O documento apresenta a vida e espiritualidade de São Francisco de Assis, destacando sua identificação com Cristo e seu amor pelos pobres. Também reflete sobre a atualidade da mensagem de Francisco de viver em harmonia com a natureza e com todos os seres humanos.
3. 622. Confiou Deus a certos homens a missão
de revelarem a Sua lei?
“Indubitavelmente. Em todos os tempos
houve homens que tiveram essa missão.
São Espíritos superiores, que encarnam com
o fim de fazer progredir a Humanidade.”
(O Livro dos Espíritos)
4. Versos tentando caminhar nas trilhas de São
Francisco
Irmão que viveste na úmbria
Acende estas palavras com a tua sombra
silenciosa companheira
Fazendo-nos amar os caminhos
Desconfia das pedras e ama os pássaros
Ensina tua alma amiga a gostar dos ventos
Vive profunda, indefesamente , a ciência
da esperança
Ela é fiel, e a mais lúcida de tuas irmãs
Ela vive a medida da desmedida
E ousa contemplar o segredo do tempo
5. Ensina a teus passos caminhar nos
sonhos
Quando vier a hora definitiva
Estarás mais próxima
Não temas a proximidade da morte
Guarda tua emoção como louvor à
grandeza da vida
Quando vês um pobre
Ele te julga... tu te julgas
DEUS te julga: é a hora da
misericórdia
6. A bondade, esta fecunda imensa existência na
qual a vida chega
a se abraçar com a morte...a fim de vencê-la
Só te inclines diante de DEUS
Ou diante de alguém que sofra
O resto é idolatria
Estamos na travessia
Sofre-te e alegra-te com a inquietação das
águas
Admira a beleza do mar e não sejas tonta em
pedir às vagas e espumas
a quietude de um porto
7. Vives o tempo da coragem, a música do
risco
Teu sangue nas veias ignora o que seja a
imobilidade
E por isso vives
E essa é a mais fiel imagem do Infinito
e Ardente Cristal
O tempo assiste a luta entre o afeto e o
medo
O tempo te desafia clamando: abraça-me
ou adormece
Amar
Único verbo a mover-se sobre a ofuscante
certeza da eternidade
8. Irmão que um dia viveste na úmbria
senhor irmão aceso pelo amor
incandesce os nossos caminhos
mas tão profundamente, que possamos amar as
sombras
E sem ódio ou temor
ver as estrelas perdidas no deserto olhar do
lobo.
JOSÉ PAULO, primavera de 1981( Apud Leonardo
Boff, Ternura e vigor, vozes, 1982.)
9. O itinerário espiritual de Francisco também decorreu ao longo de 20
anos – entre os 25 e os 45, idade com que morreu em 3 de Outubro
de 1226 – e desenvolveu-se num clima denso de interioridade, com
bastantes retoques originais.
10. "A vida de Francisco Bernardone (o verdadeiro nome foi
Giovanni, mas o pai, rico mercador que freqüentemente
visitava a França, chamou o filho de "Francesco", isto é,
francês)" - di-lo G.D. Leoni (1) - "é bastante conhecida; nem tem muito
interesse para a leitura dos "Fioretti". Todavia, eis as datas
fundamentais: nasce em Assis (26 de setembro de 1182), na região
italiana da Úmbria; passa a juventude na alegre companhia de amigos,
até que uma doença o faz refletir sobre a fraqueza humana (1206): no
mesmo ano outros sinais premonitores convertem definitivamente o
jovem, que renuncia aos bens paternos e torna-se "esposo da
obediência e da pobreza"; e se dedica à pobreza, à meditação, ao
apostolado. Alguns companheiros o seguem (1209): Bernardo de
Quintavalle, Pietro Cattani, Egídio de
11. "A vida contemplativa o Santo substitui agora a
vida ativa: organiza a Ordem, manda os primeiros
missionários à França, Alemanha, Hungria, Espanha,
Tunísia, Marrocos (onde se imolam os primeiros mártires) e
ele mesmo embarca para o Oriente (1219-1220), indo
evangelizar o Egito e visitando a Palestina. VOlta à Itália,
reorganiza a Ordem regular, institui a Ordem Terceira
(1221), percorre a Península, pregando a humildade e a
austeridade num ambiente cada vez mais corrupto e agitado.
12. "Mas o grande esforço das viagens e as
rígidas penitências enfraquecem o corpo do
Santo: começam o sofrimento e a
glorificação terrena. Em 1224 recebe os
Estigmas; um ano depois dita o "Cântico das
Criaturas"; sofre com alegria, aconselha com
piedade, morre serenamente, ao pôr do sol
do
dia 4 de outubro de 1226, com quarenta e
quatro anos."
13. Para refletirmos a espiritualidade de São
Francisco, se faz necessário buscarmos
conhecer as suas qualidades humanas,
aquela que, no processo de busca e de
conversão para o Cristo, foram
aprimoradas pela graça de Deus.
Francisco era homem de uma inteligência
transformadora, realizadora, intuitiva,
possuía um coração generoso, livre,
delicado. No seu agir, prevalecia seu
temperamento ativo, concreto, afetivo,
sensível e poético. Tudo isto é o ser de
Francisco tudo foi orientado e robustecido
por uma ideia que tomou conta dele com
força divina: voltar ao evangelho.
14. A espiritualidade de Francisco, é
portanto, um caminhar constante
na identificação com Cristo.
