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1
O PASSO-A-PASSO DE UMA
NA GESTÃO COMUNITÁRIA
DE RESÍDUOS ORGÂNICOS
Agricultura
URBANA
COMPOSTAGEM E
REVOLUCAO
2
EXPEDIENTE
CEPAGRO – Centro de Estudos e
Promoção da Agricultura de Grupo
Diretor Presidente: Eduardo Daniel
da Rocha
Vice Diretora Geral: Erika Sagae
Diretora Administrativa:
Maria Dênis Schneider
Diretor Financeiro:
Rafael Beghini Ruas
Coordenador de Projetos Rurais:
Charles Onassis Peres Lamb
Coordenador de Projetos Urbanos:
Marcos José de Abreu
Coordenador de Comunicação:
Fernando Angeoletto
Cartilha “O passo-a-passo
de uma Revolução –
compostagem e agricultura
urbana na gestão comunitária
de resíduos orgânicos”
Conselho Editorial e Textos:
Fernando Angeoletto, Júlio
César Maestri, Oscar José Rover
e Marcos José de Abreu
Edição e Fotografia:
Fernando Angeoletto
Ilustrações, Projeto Gráfico
e Editoração Eletrônica:
Juliana Duclós
Florianópolis, maio de 2016
3
O PASSO-A-PASSO DE UMA
NA GESTÃO COMUNITÁRIA
DE RESÍDUOS ORGÂNICOS
Agricultura
URBANA
COMPOSTAGEM E
Apoio
4
APRESENTAÇÃO
No tocante ao saneamento urbano, a perspectiva agrônomica
é ainda um horizonte distante como medida predominante no
tratamento da fração orgânica. Porém, considerada esta como a
maior parcela do lixo doméstico, estimada em 51,4%, as soluções
que minimizam a demanda por aterros sanitários podem ser
consideradas verdadeiras revoluções – é o caso da Revolução dos
Baldinhos, experimentada como combate a um surto de ratos
na comunidade onde nasceu e transformada ao longo dos anos
em um modelo de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos.
Esta publicação avalia a importância do aproveitamento da
fração orgânica como matéria prima, discutindo a cadeia
da reciclagem e a maneira com que a comunidade Chico
Mendes (Florianópolis) se organizou até tornar-se uma
referência nacional em compostagem e agricultura urbana.
Tão fundamental quanto promover o saneamento, o método
da Revolução dos Baldinhos provou ser possível promover
cidadania e educação ambiental através de uma completa
mudança de foco na relação com o “lixo”. Ao longo das
páginas seguintes, registros desta trajetória compartilham
inspirações e parâmetros para sua livre reprodução.
5
CAPÍTULO 1
Gestão local dos resíduos sólidos orgânicos................................................................................06
Segregando os resíduos para favorecer a cadeia da reciclagem ......................................10
CAPÍTULO 2
A Revolução dos Baldinhos .................................................................................................................12
CAPÍTULO 3
Caracterização do Modelo de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos .................20
CAPÍTULO 4
Outros arranjos e modelos para realizar a Gestão Comunitária de
Resíduos Orgânicos..................................................................................................................................30
CAPÍTULO 5
Elementos para o sucesso da Gestão Comunitária..................................................................34
CAPÍTULO 6
Interface com políticas públicas........................................................................................................37
CAPÍTULO 7
Benefícios da Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura
Urbana...........................................................................................................................................................38
Índice
66
GESTÃO LOCAL
DOS RESÍDUOS
SÓLIDOS
ORGÂNICOS
O
gestão dos resíduos sólidos
nas cidades, que engloba
desde os funcionários, os
equipamentos utilizados,
caminhões, serviço de limpeza e co-
leta e a destinação final, está entre
os maiores gastos das prefeituras.
Em grande parte dos casos, os ater-
ros sanitários para destinação final
são administrados por empresas
terceirizadas, com uma taxa exclu-
siva por tonelada de resíduos envia-
da. Além de oneroso, este modelo
padrão tem como consequência o
descarte irregular dos materiais
passíveis de reciclagem.
