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Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste
Curso: Letras Português/Inglês
Disciplina: Literatura Brasileira II
Docente: Wagner de Souza
Discente: Adriana Kelly Tcatch Marcon – 3º Letras
RESUMO: VILELA, Arriete. Maria Flor etc. Grafmarques, 2002. 2ª edição.
1. A filhinha
Berenice há algum tempo fazia o trajeto, com hora marcada, e ia da
grota onde morava até o centro da cidade. Apesar de jovem, a moça já
apresentava sinais na pele provocados pela intensa exposição ao sol. Além
disso, estava sempre suja e mal cheirosa.
Já no centro da cidade, ela procurava se estabelecer perto de um
sinal de trânsito, onde ficava sempre acompanhada de uma criancinha de
colo que ela carregava de maneira desajeitada. A mocinha usava a criança
para comover quem passasse pelo local e, pela comoção, ganhava alguns
trocados, que para ela era a melhor forma de ganhar a vida. Para manter
seu “ganha pão”, a mocinha precisava garantir que o bebê estivesse
sempre nas piores condições, inclusive não permitia os ferimentos da
criança cicatrizassem.
Em meio aos carros, Berenice, usava a menina para ganhar moedas
no sinal. Nem sequer água ela oferecia para a criancinha, tamanha era sua
despreocupação com o bem estar desta.
Certa vez, ao exibir a criança na presença de policiais, a mocinha foi
levada presa e então percebeu que o bebê que carregara por tanto tempo,
como objeto, na verdade estava morto, e ela desesperada se questiona
aos gritos: “Por quê? Por quê?”.
Algum tempo depois, Berenice foi flagrada em uma esquina da
cidade onde morava, muito entristecida, carregando em seus braços uma
boneca velha, embrulhada em panos. Desolada, a mocinha acalentava a
boneca, como se fosse sua filhinha e já não aceitava mais as esmolas que
lhe eram oferecidas.
2. À pele da alma
Dilaceramento dos sentimentos femininos. É apresentado o tema
dilacerar como algo comumente vivido pelas mulheres. Inclusive o amor é
considerado um temível dilaceramento à alma feminina em suas entregas
amorosas.
Enquanto a figura feminina relata e reflete sobre os dilaceramentos
vividos e todo o desamor, eis que surge um rapazinho que ronda a mulher.
E ela não o percebe, continua a trabalhar na padaria onde só tem atenção
para os produtos que vende. Embora se sinta vazia e com as lembranças
voltadas ao marido infiel.
O engraxate, rapaz que a espreita e vive sua paixão primeira, não
sabe como lidar com uma mulher que sofrera por amor. O rapazinho se
apaixona pela mulher, de maneira tão intensa, que não percebe todo o
amargura dela.
Porém, ela não percebe sua presença, o rapazinho não tem
nenhuma importância. Ele a ama enormemente ao ponto de sonhar com a
mulher. Dessa maneira ele vai tecendo seus dilaceramentos por esse amor
não percebido, não correspondido.
Certa vez, à porta da padaria onde ela trabalhava, ele, o engraxate
olha a mulher no fundo dos olhos e ela também o olha, mas suas
lembranças o remetem a alguém conhecido, talvez um parente. Sem saber
o porquê a mulher se recorda de uma frase: “O vinho só é possível porque
havia uva antes” e passa a perceber no olhar do rapazinho alguma
esperança. Ele, ao perceber que ela o notara, volta a ser aquele jovem de
antes “sem pressas, sem agonias”.
A partir desse momento, a mulher o percebe como um rapazinho de
semblante com algum grau de beleza. E ao olhá-lo firmemente ela sente a
vida pulsar dentro do peito, a vida que ela, um dia, havia permitido dilacera-
se.
3. À procura de uma mãe
Sua infância fora tortuosa. Morava na casa de um senhor chamado
Lindinalvo, lá não havia qualquer demonstração de afeto, mas tais
sentimentos nunca lhe fizeram falta, ela nunca os sentiu.
Sobre sua mãe pouca coisa sabia, apenas de ouvir falar. O
agricultor Lindinalvo, quando estava sob o efeito alcoólico, algumas vezes
contava algo sobre.
A menina, Maria Flor, sabendo poucos detalhes sobre sua mãe, não
conseguia desenhar o seu passado. Com o que sabia, não conseguia
localizar a mãe, ou “uma mãe”.
O agricultor morreu e Maria Flor não pode expressar nenhum
sentimento de pesar pelo acontecimento. Ela não os tinha. Depois disso
Maria Flor partiu do povoado e foi para a capital, coisa que ninguém sabia
dizer como a menina havia conseguido, já que era acostumada à
tranquilidade da vida rural.
Já na cidade grande, Maria Flor conhece todas as moléstias que
assolam a vida urbana como, o “desamparo”, “hostilidade” e
“desabrigados”.
Entre tantas pessoas, Maria Flor, esperançosa, buscava uma mãe.
Encontrou Otília, que era catadora de latinhas. Ficou entusiasmada com as
características da mulher, que eram totalmente diferentes daquelas
apresentadas pelo velho Lindinalvo. A menina, então, passou a seguir os
passos da mulher durante as madrugadas e a catar latinhas junto com ela.
Mas Otília parecia nem notar a sua presença, aliás, não lhe dirigia
nenhuma palavra.
Certa madrugada, a catadora de latinhas, Otília, juntou marido e
filhos e partiu para outro lugar. A mulher não sabia como lidar com as
demonstrações de afeto expressadas pela menina.
Ao saber sobre a partida de Otília, Maria Flor fica desolada. E
continua, por bairros muitos populosos, a busca por uma possível mãe.
Nesses locais, as pessoas, sem entender a real busca da menina, lhe
ofereciam pouso e comida em troca de algum trabalho. Nesses locais, em
que a menina trabalhava, tinha o costume de chamar a dona da casa de
mãe, o que provocava nas pessoas certa estranheza e, em seguida, era
dispensada da casa.
Certa vez, nas ruas por onde andava, Maria Flor encontrou uma
mulher chamada Iaiá Gordinha, talvez o apelido se desse pelo fato de ela
pesar mais de cem quilos. Aos olhos de Maria Flor aquela mulher poderia
ser sua mãe, e sonhava, inclusive, ser acarinhada pela Iaiá, como só uma
mãe poderia fazer.
Maria Flor observava a sua pretendente a mãe no seu trabalho
como vendedora de guloseimas. Ao anoitecer Iaiá recolhia tudo o que não
fora vendido e levava para casa em sacolas muito pesadas. Maria Flor
vendo o sofrimento de Iaiá, com pernas cheias de varizes, a ajudava e em
seus pensamentos a chamava de mãe. Como pagamento pela ajuda, a
menina ganhava alguma comida e despediam se.
Certa vez Iaiá não apareceu para vender suas guloseimas, o que
Maria Flor estranhou. Mais um dia e nada da mulher. Havia sumido,
definitivamente e a menina acreditando ter sido abandonada mais uma vez,
ficou entristecida. E foi embora cantarolando.
Passado muito tempo, Maria Flor encontrou uma mãe, dessas que
fazem carinho e tudo. Ela agora tinha tudo, de carícias de mãe à
maquiagens.
Era uma mãe muito feliz, que tinha amigos, bebia com amigos ou
com amigas esquisitas.
Maria Flor era, agora, uma menina, de 16 anos, bonita e que
provocou em Lindinalvo, quando ela tinha 9, alguns atos libidinosos, por
vezes.
