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AMBIENTES MICELARES EM QUÍMICA ANALÍTICA
Nelson Maniasso
Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Universidade de São Paulo, CP 96, 13400–970 Piracicaba - SP
Recebido em 20/12/99; aceito em 18/4/00
MICELLAR MEDIA IN ANALYTICAL CHEMISTRY. This review deals with the general use of the
surfactants in Analytical Chemistry. Principal characteristic of the micelle is the improvement in
selectivity and/or sensitivity of the analytical determination with emphasis on the catalytic reaction and
“cloud point” extraction.
Keywords: micellar media; cloud point extraction; catalytic reactions.
RevisãoQuim. Nova, Vol. 24, No. 1, 87-93, 2001.
INTRODUÇÃO
Tensoativos (surfactantes*
) são importantes em Química
Analítica devido, principalmente, à sua capacidade em modifi-
car algumas propriedades reacionais com consequente melhoria
em sensibilidade e/ou seletividade analítica. As principais ca-
racterísticas do uso de tensoativos estão relacionadas à forma-
ção de ambientes organizados, também conhecidos como am-
bientes micelares1
.
Nas últimas décadas, o uso de tensoativos teve um aumen-
to significativo em praticamente todos os campos da Química
Analítica, devido a suas características em modificar diferen-
tes propriedades reacionais associadas aos crescente emprego
destes compostos nos mais variados produtos de forma natu-
ral ou sintética1-4
.
Os tensoativos são frequentemente empregados para modifi-
car o meio reacional permitindo solubilizar espécies de baixa
solubilidade ou promover um novo meio que pode modificar a
velocidade reacional, a posição de equilíbrio das reações quími-
cas e em alguns casos a estereoquímica destas dependendo da
natureza da reação, do tipo de reativo (eletrofílico, nucleofílico,
etc) e do tipo e forma (catiônica, aniônica, etc) da micela1-4
.
Pode-se destacar o emprego de ambientes micelares princi-
palmente sob dois aspectos. O primeiro se refere à exploração
das características do ambiente micelar, formado no meio
reacional para a melhoria da sensibilidade e/ou seletividade,
com ênfase a reações catalíticas, e o segundo, se relaciona a
etapas de concentração e/ou separação, empregando tensoativos
em substituição às metodologias tradicionais (extração líqui-
do-líquido, troca iônica) pela separação em duas fases
isotrópicas, fenômeno este denominado “cloud point”. A apli-
cabilidade do meio micelar pode ser observada nos trabalhos
de Pelizzetti e Pramauro4
e Quina e Hinze5
, para compostos
inorgânicos e orgânicos.
A ampla utilização dos tensoativos em óleos para automóveis,
na prospecção de petróleo, em fármacos, em produtos domésticos
tais como xampus, suavizantes, condicionadores, detergentes, cos-
méticos, etc 1,2
são indicativos de sua versatilidade.
Os problemas iniciais relacionados ao uso de tensoativos
nos mais diferentes produtos eram relativos ao emprego de
compostos não biodegradáveis, os quais proporcionavam séri-
os problemas de contaminação ao meio ambiente. Para soluci-
onar estes inconvenientes, novos tensoativos biodegradáveis
denominados “produtos verdes”, foram desenvolvidos. O de-
senvolvimento destes novos produtos associados aos já exis-
tentes propiciaram um incremento do uso dos mesmos em
Química Analítica.
Um tensoativo típico possui a estrutura R-X, onde R é uma
cadeia de hidrocarboneto variando de 8 –18 átomos (normal-
mente linear) e X é o grupo cabeça, polar (ou iônico). Depen-
dendo de X, os tensoativos podem ser classificados como não-
iônicos, catiônicos, aniônicos ou anfóteros4
.
Um tensoativo catiônico possui em geral a formula RnX+
Y-
, onde R representa uma ou mais cadeias hidrofóbicas, X é um
elemento capaz de formar uma estrutura catiônica e Y é um
contra íon. Em princípio, X pode ser N, P, S, As, Te, Sb, Bi
e os halogênios6,7
.
Dentre os tensoativos aniônicos mais frequentemente utili-
zados, estão aqueles que possuem sais de ácidos carboxílicos
(graxos) monopróticos ou polipróticos com metais alcalinos
ou alcalinos terrosos, ácidos como sulfúrico, sulfônico e
fosfórico contendo um substituinte de hidrocarboneto saturado
ou insaturado8
.
Para os anfóteros (os quais possuem ambos grupos aniônicos
e catiônicos no meio hidrofóbico), e dependendo do pH da
solução e da estrutura, pode prevalecer a espécie aniônica,
catiônica ou neutra. Os tensoativos anfóteros mais comuns
incluem N-alquil e C-alquil betaina e sultaina como também
álcool amino fosfatidil e ácidos9
.
Os tensoativos não-iônicos são derivados do polioxietileno
e polioxipropileno (de compostos com alquil fenol e álcool,
esteres de ácidos graxos, alquilaminas, amidas e mercaptanas)
ou polialcoóis, esteres de carboidratos, amidas de álcoois
graxos e óxidos de amidas graxas10
.
A Tabela 1, indica os principais agentes tensoativos empre-
gados para o estabelecimento de ambientes organizados visan-
do melhoria de desempenho em métodos analíticos.
Micelas são agregados moleculares, possuindo ambas as
regiões estruturais hidrofílica e hidrofóbica, que dinamicamen-
te se associam espontaneamente em solução aquosa a partir de
certa concentração crítica (CMC), formando grandes agrega-
dos moleculares de dimensões coloidais, chamados micelas.
Abaixo da CMC, o tensoativo está predominantemente na for-
ma de monômeros; quando a concentração está abaixo, porém
próxima da CMC, existe um equilíbrio dinâmico entre
monômeros e micelas3
(Figura 1). A combinação destas pro-
priedades distintas confere à molécula características únicas na
dissolução aquosa1-5
. Em concentrações acima da CMC, as
micelas possuem um diâmetro entre 3-6 mm o que representa
de 30-200 monômeros. A CMC depende da estrutura do
tensoativo (tamanho da cadeia do hidrocarboneto) e das condi-
ções experimentais (força iônica, contra-íons, temperatura, etc).
e-mail maniasso@cena.usp.br
* A definição da palavra surfactante é baseada na contração da frase
em inglês que descreve “surface-active agents” . Estes possuem uma
superfície ativa, devido à concentração de determinadas espécies em
uma região interfásica : ar-água, óleo-água ou sólido líquido.
88 Maniasso Quim. Nova
As micelas são termodinamicamente estáveis e facilmente
reprodutíveis, são destruídas pela diluição com água quando a
concentração do tensoativo ficar abaixo da CMC4
.
O processo de formação dos agregados ocorre num interva-
lo pequeno de concentrações, e pode ser detectado pela varia-
ção brusca produzida em determinadas propriedades físico-
químicas da solução em função da concentração do tensoativo
como a tensão superficial, pressão osmótica e condutividade
(só para tensoativos iônicos)11
. Na Figura 2, é representada a
variação de algumas propriedades e nela pode-se observar a
mudança de comportamento que as mesmas experimentam ao
alcançar a CMC12
.
aumento da energia livre do sistema. Quando este é dissolvi-
do, o trabalho necessário para trazer uma molécula surfactante
para a superfície é menor do que aquele relativo a uma molé-
cula de água. A presença do tensoativo diminui o trabalho
necessário para criar uma unidade de área de superfície (super-
fície de energia livre ou tensão superficial)12
.
Tensoativos naturais e sintéticos
Tensoativos são compostos anfifílicos, orgânicos ou organo-
metálicos que formam colóides ou micelas em solução. Subs-
tâncias anfifílicas ou anfílicas são moléculas possuidoras de
regiões distintas e características como hidrofóbicas e
hidrofílicas. Como nestas substâncias apenas a polaridade das
diferentes regiões varia enormemente, as mesmas são também
denominadas de moléculas anfipáticas, heteropolares ou polar-
não polares13,14
.
Os tensoativos naturais incluem lipídeos simples (p. ex.
ésteres de ácido carboxilílico), lipídeos complexos (esteres de
ácidos graxos contendo fósforo, base nitrogenadas, e/ou açú-
car) e ácidos bílicos tais como ácido cólico e deoxicólico.
Tabela 1. Agentes tensoativos de uso comum em Química Analítica.
