O documento discute a atual conjuntura sociopolítica brasileira e como a mídia tem dado cobertura aos eventos. A crise econômica levou a uma crise política que resultou no processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O documento argumenta que a grande mídia, especialmente a Rede Globo, tem sua cobertura tendenciosa e manipuladora ao tentar falar por todos e estabelecer verdades.
1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH III
ANCELMO NETO LOULA GUIMARÃES
A ATUAL CONJUNTURA SOCIOPOLÍTICA E SEU ENFOQUE PELA
MÍDIA.
Trabalho Acadêmico apresentado na forma de
ensaio, como requisito parcial para a obtenção
da aprovação na disciplina Metodologia da
Ciência e do Trabalho, do 1º semestre do
Curso de Bacharelado em Comunicação/
Jornalismo Multimeios, da Universidade do
Estado da Bahia – UNEB, Campus III,
Juazeiro – Bahia.
Docentes: Profs. Cecílio Bastos e Márcio
Patro.
JUAZEIRO – BA
2016
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Atual Conjuntura Sociopolítica e o seu Enfoque pela Mídia
O presente ensaio busca-se alavancar parâmetros de discussão em torno da atual
conjuntura sociopolítica brasileira, que tem sido levada ao grau máximo de enfoque pelos
meios de comunicação. Uma análise de como o jornalismo tem exposto reportagens sobre a
crise, traz um forte debate sobre representações construídas e tendenciosas. O acadêmico de
Comunicação e Jornalismo não pode se furtar a esse debate, por isso, será feito um
enfrentamento do tema, com objetivo de suscitar discussões capazes de trazes reflexões sobre
o dever ético, social e político daqueles que se propõe a narrar os acontecimentos
O país encontra-se mergulhado numa grande crise que perpassa pelos setores da
política, da economia e do social. O uso exacerbado do termo evidencia o momento atual do
nosso Brasil, sendo certo que, o que era um modismo inicial pela difusão da mídia, tem
ganhado contornos de seriedade no seio nação, já que cada vez mais ficam evidentes os
problemas na economia que ocasionará o aumento da insatisfação, reforçado pelo sentimento
de abandono do poder político, ante os seus próprios problemas.
O grande vetor de todo emblema é o setor econômico. O aumento da inflação, a
queda da renda per capita, o desemprego crescente, a diminuição do poder de compra, o
aumento de impostos são problemas emergentes no cenário nacional que aliado crise mundial,
aumento do dólar e ao escândalo que envolveu uma das maiores empresas de petróleo do
mundo (Petrobrás), fizeram com que o capital estrangeiro deixasse de entrar no país, havendo
cortes com importantes laços comerciais.
Diante da crise financeira, instaurou-se a crise política, que insurge, para alguns,
como um golpe à democracia, e, para outros, o exercício regular de um direito constitucional.
O enfoque dado pela mídia evidencia uma quebra de braço entre lideranças do executivo e do
legislativo, sendo certo que o país encontra-se praticamente paralisado ante esse embate, que
culminou por fim na instauração de impeachment da presidenta Dilma.
Cumpre mencionar que ainda temos, em menos evidencia, a crise social, que até este
momento encontra-se na esfera de movimentações a favor ou contra o impeachment, que
parece ter dividido o país em dois grupos, havendo, inclusive, a vergonhosa construção de um
muro na Capital Federal para que os manifestantes não entrassem em disputa, durante a
votação pela admissibilidade do processo de impedimento na Câmara dos Deputados.
Contudo, é certo que o aumento da crise econômica trará o aumento da crise social, saindo da
esfera “pacífica” das “selfies” para fortes movimentos de mobilizações populares, diante do
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quadro que se apresenta vindouro, ou seja, o cenário de 2016 provavelmente será de
desemprego crescente, arrocho salarial, precarização dos serviços públicos e enfraquecimento
dos programas sociais.
Outrossim, falar do momento atual do país é falar na palavra impeachment, que é
aplicado a um chefe de Estado para afastá-lo de seu cargo, quando comete crime contra o bem
público (crime de responsabilidade). O processo de impeachment desenrolar-se-á em seis
fases: 1) Pedido, 2) Acolhimento, 3) Primeira votação (na Câmara), 4) Envio para o Senado,
5) Segunda votação (no Senado) e 6) Penalização. O ponto crítico é quando o Senado aceita o
procedimento, a partir daí a Presidente será afastada pelo prazo de 180 dias e começa a
instrução do feito que será presidida no Senado pelo Presidente do Superior Tribunal Federal.
