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1. Introdução

        Para iniciar este trabalho será necessário termos uma compreensão extensiva de termos
essenciais como Lazer, Tempo Livre, Recreação, Mobilidade, Turismo.
        O lazer evoluiu ao longo dos tempos, havendo hoje em dia uma percepção que o lazer é
uma fuga ao quotidiano e à rotina, através da valorização do prazer e do bem-estar. Este é um
domínio que comporta diversas actividades desenvolvidas no tempo livre, ou tempo de não
trabalho, com o objectivo de repousar, descansar ou por simples divertimento e de prazer.
Estas actividades diversas têm um cariz muito pessoal e individual, sendo então que são
motivadas pelo prazer e vontade própria de cada indivíduo, assentando nas práticas de
valorização física e intelectual.
        Numa concepção holística, lazer é entendido como uma atitude ou estado de espírito e
que pode acontecer em qualquer situação do quotidiano.
        A partir da Revolução Industrial iniciou-se também a transformação da sociedade e
consequentemente do território, visto que são temas indissociáveis. Desde que o homem se
tornou sedentário o processo de humanização dos espaços foi visível em actividades como a
agricultura, a pecuária e mais tarde na indústria, com utilização de tecnologias sempre em
evolução.
        Factores sociais, económicos e culturais foram sendo alterados e consequentemente
atitudes, motivações e pensamentos. Dando origem à sociedade actual onde vivemos, uma
sociedade de consumo e capitalista, a industrialização, foi fulcral para o que entendemos hoje
por trabalho, direitos e liberdade. Novas atitudes face ao modo de viver, o desejo de fruição de
ócio e tempos livres começam a ser visíveis e cada vez mais reivindicados por grupos de
indivíduos ou isoladamente, como pessoas e cidadãos integrados de uma sociedade.
        O tempo livre surge como uma conquista social proporcionando ao homem trabalhador
a libertação de algumas obrigações sociais e em oposição ao tempo de trabalho, que
funcionava em séculos passados como meio de sobrevivência, mas em tempos actuais como o
meio de atingir o bem-estar, representado de várias formas, sendo a recreação uma delas. Esta
é considerada como um campo da actividade humana motivada pela necessidade de
divertimento e animação no contexto da vivência quotidiana. Qualquer actividade ligada ao
lazer e ao turismo pressupõe a não remuneração dessa mesma actividade. Turismo refere-se às
actividades que as pessoas realizam durante as suas deslocações para fora do seu ambiente
habitual ou de residência, com uma permanência superior a 24 horas e inferior a um ano, por
vários motivos, tais como lazer, saúde e negócios, por exemplo, sem fins lucrativos e que
utilizam várias infra-estruturas, equipamentos e serviços, muitas vezes criados especificamente
para este e para o seu usufruto.
        Ao longo do trabalho tentarei explicitar a importância que o Turismo tem para a
sociedade civil de hoje em dia, tendo por base temas como identidade, cultura, alimentação e
território.
        Sendo o turismo um tema multidisciplinar é impossível dissociá-lo de questões
sociológicas, antropológicas, económicas, geográficas e culturais. Neste trabalho pretendo
fazer uma abordagem completa ao fenómeno que é o lazer e associá-lo ao turismo,
especialmente Gastronómico, sem nunca descurar estes factores entendendo que são
essenciais para a compreensão do lazer e do turismo, como fenómenos em ascendente
evolução, desenvolvimento e globalização.


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2. Lazer, Turismo e Gastronomia: contexto histórico

        A sedentarização do Homem, há milhares de anos, fez com que este começasse a ter
uma relação mais profunda com o espaço e com o território. A humanização das paisagens,
visível através da agricultura, fez com que o Homem se fixasse a um território, alterando a sua
imagem. Esta apropriação do espaço levou a que a Natureza se tornasse mais humanizada e
consequentemente aliada do Homem, dando-lhe o que ele precisava. A agricultura mostra que
o espaço pode servir o homem como meio de subsistência, mas que através deste essa mesma
relação se complexifica. Questões como identidade, mobilidade, cultura, património e tradição
são inevitavelmente referenciadas por serem intrínsecas a esta ligação entre o Homem e o
Espaço.
        Revivendo o passado podemos constatar que, desde que se tornou sedentário, o
Homem apenas fazia deslocações com fins expansionistas, comerciais e religiosos devido aos
elevados custos destas morosas e difíceis deslocações. A escassez de transportes e a
longevidade das distâncias condicionadas pelas fracas redes viárias propiciaram a que as
quantidades de viagens feitas por esta altura fossem diminutas. Também a nível
socioeconómico, podemos depreender que apenas os comerciantes e os aristocratas tinham
acesso a estas viagens. É com o Renascimento que se inicia um processo de alteração. Esta foi
uma época em que se pretendia romper com a “escuridão” vivida na Idade Média e é por esta
altura que se recuperam costumes, tradições e hábitos das Culturas da Antiguidade, como
festivais e feiras, dando-se ainda especial atenção às artes, criando-se teatros itinerantes e
apelando-se ao mecenato para proteger artistas.
         As viagens pela altura dos Descobrimentos fizeram com que novos produtos surgissem
para complementar a alimentação mediterrânica baseada em pão, azeite e vinho e modificou a
ideia de viagem, pois esta começou a ter um carácter pedagógico, isto é, motivada pela
curiosidade de conhecer novos povos, novas civilizações, novos lugares. Só mais tarde no
século XVIII estas viagens começaram a ter como motivação a instrução e o prazer. Surge assim
o Grand Tour que vai dar origem às bases do Turismo.
         Jovens à procura de conhecimento iniciam viagens por toda a Europa, sempre
acompanhados por tutores na busca deste, passando por cidades importantes e centro do
meio sociocultural, como Londres, Paris, Roma, Turim, Madrid. Assim se dava início ao Grand
Tour do século XVII e XVIII e aqui se formaram as bases para o turismo.
         O primeiro consistia na realização de extensas viagens, efectuadas por jovens
abastados, pertencentes a elites e à aristocracia, tendo uma duração de dois a três anos. Os
objectivos destas viagens eram não só educar os jovens para os aspectos governativos e
diplomáticos, mas também para terem contacto com outros países, outros povos, outras
sociedades, demonstrando o carácter cultural para além do político. Como já foi referido, o
carácter penoso e extensivo destas viagens determinava que estas constituíssem um privilégio
para os mais abastados, sendo realizadas com a intenção de aumentar influencia e o estatuto
social dos indivíduos. As razões, consoante o último, eram variáveis, sendo elas educação,
saúde, ciência e comércio.
        Com o número de viagens a aumentar, foi necessário adaptar e criar infra-estruturas
capazes de satisfazer a procura. Desde utilizar alojamentos já existentes como hospedarias e
estalagens à criação de hotéis que começaram a popularizar-se por esta altura. As estradas
também foram melhoradas devido á circulação cada vez mais frequente de malapostas e foram
introduzidos barcos a vapor nos principais percursos aquáticos. Foi também por esta altura que

                                              2
surgiram os pacotes turísticos que englobavam transporte e alojamento nos principais hotéis.
A nível económico podemos referir as notas de câmbio introduzidas por banqueiros nos finais
do século XVIII e que poderiam ser utilizadas em muitos centros Europeus.
        Esta evolução permitiu que outras classes pudessem ter acesso a estes privilégios
outrora exclusivos das elites. O lucro proveniente das indústrias e da comercialização dos
produtos permitiu que a burguesia visse aumentada a sua influência e estatuto, podendo assim
imitar o comportamento da elite.
        Podemos então referir que o território já começa a ser organizado para que possa
existir uma “cultura de viagens”, pois ainda não podemos falar de turismo, apesar de j| haver
referência a este em 1907. Analisando o parágrafo podemos então referir já alguns elementos
essenciais para a prática turística que se começam a instituir e a alterar, sendo eles então os
equipamentos (infra-estruturas turísticas, equipamentos comerciais e equipamentos
recreativos-desportivos) e as acessibilidades.
        O Grand Tour foi o despoletar para uma actividade em grande ascensão iniciando bases,
criando serviços, alterando espaços e comportamentos a vários níveis. Este teve término
aquando a Revolução Francesa, em 1789. Foi a partir desta data que se iniciou a transformação
dos Estados. Termos como Absolutismo e Autoritarismo vieram dar lugar a ideais como
“Liberdade, Fraternidade, Igualdade” e podemos afirmar que apesar de ainda existirem
discrepâncias acentuadas entre as classes a nível económico, social e cultural, é cada vez mais
frequente a possibilidade de classes médias e burguesia terem acesso ao mesmo tipo de
actividades que as elites. Este mesmo tipo de comportamento por parte destas classes mais
baixas, imitação da aristocracia, levou a que se gerassem processo de segregação visível
através do abandono por parte da aristocracia que deixava de frequentar um destino turístico
sempre que a burguesia a imitava, por exemplo, durante as colheitas as elites iam até à costa e
quando estas terminavam davam lugar às classes inferiores, mais tarde foram tendo interesse
por outras actividades e por outros locais (espaços) (Quadro 1).
        É no século XIX, então, que se dá a Revolução Industrial e com esta o aparecimento de
transportes de grande importância, como o barco e o comboio a vapor permitindo aos
viajantes deslocações mais longas, por menos tempo e com menos custos. A concepção de
viagem, espaço e tempo são revolucionadas com a maior capacidade de transporte, permitindo
um cada vez maior número de turistas com possibilidades de viajar.
        Mas não foi só no campo tecnológico que a sua importância foi sentida. Os campos
sociais e económicos tiveram uma reviravolta e consequentemente um crescimento no Lazer.
        A criação de sindicatos por parte da classe operária veio fornecer novos direitos ao
trabalhador e com esses direitos este pode aceder a diversos produtos e serviços a que antes
nem passava no imaginário de qualquer indivíduo.
         Como afirma Paul Lafargue em o Direito | Preguiça “Na época, os trabalhadores das
oficinas ainda trabalhavam em média doze ou treze horas por dia e, às vezes, as jornadas de
trabalho estendiam-se a quinze, dezasseis e até dezassete horas” e foi a redução dessas horas de
trabalho e o acesso a férias (mais tarde pagas) que vieram ajudar numa revolução no campo
socioeconómico e cultural. Através destas mudanças outras foram visíveis e importantes como
a entrada da mulher no mercado de trabalho e consequentemente a redução da família
nuclear, ou seja, a mulher ao iniciar uma “carreira” profissional tinha menos tempo para estar
em casa a cuidar dos filhos e da casa, notando-se na diminuição do número de filhos por casal.
A nível cultural e também económico é visível o aumento das taxas de alfabetização, sendo que
os trabalhadores poderiam aprender a ler e a escrever. A profissionalização numa área e a
escolarização permite a estes trabalhadores terem uma maior consciência social, política e