TIPO AGENTE TENSOATIVO FORMULA
CATIÔNICOS Brometo de cetiltrimetil amônio CH3(CH2)15N+
(CH3)3Br-
(CTAB)
Brometo de dodeciltrimetil amônio CH3(CH2)11N+
(CH3)3Br-
(DTAB)
Cloreto de cetilpiridino
(CICP)
ANIÔNICOS Dodecil sulfato sódico (SDS) CH3(CH2)11SO4
-
Na+
Bis(2-etilhexil) sulfosuccinato [CH3(CH2)3CH(C2H5)CH2OCO]2CHSO3
-
Na+
sódico (Aerosol OT)
Dihexadecil fosfato (DHF) [CH3(CH2)15
O
]2PO2
-
NÃO IÔNICOS Polioxietileno (9-10) p-tercotil
fenol (Triton X-100)
Polioxietileno (23) CH3(CH2)11(OCH2CH2)23OH
dodecanol (brij 35)
ANFÓTEROS 3-(dodecildimetil amônio) propano CH3(CH2)11N+
(CH3)2(CH2)3OSO3
-
1-sulfato (SB-12)
4-(dodecildimetil amônio) CH3(CH2)11N+
(CH3)2(CH2)3COO-
butirato (DAB)
Figura 1. Formação do agregado micelar.
O termo “interface” indica o limite entre as duas fases
imiscíveis, e o termo “superfície” indica uma interface onde
uma fase é liquida e a outra é gasosa, geralmente ar. A quan-
tidade mínima de trabalho para criar a interface é chamada de
energia interfacial livre, medida por unidade de área, quando a
tensão superficial entre as duas fases é determinada.
O tensoativo tem uma característica de estrutura molecular,
consistindo de um grupo funcional que tem pequena atração
pelo solvente chamado grupo liofílico. Este é conhecido como
uma estrutura anfipática. Quando o tensoativo é dissolvido em
um solvente, a presença do grupo liofóbico no interior do
solvente causa uma distorção da estrutura líquida do solvente,
aumentando a energia livre do sistema.
Em solução aquosa com tensoativo, esta distorção da água
pelo grupo liofóbico (hidrofóbico) do tensoativo resulta no
Figura 2. Variação de algumas propriedades físico-químicas. 1)
Detergência, 2) Pressão osmótica, 3) Condutividade equivalente, 4)
Tensão superficial, em função da concentração do tensoativo. A área
hachureada corresponde à CMC.
Vol. 24, No. 1 Ambientes Micelares em Química Analítica 89
Contudo, com outras preparações bioquímicas, o isolamento
do produto homogêneo puro frente a uma estrutura homóloga
e isômera é extremamente difícil, especialmente para grandes
quantidades de material. Além disso, a estrutura do lipídeo
pode ser alterada durante sua extração e purificação15
. Já para
os tensoativos sintéticos estes problemas são minimizados, pois
dependem da estrutura química das ligações como a porção
hidrofóbica
Formação das micelas
Micelas não são estáticas, elas existem dentro de uma dinâ-
mica de equilíbrio, simplesmente como um agregado dinâmi-
co14
. A cinética das dissociações micelares foram medidas para
vários tensoativos, em experimentos envolvendo parada de flu-
xo (stopped flow)4,16
, salto de temperatura17,18
, técnica de re-
lação ultra-sônica19,20
, etc.
Estes agregados podem participar de numerosas reações nas
quais a solubilização de um ou mais reagentes na micela leva
a uma significativa alteração na cinética reacional. A
solubilização introduz duas novas situações que podem influ-
enciar a velocidade reacional, alterar o local de distribuição do
soluto (reagente) e da superfície (efeito interfacial)3
. Para
solutos neutros (hidrofóbicos), o efeito de velocidade na rea-
ção térmica bimolecular é normalmente tratado em termos do
“modelo da pseudofase”. Este modelo trata micelas ou outro
meio coloidal como reações distintas3
.
Cada micela é composta por um certo número de moléculas
de tensoativo, denominado como número de agregação, que rege
geralmente o tamanho e a geometria do sistema micelar21
. O
termo “micela normal” é utilizado para se referir a agregados de
tensoativos em meio aquoso, o qual é apresentado na Figura 3.
polares dos anfifílicos estão concentradas no interior do agrega-
do e por esta razão formam um núcleo central hidrofílico.
Uma propriedade importante das micelas é o seu poder de
solubilizar os mais variados solutos ou espécies pouco solú-
veis. A quantidade de soluto solubilizada é em geral direta-
mente proporcional à concentração do tensoativo, desde que a
concentração do tensoativo seja igual ou superior que a CMC
e que existam várias possibilidades de solubilização no siste-
ma micelar23
.
Estes efeitos são consequência da solubilização dos
reagentes na micela, sendo deste modo atribuídos ao balanço
das interações de hidrofobicidade e eletrostática ocorrendo
entre os reagentes e o sistema micelar.
Para várias reações, aspectos eletrostáticos simples podem
ser considerados ao se explicar os efeitos micelares observa-
dos. Isto é esperado porque a taxa da reação nucleofilica que
envolve um extrato solubilizado neutro e um nucleófilo pode
ser acelerada por uma micela catiônica e inibida por uma
micela aniônica. Efeito micelar oposto pode ser esperado para
uma reação eletrofílica envolvendo um substrato e um
eletrófilo. Quando sistemas envolvendo micelas não iônicas ou
anfóteras são empregados, somente pequenos efeitos na cinética
reacional são esperados.
Em um senso qualitativo, estes efeitos podem ser orienta-
dos em termos de estabilização eletrostática do estado de tran-
sição relativo para o conhecimento geral dos estados dos
reagentes. Deve-se salientar que nem todos os incrementos ou
inibição da reação podem ser explicados pela simples conside-
ração eletrostática. Em vários casos, a interação hidrofóbica
tem mais valor do que o desfavorável efeito eletrostático sen-
do necessário levá-la em consideração24
.
Em contraste com a micela normal, o efeito catalítico das
micelas reversas possue um conjunto mais complicado envol-
vendo outros fatores em adição ao eletrostático e a considera-
ção hidrofóbica. A comparação das características de diferen-
tes tipos de agregados que formam os agentes tensoativos po-
dem se visualizados na Tabela 2.
Efeito micelar sobre as reações químicas: catálise micelar
Os efeitos que as micelas exercem nas reações químicas
tem sido estudados durante as últimas décadas, resultando no
desenvolvimento de equações teóricas correspondentes aos pro-
cessos químicos que ocorrem em ambientes micelares25-31
.
Os sistemas micelares podem modificar a velocidade das
reações e surpreende portanto, que estas características foram
pouco exploradas para melhorar os métodos cinéticos de aná-
lises. As micelas catalisam as reações químicas e para que esta
catálise ocorra é necessário que se cumpram duas condições:
- o substrato deve se solubilizar no agregado micelar;
- o centro da solubilização não deve impedir que o centro
reativo do substrato seja acessível ao reativo atacante.
As interações eletrostáticas podem influir na etapa de transi-
ção e/ou na concentração dos reativos nas proximidades do cen-
tro da reação. Assim, uma micela catiônica pode catalisar a re-
ação entre um ânion nucleofílico e um substrato neutro, median-
te o deslocamento da carga negativa que se gera na etapa de
transição e como consequência diminuir a energia de ativação
da mesma. Pode também catalisar esta reação aumentando a
concentração do ânion nucleófilo na interface micela-água, per-
to do centro reativo do substrato. Por outro lado, as interações
do tipo hidrofóbico são especialmente importantes já que deter-
minam a localização do substrato ao solubilizar-se na micela,
assim como o grau de incorporação do mesmo (Figura 4.).
Deve-se ter em conta que se o substrato contém grandes
grupos hidrófobos em sua estrutura, o que pode levar à forma-
ção de micelas mistas com o agente tensoativo. Este fenômeno
também afeta em grande extensão a velocidade e a
estereoquímica da reação na qual o substrato participa.
Figura 3. Representação bidimensional das regiões que formam uma
micela iônica normal com estrutura esférica8
. X, O e h indicam as
localizações relativas dos contra-íons, do grupo cabeça, e das cau-
das (hidrocarbonetos), respectivamente.
A estrutura da micela normal formada indica que o grupo
cabeça hidrofílico está direcionado para o contato com a solu-
ção aquosa formando uma superfície polar, enquanto que a
cadeia linear (cauda) está em sentido inverso ao da água, for-
mando um núcleo central não polar14
.
A formação de associações de colóides pode também ocorrer
em vários solventes não-polares; neste caso, os agregados dos
tensoativos são denominados “micelas reversas” ou “micelas
invertidas”14,22
. Nos sistemas de micelas reversas, as cabeças
90ManiassoQuim.Nova
Tabela 2. Comparação das características de diferentes tipos de agregados formados com o agente tensoativo.