Quanto mais próximo da geração
dos resíduos se dá o trabalho de tria-
gem e reciclagem, melhor se dá o pro-
cesso de sensibilização, pelo fato das
pessoas da comunidade verem de per-
to todas as famílias envolvidas e o re-
sultado desse processo, criando o ciclo
da correta separação e destinação. As-
sociações e cooperativas de catadores
77
e recicladores podem contribuir de
maneira significativa na gestão mu-
nicipal dos resíduos sólidos, tanto
pela coleta de casa em casa ou nos
PEV’s (Pontos de Entrega Voluntá-
ria), como recebendo nos galpões os
materiais da coleta seletiva, triando
e encaminhando para as indústrias.
No tocante à gestão dos resíduos
sólidos orgânicos, nossa condição
de país tropical demanda agilida-
de na operacionalização, já que as
altas temperaturas influenciam di-
retamente na velocidade da decom-
posição do material. Devido a isso,
a coleta desta fração do “lixo” deve
atender a um período fixo, de duas a
três vezes por semana. Atualmente
essa periodicidade na coleta é feita
apenas para os rejeitos, visto que
praticamente nenhuma cidade bra-
sileira recicla seus resíduos orgâni-
cos, ficando estes misturados com
outros materiais.
Um dia de rotina em
frente ao galpão da
Revolução dos Baldinhos.
No local, bolsistas e
o grupo comunitário
realizam tarefas internas,
como peneiramento e
ensacamento de adubo, e
preparam-se para visitas
às famílias do projeto
8
dos resíduos
orgânicos
são água
70% Resíduos
compostáveis
orgânicos
Recicláveis secos
Rejeitos
35%
15%
COMPOSIÇÃO DO LIXO DOMÉSTICO URBANO
50%
Compostos em
grande proporção
por água, os resíduos
orgânicos são passíveis
de tratamento
local e desvio do
aterro sanitário
99
O que se busca com a gestão des-
centralizada é inverter a lógica de
enviar tudo para o aterro sanitário,
através da coleta frequente dos resí-
duos compostáveis orgânicos - o que
diretamente qualifica os resíduos re-
cicláveis secos, que podem ser coleta-
dos mais espaçadamente, bem como
os rejeitos, que serão reduzidos.
De tudo que produzimos e desti-
namos aos aterros sanitários, cerca
de 50% são resíduos compostáveis
orgânicos, 35% recicláveis secos e
apenas 15% rejeitos. A média nacio-
nal que cada um de nós produzimos
é de aproximadamente 1 kg de resí-
duos por dia, sendo que a maioria é
enterrada em aterros ou lixões.
A gestão dos resíduos sólidos or-
gânicos fica facilitada quando reali-
zada localmente, praticada de forma
descentralizada, aliada a um circuito
curto de reciclagem. O modelo de
gestão comunitária é uma solução
adequada aos municípios brasileiros,
visto que cerca de 80% destes tem
população inferior à 20.000 habitan-
tes, com produção estimada em até
10 toneladas de resíduos orgânicos
por dia. Para os municípios maiores,
a gestão comunitária pode ser efeti-
vada com diferentes pátios de com-
postagem.
Os resíduos sólidos orgânicos são
compostos de cascas de frutas e ver-
Além de desperdiçados
como matérias-primas,
os resíduos orgânicos
enviados aos aterros
reagem com materiais
tóxicos e tornam-se
poluentes. O modelo
de gestão comunitária
é uma alternativa para
a realidade tropical e
urbanística brasileira
duras, sobras de comida, borra de
café e chimarrão, filtro de café, cas-
ca de ovo, guardanapo engordurado,
palito de dente, aparas de grama, fo-
lhas e podas de árvores, serragem e
óleo de fritura (o óleo é utilizado para
fazer sabão e biodiesel, mas sua borra
também pode ser compostada).
Interessante saber que a compo-
sição dos resíduos sólidos orgânicos
dos países tropicais segue a mesma
proporção de água do corpo huma-
no, ou seja, 70% é água. Quando os
resíduos orgânicos são misturados e
enviados ao aterro sanitário, por sua
acidez, reagem com outros materiais
tóxicos, onde é produzido o líquido
chamado de chorume, considerado
um grande poluente.