                                               3
económica da sociedade, existindo assim uma nova atitude face ao seu modo de viver que
melhorou substancialmente a nível qualitativo e quantitativo e é por esta altura que começa a
haver um desejo de fruição de ócio e dos tempos livres, que surge como recompensa ao tempo
de trabalho.
        Este tempo livre a que nos referimos surge então perante a conquista social e através
dos progressos técnicos e tecnológicos onde a máquina substitui e liberta o homem para
outras actividades, nomeadamente de lazer. A possibilidade financeira que têm agora e a
redução na quantidade de membros da família permite-lhes que se possam deslocar.
        O tempo livre associado ao tempo de trabalho, significa que é o tempo de não trabalho
reservado, em que a disponibilidade é influenciada pela classe social (apesar de tudo), ciclo de
vida, raça, género, saúde, rendimentos e conjuntura familiar, social e cultural. Aparece pela
primeira vez a questão da “Liberdade Individual”, em que o próprio indivíduo decide o que
fazer com o seu tempo, podendo este ser de ócio ou lazer, ocupando-se voluntariamente de
tarefas produtivas após satisfeitas as obrigações do trabalho, obrigações sociais e
necessidades físicas.
        Foram estas mudanças na estruturação dos tempos sociais das sociedades que permitiu
o aumento significativo dos tempos de lazer com a utilização de lugares como espaços de lazer
de uma forma crescente e diversificada.
        Com um nível de vida cada vez melhor e tendo cada vez mais uma situação económica
estável, surgiu também a expansão do consumo de massas na forma do Wellfare State, como
“uma espécie de terapia complementar aos direitos de trabalho que o movimento oper|rio
conseguiu conquistar {s Classes dominantes” (Estanque, 1993). Com a emergência do modelo
de regulação fordista, deu-se início a uma era em que o capitalismo é governante e em que o
crescimento económico das sociedades, agora de consumo, se pretende a longo prazo.
        Mas foi muito antes desta altura que se iniciou um processo de delineação da
sociedade. Todos estes processos de formação remontam à época pré-histórica.
        O aparecimento do pão como parte integrante da alimentação remonta a milhares de
anos atrás. Vários historiadores fazem referência ao aparecimento deste há cerca de 6000
anos, tal como Heinrich Eduard Jacob no seu livro 'Seis mil anos de pão - A civilização humana
através de seu principal alimento'. Este autor faz a referência a que “nenhum outro produto,
antes ou depois da sua descoberta, há seis mil anos, dominou o mundo antigo, material e
espiritualmente, como o pão foi capaz de fazer”1. A alimentação dos nossos ancestrais fazia-se a
partir dos grãos que estes encontravam nas suas caçadas. Grãos, estes, que aprovisionavam
nas cavernas e nos abrigos. Com a humidade e enterrados estes grãos voltariam a germinar,
dando origem aos cereais que conhecemos hoje como trigo, milho, arroz… Pode-se dizer que o
Homem descobriu a agricultura por acaso e contra a sua vontade, mais tarde tornando-se esta,
juntamente com a caça, as grandes fontes de alimento do Homem.
        Esta agricultura a que me refiro “forçou” a sedentarização do homem, tendo este agora
terra para cultivar, construindo abrigos mais resistentes, confortáveis e que satisfizessem as
suas novas necessidades. Esta nova actividade vai revolucionar toda a evolução do Homem, do
seu comportamento e das sociedades futuras, uma vez que introduz novos alimentos na dieta
das populações, influencia o aperfeiçoamento dos utensílios, mudando a metalurgia e as
cerâmicas, assim como as relações de trocas comerciais, dando início ao nascimento de uma
1
 Retirado de:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=750132&sid=2041571771282317644884760&k5
=FEBFF76&uid=



                                                     4
civilização, principalmente com o surgimento da farinha, mudando toda a História do Homem...
        Desde que descobriu os cereais, a farinha e a agricultura, este tornou-se sedentário,
aumentado a sua qualidade de vida e o seu conforto, não tendo que se deslocar por
necessidade, deslocando-se apenas esporadicamente do espaço que agora lhe “pertence”.
        Como já referi, foi com a Idade Média e Descobrimentos, as constantes conquistas e
expansões que o homem se começou a deslocar com maior frequência, ora por necessidade de
melhorar as condições de vida, ora por questões territoriais, ora por questões comerciais.
        Entender o Turismo e Lazer nas suas concepções actuais implicam a compreensão da
História e de fenómenos socioeconómicos e culturais que antecedem todo este processo Pós
Industrial, mas não só. Entender termos como mobilidade, cultura e identidade são
extremamente importantes, pois estes estão imbricados no Turismo e no Lazer de hoje: “O
Turismo é um fenómeno de modernidade, criado pelas civilizações ocidentais ou ocidentalizadas
na vivência da sua capacidade de mobilidade e que se integra no âmbito mais lato dos lazeres que
esta civilização tem vindo a criar e a (re)criar” (Inácio, 2006).
        Estudiosos do tema têm vindo a afirmar que é através da Revolução Industrial iniciada
em meados do século XIX que os fenómenos começam a emergir, pois despoletou uma nova
conjuntura nas sociedades.
        Mudanças foram sentidas a todos os níveis. Com a introdução de máquinas a vapor
alterou-se a situação do trabalhador, disponibilizando-se assim mão-de-obra. A instalação de
indústrias nos meios urbanos maiores e essencialmente litorais levou a que as populações
iniciassem um processo de deslocações para esses meios, do rural para as cidades. Este tipo de
migração ainda está muito acoplado nas sociedades contemporâneas e advém daí a explicação
para o empobrecimento e abandono do meio rural. As condições destes operários não eram as
melhores, vivendo estes em condições precárias e com um nível de vida muito baixo.
        Sendo que era visível o aumento da produtividade nas fábricas, começaram-se a
organizar sindicatos de trabalhadores para reivindicar alguns direitos e após muitas lutas esses
mesmos foram conseguidos, pois os patrões perceberam que se os trabalhadores estivesses
contentes o nível de produtividade aumentava, portanto, as horas de trabalho foram
substancialmente sendo reduzidas, de 16 horas por dia para as 8 horas (que ainda hoje se
praticam), os salários foram aumentados e foram instituídas as férias (mais tarde pagas). Tudo
isto levou a que o trabalhador se visse liberto do tempo de trabalho para ter mais tempo para
fazer outras coisas e agora com uma capacidade económica diferente. A sua qualidade de vida
melhora, tal como a esperança média de vida das populações. Procede-se, também, a uma
“educação” das populações, instituindo a obrigatoriedade e consequentemente diminuindo o
nível de analfabetização e por fim a entrada da mulher no mundo profissional e a consequente
redução da família nuclear foram elementos chave para a institucionalização do Lazer, onde o
turismo se insere. A partir daqui a necessidade do homem de se sentir bem a nível físico e
psíquico leva a que este pratique actividades que levem ao seu bem-estar e ao seu prazer e que
cada vez mais se vem sentido.
        Segundo Santos e Gama (2008), “o lazer (...) directamente relacionado com o
desenvolvimento da sociedade de consumo, tornou-se uma das referências da mercadorização do
tempo e do espaço, através de formas de interacção socioeconómica lideradas tanto por
processos de elitização como por processos de democratização, no acesso a bens e serviços que
lhe estão associados”.




                                               5
3. História e Usos do Pão Alentejano



   "Consta que tudo começou quando alguém no período primitivo esqueceu alguns grãos colhidos na
 chuva. Eles, humedecidos, incharam. Os homens mastigaram-nos e sentiram que pareciam uma pasta.
Engoliram e ficaram saciados. Daí, partiram para a exploração dos grãos, observaram a germinação das
                        sementes na terra e esperaram até dar o fruto. Então nasceu o seu domicílio.”2


          Consta que o “nascimento” do homem omnívoro provém da zona da Abissínia (Etiópia),
  há muitos milhares de anos, onde se descobriu que era possível produzir cereais através da
  plantação, como referido acima. Já o trigo foi plantado pela primeira vez na Mesopotâmia há
  cerca de 8000 anos. Foi por esta altura que se deu uma mutação do grão, tornando as suas
  sementes grandes, não permitindo que estas se espalhassem com a acção do vento permitindo
  a fixação e o controle da plantação.
          O trigo é um cereal básico na alimentação de civilizações, especialmente as
  Mediterrânicas, onde as bases da alimentação se fundam em três pilares: pão, azeite e vinho.
  O trigo trata-se de uma planta da família das gramíneas, da qual existe uma grande variedade,
  sendo que se pode fazer uma colheita de trigo maduro em cada mês, tornando-se um dos
  elementos mais importantes na alimentação humana.
          Mas o pão, como actualmente o conhecemos, deve a sua importância à descoberta da
  moagem dos cereais e das suas técnicas e especialmente do fermento. Fermento é um
  composto de microorganismos como esporos de fungos de levedura (Saccharomyces
  cerevisiae3). Este fermento é um fermento biológico, descoberto por acaso no Egipto (aquando
  o esquecimento de massa de trigo em cima de uma mesa), que permite o crescimento da
  massa através da libertação de dióxido de carbono. Este tipo de fermentação é conhecido
  como massa velha, isto é, na cozedura do pão retira-se previamente um pouco de massa,
  deixando-a levedar naturalmente (4 a 8 horas) e juntando-a a fornada seguinte. Este processo é
  utilizado por exemplo no Pão Alentejano, fazendo com o que o seu sabor seja muito
  característico – ácido/avinagrado.
          Seguindo os passos institucionalizados pela Revolução Industrial, foram implementadas
  novas formas de moagem (substituição do animal por máquinas4), novas formas de
  fabrico/produção, com a instalação de fornos industriais de aço a substituir os antigos a lenha
  ou carvão, a substituição da levedura natural pelo fermento de padeiro que permite uma maior
  e mais rápida produção. Mas de facto este fermento industrial, que se encontra em qualquer
  superfície comercial, não consegue imitar sabores característicos. A própria consistência do
  Pão Alentejano não é fácil de imitar utilizando processos mais industriais. O Pão Alentejano tem
  uma crosta Rija/Estaladiça e o seu interior é mais compacto, de forma a durar mais tempo
  (alguns dias até). Muitos dos pães que encontramos no supermercado têm muito “ar” ou
  bolhas no seu interior e a crosta é fofa, durando muitas vezes meio dia se deixados ao ar (como
  2
      Retirado de: http://appul.sitesedv.com/fotos/Image/142/9ZKXsoBFhistoria_do_pao.pdf
  3
      http://pt.wikipedia.org/wiki/Saccharomyces_cerevisiae
  4
    Inicialmente os cereais eram moídos por moínhos de pedra manuais que passaram a ser movidos por animais, mais
  tarde surgiram os moinhos movidos a água, depois os de vento, depois movidos a vapor e em 1881 surgem os cilindros.

