“AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas comunidades Chico Mendes e Jardim Janaina”
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas comunidades Chico Mendes e Jardim Janaina
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Acadêmica: Letícia Silva Melo
Florianópolis, junho de 2010.
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AGRADECIMENTOS
A minha família por todo o apoio dado
Aos meus amigos pela amizade construída e preservada
Ao meu filho pelo sopro de vida que me deu para terminar esta jornada.
Te amo!!!
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SUMÁRIO
1. Delimitação do tema
2. Objetivo geral
2.1. Objetivo especifico
3. Formulação do problema
4. Hipótese
5. Justificação
6. Revisão bibliográfica
6.1. Agricultura urbana
6.2. Contexto da agroecologia
6.2.1. Prática agroecológicas
6.2.2. Adubação orgânica e Cobertura morta
6.2.3. Defensivos naturais e Controle de pragas
6.2.4. Rotação de culturas e Manejo do solo
6.2.5. Reciclagem do resíduo orgânico ( compostagem)
7. Histórico do CEPAGRO
7.1. Histórico Biguaçu
7.2. Histórico Chico Mendes
8. Metodologia
9. Resultados e Discussões
10. Considerações Finais
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LISTA DE ABREVIATURAS
AU – Agricultura Urbana
ASA – Ação Social Arquidiocesana
ASSJE – Ação Social da Igreja São João Evangelista
AS-PTA – Alternativa Assessoria e Serviços a projetos em Agricultura
CESE
CEASA
CEPAGRO – Centro de estudo e Promoção da Agricultura de Grupo
FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
HC – Horta Comunitária
IFPRI – International Food Policy Research Institute
MEC – Ministério da Educação
NEAD - Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural
ONG – Organização Não Governamental
REDE – Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas
SEAG-ES- Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca do Espírito Santo
SESAN- Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional.
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Principais adubos orgânicos e seus eleitos químicos e biológicos
Figura 2: Horta Comunitária locada na Igreja São João Evangelista
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Estratégias para o controle de pragas e suas praticas adotadas na agroecologia.
Tabela 2: Cidade de origem, grau de escolaridade e profissão das entrevistadas.
Tabela 3: Renda familiar em reais (RF) dos entrevistados, RF per capita e número de integrantes da família.
Tabela 4: Mudas plantadas na Horta comunitária Jardim Janaina
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1. Delimitação do Tema
Atualmente a Educação Ambiental é uma peça chave para o desenvolvimento, formação e conscientização das pessoas, quanto à degradação do Meio Ambiente. No entanto, para muitas delas ainda é um assunto desconhecido.
Na sociedade em que vivem, bilhões de pessoas, grande parte dos recursos naturais é explorado, e a maioria dos espaços onde a civilização ocupa sofre intensa modificação. Alem das intervenções no ambiente ocorrem vários distúrbios na sociedade, tais como: desigualdade social, falta de emprego, problemas no sistema de saúde, nas relações de convivência e a violência como um todo.
A agricultura moderna utiliza indiscriminadamente os recursos naturais. Alem de gerar muitos resíduos e degradar os espaços ocupados, exclui famílias criando riscos à saúde.
Diante deste contexto de degradação, na década de 80 surge o conceito de sustentabilidade. Ele passou a ser utilizado e indica novas propostas nas áreas de economia, social e ambiental, objetivando a busca de outra forma de desenvolvimento.
É nesse contexto que a Agricultura Urbana (AU) se encaixa, incentivada como forma de combater a insegurança alimentar e nutricional que atinge as comunidades carentes, contribuindo para a conservação da biodiversidade e a melhoria da qualidade de vida urbana.
A criação de Horta Comunitária (HC) é uma iniciativa, que busca o desenvolvimento de comunidade de baixa renda, levando esta a uma melhor inclusão social e efetivação do exercício da cidadania, através de atividades que tenham como objetivo a promoção da saúde, ações educativas voltadas a aspectos ambientais e sociais.