15. [Disse Jesus:] Deixai vir os pequeninos a
mim e não os impeçais, porque dos tais é o
Reino de Deus. Em verdade vos digo que
qualquer que não receber o Reino de Deus
como uma criança de maneira nenhuma
entrará nele(Marcos 10:14-15).
16. • INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS
• I – Deixai Vir A Mim Os Pequeninos –JOÃO O Evangelista, Paris, 1863
• 18 – Disse o Cristo: “Deixai vir a mim os pequeninos”.
Essas palavras, tão profundas na sua simplicidade, não
fazem apenas um apelo às crianças, mas também às
almas que gravitam nos círculos inferiores, onde a
desgraça desconhece a esperança. Jesus chamava a si a
infância intelectual da criatura formada: os fracos,os
escravos, os viciosos.
17. • Ele nada podia ensinar à infância física, presa na
matéria, sujeita ao jugo dos instintos, e ainda não
integrada na ordem superior da razão e da vontade,
que se exercem em torno dela e em seu benefício.
Jesus queria que os homens se entregassem a ele com
a confiança desses pequenos seres de passos
vacilantes, cujo apelo lhe conquistaria o coração das
mulheres, que são todas mães. Assim, ele submetia as
almas à sua terna e misteriosa autoridade.
18. • Ele foi à flama que espancou as trevas, o clarim
matinal que tocou a alvorada. Foi o iniciador do
Espiritismo, que deve, por sua vez, chamar a si,
não as crianças, mas os homens de boa-
vontade. A ação viril está iniciada; não se trata
mais de crer instintivamente e obedecer de
maneira mecânica: é necessário que o homem
siga as leis inteligentes, que lhe revela a sua
universalidade.
19. (...)Nós vos mostraremos a correlação
poderosa, que liga o que foi ao que é.
Eu vos digo, em verdade: a
manifestação espírita se eleva no
horizonte, e eis aqui o seu enviado,
que vai resplandecer como o sol
sobre o cume dos montes.
20. • UM ESPÍRITO PROTETOR
• Bordeaux, 1863
• 19 – Deixar vir a mim os pequeninos, pois tenho o alimento que fortifica
os fracos. Deixai vir a mim os tímidos e os débeis, que necessitam de
amparo e consolo. Deixai vir a mim os ignorantes, para que eu os ilumine.
Deixai vir a mim todos os sofredores, a multidão dos aflitos e dos
infelizes, e eu lhes darei o grande remédio para os males da vida,
revelando-lhes o segredo da cura de suas feridas. Qual é, meus amigos,
esse bálsamo poderoso, de tamanha virtude, que se aplica a todas as
chagas do coração e as curas? É o amor, é a caridade! Se tiverdes esse
fogo divino, o que havereis de temer? A todos os instantes de vossa vida
direis: “Meu Pai, que se faça a tua vontade e não a minha! Se te apraz
experimentar-me pela dor e pelas tribulações, bendito seja! Porque é
para o meu bem, eu o sei, que a tua mão pesa sobre mim. Se te agrada,
Senhor, apiedar-te de tua frágil criatura, dar-lhe ao coração as alegrias
puras, bendito seja também! Mas faze que o amor divino não se
amorteça na sua alma, e que incessantemente suba aos teus pés a sua
prece de gratidão”.
21. Esta identificação de Francisco com Cristo, é que estabelece
sua comunhão com o mundo dos pobres, colocando se a
serviço deles: “amava sempre os pobres e mostrava-se
Pai de todos os mendigos” ( Tomás de Celano). Tinha grande
predileção para com “os pequeninos” incluindo neste termo,
todas as misérias do homem, tanto a do pobre como a do
doente, do desiludido, do desventurado, do infeliz aos quais
desejava levar, além dos cuidados materiais e do conforto
físico, a grandeza do dom de Deus. Francisco entra no meio
dos homens de tal maneira que nenhum homem, nem
mesmo o mais insignificante, lhe passa despercebido.
22. "Não amemos de palavra, nem de língua,
mas por obras e em verdade." - João. (I João, 3:18.)
Por normas de fraternidade pura e sincera, recomenda
a Palavra Divina: "Amai-vos uns a outros."
Não determina seleções.
Não exalta conveniências.
Não impõem condicionais.
Não desfavorece os infelizes.
Não menoscaba os fracos.
Não faz privilégios.
Não pede o afastamento dos maus.
Não desconsidera os filhos do lar alheio.
Não destaca a parentela consanguínea.
Não menospreza os adversários.
E o apóstolo acrescenta: "Não amemos de palavra,
mas através das obras, com todo o fervor do coração."
O Universo é o nosso domicílio.
A Humanidade é a nossa família.
Aproximemo-nos dos piores, para ajudar.
Aproximemo-nos dos melhores, para aprender.
Amarmo-nos, servindo uns aos outros, não de
boca, mas de coração, constitui para nós todos o
glorioso caminho de ascensão.
Emmanuel
(extraído do livro "Vinha de Luz"- Francisco Cândido Xavier)
AMAI-VOS
23. Francisco, num movimento incessante, unifica
tudo em Deus, vai de Deus aos homens e dos
homens a Deus. Francisco de Assis amava todos
os homens em Deus e cada homem por si
mesmo e em si mesmo.
24. 622. Confiou Deus a certos homens a missão
de revelarem a Sua lei?
“Indubitavelmente. Em todos os tempos
houve homens que tiveram essa missão.
São Espíritos superiores, que encarnam com
o fim de fazer progredir a Humanidade.”