                                                              6
por exemplo os “pães de bico” ou “paposecos”).
       Segundo reza a história, foi com a implementação do pão na alimentação que os
Egípcios começaram a fazer três refeições por dia. Foram também este os defensores de que a
longevidade e a saúde dependem dos “prazeres da mesa”.
       O pão tem também muito simbolismo religioso nas civilizações egípcias, gregas,
romanas, judaicas e Cristãs como é verificável em várias celebrações e representações, como
por exemplo: “Tomai todos e comei! Eu sou o pão...” ou “Dai-nos, Senhor, o pão nosso de cada
dia”.
        O Pão Alentejano tem sido uma “marca” em crescente desenvolvimento. A Confraria
Gastronómica do Alentejo pretende certificar este produto, havendo em curso um
levantamento da gastronomia típica da Região para enviar candidatura a Património Imaterial
da UNESCO.
       A alimentação no Alentejo rege-se muito { base de “Sopas” ou Ensopados. Quase todos
os pratos típicos são feitos de pão ou no mínimo acompanham-se com pão. Este tipo de
alimentação surgiu na altura dos bárbaros, na Gália e Ibéria, em que a recessão económica
impôs novos hábitos alimentares, como colocar fatias de pão no fundo das tigelas, regadas por
caldos de peixe, carne ou vegetais. Ao longo dos tempos as receitas foram mudando e
adaptando-se à região. No Alentejo este tipo de alimentação predominou, sendo a base da
gastronomia da Região. Em altura de ceifa, esta gastronomia era muito apetecida, pois era
pesada e rica em hidratos de carbono, dando forças para o trabalho que se fazia nas horas de
calor. Muitas receitas tornaram-se tão populares que hoje já são confeccionadas em qualquer
parte do país, como a Carne de Porco à Alentejana ou as Açordas (Anexos – Receitas).
       A Gastronomia é vista hoje em dia, não como meio de subsistência nos países ditos
desenvolvidos, mas como parte da identidade, tradições e cultura de Regiões, Civilizações,
Países, Nacionalidades, ou seja, parte integrante do Património Imaterial. Como já referi, o
facto do Pão Alentejano estar em vias de certificação, faz com que se torne um produto
exclusivo de uma Região, ganhando notoriedade, especificidade e tornando-se alvo de olhares
curiosos por parte de turistas e especialistas. O facto de se tornar um produto certificado faz
com se torne especial, sendo motivo de atracção turística e de desejo por parte dos turistas.
Desejo esse de conhecer, de provar, de cheirar de tocar por prazer.
       O Lazer associado ao Turismo é uma das melhores formas de divulgar produtos e
regiões, dinamizando esses mesmos espaços. O Lazer de hoje pressupõe a disponibilidade, a
vontade e o desejo de ter, provar ou visitar algo. A Gastronomia e o desejo de aprofundar
conhecimentos sobre a identidade tornam-se portanto alvo de consumo do indivíduo. O
Produto Estratégico “Gastronomia e Vinhos” torna-se portanto um exemplo de Lazer na sua
maior concepção. Como queremos ter uma experiência diferente em maior contacto com a
identidade de um local, torna esse mesmo local/espaço alvo de consumo e o Produto – Pão – a
sua forma final de obtermos esse Desejo.




                                              7
4. Gastronomia e Vinhos como parte integrante da actividade
                                 turística

        Todas estas alterações a nível social, político, cultural e económico, resultantes da
industrialização, vieram dar lugar a uma nova perspectiva, a de Sociedade de Consumo. Estes
novos tempos sociais levaram a que o tempo de consumo esteja associado ao tempo livre, ou
integrado neste, pois através do trabalho perspectiva-se uma situação económica mais estável
do indivíduo. Sendo o tempo livre dito como o tempo de não trabalho, ou seja, o tempo
restante após a actividade de obrigação social, este está ligado ao consumo. É através destes
factores que o indivíduo sente necessidade de consumir, para o seu bem-estar ou divertimento.
        Esta ligação Ócio/Consumo tem características ambíguas e duais, nas práticas e na
caracterização, sendo que existe uma impossibilidade de definir, de modo claro a natureza das
práticas em relação ao trabalho/ lazer em que o prazer/hedonismo se confunde com a
obrigatoriedade/ remuneração (por exemplo, os jogadores de futebol que recebem salário por
fazerem uma coisa que lhes dá prazer). Esta mesma ligação, Ócio/Consumo apresenta uma
dualidade de situação de trabalho e lazer na perspectiva do consumo.
        Podemos assim afirmar que o tempo livre e de lazer são considerados cada vez mais um
Tempo de Consumo, em que o lazer afirma-se de tal forma que se transformou num valor, para
os indivíduos.
        A evolução tecnológica, especialmente a evolução das comunicações, levou a que as
práticas de consumo se tornem cada vez maiores, mais específicas e especializadas, tendo uma
influência das estratégias dos meios de produção, tornando-se estas incorporadas e Induzidas
nos modos de vida das sociedades modernas.
        O facto dos indivíduos se integrarem em sociedades através das relações sociais que
mantêm, com ligações a classes, grupos profissionais e/ou culturais faz com que se
estabeleçam Estilos e Modos de Vida numa perspectiva social e territorial, “o espaço é também
visto como um produto e, por isso, entendido como fazendo parte da oferta” (J. Urry, 1995).
        Para Joffre Dumazedier o lazer é encarado como positivo, sendo que este é uma das
características emancipadoras dos homens nas sociedades modernas, “é do trabalho que
resulta a sensação de tempo livre e a valorização deste tempo através das pr|ticas de lazer”.
        O lazer passou a ser encarado como uma das componentes do bem-estar, em que a
busca da felicidade, através da dimensão lúdica é um dos propósitos. As formas de ocupação
do tempo dos indivíduos proporcionam o repouso físico e psíquico, prazer, conforto, alegria,
isto é, um sentido de liberdade face ao trabalho e ao quotidiano desgastante, afastando-se
destes e aproximando-se da vertente do consumo, que é encarada como desenvolvimento
destas mesmas sociedades a vários níveis.
        A Gastronomia e Vinhos apresentam aqui um conjunto de ofertas desses mesmos
atributos e ambições do individuo, estando cada vez mais integrada numa oferta desenvolvida,
não só no resto da Europa, mas também em Portugal, onde espaços e produtos se revitalizam
para poder satisfazer esta procura mais exigente.
        Estes Novos comportamentos levam a que fenómenos como a mobilidade estejam cada
vez mais associados à prática do lazer e especialmente do turismo, onde encontramos uma
forte conexão entre o território e os indivíduos, ou seja os recursos humanos.
        Esta, não nova, mas renovada concepção de mobilidade fez com que houvesse uma
necessidade de (re)ordenamento do território. Aqui perspectivam-se novas áreas/espaços
criadas especificamente para o lazer de uma forma mais pensada e organizada face ao novo


                                             8
indivíduo, com preocupações a nível ambiental, o que antes não acontecia. Todos estes
factores já mencionados potenciam um crescimento económico, verificando-se um aumento
da riqueza a nível individual e até mesmo social e político (dos Estados) proporcionando, assim,
uma forte mudança nas sociedades. O lazer é uma componente significativa do bem-estar
social em que os cidadãos “podem” usufruir livre e conscientemente dos espaços e
modalidades do lazer, pretendendo-se que este não seja um prolongamento da actividade
laboral, mas sim autónomo.
        O lazer associado à actividade turística e à gastronomia, mais especificamente, promove
a mobilidade, o desenvolvimento e a melhoria ou manutenção da qualidade de vida, tendo
como contrapartidas a necessidade de lugares de acolhimento, que a actividade turística
consome vorazmente, excluindo certas regiões, especialmente as do interior e com
características mais rurais, deteriorando o ambiente através de más práticas de ordenamento
do território, de utilização de espaços e em grande parte devido à sazonalidade de que muitas
actividades turísticas sofrem.
        Sendo este um dos produtos estratégicos para Portugal achei necessário fazer uma
referência ao produto Gastronomia e Vinhos, como fenómeno Turístico para o futuro, sendo
então que a nível de caracterização do mercado e do perfil do consumidor deste tipo de
turismo podemos referir que são adultos entre os 35 anos e os 60 anos, com um elevado poder
de compra, onde a maioria são do sexo masculino com um elevado nível sociocultural. Estes já
possuem algum conhecimento sobre gastronomia e vinhos das várias regiões para desejarem
descobrir novos vinhos e gastronomias ou aprofundarem conhecimentos sobre estes. Os
alojamentos que utilizam são hotéis de 3 estrelas a 5 estrelas ou alojamentos rurais de
luxo/charme, sendo que viajam durante todo o ano, mas preferindo a Primavera e o Outono.
        Tendo como objectivo o prazer e o aprofundamento sobre o(s) tema(s), participam em
actividades como degustações; feiras, eventos e mostras gastronómicas; visitas a museus e
exposições; provas de pratos e aprendizagem dos processos; passeios e compram vários
produtos típicos. Muitos deles participam em actividades de Saúde e Bem-estar, como ida a
termas, entre outros.
        A estadia normalmente prolonga-se entre três e sete dias e devido ao seu elevado custo
de permanência (entre 150€ e 450€) levando a que façam este tipo de viagens uma vez por ano,
exceptuando os entusiastas que viajam até cinco vezes por ano (Quadro 2). O turismo de
Gastronomia e Vinhos apresenta-se assim como um produto estratégico para a divulgação de
Portugal como destino turístico, mostrando todas as suas capacidades e potencialidades.
        No caso de Portugal, estas pessoas entre os 50 e os 60 anos foram pessoas que viveram
ainda a Revolução do 25 de Abril de 1974, época de fascismo em Portugal e em que o trabalho
era fulcral para se ser aceite em sociedade. Apenas pessoas mais abastadas e importantes a
nível político tinham direito a certo tipo de produtos e actividades, pois aqui foram ainda
tempos de censura e em que se tentava disfarçar o que “vinha de fora”. Agora, em tempos
liberais e democráticos, com uma estabilidade económica definida, a prática do lazer já é algo
que podem alcançar. Os hábitos de informação são feitos através das novas tecnologias como
a internet demonstrando uma educação um pouco mais elevada também.
        Para que este produto estratégico possa realmente ser desenvolvido e daí ter retorno
será necessário fazer uma boa promoção do mesmo através de estratégias de marketing e
merchandising, sem nunca descurar pontos essenciais para a sua expansão como a abundância
e variedade de vinhos e gastronomia regional; a diversidade de empresas com produtos
associados à gastronomia e vinhos; a produção organizada e adaptada à visita turística; a
existência de restaurantes e pontos de prova ou mostra de gastronomia portuguesa; Infra-


                                               9
estruturas, equipamentos e serviços turísticos dotados de mais ofertas complementares;
sinalização turística adequada; oferta de alojamento variado e de qualidade; boas
acessibilidades e facilidade de mobilidade; recursos humanos especializados.
        Abordando estes aspectos gostaria de dar o exemplo da Vila de Ourique, que se situa no
distrito de Beja. Esta pequena vila é apresentada como um dos possíveis locais para a
conhecida Batalha de Ourique de 1139, onde D. Afonso Henriques ganharia o território de
Portucalle aos Mouros. Fraca em Património Construído, exceptuando os Castros espalhados
pelo concelho e algumas igrejas, a Câmara Municipal decidiu apostar em todo o seu potencial
Imaterial.
        Criou-se a Associação do Porco Preto Alentejano que em muito ajudou antigos
agricultores a desenvolverem a actividade e a novos criadores a instalação nestes terrenos.
Esta associação, em conjunto com a Câmara Municipal, tem vindo a desenvolver um projecto
para a divulgação do Produto e a protecção do mesmo como Produto de Origem Protegida.
Muito tem sido feito pois a concorrência Espanhola assim o obriga. Na ajuda à divulgação deste
produto foram realizadas em Março de 2011 as V Jornadas “Sabores do Porco Alentejano”,
tendo como curiosidade (pessoal) a participação da população através da atribuição de rifas
para o sorteio de vários (cerca de 30) presuntos durante as festividades. Estas rifas são
atribuídas na compra de um valor X nos estabelecimentos locais, ajudando de certa forma a
economia local e a sustentabilidade do território. Sendo Ourique a Capital do Porco Alentejano,
promoveu também a Realização do I Congresso Ibérico do Porco Alentejano.
        De facto, têm sido notáveis todos os esforços públicos e privados no sentido de
dinamizarem a localidade e os produtos que lhes são característicos, tendo como exemplo a
criação de um curso para “provadores” especializados em presunto de Porco Alentejano.
Também aqui foi inaugurada há já alguns anos uma fábrica de enchidos de Porco Alentejano -
Montaraz - que neste momento já vende para Hipermercados e grandes superfícies. O fácil
acesso e a sua localização estratégica em muito têm ajudado para este processo, verificando-se
já a instalação de população mais jovem e o regresso de licenciados e profissionais às origens,
devido à melhoria da qualidade de vida e à maior oferta de emprego. Mais projectos têm sido
desenvolvidos e o mais recente, ainda em fase de planeamento, é a construção de um
complexo turístico – Quinta da Arrábida – de investimento privado na Barragem do Monte da
Rocha.

