem ser construídos pela articulação em Rede TERRITÓRIO REDE intrínseco, centrípeto extrínseca, centrífuga (mais introvertido) (mais extrovertida) zonas, superfícies pontos (nós) e linhas (fluxos) delimitação ruptura de limites enraizamento desenraizamento maior estabilidade maior instabilidade Noções Correlatas: espaço areolar espaço reticular (Berque) espaço de lugares espaço de fluxos (Castells) métrica topográfica métrica topológica (J. Lévy) Territórios- Rede
  • 12. Rompendo as Dicotomias Funcional e Simbólico GOTTMAN - “sistemas de movimento” materiais e “sistemas de resistência ao movimento” (“iconografias”), simbólicos CHIVALLON – território como “experiência total [e contínua] do espaço” (território-zona) DELEUZE e GUATTARI – território funcional e expressivo, repetição do movimento (território-rede)
  • 13. Rompendo as dicotomias Funcional e Simbólico (cont.) O uso reaparece em acentuado conflito com a troca no espaço, pois ele implica “apropriação” e não “propriedade” [dominação]. Ora, a própria apropriação implica tempo e tempos, um ritmo ou ritmos, símbolos e uma prática. Tanto mais o espaço é funcionalizado, tanto mais ele é dominado pelos “agentes” que o manipulam tornando-o unifuncional, menos ele se presta à apropriação. Por quê? Porque ele se coloca fora do tempo vivido, aquele dos usuários, tempo diverso e complexo. (LEFEBVRE, 1986:411-412, grifo do autor)
  • 14. Continuum Funcional-Simbólico “Território funcional” “Território simbólico”   Processos de Dominação       Apropriação (Lefebvre) “Territórios da desigualdade”   “Territórios da diferença”   Território sem territorialidade Territorialidade sem território (empiricamente impossível) (ex.: “Terra Prometida” dos judeus) Princípio da exclusividade Princípio da multiplicidade (no extremo: unifuncionalidade) (no extremo: múltiplas identidades) Território como recurso, Território como símbolo, valor de troca valor de uso, simbólico (controle físico, produção, lucro)    (“abrigo”, “lar”, segurança afetiva)
  • 15. Território e Poder (dicotomia material – simbólico do poder) Poder Não centralizado (na figura do Estado) Mais difuso (multi-escalar: macro e micro-poderes) : macro e micro-territórios Dimensão material (como coerção física, material): controle de fronteiras Dimensão simbólica (como consenso ou hegemonia): controle “ideológico”, identitário (“comunidades imaginadas”, territorialidades)
  • 16. Território TERRITÓRIO como produto do movimento combinado de TERRITORIALIZAÇÃO-DESTERRITORIALIZAÇÃO do espaço, isto é, de relações de poder construídas no e com o espaço, tanto de poder no sentido mais concreto, de dominação (político-econômica), quanto mais simbólico, de apropriação (cultural). O território envolve sempre, ao mesmo tempo (...), uma dimensão simbólica, cultural, por meio de uma identidade territorial atribuída pelos grupos sociais, como forma de controle simbólico sobre o espaço onde vivem (sendo também, portanto, uma forma de apropriação), e uma dimensão mais concreta, de caráter político-disciplinar: a apropriação e ordenação do espaço como forma de domínio e disciplinarização dos indivíduos. (Haesbaert, 1997:42)
  • 17. Território e Territorialidade Territorialidade - a nível conceitual (epistemológico): “abstração”, condição genérica para a existência do território (dependendo do conceito de território adotado) - a nível ontológico: materialidade: controle físico do acesso (fronteira) imaterialidade: controle simbólico, identidade territorial (comunidade territorial imaginada)
  • 18. Elementos do Território “Invariantes territoriais” para Raffestin: malhas, nós e redes (privilegiados diferentemente conforme a sociedade) Propomos: Zonas (áreas), linhas (fluxos) e pontos (pólos) – os dois últimos conjugados formando as redes Daí duas lógicas territoriais de controle: Lógica zonal (controle de áreas) e lógica reticular (controle de redes: fluxos e pólos de conexão)
  • 19. Territórios-zona e Territórios-rede Um território, antes de ser uma fronteira, é primeiro um conjunto de lugares (...) conectados a uma rede de itinerários. (...) A territorialização (...) engloba ao mesmo tempo aquilo que é fixação [enraizamento] e aquilo que é mobilidade, em outras palavras, tanto os itinerários quanto os lugares. (BONNEMAISON, 1981:253-254) Territórios-zona (tradicionais e modernos) Controle do espaço através de zonas e limites ou fronteiras (domina o elemento zona ou área), prioridade à estabilidade (“identidade”) ou à fixação (“enraizamento”) • Podem ser mais funcionais ou mais simbólicos • Ex. “experiência total do espaço” em comunidades tradicionais; propriedade privada da terra; controle político-territorial dos Estados-nações.