Características Micelas Micelas Inversas Micro Emulsões Monocapas Bicapas Vesiculas
Constituinte Tensoativo Tensoativo Tensoativo, co-tensoativo, Tensoativo Tensoativo com Tensoativo com
solvente apolar duas caudas duas caudas
Método de dissolver o tensoativo Dissolver o tensoativo Dissolver o tensoativo Dissolver os tensoativos Dissolver os tensoativos Submetendo a
preparação [>CMC] em água em sovente apolar e co-tensoatico numa livres em solvente livres em solvente solução
mistura de solventes orgânico volátil sobre a orgânico sobre um a ultrasom
apolar-água superfície aquosa furo que conecta
duas soluções aquosas
Estrutura
Peso molecular 2000-6000 2000-6000 105
-106
Depende da área Depende da área >107
médio coberta e da densidade e da densidade coberta
da capa formada da bicapa formada
Diametro (A) 30-60 40-80 50-100 ¢ ¢ 300-10000
Estabilidade Semanas, meses Semanas, meses Semanas, meses Horas, dias Horas Semanas
Diluição em água Sào destruidas Formam micro o/aq + água = São destruidas São destruidas Não se alteram
emulsões aq/o micelas aquosas
aq/o + água =
separação de fases
Extraída da Tese de Doutoramento de Dolores Cecília Criado da Universidade de Córdoba
Vol. 24, No. 1 Ambientes Micelares em Química Analítica 91
Os mecanismos que envolvem esta modificação no meio
reacional são complexos, e não totalmente estabelecidos, sen-
do que várias teorias descrevem o que pode ocorrer durante
este processo25-31
.
Aplicações analíticas
O uso de micelas oferece interessantes perspectivas na área
dos métodos cinéticos de análises. Considerando as aplicações
já descritas sobre a utilização de agregados micelares em dife-
rentes campos da Química Analítica3,21
e tendo em conta os
estudos físico-químicos teóricos sobre catálise micelar, o uso
de micelas pode ajudar no desenvolvimento de novos métodos
ou na modificação dos métodos cinéticos já existentes. Alguns
dos problemas que, em princípio, podem ser solucionados são
os seguintes: insolubilidade dos reativos que participam na
reação, reações analíticas lentas, presença de reações colaterais,
sensibilidade e/ou seletividade insuficientes, etc. É portanto
surpreendente que até agora poucas aplicações tenham sido
descritas, a maioria delas restritas a métodos de equilíbrio.
Dentre estas características, podem ser citados alguns traba-
lhos que empregam tensoativos para catalisar reações. Um exem-
plo refere-se ao método espectrofotométrico para a determina-
ção simultânea de misturas binárias de cianeto, sulfito e sulfato
mediante a reação com o ácido 5,5- ditobis (2-nitrobenzóico)
em presença de micelas catiônicas de CTAB. A presença das
micelas incrementam a diferenciação das velocidades reacionais
envolvidas, permitindo dessa forma a análise31
.
A catálise micelar também tem sido utilizada para melhorar
os métodos espectrofotométricos para a determinação do íon
cianeto baseados nas reações deste íons com dissulfetos aro-
máticos, tais como 5,5 ditio-bis-(2-ácido nitrobenzóico) e 4,4–
ditiopiridina32
. Os produtos de reação são tiocianato orgânico
e o ânion tiol, sendo a absorbância do ânion formado propor-
cional à concentração do íon cianeto. O problema principal
destes métodos é a lentidão das reações consideradas, reque-
rendo-se de 90 a 120 minutos para se alcançar um valor cons-
tante de absorbância. O uso de micelas catiônicas de CTAB
aceleram a reação e as medidas podem realizar-se depois de 1
a 2 minutos da mistura dos reativos33
. É interessante destacar
que a sensibilidade e seletividade dos métodos não diminui
pela adição do agente tensoativo.
Dentro deste contexto, situa-se também a determinação
fluorimétrica de cianeto baseado no seu efeito catalítico sobre
a reação de oxidação do pirodoxal-5-fosfato pelo oxigênio dis-
solvido nas soluções. A adição do tensoativo DTAB34
produz
um aumento do sinal de fluorescência (ao redor de 100%) do
produto formado 4-piridoxi ácido 5-fosfato, o que permite sua
determinação com maior sensibilidade.
Outra importante aplicação de micelas está no emprego em
reações derivativas (pré-coluna ou pós-coluna) em cromato-
grafia líquida de alta resolução combinada com detecção por
fluorescência. Um exemplo é o uso de micelas de Triton
X-100 visando derivações pré-coluna, envolvendo ácidos car-
boxílicos em matrizes biológicas em presença do reativo
fluóforo 4–bromometil-7-metoxicumarina. Esta reação deriva-
tiva não se produz em solução aquosa devido à solvatação do
grupo carboxilíco do analito. A adição do tensoativo iônico
Triton X-100 permite a extração do analito na fase micelar,
possibilitando que o ácido carboxílico penetre até ao coração
micelar, onde se solubiliza o reativo fluoróforo; para isto é
necessário se adicionar um reativo lipofílico, brometo de
tetrahexilamônio, que forma um par iônico com o analito35
.
A importância da catálise micelar no desenvolvimento dos
métodos cinéticos tem sido preconizada por diferentes auto-
res36,37
. Contudo, poucos estudos foram realizados até esta data
neste sentido, apesar dos resultados promissores obtidos.
O efeito da concentração dos reativos na pseudofase micelar
permitiu a aplicação de um método cinético para a determina-
ção de aminas, fenóis, tióis, hidrazinas, mediante sua reação
com 1-fluor-2,4-dinitrobenzeno (FDNB), utilizando eletrodo
seletivo para quantificar os íons fluoretos liberados38
. Estas
reações de substituição nucleofílica são muito lentas em solu-
ção aquosa, contudo a adição de tensoativos catiônicos e não
iônicos produzem uma importante aceleração das mesmas, tor-
nando possível seu uso para determinações cinéticas. Ainda,
compostos aminados tais como celafexin, sulfametiazol e vári-
os aminoácidos tem sido determinados38
.
A relação entre as constantes de velocidade e a concentra-
ção de tensoativo sugere que a interação entre a micela e os
aminoácidos ocorre através da parte lipofílica e do grupo
carboxílico da molécula, permitindo que o grupo amino livre
reaja com FDNB39
. A presença de CTAB produz um aumento
de 16 vezes na velocidade de reação no caso mais favorável
(triptofano). Este efeito acelerador proporcionado pelas micelas
de CTAB foi utilizado também para a determinação cinética
de compostos fenólicos38
e de drogas tais como a isoniazida
utilizando a técnica de parada de fluxos40
.
Os efeitos micelares sobre a cinética reacional também podem
ser aplicados em análises de multicomponentes. Desta forma, a
presença do tensoativo Triton X-100 no meio reacional permitiu
a determinação simultânea de Ni(II) e de Co(II) usando 5-
octiloximetil-8quinolinol como reativo comum. Ambos os ions
metálicos formam complexo com este reativo, sendo a velocidade
de reação excessivamente alta para o seu controle mediante técni-
cas convencionais do monitoramento de reações rápidas. As velo-
cidades de ambas as reações são inibidas pelo tensoativo Triton
X-100, tornando possível o acompanhamento espectrofotométrico
das mesmas mediante a técnica de parada de fluxos.
Pré-concentração em ambiente micelar empregando a
metodologia de extração por “cloud point”
Os métodos empregados para determinação de espécies quí-
micas que ocorrem em baixas concentrações utilizam em geral
etapas de concentração e/ou separação prévias à determinação.
Os processos mais comumente empregados para esta finalida-
de são a extração líquido-líquido41,42
e a troca iônica, em geral
envolvendo sorventes sólidos/resinas de troca iônica43-47
. Con-
tudo, são conhecidas as vantagens e as limitações que tais pro-
cedimentos possuem quanto ao seu emprego42,47
.
Nos últimos anos os ambientes organizados (micelas normal
ou reversa, microemulsões, vesículas, etc.) tem sido empregados
em praticamente todo o campo da Química Analítica na melhoria
de métodos já existentes e/ou no desenvolvimento de novas
metodologias, incluindo uma particular aplicação do meio orga-
nizado em vários processos de separação. Como exemplo po-
dem ser citadas as aplicações em HPLC, extração, filtração com
gel, ultra-centrifugação, cromatografia com eletroforese capilar,
as quais tem mostrado novas possibilidades de pesquisa na se-
paração das moléculas em diversas áreas como biotecnologia,
saúde pública ou no estudo de poluentes ambientais48-50
.
Figura 4. A, B, C e D indicam as possibilidades de interação do
substrato e a micela.
Micela
D
A
C
B
92 Maniasso Quim. Nova
Tensoativos catiônicos, não iônicos e anfóteros, quando
empregados em quantidades acima da concentração micelar
crítica e aquecidos a uma determinada temperatura, podem
separar-se em duas fases isotrópicas, fenômeno este denomina-
do “cloud point”48,49,51-53
.
