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5. Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Pra te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
(Tom & Vinícius)
6.
7. Sumário
livro i. Eva ..................................................................................... 9
capítulo i A primeira vista .................................................................... 11
capítulo ii Enamorados ......................................................................... 19
capítulo iii Comprometidos ................................................................. 31
capítulo iv Prometidos .......................................................................... 41
capítulo v Noivando .............................................................................. 51
capítulo vi Sr. e Sra. Martin .................................................................. 59
capítulo vii Família ................................................................................ 69
capítulo viii Aflições .............................................................................. 75
capítulo ix Esperança ............................................................................ 83
capítulo x Luzes que se acendem ......................................................... 87
capítulo xi Luz que se apaga ................................................................. 93
capítulo xii Luto ................................................................................... 101
livro ii. Fernanda e Luiza .................................................... 109
capítulo xiiiRenascença...................................................................... 111
capítulo xiv Infância Perdida.............................................................. 121
capítulo xv Debutantes ........................................................................ 133
capítulo xvi O primeiro amor ............................................................ 145
capítulo xvii Voo Solo ......................................................................... 157
capítulo xviii Paixões de Luiza ........................................................... 167
capítulo xix A Carta............................................................................. 185
capítulo xx Triângulo .......................................................................... 191
capítulo xxi Formatura ........................................................................ 205
8. capítulo xxiiRompimento .................................................................. 217
capítulo xxiiiReencontros .................................................................. 227
capítulo xxiv Despedidas .................................................................... 237
livro iii. Fernanda .................................................................. 263
capítulo xxv Lágrimas solitárias......................................................... 265
capítulo xxvi Matheus Filippo ............................................................ 271
capítulo xxvii Amigos .......................................................................... 283
capítulo xxviii Amantes....................................................................... 293
capítulo xxix Diversão ......................................................................... 301
capítulo xxx Luigi................................................................................. 319
capítulo xxxi Amigos para sempre .................................................... 325
capítulo xxxii Vida Nova ..................................................................... 343
capítulo xxxiii Saudades ...................................................................... 367
capítulo xxxiv “Nanda e Matheus... ................................................... 373
capítulo xxxiv Por toda a minha vida ................................................ 379
11. capítulo i
A primeira vista
MARIA EVA DE ALBUQUERQUE RAMOS, A FILHA CAÇULA DE
UMA tradicional família portuguesa, foi a quinta gestação de Laura
após dar a luz cinco meninos. O nome, promessa e homenagem às
duas mulheres mais importantes da Bíblia, Maria e Eva; o ano, 1944.
Laura sempre teve a cabeça à frente de seu tempo, e sonhou
para a única filha um futuro promissor, com uma carreira brilhante,
muitas viagens, domínio de outros idiomas, amizades interessantes...
E somente quando a maturidade chegasse, um amor verdadeiro, mas
que fosse escolhido por ela, e não um casamento arranjado.
Mãe amorosa e determinada, Laura dedicava grande parte de
seu tempo lendo e tocando piano para a filha, dividindo com a meni-
na a paixão pela literatura e pela música.
Mas, de tudo que Laura ambicionou, a única vontade atendi-
da pela filha foi escolher, ela mesma, aquele que seria o dono de seu
coração. Maria Eva conheceu e irremediavelmente se apaixonou por
Luiz Augusto. E não houve quem removesse de seus pensamentos a
ideia de se casar com a maior urgência possível, por acreditar que a
diferença de dez anos colocaria em risco a união ao exigir que ele a
esperasse cursar a universidade, como almejava sua querida mãe.
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E com apenas dezessete anos caminhou para os braços de seu
grande amor, com as bênçãos do pai, Fernando de Almeida Ramos, e
dos irmãos, que acreditavam ser o matrimônio o melhor futuro que
a vida poderia reservar a uma mulher. Não havia, no entanto, para o
alívio do coração apertado de Laura, como contestar. Maria Eva foi
a noiva mais linda e feliz que a tranquila cidade do interior de São
Paulo já assistira. À Laura só restava rezar para que aquele amor arre-
batador fizesse feliz sua única menina.