SEGREGANDO
OS RESÍDUOS
PARA
FAVORECER
A CADEIA DA
RECICLAGEM
Quando se separam correta-
mente os resíduos orgânicos para
reciclagem, uma consequência
imediata é a melhoria na triagem
dos resíduos secos, gerando quali-
dade na rotina dos trabalhadores
e maiores valores de venda para as
empresas que reciclam. No Bairro
Monte Cristo, ponto de referência
desta publicação, a segregação dos
resíduos beneficia os catadores au-
tônomos que circulam pelas ruas re-
colhendo materiais recicláveis, bem
como a ARESP (Associação de Re-
cicladores Esperança), onde traba-
lham cerca de 15 famílias, receben-
do em torno de um salário mínimo
mensal pela venda dos materiais.
A reciclagem orgânica, na pers-
pectiva da gestão comunitária
descentralizada, traz em sua ori-
gem a relevância social da geração
de renda e qualidade ambiental
às comunidades, tendo recipro-
cidade de princípios e interesses
com o movimento dos catadores
e recicladores de materiais secos.
Um dos princípios é que a atua-
ção dos agentes comunitários seja
10
11
articulada por associações e coo-
perativas, como prevê a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (lei
12.305). Com a organização asso-
ciativa tanto dos catadores de reci-
cláveis secos quanto de orgânicos,
seria possível reciclar até 86% de
tudo o que produzimos.
11
Trabalhadores da ARESP
e da Revolução dos
Baldinhos. O modelo
associativo para os
recicláveis secos
deve servir para os
compostáveis orgânicos,
com reciprocidade de
ações e benefícios
12
A
Revolução dos Baldinhos sur-
giu por um problema real: o
excesso de lixo misturado de-
positado nas ruas, em sacolas
que eram reviradas e rasgadas por
animais, causando a proliferação de
doenças. Em 2008 ocorreu um surto
de leptospirose, contraída através dos
ratos. Algumas crianças voltavam das
creches com mordidas dos roedores, e
dois jovens chegaram a falecer.
Foi nessa conjuntura que lide-
ranças e moradores da comunidade,
representantes das escolas e do Cen-
tro de Saúde, um técnico do Cepagro
e mulheres da Frente Temporária de
Trabalho reuniram-se para entender
o problema. O consenso era de que
não bastava intervir com dedetização,
posto que, se o alimento proveniente
do lixo nas ruas continuasse acessível,
a chance de ocorrer um novo surto se-
ria ainda maior. Era necessário achar
uma solução mais adequada.
O Bairro Monte Cristo, em Floria-
nópolis, possui 9 comunidades carac-
terizadas pela violência, população
em situação de pobreza e baixo índice
de escolarização, com muitas famí-
lias provenientes de áreas rurais para
tentar uma vida melhor na cidade. As
ruas são muito estreitas, o que dificul-
ta a coleta dos resíduos. Muitos são os
casos de descarte irregular de lixo, em
terrenos baldios e áreas públicas.
A sugestão para reduzir o número
de roedores foi separar as sobras de
comida em baldinhos com tampa e re-
ciclar na própria comunidade. A prin-
cípio parecia uma medida difícil de
entender: combater os ratos reunindo
no próprio bairro todos os resíduos
orgânicos produzidos.
Para compreender esta iniciativa,
é necessário conhecer algumas expe-
riências que já eram anteriormente
realizadas no local. Para o enfrenta-
mento do problema do lixo acumu-
lado, existia a Frente Temporária de
Trabalho, pela qual algumas mulheres
eram contratadas por 3 meses para
realizar a limpeza nas ruas e tinham
um contato muito próximo com as fa-
mílias do bairro. Em 2006, 2 escolas
participavam também do projeto de
hortas escolares do Cepagro, tendo a
compostagem como base para a pro-
dução do composto orgânico. Além
disto, um médico do posto de saúde
local promovia a compostagem para
reciclagem dos resíduos domésticos e
produção de alimentos saudáveis.
A REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS
12
1313
A concepção das sobras orgânicas como matéria prima já era
conhecida pelos moradores da Chico Mendes, envolvidos em
programas de compostagem e agricultura urbana. As ações
também mostraram-se adequadas para o combate a uma
epidemia de ratos que assolava a comunidade
14
Quando esta solução foi apontada
em reunião, os moradores já estavam
cientes da técnica da compostagem.