A definição de “cloud point” está sujeita a várias interpre-
tações muito semelhantes, que se completam. É a separação de
duas fases, que parece estar associada à existência de micelas
compostas por moléculas gigantes na solução. Em soluções
aquosas, o emprego de tensoativos não iônicos e anfóteros
formam uma fase complexa e particularmente propensa a sepa-
rar-se sob uma determinada temperatura. Certos tensoativos
anfóteros e alguns não iônicos em presença de altas concentra-
ções de eletrólitos (soluções salinas) podem também apresen-
tar separação de fases49,51-55
.
Em soluções aquosas, os tensoativos não iônicos e anfóteros
com concentrações acima da CMC podem ser empregados
como extratores, pois nestas soluções quando aquecidas (a tem-
peratura depende do tensoativo empregado) duas fases distin-
tas aparecem, sendo uma delas a fase aquosa, contendo peque-
na quantidade de tensoativo, abaixo da CMC e a outra, extre-
mamente concentrada em tensoativo e contendo os componen-
tes extraídos da solução. Quando vários tensoativos não iônicos
e anfóteros em solução aquosa são aquecidos acima de uma
determinada temperatura, a solução começa subitamente a fi-
car turva, devido ao decréscimo de solubilidade do tensoativo
em água, e as fases se separam49,51-55
.
Conclui-se então que a separação de fases ocorre em duas
partes distintas, uma pobre e a outra rica em tensoativo con-
tendo o analito. O mecanismo segundo o qual ocorre a separa-
ção, foi bastante investigado nas décadas de 60 a 8056-58
, po-
rém o mesmo continua sendo uma fonte de controvérsia.
Os principais fatores que evidenciam a importância do em-
prego de tensoativos para pré-concentrar e/ou separar em com-
paração a outras técnicas foram discutidos49,51-58
e os seguin-
tes aspectos devem ser considerados:
- O tensoativo deve possuir a capacidade natural de extrair
somente o analito na fase rica com altos fatores de pré-
concentração; o mesmo pode ser extraído em pequenos
volumes de fase rica, geralmente 0,2 a 0,4 mL, o que no
mínimo indica um fator de pré-concentração idêntico às
outras técnicas;
- A separação das fases depende da hidrofobicidade do
analito, permitindo o uso de várias estratégias como, por
exemplo, da extração líquido-líquido;
- Os tensoativos empregados não são tóxicos, são de me-
nor periculosidade quando comparados aos solventes orgâ-
nicos usualmente empregados em extrações líquido-líqui-
do, não são voláteis nem inflamáveis e requerem poucos
miligramas sendo que os preços dos tensoativos comercial-
mente disponíveis são geralmente baixos;
- O processo de separação das fases é reversível.
Com relação à extração por “cloud point”, Watanabe e Tanaka59
foram os primeiros a desenvolver o processo usando a indução da
temperatura na separação de fases para concentrar complexos me-
tálicos pouco solúveis em água. Estes eram solubilizados pelas
micelas e concentrados com rapidez e eficiência, devido ao fato de
o volume final da fase rica em tensoativo ser muito pequeno. Por-
tanto, o uso da indução da separação de fases por temperatura
melhora a sensibilidade dos métodos analíticos convencionais prin-
cipalmente para íons metálicos53,5
. Hoshino e colaboradores60
co-
mentaram que as determinações de complexos metálicos em solu-
ção aquosa baseadas no emprego de reagentes orgânicos apresen-
tam problemas indesejáveis de precipitação, que podem ser evita-
dos pela sua solubilização nos ambientes organizados e posterior
extração por separação das fases.
A separação de fases deve promover um elevado fator de
concentração, propiciando melhor sensibilidade e possibilitan-
do ainda uma melhoria em seletividade.
Neste contexto, o tensoativo polioxietileno nonil fenil eter
(PONPE - 7.5) foi empregado para a determinação de zinco
em águas naturais59
, o qual era complexado pelo PAN e extra-
ído da solução pelo aparecimento de duas fases à temperatura
ambiente após 8 minutos de centrifugação a 4000 rpm. O fator
de pré-concentração foi de aproximadamente 25 vezes e o sis-
tema de detecção empregado era o espectrofotométrico.
Gadolinio foi espectrofotometricamente determinado em baixas
concentrações (mg L-1
) em amostras de urina, após formar o com-
plexo Gd(III)-2-dichloro-2-pyridylazo)-5-dimethylaminophenol ex-
traído e pré-concentrado pelo tensoativo não iônico PONPE-7.561
Recentemente, foi proposto o emprego de tensoativo
aniônico na formação do “cloud point” para pré-concentrar
hidrocarbonetos policíclicos (PAHs) aromáticos em água62
. O
uso do tensoativo aniônico ácido dodecano sulfônico (SDSA)
apresenta vantagens significativas quando comparado aos
tensoativos não iônicos e aos anfóteros com relação em elimi-
nar as etapas prévias de limpeza das amostras para a determi-
nação de PAHs.
Desta forma, cabe enfatizar que o emprego de agentes
tensoativos para pré-concentrar substâncias inorgânicas mostra-
se um campo pouco explorado e altamente promissor. Os mes-
mos, na forma de complexos, tendem a solubizar-se nas micelas
e podem ser separados pela metodologia de “cloud point”.
CONCLUSÕES
O uso de tensoativos em Química Analítica tem se mostra-
do altamente promissor, uma vez que o mesmo pode propiciar
um aumento de sensibilidade e/ou seletividade para um grande
número de reações. Outro fator positivo esta no emprego para
a pré-concentração em substituição aos solventes orgânicos pois
o uso desta técnica que possui fatores de pré-concentração si-
milares à extração líquido-líquido e também pelo fato de ser
incluída na chamada “Química Verde”.
AGRADECIMENTOS
O autor agradece E.A G. Zagatto pela colaboração e suges-
tões, D. Pérez-Bendito, da Universidade de Córdoba, Espanha
por participar junto ao seu grupo de trabalho e à FAPESP pelo
suporte financeiro.
REFERÊNCIAS
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  • 1. AMBIENTES MICELARES EM QUÍMICA ANALÍTICA Nelson Maniasso Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Universidade de São Paulo, CP 96, 13400–970 Piracicaba - SP Recebido em 20/12/99; aceito em 18/4/00 MICELLAR MEDIA IN ANALYTICAL CHEMISTRY. This review deals with the general use of the surfactants in Analytical Chemistry. Principal characteristic of the micelle is the improvement in selectivity and/or sensitivity of the analytical determination with emphasis on the catalytic reaction and “cloud point” extraction. Keywords: micellar media; cloud point extraction; catalytic reactions. RevisãoQuim. Nova, Vol. 24, No. 1, 87-93, 2001. INTRODUÇÃO Tensoativos (surfactantes* ) são importantes em Química Analítica devido, principalmente, à sua capacidade em modifi- car algumas propriedades reacionais com consequente melhoria em sensibilidade e/ou seletividade analítica. As principais ca- racterísticas do uso de tensoativos estão relacionadas à forma- ção de ambientes organizados, também conhecidos como am- bientes micelares1 . Nas últimas décadas, o uso de tensoativos teve um aumen- to significativo em praticamente todos os campos da Química Analítica, devido a suas características em modificar diferen- tes propriedades reacionais associadas aos crescente emprego destes compostos nos mais variados produtos de forma natu- ral ou sintética1-4 . Os tensoativos são frequentemente empregados para modifi- car o meio reacional permitindo solubilizar espécies de baixa solubilidade ou promover um novo meio que pode modificar a velocidade reacional, a posição de equilíbrio das reações quími- cas e em alguns casos a estereoquímica destas dependendo da natureza da reação, do tipo de reativo (eletrofílico, nucleofílico, etc) e do tipo e forma (catiônica, aniônica, etc) da micela1-4 . Pode-se destacar o emprego de ambientes micelares princi- palmente sob dois aspectos. O primeiro se refere à exploração das características do ambiente