Luiz Augusto Herrera Martin, advogado formado com honras na
mais bem conceituada universidade do país, vinha de família tradicional,
recebeu excelente educação e frequentou as mais altas rodas da socieda-
de. Administrava com êxito as fazendas da família que o pai lhe delega-
ra de olhos fechados, confiando na competência e dedicação do filho.
A primeira vez que seus olhos se encontraram fora num baile
de máscaras promovido por Maria Dolores Prado, uma rica comer-
ciante e amiga de ambas as famílias. Maria Eva trajava um vestido
vermelho de renda que realçava maravilhosamente a pele alva e os
cabelos ruivos, os olhos azuis percorriam ansiosamente todos os can-
tos do salão, o peito arfava, tamanha a emoção de estrear na famo-
sa e disputada noite paulistana... E de repente lá estava ele, elegante,
misterioso e lindo, trajando um fraque de corte fino, bem ajustado ao
tronco musculoso, curto na frente e com longas abas atrás, o que o
deixava ainda mais imponente.
Os olhares enfeitiçados e atraídos pelo brilho entusiasmado que
refletiam suas almas enamoradas fixaram-se sem um mínimo de pu-
dor. Maria Eva sabia que deveria baixar os olhos em sinal de discri-
ção, mas hipnotizada elevou ainda mais o pescoço longilíneo mesmo
quando Luiz Augusto marchou em sua direção, encurtando apressa-
damente o espaço entre eles.
E quando a alcançou, ela se aproximou o suficiente para que ele
lhe percebesse a respiração acelerada e o arfar do colo translúcido que
se movimentava ao rítmo do coração descompassado. Sem maiores
cerimônias tomou-lhe a mão esquerda e a levou aos lábios antes mes-
mo de se apresentar e convidá-la a dançar com ele no salão em frente
à orquestra.
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— Senhorita, permita apresentar-me, Luiz Augusto Herrera
Martin, encantado! Me daria o prazer desta dança?
A formalidade um tanto quanto exagerada deixou-a ainda mais
desejosa.
— Aceito! — respondeu sem ao menos apresentar-se.
E seguiram de braços dados ao encontro dos outros casais que
giravam no espaço reservado ao baile.
— Ainda não sei o nome da jovem.
— Maria Eva... de Albuquerque Ramos.
Ele a encarou por um breve instante, avaliando o rosto femini-
no e de traços perfeitos por trás da máscara vermelha enfeitada com
pequeninos paetês.
— Hum... peculiar!
— Não sei se agradeço, pois não me parece bem um elogio...
— Um nome inesquecível, assim como seus olhos!
— Ah! Agora sim... obrigada! — mas ainda havia reticências
em sua voz
— O que foi? Minhas palavras não a agradaram?
Eva baixou levemente os olhos, fingindo contrariedade antes de
contestar.
— Talvez... mas refiro-me às palavras ainda não ditas...
Essa atitude arrancou de Luiz Augusto, fervorosa gargalhada.
— Vejo que a jovem é mimada, acostumada a elogios.
Eva estancou diante de tamanha grosseria, livrando-se com ve-
emência dos braços que a envolviam.
— Com quem pensa que está falando? Convida-me a dançar
para ofender-me? Saiba que não necessito de tão desagradável com-
panhia... Agora, com sua licença...
Mas, antes que fugisse, Luiz Augusto tomou-a novamente nos
braços com firmeza para que não mais escapasse.
— Perdoa-me, senhorita, por favor! Estava brincando...
Ele aplicou a maior suavidade que pôde na voz e nos olhos, em con-
traste com as mãos e braços que enrijeciam ao redor da cintura fina de Eva.
Com os olhos marejados, ela se recompôs e dedicou enorme
esforço ao oferecer-lhe um sorriso.