       Exemplos como estes são necessários para a divulgação de Produtos, de Regiões, não
só a nível nacional, mas internacional também para que haja uma dinamização dos espaços
Rurais e para que a visão de Portugal seja mais diversificada e integrada para além do produto
mais que conhecido e reconhecido “Sol e Mar”.




                                              10
5. Conclusão

        Em jeito de conclusão podemos afirmar que o turismo é um fenómeno de mobilidade,
em constante desenvolvimento, efeito das mudanças socioeconómicas, políticas e culturais das
sociedades contemporâneas e que se tem revelado um sector e actividade dinamizadores de
espaços, especialmente os mais “distantes”, remotos e com menos atractividade para as
populações. Estes territórios são a imagem do mundo rural actual, que sofre perturbações a
nível demográfico, geográfico e económico, tendo uma imagem característica de abandono.
Sendo o Turismo um fenómeno com excelentes oportunidades de oferta e com um constante
remodelar de mercados, devido a toda a complexidade que é o ser humano, assistimos a um
fenómeno que comporta todo um envolvente de práticas, que influencia directa e
indirectamente a sociedade.
        O trabalho tem sido tema de abordagem como o meio de ter rendimentos, rendimentos
esses que serão para poder consumir produtos e consequentemente lazer. Consumir, hoje em
dia, é visto como lazer, divertimento e sociabilidade e que não se cinge apenas a adquirir
coisas, mas a comprar, isso sim, uma identidade, que seja valorizada socialmente e que faz
parte do nosso eu Narcisista. Mais que isso, gastar ou consumir é um DEVER, tornando-se assim
o consumidor feliz uma necessidade e o lazer um dos consumos mais desejados.
        Actualmente o lazer associado ao consumo é uma “forma de expressão da flexibilidade,
da diversidade, do efémero, do ecléctico e do simbólico” (Santos, 2009). Afirmamos, assim,
convictamente que vivemos num mundo em que o individualismo e todas as suas formas
inerentes governam. Os “EUS” são frequentes e a importância do indivíduo cada vez mais
relevante através da valorização do tempo livre e das actividades associadas ao lazer que este
pode efectuar enquanto despende deste. Num momento de polivalência de práticas, o
consumo parece ser o elo e em que o indivíduo se apoia. Consumir hoje é uma prática comum e
que leva o indivíduo a um estado superior de bem-estar. Esse consumo pode ser visível na
compra de um livro, de roupa, de um carro ou de viagens. O que o liga ao lazer é a questão do
bem-estar físico, emocional ou espiritual a que está associado, sendo que a sensação de
liberdade é a que se pretende, apesar de ser discutível se esta será voluntária ou induzida. O
Produto Estratégico “Gastronomia e Vinhos” será um produto de consumo que irá crescer a
olhos vistos e que se tornará importante nesta sociedade contemporânea, devido não só à
libertação do seu tempo de trabalho através da fruição de actividades de lazer, como do seu
desejo individual e das suas escolhas, mas de certa forma através da sensação de pertença e da
identidade que inevitavelmente o Turismo introduz na apropriação dos espaços e na
aculturação frequente.




                                             11
6. Referências Bibliográficas


Cadima Ribeiro, José e outros (2001) O Turismo no Espaço Rural: uma digressão pelo tema a
pretexto da situação e evolução do fenómeno em Portugal, Núcleo de Investigação em Políticas
Económicas, Universidade do Minho, Braga

Cardoso, António Maria Ferreira (2002) Turismo, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em
áreas rurais, Observatório Medioambiental, Vol. 5, Instituto Politécnico de Viana do Castelo

Cravidão, Fernanda Delgado (1996) Mobilidade, Lazer e Território, Cadernos de Geografia, nº15,
Coimbra.

Inácio, Ana Isabel (2006) O Enoturismo: da tradição à inovação, uma forma de desenvolvimento
rural, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa

Estanque, Elísio (Setembro de 1993) Classe, Status e Lazer, Oficina do CES, nº37, Centro de
Estudos Sociais, Coimbra

Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas Portugal Rural: Territórios e
Dinâmicas

Mendes, António Gama e Santos, Norberto Pinto dos (1999) Os Espaços- Tempos de lazer na
sociedade de consumo contemporânea, Cadernos de Geografia, nº18, Coimbra.

Santos, Norberto e Gama, António, coord. (2008) Lazer, Da libertação do tempo à conquista das
práticas, Imprensa da Universidade de Coimbra, pp. 15-16, pp. 209-245

Turismo de Portugal, i.p. (2006) Plano Estratégico para o Turismo - 10 produtos estratégicos
para o desenvolvimento do turismo em Portugal: Saúde e Bem-Estar, Lisboa




                                              12
7. Índice Geral


1. Introdução.................................................................... pp. 1
2. Lazer, Turismo e Gastronomia: contexto histórico... pp. 2 - 5
3. História e Usos do Pão Alentejano…………………. pp. 6-7
4. Gastronomia e Vinhos como parte integrante da actividade
    turística………………………………………………. pp. 8-10
5. Conclusão……………………………………………. pp. 11
6. Referências Bibliográficas………………………….. pp. 12
7. Indíce Geral…………………………………………… pp. 13
8. Anexos……………………………………………….. pp. 14-18
      8.1 Quadros…………………………………….. pp. 14-15
      8.2 Receitas……………………………………... pp. 16-18




                                           13
8. Anexos
      8.1    Quadros
                     Quadro 1: Períodos de Desenvolvimento do Turismo
                                  (Imitação e Segregação)
                Séc.    Séc. XVIII Séc. XVIII/       Metade           Fim                Início
               XVII/                    Início      Séc. XIX       Séc. XIX             Séc. XX
               XVIII                  Séc. XIX
Proprietários Grand    Termas       Estâncias      Mar                 Alpinismo/   Viagem ao
(Aristocracia Tour                  Balneares      Mediterraneo no     Mar          Mundo
e pequena                                          Inverno /Viagem     Mediterraneo
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                       Viagem                      Balneares           Mediterraneo   Mar
                       Educacional                                     no Inverno     Mediterrane
                                                                       /Viagem no     o no Verão
                                                                       Reno
Pessoas de       X          X             X        Excursões de        Estâncias      Estâncias
menores                                            comboio             balneares      Balneares/
Recursos                                                                              Termas
                            Fonte: Cravidão, Fernanda Delgado (1996)




                                              14
Quadro 2: Perfil do Turista de Gastronomia e Vinhos




       Fonte: PENT – Gastronomia e Vinhos (2006)




                          15
8.2 Receitas5

GASPACHO À ALENTEJANA (Verão)
Ingredientes
3 dentes de alhos
½ colher de sopa de sal
2 colheres de sopa de azeite
4 colheres de sopa de vinagre
½ pepino
2 tomates bem maduros
1 pimento verde
1,5 L de água fria
200 g de pão duro
Orégãos q.b.
Modo de preparação:
Esmagam-se muito bem os dentes de alho num almofariz juntamente com o sal até se obter uma papa, que se coloca
no fundo de uma terrina.
Rega-se com o azeite, o vinagre e junta-se os orégãos.
Pela-se o tomate e reduz-se a puré, que se adiciona ao preparado anterior. Em seguida corta-se em quadradinhos
pequeninos, o pepino e o outro tomate, e o pimento em tiras fininhas. Introduzem-se na terrina, juntando-se de seguida
a água fria.
Na altura de servir, junta-se o pão cortado em cubos pequenos e serve-se bem fresco.




AÇORDA ALENTEJANA
Ingredientes
1 molho de coentros (ou um molho pequeno de poejos ou uma mistura das duas ervas)
2 a 4 dentes de alho
1 colher de sopa de sal grosso
4 colheres de sopa de azeite
1,5 L de água a ferver
400 g de pão caseiro (duro)
4 ovos
Modo de preparação:
Pisam-se num almofariz, reduzindo-os a papa, os coentros (ou os poejos) com os dentes de alho, e o sal grosso.
Deita-se esta papa na terrina ou numa tigela. Rega-se com azeite e escalda-se com água a ferver, onde previamente se
escalfaram os ovos (de onde se retiraram). Coloca-se este caldo sobre o pão cortado em fatias ou em cubos. Os ovos
são colocados no prato ou sobre as sopas na terrina




5
    Todas as receitas e imagens retiradas de: http://receitas-culinaria.org/?wpfb_dl=3 (excepto última imagem)




                                                            16
SOPA DE TOMATE (Sopas de Tomate)
Ingredientes
1 Kg de tomate maduro
2 a 3 cebolas médias
4 a 6 dentes de alho
2 folhas de louro
1 ramo de orégãos
1 pimentão verde
Poejos (facultativo)
Peixe ou ovo
Sal
Pão duro
Modo de preparação:
Pica-se o alho e corta-se a cebola às rodelas. Corta-se pimentão às tiras. Refoga-se tudo no azeite. Quando as cebolas
começam a estar brandas, junta-se o tomate cortado em pedaços pequenos, o louro, os orégãos e os poejos. Tempera-
se de sal.
Depois de refogado, junta-se água. Quando levantar fervura, põe-se o peixe ou o ovo. Uma vez cozido, rectifica-se o
sal, deita-se o caldo sobre as fatias de pão numa terrina e vai para a mesa.
O peixe ou o ovo escalfado é servido à parte.




MIGAS COM CARNE DE PORCO
Ingredientes
1 kg de carne de porco: lombo, costelas e toucinho entremeado
3 dentes de alho
3 colheres de massa de pimentão
3 colheres de banha
1 pão duro
Sal
Modo de preparação:
Tempera-se a carne de porco de véspera, envolvendo-a em massa de pimentão. Fritam-se na banha os dentes de alho
e depois a carne até estar estaladiça. Põe-se a carne de lado e, no mesmo tacho, aproveitando a gordura, deita-se o
pão às fatias e cobre-se com água a ferver.
Deixa-se aboberar durante alguns minutos.
Volta ao lume, mexendo bem com uma colher para homogeneizar a mistura.
Quando se soltam das paredes, as migas estão prontas.
Junta-se um bocadinho de gordura para fritarem e ficarem bem tostadinhas.
Servem-se imediatamente, com a carne frita à volta.




                                                         17
ENSOPADO DE BORREGO
Ingredientes
1 borreguinho com 7 ou 8 kg a que se tiram as pernas e as costeletas para outros pratos
3 dentes de alho
1 folha de louro
1 dl de azeite
2 colheres de banha de porco
1 copo de vinho branco
Sal e pimentas em grão
Pão duro
Modo de preparação:
Corta-se o borrego em bocados.
Frita-se o alho picadinho com o louro nas gorduras.
Junta-se a carne, tempera-se de sal e pimenta e frita-se até dourar a carne.
Acrescenta-se o vinho branco, tapa-se e deixa-se cozinhar em lume brando. Quando começar a ficar seco vão-se
juntando pinguinhas de água quente, tendo o cuidado de ir mexendo para não pegar.
À hora de ir para a mesa acrescenta-se a água a ferver necessária para molhar as sopas (o pão).
Serve-se numa travessa funda sobre uma camadinha de fatias de pão duro muito finas.