micelar, formado no meio reacional para a melhoria da sensibilidade e/ou seletividade, com ênfase a reações catalíticas, e o segundo, se relaciona a etapas de concentração e/ou separação, empregando tensoativos em substituição às metodologias tradicionais (extração líqui- do-líquido, troca iônica) pela separação em duas fases isotrópicas, fenômeno este denominado “cloud point”. A apli- cabilidade do meio micelar pode ser observada nos trabalhos de Pelizzetti e Pramauro4 e Quina e Hinze5 , para compostos inorgânicos e orgânicos. A ampla utilização dos tensoativos em óleos para automóveis, na prospecção de petróleo, em fármacos, em produtos domésticos tais como xampus, suavizantes, condicionadores, detergentes, cos- méticos, etc 1,2 são indicativos de sua versatilidade. Os problemas iniciais relacionados ao uso de tensoativos nos mais diferentes produtos eram relativos ao emprego de compostos não biodegradáveis, os quais proporcionavam séri- os problemas de contaminação ao meio ambiente. Para soluci- onar estes inconvenientes, novos tensoativos biodegradáveis denominados “produtos verdes”, foram desenvolvidos. O de- senvolvimento destes novos produtos associados aos já exis- tentes propiciaram um incremento do uso dos mesmos em Química Analítica. Um tensoativo típico possui a estrutura R-X, onde R é uma cadeia de hidrocarboneto variando de 8 –18 átomos (normal- mente linear) e X é o grupo cabeça, polar (ou iônico). Depen- dendo de X, os tensoativos podem ser classificados como não- iônicos, catiônicos, aniônicos ou anfóteros4 . Um tensoativo catiônico possui em geral a formula RnX+ Y- , onde R representa uma ou mais cadeias hidrofóbicas, X é um elemento capaz de formar uma estrutura catiônica e Y é um contra íon. Em princípio, X pode ser N, P, S, As, Te, Sb, Bi e os halogênios6,7 . Dentre os tensoativos aniônicos mais frequentemente utili- zados, estão aqueles que possuem sais de ácidos carboxílicos (graxos) monopróticos ou polipróticos com metais alcalinos ou alcalinos terrosos, ácidos como sulfúrico, sulfônico e fosfórico contendo um substituinte de hidrocarboneto saturado ou insaturado8 . Para os anfóteros (os quais possuem ambos grupos aniônicos e catiônicos no meio hidrofóbico), e dependendo do pH da solução e da estrutura, pode prevalecer a espécie aniônica, catiônica ou neutra. Os tensoativos anfóteros mais comuns incluem N-alquil e C-alquil betaina e sultaina como também álcool amino fosfatidil e ácidos9 . Os tensoativos não-iônicos são derivados do polioxietileno e polioxipropileno (de compostos com alquil fenol e álcool, esteres de ácidos graxos, alquilaminas, amidas e mercaptanas) ou polialcoóis, esteres de carboidratos, amidas de álcoois graxos e óxidos de amidas graxas10 . A Tabela 1, indica os principais agentes tensoativos empre- gados para o estabelecimento de ambientes organizados visan- do melhoria de desempenho em métodos analíticos. Micelas são agregados moleculares, possuindo ambas as regiões estruturais hidrofílica e hidrofóbica, que dinamicamen- te se associam espontaneamente em solução aquosa a partir de certa concentração crítica (CMC), formando grandes agrega- dos moleculares de dimensões coloidais, chamados micelas. Abaixo da CMC, o tensoativo está predominantemente na for- ma de monômeros; quando a concentração está abaixo, porém próxima da CMC, existe um equilíbrio dinâmico entre monômeros e micelas3 (Figura 1). A combinação destas pro- priedades distintas confere à molécula características únicas na dissolução aquosa1-5 . Em concentrações acima da CMC, as micelas possuem um diâmetro entre 3-6 mm o que representa de 30-200 monômeros. A CMC depende da estrutura do tensoativo (tamanho da cadeia do hidrocarboneto) e das condi- ções experimentais (força iônica, contra-íons, temperatura, etc). e-mail maniasso@cena.usp.br * A definição da palavra surfactante é baseada na contração da frase em inglês que descreve “surface-active agents” . Estes possuem uma superfície ativa, devido à concentração de determinadas espécies em uma região interfásica : ar-água, óleo-água ou sólido líquido.
  • 2. 88 Maniasso Quim. Nova As micelas são termodinamicamente estáveis e facilmente reprodutíveis, são destruídas pela diluição com água quando a concentração do tensoativo ficar abaixo da CMC4 . O processo de formação dos agregados ocorre num interva- lo pequeno de concentrações, e pode ser detectado pela varia- ção brusca produzida em determinadas propriedades físico- químicas da solução em função da concentração do tensoativo como a tensão superficial, pressão osmótica e condutividade (só para tensoativos iônicos)11 . Na Figura 2, é representada a variação de algumas propriedades e nela pode-se observar a mudança de comportamento que as mesmas experimentam ao alcançar a CMC12 . aumento da energia livre do sistema. Quando este é dissolvi- do, o trabalho necessário para trazer uma molécula surfactante para a superfície é menor do que aquele relativo a uma molé- cula de água. A presença do tensoativo diminui o trabalho necessário para criar uma unidade de área de superfície (super- fície de energia livre ou tensão superficial)12 . Tensoativos naturais e sintéticos Tensoativos são compostos anfifílicos, orgânicos ou organo- metálicos que formam colóides ou micelas em solução. Subs- tâncias anfifílicas ou anfílicas são moléculas possuidoras de regiões distintas e características como hidrofóbicas e hidrofílicas. Como nestas substâncias apenas a polaridade das diferentes regiões varia enormemente, as mesmas são também denominadas de moléculas anfipáticas, heteropolares ou polar- não polares13,14 . Os tensoativos naturais incluem lipídeos simples (p. ex. ésteres de ácido carboxilílico), lipídeos complexos (esteres de ácidos graxos contendo fósforo, base nitrogenadas, e/ou açú- car) e ácidos bílicos tais como ácido cólico e deoxicólico. Tabela 1. Agentes tensoativos de uso comum em Química Analítica. TIPO AGENTE TENSOATIVO FORMULA CATIÔNICOS Brometo de cetiltrimetil amônio CH3(CH2)15N+ (CH3)3Br- (CTAB) Brometo de dodeciltrimetil amônio CH3(CH2)11N+ (CH3)3Br- (DTAB) Cloreto de cetilpiridino (CICP) ANIÔNICOS Dodecil sulfato sódico (SDS) CH3(CH2)11SO4 - Na+ Bis(2-etilhexil) sulfosuccinato [CH3(CH2)3CH(C2H5)CH2OCO]2CHSO3 - Na+ sódico (Aerosol OT) Dihexadecil fosfato (DHF) [CH3(CH2)15 O ]2PO2 - NÃO IÔNICOS Polioxietileno (9-10) p-tercotil fenol (Triton X-100) Polioxietileno (23) CH3(CH2)11(OCH2CH2)23OH dodecanol (brij 35) ANFÓTEROS 3-(dodecildimetil amônio) propano CH3(CH2)11N+ (CH3)2(CH2)3OSO3 - 1-sulfato (SB-12) 4-(dodecildimetil amônio) CH3(CH2)11N+ (CH3)2(CH2)3COO- butirato (DAB) Figura 1. Formação do agregado micelar. O termo “interface” indica o limite entre as duas fases imiscíveis, e o termo “superfície” indica uma interface onde uma fase é liquida e a outra é gasosa, geralmente ar. A quan- tidade mínima de trabalho para criar a interface é chamada de energia interfacial livre, medida por unidade de área, quando a tensão superficial entre as duas fases é determinada. O tensoativo tem uma característica de estrutura molecular, consistindo de um grupo funcional que tem pequena atração pelo solvente chamado grupo liofílico. Este é conhecido como uma estrutura anfipática. Quando o tensoativo é dissolvido em um solvente, a presença do grupo liofóbico no interior do solvente causa uma distorção da estrutura líquida do solvente, aumentando a energia livre do sistema. Em solução aquosa com tensoativo, esta distorção da água pelo grupo liofóbico (hidrofóbico) do tensoativo resulta no Figura 2. Variação de algumas propriedades físico-químicas. 1) Detergência, 2) Pressão osmótica, 3) Condutividade equivalente, 4) Tensão superficial, em função da concentração do tensoativo. A área hachureada corresponde à CMC.