(O Livro dos Espíritos)
26. Os homens que se santificam inspirados
no Cristo, são sempre atuais. Eles rompem
os limites do tempo e se fazem
contemporâneos de cada tempo e de
cada homem que está em busca da
espiritualidade.
27. CARTA DA TERRA
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra,
numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro.
À medida que o mundo torna-se cada vez mais
interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo,
grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante,
devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica
diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família
humana e uma comunidade terrestre com um destino comum.
Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável
global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos
universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para
chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da
Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os
outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras
gerações.
28. • A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A
Terra, nosso lar, é viva como uma comunidade de vida
incomparável. As forças da natureza fazem da existência uma
aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as
condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de
recuperação da comunidade de vida e o bem-estar da
humanidade dependem da preservação de uma biosfera
saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica
variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar
limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é
uma preocupação comum de todos os povos. A proteção da
vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.
29. Francisco mostra uma outra estrutura para
lidar com o planeta, assentado não na disputa,
mas na ternura, não nos holofotes, no orgulho,
na tirania das opiniões fechadas, mas no
coração.
30. A alma inspirada em Francisco não se
orienta em atropelar os outros, priorizar
coisas e não pessoas, mas em aproximar
corações.
Longe de ser poesia piegas é atitude
radical, definitiva e unilateral.
31. O sentido da vida humana não se orienta
em criar riquezas, mas fraternidade.
Assenta-se não no ter, mas no ser. E ser
com os outros e não ser mais que os
outros.
32. A mística franciscana nos inspira a
um caminho de interação cósmica
com a realidade, pois faz-nos
lembrar do que sempre fomos e
sempre seremos - unos com toda a
teia da Vida.
34. Compaixão, não como palavras ditas
mas como sentimento. Pois a
Fraternidade é uma lei cósmica e não
um mandamento.
35. Perceber que o laço que une os homens, não
são dogmas, imposições, bulas ou rituais. Há
um elo real que une toda a Criação. Essa força
que integra nossos átomos, que segura os
universos, que nos permite existir, pensar,
agir. Isso é real.
Unidos não só todos os homens, mas tudo
que existe no universo inteiro. Essa
fraternidade, essa interligação é real. Ocorre
agora, já. inteiro em um grande conjunto.”
36. É um elo de união tão universal e abrangente que nenhum homem
ou partícula - dos homens aos animais, das folhas de grama aos átomos -
pode ficar fora da sua luz.
Francisco tem essa percepção. Essa interconexão. Que nos une à todos.
37. ECOLOGIA – de onde vem essa palavra e o que significa
Formada por duas palavras gregas, oikos que significa casa e
logos ciência, ecologia é a parte da biologia que estuda a relação
dos seres vivos com o meio ambiente enquanto que os
ecossistemas são os grupos de seres vivos que habitam
determinada região e são separados em flora, fauna e
microorganismos além dos fatores físicos que compõe o
ambiente como a atmosfera, o solo e a água.
38. ECOLOGIA
Já na antiguidade, nos primeiros documentos
escritos, obra dos Sumérios (4.000 a.C.), constavam
normas jurídicas sobre irrigação de lavouras
dispostas em forma de terraços , ou seja, ao que
tudo indica “as primeiras leis da humanidade, fixadas
por escrito, são códigos que regulam o uso da
água”.
Podemos perceber, com isto, que a preocupação
com a água, assim como muitos dos demais
aspectos da causa ambiental, não é ofício recente
do atual século. Mesmo que não utilizassem o
conceito atual, já existiam sinais claros da práxis.
Em linhas gerais, a história do ser humano é, em
grande parte, a história de sua relação com o
ambiente.
39. ECOLOGIA
Equivale a um interesse global, uma questão de vida e
morte da humanidade e de todo o sistema planetário.
O termo ecologia: cunhado pelo biólogo Ernst Haechel
em 1866.
"O estudo da interdependência e da interação entre os
organismos vivos (animais e plantas) e o seu meio
ambiente (seres inorgânicos)".
Hoje: o conceito ultrapassa o horizonte dos seres vivos
e o exclusivo domínio da natureza.
Passa a representar "a relação, a interação e a
dialogação que todos os seres (vivos ou não) guardam
entre si e com tudo o mais que existe", abarcando
também nisso o universo humano, e o universo
espiritual e o Cosmos.
40. ECOLOGIA
Dom Pedro II, em 1861, ordena plantar a Floresta da
Tijuca para a garantia de água ao Rio
de Janeiro, que já sofria sérias ameaças dos
desflorestamentos das encostas dos morros.
14
Em 1869
o cientista alemão Ernst Haeckel, propõe a ciência
“Ecologia” para os estudos das relações entre os
seres vivos e sua “casa”. Em 1872 é criado o primeiro
parque nacional do mundo, o Yellowstone,
nos EUA. Em 1876, o brasileiro André Rebouças sugere
a criação de parques nacionais na Ilha de
Bananal e em Sete Quedas, Brasil. J
41. ECOLOGIA
Com o passar da história, o advento do cristianismo, com
a revolução industrial e, mais
recentemente, com a oficialização do paradigma
cartesiano-newtoniano, as relações em geral
sofreram profundas mudanças, onde os sinais ecológicos
e psicológicos, hoje, confirmam esta
realidade, tais como a depressão, solidão, perda de
sentido na vida, a violência e ganância
generalizada da humanidade e os problemas ecológicos
complexos e sistêmicos como efeito estufa,
buracos na camada do ozônio e lixo nuclear. Estamos
vivendo o momento talvez mais importante
da história do planeta e da civilização humana. Nós
somos quem escolhemos: aproveitar as ricas
oportunidades de crescimento pessoal e grupal ou ficar
imerso na negatividade do pessimismo
apocalíptico.