Os autores do atual processo de impedimento são os juristas Hélio Bicudo, Miguel
Reale Junior e Janaina Paschoal, que apresentaram denúncia contra a Presidente Dilma
Rousseft, pela suposta prática de crime de responsabilidade, consistente nas chamadas
“Pedaladas fiscais”; nos Decretos, sem autorização do Congresso que ampliaram os gastos; e,
na omissão em negar a gravidade da situação da Petrobrás. Os mesmos possuem legitimidade
para apresentar a denúncia, pois todo o cidadão nos exercício dos seus deveres políticos pode
ingressar com a demanda.
A presidente nega “atos ilícitos” e diz que são “inconsistentes e improcedentes as
razões que fundamentam esse pedido”. “Não existe nenhum ato ilícito praticado por mim”,
referenda a mesma. A Advocacia-Geral da União diz que não houve irregularidades na
manobra de atraso de pagamentos a bancos públicos e afirma que o procedimento já foi
realizado anteriormente pelos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da
Silva. Sobre os decretos, o governo diz que eles estão de acordo com a legislação e não
aumentaram as despesas da União.
A celeuma em torno do impedimento iniciou desde agosto de 2015 quando o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, arquivou quatro pedidos de abertura de processo de
impeachment contra a Presidente Dilma. Em seguida, foi apresentado o rito do processo de
impedimento por Cunha e suspenso pelo STF. Em outubro houve a apresentação de um novo
pedido, que foi aceite e autorizada a abertura, havendo num primeiro momento discussão
sobre a formação da comissão que, depois de resolvido, fez o processo caminhar. Neste
momento, após ser aprovado pela Câmara dos Deputados o processo encontra-se no Senado.
Numa outra vertente, temos que referendar que esse momento de crise é propício
para a análise da mídia. Discutir como a Grande Mídia, encabeçada pela Rede Globo, tem
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atuado na cobertura sobre os eventos sociopolíticos atuais é um assunto para ser abordado
pelos acadêmicos do Curso de Jornalismo. A cadeia do quanto exposto evidencia uma
cobertura seletiva dos acontecimentos, denotando que a grande mídia é extremamente
partidária. A título de exemplificação pode-se citar a cobertura dos eventos do dia 13 de
Março de 2016, onde restou claro que para um determinado grupo foi dado um enfoque
maior, com ampla carga temporária, e, para outro, um tempo diminuto, inclusive buscando
asseverar que este grupo retaliava a atuação da imprensa (globo) na cobertura dos eventos.
Essa forma de retratar os acontecimentos traz a lume a teoria da ventriloquacidade,
que é a capacidade de falar por meio de outrem. Este outro é o títere sem o qual a vida do
ventríloquo não tem sentido. Entre eles se estabelece a dialética reveladora de um
fundamental jogo de linguagem do nosso tempo. A mídia atual tenta falar por todos, serem os
porta-vozes de verdades estabelecidas e usar os expectadores e ouvinte como meros
reprodutores dos seus axiomas.
O processo de manipulação mediática é primordial para percepção do quanto os
meios de comunicação de massa decide o que você pensa, o que você quer e o que você faz.
Isso decorre da confiança estabelecida entre os agentes, para o expectador ou ouvinte parece
ilógico que haveria uma tentativa de manipulação, entregando-se ao quanto explanado e
tomando como verdades, já que na forma de notícias, a informação é algo que serve para você
saber em que mundo se encontra, saber o que está acontecendo, e, evidentemente, não ser
ingênuo.
O papel da mídia deve ser trazer discussões ao seio social e fazer os indivíduos
pensarem e analisarem os acontecimentos. Na divulgação dos fatos deve existir isenção para
que o País possa construir no presente uma história sem maquiagens e desvios, não é possível
admitir que o espectador seja um ventríloquo.
A conclusão que se traz do presente ensaio estabelece a dialética de que crise
estabelecida nos diversos setores do Brasil e que culminou no processo de impeachment em
desfavor da Chefa da Nação, serve para analisar a atuação da grande mídia brasileira neste
momento histórico e fomentar discussões para empreender se o processo mediático das
grandes massas é partidário e, portanto, manipulador, e, qual o papel do acadêmico de
Jornalismo e Comunicação frente a essa problemática, de forma a resgatar o senso ético na
reprodução das notícias e fazer renascer a confiança da população neste importante vetor da
sociedade.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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13 fevereiro 2016. Disponível em <http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-
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TIBURI, Marcia. Ventriloquacidade. Revista CULT, São Paulo, novembro 2015. Disponível
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2016.
_____. Como a televisão decide o que você pensa, o que você quer e o que você faz.
Revista CULT, São Paulo, Março 2016. Disponível em <http://revistacult.uol.com.br/
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VELASCO, Clara (Ed). et al. Dilma o mandato em jogo. Portal Globo.com, Rio de Janeiro,
23 Março 2016. Disponível em <http://especiais.g1.globo.com/politica/2016/dilma-o-
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