Além disso, as mulheres da Frente
Temporária, que eram da própria co-
munidade, se dispuseram a ir de casa
em casa e distribuir um “baldinho”
para as famílias, informando sobre o
projeto e o que poderia ser descarta-
do ali. Assim os moradores poderiam
separar corretamente os resíduos or-
gânicos em recipientes fechados que
impedissem o contato com roedores
e outros vetores de doenças.
O Cepagro prontificou-se tanto a
assessorar a compostagem, iniciada
na Escola Básica Estadual América
Dutra Machado, quanto a estimular o
desenvolvimento coletivo da metodo-
logia de gestão comunitária. Os demais
parceiros e a comunidade prontifica-
ram-se a participar e contribuir com
todo o processo. Surgia assim a “Re-
volução dos Baldinhos”, que começou
com apenas 5 famílias e num curto es-
paço de tempo atingiu 95 famílias.
Desta forma foi criada uma re-
lação de reciprocidade, onde as fa-
mílias participantes viam de perto
o trabalho de coleta e reciclagem
realizado, sendo posteriormen-
te contempladas com o composto
orgânico para utilização nas suas
hortas. Em pouco tempo a dis-
seminação das informações era
Eunice Brasil,
Rose Helena de Souza
(ambas da Frente
Temporária de Trabalho)
e a merendeira adaptada
para ações ambientais
Kátia Lalau (Creche Chico
Mendes) foram pioneiras
na sensibilização
das famílias para
separação da fração
orgânica na comunidade
Chico Mendes
15
realizada pelas próprias famílias
participantes, que informavam os
vizinhos para a correta separação
de seus resíduos orgânicos.
A coleta era realizada com um
carrinho de supermercado pelo gru-
po comunitário Revolução dos Bal-
dinhos, duas vezes por semana, de
casa em casa. Com o aumento das
famílias, o tempo de coleta passou a
durar quase o dia inteiro. Observou-
-se então a necessidade de fazer uma
parceria com a empresa municipal
de limpeza urbana (COMCAP), que
disponibilizou um pequeno utilitá-
rio, adequado para o dimensiona-
mento das ruas, para a coleta dos re-
síduos orgânicos. Para a viabilidade
da logística, o grupo Revolução dos
Baldinhos implantou PEVs (Pontos
de Entrega Voluntária) na comuni-
dade. Cada PEV era instalado entre
5 a 8 habitações, em média, poden-
do ser na frente da casa de algum
morador, tendo este como respon-
sável, ou junto à postes de luz.
15
O sucesso do
projeto deu-se
inicialmente pela
sensibilização.
Não eram técnicos
que iam às casas
conversar com
as famílias, eram
jovens e moradores
da própria
comunidade,
falando de soluções
que eles mesmos
identificaram para o
bem do bairro
16
O número de PEVs espalhados
pelo Bairro Monte Cristo chegou a
43, envolvendo 200 famílias. A par-
tir disto chegou-se a um dos aspectos
mais difíceis da gestão local de resí-
duos: obter um terreno para as ativi-
dades de reciclagem orgânica. Houve
inclusive a ocupação de uma área pú-
blica para suprir esta demanda, deso-
cupada após um ano por meio de in-
timação judicial, forçando o projeto
a retornar ao pátio da Escola. Com a
sobrecarga do local, foi necessário re-
duzir os PEVs e consequentemente o
número de participantes. Atualmen-
te, o projeto abrange 100 famílias e
08 instituições de ensino e projetos
sociais, com 28 PEVs instalados pela
comunidade. São recicladas 12 tone-
ladas por mês de resíduos orgânicos,
resultando em 03 toneladas de com-
posto orgânico.