42. Nos dias de hoje , estamos vivenciando o ponto – talvez –
extremo da preocupação com a qualidade dos ecossistemas e
da vida em geral, devendo-se ao fato de estarmos buscando
superar o já esgotado paradigma newtoniano-cartesiano, um
sistema, como salienta o psiquiatra
Stanislav Grof, que:
“criou uma imagem muito negativa do ser humano,
apresentando-o como uma máquina biológica movida por
impulsos instintivos de natureza bestial, e não reconhece,
realmente, valores mais altos como consciência espiritual,
sentimentos de amor, carência estética ou senso de justiça.
Todos esses valores são vistos como derivados dos instintos de
base ou de ajustes essencialmente estranhos à natureza
humana. Esta imagem endossa o individualismo, a ênfase
egoística, a competição e o princípio da “sobrevivência do mais
forte” como tendências naturais e necessáriamente saudáveis.
43. A ciência materialista não foi capaz de
reconhecer o valor e a importância vital
da cooperação, da sinergia e das
preocupações ecológicas, pois tornou-se
cega por seu próprio modelo do mundo:
unidades separadas que interagem
mecanicamente.”
44. • Tese básica de uma visão ecológica da realidade: tudo
se relaciona com tudo em todas as direções.
A lesma desfalecida no chão com a galáxia mais
longínqua, a flor do campo com o "big bang" há bilhões
de anos atrás, a consciência de um ser humano com as
particulas subatômicas mais elementares...
Diz Boff: "Para uma visão ecológica, tudo o que existe,
co-existe. Tudo o que co-existe, pré-existe. E tudo o que
co-existe e pré-existe subsiste através de uma teia
infindável de relações inclusivas”.
45. Na interdependência de todos
os seres, a ecologia redimensiona
todas as hierarquias e nega o
direito dos mais fortes. Todos os
seres contam e possuem sua
relativa autonomia; nada é
supérfluo ou marginal. Cada ser
compõe um elo da imensa corrente
cósmica que, na perspectiva da fé,
sai de Deus e a Deus retorna.
Em suma, a ecologia se define
como a ciência e a arte das
relações e dos seres relacionados.
46. • Danos ao meio ambiente, como resultado da
emissão excessiva de compostos químicos
industriais, dióxidos de enxofre e de carbono e
outros agentes poluentes:
a chuva ácida (destruidora da fauna e da
vegetação);
o efeito estufa ou aquecimento da atmosfera
(favorecendo a elevação do nível do oceano que
poderá ocasionar num futuro bem próximo
trágicas inundações);
a destruição da camada de ozônio (expondo os
seres humanos a radiações ultravioletas
cancerígenas).
47. O exorbitante crescimento da população
mundial é outro fator preocupante:
1950: 2,5 bilhões
1989: 5,2 bilhões
2000: 6,4 bilhões
A seguir no mesmo ritmo, terá o eco-sistema
terrestre nas próximas gerações condições de
absorver tanta gente?
Nesse particular, um dilema: a ameaça viria da
superpopulação ou do padrão exagerado de
consumo e de desperdício, especialmente dos
países ricos?
48. «O “eu” de Francisco foi irresistivelmente atraído e tomado pelo
uno, feito (Francisco) totalmente uno com o Centro.
«Não restava nada. As estrelas tinham desaparecido, a noite fora
submersa. O próprio Francisco tinha desaparecido. Somente
restava um TU que tudo abrange acima e abaixo, adiante e atrás,
à direita e à esquerda, dentro e fora. [...] Ao sentir-se no seio de
Deus, nasceram a Francisco asas de tal envergadura, que
abrangiam o mundo de lado a lado. ‘Meu Deus e meu Tudo’.»
O Cântico é, pois, a resposta a uma luz que naquela noite o
iluminou por dentro
49. «Meu Deus e meu Tudo». E dá-nos uma sábia lição de que não é
possível amar a Deus sem amar a sua obra.
«Desejando embora este feliz viandante deixar sem demora a terra,
como lugar de peregrinação e desterro, sabia mesmo assim tirar não
pouco proveito das coisas deste mundo. Em todas as criaturas ele
cantava o Artífice; tudo o que nelas via o referia ao Criador. Exultava de
alegria em todas as obras saídas da mão de Deus e, através desta visão
letificante, remontava-se Àquele que é a causa e o princípio que lhes dá
vida. [...] Pelas marcas impressas na natureza seguia ao encontro do
amado. [...] Abraçava todos os seres criados com um amor e um
entusiasmo jamais vistos e com eles falava acerca do Senhor,
convidando-os a louvá-Lo. [...] Chamava irmãos a todos os animais,
embora, entre todos, preferisse os mansos. Porque a Bondade, que é
fonte de todas as coisas, já nesta vida se manifestava aos olhos do
Santo claramente total em todas elas.»[43]
50. • . Isso significa que tudo na existência é visto a partir de um
novo olhar
• onde o ser humano vai construindo a sua integralidade e a sua
integração com
• tudo que o cerca.
51. Tudo que existe tem sua vibração apropriada. A conexão com os seres
vivos ocorre quando o indivíduo começa a entrar na sintonia cósmica.