  • 3. Vol. 24, No. 1 Ambientes Micelares em Química Analítica 89 Contudo, com outras preparações bioquímicas, o isolamento do produto homogêneo puro frente a uma estrutura homóloga e isômera é extremamente difícil, especialmente para grandes quantidades de material. Além disso, a estrutura do lipídeo pode ser alterada durante sua extração e purificação15 . Já para os tensoativos sintéticos estes problemas são minimizados, pois dependem da estrutura química das ligações como a porção hidrofóbica Formação das micelas Micelas não são estáticas, elas existem dentro de uma dinâ- mica de equilíbrio, simplesmente como um agregado dinâmi- co14 . A cinética das dissociações micelares foram medidas para vários tensoativos, em experimentos envolvendo parada de flu- xo (stopped flow)4,16 , salto de temperatura17,18 , técnica de re- lação ultra-sônica19,20 , etc. Estes agregados podem participar de numerosas reações nas quais a solubilização de um ou mais reagentes na micela leva a uma significativa alteração na cinética reacional. A solubilização introduz duas novas situações que podem influ- enciar a velocidade reacional, alterar o local de distribuição do soluto (reagente) e da superfície (efeito interfacial)3 . Para solutos neutros (hidrofóbicos), o efeito de velocidade na rea- ção térmica bimolecular é normalmente tratado em termos do “modelo da pseudofase”. Este modelo trata micelas ou outro meio coloidal como reações distintas3 . Cada micela é composta por um certo número de moléculas de tensoativo, denominado como número de agregação, que rege geralmente o tamanho e a geometria do sistema micelar21 . O termo “micela normal” é utilizado para se referir a agregados de tensoativos em meio aquoso, o qual é apresentado na Figura 3. polares dos anfifílicos estão concentradas no interior do agrega- do e por esta razão formam um núcleo central hidrofílico. Uma propriedade importante das micelas é o seu poder de solubilizar os mais variados solutos ou espécies pouco solú- veis. A quantidade de soluto solubilizada é em geral direta- mente proporcional à concentração do tensoativo, desde que a concentração do tensoativo seja igual ou superior que a CMC e que existam várias possibilidades de solubilização no siste- ma micelar23 . Estes efeitos são consequência da solubilização dos reagentes na micela, sendo deste modo atribuídos ao balanço das interações de hidrofobicidade e eletrostática ocorrendo entre os reagentes e o sistema micelar. Para várias reações, aspectos eletrostáticos simples podem ser considerados ao se explicar os efeitos micelares observa- dos. Isto é esperado porque a taxa da reação nucleofilica que envolve um extrato solubilizado neutro e um nucleófilo pode ser acelerada por uma micela catiônica e inibida por uma micela aniônica. Efeito micelar oposto pode ser esperado para uma reação eletrofílica envolvendo um substrato e um eletrófilo. Quando sistemas envolvendo micelas não iônicas ou anfóteras são empregados, somente pequenos efeitos na cinética reacional são esperados. Em um senso qualitativo, estes efeitos podem ser orienta- dos em termos de estabilização eletrostática do estado de tran- sição relativo para o conhecimento geral dos estados dos reagentes. Deve-se salientar que nem todos os incrementos ou inibição da reação podem ser explicados pela simples conside- ração eletrostática. Em vários casos, a interação hidrofóbica tem mais valor do que o desfavorável efeito eletrostático sen- do necessário levá-la em consideração24 . Em contraste com a micela normal, o efeito catalítico das micelas reversas possue um conjunto mais complicado envol- vendo outros fatores em adição ao eletrostático e a considera- ção hidrofóbica. A comparação das características de diferen- tes tipos de agregados que formam os agentes tensoativos po- dem se visualizados na Tabela 2. Efeito micelar sobre as reações químicas: catálise micelar Os efeitos que as micelas exercem nas reações químicas tem sido estudados durante as últimas décadas, resultando no desenvolvimento de equações teóricas correspondentes aos pro- cessos químicos que ocorrem em ambientes micelares25-31 . Os sistemas micelares podem modificar a velocidade das reações e surpreende portanto, que estas características foram pouco exploradas para melhorar os métodos cinéticos de aná- lises. As micelas catalisam as reações químicas e para que esta catálise ocorra é necessário que se cumpram duas condições: - o substrato deve se solubilizar no agregado micelar; - o centro da solubilização não deve impedir que o centro reativo do substrato seja acessível ao reativo atacante. As interações eletrostáticas podem influir na etapa de transi- ção e/ou na concentração dos reativos nas proximidades do cen- tro da reação. Assim, uma micela catiônica pode catalisar a re- ação entre um ânion nucleofílico e um substrato neutro, median- te o deslocamento da carga negativa que se gera na etapa de transição e como consequência diminuir a energia de ativação da mesma. Pode também catalisar esta reação aumentando a concentração do ânion nucleófilo na interface micela-água, per- to do centro reativo do substrato. Por outro lado, as interações do tipo hidrofóbico são especialmente importantes já que deter- minam a localização do substrato ao solubilizar-se na micela, assim como o grau de incorporação do mesmo (Figura 4.). Deve-se ter em conta que se o substrato contém grandes grupos hidrófobos em sua estrutura, o que pode levar à forma- ção de micelas mistas com o agente tensoativo. Este fenômeno também afeta em grande extensão a velocidade e a estereoquímica da reação na qual o substrato participa. Figura 3. Representação bidimensional das regiões que formam uma micela iônica normal com estrutura esférica8 . X, O e h indicam as localizações relativas dos contra-íons, do grupo cabeça, e das cau- das (hidrocarbonetos), respectivamente. A estrutura da micela normal formada indica que o grupo cabeça hidrofílico está direcionado para o contato com a solu- ção aquosa formando uma superfície polar, enquanto que a cadeia linear (cauda) está em sentido inverso ao da água, for- mando um núcleo central não polar14 . A formação de associações de colóides pode também ocorrer em vários solventes não-polares; neste caso, os agregados dos tensoativos são denominados “micelas reversas” ou “micelas invertidas”14,22 . Nos sistemas de micelas reversas, as cabeças
  • 4. 90ManiassoQuim.Nova Tabela 2. Comparação das características de diferentes tipos de agregados formados com o agente tensoativo. Características Micelas Micelas Inversas Micro Emulsões Monocapas Bicapas Vesiculas Constituinte Tensoativo Tensoativo Tensoativo, co-tensoativo, Tensoativo Tensoativo com Tensoativo com solvente apolar duas caudas duas caudas Método de dissolver o tensoativo Dissolver o tensoativo Dissolver o tensoativo Dissolver os tensoativos Dissolver os tensoativos Submetendo a preparação [>CMC] em água em sovente apolar e co-tensoatico numa livres em solvente livres em solvente solução mistura de solventes orgânico volátil sobre a orgânico sobre um a ultrasom apolar-água superfície aquosa furo que conecta duas soluções aquosas Estrutura Peso molecular 2000-6000 2000-6000 105 -106 Depende da área Depende da área >107 médio coberta e da densidade e da densidade coberta da capa formada da bicapa formada Diametro (A) 30-60 40-80 50-100 ¢ ¢ 300-10000 Estabilidade Semanas, meses Semanas, meses Semanas, meses Horas, dias Horas Semanas Diluição em água Sào destruidas Formam micro o/aq + água = São destruidas São destruidas Não se alteram emulsões aq/o micelas aquosas aq/o + água = separação de fases Extraída da Tese de Doutoramento de Dolores Cecília Criado da Universidade de Córdoba