Na casa de Iaiá, Maria Flor se entregava a uma grande quantidade
de homens, sem nenhuma afetividade. Ela se deixava levar pelo simples
fato de ter uma mãe que lhe oferecia afagos.
Tempos depois, Maria Flor foi levada por policiais, depois de
denúncias e passou a morar em uma instituição para crianças
abandonadas. Essas crianças a chamavam de mãe.
4. Calungas
Depois de um convite para casamento foi que D. Veridiana
conheceu os bonecos chamados de calungas. Tão encantada ficou que
decidiu produzir ela própria. Para os primeiros, adquiriu todos os
apetrechos necessários e começou a trabalhar na produção. Fazia bonitas
roupas para os bonequinhos que serviam para enfeitar casamentos,
batizados e até aniversários.
Depois, pedia e ganhava aviamentos para suas colegas costureiras.
E com isso conseguia um bom estoque de matéria-prima.
A paixão pelos calungas fazia com que vizinhas zombassem de D.
Veridiana, perguntavam-lhe se tinha tantas encomendas e diziam que
ficaria rica o que era ignorado pela mulher.
Passados os anos, D. Veridiana tinha muito tecido para confeccionar
os bonecos que sumiam do mercado, foram sendo substituídos nas festas
por outros modelos de arranjos, porém, tal acontecimento não preocupava,
ela trabalhava com o mesmo afinco.
Com os pedidos escasseando, ela precisou reduzir seus custos
como, por exemplo, de energia elétrica, que foi substituída por candeeiros.
Já sem nenhuma encomenda, ela não desanimava e continuava a
vestir os calungas com a mesma paixão primeira.
Em dias de procissão, a artesã fazia a exposição dos bonequinhos,
dos quais sentia muito orgulho, em suas janelas, no entanto o povo não
olhava, não dava importância. Já as crianças pediam que ela lhes desse os
calungas, mas eram surpreendidos com xingamentos aos gritos e logo
retirava os calungas de exibição.
Por medo de que alguém pudesse lhe surrupiar os bonecos D.
Veridiana se negava a sair de casa. Seu apego pelos calungas era
tamanho que ela fazia carinhos neles, dispostos em seu colo, e por vezes
cantava.
D. Veridiana estava mesmo abandonada, não recebia nenhuma
visita. Sua filha lhe enviava carta de vez em quando, mas estas não tinham
nenhuma importância para a senhora moribunda, ela sequer as abria.
A apaixonada pelos calungas morava em um pequeno cômodo em
meio a sujeira dividido com animais e insetos. Os roedores se procriavam
em larga escala em meio aos restos de tecidos que ela acumulava.
Tamanha era a sujeira que as ratazanas lhe roíam os dedos e ela, já fora
de si, acreditava ser os bonequinhos calunga em alguma brincadeira.
Acreditando piamente nisso ela acariciava os bonecos e assim adormeceu,
os ratos lhe escalavam os candeeiros e o corpo de um lado para o outro.
Durante a madrugada a sirene dos bombeiros interrompia o sono
dos moradores e quando chegaram à casa de D.Veridiana perceberam que
nada mais podiam fazer.
5. Fixação erótica
A mãe foi surpreendida pelo filho que a sua frente, um filho que
naquele momento ela desconhecia, que nunca o viu agindo de tal forma.
Ele a tomava pelas orelhas, ambos sentiram medo; ele dos modos e da
fúria que sentia. A mãe, no entanto, se sentia muito mais assustada. O
filho, por sua vez, se sentia feliz no seu íntimo, afinal intimidava alguém.
Ainda agarrado às orelhas da mãe, o filho sacudia sua cabeça para
todos os lados, de maneira cadenciada, da mais fraca a mais forte. A mãe
quis pedir socorro, mas temia que os vizinhos especulassem. Precisava
encontrar outro jeito de se livrar das garras do filho enfurecido. Pedia-lhe
que parasse, era ignorada por ele, que com um olhar enraivecido,
aterrorizante continuava a tortura.
Nos momentos em que estava agarrado às orelhas da mãe,
percebeu que na verdade ele não a odiava e lembrava do quão amorosa
era aquela mãe. Mas ele sentia um desejo enorme de beijar os lábios da
própria mãe, tinha por ela uma verdadeira paixão sexual, desde a
adolescência.
E, agora, já homem, aos 22 anos precisava dizer à mãe sobre seus
desejos, ele queria possuí-la.
O filho gostava da mãe, ela teria sido uma mãe sempre muito
atenciosa. Naqueles atos de tortura, ele queria vê-la atemorizada pelo fato
de que nunca pode atender suas fantasias sexuais.
Nas ocasiões de tortura, tinha a mãe como alguém impotente que
para ele era um ato de dominação, e nenhuma das ideias atormentadoras
importava.
6. Flor de esterco
Eudócia, grávida de nove meses, do próprio pai, sentia asco e o pior
de tudo isso era que, ao ser questionada pela mãe, não podia dizer quem a
engravidara, aliás não podia dizer a si própria. Ela desejava a morte
daquele filho indesejado, concebido por atos de agressão e maldição.
Ela não conseguia aceitar que carregava o filho do próprio pai, a
quem ela amava. Lembrava-se da infância ao lado dele em inúmeras
atividades, eram todas boas recordações de criança.
Lembrava-se da brincadeira de cadeirinha, o Sermão de S. Coelho.
A criança feliz cresceu, despertou interesse por parte de jovens
garotos. O pai a cuidava, em suas idas e vindas. Aparentando ser apenas
um pai ciumento, vetou todas as saídas da menina.
Certa vez, o pai, em um caminho na área rural tentou possuir a
garota forçosamente, ela avisou que gritaria para a mãe, ele a largou.
Voltaram pra casa e ele alardeava que não permitiria que nenhum outro
homem a tocasse. Ele seria o primeiro, por direito.
Mesmo a menina evitando os assédios do pai, acabou
engravidando, o que lhe causou muita revolta.
Certo dia de muito calor, ela trouxe a luz uma menina, a qual ela
arrancava de si aos berros maldizendo aquele ser. Queria se desfazer
daquele peso ali mesmo, a queria morta. Assim que acabou de parir, a
moça jogou o bebê para o lado.
Depois de estar livre da criança que carregou por nove meses em
seu ventre, Eudócia correu para a casa, o sangue ainda lhe escorria pelas
pernas, ela queria que a mãe a visse como uma adolescente pura
novamente.
Saiu da casa, correndo pelo sítio foi em busca do pai para que ele
visse a amargura que lhe causara.
7. Jonas
Durante a vida, Jonas sofreu muitas frustrações e isso fica
registrado nas águas do rio. Mesmo depois de casado, depois de ter filhos
que causariam orgulho, ele ainda tinha reclamações. E eram diversas,
desde a esposa até vizinhos. Não colecionava amigos. Colocava apelidos
em quem quer que fosse e ainda promovia diz-que-diz-que traiçoeiros, aos
quais ele desmoronava em sua própria armadilha.
O hostil olhar de Jonas podem ter sido herdados desde a infância
quando estava sob a tutela do tio padre, que insistia em enfatizar o quão
inúteis foram seus verdadeiros pais.
Quando criança, em vez de brincar e se divertir como os garotos de
sua idade, aos sábados, Jonas deveria, a mando do tio, ajudar o padre
Lídio com as hóstias, na igreja.