52. Francisco sente o mundo confraternizando com o Espírito.
“O Espírito dorme na pedra, sonha nas flores, sente nos
animais e pensa no ser humano”. Ele é a grande força
unificadora de toda a criação. Por isso, nós temos que
intensificar esta concepção que nos leva a assumir o
mundo não como objeto de nossa dominação, mas como
irmão. O universo constitui um desbordamento dessa
diversidade e dessa união. O mundo é assim complexo,
diverso, uno, entrelaçado e interconectado
53. A assistência a todas pessoas, o convívio fraterno e
bondoso, a amizade espontânea, o coração aberto, o
hábito da reflexão elevada, da concentração mental e do
estudo sereno, constante, sucessivo e dirigido para
assuntos avançados e não-mundanos, desenvolve o
Corpo mental da consciência.”
54. • Viver a essa interação permite-nos entrar em
sintonia com o universo, a partir do coração
aberto, porque abraçamos a tudo como criaturas
irmãs, criaturas de Deus numa sinfonia cósmica
55. Nós vivemos numa realidade, num mundo
definido, por que não dizer, criado pelos nossos
sentidos. Precisamos aceitar, além das vias
científicas, a existência de outras vias de
conhecimento, como a ampliação da consciência
com a absorção de conteúdos inconscientes e a
intuição. O Universo é um todo do qual nós
percebemos somente uma face. Nós não podemos
objetivar completamente os fenômenos, mas
apenas falar do “mundo que o homem é capaz de
conhecer”.
56. “A mente apenas vê uma fatia da
realidade. Em certos estados podemos
ter acessos ampliados à mundos
desconhecidos e um porção de cores,
gostos e cheiros que não vemos em
estado comum."
57. “A iluminação ficou cada vez mais brilhante; o rumorejar,
mais alto. Tive uma sensação de
vertigem e vi-me saindo do meu corpo, totalmente envolto
num halo de luz... Senti o ponto de consciência que eu era
ficar mais amplo, cercado por ondas de luz... Eu era então
todo consciência, sem nenhum contorno, sem nenhuma
idéia de acessório corpóreo, sem nenhum sentimento nem
sensação vindo dos sentidos, imerso num mar de luz... Eu
deixara de ser eu mesmo, ou para ser mais preciso, já não
era aquilo que sabia ser, um pequeno ponto de percepção
confinado num corpo, mas era, em vez disto, um vasto
círculo de consciência em que o corpo não passava de um
ponto, banhado de luz e num estado de exaltação e de
júbilo impossível de descrever.”
Gopi Krishna, yoque.
58. “Os guerreiros que deliberadamente
atingem a consciência total são uma visão
que deve ser preseciada. É nesse
momento que queimam por dentro. O
fogo interior os consome. E, em plena
consciência, eles se fundem às
emanações da Águia e deslizam para a
eternidade”.
Juan Matus, xamã yaqui
59. • Francisco viveu a interação cósmica. Isso
não pode ser algo apenas teórico, nó s
precisamos viver esse processo cósmico,
através de uma mudança de visão de
mundo. A Fraternidade é uma realidade e
atravessar o portal da luz significa mais
do que conceituar sobre esses assuntos
mais mergulhar fundo na vivência. Essa
verdade precisa ser uma vivencia própria,
íntima, pessoal.
60. É possível expandirmos a consciência numa vastidão tamanha em
que nos dissolvemos e nos irradiamos de forma supralúcida por
todo e em todo o Cosmos, sentindo a presença viva do
universo, num estado não-dual do ser, numa unidade indivisível,
em direção ao absoluto?
61. Andorinhas -Marcus Viana
Amo os peixes e os bichos da água
Amo as aves e os bichos do céu
Amo as flores e os seres da Terra.
Tudo o que vive e se move nela.
Há sempre andorinhas por onde eu vou
Brincam no vento, nas asas do amor
Amo a vida em toda a extensão.
Há um São Francisco em meu coração.
As pessoas, as plantas e os animais
São canteiros do mesmo jardim
Querem a alegria, o amor e a paz
Ao beijo da vida todos dizem sim.
62. "Tua missão consiste somente na ação,
nunca nos seus frutos; portanto, não deixes
que o fruto da ação seja o teu motivo, nem
te apegues à inação”
Bhagavagad Gita
63. • Francisco ensinou vivendo. Sua vida , sua
entrega, foi plena, profunda , total.
64. Para Guitiérrez e Prado, existem “chaves de
mediação que incidem com maior
intensidade na vitalização dos processos
educativos inerentes à Ecopedagogia Faz-se
o caminho ao caminhar: se a pedagogia é
um fazer, os caminhos que a ela conduzem
são construídos e percorridos nesse fazer
cotidiano e permanente;
65. Caminhar com sentido: “no processo de abertura de novos
caminhos é essencial caminhar com sentido” ou seja, “o norte
que nos guia nesse percurso não está num horizonte
próximo ou distante; nós é que temos que levar esse horizonte
dentro de nós”.
Caminhar em atitude de aprendizagem: “estamos em atitude de
aprendizagem quando estamos abertos, receptivos, em busca, à
espreita, ou seja, quando agimos como sujeitos conscientes
do processo”; refere-se ao desenvolvimento de capacidades
pessoais.
66. Caminhar em diálogo com o entorno: “Um
diálogo franco, aberto, sincero, real e de
empatia obriga a fazer do caminhar um
processo de intercâmbio ecomunicação
interativa com o entorno”.
67. "Caminhar recriando o mundo: “Ex-pressão é sinônimo de
educação e, nesse sentido, é contrário a re-pressão, de-
pressão, im-pressão, su-pressão, com-pressão. (...) O
processo educativo será tanto mais rico e frutífero quantas
mais possibilidades de expressão sejam facilitadas ao
sujeito do processo”.