JANTAR DE GRÃO
Ingredientes
1/2 kg de feijão ou grão
100 g de toucinho
1 chouriço pequeno
250 g de carne de borrego
1 osso de carne de porco com carne
2 batatas
cebola
tomate
louro
sal
salsa
água
hortelã
Modo de Preparação:
Juntam-se o grão, as carnes, a cebola, o tomate, salsa, sal, louro e a água numa panela de barro e vai ao lume
(tradicionalmente de lenha). Em substituição fazer em panela de pressão.
Quando estiver quase cozido juntam-se as batatas.
Numa tigela partem-se fatias de pão fininhas, junta-se um pouco de hortelã e deita-se o caldo cozido.
Numa travessa coloca-se o grão e as carnes e serve-se.




         Fonte: http://paladaresdaisa.blogspot.com/2010/10/jantar-de-grao-minha-moda.html


                                                          18

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O lazer, turismo e gastronomia: evolução histórica

  • 1. 1. Introdução Para iniciar este trabalho será necessário termos uma compreensão extensiva de termos essenciais como Lazer, Tempo Livre, Recreação, Mobilidade, Turismo. O lazer evoluiu ao longo dos tempos, havendo hoje em dia uma percepção que o lazer é uma fuga ao quotidiano e à rotina, através da valorização do prazer e do bem-estar. Este é um domínio que comporta diversas actividades desenvolvidas no tempo livre, ou tempo de não trabalho, com o objectivo de repousar, descansar ou por simples divertimento e de prazer. Estas actividades diversas têm um cariz muito pessoal e individual, sendo então que são motivadas pelo prazer e vontade própria de cada indivíduo, assentando nas práticas de valorização física e intelectual. Numa concepção holística, lazer é entendido como uma atitude ou estado de espírito e que pode acontecer em qualquer situação do quotidiano. A partir da Revolução Industrial iniciou-se também a transformação da sociedade e consequentemente do território, visto que são temas indissociáveis. Desde que o homem se tornou sedentário o processo de humanização dos espaços foi visível em actividades como a agricultura, a pecuária e mais tarde na indústria, com utilização de tecnologias sempre em evolução. Factores sociais, económicos e culturais foram sendo alterados e consequentemente atitudes, motivações e pensamentos. Dando origem à sociedade actual onde vivemos, uma sociedade de consumo e capitalista, a industrialização, foi fulcral para o que entendemos hoje por trabalho, direitos e liberdade. Novas atitudes face ao modo de viver, o desejo de fruição de ócio e tempos livres começam a ser visíveis e cada vez mais reivindicados por grupos de indivíduos ou isoladamente, como pessoas e cidadãos integrados de uma sociedade. O tempo livre surge como uma conquista social proporcionando ao homem trabalhador a libertação de algumas obrigações sociais e em oposição ao tempo de trabalho, que funcionava em séculos passados como meio de sobrevivência, mas em tempos actuais como o meio de atingir o bem-estar, representado de várias formas, sendo a recreação uma delas. Esta é considerada como um campo da actividade humana motivada pela necessidade de divertimento e animação no contexto da vivência quotidiana. Qualquer actividade ligada ao lazer e ao turismo pressupõe a não remuneração dessa mesma actividade. Turismo refere-se às actividades que as pessoas realizam durante as suas deslocações para fora do seu ambiente habitual ou de residência, com uma permanência superior a 24 horas e inferior a um ano, por vários motivos, tais como lazer, saúde e negócios, por exemplo, sem fins lucrativos e que utilizam várias infra-estruturas, equipamentos e serviços, muitas vezes criados especificamente para este e para o seu usufruto. Ao longo do trabalho tentarei explicitar a importância que o Turismo tem para a sociedade civil de hoje em dia, tendo por base temas como identidade, cultura, alimentação e território. Sendo o turismo um tema multidisciplinar é impossível dissociá-lo de questões sociológicas, antropológicas, económicas, geográficas e culturais. Neste trabalho pretendo fazer uma abordagem completa ao fenómeno que é o lazer e associá-lo ao turismo, especialmente Gastronómico, sem nunca descurar estes factores entendendo que são essenciais para a compreensão do lazer e do turismo, como fenómenos em ascendente evolução, desenvolvimento e globalização. 1
  • 2. 2. Lazer, Turismo e Gastronomia: contexto histórico A sedentarização do Homem, há milhares de anos, fez com que este começasse a ter uma relação mais profunda com o espaço e com o território. A humanização das paisagens, visível através da agricultura, fez com que o Homem se fixasse a um território, alterando a sua imagem. Esta apropriação do espaço levou a que a Natureza se tornasse mais humanizada e consequentemente aliada do Homem, dando-lhe o que ele precisava. A agricultura mostra que o espaço pode servir o homem como meio de subsistência, mas que através deste essa mesma relação se complexifica. Questões como identidade, mobilidade, cultura, património e tradição são inevitavelmente referenciadas por serem intrínsecas a esta ligação entre o Homem e o Espaço. Revivendo o passado podemos constatar que, desde que se tornou sedentário, o Homem apenas fazia deslocações com fins expansionistas, comerciais e religiosos devido aos elevados custos destas morosas e difíceis deslocações. A escassez de transportes e a longevidade das distâncias condicionadas pelas fracas redes viárias propiciaram a que as quantidades de viagens feitas por esta altura fossem diminutas. Também a nível socioeconómico, podemos depreender que apenas os comerciantes e os aristocratas tinham acesso a estas viagens. É com o Renascimento que se inicia um processo de alteração. Esta foi uma época em que se pretendia romper com a “escuridão” vivida na Idade Média e é por esta altura que se recuperam costumes, tradições e hábitos das Culturas da Antiguidade, como festivais e feiras, dando-se ainda especial atenção às artes, criando-se teatros itinerantes e apelando-se ao mecenato para proteger artistas. As viagens pela altura dos Descobrimentos fizeram com que novos produtos surgissem para complementar a alimentação mediterrânica baseada em pão, azeite e vinho e modificou a ideia de viagem, pois esta começou a ter um carácter pedagógico, isto é, motivada pela curiosidade de conhecer novos povos, novas civilizações, novos lugares. Só mais tarde no século XVIII estas viagens começaram a ter como motivação a instrução e o prazer. Surge assim o Grand Tour que vai dar origem às bases do Turismo. Jovens à procura de conhecimento iniciam viagens por toda a Europa, sempre acompanhados por tutores na busca deste, passando por cidades importantes e centro do meio sociocultural, como Londres, Paris, Roma, Turim, Madrid. Assim se dava início ao Grand Tour do século XVII e XVIII e aqui se formaram as bases para o turismo. O primeiro consistia na realização de extensas viagens, efectuadas por jovens abastados, pertencentes a elites e à aristocracia, tendo uma duração de dois a três anos. Os objectivos destas viagens eram não só educar os jovens para os aspectos governativos e diplomáticos, mas também para terem contacto com outros países, outros povos, outras sociedades, demonstrando o carácter cultural para além do político. Como já foi referido, o carácter penoso e extensivo destas viagens determinava que estas constituíssem um privilégio para os mais abastados, sendo realizadas com a intenção de aumentar influencia e o estatuto social dos indivíduos. As razões, consoante o último, eram variáveis, sendo elas educação, saúde, ciência e comércio. Com o número de viagens a aumentar, foi necessário adaptar e criar infra-estruturas capazes de satisfazer a procura. Desde utilizar alojamentos já existentes como hospedarias e estalagens à criação de hotéis que começaram a popularizar-se por esta altura. As estradas também foram melhoradas devido á circulação cada vez mais frequente de malapostas e foram introduzidos barcos a vapor nos principais percursos aquáticos. Foi também por esta altura que 2
  • 3. surgiram os pacotes turísticos que englobavam transporte e alojamento nos principais hotéis. A nível económico podemos referir as notas de câmbio introduzidas por banqueiros nos finais do século XVIII e que poderiam ser utilizadas em muitos centros Europeus. Esta evolução permitiu que outras classes pudessem ter acesso a estes privilégios outrora exclusivos das elites. O lucro proveniente das indústrias e da comercialização dos produtos permitiu que a burguesia visse aumentada a sua influência e estatuto, podendo assim imitar o comportamento da elite. Podemos então referir que o território já começa a ser organizado para que possa existir uma “cultura de viagens”, pois ainda não podemos falar de turismo, apesar de j| haver referência a este em 1907. Analisando o parágrafo podemos então referir já alguns elementos essenciais para a prática turística que se começam a instituir e a alterar, sendo eles então os equipamentos (infra-estruturas turísticas, equipamentos comerciais e equipamentos recreativos-desportivos) e as acessibilidades. O Grand Tour foi o despoletar para uma actividade em grande ascensão iniciando bases, criando serviços, alterando espaços e comportamentos a vários níveis. Este teve término aquando a Revolução Francesa, em 1789. Foi a partir desta data que se iniciou a transformação dos Estados. Termos como Absolutismo e Autoritarismo vieram dar lugar a ideais como “Liberdade, Fraternidade, Igualdade” e podemos afirmar que apesar de ainda existirem discrepâncias acentuadas entre as classes a nível económico, social e cultural, é cada vez mais frequente a possibilidade de classes médias e burguesia terem acesso ao mesmo tipo de actividades que as elites. Este mesmo tipo de comportamento por parte destas classes mais baixas, imitação da aristocracia, levou a que se gerassem processo de segregação visível através do abandono por parte da aristocracia que deixava de frequentar um destino turístico sempre que a burguesia a imitava, por exemplo, durante as colheitas as elites iam até à costa e quando estas terminavam davam lugar às classes inferiores, mais tarde foram tendo interesse por outras actividades e por outros locais (espaços) (Quadro 1). É no século XIX, então, que se dá a Revolução Industrial e com esta o aparecimento de transportes de grande importância, como o barco e o comboio a vapor permitindo aos viajantes deslocações mais longas, por menos tempo e com menos custos. A concepção de viagem, espaço e tempo são revolucionadas com a maior capacidade de transporte, permitindo um cada vez maior número de turistas com possibilidades de viajar. Mas não foi só no campo tecnológico que a sua importância foi sentida. Os campos sociais e económicos tiveram uma reviravolta e consequentemente um crescimento no Lazer. A criação de sindicatos por parte da classe operária veio fornecer novos direitos ao trabalhador e com esses direitos este pode aceder a diversos produtos e serviços a que antes nem passava no imaginário de qualquer indivíduo. Como afirma Paul Lafargue em o Direito | Preguiça “Na época, os trabalhadores das oficinas ainda trabalhavam em média doze ou treze horas por dia e, às vezes, as jornadas de trabalho estendiam-se a quinze, dezasseis e até dezassete horas” e foi a redução dessas horas de trabalho e o acesso a férias (mais tarde pagas) que vieram ajudar numa revolução no campo socioeconómico e cultural. Através destas mudanças outras foram visíveis e importantes como a entrada da mulher no mercado de trabalho e consequentemente a redução da família nuclear, ou seja, a mulher ao iniciar uma “carreira” profissional tinha menos tempo para estar em casa a cuidar dos filhos e da casa, notando-se na diminuição do número de filhos por casal. A nível cultural e também económico é visível o aumento das taxas de alfabetização, sendo que os trabalhadores poderiam aprender a ler e a escrever. A profissionalização numa área e a escolarização permite a estes trabalhadores terem uma maior consciência social, política e 3