Para o tio, o garoto deveria ser padre, mas Jonas queria mesmo era
ser ator.
Uma amiga conheceu o rosto de Jonas, quando ainda não era
frustrado, era triste, mas tinha uma ingenuidade no olhar. Parecia amoroso.
Ela apreciava seu olhar que se fundia, poeticamente, sobre as aguas
limpas do rio.
Depois que seu tio morreu, o seminário ficou no passado, eram
apenas tristes lembranças.
A paixão aconteceu, mas era pressionado por fatos que viveu no
seminário. Tinha o sonho de ainda ser ator, mas por motivos que a vida lhe
trouxera, deixava tudo para depois. Tinha o íntimo desejo em ser ator, no
entanto, quem o olhava nos olhos não podia ver isso. A frustração era tanta
que ele sentia raiva de todos que o rodeava.
Seu olhar não era iluminado, era um homem hostil, de alma gélida.
Um ser humano mordaz.
E agora, com o olhar voltado para o rio da infância, ele busca o
saudoso garotinho esperançoso que tempos atrás.
Porém agora, já envelhecido, aos 70 anos, Jonas, que viveu
inúmeras frustrações durante seu percurso, busca ser o menino Jonas nas
águas do rio. Infelizmente, não é possível retornar a juventude e ele, já
velho, então lamenta por tudo que deixou para depois.
8. O enterro das bonecas
Para Esterlina, o que importa mesmo são as lembranças de
acontecimentos do passado. Pouco lhe interessa fatos hodiernos como,
marido e até filhos.
Ela não dava respostas a nenhum questionamento, fossem de gente
de casa ou de pessoas de fora. Em silêncio, ela apreciava mesmo o
passado.
Do passado vinham também as diversas bonecas que possuía.
Eram presentes de seu pai que a tratava como uma boneca, por ser uma
menina bonita.
Seu pai passava longos períodos fora de casa e, quando retornava,
trazia consigo muitas bonecas. Mais de uma dúzia.
No entanto, Esterlina, quando o pai saía em viagem novamente,
enterrava as bonecas, num ato de aborrecimento pelo abandono, ficava
entristecida com cada partida do pai.
Para o enterro das bonecas eram feitas mortalhas,
preferencialmente, na cor roxa. Tecidas por ela.
Vestidas as bonecas, ela seguia para o ritual de abrir as covas no
quintal. E seguia todo um protocolo criado por ela para o funeral das
bonecas, inclusive com cantos que ouviu diversas vezes em situações
reais, quando era levada a velórios por Anfrísia, que parecia ser obcecada
por morte.
As bonecas velhas eram abrandadas da pena de morte, ela não as
enterrava. Era como se elas estivessem fadadas a velhice apenas, e não
morreriam. Não tinham muita importância. Mas também não se desfazia de
nenhuma, por motivo algum.
Sem expressar palavra alguma, Esterlina aguarda a libertação na
morte, que aparenta não ter interesse por ela.
9. O envelope
Desinteressada foi atender a porta, a pedido da mãe. Já sabia que
não era nenhum amigo a chamando para ir brincar. Nenhum deles batia a
porta.
Ao abrir a porta percebeu ser a Dona Eutímia, uma velha amiga da
mãe. Mas o que chamou a atenção da menina foi a bolsa da senhora.
Despertou uma curiosa paixão pela bolsa da visita. A mãe a Dona
Eutímia conversavam e não foi permitida a presença da menina. A mãe lhe
mandara ir brincar, pois não poderia ficar ouvindo as conversas das duas.
A menina não tinha nenhum interesse pelo que falavam e sim pela
bolsa. Não era sem graça como a bolsa que sua mãe mantinha pendurada
em um cabide. A da visita chamava a atenção pela beleza. E despertava a
curiosidade em saber quais eram os objetos carregados ali.
Lá fora, estava atormentada pelo desejo em ter a bolsa nas mãos.
Pelas frestas via o fecho tentador da bolsa e se questionava sobre onde
exatamente estaria alojada a bolsa.
A curiosidade pela bolsa de Dona Eutímia aumentava cada vez
mais. Ela queria bisbilhotar tudo o que havia em seu interior. Só queria
satisfazer seu desejo de ver o que estava oculto sob a beleza da bolsa.
Quando a mãe convida a amiga para um lanche, eis que pode surgir
a oportunidade de a menina vasculhar seu objeto de desejo: a bolsa da
visita.
Dona Eutímia agradecia, mas já se levantava e se dirigia a sala de
jantar onde estavam dispostos algumas guloseimas para satisfazer a fome
das duas depois de horas de conversa a fio.
Era o momento propício. A menina entrou na sala de visitas,
silenciosamente, verificou a bolsa, de que era feita. Em seguida despejou
no chão todo o conteúdo, tomando cuidado para que nada se perdesse.
O conteúdo da bolsa era vasto. Ia desde maquiagens, comum para
mulheres, terço, santinhos até um envelope fechado, lacrado.
Verificou contra luz e se questionou: seria uma carta? Percebeu
também um perfume agradável vindo do objeto.
Ao ouvir que a mãe e a visita estavam voltando para a sala de estar,
apressou-se em guardar de qualquer jeito os pertences da senhora. Mas
não teve tempo suficiente para guardar tudo e foi surpreendia pelas duas.
A Dona Eutímia ficou furiosa ao ver a garota mexendo em sua bolsa e
questionou a mãe da menina sobre a criação dos filhos.
Após flagrar a menina e dar bronca em mãe e filha a Dona Eutímia
se despede e vai embora.
Mas a menina não escaparia de uma bela surra de sua mãe. Com a
mãe agarrada as suas orelhas, ela tentou alertar a amiga enfurecida de
sua mãe sobre envelope que havia ficado, a mulher não ouviu. A garota o
guardou no bolso do vestido, ao se confundir durante o flagra na sala de
estar.
Por ter fuçado na bolsa da visita, a menina ouviu sermão e apanhou
muito, mas não deixou que a mãe soubesse sobre o envelope que havia
ficado no bolso de seu vestido.
Depois de muito tempo, já adulta, ela a menina apaixonada por
bolsas reencontra em meio a papéis o envelope de Dona Eutímia e lembra-
se da surra que levou por mexericar em pertences alheios. Tenta buscar o
cheiro bom que ele tinha, mas que com o passar dos anos perdeu-se no
tempo, não havia cheiro algum e estava com aspecto envelhecido,
amarelado.
O envelope estava ali, mesmo depois de tantas mudanças, estava
bem guardado longe dos olhos dela por tanto tempo.
Com o velho envelope nas mãos, questiona-se sobre abrir ou não
abrir, satisfazer ou não a curiosidade. Enfim, decidiu não abrir e teve a
sensação de que a Dona Eutímia a agradecia de algum lugar no além.
10.Os olhos da menina
Com olhar entristecido, tristeza que vinha de dentro de sua alma, a
menina acreditava que a felicidade de outras pessoas seriam cobradas a
um preço doloroso por serem assim. Os olhos desta menina eram
“estilhaçantes”, mas as pessoas não tinham a dimensão do quanto o eram.
A menina decide mudar. Agora, seus olhos que outrora
incomodavam, olham atentamente a escuridão por debaixo da toalha que
cobre a mesa de um cabaré, enquanto seu corpo miúdo permeia por uma
“braguilha” aqui e outra acolá, por debaixo das mesas, satisfazendo
desejos de homens. Ao final do expediente, ela recebe alguns trocados
pagos pelos homens, que sem nenhum escrúpulo ou culpa, sentem prazer
naquele ato criminoso.