68. “Noite quente de 14 de outubro de 1991, 21:00h, aproximadamente. Após o
jantar, fui para a sala de visitas
ouvir algumas músicas de minha preferência no intuito de relaxar. Coloquei um
CD de músicas clássicas e relaxei. Passado algum tempo, notei que algumas
consciências queriam me contatar. Expandi a mente e
deixei que a comunicação acontecesse. Perdi a sensibilidade do corpo
temporariamente. Dois espíritos estavam me contatando. Pediram para que
fosse ao quintal. Imediatamente levantei e caminhei para lá.
Ainda estava no físico. Pediram para que sentasse confortavelmente e
respirasse profundamente. Assim o fiz. Enquanto respirava, notei que o céu
estava estrelado. Uma leve brisa começou a soprar. Era refrescante.
Subitamente meu corpo começou a vibrar. Parecia um choque elétrico sem dor
que percorria toda a coluna vertebral. A vibração se concentrou na aprte detrás
da cabeça. A sensação era semelhante a algo me puxando
para fora. Vi meu corpo físico ficando e eu subindo. Meu psicossoma se ergueu
à altura da casa.
69. Mais uma vez senti uma vibração. Mas desta vez era diferente. Menos intensa,
porém, mais aguda. Notei meu psicossoma ficando e eu subindo. Achei
estranho, pois nunca havia vivenciado tal situação antes.
De repente, estava fora do planeta. Fazia parte de todo o cosmo. A sensação foi
de um explendor magnífico. Via todo o espaço nitidamente. Avistei o So, do
outro lado do planeta Terra. A Lua, parecia que podia toca-la com a
mão. No entanto, o mais incrível estava por acontecer. Minha mente deixou de
estar focada em alguns pontos, mas ampliou-se por todo o universo. O próprio
universo era o foco de minha mente. Sentia como se tudo
estivesse dentro de mim. Foi quando tive a sensação mais incrível. Percebia
todas as formas de vida pulsando como se elas fizessem parte da minha
existência. Passei a ser todos os seres ao mesmo tempo. Estou me referindo a
todos os seres que habitam o universo tridimensional e não só habitantes do
planeta Terra. Existi em toda parte ao mesmo tempo. Eu fui o próprio universo.
A forte euforia tomou conta de mim. Tudo parecia eterno.
70. Voltei ao corpo psicossomático e simultaneamente ao corpo físico. Dias
pareciam ter se passado. No entanto, haviam decorrido somente alguns
minutos. Ao retornar, meu corpo vibrava com intensidade, semelhante a alguém
que está em estado febril. Fui normalizando até consegui relaxar
• totalmente. Esta experiência nunca mais será esquecida.”(Geraldo
• Medeiros Júnior em sua obra “Viagem Extrafísica”, em 1999)
71. A Consciência planetária, o caminho franciscano:
esta consciência faz nascer a necessidade de que
“precisamos falar com a Terra, compreendê-la,
experimentá-la. É necessário submergir nela, viver
com ela, participar de seu futuro, ser parte
integrante dela mesma”.
72. O Sal da Terra
Beto Guedes
Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Falo nesse chão, da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar...
Tempo!
Quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Prá banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver...
73. A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da...
Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã
74. Canta!
Leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com seus frutos
Tu que és do homem, a maçã...
Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Prá melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois...
75. Deixa nascer, o amor
Deixa fluir, o amor
Deixa crescer, o amor
Deixa viver, o amor
O sal da terra
Composição: Beto Guedes/Ronaldo Bastos
76. O caminho franciscano: a interação mística levando a
uma ética ecológica
O caminho da sociedade se radica, em última
análise, no caminho da vivido por Francisco. Uma
nova visão de mundo, não mais antropocêntrica,
utilitarista e individualista, mas ecocêntrica,
profundamente caridosa, assistencial, empática,
respeitadora da alteridade e solidária, capaz de
conduzir ao equilíbrio a comunidade terrestre.
Tarefa primeira de uma ética espírita: fazer a
aliança destruída entre o ser humano e a
natureza e a aliança entre as pessoas e povos
para que sejam aliados dos outros em
fraternidade, justiça e solidariedade, abrindo-se
para a verdadeira paz.
77. No Brasil, o principal teórico desta linha pedagógica
é o educador Moacir Gadotti , atual presidente do IPF
– Instituto Paulo Freire (representante do movimento
pela ecopedagogia), que em
sua obra “Pedagogia da Terra”, enumera, baseado no
educador Paulo Freire, onze princípios da
Ecopedagogia. São eles:
1. O Planeta como uma única comunidade;
2. A Terra como mãe, organismo vivo e em evolução;
3. Uma nova consciência que sabe o que é
sustentável, apropriado, faz sentido para a nossa
existência;
4. A ternura para com esta casa. Nosso endereço é a
Terra;
5. A justiça sociocósmica: a Terra é um grande
pobre, o maior de todos os pobres;
78. 6. Uma pedagogia biófila (que promove a vida): envolver-
se, comunicar-se, compartilhar,
problematizar, relacionar-se, entusiasmar-se;
7. Uma concepção do conhecimento que admite só ser
integral quando compartilhado;
8. O caminhar com sentido (vida cotidiana);
9. Uma racionalidade intuitiva e comunicativa: afetiva,
não instrumental;
10. Novas atitudes: reeducar o olhar, o coração;
11. Cultura da sustentabilidade: ecoformação. Ampliar
nosso ponto de vista.