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Luiz Augusto notou de imediato o quanto a havia magoado por
tão pouco, os lábios trêmulos e as maçãs do rosto ruborizadas revela-
vam a sensibilidade que habitava a jovem que o fascinara em curtíssi-
mo espaço de tempo e convivência.
Ele a conduziou novamente a acompanhar o ritmo da melodia e,
abraçando-a um pouco mais, ofereceu-lhe o peito, onde ela gentilmente
repousou o rosto, para não mais vislumbrar a tristeza daqueles olhos que
minutos antes ofuscavam tudo ao seu redor brilhando mais que estrelas.
Esperou que ela se acalmasse e então com a ponta dos dedos
elevou com delicadeza o queixo pequenino para que pudesse admi-
rar-lhe o belo rosto.
— Posso me desculpar novamente?
— Gentileza nunca é demais.
— Então me permita dizer que, após viajar pelos mais distantes
lugares do Brasil e do mundo, sinto que finalmente encontrei aquela
que me roubou todos os olhares e atenção.
— Acredita em amor à primeira vista? — perguntou desconfiada.
— E por que não? Não seria o coração um ser independente
com alma própria?
Ela sorria novamente e ele dispendeu esforço sobre-humano
para não roubar-lhe um beijo. Parecia enfeitiçado.
Ainda o contemplava sem dizer uma única sílaba. E no olhar
trazia a desconfiança.
— Se veio acompanhada por seus pais, gostaria de conhecê-los.
Verás que não estou exagerando.
— E por que acha que não estou acreditando na veracidade de
suas confissões?
— Por que sorri zombeteira.
— Interpreta mal, muito mal os gestos de uma mulher.
— E o que me diz, então?
— Digo que vou apresentá-lo com a maior urgência.
— Urgência? — questionou já desconfiando da resposta.
— Sim... afinal, quanto antes conhecerem meu pretendente...
Ouvi-la pronunciar o título a que o elegia fez com que perdesse
a compostura e a puxasse imeditamente ao encontro de seus lábios.
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Eva, apesar de insegura, retribuiu o beijo com paixão. Aquela sem
dúvida era uma noite de estreias, e ela não deixaria escapar nenhuma
que fizesse tão bem ao seu coração.
— Se sou seu pretendente, tenho direito de beijá-la. — afirmou
orgulhoso.
Depois, oferecendo-lhe o braço, pediu que o conduzisse ao lo-
cal onde conheceria os futuros sogros.
Percebeu que ela tremia enquanto caminhavam com os braços
entrelaçados e parou para tentar acalmá-la. Nesse momento percebeu
que ainda usavam as máscaras sobre os olhos.
— Espere... precisamos tirar nossas máscaras.
Eva suspirou antes de responder:
— Mas por quê? Estou adorando usar a minha, e todos estão
usando máscaras...
— Qual o problema? Teme que eu veja seu lindo rosto?
— Talvez...
— Preste atenção, eu não posso ser apresentado aos seus pais
sem mostrar totalmente o rosto. Acabamos de nos conhecer e princi-
palmente seu pai precisa saber das minhas intenções.
— Está bem — ela concordou a contragosto e ainda insegura
elevou sua máscara até o ponto mais alto da testa na altura da raiz dos
cabelos.
A expressão que se formou no rosto de Luiz Augusto aliviou
instantaneamente o coração de Maria Eva. Ele desmonstrou estar ma-
ravilhado com a descoberta. E de fato estava. Os olhos azuis eram
moldados por longos e espessos cílios e as sobrancelhas perfeitamen-
te bem delineadas contornavam em total harmonia o semblante an-
gelical da menina.
— Linda!
Ela, que minutos antes exigia elogios, agora baixava os olhos
ruborizada.
— Agora é a sua vez... — falou com timidez.
Luiz Augusto, deliciando-se com a nova atitude da linda jovem,
suspendeu sem cerimônia e com total segurança a máscara negra que
escondia parte de seu rosto.