ARTICULAÇÕES, PARCERIAS
E REPLICAÇÃO: CONQUISTAS
PASSO A PASSO
As ações do projeto sempre
aconteceram de forma propositiva,
por tratar-se de uma inovação com
poucos referenciais anteriores, onde
o grupo Revolução dos Baldinhos e o
Cepagro foram aprendendo com os
erros e aprimorando as atividades
no decorrer dos anos. A importância
de uma organização de apoio foi fun-
damental para a obtenção de recur-
sos para o trabalho do grupo comu-
nitário, com elaboração de projetos
para editais e premiações, possibili-
tando a permanência do mesmo du-
rante os 8 anos de projeto. Dentre os
patrocínios obtidos, destacam-se as
parcerias com a Eletrosul, Instituto
Vonpar, Misereor, Caixa ODM, Oi
REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS
2016
100
Famílias
8
Instituições de ensino e projetos sociais
28
PEVs
toneladas
de adubo
reciclam
toneladas mensais
de resíduos
orgânicos
geram
3
12
171717
Futuro, Fundação Banco do Brasil e
ONU Habitação.
Em 2011 ocorreu um grande im-
pulso ao reconhecimento nacional
da Revolução dos Baldinhos: foi
quando o projeto recebeu o certi-
ficado de Tecnologia Social pela
Fundação Banco do Brasil (FBB).
Em 2013, um prêmio vinculado a
este certificado proporcionou re-
cursos para a replicação do méto-
do em outra comunidade do Bairro
Monte Cristo.
Em 2012, durante premiação
obtida junto à ADVB/SC (Asso-
ciação dos Dirigentes de Vendas
e Marketing), foi desenhada uma
parceria com o SESC (Serviço So-
cial do Comércio) de Santa Cata-
rina. Quando consolidada, a par-
ceria desdobrou-se na capacitação
dos funcionários do Hotel SESC
Cacupé, que ficaram uma semana
em estágio na Revolução dos Bal-
dinhos.
A partir desta formação, foi im-
plementado um pátio de compos-
tagem na unidade SESC/Cacupé
em Florianópolis, cujo modelo ex-
pandiu-se também para as unida-
des de Blumenau e de Lages. Este
passo foi muito importante para o
desenvolvimento da compostagem
como método de tratamento de
resíduos orgânicos, tendo nestes
pátios institucionais o desenvolvi-
mento da barreira verde e do sis-
tema de drenagem para coleta do
composto líquido.
Conquistas importantes da Re-
volução dos Baldinhos aconteceram
em 2015. Em março, o Cepagro re-
alizou o 1o. Curso de Formação em
Gestão Comunitária de Resíduos Or-
gânicos, com duração de uma sema-
na e participantes de diversas partes
do país. No mesmo ano iniciou-se a
assessoria à implantação de pátios
de compostagem no munícipio de
São Paulo, para reciclagem dos resí-
duos orgânicos de feiras livres.
Em dezembro, o prefeito da ci-
dade participou de um cerimonial
inaugurando um pátio piloto na
subprefeitura da Lapa, que absorve
os resíduos de 26 feiras livres, num
total de 140 toneladas mensais. Em
seu discurso, o gestor enfatizou a
necessidade de estender a iniciativa
a todas as subprefeituras do muni-
cípio, visando atender as 900 feiras
livres existentes.
Através do vínculo com a FBB,
a partir de 2016 o modelo de ges-
tão comunitária será replicado em
empreendimentos vinculados à po-
lítica de habitações populares “Mi-
nha Casa, Minha Vida”, através do
PNHU (Programa Nacional de Ha-
bitação Urbana).
1818
2008
Surto de leptospirose
na Comunidade Chico
Mendes. Nasce a
Revolução dos Baldinhos
2011
Certificado
de Tecnologia
Social pela
FBB
2012
Parceria
com o
SESC/SC
2006
Projeto de
compostagem
e hortas do
Cepagro
BALDINHOS
A Revolução dos
Em ato simbólico na subprefeitura
da Lapa, prefeito de São Paulo
Fernando Haddad confere a
temperatura de uma leira de
compostagem, durante entrega
do primeiro lote de composto
produzido a partir de resíduos
de 26 feiras livres no bairro
Para o avanço do modelo, é funda-
mental que haja sua incorporação pelos
municípios, reconhecendo a gestão lo-
cal como uma forma de cumprir a Lei
12.305 dos resíduos sólidos, que proíbe
o envio de materiais passíveis de reci-
clagem aos aterros sanitários, sugerin-
do a parceria com associações e coope-
rativas com dispensa de licitação para
a correta destinação e reciclagem dos
resíduos. Para a viabilidade do siste-
ma, é necessário o repasse dos recursos
economizados pelo não envio aos ater-
ros para as associações e cooperativas,
bem como a disponibilidade de áreas
adequadas para a reciclagem orgânica,
com compostagem e agricultura urbana.