Depois de tudo a menina repousa seu corpo infantil em uma cama
improvisada, ao fundo do cabaré, agarra sua boneca de pano e adormece
cantarolando canções de ninar.
11.Rua sem nome, casa sem número
Valdicéia morava com o filho, que teve aos 15 anos, na casa de D.
Deusdete. O filho gostava muito da mãe, embora ela fosse meio sem juízo,
mesmo aos 24 anos, conforme conhecidos costumavam afirmar.
A moça foi parar na casa desta senhora de uma maneira um tanto
inusitada.
Certa vez, ciganos surgiram nas redondezas da casa de D.
Deusdete e uma das ciganas, carregando uma criança de colo, chegou até
a casa para pedir água e ao ver uma rede pediu a dona da casa para
acomodar o bebê ali para que pudesse descansar os braços. A senhora,
muito gentilmente, saiu em busca da água que a mulher havia solicitado.
Ao voltar, D. Deusdete não mais vê o bando de ciganos, chama pela
mulher e nada. Não há mais ninguém por ali. No entanto, a senhora
percebe algum barulho vindo da rede e, ao verificar, encontrou a
menininha, que quase morre sufocada pelos tecidos da rede.
A senhora se assusta e questiona sobre a mãe que abandonou
aquela criança ali e desapareceu.
Passado algum tempo. A menina Valdiceia já com 13 ou 14 anos,
eis que surge outro grupo de ciganos que preocupa D. Deusdete. Ela se
pergunta o que eles aprontariam desta vez.
Os ciganos se acamparam perto de onde D. Deusdete morava e
viviam ali por perto, ela até gostava de viver perto deles, eram pessoas
alegres.
Porém, com a partida dos ciganos, a senhora percebeu que
Valdiceia, já uma mocinha, andava aborrecida, sem apetite. Desconfiada,
D. Deusdete não entendia como ou quando algo aconteceu com a menina.
Meses depois a senhora trazia ao mundo o bebê de Valdiceia,
chamado de Josivaldo. O menino cresceu, era uma criança arteira, subia
em arvores e tudo.
A mãe, Valdiceia, continuava aquela menina de quinze anos, sem
juízo. Não tinha muito zelo pelo garoto que andava sujo.
D. Deusdete dava bronca em Valdiceia, lhe questionava se nunca
iria agir como uma pessoa adulta que era.
Pensando no sermão dado pela sua mãe de criação, Valdiceia, a
menina sem juízo, quis mudar, mudar tudo.
Decidiu que iria morar na capital para trabalhar e criar o filho de
maneira independente. O menino não queria ir, nem D. Deusdete queria
que fosse. Ele era o contentamento da casa. Valdiceia e Josivaldo partiram
mesmo assim.
Na capital, a moça percebeu que os sonhos que tinha não seriam
assim tão fáceis de conquistar, a realidade era bem diferente daquilo que
ela um dia imaginou.
Desiludida, começou a ir por caminhos tortuosos das bebidas
alcoólicas, prostituição e esmolas. Josivaldo foi encaminhado para uma
instituição para menores, onde passava as noites e na manhã seguinte
dividia com a mãe o alimento que ganhava na Casa Aberta.
Depois de dois anos Valdiceia decidiu que iria para São Paulo.
Josivaldo, que gostava muito da mãe, não queria estar em risco outra vez.
Na instituição ele tinha estudo e ganhava até uns trocados como
engraxate. O menino queria ficar bem e avisou a mãe que não a
acompanharia no novo desafio. Ela insistiu de todas as maneiras para que
ele aceitasse a proposta. Estava irredutível, não foi.
Certo dia ele recebeu, na Casa Aberta uma carta de sua mãe e esta
informava seu péssimo estado de saúde. Estava adoentada “por causa das
bebedeiras com vagabundos”, dizia.
Preocupado, Josivaldo arranjou algum dinheiro para ir visitar a mãe.
Ao encontra-la percebeu o quão fragilizada e infeliz ela estava.
Passado meses, outra carta e outra visita à mãe. As cartas e as
viagens se tornaram tão frequentes que Josivaldo acabou por perder seu
emprego em uma loja de ferragens, bem como outros trabalhos que havia
conseguido ao longo do tempo.
Agora além de estar debilitada pelo álcool, a mãe havia adquirido o
vírus HIV, a AIDS. Em uma das tantas visitas, ele foi informado de que a
mãe havia fugido de onde estava internada. Soube por meio de um irritado
enfermeiro que a mãe havia escapado para conseguir mais drogas, álcool
e coisas ilícitas.
Na instituição, Casa Aberta, o menino se despediu de todos e partiu.
Foi encontrar com D. Deusdete aquém ele chamava de avó, ela, já idosa, o
recebeu com um carinhoso abraço, conversaram muito sobre
acontecimentos passados. Ele reviu o local onde viveu parte da infância.
Desde a chegada de Josivaldo, D. Deusdete parecia mais animada, havia
felicidade entre os dois e era ali que Josivaldo queria permanecer, nesse
lugar que nem ao menos tinha código postal.
12.Saia rodada
Um questionamento: “Anjos usam saias rodadas?”.
Dona Marinete carregava o filho de onze anos pelas ladeiras da
cidade para leva-lo ao médico, pois o garoto havia machucado o braço.
Não tinha pressa, não era um caso de urgência.
Já na praça central, ela percebeu um grande tumulto, pessoas
corriam em todas as direções. A algazarra foi causada pelo assassinato de
um político. Tinha gente fugindo e gente querendo saber o que havia
acontecido.
De repente, no meio de toda a confusão, a mulher e a criança
precisavam passar ali para acessar o hospital, eles são surpreendidos por
algo semelhante a um empurrão, talvez. Foram jogados no meio de um
canteiro de flores. Levantaram se dali, mãe e filho, e foram se proteger em
uma loja que já era fechada por um funcionário apavorado pelo incidente.
Assustado o homem permitiu que eles adentrassem ao local, mãe, filho e
um menino agarrado à barra da saia de D. Marinete.
Antes do assassinato do político, o menino, que agarrou-se a saia
da mulher, João andava pela praça. Ele vivia ali desde que viu o pai
assassinar a mãe, depois disso nunca mais quis retornar a casa. O pai
desse garoto era alcoólatra e muito violento.
Na hora da confusão que envolvia a morte do político na praça, João
estava desesperado, associava tudo aquilo a morte da mãe. Foi aí que
avistou a mulher também caída no canteiro de flores e segurou na saia
dela. No entanto, pela euforia, o medo e o desejo de fugir dali com o filho
machucado, Dona Marinete nem se deu conta de que havia um garotinho
agarrado as suas vestes.
Já livre do perigo e acolhidos pelo funcionário da loja os três estava
ali. A mulher aconchegava o filho e o outro garoto, que até então ainda não
havia sido percebido por ela, chegou mais perto. Ao passo que ambos os
garotos já estavam aconchegados a mulher. O funcionário, percebendo
todo o nervosismo dela, lhe ofereceu uma água-calmante.
Mais calma a praça, e já tarde para a reabertura do comércio, o
homem, gentilmente, os levou até o hospital. E ela agradeceu por todos os
esforços.