Na AU vários princípios da Agroecológia são utilizados, buscando manter a agricultura como uma atividade menos impactante ao meio ambiente, com melhores contribuições às populações, proporcionando um ambiente saudável, tendo como resultado alimentos de boa qualidade, equilíbrio das famílias e das relações de cidadania.
Neste sentido, este trabalho visa identificar práticas de AU. O estágio será executado através do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (CEPAGRO), a ser realizado na cidade de Florianópolis no bairro Monte Cristo, na comunidade Chico Mendes e no município de Biguaçu, no bairro Jardim Janaina.
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Tendo este como objetivo, o gerenciamento comunitário dos resíduos orgânicos de forma articulada em instituições de ensino, entidades comunitárias, iniciativa privada e poder público. Para a coleta dos resíduos e transformação deste em composto orgânico a serem utilizados em hortas escolares, quintais e espaços comunitários.
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2. Objetivo Geral
Acompanhar o andamento dos Projetos de Agricultura Urbana nas comunidades Jardim Janaina e Chico Mendes.
2.1. Objetivo Específico
•Visitar, implantar e acompanhar os projetos de AU.
•Desenvolver práticas de AU a partir dos princípios da agroecologia
•Avaliar o desenvolvimento dos projetos e seus participantes.
3. Formulação do Problema
Muitas famílias saem do meio rural em busca de melhores condições de vida, entretanto, nem todas as pessoas conseguem ter uma vida melhor do que a que tinham no meio rural. A falta de emprego aliado à falta de especialização para o trabalho dificulta a possibilidade de se ter uma vida melhor. Nesse contesto grande parte dos moradores que formam as comunidades de periferia das cidades, são de origem rural, devido à falta de recursos financeiros, baixa escolaridade aliados a falta de medidas publicas com sistema de esgoto adequado, assistência a saúde e moradia, muitas dessas pessoas vivem em condições de miséria, vivendo de doações e sem nenhuma noção de higiene o que eleva a agravar os problemas fitossanitários da comunidade.
Por conta disso foi feito contado com as lideranças locais, quando foi feita a exposição do projeto. Na apresentação foi deixado claro a sua viabilidade social e econômica, com um provável bom resultado as comunidades envolvidas.
4. Hipótese
A educação ambiental e alimentar se inserem nos temas transversais de Meio Ambiente e de Saúde. A horta e a coleta do resido orgânico para produção de composto oferece vastas possibilidades de se desenvolver educação ambiental e alimentar, numa perspectiva ampla e contextualizada, por se tratar de uma ferramenta capaz de agregar diversos campos do conhecimento.
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5. Justificação
Com o crescente êxodo rural, onde famílias inteiras mudan- se para as cidades em busca de uma melhor condição de vida, segurança alimentar e educação. O nível de qualidade de vida das comunidades urbanas vem baixando cada vez mais, gerando nos grandes centros urbanos uma maior demanda na busca de empregos e moradia.
Nem sempre quem se muda para as grandes cidades consegue estabelecer uma vida melhor do que a que tinha no campo, o que leva estas pessoas a morarem nas periferias das cidades e quase sempre em precárias condições de vida. Devido à falta de capacitação muitos vivem de empregos informais e sem nenhuma segurança alimentar.
Na busca por alternativas para este problema, a AU dentro das comunidades busca melhorar a qualidade de vida das famílias. “Neste ponto a agricultura urbana, desenvolvida de forma planejada, promove diversas melhorias nas estruturas sociais de uma região, pois favorece o dialogo e a integração familiar, assim como estimula o trabalho comunitário e coletivo, além de ser um trabalho recreativo e útil” (SIAL & YURJEVIC, 1993) citado por Abreu (2004, p.11).
A partir dos princípios agroecológicos tenta-se fornecer e garantir um meio ambiente equilibrado com educação ambiental, segurança alimentar e geração de renda.
Sendo assim este projeto buscou resgatar as heranças rurais e possibilitar uma melhor alimentação para as famílias, vista que muitos vieram de áreas rurais. O cultivo em HC, quintais, escolas e a coleta de resíduos orgânicos, visam melhorar as condições de higiene e saúde da comunidade.