  • 5. Vol. 24, No. 1 Ambientes Micelares em Química Analítica 91 Os mecanismos que envolvem esta modificação no meio reacional são complexos, e não totalmente estabelecidos, sen- do que várias teorias descrevem o que pode ocorrer durante este processo25-31 . Aplicações analíticas O uso de micelas oferece interessantes perspectivas na área dos métodos cinéticos de análises. Considerando as aplicações já descritas sobre a utilização de agregados micelares em dife- rentes campos da Química Analítica3,21 e tendo em conta os estudos físico-químicos teóricos sobre catálise micelar, o uso de micelas pode ajudar no desenvolvimento de novos métodos ou na modificação dos métodos cinéticos já existentes. Alguns dos problemas que, em princípio, podem ser solucionados são os seguintes: insolubilidade dos reativos que participam na reação, reações analíticas lentas, presença de reações colaterais, sensibilidade e/ou seletividade insuficientes, etc. É portanto surpreendente que até agora poucas aplicações tenham sido descritas, a maioria delas restritas a métodos de equilíbrio. Dentre estas características, podem ser citados alguns traba- lhos que empregam tensoativos para catalisar reações. Um exem- plo refere-se ao método espectrofotométrico para a determina- ção simultânea de misturas binárias de cianeto, sulfito e sulfato mediante a reação com o ácido 5,5- ditobis (2-nitrobenzóico) em presença de micelas catiônicas de CTAB. A presença das micelas incrementam a diferenciação das velocidades reacionais envolvidas, permitindo dessa forma a análise31 . A catálise micelar também tem sido utilizada para melhorar os métodos espectrofotométricos para a determinação do íon cianeto baseados nas reações deste íons com dissulfetos aro- máticos, tais como 5,5 ditio-bis-(2-ácido nitrobenzóico) e 4,4– ditiopiridina32 . Os produtos de reação são tiocianato orgânico e o ânion tiol, sendo a absorbância do ânion formado propor- cional à concentração do íon cianeto. O problema principal destes métodos é a lentidão das reações consideradas, reque- rendo-se de 90 a 120 minutos para se alcançar um valor cons- tante de absorbância. O uso de micelas catiônicas de CTAB aceleram a reação e as medidas podem realizar-se depois de 1 a 2 minutos da mistura dos reativos33 . É interessante destacar que a sensibilidade e seletividade dos métodos não diminui pela adição do agente tensoativo. Dentro deste contexto, situa-se também a determinação fluorimétrica de cianeto baseado no seu efeito catalítico sobre a reação de oxidação do pirodoxal-5-fosfato pelo oxigênio dis- solvido nas soluções. A adição do tensoativo DTAB34 produz um aumento do sinal de fluorescência (ao redor de 100%) do produto formado 4-piridoxi ácido 5-fosfato, o que permite sua determinação com maior sensibilidade. Outra importante aplicação de micelas está no emprego em reações derivativas (pré-coluna ou pós-coluna) em cromato- grafia líquida de alta resolução combinada com detecção por fluorescência. Um exemplo é o uso de micelas de Triton X-100 visando derivações pré-coluna, envolvendo ácidos car- boxílicos em matrizes biológicas em presença do reativo fluóforo 4–bromometil-7-metoxicumarina. Esta reação deriva- tiva não se produz em solução aquosa devido à solvatação do grupo carboxilíco do analito. A adição do tensoativo iônico Triton X-100 permite a extração do analito na fase micelar, possibilitando que o ácido carboxílico penetre até ao coração micelar, onde se solubiliza o reativo fluoróforo; para isto é necessário se adicionar um reativo lipofílico, brometo de tetrahexilamônio, que forma um par iônico com o analito35 . A importância da catálise micelar no desenvolvimento dos métodos cinéticos tem sido preconizada por diferentes auto- res36,37 . Contudo, poucos estudos foram realizados até esta data neste sentido, apesar dos resultados promissores obtidos. O efeito da concentração dos reativos na pseudofase micelar permitiu a aplicação de um método cinético para a determina- ção de aminas, fenóis, tióis, hidrazinas, mediante sua reação com 1-fluor-2,4-dinitrobenzeno (FDNB), utilizando eletrodo seletivo para quantificar os íons fluoretos liberados38 . Estas reações de substituição nucleofílica são muito lentas em solu- ção aquosa, contudo a adição de tensoativos catiônicos e não iônicos produzem uma importante aceleração das mesmas, tor- nando possível seu uso para determinações cinéticas. Ainda, compostos aminados tais como celafexin, sulfametiazol e vári- os aminoácidos tem sido determinados38 . A relação entre as constantes de velocidade e a concentra- ção de tensoativo sugere que a interação entre a micela e os aminoácidos ocorre através da parte lipofílica e do grupo carboxílico da molécula, permitindo que o grupo amino livre reaja com FDNB39 . A presença de CTAB produz um aumento de 16 vezes na velocidade de reação no caso mais favorável (triptofano). Este efeito acelerador proporcionado pelas micelas de CTAB foi utilizado também para a determinação cinética de compostos fenólicos38 e de drogas tais como a isoniazida utilizando a técnica de parada de fluxos40 . Os efeitos micelares sobre a cinética reacional também podem ser aplicados em análises de multicomponentes. Desta forma, a presença do tensoativo Triton X-100 no meio reacional permitiu a determinação simultânea de Ni(II) e de Co(II) usando 5- octiloximetil-8quinolinol como reativo comum. Ambos os ions metálicos formam complexo com este reativo, sendo a velocidade de reação excessivamente alta para o seu controle mediante técni- cas convencionais do monitoramento de reações rápidas. As velo- cidades de ambas as reações são inibidas pelo tensoativo Triton X-100, tornando possível o acompanhamento espectrofotométrico das mesmas mediante a técnica de parada de fluxos. Pré-concentração em ambiente micelar empregando a metodologia de extração por “cloud point” Os métodos empregados para determinação de espécies quí- micas que ocorrem em baixas concentrações utilizam em geral etapas de concentração e/ou separação prévias à determinação. Os processos mais comumente empregados para esta finalida- de são a extração líquido-líquido41,42 e a troca iônica, em geral envolvendo sorventes sólidos/resinas de troca iônica43-47 . Con- tudo, são conhecidas as vantagens e as limitações que tais pro- cedimentos possuem quanto ao seu emprego42,47 . Nos últimos anos os ambientes organizados (micelas normal ou reversa, microemulsões, vesículas, etc.) tem sido empregados em praticamente todo o campo da Química Analítica na melhoria de métodos já existentes e/ou no desenvolvimento de novas metodologias, incluindo uma particular aplicação do meio orga- nizado em vários processos de separação. Como exemplo po- dem ser citadas as aplicações em HPLC, extração, filtração com gel, ultra-centrifugação, cromatografia com eletroforese capilar, as quais tem mostrado novas possibilidades de pesquisa na se- paração das moléculas em diversas áreas como biotecnologia, saúde pública ou no estudo de poluentes ambientais48-50 . Figura 4. A, B, C e D indicam as possibilidades de interação do substrato e a micela. Micela D A C B
  • 6. 92 Maniasso Quim. Nova Tensoativos catiônicos, não iônicos e anfóteros, quando empregados em quantidades acima da concentração micelar crítica e aquecidos a uma determinada temperatura, podem separar-se em duas fases isotrópicas, fenômeno este denomina- do “cloud point”48,49,51-53 . A definição de “cloud point” está sujeita a várias interpre- tações muito semelhantes, que se completam. É a separação de duas fases, que parece estar associada à existência de micelas compostas por moléculas gigantes na solução. Em soluções aquosas, o emprego de tensoativos não iônicos e anfóteros formam uma fase complexa e particularmente propensa a sepa- rar-se sob uma determinada temperatura. Certos tensoativos anfóteros e alguns não iônicos em presença de altas concentra- ções de eletrólitos (soluções salinas) podem também apresen- tar separação de fases49,51-55 . Em soluções aquosas, os tensoativos não iônicos e anfóteros com concentrações acima da CMC podem ser empregados como extratores, pois nestas soluções quando aquecidas (a tem- peratura depende do tensoativo empregado) duas fases distin- tas aparecem, sendo uma delas a fase aquosa, contendo peque- na quantidade de tensoativo, abaixo da CMC e a outra, extre- mamente concentrada em tensoativo e contendo os componen- tes extraídos da solução. Quando vários tensoativos não iônicos e anfóteros em solução aquosa são aquecidos acima de uma determinada temperatura, a solução começa subitamente a fi- car turva, devido ao decréscimo de solubilidade do tensoativo em água, e as fases se separam49,51-55 . Conclui-se então que a separação de fases ocorre em duas partes distintas, uma pobre e a outra rica em tensoativo con- tendo o analito. O mecanismo segundo o qual ocorre a separa- ção, foi bastante investigado nas décadas de 60 a 8056-58 , po- rém o mesmo continua sendo uma fonte de controvérsia. Os principais fatores que evidenciam a importância do em- prego de tensoativos para pré-concentrar e/ou separar em com- paração a outras técnicas foram discutidos49,51-58 e os seguin- tes aspectos devem ser considerados: - O tensoativo deve possuir a