79. O caminho da mente: a ecologia mental
O universo se encontra não somente fora,
mas no interior de nós mesmos.
Agressões ao meio-ambiente: encontram
raízes profundas nas estruturas mentais, em
sua genealogia e ancestralidade.
A ecologia da mente intenta recuperar o
núcleo valorativo-emocional do ser humano
em face da natureza.
80. São Francisco fundou um novo humanismo, uma
síntese feliz entre a ecologia exterior (cuidado para
com todos os seres) e a ecologia interior (ternura,
amor, compaixão e veneração). Ele que é novo, nós
somos velhos, mesmo tendo vivido mais de 800
anos antes de nós”
81. Ele redescobriu a humanidade pobre de Jesus
encarnada nos mais pobres dos pobres que eram os
hansenianos (leprosos) com quem foi viver. Inventou
o presépio. Fundou uma ordem religiosa itinerante,
pois os frades iam pelos caminhos evangelizando na
língua vernácula do local e não em latim. Foi o
primeiro a ganhar licença de celebrar a missa fora, no
campo e nas praças, desde que houvesse a pedra
d’ara (um pedaço de pedra contendo uma relíquia de
santo). Mas, fundamentalmente, ficou memorável por
seu amor cósmico. Depois de séculos em que o
Cristianismo se encerrara nos conventos e se
concentrara nas palavras sagradas, Francisco
descobre Deus na natureza.
82. Até Francisco, o cristianismo vivia a dimensão
vertical: todos são filhos e filhas de Deus. Com ele,
começou a se viver a dimensão horizontal: se todos
são filhos e filhas, então todos são irmãos e irmãs.
Não apenas os humanos, mas cada ser da criação.
Com enternecimento chamava com o doce nome de
irmão ou irmã a estrela mais distante, o passarinho
na rama, o sol, a lua e a lesma do caminho. Esta
atitude é, hoje, considerada da maior relevância, pois
encerra uma dimensão perdida em nossa cultura que
se coloca por em cima da natureza, dominando-a e
esquece que todos estamos juntos, ao pé um do
outro e formamos a grande comunidade de vida. São
Francisco fundou um novo humanismo, uma síntese
feliz entre a ecologia exterior (cuidado para com
todos os seres) e a ecologia interior (ternura, amor,
compaixão e veneração). (Leonardo Boff)
83. São Francisco representa um dos arquétipos da plena realização
humana. Esta é construída a partir de duas forças que
constroem nossa identidade que é a dimensão de anima e a
dimensão de animus. Com estes termos introduzidos por C. G.
Jung , queremos expressar que cada pessoa, homem ou mulher,
possui a dimensão de racionalidade, objetividade, de projeto, de
determinação na superação de obstáculos, de vontade de ser e
de poder (animus). Ao mesmo tempo, tanto no homem quanto
na mulher há a dimensão do afeto, da subjetividade, do cuidado,
da intuição e da espiritualidade (anima). Eu traduzo estas
dimensões como a convivência e integração do vigor com a
ternura. Francisco viveu esta integração em sua relação de
grande amor com Clara de Assis, exemplo raro na história do
cristianismo de como dois seres puros e evangélicos podiam se
amar de verdade, sem perder o sentido maior de sua
consagração a Deus.
Leonardo Boff
84. Em São Francisco, tudo é simples e direto. Não há nenhuma
sofisticação nem segundas intenções. Nele, aparece o ser
humano em sua inocência original, perdida na história por mil
interesses individualistas e pela fome de poder, pela busca de
cargos e status social e de acumulação de riqueza. Ele mostrou
que ser pobre voluntariamente é muito mais que não ter nada,
mas a continuada vontade de dar, de mais uma vez dar e de se
despojar de todo interesse para poder comungar diretamente
com as coisas e as pessoas, sem mediações que se interponham
a essa vontade de estar junto e de sentir o coração do outro. No
fundo, o ser humano sonha com um mundo no qual reine tal
inocência, onde todos possam se sentir filhos e filhas da alegria
e não seres condenados a viver no vale de lágrimas.
Leonardo Boff
85. Francisco assumia tudo como vindo das mãos de Deus, pois se
sentia na palma da mão de Deus. Chamava a tudo de irmão e de
irmã. Não apenas as coisas ridentes, mas também as sombrias e
dolorosas. Chama as doenças de irmãs doenças. A própria morte
é chamada de irmã morte. O curioso nele é que fazia das
próprias fragilidades humanas e dos pecados caminhos para
chegar a Deus pela via da humildade, da compaixão e da total
entrega à misericórdia divina.
Leonardo Boff
86. Procura desenvolver a capacidade de
convivência, de escuta da mensagem que
todos os seres lançam por sua presença,
por sua relação no todo ambiental, como
também a potencialidade de encantamento
com o universo em sua complexidade,
majestade e grandeza.
". Leonardo Boff
87. Há disputas por cargos e funções por parte de partidos e de
políticos. Ocorrem sempre negociações, carregadas de
interesses e de muita vaidade. Neste contexto, se ouve citar um
tópico da inspiradora oração de São Francisco pela paz “é dando
que se recebe” para justificar a permuta de favores e de apoios
onde também rola muito dinheiro. É uma manipulação torpe do
espírito generoso e desinteressado de São Francisco. Mas
desprezemos estes desvios e vejamos seu sentido verdadeiro.