Porem a oportunidade de praticar um bem social ecológico, ajudar, tecer amizades, e adquirir conhecimentos são fundamentais para o bom desenvolvimento do trabalho.
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6. Revisão Bibliográfica
6.1. Agricultura Urbana
De acordo com UN-HABITAT (2007), em 1976, um terço da população mundial vivia em cidades, Trinta anos depois, metade da população do mundo vive em centros urbanos e até 2050 espera-se que chegue a 60% da população mundial, totalizando seis bilhões de pessoas. Especialmente em países em desenvolvimento ocorre um crescimento desordenado, com até 50% da população vivendo em situações precárias de habitação, saneamento, saúde e serviços. (UN-HABITAT, 2007) citado por (VIEIRA, 2009).
Segundo autor Van Veenhuizen (2006) ressaltado por (VIEIRA, 2009) afirmam que 40% da população da Cidade do México e um terço da de São Paulo vivem abaixo da linha da pobreza. A América Latina é considerada a região mais urbanizada dos países em desenvolvimento, com mais de 75% da população vivendo em cidades, número que segundo previsões deve subir para 81%, em 2020. Nessa região, com exceção do Brasil, o padrão de urbanização de vários países consiste em apenas uma grande cidade, concentrar grande proporção da população urbana.
Um dos maiores desafios que a humanidade tem enfrentado é o crescimento populacional e o aumento da urbanização. Em 1998, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) sinalizava que a população da época já ultrapassava mais de seis bilhões divididas igualmente entre as cidades e as áreas rurais, com a expectativa de que por volta de 2005 as áreas urbanas ultrapassassem as áreas rurais em termos populacionais (FAO-SOFA, 1998). Outro estudo indica que em 2015, 26 cidades no mundo deverão ter uma população de 10 milhões ou mais de pessoas. Para alimentar uma cidade deste porte - Tokyo, São Paulo, Cidade do México – pelo menos 6000 toneladas de alimentos serão necessárias por dia (UN, 2004). (CRIBB & CRIBB, 2009).
Em países em desenvolvimento, a capacidade dos governos em administrar este crescimento urbano, tem sido muito difícil (Drescher, Jacobi e Amend 2000) ressaltado por (CRIBB & CRIBB, 2009). Encontrar meios de fornecer alimentos, moradia e serviços básicos aos habitantes de uma cidade é desafio para as autoridades de muitas cidades do mundo. Segundo os autores citados acima, a segurança alimentar nos grandes centros depende de vários fatores, dentre os quais, destacam-se:
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· disponibilidade de alimentos - (nas áreas urbanas e rurais) referente à produção, comercialização e distribuição de alimentos, infra-estrutura, disponibilidade de combustível;
· acesso a alimentos - depende do poder aquisitivo das famílias, produção de subsistência, vínculos campo-cidade, etc.;
· qualidade do alimento - depende da conservação do alimento, da qualidade da produção, do abuso de pesticidas durante as etapas produtivas, da qualidade da água utilizada na produção, como se apresentam as condições sanitárias nos mercados.
O rápido crescimento populacional nas cidades é causado não só pela migração da população rural para os centros urbanos, mas também pelo seu crescimento nas próprias cidades. Desemprego, baixa qualidade dos serviços básicos e a falta de alimentos são algumas conseqüências desse crescimento, alem da elevada densidade populacional e a carência de planejamento urbano. (CRIBB & CRIBB, 2009).
Para uma correta compreensão de agricultura urbana devem-se levar em consideração as várias atividades familiares, para obter segurança alimentar e para gerar renda. A produção alimentar individual e comunitária nas cidades vai ao encontro de necessidades adicionais da população urbana, tais como desenvolvimento urbano sustentável, geração de emprego e renda, proteção ambiental, entre outros aspectos (IFPRI 1998, Smit, 1994). (CRIBB & CRIBB, 2009).