capacidade natural de extrair somente o analito na fase rica com altos fatores de pré- concentração; o mesmo pode ser extraído em pequenos volumes de fase rica, geralmente 0,2 a 0,4 mL, o que no mínimo indica um fator de pré-concentração idêntico às outras técnicas; - A separação das fases depende da hidrofobicidade do analito, permitindo o uso de várias estratégias como, por exemplo, da extração líquido-líquido; - Os tensoativos empregados não são tóxicos, são de me- nor periculosidade quando comparados aos solventes orgâ- nicos usualmente empregados em extrações líquido-líqui- do, não são voláteis nem inflamáveis e requerem poucos miligramas sendo que os preços dos tensoativos comercial- mente disponíveis são geralmente baixos; - O processo de separação das fases é reversível. Com relação à extração por “cloud point”, Watanabe e Tanaka59 foram os primeiros a desenvolver o processo usando a indução da temperatura na separação de fases para concentrar complexos me- tálicos pouco solúveis em água. Estes eram solubilizados pelas micelas e concentrados com rapidez e eficiência, devido ao fato de o volume final da fase rica em tensoativo ser muito pequeno. Por- tanto, o uso da indução da separação de fases por temperatura melhora a sensibilidade dos métodos analíticos convencionais prin- cipalmente para íons metálicos53,5 . Hoshino e colaboradores60 co- mentaram que as determinações de complexos metálicos em solu- ção aquosa baseadas no emprego de reagentes orgânicos apresen- tam problemas indesejáveis de precipitação, que podem ser evita- dos pela sua solubilização nos ambientes organizados e posterior extração por separação das fases. A separação de fases deve promover um elevado fator de concentração, propiciando melhor sensibilidade e possibilitan- do ainda uma melhoria em seletividade. Neste contexto, o tensoativo polioxietileno nonil fenil eter (PONPE - 7.5) foi empregado para a determinação de zinco em águas naturais59 , o qual era complexado pelo PAN e extra- ído da solução pelo aparecimento de duas fases à temperatura ambiente após 8 minutos de centrifugação a 4000 rpm. O fator de pré-concentração foi de aproximadamente 25 vezes e o sis- tema de detecção empregado era o espectrofotométrico. Gadolinio foi espectrofotometricamente determinado em baixas concentrações (mg L-1 ) em amostras de urina, após formar o com- plexo Gd(III)-2-dichloro-2-pyridylazo)-5-dimethylaminophenol ex- traído e pré-concentrado pelo tensoativo não iônico PONPE-7.561 Recentemente, foi proposto o emprego de tensoativo aniônico na formação do “cloud point” para pré-concentrar hidrocarbonetos policíclicos (PAHs) aromáticos em água62 . O uso do tensoativo aniônico ácido dodecano sulfônico (SDSA) apresenta vantagens significativas quando comparado aos tensoativos não iônicos e aos anfóteros com relação em elimi- nar as etapas prévias de limpeza das amostras para a determi- nação de PAHs. Desta forma, cabe enfatizar que o emprego de agentes tensoativos para pré-concentrar substâncias inorgânicas mostra- se um campo pouco explorado e altamente promissor. Os mes- mos, na forma de complexos, tendem a solubizar-se nas micelas e podem ser separados pela metodologia de “cloud point”. CONCLUSÕES O uso de tensoativos em Química Analítica tem se mostra- do altamente promissor, uma vez que o mesmo pode propiciar um aumento de sensibilidade e/ou seletividade para um grande número de reações. Outro fator positivo esta no emprego para a pré-concentração em substituição aos solventes orgânicos pois o uso desta técnica que possui fatores de pré-concentração si- milares à extração líquido-líquido e também pelo fato de ser incluída na chamada “Química Verde”. AGRADECIMENTOS O autor agradece E.A G. Zagatto pela colaboração e suges- tões, D. Pérez-Bendito, da Universidade de Córdoba, Espanha por participar junto ao seu grupo de trabalho e à FAPESP pelo suporte financeiro. REFERÊNCIAS 1. Weest, C. C.; Harwell, J. H.; Environ. Sci. and Techn. 1992, 26, 2324. 2. Porter, M. R.; “Recent developments in the analysis of surfactants. Critical reports on applied chemistry”, N.Y., vol. 32 Ed. Elsevier Science Ltde, 1978. 3. Hinze, W. L.; “Solution chemistry of surfactants” K.L. Mittal, N.Y, Ed Plenunn Press, 1979. 4. Pelizzetti, E.; Pramauro, E.; Anal. Chim. Acta 1985, 169, 1. 5. Quina, F. H.; Hinze, W. L.; Ind. Eng. Chem. Res. 1999, 38, 4150. 6. Saunders, L.; Biochim.Biophys. 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  • 7. Vol. 24, No. 1 Ambientes Micelares em Química Analítica 93 13. Preston, W. C.; J. Phys. Chem. 1948, 52, 848. 14. Rosen, M. J.; “Surfactants and interfacial phenomena”, N.Y., Ed. Wiley-Interscience, 1978. 15. Fendler, J. H.; Fendler, E. J.; “Catalysis in micellar and macromolecular systems”, N.Y., Ed. Academic Press, 1975. 16. Shapiro, D.; “Chemistry of natural products” Paris, Vol IX, Ed. E. Lederer, 1969. 17. Mysels, K. J.; “Introduction to colloid chemistry”, N.Y., Ed. Wiley Interscience, 1958. 18. Tanford, C.; J. Phys. Chem. 1972, 76, 3020. 19. Schott, H.; J. Pharm. Sci., 1971, 60, 1594. 20. Zografi, G.; Yalkowsky, S.H.; J. Pharm. Sci., 1972, 61, 651. 21. Mukerjee, P.; Mysels, K. J.; “Critical micelles concentration of aqueous surfactant systems”, Washington: U.S. Gov. Printing Office, Superintendent of Documents, 1971. (NSRDS-NBS 36.) 22. Pilpel, N.; Chem. Ver. 1963, 63, 221. 23. Durham, K.; “Surface activity and detergency”, N.Y., Ed.Macmillan, 1961. 24. Cordes, E. H.; “Reaction kinects in micelles”, N.Y., Ed. Plenunn Press, 1973. 25. Menger, F. M.; Jerkunica, J. M.; Johnston, J. C.; J. Am. Chem. Soc. 1978, 100, 4676. 26. Menger, F. M.; Yoshinaga, H.; Venkatusubban, K. S.; J. Org. Chem., 1981, 46, 415. 27. Menger, F. M.; Nature 1985, 313, 603. 28. Rodgers, M. A. J.; Chem. Phys. Letters 1981, 78, 509. 29. Menger, F. M.; Doll, D. W.; J. Am. Chem. Soc. 1984, 106, 1109. 30. Dill, K. A.; Koppel, D. E.; Cantor, R. S.; Dill, J. D.; Bendeclouch, D.; Chen, S. H.; Nature 1984, 309, 42. 31. Cabane, B.; Nature 1985, 314, 385. 32. González, V; Moreno, B; Sicilia, D.; Rubio, S.; Perez- Bendito, D.; Anal. Chem. 1993, 65, 1897. 33. Love, L. J. C.; Habarta, J. G.; Dorsey, J. G.; Anal. Chem. 1984, 56, 1133. 34. Sicilia, D.; Rubio, S.; Pérez-Bendito, D.; Maniasso, N.; Zagatto, E. A. G.; Analyst 1999, 124, 615. 35. Mori, I.; Fujita, Y.; Fujita, K.; Nakahashi, Y.; Tanaka, T.; Shihara, S.; Fresenius Anal. Chem. 1988, 330, 619. 36. Van der Horst, F. A. L.; Trends Anal. Chem. 1989, 8, 268. 37. Hinze, W. L.; Singh, H. N.; Baba, Y.; Harvey, N. G.; Trends Anal. Chem. 1984, 3, 193. 38. Athanasioumalaki, E.; Koupparis, M. A.; Anal. Chim. Acta 1989, 219, 295. 39. Pérez-Bendito, D.; Rubio, S.; Anal. Chim. Acta 1989, 224, 185. 40. Archontacki, H. A.; Koupparis, M. A.; Efstathiou, C. E.; Analyst 1989, 114, 591. 41. Jungclaus, G. A.; Games, L. M.; Hites, R. A.; Anal. Chem. 1976, 48, 1894. 42. Blanco. T.; Maniasso, N.; Giné, M. F.; Jacintho, A. O.; Analyst 1988, 123, 191. 43. Basu, D. K.; Saxena, J.; Environ. Sci. Technol. 1978, 12, 791. 44. Symons, R. K.; Crick, I.; Anal. Chim. Acta 1983, 151, 237. 45. van Rossum, P.; Webb, R. G.; J. Chrom. 1979, 150, 237. 46. Inukai, Y.; Chinen, T.; Matsuda, T.; Kaida, Y.; Yasuda, S.; Anal. Chim. Acta 1998, 371, 187. 47. Xu, B. X.; Fang, Y. Z.; Talanta, 1988, 35, 891. 48. Pinto, C. G.; Pavón, J. L. P.; Cordero, B. M.; Anal. Chem. 1992, 64, 2334. 49. Laespada, M. E. F.; Pavón, J. L. P.; Cordero, B. M.; Analyst 1993, 118, 209. 50. Colambara, R.; Tavares, M. F. M.; Massaro, S.; Quim. Nova 1997, 20, 512. 51. Cordero, B. M.; Pavón, J. L. P.; Pinto, C. G.; Laespada, M. E. F.; Talanta 1993, 40, 1703. 52. Saitoh, T.; Hinze, W.; Anal. Chem. 1991, 63, 2520. 53. Saitoh, T.; Tani, H.; Kamidate, T.; Watanabe, H.; Trends in Anal. Chem. 1995, 14, 213. 54. Ferrer, R.; Beltrán, J. L.; Guiteras, J.; Anal. Chim. Acta 1996, 330, 199. 55. Sirimanne, S. R.; Barr, J. R.; Patterson Jr, D. G.; Anal. Chem. 1996, 68, 1556. 56. Corti, M.; Mimeiro, C.; Digiorgio, V.; J. Phys. Chem, 1984, 88, 309. 57. Degiorgio, V.; Piazza, R.; Corti, M.; Mineiro, C.; J. Phys. Chem. 1985, 82, 1025. 58. Goldstein, R. E.; J. Phys. Chem. 1986, 84, 3367. 59. Watanabe, H.; Tanaka, H.; Talanta 1978, 52, 585. 60. Hoshino, H.; Saitoh, T.; Taketomi, H.; Yotsuyanagi, T.; Anal. Chim. Acta 1983, 147, 339. 61. Silva, M. F.; Fernandez, L. P.; Olsina, R. A.; Analyst 1998, 123, 1803. 62. Sicilia, D.; Rubio, S.; Pérez-Bendito, D.; Maniasso, N.; Zagatto, E. A. G.; Anal. Chim. Acta 1999, 392, 29