  • 4. económica da sociedade, existindo assim uma nova atitude face ao seu modo de viver que melhorou substancialmente a nível qualitativo e quantitativo e é por esta altura que começa a haver um desejo de fruição de ócio e dos tempos livres, que surge como recompensa ao tempo de trabalho. Este tempo livre a que nos referimos surge então perante a conquista social e através dos progressos técnicos e tecnológicos onde a máquina substitui e liberta o homem para outras actividades, nomeadamente de lazer. A possibilidade financeira que têm agora e a redução na quantidade de membros da família permite-lhes que se possam deslocar. O tempo livre associado ao tempo de trabalho, significa que é o tempo de não trabalho reservado, em que a disponibilidade é influenciada pela classe social (apesar de tudo), ciclo de vida, raça, género, saúde, rendimentos e conjuntura familiar, social e cultural. Aparece pela primeira vez a questão da “Liberdade Individual”, em que o próprio indivíduo decide o que fazer com o seu tempo, podendo este ser de ócio ou lazer, ocupando-se voluntariamente de tarefas produtivas após satisfeitas as obrigações do trabalho, obrigações sociais e necessidades físicas. Foram estas mudanças na estruturação dos tempos sociais das sociedades que permitiu o aumento significativo dos tempos de lazer com a utilização de lugares como espaços de lazer de uma forma crescente e diversificada. Com um nível de vida cada vez melhor e tendo cada vez mais uma situação económica estável, surgiu também a expansão do consumo de massas na forma do Wellfare State, como “uma espécie de terapia complementar aos direitos de trabalho que o movimento oper|rio conseguiu conquistar {s Classes dominantes” (Estanque, 1993). Com a emergência do modelo de regulação fordista, deu-se início a uma era em que o capitalismo é governante e em que o crescimento económico das sociedades, agora de consumo, se pretende a longo prazo. Mas foi muito antes desta altura que se iniciou um processo de delineação da sociedade. Todos estes processos de formação remontam à época pré-histórica. O aparecimento do pão como parte integrante da alimentação remonta a milhares de anos atrás. Vários historiadores fazem referência ao aparecimento deste há cerca de 6000 anos, tal como Heinrich Eduard Jacob no seu livro 'Seis mil anos de pão - A civilização humana através de seu principal alimento'. Este autor faz a referência a que “nenhum outro produto, antes ou depois da sua descoberta, há seis mil anos, dominou o mundo antigo, material e espiritualmente, como o pão foi capaz de fazer”1. A alimentação dos nossos ancestrais fazia-se a partir dos grãos que estes encontravam nas suas caçadas. Grãos, estes, que aprovisionavam nas cavernas e nos abrigos. Com a humidade e enterrados estes grãos voltariam a germinar, dando origem aos cereais que conhecemos hoje como trigo, milho, arroz… Pode-se dizer que o Homem descobriu a agricultura por acaso e contra a sua vontade, mais tarde tornando-se esta, juntamente com a caça, as grandes fontes de alimento do Homem. Esta agricultura a que me refiro “forçou” a sedentarização do homem, tendo este agora terra para cultivar, construindo abrigos mais resistentes, confortáveis e que satisfizessem as suas novas necessidades. Esta nova actividade vai revolucionar toda a evolução do Homem, do seu comportamento e das sociedades futuras, uma vez que introduz novos alimentos na dieta das populações, influencia o aperfeiçoamento dos utensílios, mudando a metalurgia e as cerâmicas, assim como as relações de trocas comerciais, dando início ao nascimento de uma 1 Retirado de: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=750132&sid=2041571771282317644884760&k5 =FEBFF76&uid= 4
  • 5. civilização, principalmente com o surgimento da farinha, mudando toda a História do Homem... Desde que descobriu os cereais, a farinha e a agricultura, este tornou-se sedentário, aumentado a sua qualidade de vida e o seu conforto, não tendo que se deslocar por necessidade, deslocando-se apenas esporadicamente do espaço que agora lhe “pertence”. Como já referi, foi com a Idade Média e Descobrimentos, as constantes conquistas e expansões que o homem se começou a deslocar com maior frequência, ora por necessidade de melhorar as condições de vida, ora por questões territoriais, ora por questões comerciais. Entender o Turismo e Lazer nas suas concepções actuais implicam a compreensão da História e de fenómenos socioeconómicos e culturais que antecedem todo este processo Pós Industrial, mas não só. Entender termos como mobilidade, cultura e identidade são extremamente importantes, pois estes estão imbricados no Turismo e no Lazer de hoje: “O Turismo é um fenómeno de modernidade, criado pelas civilizações ocidentais ou ocidentalizadas na vivência da sua capacidade de mobilidade e que se integra no âmbito mais lato dos lazeres que esta civilização tem vindo a criar e a (re)criar” (Inácio, 2006). Estudiosos do tema têm vindo a afirmar que é através da Revolução Industrial iniciada em meados do século XIX que os fenómenos começam a emergir, pois despoletou uma nova conjuntura nas sociedades. Mudanças foram sentidas a todos os níveis. Com a introdução de máquinas a vapor alterou-se a situação do trabalhador, disponibilizando-se assim mão-de-obra. A instalação de indústrias nos meios urbanos maiores e essencialmente litorais levou a que as populações iniciassem um processo de deslocações para esses meios, do rural para as cidades. Este tipo de migração ainda está muito acoplado nas sociedades contemporâneas e advém daí a explicação para o empobrecimento e abandono do meio rural. As condições destes operários não eram as melhores, vivendo estes em condições precárias e com um nível de vida muito baixo. Sendo que era visível o aumento da produtividade nas fábricas, começaram-se a organizar sindicatos de trabalhadores para reivindicar alguns direitos e após muitas lutas esses mesmos foram conseguidos, pois os patrões perceberam que se os trabalhadores estivesses contentes o nível de produtividade aumentava, portanto, as horas de trabalho foram substancialmente sendo reduzidas, de 16 horas por dia para as 8 horas (que ainda hoje se praticam), os salários foram aumentados e foram instituídas as férias (mais tarde pagas). Tudo isto levou a que o trabalhador se visse liberto do tempo de trabalho para ter mais tempo para fazer outras coisas e agora com uma capacidade económica diferente. A sua qualidade de vida melhora, tal como a esperança média de vida das populações. Procede-se, também, a uma “educação” das populações, instituindo a obrigatoriedade e consequentemente diminuindo o nível de analfabetização e por fim a entrada da mulher no mundo profissional e a consequente redução da família nuclear foram elementos chave para a institucionalização do Lazer, onde o turismo se insere. A partir daqui a necessidade do homem de se sentir bem a nível físico e psíquico leva a que este pratique actividades que levem ao seu bem-estar e ao seu prazer e que cada vez mais se vem sentido. Segundo Santos e Gama (2008), “o lazer (...) directamente relacionado com o desenvolvimento da sociedade de consumo, tornou-se uma das referências da mercadorização do tempo e do espaço, através de formas de interacção socioeconómica lideradas tanto por processos de elitização como por processos de democratização, no acesso a bens e serviços que lhe estão associados”. 5
  • 6. 3. História e Usos do Pão Alentejano "Consta que tudo começou quando alguém no período primitivo esqueceu alguns grãos colhidos na chuva. Eles, humedecidos, incharam. Os homens mastigaram-nos e sentiram que pareciam uma pasta. Engoliram e ficaram saciados. Daí, partiram para a exploração dos grãos, observaram a germinação das sementes na terra e esperaram até dar o fruto. Então nasceu o seu domicílio.”2 Consta que o “nascimento” do homem omnívoro provém da zona da Abissínia (Etiópia), há muitos milhares de anos, onde se descobriu que era possível produzir cereais através da plantação, como referido acima. Já o trigo foi plantado pela primeira vez na Mesopotâmia há cerca de 8000 anos. Foi por esta altura que se deu uma mutação do grão, tornando as suas sementes grandes, não permitindo que estas se espalhassem com a acção do vento permitindo a fixação e o controle da plantação. O trigo é um cereal básico na alimentação de civilizações, especialmente as Mediterrânicas, onde as bases da alimentação se fundam em três pilares: pão, azeite e vinho. O trigo trata-se de uma planta da família das gramíneas, da qual existe uma grande variedade, sendo que se pode fazer uma colheita de trigo maduro em cada mês, tornando-se um dos elementos mais importantes na alimentação humana. Mas o pão, como actualmente o conhecemos, deve a sua importância à descoberta da moagem dos cereais e das suas técnicas e especialmente do fermento. Fermento é um composto de microorganismos como esporos de fungos de levedura (Saccharomyces cerevisiae3). Este fermento é um fermento biológico, descoberto por acaso no Egipto (aquando o esquecimento de massa de trigo em cima de uma mesa), que permite o crescimento da massa através da libertação de dióxido de carbono. Este tipo de fermentação é conhecido como massa velha, isto é, na cozedura do pão retira-se previamente um pouco de massa, deixando-a levedar naturalmente (4 a 8 horas) e juntando-a a fornada seguinte. Este processo é utilizado por exemplo no Pão Alentejano, fazendo com o que o seu sabor seja muito característico – ácido/avinagrado. Seguindo os passos institucionalizados pela Revolução Industrial, foram implementadas novas formas de moagem (substituição do animal por máquinas4), novas formas de fabrico/produção, com a instalação de fornos industriais de aço a substituir os antigos a lenha ou carvão, a substituição da levedura natural pelo fermento de padeiro que permite uma maior e mais rápida produção. Mas de facto este fermento industrial, que se encontra em qualquer superfície comercial, não consegue imitar sabores característicos. A própria consistência do Pão Alentejano não é fácil de imitar utilizando processos mais industriais. O Pão Alentejano tem uma crosta Rija/Estaladiça e o seu interior é mais compacto, de forma a durar mais tempo (alguns dias até). Muitos dos pães que encontramos no supermercado têm muito “ar” ou bolhas no seu interior e a crosta é fofa, durando muitas vezes meio dia se deixados ao ar (como 2 Retirado de: http://appul.sitesedv.com/fotos/Image/142/9ZKXsoBFhistoria_do_pao.pdf 3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Saccharomyces_cerevisiae 4 Inicialmente os cereais eram moídos por moínhos de pedra manuais que passaram a ser movidos por animais, mais tarde surgiram os moinhos movidos a água, depois os de vento, depois movidos a vapor e em 1881 surgem os cilindros. 6