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Então foi a vez de Maria Eva confirmar a beleza e os encantos
do homem à sua frente, a pele morena clara, os olhos de um verde
profundo, os cílios e as sobrancelhas cheias na mesma cor castanha
escura quase preta, os cabelos lisos e brilhantes, o queixo quadrado
e as covinhas que surgiam davam-lhe a masculidade na dose certa.
Encarou-o com os lábios entreabertos e ele novamente pensou em
beijá-la, mas poupou-a da exposição temendo que possíveis conheci-
dos interpretassem mal a postura daquela que tomou a posse de seu
coração de conquistador.
Novamente estendeu-lhe o braço e seguiram ansiosos ao local
onde os Ramos conversavam animadamente com a anfitriã.
Laura foi a primeira a identificar o casal e imediatamente perce-
beu o clima que os envolvia. Em princípio aprovou a escolha da filha:
“Que belo rapaz Eva escolhera para ser seu par em seu primeiro bai-
le!”, mas seus pensamentos logo se encheram de preocupação quando
se deu conta de que eles vinham ter com a família.
Maria Eva tomou a frente e limpou a garganta antes de se dirigir
ao pai:
— Papai, preciso lhe apresentar meu novo... conhecido.
E com total confiança Luiz Augusto estendeu a mão:
— Muito prazer senhor Ramos, Luiz Augusto Herrera Martin.
— O prazer é todo nosso, senhor... Herrera Martin! — respon-
deu Fernando enquanto buscava na memória a lembrança do sobre-
nome.
— Agora quero que conheça minha mãe, a Sra. Laura de Albu-
querque Almeida e os meus irmãos e cunhadas.
Luiz Augusto assustou-se com a família tão numerosa, mas
procurou dissimular:
— Encantado Dona Laura, que bela família a senhora possui!
— Muito obrigada, senhor Luiz Augusto! Mas responda-me...
está só, ou seus pais também estão presentes?
— Infelizmente não poderei apresentá-los hoje, pois estão na
Europa visitando parentes. Mas não faltará oportunidade, prometo.
Nesse momento Maria Dolores entrou no assunto:
— Meus caros, deixem-me informá-los, Augusto é uma joia
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rara, formado com êxito na melhor faculdade de direito, também es-
tudou na Europa, onde aprendeu o francês e o inglês, além da exten-
são de seu curso superior.
— Por favor Dona Dolores, assim me constrange.
Ao que a senhora anfitriã deu de ombros e continuou:
— Que nada! O que é sucesso deve ser comemorado. Os pais de
Augusto têm motivos de sobra para orgulhar-se de seu primogênito.
O menino é prodígio, esperamos que o irmão Luiz Gustavo tenha
herdado a mesma aptidão para os estudos e negócios.
— Dona Dolores, por favor!
— Está bem, está bem...
A expressão antes desconfiada de Fernando agora assumira um
tom de simpatia explícita.
— E como se chamam seus pais? — perguntou com real inte-
resse.
— Diego e Carmem.
— Diego Herrera Martin... sabia que havia reconhecido o so-
brenome.
— Apresente ao seu conhecido o restante da família como se
deve, minha filha — interrompeu a mãe
Maria Eva, que acompanhava tudo em silêncio, procurando
aprovação em todos os rostos, virou-se para os irmãos começando
pelo mais velho e sua esposa:
— Vamos começar pelo mais velho; Pedro e Aurora, Paulo e
Ana, Thiago e Tânia, Felipe e Fernandinho. São todos meus irmãos.
Sou a única menina.
— Então eu estava certo quando afirmei que era mimada... a
única menina — brincou Luiz Augusto enquanto lhe tocava levemen-
te a ponta arrebitada do delicado nariz com a ponta do indicador.
Todos perceberam naquele momento que eles seriam, em bre-
ve, mais que simples conhecidos. Era transparente como o cristal a
paixão que os arrebatara.
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