Há duas economias: a dos bens materiais e a dos bens
espirituais. Elas seguem lógicas diferentes. Na economia dos
bens materiais, quanto mais você dá bens, roupas, casas, terras
e dinheiro, menos você tem. Se alguém dá sem prudência e
esbanja perdulariamente acaba na pobreza.
88. Na economia dos bens espirituais, ao contrario, quanto mais
dá, mais recebe, quanto mais entrega, mais tem. Quer dizer,
quanto mais dá amor, dedicação e acolhida (bens espirituais)
mais ganha como pessoa e mais sobe no conceito dos outros. Os
bens espirituais são como o amor: ao se dividirem, se
multiplicam. Ou como o fogo: ao se espalharem, aumentam.
Compreendemos este paradoxo se atentarmos para a estrutura
de base do ser humano. Ele é um ser de relações ilimitadas.
Quanto mais se relaciona, vale dizer, sai de si em direção do
outro, do diferente, da natureza e até de Deus, quer dizer,
quanto mais dá acolhida e amor mais se enriquece, mais se orna
de valores, mais cresce e irradia como pessoa.
89. Portanto, é “dando que se recebe”. Muitas vezes se recebe
muito mais do que se dá. Não é esta a experiência atestada por
tantos e tantas que dão tempo, dedicação e bens na ajuda aos
flagelados da hecatombe socioambiental ocorrida nas cidades
serranas do Rio de Janeiro, no triste mês de fevereiro, quando
centenas morreram e milhares ficaram desabrigados? Este “dar”
desinteressado produz um efeito espiritual espantoso que é
sentir-se mais humanizado e enriquecido. Torna-se gente de
bem, tão necessária hoje.
Quando alguém de posses, dá de seus bens materiais dentro da
lógica da economia dos bens espirituais para apoiar aos que
tudo perderam e ajudá-los a refazer a vida e a casa,
experimenta a satisfação interior de estar junto de quem precisa
e pode testemunhar o que São Paulo dizia:”maior felicidade é
dar que receber”(At 20,35). Esse que não é pobre, se sente
espiritualmente rico.(Leonardo Boff)
90. Vigora, portanto, uma circulação entre o dar e o receber, uma
verdadeira reciprocidade. Ela representa, num sentido maior, a
própria lógica do universo como não se cansam de enfatizar
biólogos e astrofísicos. Tudo, galáxias, estrelas, planetas, seres
inorgânicos e orgânicos, até as partículas elementares, tudo se
estrutura numa rede intrincadíssima de inter-retro-relações de
todos com todos. Todos co-existem, inter-existem, se ajudam
mutuamente, dão e recebem reciprocamente o que precisam
para existir e co-evoluir dentro de um sutil equilíbrio dinâmico.
Nosso drama é que não aprendemos nada da natureza. Tiramos
tudo da Terra e não lhe devolvemos nada nem tempo para
descansar e se regenerar. Só recebemos e nada damos. Esta
falta de reciprocidade levou a Terra ao desequilíbrio atual.
Portanto, urge incorporar, de forma vigorosa, a economia dos
bens espirituais à economia dos bens materiais. Só assim
restabeleceremos a reciprocidade do dar e do receber. Haveria
menos opulência nas mãos de poucos e os muitos pobres
sairiam da carência e poderiam sentar-se à mesa comendo e
bebendo do fruto de seu trabalho. (Leonardo Boff)
91. Tem mais sentido partilhar do que acumular, reforçar o bem
viver de todos do que buscar avaramente o bem particular. Que
levamos da Terra? Apenas bens do capital espiritual. O capital
material fica para trás.
O importante mesmo é dar, dar e mais uma vez dar. Só assim se
recebe. E se comprova a verdade franciscana segundo a qual ӎ
dando que recebe” ininterruptamente amor, reconhecimento e
perdão. Fora disso, tudo é negócio e feira de vaidades.
Leonardo Boff
92. CÂNTICO DAS CRIATURAS
Altíssimo, onipotente e bom Deus,
Teus são o louvor, a glória, a honra
e toda benção.
Só a Ti, Altíssimo, são devidos,
e homem algum é digno
de Te mencionar.
Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as Tuas criaturas.
Especialmente o irmão Sol,
que clareia o dia
e com sua luz nos ilumina.
Ele é belo e radiante,
com grande esplendor
de Ti, Altíssimo é a imagem.
93. Louvado sejas meu senhor,
pela irmã Lua e as Estrelas,
que no céu formastes claras,
preciosas e belas.
Louvado sejas meu Senhor,
pelo irmão Vento,
pelo ar ou neblina,
ou sereno e de todo tempo
pelo qual as Tuas criaturas dais
sustento.
Louvado sejas meu Senhor,
pela irmã Água,
que é muito útil e humilde
e preciosa e casta.
94. Louvado sejas meu Senhor,
pelo irmão Fogo,
pelo qual iluminas a noite,
e ele é belo e jucundo
e vigoroso e forte.
Louvado sejas meu Senhor,
pela nossa irmã a mãe Terra,
que nos sustenta e nos governa,
e produz frutos diversos,
e coloridas flores e ervas.
Louvado sejas meu Senhor,
pelos que perdoam por teu amor
e suportam enfermidades e tribulações.
95. Bem aventurados os que sustentam a paz,
que por Ti, Altíssimo serão coroados.
Louvado sejas meu Senhor,
pela nossa irmã a morte corporal,
da qual homem algum pode escapar.
Louvai e bendizei ao meu Senhor,
e dai lhes graças
e serví-O com grande humildade.