  • 7. por exemplo os “pães de bico” ou “paposecos”). Segundo reza a história, foi com a implementação do pão na alimentação que os Egípcios começaram a fazer três refeições por dia. Foram também este os defensores de que a longevidade e a saúde dependem dos “prazeres da mesa”. O pão tem também muito simbolismo religioso nas civilizações egípcias, gregas, romanas, judaicas e Cristãs como é verificável em várias celebrações e representações, como por exemplo: “Tomai todos e comei! Eu sou o pão...” ou “Dai-nos, Senhor, o pão nosso de cada dia”. O Pão Alentejano tem sido uma “marca” em crescente desenvolvimento. A Confraria Gastronómica do Alentejo pretende certificar este produto, havendo em curso um levantamento da gastronomia típica da Região para enviar candidatura a Património Imaterial da UNESCO. A alimentação no Alentejo rege-se muito { base de “Sopas” ou Ensopados. Quase todos os pratos típicos são feitos de pão ou no mínimo acompanham-se com pão. Este tipo de alimentação surgiu na altura dos bárbaros, na Gália e Ibéria, em que a recessão económica impôs novos hábitos alimentares, como colocar fatias de pão no fundo das tigelas, regadas por caldos de peixe, carne ou vegetais. Ao longo dos tempos as receitas foram mudando e adaptando-se à região. No Alentejo este tipo de alimentação predominou, sendo a base da gastronomia da Região. Em altura de ceifa, esta gastronomia era muito apetecida, pois era pesada e rica em hidratos de carbono, dando forças para o trabalho que se fazia nas horas de calor. Muitas receitas tornaram-se tão populares que hoje já são confeccionadas em qualquer parte do país, como a Carne de Porco à Alentejana ou as Açordas (Anexos – Receitas). A Gastronomia é vista hoje em dia, não como meio de subsistência nos países ditos desenvolvidos, mas como parte da identidade, tradições e cultura de Regiões, Civilizações, Países, Nacionalidades, ou seja, parte integrante do Património Imaterial. Como já referi, o facto do Pão Alentejano estar em vias de certificação, faz com que se torne um produto exclusivo de uma Região, ganhando notoriedade, especificidade e tornando-se alvo de olhares curiosos por parte de turistas e especialistas. O facto de se tornar um produto certificado faz com se torne especial, sendo motivo de atracção turística e de desejo por parte dos turistas. Desejo esse de conhecer, de provar, de cheirar de tocar por prazer. O Lazer associado ao Turismo é uma das melhores formas de divulgar produtos e regiões, dinamizando esses mesmos espaços. O Lazer de hoje pressupõe a disponibilidade, a vontade e o desejo de ter, provar ou visitar algo. A Gastronomia e o desejo de aprofundar conhecimentos sobre a identidade tornam-se portanto alvo de consumo do indivíduo. O Produto Estratégico “Gastronomia e Vinhos” torna-se portanto um exemplo de Lazer na sua maior concepção. Como queremos ter uma experiência diferente em maior contacto com a identidade de um local, torna esse mesmo local/espaço alvo de consumo e o Produto – Pão – a sua forma final de obtermos esse Desejo. 7
  • 8. 4. Gastronomia e Vinhos como parte integrante da actividade turística Todas estas alterações a nível social, político, cultural e económico, resultantes da industrialização, vieram dar lugar a uma nova perspectiva, a de Sociedade de Consumo. Estes novos tempos sociais levaram a que o tempo de consumo esteja associado ao tempo livre, ou integrado neste, pois através do trabalho perspectiva-se uma situação económica mais estável do indivíduo. Sendo o tempo livre dito como o tempo de não trabalho, ou seja, o tempo restante após a actividade de obrigação social, este está ligado ao consumo. É através destes factores que o indivíduo sente necessidade de consumir, para o seu bem-estar ou divertimento. Esta ligação Ócio/Consumo tem características ambíguas e duais, nas práticas e na caracterização, sendo que existe uma impossibilidade de definir, de modo claro a natureza das práticas em relação ao trabalho/ lazer em que o prazer/hedonismo se confunde com a obrigatoriedade/ remuneração (por exemplo, os jogadores de futebol que recebem salário por fazerem uma coisa que lhes dá prazer). Esta mesma ligação, Ócio/Consumo apresenta uma dualidade de situação de trabalho e lazer na perspectiva do consumo. Podemos assim afirmar que o tempo livre e de lazer são considerados cada vez mais um Tempo de Consumo, em que o lazer afirma-se de tal forma que se transformou num valor, para os indivíduos. A evolução tecnológica, especialmente a evolução das comunicações, levou a que as práticas de consumo se tornem cada vez maiores, mais específicas e especializadas, tendo uma influência das estratégias dos meios de produção, tornando-se estas incorporadas e Induzidas nos modos de vida das sociedades modernas. O facto dos indivíduos se integrarem em sociedades através das relações sociais que mantêm, com ligações a classes, grupos profissionais e/ou culturais faz com que se estabeleçam Estilos e Modos de Vida numa perspectiva social e territorial, “o espaço é também visto como um produto e, por isso, entendido como fazendo parte da oferta” (J. Urry, 1995). Para Joffre Dumazedier o lazer é encarado como positivo, sendo que este é uma das características emancipadoras dos homens nas sociedades modernas, “é do trabalho que resulta a sensação de tempo livre e a valorização deste tempo através das pr|ticas de lazer”. O lazer passou a ser encarado como uma das componentes do bem-estar, em que a busca da felicidade, através da dimensão lúdica é um dos propósitos. As formas de ocupação do tempo dos indivíduos proporcionam o repouso físico e psíquico, prazer, conforto, alegria, isto é, um sentido de liberdade face ao trabalho e ao quotidiano desgastante, afastando-se destes e aproximando-se da vertente do consumo, que é encarada como desenvolvimento destas mesmas sociedades a vários níveis. A Gastronomia e Vinhos apresentam aqui um conjunto de ofertas desses mesmos atributos e ambições do individuo, estando cada vez mais integrada numa oferta desenvolvida, não só no resto da Europa, mas também em Portugal, onde espaços e produtos se revitalizam para poder satisfazer esta procura mais exigente. Estes Novos comportamentos levam a que fenómenos como a mobilidade estejam cada vez mais associados à prática do lazer e especialmente do turismo, onde encontramos uma forte conexão entre o território e os indivíduos, ou seja os recursos humanos. Esta, não nova, mas renovada concepção de mobilidade fez com que houvesse uma necessidade de (re)ordenamento do território. Aqui perspectivam-se novas áreas/espaços criadas especificamente para o lazer de uma forma mais pensada e organizada face ao novo 8
  • 9. indivíduo, com preocupações a nível ambiental, o que antes não acontecia. Todos estes factores já mencionados potenciam um crescimento económico, verificando-se um aumento da riqueza a nível individual e até mesmo social e político (dos Estados) proporcionando, assim, uma forte mudança nas sociedades. O lazer é uma componente significativa do bem-estar social em que os cidadãos “podem” usufruir livre e conscientemente dos espaços e modalidades do lazer, pretendendo-se que este não seja um prolongamento da actividade laboral, mas sim autónomo. O lazer associado à actividade turística e à gastronomia, mais especificamente, promove a mobilidade, o desenvolvimento e a melhoria ou manutenção da qualidade de vida, tendo como contrapartidas a necessidade de lugares de acolhimento, que a actividade turística consome vorazmente, excluindo certas regiões, especialmente as do interior e com características mais rurais, deteriorando o ambiente através de más práticas de ordenamento do território, de utilização de espaços e em grande parte devido à sazonalidade de que muitas actividades turísticas sofrem. Sendo este um dos produtos estratégicos para Portugal achei necessário fazer uma referência ao produto Gastronomia e Vinhos, como fenómeno Turístico para o futuro, sendo então que a nível de caracterização do mercado e do perfil do consumidor deste tipo de turismo podemos referir que são adultos entre os 35 anos e os 60 anos, com um elevado poder de compra, onde a maioria são do sexo masculino com um elevado nível sociocultural. Estes já possuem algum conhecimento sobre gastronomia e vinhos das várias regiões para desejarem descobrir novos vinhos e gastronomias ou aprofundarem conhecimentos sobre estes. Os alojamentos que utilizam são hotéis de 3 estrelas a 5 estrelas ou alojamentos rurais de luxo/charme, sendo que viajam durante todo o ano, mas preferindo a Primavera e o Outono. Tendo como objectivo o prazer e o aprofundamento sobre o(s) tema(s), participam em actividades como degustações; feiras, eventos e mostras gastronómicas; visitas a museus e exposições; provas de pratos e aprendizagem dos processos; passeios e compram vários produtos típicos. Muitos deles participam em actividades de Saúde e Bem-estar, como ida a termas, entre outros. A estadia normalmente prolonga-se entre três e sete dias e devido ao seu elevado custo de permanência (entre 150€ e 450€) levando a que façam este tipo de viagens uma vez por ano, exceptuando os entusiastas que viajam até cinco vezes por ano (Quadro 2). O turismo de Gastronomia e Vinhos apresenta-se assim como um produto estratégico para a divulgação de Portugal como destino turístico, mostrando todas as suas capacidades e potencialidades. No caso de Portugal, estas pessoas entre os 50 e os 60 anos foram pessoas que viveram ainda a Revolução do 25 de Abril de 1974, época de fascismo em Portugal e em que o trabalho era fulcral para se ser aceite em sociedade. Apenas pessoas mais abastadas e importantes a nível político tinham direito a certo tipo de produtos e actividades, pois aqui foram ainda tempos de censura e em que se tentava disfarçar o que “vinha de fora”. Agora, em tempos liberais e democráticos, com uma estabilidade económica definida, a prática do lazer já é algo que podem alcançar. Os hábitos de informação são feitos através das novas tecnologias como a internet demonstrando uma educação um pouco mais elevada também. Para que este produto estratégico possa realmente ser desenvolvido e daí ter retorno será necessário fazer uma boa promoção do mesmo através de estratégias de marketing e merchandising, sem nunca descurar pontos essenciais para a sua expansão como a abundância e variedade de vinhos e gastronomia regional; a diversidade de empresas com produtos associados à gastronomia e vinhos; a produção organizada e adaptada à visita turística; a existência de restaurantes e pontos de prova ou mostra de gastronomia portuguesa; Infra- 9