1919
2015
Realização da Formação em Gestão
Comunitária de Resíduos Orgânicos /
Inauguração de pátio de compostagem
para feiras em São Paulo
2016
Replicação
pelo Programa
Nacional de
Habitação Urbana
2013
Prêmio de
Tecnologia
Social pela
FBB
O avanço do
método está
nas mãos das
prefeituras,
que devem
estabelecer
parcerias com
associações e
remunerá-las pelo
serviço público
realizado, além
de destinar áreas
adequadas para a
compostagem e
agricultura urbana
20
O modelo conhecido
como Revolução dos
Baldinhos tem como
base o trabalho de
sensibilização das famílias
e parceiros, aliado à
agricultura urbana, onde
todos os participantes
recebem o composto
orgânico para promoção
das hortas residenciais,
escolares e comunitárias.
Dentre os elementos de
implantação, manutenção
e disseminação,
destacam-se:
CARACTERIZAÇÃO
DO MODELO
DE GESTÃO
COMUNITÁRIA
DE RESÍDUOS
ORGÂNICOSGRUPO COMUNITÁRIO
Constituído por moradores e mo-
radoras da comunidade, caracte-
rística que influenciou diretamente
no sucesso da Revolução dos Bal-
dinhos, gerando confiança e reci-
procidade entre os participantes.
Dentre as principais ações do Gru-
po Comunitário estão:
Mobilização e
sensibilização
das famílias
e instituições
educacionais;
Execução
do trabalho
periódico de
coleta, transporte
e tratamento/
destino dos
resíduos
orgânicos através
da compostagem;
Distribuição do
composto orgânico
produzido;
Realização de
oficinas nas escolas;
Contribuição à
incidência política
através de palestras
e apresentações,
além da participação
em reuniões e
articulação com as
parcerias envolvidas.
20
21
Os resíduos orgânicos representam
cerca de 50% de tudo que produzimos
e descartamos. Trabalhar com a va-
lorização da fração orgânica também
passa por uma mudança de olhar so-
bre nossos resíduos, visto que quando
sefalaemreciclarassobrasdecomida,
é comum brotar no inconsciente cole-
tivo uma ideia de mau cheiro e repug-
nância. No entanto, ao descascar uma
banana, a casca tem um ótimo cheiro,
assim como a casca de laranja e todos
os resíduos orgânicos. Essa visão está
muito associada ao modelo que temos
hoje, onde tudo vai para um saco fe-
chado, todo misturado, passando por
um processo de fermentação natural
que libera gases como metano, amô-
nia e enxofre, responsáveis pelo chei-
ro desagradável.
Quando se inicia uma ação de com-
postagem, consequentemente se pro-
move a valorização direta de todos
os outros resíduos recicláveis, que
passam a ficar mais limpos e aptos
ao manuseio. Para facilitar o manejo,
sugerimos a destinação dos resíduos
sólidos em 3 frações:
VALORIZAÇÃO DA FRAÇÃO ORGÂNICA
Compostáveis Orgânicos
(cascas de frutas e
verduras, frutos do mar,
casca de ovo, borra e filtro
de café, chimarrão,
guardanapo engordurado,
restos de comida, ...);
Rejeitos (Não recicláveis:
bitucas de cigarro, fraldas,
absorventes, preservativos,
papel higiênico, plásticos
sujos, ...);
Recicláveis Secos
(plástico, vidro, metal,
papel, tetra pack,...);
21
22
SEPARAÇÃO NA FONTE
Para o início da Gestão Comuni-
tária de Resíduos Orgânicos, foi
feito um trabalho bem atencioso
do grupo comunitário com cada
família, com explicação do pro-
jeto e o que poderia ser enviado
para a reciclagem orgânica. Dis-
ponibilizar um recipiente ade-
quado para a correta separação
dos resíduos orgânicos contri-
bui muito com a qualidade de
todo processo. Por isso a Revo-
lução dos Baldinhos distribuiu
para as famílias um “baldinho”
com tampa e alça para facilitar
a participação das famílias. O
“baldinho” evita que pequenos
animais e insetos possam aces-
sar os resíduos orgânicos, além
de ser adequado ao manejo e
descarga nos recipientes maio-
res dos PEVs.