No momento em que ia se despedir do funcionário da loja, foi que
ela percebeu que em sua mão esquerda havia um menino. E só nesse
momento ela se deu conta da presença do garoto João. Parecia-lhe um
filho, com a mesma idade do seu, que ela acabava de ganhar.
Eusébio, o funcionário da loja, muito solícito se oferece para leva-los
até a casa e a partir daquele momento o garotinho que encontrou na praça
passou a compor a sua feliz família.

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Análise de textos literários sobre temas sociais

  • 1. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste Curso: Letras Português/Inglês Disciplina: Literatura Brasileira II Docente: Wagner de Souza Discente: Adriana Kelly Tcatch Marcon – 3º Letras RESUMO: VILELA, Arriete. Maria Flor etc. Grafmarques, 2002. 2ª edição. 1. A filhinha Berenice há algum tempo fazia o trajeto, com hora marcada, e ia da grota onde morava até o centro da cidade. Apesar de jovem, a moça já apresentava sinais na pele provocados pela intensa exposição ao sol. Além disso, estava sempre suja e mal cheirosa. Já no centro da cidade, ela procurava se estabelecer perto de um sinal de trânsito, onde ficava sempre acompanhada de uma criancinha de colo que ela carregava de maneira desajeitada. A mocinha usava a criança para comover quem passasse pelo local e, pela comoção, ganhava alguns trocados, que para ela era a melhor forma de ganhar a vida. Para manter seu “ganha pão”, a mocinha precisava garantir que o bebê estivesse sempre nas piores condições, inclusive não permitia os ferimentos da criança cicatrizassem. Em meio aos carros, Berenice, usava a menina para ganhar moedas no sinal. Nem sequer água ela oferecia para a criancinha, tamanha era sua despreocupação com o bem estar desta. Certa vez, ao exibir a criança na presença de policiais, a mocinha foi levada presa e então percebeu que o bebê que carregara por tanto tempo,
  • 2. como objeto, na verdade estava morto, e ela desesperada se questiona aos gritos: “Por quê? Por quê?”. Algum tempo depois, Berenice foi flagrada em uma esquina da cidade onde morava, muito entristecida, carregando em seus braços uma boneca velha, embrulhada em panos. Desolada, a mocinha acalentava a boneca, como se fosse sua filhinha e já não aceitava mais as esmolas que lhe eram oferecidas. 2. À pele da alma Dilaceramento dos sentimentos femininos. É apresentado o tema dilacerar como algo comumente vivido pelas mulheres. Inclusive o amor é considerado um temível dilaceramento à alma feminina em suas entregas amorosas. Enquanto a figura feminina relata e reflete sobre os dilaceramentos vividos e todo o desamor, eis que surge um rapazinho que ronda a mulher. E ela não o percebe, continua a trabalhar na padaria onde só tem atenção para os produtos que vende. Embora se sinta vazia e com as lembranças voltadas ao marido infiel. O engraxate, rapaz que a espreita e vive sua paixão primeira, não sabe como lidar com uma mulher que sofrera por amor. O rapazinho se apaixona pela mulher, de maneira tão intensa, que não percebe todo o amargura dela. Porém, ela não percebe sua presença, o rapazinho não tem nenhuma importância. Ele a ama enormemente ao ponto de sonhar com a mulher. Dessa maneira ele vai tecendo seus dilaceramentos por esse amor não percebido, não correspondido. Certa vez, à porta da padaria onde ela trabalhava, ele, o engraxate olha a mulher no fundo dos olhos e ela também o olha, mas suas lembranças o remetem a alguém conhecido, talvez um parente. Sem saber o porquê a mulher se recorda de uma frase: “O vinho só é possível porque havia uva antes” e passa a perceber no olhar do rapazinho alguma esperança. Ele, ao perceber que ela o notara, volta a ser aquele jovem de antes “sem pressas, sem agonias”.
  • 3. A partir desse momento, a mulher o percebe como um rapazinho de semblante com algum grau de beleza. E ao olhá-lo firmemente ela sente a vida pulsar dentro do peito, a vida que ela, um dia, havia permitido dilacera- se. 3. À procura de uma mãe Sua infância fora tortuosa. Morava na casa de um senhor chamado Lindinalvo, lá não havia qualquer demonstração de afeto, mas tais sentimentos nunca lhe fizeram falta, ela nunca os sentiu. Sobre sua mãe pouca coisa sabia, apenas de ouvir falar. O agricultor Lindinalvo, quando estava sob o efeito alcoólico, algumas vezes contava algo sobre. A menina, Maria Flor, sabendo poucos detalhes sobre sua mãe, não conseguia desenhar o seu passado. Com o que sabia, não conseguia localizar a mãe, ou “uma mãe”. O agricultor morreu e Maria Flor não pode expressar nenhum sentimento de pesar pelo acontecimento. Ela não os tinha. Depois disso Maria Flor partiu do povoado e foi para a capital, coisa que ninguém sabia dizer como a menina havia conseguido, já que era acostumada à tranquilidade da vida rural. Já na cidade grande, Maria Flor conhece todas as moléstias que assolam a vida urbana como, o “desamparo”, “hostilidade” e “desabrigados”. Entre tantas pessoas, Maria Flor, esperançosa, buscava uma mãe. Encontrou Otília, que era catadora de latinhas. Ficou entusiasmada com as características da mulher, que eram totalmente diferentes daquelas apresentadas pelo velho Lindinalvo. A menina, então, passou a seguir os passos da mulher durante as madrugadas e a catar latinhas junto com ela. Mas Otília parecia nem notar a sua presença, aliás, não lhe dirigia nenhuma palavra. Certa madrugada, a catadora de latinhas, Otília, juntou marido e filhos e partiu para outro lugar. A mulher não sabia como lidar com as demonstrações de afeto expressadas pela menina.
  • 4. Ao saber sobre a partida de Otília, Maria Flor fica desolada. E continua, por bairros muitos populosos, a busca por uma possível mãe. Nesses locais, as pessoas, sem entender a real busca da menina, lhe ofereciam pouso e comida em troca de algum trabalho. Nesses locais, em que a menina trabalhava, tinha o costume de chamar a dona da casa de mãe, o que provocava nas pessoas certa estranheza e, em seguida, era dispensada da casa. Certa vez, nas ruas por onde andava, Maria Flor encontrou uma mulher chamada Iaiá Gordinha, talvez o apelido se desse pelo fato de ela pesar mais de cem quilos. Aos olhos de Maria Flor aquela mulher poderia ser sua mãe, e sonhava, inclusive, ser acarinhada pela Iaiá, como só uma mãe poderia fazer. Maria Flor observava a sua pretendente a mãe no seu trabalho como vendedora de guloseimas. Ao anoitecer Iaiá recolhia tudo o que não fora vendido e levava para casa em sacolas muito pesadas. Maria Flor vendo o sofrimento de Iaiá, com pernas cheias de varizes, a ajudava e em seus pensamentos a chamava de mãe. Como pagamento pela ajuda, a menina ganhava alguma comida e despediam se. Certa vez Iaiá não apareceu para vender suas guloseimas, o que Maria Flor estranhou. Mais um dia e nada da mulher. Havia sumido, definitivamente e a menina acreditando ter sido abandonada mais uma vez, ficou entristecida. E foi embora cantarolando. Passado muito tempo, Maria Flor encontrou uma mãe, dessas que fazem carinho e tudo. Ela agora tinha tudo, de carícias de mãe à maquiagens. Era uma mãe muito feliz, que tinha amigos, bebia com amigos ou com amigas esquisitas. Maria Flor era, agora, uma menina, de 16 anos, bonita e que provocou em Lindinalvo, quando ela tinha 9, alguns atos libidinosos, por vezes. Na casa de Iaiá, Maria Flor se entregava a uma grande quantidade de homens, sem nenhuma afetividade. Ela se deixava levar pelo simples fato de ter uma mãe que lhe oferecia afagos.