  • 10. estruturas, equipamentos e serviços turísticos dotados de mais ofertas complementares; sinalização turística adequada; oferta de alojamento variado e de qualidade; boas acessibilidades e facilidade de mobilidade; recursos humanos especializados. Abordando estes aspectos gostaria de dar o exemplo da Vila de Ourique, que se situa no distrito de Beja. Esta pequena vila é apresentada como um dos possíveis locais para a conhecida Batalha de Ourique de 1139, onde D. Afonso Henriques ganharia o território de Portucalle aos Mouros. Fraca em Património Construído, exceptuando os Castros espalhados pelo concelho e algumas igrejas, a Câmara Municipal decidiu apostar em todo o seu potencial Imaterial. Criou-se a Associação do Porco Preto Alentejano que em muito ajudou antigos agricultores a desenvolverem a actividade e a novos criadores a instalação nestes terrenos. Esta associação, em conjunto com a Câmara Municipal, tem vindo a desenvolver um projecto para a divulgação do Produto e a protecção do mesmo como Produto de Origem Protegida. Muito tem sido feito pois a concorrência Espanhola assim o obriga. Na ajuda à divulgação deste produto foram realizadas em Março de 2011 as V Jornadas “Sabores do Porco Alentejano”, tendo como curiosidade (pessoal) a participação da população através da atribuição de rifas para o sorteio de vários (cerca de 30) presuntos durante as festividades. Estas rifas são atribuídas na compra de um valor X nos estabelecimentos locais, ajudando de certa forma a economia local e a sustentabilidade do território. Sendo Ourique a Capital do Porco Alentejano, promoveu também a Realização do I Congresso Ibérico do Porco Alentejano. De facto, têm sido notáveis todos os esforços públicos e privados no sentido de dinamizarem a localidade e os produtos que lhes são característicos, tendo como exemplo a criação de um curso para “provadores” especializados em presunto de Porco Alentejano. Também aqui foi inaugurada há já alguns anos uma fábrica de enchidos de Porco Alentejano - Montaraz - que neste momento já vende para Hipermercados e grandes superfícies. O fácil acesso e a sua localização estratégica em muito têm ajudado para este processo, verificando-se já a instalação de população mais jovem e o regresso de licenciados e profissionais às origens, devido à melhoria da qualidade de vida e à maior oferta de emprego. Mais projectos têm sido desenvolvidos e o mais recente, ainda em fase de planeamento, é a construção de um complexo turístico – Quinta da Arrábida – de investimento privado na Barragem do Monte da Rocha. Exemplos como estes são necessários para a divulgação de Produtos, de Regiões, não só a nível nacional, mas internacional também para que haja uma dinamização dos espaços Rurais e para que a visão de Portugal seja mais diversificada e integrada para além do produto mais que conhecido e reconhecido “Sol e Mar”. 10
  • 11. 5. Conclusão Em jeito de conclusão podemos afirmar que o turismo é um fenómeno de mobilidade, em constante desenvolvimento, efeito das mudanças socioeconómicas, políticas e culturais das sociedades contemporâneas e que se tem revelado um sector e actividade dinamizadores de espaços, especialmente os mais “distantes”, remotos e com menos atractividade para as populações. Estes territórios são a imagem do mundo rural actual, que sofre perturbações a nível demográfico, geográfico e económico, tendo uma imagem característica de abandono. Sendo o Turismo um fenómeno com excelentes oportunidades de oferta e com um constante remodelar de mercados, devido a toda a complexidade que é o ser humano, assistimos a um fenómeno que comporta todo um envolvente de práticas, que influencia directa e indirectamente a sociedade. O trabalho tem sido tema de abordagem como o meio de ter rendimentos, rendimentos esses que serão para poder consumir produtos e consequentemente lazer. Consumir, hoje em dia, é visto como lazer, divertimento e sociabilidade e que não se cinge apenas a adquirir coisas, mas a comprar, isso sim, uma identidade, que seja valorizada socialmente e que faz parte do nosso eu Narcisista. Mais que isso, gastar ou consumir é um DEVER, tornando-se assim o consumidor feliz uma necessidade e o lazer um dos consumos mais desejados. Actualmente o lazer associado ao consumo é uma “forma de expressão da flexibilidade, da diversidade, do efémero, do ecléctico e do simbólico” (Santos, 2009). Afirmamos, assim, convictamente que vivemos num mundo em que o individualismo e todas as suas formas inerentes governam. Os “EUS” são frequentes e a importância do indivíduo cada vez mais relevante através da valorização do tempo livre e das actividades associadas ao lazer que este pode efectuar enquanto despende deste. Num momento de polivalência de práticas, o consumo parece ser o elo e em que o indivíduo se apoia. Consumir hoje é uma prática comum e que leva o indivíduo a um estado superior de bem-estar. Esse consumo pode ser visível na compra de um livro, de roupa, de um carro ou de viagens. O que o liga ao lazer é a questão do bem-estar físico, emocional ou espiritual a que está associado, sendo que a sensação de liberdade é a que se pretende, apesar de ser discutível se esta será voluntária ou induzida. O Produto Estratégico “Gastronomia e Vinhos” será um produto de consumo que irá crescer a olhos vistos e que se tornará importante nesta sociedade contemporânea, devido não só à libertação do seu tempo de trabalho através da fruição de actividades de lazer, como do seu desejo individual e das suas escolhas, mas de certa forma através da sensação de pertença e da identidade que inevitavelmente o Turismo introduz na apropriação dos espaços e na aculturação frequente. 11
  • 12. 6. Referências Bibliográficas Cadima Ribeiro, José e outros (2001) O Turismo no Espaço Rural: uma digressão pelo tema a pretexto da situação e evolução do fenómeno em Portugal, Núcleo de Investigação em Políticas Económicas, Universidade do Minho, Braga Cardoso, António Maria Ferreira (2002) Turismo, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em áreas rurais, Observatório Medioambiental, Vol. 5, Instituto Politécnico de Viana do Castelo Cravidão, Fernanda Delgado (1996) Mobilidade, Lazer e Território, Cadernos de Geografia, nº15, Coimbra. Inácio, Ana Isabel (2006) O Enoturismo: da tradição à inovação, uma forma de desenvolvimento rural, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa Estanque, Elísio (Setembro de 1993) Classe, Status e Lazer, Oficina do CES, nº37, Centro de Estudos Sociais, Coimbra Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas Portugal Rural: Territórios e Dinâmicas Mendes, António Gama e Santos, Norberto Pinto dos (1999) Os Espaços- Tempos de lazer na sociedade de consumo contemporânea, Cadernos de Geografia, nº18, Coimbra. Santos, Norberto e Gama, António, coord. (2008) Lazer, Da libertação do tempo à conquista das práticas, Imprensa da Universidade de Coimbra, pp. 15-16, pp. 209-245 Turismo de Portugal, i.p. (2006) Plano Estratégico para o Turismo - 10 produtos estratégicos para o desenvolvimento do turismo em Portugal: Saúde e Bem-Estar, Lisboa 12
  • 13. 7. Índice Geral 1. Introdução.................................................................... pp. 1 2. Lazer, Turismo e Gastronomia: contexto histórico... pp. 2 - 5 3. História e Usos do Pão Alentejano…………………. pp. 6-7 4. Gastronomia e Vinhos como parte integrante da actividade turística………………………………………………. pp. 8-10 5. Conclusão……………………………………………. pp. 11 6. Referências Bibliográficas………………………….. pp. 12 7. Indíce Geral…………………………………………… pp. 13 8. Anexos……………………………………………….. pp. 14-18 8.1 Quadros…………………………………….. pp. 14-15 8.2 Receitas……………………………………... pp. 16-18 13
  • 14. 8. Anexos 8.1 Quadros Quadro 1: Períodos de Desenvolvimento do Turismo (Imitação e Segregação) Séc. Séc. XVIII Séc. XVIII/ Metade Fim Início XVII/ Início Séc. XIX Séc. XIX Séc. XX XVIII Séc. XIX Proprietários Grand Termas Estâncias Mar Alpinismo/ Viagem ao (Aristocracia Tour Balneares Mediterraneo no Mar Mundo e pequena Inverno /Viagem Mediterraneo nobreza) no Reno no Verão Burguesia X Grand Tour/ Termas Estâncias Mar Alpinismo/ Viagem Balneares Mediterraneo Mar Educacional no Inverno Mediterrane /Viagem no o no Verão Reno Pessoas de X X X Excursões de Estâncias Estâncias menores comboio balneares Balneares/ Recursos Termas Fonte: Cravidão, Fernanda Delgado (1996) 14
  • 15. Quadro 2: Perfil do Turista de Gastronomia e Vinhos Fonte: PENT – Gastronomia e Vinhos (2006) 15
  • 16. 8.2 Receitas5 GASPACHO À ALENTEJANA (Verão) Ingredientes 3 dentes de alhos ½ colher de sopa de sal 2 colheres de sopa de azeite 4 colheres de sopa de vinagre ½ pepino 2 tomates bem maduros 1 pimento verde 1,5 L de água fria 200 g de pão duro Orégãos q.b. Modo de preparação: Esmagam-se muito bem os dentes de alho num almofariz juntamente com o sal até se obter uma papa, que se coloca no fundo de uma terrina. Rega-se com o azeite, o vinagre e junta-se os orégãos. Pela-se o tomate e reduz-se a puré, que se adiciona ao preparado anterior. Em seguida corta-se em quadradinhos pequeninos, o pepino e o outro tomate, e o pimento em tiras fininhas. Introduzem-se na terrina, juntando-se de seguida a água fria. Na altura de servir, junta-se o pão cortado em cubos pequenos e serve-se bem fresco. AÇORDA ALENTEJANA Ingredientes 1 molho de coentros (ou um molho pequeno de poejos ou uma mistura das duas ervas) 2 a 4 dentes de alho 1 colher de sopa de sal grosso 4 colheres de sopa de azeite 1,5 L de água a ferver 400 g de pão caseiro (duro) 4 ovos Modo de preparação: Pisam-se num almofariz, reduzindo-os a papa, os coentros (ou os poejos) com os dentes de alho, e o sal grosso. Deita-se esta papa na terrina ou numa tigela. Rega-se com azeite e escalda-se com água a ferver, onde previamente se escalfaram os ovos (de onde se retiraram). Coloca-se este caldo sobre o pão cortado em fatias ou em cubos. Os ovos são colocados no prato ou sobre as sopas na terrina 5 Todas as receitas e imagens retiradas de: http://receitas-culinaria.org/?wpfb_dl=3 (excepto última imagem) 16
  • 17. SOPA DE TOMATE (Sopas de Tomate) Ingredientes 1 Kg de tomate maduro 2 a 3 cebolas médias 4 a 6 dentes de alho 2 folhas de louro 1 ramo de orégãos 1 pimentão verde Poejos (facultativo) Peixe ou ovo Sal Pão duro Modo de preparação: Pica-se o alho e corta-se a cebola às rodelas. Corta-se pimentão às tiras. Refoga-se tudo no azeite. Quando as cebolas começam a estar brandas, junta-se o tomate cortado em pedaços pequenos, o louro, os orégãos e os poejos. Tempera- se de sal. Depois de refogado, junta-se água. Quando levantar fervura, põe-se o peixe ou o ovo. Uma vez cozido, rectifica-se o sal, deita-se o caldo sobre as fatias de pão numa terrina e vai para a mesa. O peixe ou o ovo escalfado é servido à parte. MIGAS COM CARNE DE PORCO Ingredientes 1 kg de carne de porco: lombo, costelas e toucinho entremeado 3 dentes de alho 3 colheres de massa de pimentão 3 colheres de banha 1 pão duro Sal Modo de preparação: Tempera-se a carne de porco de véspera, envolvendo-a em massa de pimentão. Fritam-se na banha os dentes de alho e depois a carne até estar estaladiça. Põe-se a carne de lado e, no mesmo tacho, aproveitando a gordura, deita-se o pão às fatias e cobre-se com água a ferver. Deixa-se aboberar durante alguns minutos. Volta ao lume, mexendo bem com uma colher para homogeneizar a mistura. Quando se soltam das paredes, as migas estão prontas. Junta-se um bocadinho de gordura para fritarem e ficarem bem tostadinhas. Servem-se imediatamente, com a carne frita à volta. 17
  • 18. ENSOPADO DE BORREGO Ingredientes 1 borreguinho com 7 ou 8 kg a que se tiram as pernas e as costeletas para outros pratos 3 dentes de alho 1 folha de louro 1 dl de azeite 2 colheres de banha de porco 1 copo de vinho branco Sal e pimentas em grão Pão duro Modo de preparação: Corta-se o borrego em bocados. Frita-se o alho picadinho com o louro nas gorduras. Junta-se a carne, tempera-se de sal e pimenta e frita-se até dourar a carne. Acrescenta-se o vinho branco, tapa-se e deixa-se cozinhar em lume brando. Quando começar a ficar seco vão-se juntando pinguinhas de água quente, tendo o cuidado de ir mexendo para não pegar. À hora de ir para a mesa acrescenta-se a água a ferver necessária para molhar as sopas (o pão). Serve-se numa travessa funda sobre uma camadinha de fatias de pão duro muito finas. JANTAR DE GRÃO Ingredientes 1/2 kg de feijão ou grão 100 g de toucinho 1 chouriço pequeno 250 g de carne de borrego 1 osso de carne de porco com carne 2 batatas cebola tomate louro sal salsa água hortelã Modo de Preparação: Juntam-se o grão, as carnes, a cebola, o tomate, salsa, sal, louro e a água numa panela de barro e vai ao lume (tradicionalmente de lenha). Em substituição fazer em panela de pressão. Quando estiver quase cozido juntam-se as batatas. Numa tigela partem-se fatias de pão fininhas, junta-se um pouco de hortelã e deita-se o caldo cozido. Numa travessa coloca-se o grão e as carnes e serve-se. Fonte: http://paladaresdaisa.blogspot.com/2010/10/jantar-de-grao-minha-moda.html 18