22
TRANSPORTE ADEQUADO
A Revolução dos Baldinhos iniciou
a coleta dos resíduos orgânicos de
casa em casa utilizando um carrinho
de supermercado. Com o aumento
das famílias, foram implantados PEVs
na comunidade e adquirido um car-
rinho de quatro rodas para realizar a
coleta. O número de adesões cresceu
ainda mais, proporcionalmente ao ga-
nho de credibilidade junto às famílias
e instituições. Dessa forma buscou-se
parceria com a empresa de limpeza
urbana de Florianópolis (COMCAP),
que disponibilizou um veículo em ta-
manho adequado para a coleta, com
motorista e dois garis.
No entanto, a frequência da cole-
ta mecanizada foi insatisfatória em
muitos momentos, por motivos como
quebra de veículos ou greve dos fun-
cionários. Nestas ocasiões, para que
o resíduo não ficasse acumulado nas
bombonas em frente às casas, o gru-
23
po comunitário seguiu realizando
a coleta, voltando a utilizar o car-
rinho de tração humana e mais
recentemente uma Kombi adqui-
rida pelo projeto. A manutenção
do compromisso de limpeza foi
também um fator crucial para o
sucesso do modelo de gestão co-
munitária.
O SESC, cujos funcionário fo-
ram capacitados pela Revolução
dos Baldinhos, utiliza nas unidades
de Blumenau e Lages um quadri-
ciclo com reboque para transpor-
te das bombonas e materiais até o
pátio de compostagem. Em alguns
países a coleta é toda realizada
mecanicamente, com recipientes
de coleta adaptados para os cami-
nhões. Cabe a cada realidade en-
contrar um modelo eficiente que
facilite este processo e possa com-
portar a dimensão planejada.
23
Aliado às parcerias locais, as enti-
dades de apoio, como ONGs, insti-
tuições, universidades e secretarias
municipais, dentre outros, são fun-
damentais para o sucesso do modelo.
Neste somatório de forças, busca-se
questionar e redefinir a estrutura do
sistema de coleta convencional que,
apesar de deixar a cidade limpa, acar-
reta em prejuízos ambientais decor-
rentes do tratamento do lixo mistura-
do, além dos altos custos financeiros
envolvidos direta e indiretamente.
É importante a articulação das inicia-
tivas locais junto às Universidades,
para estreitamento da pesquisa e ex-
tensão, com o envolvimento de aca-
dêmicos que serão precursores de um
novo modelo de cidade, bem como
as alianças com secretarias e organi-
zações para promover a mobilização
junto aos gestores públicos.
ENTIDADES DE APOIO
24
O envio dos resíduos sólidos para o
aterro sanitário demanda alto custo
com o transporte de longa distância
para o enterro dos resíduos, visto que
a destinação final deve ser afastada
dos grandes centros populacionais,
devido aos seus impactos e odores.
Devem também ser considerados os
ruídos, a poluição e o prejuízo à mo-
bilidade urbana causados pelo trá-
fego de caminhões. Além disso, esta
lógica de saneamento desvaloriza as
matérias primas para a reciclagem,
bem como as relações que estas po-
dem criar em uma comunidade.
A Revolução dos Baldinhos trou-
xe uma nova reflexão ao reciclar os
resíduos orgânicos na própria co-
munidade, colocando as famílias e
instituições de ensino na frente do
processo, porque são elas que ini-
ciam a separação correta dos ma-
teriais que vão para compostagem.
Assim como na agricultura cresce
o movimento dos circuitos curtos
de comercialização, vemos que a
reciclagem local é a solução para o
tratamento dos resíduos orgânicos,
que representam metade de tudo
que descartamos. Por estarmos num
país com clima quente, onde a de-
composição destes resíduos se dá
de forma mais rápida, os pátios de
compostagem descentralizados con-
tribuem para a agilidade, a redução
de custos com transporte e o trata-
mento com qualidade.