  • 20. Territórios-zona e Territórios- Rede Territórios-Rede Sempre houve territórios descontínuos, os dos comerciantes (...), os das peregrinações e de suas igrejas e romarias, “territórios-rede” (...) que hoje dominam, dando um outro significado aos recortes tradicionais, sobretudo políticos. (BOURDIN, 2001:167) Territórios-rede como territórios descontínuos, marcados pela mobilidade, em que predomina, portanto, o elemento rede, ou seja, o controle dos fluxos pelo controle das redes (pontos de conexão). Podem ser territórios-zona articulados em rede (questão de escala).
  • 21. Múltiplos (Tipos de) Territórios De uma “experiência total” e contínua do espaço (um território-zona) para “experiências integradas” do espaço, ainda que descontínuas e articuladas em rede (um “território-rede”) • Territórios dos mais funcionais (econômico-políticos) aos mais simbólicos (“territorialidades”) • Territórios dos mais fechados aos mais abertos ou flexíveis, dos mais estáveis aos mais fluidos • Territórios dos mais contínuos e/ou homogêneos aos mais fragmentados e/ou múltiplos ou “híbridos” • Dos territórios-zona aos territórios-rede
  • 22. Múltiplas Des-territorializações 1. Território em perspectivas mais materialistas • Território como espaço material ou “substratum”: – Materialidade: DT como ciberespaço ou mundo virtual – Distancia física: DT como “fim das distâncias” ou compressão tempo-espaço – Recurso natural ou abrigo: “DT da Terra” • Território como espaço relacional mais concreto: – “Localização” econômica: DT como “deslocalização” – Espaço de dominação política: DT = fim do Estado e das fronteiras 1. Território em perspectivas mais idealistas • Território como espaço de apropriação simbólica: DT como hibridismo cultural, desenraizamento ou espaço multi-identitário 3. Território em perspectivas integradoras ou “totalizadoras” • Território como “experiência total do espaço”: DT = redes • Território como espaço “móbile” funcional-expressivo (território-rede): DT conjugada à T (T-D-R) – multiterritorialidade
  • 23. Multiterritorialidade • Mais do que sob a “desterritorialização”, o mundo vive hoje sob o domínio de novas formas de territorialização, como os territórios-rede, e da combinação de uma multiplicidade de territórios que permite falar na intensificação da vivência de uma MULTITERRITORIALIDADE, a possibilidade, que sempre existiu, mas nunca nos níveis atuais (especialmente com a “compressão espaço-tempo” e o hibridismo cultural), de experimentar simultânea ou sucessivamente diferentes territórios, reconstruindo constantemente o nosso.
  • 24. Compressão Espaço-Tempo Espaço “moderno” ou das sociedades disciplinares: macropoder do Estado e micropoderes “celulares” (territórios-zona) – capitalismo fordista (redes hierárquicas) – fronteiras – insiders e outsiders Espaço “pós-moderno” ou das sociedades de controle: macropoder das corporações financeiras,micropoderes “rizomáticos” (territórios-rede, aglomerados) – capitalismo flexível (redes complementares) – limiares – confusão entre dentro e fora (glocalização, hibridismo)
  • 25. Hibridismo Hybris: desmedida, ultrapassagem de fronteiras, ultraje, miscigenação que viola leis naturais Hybrida: filho de pais de diferentes países ou de condições diversas; o que participa de dois ou mais conjuntos, gêneros ou estilos Do sentido lato na Filosofia (Bruno Latour) ao sentido restrito dos Estudos Culturais (Homi Bhabha – viés literário e psicanalítico, e Canclini – abordagem antropo-sociológica) Do sentido negativo original (“anômalo”) para o sentido positivo contemporâneo Correlatos: miscigenação, creólisation, sincretismo, transculturação Exemplo paradigmático: Diásporas de imigrantes
  • 26. Multiterritorialidade “tradicional” ou pela sobreposição/ encaixe de Territórios-zona. Ex.: propriedade privada e territórios político-estatais
  • 27. Multiterritorialidade e Territórios-rede ex. organizações do narcotráfico
  • 28.