O conceito de agricultura urbana começou a ser estudado e experimentado no Brasil recentemente, com resultados bastante interessantes, mas ainda isolados. Já em outros países, a pesquisa agropecuária desenvolvida nas cidades é bastante adiantada, a exemplo de Cuba conforme o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural. . (NEAD, 2003)
A agricultura urbana e peri urbana se desenvolvem dentro dos limites ou ao redor das cidades de todo o mundo, incluindo atividades agrícolas propriamente ditas, mas também atividades pecuárias e florestais e serviços ambientais associados (FAO,1999).
Conforme a localização surge as denominações agricultura, intra-urbana e peri urbana. A agricultura intra-urbana é praticada no interior das cidades aproveitando espaços vazios como terraços, pátios residências ou áreas subutilizadas como as margens de rios ou rodovias, espaços impróprios para construção civil (próximos a aeroportos, embaixo de redes elétricas), além de áreas públicas ou privadas com potencial para serem cultivadas. De maneira geral, a agricultura intra-urbana é de menor escala e orientada para a subsistência. (FAO, 2007).
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Já agricultura peri-urbana é praticada nos arredores ou periferias das cidades. As dinâmicas destes locais – urbanização crescente, migração de populações rurais e urbanas e aumento do preço da terra fazem com que este tipo de sistema de produção esteja em constante transformação, com tendências a uma escala menor e uso mais intensivo. Em diversos países como Cuba, Argentina, Líbano e Vietnam os empreendimentos agrícolas localizados nas bordas das cidades são, de maneira geral, maiores que aqueles situados dentro dos centros urbanos e tendem a ser mais orientado para o mercado. (FAO, 2007).
A agricultura urbana pode ser realizada em pequenas áreas dentro de uma cidade, tais como jardins, terrenos baldios e escolas ou no seu entorno (Peri- urbana), sendo esta destinada à produção de cultivos para o consumo próprio ou para a venda em pequena escala (ROESE, 2003).
Um do aspecto em que a agricultura urbana difere da rural é o ambiente. “A agricultura urbana pode ser realizada em qualquer ambiente urbano ou periurbano, podendo ser praticada diretamente no solo, em canteiros suspensos, em vasos, ou onde a criatividade sugerir” (ROESE, 2003). Segundo Jacob & Amend (2007, p.2) o sistema agrícola urbano é uma combinação de muitas atividades diferentes: a horticultuta, a produção de alimentos básicos, a coleta, a caça e inclusive a silvicultura.
As hortaliças constituem um grupo de alimentos ricos em substâncias nutritivas variadas, podendo contribuir para amenizar o desequilíbrio nutricional (CARDOSO, 1997) citado por FRAXE e outros 2005. Desta forma o cultivo de hortaliças em um espaço coletivo é uma alternativa promissora para elevar a segurança alimentar, pois, visa o aumento na oferta de alimentos de elevado valor nutritivo, melhoria nas condições de vida de grupos sociais em situação de insegurança alimentar e estimulo para a produção de hortaliças para o consumo e comercialização, através de técnicas de produção de alimentos por meio de processos educativos e agroecológicos (FRAXE e outros 2005).
Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN, 2007), a AU é multifuncional, pois, tem como objetivo abranger a produção, a transformação, a comercialização e a prestação de serviços para a geração de produtos agrícolas e pecuários, de forma a aproveitar os recursos locais, tais como, solo, água, resíduos, mão-de-obra e saberes.
Até recentemente acreditava-se que a agricultura em geral e a produção de alimentos que abastecia as populações urbanas só eram realizadas na zona rural. Mas a
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agricultura urbana, mesmo sendo uma prática antiga, só agora tem despertado o interesse de pesquisadores, governos locais, ONGs e movimentos sociais. Hoje, tem-se detectado o fenômeno de um número crescente de moradores urbanos que se dedicam às atividades agrícolas, especialmente nos países menos desenvolvidos (WEITZMAN, 2007)
Assim conforme Monteiro; Mendonça, (2007). Uma das principais contribuições sociais da agricultura urbana é em relação à segurança alimentar das populações de baixa renda que vivem nas grandes áreas urbanas. Uma característica que se manifesta de forma repetitiva em meio a essas famílias se deve à combinação de dois fatores interdependentes: a dificuldade de acesso aos alimentos em razão dos baixos níveis de renda familiar e a tendência à homogeneização dos hábitos alimentares, em que prevalece a baixa qualidade nutricional das dietas, em geral carentes de vitaminas e sais minerais.