  • 5. Tempos depois, Maria Flor foi levada por policiais, depois de denúncias e passou a morar em uma instituição para crianças abandonadas. Essas crianças a chamavam de mãe. 4. Calungas Depois de um convite para casamento foi que D. Veridiana conheceu os bonecos chamados de calungas. Tão encantada ficou que decidiu produzir ela própria. Para os primeiros, adquiriu todos os apetrechos necessários e começou a trabalhar na produção. Fazia bonitas roupas para os bonequinhos que serviam para enfeitar casamentos, batizados e até aniversários. Depois, pedia e ganhava aviamentos para suas colegas costureiras. E com isso conseguia um bom estoque de matéria-prima. A paixão pelos calungas fazia com que vizinhas zombassem de D. Veridiana, perguntavam-lhe se tinha tantas encomendas e diziam que ficaria rica o que era ignorado pela mulher. Passados os anos, D. Veridiana tinha muito tecido para confeccionar os bonecos que sumiam do mercado, foram sendo substituídos nas festas por outros modelos de arranjos, porém, tal acontecimento não preocupava, ela trabalhava com o mesmo afinco. Com os pedidos escasseando, ela precisou reduzir seus custos como, por exemplo, de energia elétrica, que foi substituída por candeeiros. Já sem nenhuma encomenda, ela não desanimava e continuava a vestir os calungas com a mesma paixão primeira. Em dias de procissão, a artesã fazia a exposição dos bonequinhos, dos quais sentia muito orgulho, em suas janelas, no entanto o povo não olhava, não dava importância. Já as crianças pediam que ela lhes desse os calungas, mas eram surpreendidos com xingamentos aos gritos e logo retirava os calungas de exibição. Por medo de que alguém pudesse lhe surrupiar os bonecos D. Veridiana se negava a sair de casa. Seu apego pelos calungas era tamanho que ela fazia carinhos neles, dispostos em seu colo, e por vezes cantava.
  • 6. D. Veridiana estava mesmo abandonada, não recebia nenhuma visita. Sua filha lhe enviava carta de vez em quando, mas estas não tinham nenhuma importância para a senhora moribunda, ela sequer as abria. A apaixonada pelos calungas morava em um pequeno cômodo em meio a sujeira dividido com animais e insetos. Os roedores se procriavam em larga escala em meio aos restos de tecidos que ela acumulava. Tamanha era a sujeira que as ratazanas lhe roíam os dedos e ela, já fora de si, acreditava ser os bonequinhos calunga em alguma brincadeira. Acreditando piamente nisso ela acariciava os bonecos e assim adormeceu, os ratos lhe escalavam os candeeiros e o corpo de um lado para o outro. Durante a madrugada a sirene dos bombeiros interrompia o sono dos moradores e quando chegaram à casa de D.Veridiana perceberam que nada mais podiam fazer. 5. Fixação erótica A mãe foi surpreendida pelo filho que a sua frente, um filho que naquele momento ela desconhecia, que nunca o viu agindo de tal forma. Ele a tomava pelas orelhas, ambos sentiram medo; ele dos modos e da fúria que sentia. A mãe, no entanto, se sentia muito mais assustada. O filho, por sua vez, se sentia feliz no seu íntimo, afinal intimidava alguém. Ainda agarrado às orelhas da mãe, o filho sacudia sua cabeça para todos os lados, de maneira cadenciada, da mais fraca a mais forte. A mãe quis pedir socorro, mas temia que os vizinhos especulassem. Precisava encontrar outro jeito de se livrar das garras do filho enfurecido. Pedia-lhe que parasse, era ignorada por ele, que com um olhar enraivecido, aterrorizante continuava a tortura. Nos momentos em que estava agarrado às orelhas da mãe, percebeu que na verdade ele não a odiava e lembrava do quão amorosa era aquela mãe. Mas ele sentia um desejo enorme de beijar os lábios da própria mãe, tinha por ela uma verdadeira paixão sexual, desde a adolescência. E, agora, já homem, aos 22 anos precisava dizer à mãe sobre seus desejos, ele queria possuí-la.
  • 7. O filho gostava da mãe, ela teria sido uma mãe sempre muito atenciosa. Naqueles atos de tortura, ele queria vê-la atemorizada pelo fato de que nunca pode atender suas fantasias sexuais. Nas ocasiões de tortura, tinha a mãe como alguém impotente que para ele era um ato de dominação, e nenhuma das ideias atormentadoras importava. 6. Flor de esterco Eudócia, grávida de nove meses, do próprio pai, sentia asco e o pior de tudo isso era que, ao ser questionada pela mãe, não podia dizer quem a engravidara, aliás não podia dizer a si própria. Ela desejava a morte daquele filho indesejado, concebido por atos de agressão e maldição. Ela não conseguia aceitar que carregava o filho do próprio pai, a quem ela amava. Lembrava-se da infância ao lado dele em inúmeras atividades, eram todas boas recordações de criança. Lembrava-se da brincadeira de cadeirinha, o Sermão de S. Coelho. A criança feliz cresceu, despertou interesse por parte de jovens garotos. O pai a cuidava, em suas idas e vindas. Aparentando ser apenas um pai ciumento, vetou todas as saídas da menina. Certa vez, o pai, em um caminho na área rural tentou possuir a garota forçosamente, ela avisou que gritaria para a mãe, ele a largou. Voltaram pra casa e ele alardeava que não permitiria que nenhum outro homem a tocasse. Ele seria o primeiro, por direito. Mesmo a menina evitando os assédios do pai, acabou engravidando, o que lhe causou muita revolta. Certo dia de muito calor, ela trouxe a luz uma menina, a qual ela arrancava de si aos berros maldizendo aquele ser. Queria se desfazer daquele peso ali mesmo, a queria morta. Assim que acabou de parir, a moça jogou o bebê para o lado. Depois de estar livre da criança que carregou por nove meses em seu ventre, Eudócia correu para a casa, o sangue ainda lhe escorria pelas pernas, ela queria que a mãe a visse como uma adolescente pura novamente.