  • 30. O exemplo das “Diásporas” de Migrantes ELEMENTOS DE DEFINIÇÃO (speiro=dispersão) - origem a partir de conflitos ou crises agudas; - longa duração dos vínculos na dispersão; - forte organização em rede dos grupos dispersos, com rica vida associativa (política, econômica e cultural); - forte consciência identitária, étnica ou nacional; - contatos « reais » ou imaginários com o território de origem. RELEVÂNCIA do fenômeno: Espécie de laboratório das experiências sócio-espaciais « pós- modernas » e de fenômenos correlatos como a fragilização de alguns Estados nacionais, a fluidez econômica e o hibridismo cultural
  • 31. DT, Território e Diáspora • GILROY (1994) considera os migrantes em diáspora “desterritorializados” por subverterem os princípios da moderna cidadania estatal. • Território-zona político-estatal • COHEN (1997) afirma que as diásporas são “desterritorializadas, multilíngues e capazes de preencher a lacuna entre as tendências globais e locais” (p. 176). • Território-zona cultural-identitário • MA MUNG (1999) fala da “extraterritorialidade” da diáspora, “entidade social de alguma modo a-territorial”, traduzindo “a idéia de uma vida fora do território”. – Dicotomia Território-rede, Fixação-Mobilidade, Tempo-Espaço
  • 32. Diáspora e Novas Territorialidades Coesão (“Comunidade” [“de destino”]) na Dispersão Articulação territorial de espaços descontínuos em rede: Territórios-Rede (no movimento, movimento sob controle) Elevada carga simbólico-territorial (“geografias imaginárias”) Relações econômicas: “recurso” ou “trunfo espacial” na dispersão Relações políticas: nova concepção de cidadania transnacional (ex.: indianos não-residentes) Relações culturais: mescla entre intenso hibridismo e fortalecimento da identidade étnica do grupo (identidades múltiplas)
  • 33. Multiterritorialidade das Diásporas Multiterritorialidade a partir da: - multi-escalaridade / multiplicidade de poderes (local- nacional-global) e elevada conectividade (conexões espaciais efetivas e potenciais entre os diferentes espaços do grupo migrante) - multipolaridade (“espaços equivalentes”) - multi-identidade (múltiplos espaço-tempos de referência identitária)
  • 34. Tipos de Multiterritorialidade • Por sobreposição de territórios-zona / multi- escalaridade: “espacialidade diferencial” de Lacoste • Por articulação de territórios-zona em territórios-rede: – Simultânea (via intensificação da compressão espaço- tempo pelo ciberespaço): ex. controle de empresas à distância (distinguir poder “multiterritorial” por tele-visão e tele-ação). – Sucessiva (via intensificação da mobilidade física): ex. “Topoligamia” de Ulrich Beck, multiterritorialidade dos “turistas” de Zigmunt Bauman. • Usufruto de territórios comuns ou funcional e simbolicamente semelhantes (ex. “burguesia” global) • Usufruto de múltiplos territórios, funcional e/ou simbolicamente distintos (ex. megaterrorismo, alguns membros de diásporas)
  • 35. Multiterritorialidade para quem? Exemplos: indígenas e brasiguaios (sem-terra) “desterritorializados” na luta pelos seus “territórios mínimos”
  • 36. Desterritorialização como exclusão sócio-espacial ou inclusão precária (...) rigorosamente falando, não existe exclusão: existe contradição, existem vítimas de processos sociais, políticos e econômicos excludentes; existe o conflito pelo qual a vítima dos processos excludentes proclama seu inconformismo (...) e sua reivindicação corrosiva. (José de Souza Martins) Rigorosamente falando, não existe desterritorialização, porque simplesmente não há homem sem território, mas diversas formas extremamente precárias de territorialização
  • 37. Da DT às “Multiterritorializações” Alternativas “Territórios alternativos” na globalização: efetiva apropriação dos espaços numa multiterritorialidade mundialmente articulada
  • 39. Territorialização e Desterritorialização, como território e rede, espaço e tempo, não podem ser dissociados. A grande questão, hoje, não é a desterritorialização, mas o reforço, lado a lado, da efetiva multiterritorialidade para uns poucos (a elite globalizada), a segregação territorial (em “territórios totais” como os campos de controle de refugiados) para outros e a territorialização precária e luta pelo “território mínimo” para tantos (sem-teto, sem-terra...).