Segundo a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca do Estado do Espírito Santo (SEAG-ES) a olericultura é uma atividade agroeconômica altamente intensiva em seus mais variados aspectos, em contraste com outras atividades agrícolas extensivas. (SEAG-ES, 2007). Os produtos advindos da área da horticultura são responsáveis por uma renda per capita que somente perde para o setor das grandes culturas (FILGUEIRA, 2000).
Na produção de hortaliças, o horticultor enfrenta problemas que contribuem para a baixa produtividade, dentre esses, as pragas e doenças (GALLO et al, 2002). Para MAKISHIMA (1993), as pragas que causam danos às hortaliças são: lagarta (Oryzophagus oryzae), pulgão (Metopolophium dirhodum), ácaros (Polyphagotarso nemus), entre outros.
Segundo Dias (2000), a agricultura urbana proporciona a saúde como um todo. Tendo em vista que a saúde está diretamente ligada as condições ambientais, e em comunidades de baixa renda, o nível de doenças se intensificam. Devido a baixa qualidade dos alimentos consumidos e a exposição constante a agentes externos, pois, parte dos quintais domésticos e terrenos ociosos tornam-se depósitos para lixos e entulhos. A utilização dessas áreas para o plantio e outras formas de produção leva a melhoria do ambiente local e assim diminuindo a proliferação de vetores de doenças, como ratos e insetos. Ressaltado por (MACHADO E MACHADO 2002).
Sendo assim, conforme os autores mencionam a implantação e desenvolvimento de Hortas Comunitárias (HC) propicia a promoção da saúde da população onde ela está
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inserida, através de ações educativas, trabalhar aspectos ambientais, sociais e educativos, criar vínculos afetivos e solidários entre os participantes e a comunidade local, promover a segurança alimentar e agregar valores a renda das famílias através da produção de alimentos sadios (GALLO, SPAVOREK & MARTINS, 2004).
Hortas urbanas e comunitárias são hortas instaladas nas comunidades, nas quais os próprios moradores trabalham em coletividade produzindo hortaliças, as quais podem ser utilizadas para consumo próprio e o excedente comercializado (ROSA, 1995).
Conforme Philippi (1999) citado por FRAXE (2005) ressalta que a educação e a conscientização são fundamentais a qualquer programa que se queira conduzir e para que ele se sustente e se enraíze na sociedade. A busca da cidadania ambiental faz parte de uma dinâmica participativa e solidária, que pode transformar profundamente os lugares e as comunidades em que se implanta.
A recreação proporciona a oportunidade de realização de atividades ao ar livre, em contato com a natureza, podendo ser desenvolvidas atividades como o plantio e a manutenção, o que desenvolve também o espírito de equipe (ARRUDA, 2006). A educação ambiental serve de apoio e alternativa para as atividades da rede formal de ensino (VASCONCELLOS, 2006).
Segundo Stapp et al. (1969) definiram educação ambiental como um processo que deve objetivar a formação de cidadãos, cujos conhecimentos acerca do ambiente biofísico e seus problemas associados possam alertá-los e habilitá-los a resolver seus problemas.
Para Mellowes (1972) a educação ambiental seria o processo no qual deveria ocorrer um desenvolvimento progressivo de um senso de preocupação com o meio ambiente, baseado em um completo e sensível entendimento das relações do homem com o ambiente a sua volta.
A problemática ambiental é uma das principais preocupações da sociedade moderna, desencadeando, por isso, uma serie de iniciativas no sentido de reverter á situação atual de vida na terra. Uma dessas iniciativas e a Educação Ambiental que as instituições de educação básica estão procurando implementar, na busca da formação de cidadãos conscientes e comprometidos com as principais preocupações da sociedade (SERRANO, 2003).