  • 8. Saiu da casa, correndo pelo sítio foi em busca do pai para que ele visse a amargura que lhe causara. 7. Jonas Durante a vida, Jonas sofreu muitas frustrações e isso fica registrado nas águas do rio. Mesmo depois de casado, depois de ter filhos que causariam orgulho, ele ainda tinha reclamações. E eram diversas, desde a esposa até vizinhos. Não colecionava amigos. Colocava apelidos em quem quer que fosse e ainda promovia diz-que-diz-que traiçoeiros, aos quais ele desmoronava em sua própria armadilha. O hostil olhar de Jonas podem ter sido herdados desde a infância quando estava sob a tutela do tio padre, que insistia em enfatizar o quão inúteis foram seus verdadeiros pais. Quando criança, em vez de brincar e se divertir como os garotos de sua idade, aos sábados, Jonas deveria, a mando do tio, ajudar o padre Lídio com as hóstias, na igreja. Para o tio, o garoto deveria ser padre, mas Jonas queria mesmo era ser ator. Uma amiga conheceu o rosto de Jonas, quando ainda não era frustrado, era triste, mas tinha uma ingenuidade no olhar. Parecia amoroso. Ela apreciava seu olhar que se fundia, poeticamente, sobre as aguas limpas do rio. Depois que seu tio morreu, o seminário ficou no passado, eram apenas tristes lembranças. A paixão aconteceu, mas era pressionado por fatos que viveu no seminário. Tinha o sonho de ainda ser ator, mas por motivos que a vida lhe trouxera, deixava tudo para depois. Tinha o íntimo desejo em ser ator, no entanto, quem o olhava nos olhos não podia ver isso. A frustração era tanta que ele sentia raiva de todos que o rodeava. Seu olhar não era iluminado, era um homem hostil, de alma gélida. Um ser humano mordaz. E agora, com o olhar voltado para o rio da infância, ele busca o saudoso garotinho esperançoso que tempos atrás.
  • 9. Porém agora, já envelhecido, aos 70 anos, Jonas, que viveu inúmeras frustrações durante seu percurso, busca ser o menino Jonas nas águas do rio. Infelizmente, não é possível retornar a juventude e ele, já velho, então lamenta por tudo que deixou para depois. 8. O enterro das bonecas Para Esterlina, o que importa mesmo são as lembranças de acontecimentos do passado. Pouco lhe interessa fatos hodiernos como, marido e até filhos. Ela não dava respostas a nenhum questionamento, fossem de gente de casa ou de pessoas de fora. Em silêncio, ela apreciava mesmo o passado. Do passado vinham também as diversas bonecas que possuía. Eram presentes de seu pai que a tratava como uma boneca, por ser uma menina bonita. Seu pai passava longos períodos fora de casa e, quando retornava, trazia consigo muitas bonecas. Mais de uma dúzia. No entanto, Esterlina, quando o pai saía em viagem novamente, enterrava as bonecas, num ato de aborrecimento pelo abandono, ficava entristecida com cada partida do pai. Para o enterro das bonecas eram feitas mortalhas, preferencialmente, na cor roxa. Tecidas por ela. Vestidas as bonecas, ela seguia para o ritual de abrir as covas no quintal. E seguia todo um protocolo criado por ela para o funeral das bonecas, inclusive com cantos que ouviu diversas vezes em situações reais, quando era levada a velórios por Anfrísia, que parecia ser obcecada por morte. As bonecas velhas eram abrandadas da pena de morte, ela não as enterrava. Era como se elas estivessem fadadas a velhice apenas, e não morreriam. Não tinham muita importância. Mas também não se desfazia de nenhuma, por motivo algum. Sem expressar palavra alguma, Esterlina aguarda a libertação na morte, que aparenta não ter interesse por ela.
  • 10. 9. O envelope Desinteressada foi atender a porta, a pedido da mãe. Já sabia que não era nenhum amigo a chamando para ir brincar. Nenhum deles batia a porta. Ao abrir a porta percebeu ser a Dona Eutímia, uma velha amiga da mãe. Mas o que chamou a atenção da menina foi a bolsa da senhora. Despertou uma curiosa paixão pela bolsa da visita. A mãe a Dona Eutímia conversavam e não foi permitida a presença da menina. A mãe lhe mandara ir brincar, pois não poderia ficar ouvindo as conversas das duas. A menina não tinha nenhum interesse pelo que falavam e sim pela bolsa. Não era sem graça como a bolsa que sua mãe mantinha pendurada em um cabide. A da visita chamava a atenção pela beleza. E despertava a curiosidade em saber quais eram os objetos carregados ali. Lá fora, estava atormentada pelo desejo em ter a bolsa nas mãos. Pelas frestas via o fecho tentador da bolsa e se questionava sobre onde exatamente estaria alojada a bolsa. A curiosidade pela bolsa de Dona Eutímia aumentava cada vez mais. Ela queria bisbilhotar tudo o que havia em seu interior. Só queria satisfazer seu desejo de ver o que estava oculto sob a beleza da bolsa. Quando a mãe convida a amiga para um lanche, eis que pode surgir a oportunidade de a menina vasculhar seu objeto de desejo: a bolsa da visita. Dona Eutímia agradecia, mas já se levantava e se dirigia a sala de jantar onde estavam dispostos algumas guloseimas para satisfazer a fome das duas depois de horas de conversa a fio. Era o momento propício. A menina entrou na sala de visitas, silenciosamente, verificou a bolsa, de que era feita. Em seguida despejou no chão todo o conteúdo, tomando cuidado para que nada se perdesse. O conteúdo da bolsa era vasto. Ia desde maquiagens, comum para mulheres, terço, santinhos até um envelope fechado, lacrado.
  • 11. Verificou contra luz e se questionou: seria uma carta? Percebeu também um perfume agradável vindo do objeto. Ao ouvir que a mãe e a visita estavam voltando para a sala de estar, apressou-se em guardar de qualquer jeito os pertences da senhora. Mas não teve tempo suficiente para guardar tudo e foi surpreendia pelas duas. A Dona Eutímia ficou furiosa ao ver a garota mexendo em sua bolsa e questionou a mãe da menina sobre a criação dos filhos. Após flagrar a menina e dar bronca em mãe e filha a Dona Eutímia se despede e vai embora. Mas a menina não escaparia de uma bela surra de sua mãe. Com a mãe agarrada as suas orelhas, ela tentou alertar a amiga enfurecida de sua mãe sobre envelope que havia ficado, a mulher não ouviu. A garota o guardou no bolso do vestido, ao se confundir durante o flagra na sala de estar. Por ter fuçado na bolsa da visita, a menina ouviu sermão e apanhou muito, mas não deixou que a mãe soubesse sobre o envelope que havia ficado no bolso de seu vestido. Depois de muito tempo, já adulta, ela a menina apaixonada por bolsas reencontra em meio a papéis o envelope de Dona Eutímia e lembra- se da surra que levou por mexericar em pertences alheios. Tenta buscar o cheiro bom que ele tinha, mas que com o passar dos anos perdeu-se no tempo, não havia cheiro algum e estava com aspecto envelhecido, amarelado. O envelope estava ali, mesmo depois de tantas mudanças, estava bem guardado longe dos olhos dela por tanto tempo. Com o velho envelope nas mãos, questiona-se sobre abrir ou não abrir, satisfazer ou não a curiosidade. Enfim, decidiu não abrir e teve a sensação de que a Dona Eutímia a agradecia de algum lugar no além. 10.Os olhos da menina
  • 12. Com olhar entristecido, tristeza que vinha de dentro de sua alma, a menina acreditava que a felicidade de outras pessoas seriam cobradas a um preço doloroso por serem assim. Os olhos desta menina eram “estilhaçantes”, mas as pessoas não tinham a dimensão do quanto o eram. A menina decide mudar. Agora, seus olhos que outrora incomodavam, olham atentamente a escuridão por debaixo da toalha que cobre a mesa de um cabaré, enquanto seu corpo miúdo permeia por uma “braguilha” aqui e outra acolá, por debaixo das mesas, satisfazendo desejos de homens. Ao final do expediente, ela recebe alguns trocados pagos pelos homens, que sem nenhum escrúpulo ou culpa, sentem prazer naquele ato criminoso. Depois de tudo a menina repousa seu corpo infantil em uma cama improvisada, ao fundo do cabaré, agarra sua boneca de pano e adormece cantarolando canções de ninar. 11.Rua sem nome, casa sem número Valdicéia morava com o filho, que teve aos 15 anos, na casa de D. Deusdete. O filho gostava muito da mãe, embora ela fosse meio sem juízo, mesmo aos 24 anos, conforme conhecidos costumavam afirmar. A moça foi parar na casa desta senhora de uma maneira um tanto inusitada. Certa vez, ciganos surgiram nas redondezas da casa de D. Deusdete e uma das ciganas, carregando uma criança de colo, chegou até a casa para pedir água e ao ver uma rede pediu a dona da casa para acomodar o bebê ali para que pudesse descansar os braços. A senhora, muito gentilmente, saiu em busca da água que a mulher havia solicitado. Ao voltar, D. Deusdete não mais vê o bando de ciganos, chama pela mulher e nada. Não há mais ninguém por ali. No entanto, a senhora percebe algum barulho vindo da rede e, ao verificar, encontrou a menininha, que quase morre sufocada pelos tecidos da rede. A senhora se assusta e questiona sobre a mãe que abandonou aquela criança ali e desapareceu.
