1. Aleitamento Materno e Transição para a Maternidade: o Orkut como recurso simbólico Adalene T. Barreto Sales Orientadoras: Ana Cecília de Souza Bastos Denise Barreto Coutinho UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE PSICOLOGIA Programa de Pós-Graduação em Psicologia – Mestrado em Psicologia
2. * Recorte da pesquisa no mestrado em Psicologia do Desenvolvimento na Universidade Federal da Bahia (Linha de Pesquisa: Infância, Desenvolvimento e Contextos Culturais). * Pediatria Radical : tem como finalidade “interagir e cooperar na busca da saúde INTEGRAL da criança, por meio do bom senso e do conhecimento das leis da NATUREZA” (descrição da comunidade no Orkut). * Comunidade criada pela pediatra Thelma Oliveira (Brasília), em 2007. * Membros em outubro de 2009: 13.616 .
3. * Essa comunidade é um contexto comunicacional repleto de negociações e produções de significados. * Um olhar teórico : a comunidade desempenha o papel de recurso simbólico na transição para a maternidade (Zittoun 2002,2004,2006). * Foco: discussões em torno das práticas de aleitamento materno. * O aleitamento materno pode enagajar a nova mãe em um processo de elaboração da ruptura causada pelo nascimento do filho. * O aleitamento materno como a corporificação mais tangível da maternidade (Blum, 1990;Bobel,2001;Smith,2001;Kinibiehler, 2001).
4. * Suposição de Partida: a re-significação da experiência de tornar-se mãe e os demais processos apontados por Zittoun (2004) como sendo característicos de uma transição desenvolvimental são catalisados pelas vivências afetivas e conflitos gerados pela experiência de aleitar o filho.a Questões norteadoras da apresentação: 1. Por que privilegiar a experiência da amamentação assumindo, inclusive, que ela é a corporificação mais tangível da maternidade? 2. Por que estudar as narrativas virtuais?
5. Amamentação e Transição para a Maternidade Formas de aproximar os termos: 1. A amamentação é a corporificação mais tangível da maternidade, que envolve vivências afetivas intensas e conflituosas. 2. Existe uma “ imagem materna” que amalgamou o ato de amamentar à representação da “boa mãe”.
6. O que é uma transição? * É um período de passagem de um estágio para outro no ciclo de vida do ser humano (Dessen & Costa Jr., 2005). * São períodos que se seguem a algum acontecimento que provoca ruptura que produz transtorno em relação às “certezas que a pessoa tem de si mesma ou sobre o mundo; as representações de si e suas próprias competências podem ser colocadas em questão [...]” (Perret-Clermont & Zittoun, 2001, p.2). * É um período que envolve a construção de novos significados sobre si e sobre o mundo, permitindo melhor ajuste ao contexto social, ao mesmo tempo que devolve à pessoa o senso de continuidade de si.
7. Nascimento de um filho: marcador desenvolvimental. * As mudanças nos papéis e funções provocam desequilíbrios e exigem novas respostas emocionais, comportamentais e cognitivas caracterizando uma transição desenvolvimental (Perret-Clermont & Zittoun, 2001,2001; Zittoun, 2002,2004,2006). * Tornar-se mãe é um acontecimento que acarreta mudanças pessoais, sociais e biológicas. * O trabalho de significação na transição para a maternidade é marcado pelos conflitos que a nova designação – mãe – provoca em diversos níveis de sua existência. * A amamentação é uma experiência intrinsecamente conflituosa.
8. A amamentação é uma experiência intrinsecamente conflituosa. * Há um conflito entre o papel de mãe e de mulher (Parat, 2006). * A experiência da amamentação coloca para a mulher, de forma muito real, conflitos que envolvem o universo feminino na sociedade pós-industrial: as contradições entre o público e o privado refletido no conflito entre trabalho e família (Blum, 1990; Shaw, 2003). * As intensas experiências afetivas, conflituosas, exigem da pessoa o engajamento num processo de re-significação da situação, de reconstrução do senso de si, de reposicionamento que são traduzidos numa nova narrativa de si.
9. A amamentação é uma prática indissociável do ser mãe . Séc. XVI : os tratados médicos são permeados por defesas do aleitamento materno. * A criança suga o caráter e as paixões de quem a amamenta (Kinibihler, 2003; Parat, 1999; Sudo, 2004). * Amamentar é um princípio moral. * A mulher para ser mãe por completo deve nutrir seu filho com seu próprio leite.