Para o Ministério da Educação (MEC), para que um programa de Educação Ambiental seja efetivo deve promover o desenvolvimento de conhecimentos, de atitudes e habilidades necessárias á preservação e melhoria da qualidade ambiental (MEC,
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2008). Há experiências positivas no que se tem chamado de Cidadania Ambiental, e esse é um dos interesses que se quer obter com a implantação das HC, e assim difundir técnicas agroecológicas e cidadania (MEDEIROS e outros 2005).
6.2. Contexto da Agroecologia
Surge na América Latina o movimento denominado de Agroecologia, que procura atender as necessidades de preservação ambiental e de promoção sócio-econômica.
Destacando-se no movimento o chileno Miguel Altieri que populariza a disciplina. Seu trabalho ligou a valorização da produção familiar camponesa como o movimento ambientalista na América Latina. (KHATOUNIAN, 2001)
Na agroecologia tem-se como principio otimizar e aperfeiçoar o uso da luz sol dos nutrientes do solo e a chuva, de acordo com PAULUS(2001), SOUZA (2003), citado por CONTI (2009).
Buscando-se trabalhar a conservação do solo, não utilizando a aração e gradagem sucessivas, plantas invasoras são trabalhadas com ervas e culturas, insetos são controlados, pois se trabalha com o principio de não destruir seus predadores nativos e o seu habitat. Defende-se a não utilização de agrotóxicos e sim, buscas-se manter as plantas fortalecidas e assim não suscetíveis ao ataque de patogênos, a não utilização de adubos solúveis.
Para que a planta receba uma nutrição adequada e se desenvolva bem tanto fisiologicamente quanto metabolicamente, é necessário que o solo seja fértil e biologicamente ativo, com muita matéria orgânica, com diversidade de vegetais, insetos e microorganismos. Quanto maior for à concentração de matéria orgânica no solo, mais vida terá este e mais equilibrada será a planta que nele se desenvolvera.
6.2.1. Práticas Agroecológicas
Conforme os autores Khatounian (2001), Altieri (2002) e Howard (2007), existem diversas práticas Agroecológica que podem ser adotadas, tais como as citadas abaixo.
6.2.2. Adubação orgânica e Cobertura morta (Palha)
Principais adubos orgânicos e seus eleitos químicos e biológicos:
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efeito biologico
palhada cereais
esterco bovino composto
vermi composto
palhada leguminosa
esterco porco
esterco aves
esterco movido aves
esterco líquido suíno
efeito quimico
Figura 1: Khataunian 2001
A palhada de cereais tem efeito biológico, associado à decomposição da
biomassa, material celulósico, no extremo oposto, o esterco liquido de suínos composto
de material de conteúdo celular, apresenta efeito químico.
A figura mostra três classes de adubos orgânicos celulósicos ou de efeito lento e
duradouro (palhada de cereais e esterco de ruminantes), conteúdo celular, com efeito,
mais rápido (palhada leguminosas, esterco de aves e suíno) e intermediário (composto e
vermicomposto).
Os materiais com baixo teor de celulose e elevado teor de substâncias amiláceas e
protéicas produzem um rápido efeito sobre as plantas. É o caso dos estercos e urina de
animais, essa rapidez deve-se, sobretudo a ação de microorganismos que liberam em
pouco tempo a maior parte dos nutrientes disponíveis em especial o nitrogênio.
Adubos ricos em celulose como a palhada os efeitos químicos demoram mais a se
revelar, embora os benefícios físicos sejam evidentes, devido à ação como cobertura. Se
incorporada a palhada tem excelente efeito físico, entretanto este é acompanhado pela
imobilização do nitrogênio do solo, de modo que se recomenda a utilização da palhada
como cobertura morta, e assim auxiliando na ativação biológica da mesofauna. A
atividade de pequenos animais como artrópodes e anelídeos melhora o arejamento do
solo e criam-se condições para uma vida microbiana ativa e equilibrada.