  • 13. Passado algum tempo. A menina Valdiceia já com 13 ou 14 anos, eis que surge outro grupo de ciganos que preocupa D. Deusdete. Ela se pergunta o que eles aprontariam desta vez. Os ciganos se acamparam perto de onde D. Deusdete morava e viviam ali por perto, ela até gostava de viver perto deles, eram pessoas alegres. Porém, com a partida dos ciganos, a senhora percebeu que Valdiceia, já uma mocinha, andava aborrecida, sem apetite. Desconfiada, D. Deusdete não entendia como ou quando algo aconteceu com a menina. Meses depois a senhora trazia ao mundo o bebê de Valdiceia, chamado de Josivaldo. O menino cresceu, era uma criança arteira, subia em arvores e tudo. A mãe, Valdiceia, continuava aquela menina de quinze anos, sem juízo. Não tinha muito zelo pelo garoto que andava sujo. D. Deusdete dava bronca em Valdiceia, lhe questionava se nunca iria agir como uma pessoa adulta que era. Pensando no sermão dado pela sua mãe de criação, Valdiceia, a menina sem juízo, quis mudar, mudar tudo. Decidiu que iria morar na capital para trabalhar e criar o filho de maneira independente. O menino não queria ir, nem D. Deusdete queria que fosse. Ele era o contentamento da casa. Valdiceia e Josivaldo partiram mesmo assim. Na capital, a moça percebeu que os sonhos que tinha não seriam assim tão fáceis de conquistar, a realidade era bem diferente daquilo que ela um dia imaginou. Desiludida, começou a ir por caminhos tortuosos das bebidas alcoólicas, prostituição e esmolas. Josivaldo foi encaminhado para uma instituição para menores, onde passava as noites e na manhã seguinte dividia com a mãe o alimento que ganhava na Casa Aberta. Depois de dois anos Valdiceia decidiu que iria para São Paulo. Josivaldo, que gostava muito da mãe, não queria estar em risco outra vez. Na instituição ele tinha estudo e ganhava até uns trocados como engraxate. O menino queria ficar bem e avisou a mãe que não a
  • 14. acompanharia no novo desafio. Ela insistiu de todas as maneiras para que ele aceitasse a proposta. Estava irredutível, não foi. Certo dia ele recebeu, na Casa Aberta uma carta de sua mãe e esta informava seu péssimo estado de saúde. Estava adoentada “por causa das bebedeiras com vagabundos”, dizia. Preocupado, Josivaldo arranjou algum dinheiro para ir visitar a mãe. Ao encontra-la percebeu o quão fragilizada e infeliz ela estava. Passado meses, outra carta e outra visita à mãe. As cartas e as viagens se tornaram tão frequentes que Josivaldo acabou por perder seu emprego em uma loja de ferragens, bem como outros trabalhos que havia conseguido ao longo do tempo. Agora além de estar debilitada pelo álcool, a mãe havia adquirido o vírus HIV, a AIDS. Em uma das tantas visitas, ele foi informado de que a mãe havia fugido de onde estava internada. Soube por meio de um irritado enfermeiro que a mãe havia escapado para conseguir mais drogas, álcool e coisas ilícitas. Na instituição, Casa Aberta, o menino se despediu de todos e partiu. Foi encontrar com D. Deusdete aquém ele chamava de avó, ela, já idosa, o recebeu com um carinhoso abraço, conversaram muito sobre acontecimentos passados. Ele reviu o local onde viveu parte da infância. Desde a chegada de Josivaldo, D. Deusdete parecia mais animada, havia felicidade entre os dois e era ali que Josivaldo queria permanecer, nesse lugar que nem ao menos tinha código postal. 12.Saia rodada Um questionamento: “Anjos usam saias rodadas?”. Dona Marinete carregava o filho de onze anos pelas ladeiras da cidade para leva-lo ao médico, pois o garoto havia machucado o braço. Não tinha pressa, não era um caso de urgência. Já na praça central, ela percebeu um grande tumulto, pessoas corriam em todas as direções. A algazarra foi causada pelo assassinato de um político. Tinha gente fugindo e gente querendo saber o que havia acontecido.
  • 15. De repente, no meio de toda a confusão, a mulher e a criança precisavam passar ali para acessar o hospital, eles são surpreendidos por algo semelhante a um empurrão, talvez. Foram jogados no meio de um canteiro de flores. Levantaram se dali, mãe e filho, e foram se proteger em uma loja que já era fechada por um funcionário apavorado pelo incidente. Assustado o homem permitiu que eles adentrassem ao local, mãe, filho e um menino agarrado à barra da saia de D. Marinete. Antes do assassinato do político, o menino, que agarrou-se a saia da mulher, João andava pela praça. Ele vivia ali desde que viu o pai assassinar a mãe, depois disso nunca mais quis retornar a casa. O pai desse garoto era alcoólatra e muito violento. Na hora da confusão que envolvia a morte do político na praça, João estava desesperado, associava tudo aquilo a morte da mãe. Foi aí que avistou a mulher também caída no canteiro de flores e segurou na saia dela. No entanto, pela euforia, o medo e o desejo de fugir dali com o filho machucado, Dona Marinete nem se deu conta de que havia um garotinho agarrado as suas vestes. Já livre do perigo e acolhidos pelo funcionário da loja os três estava ali. A mulher aconchegava o filho e o outro garoto, que até então ainda não havia sido percebido por ela, chegou mais perto. Ao passo que ambos os garotos já estavam aconchegados a mulher. O funcionário, percebendo todo o nervosismo dela, lhe ofereceu uma água-calmante. Mais calma a praça, e já tarde para a reabertura do comércio, o homem, gentilmente, os levou até o hospital. E ela agradeceu por todos os esforços. No momento em que ia se despedir do funcionário da loja, foi que ela percebeu que em sua mão esquerda havia um menino. E só nesse momento ela se deu conta da presença do garoto João. Parecia-lhe um filho, com a mesma idade do seu, que ela acabava de ganhar. Eusébio, o funcionário da loja, muito solícito se oferece para leva-los até a casa e a partir daquele momento o garotinho que encontrou na praça passou a compor a sua feliz família.