10. Séc. XVII : o recurso às amas-de-leite se dissemina por toda Europa e pelos países colonizados pelos europeus. Séc. XVIII : a puericultura científica combate a prática de entregar os filhos às amas-de-leite. * Altas taxas de mortalidade infantil associadas, também, ao hábito que as amas-de-leite tinham de complementar a amamentação dos lactentes (Rollet-Echalier, 1990). Séc. XIX : o higienismo coloca a amamentação como ato natural da maternidade. * A “boa mãe” é aquela que alimentava seu filho com o melhor alimento: o leite materno.
11. Segundo Valsiner (2007), o discurso social sobre o leite materno nos séculos XVIII e XIX, na Europa, tinha como função primária guiar as mães “para que assumissem, elas próprias, as obrigações de verdadeiras mães” (p.56). * Essa mãe valorosa forjou o modelo de “boa mulher” e “boa mãe”. * Amalgamou o ato de amamentar à representação da “boa mãe”.
12. Estudos Antropológicos * O leite materno assume valor simbólico em diversas culturas. * Para os habitantes de Ban Nakham (província de Laos, Ásia), a amamentação é uma continuidade da vida intra-uterina cujo valor reside em “instituir e manter a relação fundada na reciprocidade através do dom de alimentar” (s/p). * Duas idéias presentes no discurso contemporâneo de incentivo ao aleitamento materno: a amamentação é uma continuidade da gestação; um meio importante de estabelecer e manter a relação entre mãe e bebê. Amamentação e Maternidade: uma estreita relação em diversos contextos culturais e ao longo da história da humanidade.
13. Contemporaneidade * O cotidiano da mãe com seu novo bebê é organizado em torno da experiência da amamentação - ou da não-amamentação (Chodorow, 2002; Smith, 2001; Marshal et al, 2007; Wall, 2008). * A experiência da maternidade na atualidade é moldada pelos significados de maternidade presentes no discurso oficial de incentivo ao aleitamento materno (Wall, 2008).
14. Amamentação, Transição para a Maternidade e Orkut * A internet faz parte do contexto histórico, social e cultural da contemporaneidade. * A internet se oferece como uma das possibilidades de se estudar o modo como as pessoas interagem e tecem “identidades”, além de permitir a socialização dos saberes e dos significados atribuídos ao mundo, à vida, à sociedade e à natureza (Máximo, 2000). * Contexto Interpsicológico : “[...] os sujeitos em relação (re)produzem, transformam-se e apropriam-se das significações das atividades que empreendem” (Zanella, 2004, p.134).
15.
16. Método * Exploração etnográfica: etnografia on-line ou netnografia. * A exploração etnográfica corresponde à primeira aproximação ao universo simbólico e também para coleta de dados. Momento atual : etapa descritiva da análise de dados. * Releitura dos tópicos apoiada nas propostas de Zittoun (2002, 2004, 2006) sobre a utilização dos artefatos culturais como recursos simbólicos – mediadores semióticos – no processo de transição desenvolvimental.
17. Processos Implicados na Transição Desenvolvimental: Grade de Leitura 1. Aquisição de competências cognitivas; 2. Aquisição de competências sociais; 3. Modificações identitárias; 4. Construção de significação pessoal da situação, inscrita numa nova narrativa de si. Blog – Diário de Pesquisa: www.adalenesales.blogspot.com
18. Referências Bibliográficas Braga, Adriana A.(2005). Sociabilidade no Livro de Visitas: uma dimensão comunicacional da feminilidade contemporânea. In: BRAGA, A. (org.). CMC, Identidades e Gênero . 1 ed. Portugal: Universidade da Beira Interior-LabCom, 2005. Blum, L. (1990). The social construction of motherhood: breastfeeding as a topic for feminist research . Social Organization, Center for Research on - Working Paper Series (CRSO), Michigan. Recuperado em 20 de outubro de 2007, da Deep Blue: http://deepblue.lib.umich.edu/ . Bobel, C. G.(2001). Bounded Liberation: A Focused Study of La Leche League International. Gender Society , 15: 130-151. Canavarro, Ma. Cristina C. de S. P. (2008). Uma perspectiva desenvolvimentista e ecológica sobre a adaptação na transição para a maternidade : Sumário da Lição. Apresentado para Provas de Agregação em Psicologia, na área de Psicologia Clínica, Universidade de Coimbra. Recuperada em 01 de julho de 2009, de https://estudogeral.sib.uc.pt/dspace/bitstream/10316/9897/1/sumario_licao.pdf . Chodorow, N. (2002) Psicanálise da maternidade : uma crítica a Freud a partir da mulher. Trad. Nathanael C. Caixeiro, Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos. Dessen, M. A., & Costa Jr., Á. L. (2005). (orgs.). A ciência do desenvolvimento humano. Tendências atuais e perspectivas futuras. Porto Alegre, RS: Armed.
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