6.2.3 – Defensivos Naturais e Controle de Pragas
Os fertilizantes sintéticos substituem a simbiose entre plantas e as bactérias
fixadoras N, dominam os agroecosistemas, não trabalham com eles, os fungicidas e
inseticidas substituem os mecanismos naturais que são expressivos pelos predadores e
parasitas.
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O uso de métodos diretos e não químicos de controle de pragas é adotado na
agroecologia, ou seja, praticas culturais, mecânicas, físicas e biológicas, conforme
descrito na tabela abaixo.
Tabela 1: Estratégias para o controle de pragas e suas praticas adotadas na agroecologia.
Estrategia Práticas
Controle mecânico e físico
espantalhos, efeitos sonoros,
ensacamento de frutos e vagens,
destruição de ninhos de formigas,
catação manual, remoção de plantas
infestadas, poda seletiva, aplicação de
materiais (cinza, fumaça, sal, água com
sabão, etc
Práticas culturais
consórcio, sobresemeadura, mudança da
época de plantio, rotação de cultura,
capina seletiva, uso de vaciedades
resistentes, manejo do uso de
fertilizantes, água, tecnicas de preparo do
solo e decultivo.
Controle biológico
manejo da diversidade das plantas
cultivadsa, uso de animais (ganso, pato,
galinha)
Uso de inseticida
uso de inseticidas a base de vegetais,
uso de plantas ou partes de plantas como
repelentes ou atrativos.
Fonte: Altieri, 2002. Adaptado
6.2.4 – Rotação de Culturas e Manejo do Solo
O manejo do solo em agricultura orgânica é orientado para a ativação e a
alimentação dessa fração viva. O solo é um organismo vivo, e necessita de alimentação
e proteção, sendo a alimentação feita pela biomassa e oxigênio, para nutrição de
microorganismos e da mesofauna. A proteção é importante, pois é ela que fornece a
manutenção da umidade, da temperatura e da porosidade adequada ao desenvolvimento
dos organismos do solo, a proteção do solo atua na incidência direta do sol, e chuva.
Uma vez que no solo se apliquem tratos químicos (adubação química) e
mecanismos (aração e gradagem) ele se tornará um corpo mineral, perdendo assim sua
atividade biológica, o solo vai se mineralizando restando apenas no seu interior raízes
das culturas e os organismos que são associados às pragas e doenças.
Neste contexto observa-se a queda no rendimento das culturas e a baixa
resposta a adubação mineral, doses cada vez maiores de agroquímicos vão se tornando
necessárias.
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De maneira oposta, a Agricultura Orgânica tem seu manejo orientado para estimular a atividade biológica do solo, incluindo a mesofauna e os microorganismos. Através do fornecimento da biomassa, da proteção do solo (palhada) e da aplicação de produtos naturais rico em nutrientes, que são solubilizados pelos organismos presentes na biota do solo, como plantas superiores, fungos, bactérias e liquens.
A Rotação de Culturas consiste na prática de não repeti uma mesma cultura em uma mesma área ano após ano. O plantio de uma mesma cultura repetidas vezes no mesmo local leva a menor eficiência na utilização dos nutrientes do solo, empobrecimento da fertilidade deste acarretando uma menor produtividade e aumento na incidência de pragas e doenças.
O rodízio de áreas é uma prática em que, deve-se estabelecer o plano de rotação mais adequado para a situação de cada área, observando quais as espécies se adaptam melhor ao solo e clima da área em que será plantado. As culturas podem ser de uma mesma família de acordo com suas necessidades nutritivas e resistência às pragas e doenças. Em uma horta caseira, por exemplo, a rotação de culturas deve contemplar uma variedade de diferentes famílias e diversas espécies, sendo que estas fazem uma utilização dos nutrientes do solo de forma diferenciada e apresentam diferentes problemas fitossanitários, o que evita uma sucessão de desequilíbrios ecológicos e o conseqüente ataque de pragas e doenças.
6.2.5. Reciclagem de resíduos orgânicos (compostagem)
O destino do lixo urbano é um problema atual na sociedade. Por isso soluções adequadas e comprometidas com questões ambientais, econômicas e sociais, são fundamentais para a solução deste problema. Sendo os resíduos urbanos caracterizados como:
Resíduos domiciliares: aqueles gerados nas residências, constituídos por restos de alimentos, materiais potencialmente recicláveis, além de lixo sanitário e tóxico.
Resíduos comerciais: provenientes das atividades comerciais e de serviços, tais como supermercados, bancos, lojas, bares e restaurantes.
Resíduos públicos: originados dos serviços de limpeza pública urbana, tais como varrição de vias, praias, córregos e restos de podas de árvores e de feiras livres.
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Entulho: resíduos da construção civil, como materiais de demolição e restos de obras. Contém materiais inertes1 e também resíduos tóxicos, como tintas e solventes.
E as alternativas de tratamento e deposição do lixo urbano geralmente são apresentadas da seguinte forma:
Aterro comum, vazadouro ou lixão: é a forma de disposição mais prejudicial ao ambiente e ao homem, na qual os resíduos são dispostos a céu aberto, diretamente sobre o solo e sem nenhum tipo de tratamento ou controle sanitário/ambiental.
Aterro controlado: a disposição é feita sem tratamento, como nos lixões, mas os resíduos são posteriormente cobertos com material inerte ou terra, para evitar a presença de vetores de doenças.
Aterro sanitário: é o processo de disposição de resíduos no solo com fundamentos em critérios de engenharia e normas operacionais específicas. É realizada a impermeabilização do solo, sistemas especiais fazem a drenagem do chorume e a captação do gás liberado; os resíduos são devidamente compactados e posteriormente cobertos, permitindo um confinamento seguro em termos de proteção e de controle da poluição ambiental.
Nessa problemática atual, uma alternativa para suprir a demanda do resíduo orgânico é através do método de compostagem. A compostagem é um processo de oxidação biológica, portando com presença de oxigênio, através do qual, microrganismos decompõem os constituintes dos materiais orgânicos do lixo em material estável e utilizável na preparação de húmus, libertando dióxido de carbono, vapor de água e calor suficiente para que a temperatura no interior da leira alcance 70 °C (por isso o termo termofílica). Esse processo orgânico de reciclagem a matéria orgânica “é toda substancia morta que provenha de plantas, animais microorganismos ou excreções” é decomposta e retorna para o solo na forma de adubo.
7. Histórico do CEPAGRO em Agricultura Urbana
O CEPAGRO “Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo” é uma organização não-governamental fundada em 1990 e caracteriza-se por ser uma ONG que trabalha em rede e possuem forte ligação com organizações de base, com instituições de pesquisa e extensão, instituições governamentais e não governamentais. Atuam na área da agricultura familiar e desenvolvimento sustentável no Estado de Santa
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Catarina. Sua cede está localizada no centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Desde 2005, o CEPAGRO vem se envolvendo com AU e, atualmente, desenvolve trabalhos em quatro localidades nas cidades de Florianópolis e Itajaí. Na capital, as atividades concentram-se no Sul da Ilha e no Bairro Monte Cristo (no continente). Em Itajaí, as atuações são realizadas em duas comunidades: Portal I e São Vicente. As atividades em AU visam apoiar e assessorar grupos organizados em parcerias com entidades civis ou com o poder público para a produção de alimentos orgânicos em hortas comunitárias, em quintais domiciliares, em escolas e creches.
Em 2007 o município de Biguaçu se engajou ao CEPAGRO, com o intuito de construir uma horta comunitária, no bairro Jardim Janaina, periferia do município.
Esses projetos são apoiados financeiramente por organizações internacionais de cooperação que apostam nessas metodologias de trabalho e na melhoria da qualidade de vida dos moradores das periferias em todo o mundo. O CEPAGRO também compõe uma articulação nacional de entidades com atuação em AU, com parcerias com ONGs de Belo Horizonte (REDE) e Rio de Janeiro (AS-PTA). Os objetivos desta articulação são a troca de experiências entre as entidades, intercâmbio de técnicos e agricultores urbanos e ainda a construção coletiva de projeto