Por trabalhar incisivamente com a
sensibilização e agricultura urbana,
são fortalecidas a relações comuni-
tárias, através da troca de sementes,
mudas e encontros entre os parcei-
ros, que fortalecem a participação e
o envolvimento.
DESTINAÇÃO DESCENTRALIZADA, RECICLAGEM LOCAL
24
25
Existem vários modelos de compos-
tagem. Há 20 anos, a Universidade
Federal de Santa Catarina, através
do professor Rick Miller (Departa-
mento de Engenharia Rural / Centro
de Ciências Agrárias), dissemina um
modelo praticado de forma milenar
pelos camponeses indianos, aprimo-
rado pela instituição, conhecido como
“método UFSC – leiras estáticas com
aeração passiva”.
Utilizando matérias primas mui-
to produzidas nos centros urbanos,
como palha e serragem de podas de
árvores, o modelo tem como base
utilizar estes materiais como estrutu-
rantes para oxigenação das leiras de
compostagem, dispensando o revol-
vimento por completo das mesmas
- o que proporciona um sistema sem
odores, fator primordial para sua prá-
tica próximo à residências e junto ao
espaço urbano.
A oxigenação, aliada ao equilíbrio na
proporção entre os materiais estru-
turantes e os resíduos orgânicos, de-
sencadeia a proliferação de bactérias
e fungos benéficos cuja ação eleva a
temperatura das leiras de composta-
gem para 65 °C em média, tempera-
tura responsável pela aceleração da
decomposição e sanidade de todo o
COMPOSTAGEM TERMOFÍLICA
– MÉTODO UFSC
sistema. As altas temperaturas pro-
vocam a circulação de água pela face
superior, através da sua evaporação.
A água também circula por baixo das
leiras, desenhadas para favorecer a
drenagem do composto líquido.
Para cada 10 toneladas de resíduos re-
ciclados, cerca de 2 toneladas de com-
posto orgânico são produzidas, além
do composto líquido. O tempo para
produção varia de 4 a 6 meses, depen-
dendo do tamanho das leiras de com-
postagem, a quantidade de resíduos
colocada, a periodicidade de alimenta-
ção destas com novos resíduos orgâni-
cos e o tipo de resíduo que é colocado.
A opção por pátios descentralizados,
ao invés do incentivo à compostagem
doméstica, levou em conta as exíguas
áreas dos quintais na comunidade
Chico Mendes / Bairro Monte Cristo,
um fator que poderia trazer riscos ao
método. Por esta razão foram capa-
citados agentes comunitários(as) da
Revolução dos Baldinhos, responsá-
veis por todo o processo da composta-
gem, da sensibilização comunitária
ao manejo cotidiano.
25
26
A Revolução dos Baldinhos mostra
que o diferencial para o envolvimento
comunitário está na relação próxima
com as famílias e entidades do bair-
ro. Um conjunto de ações é levado
em prática pelos próprios agentes da
comunidade, sensibilizando para uma
mudança de atitudes. Entre os moti-
vos que levaram à adesão das famílias,
destacam-se:
• A proposta de reduzir o número de
ratos na comunidade;
• As visitas domiciliares, feitas cons-
tantemente pelo grupo comunitário;
• O testemunho do envolvimento diá-
rio do grupo comunitário trabalhando
pela melhoria do bairro;
• A exigência dos filhos e filhas, após
receberem oficinas de compostagem e
agricultura urbana nas escolas, de que
os resíduos orgânicos fossem coloca-
dos nos baldinhos para seguir o cami-
nho da reciclagem.
Como estratégia, o grupo comunitário
passou a participar das reuniões pe-
dagógicas nas escolas, para fortalecer
o vínculo com diretoras, professores,
profissionais da cozinha e da limpeza,
bem como articular atividades junto
às turmas. Atualmente, existem par-
cerias com a Escola América Dutra, as
CrechesChicoMendes,JoeleMatheus
SENSIBILIZAÇÃO E
ARTICULAÇÃO
26
de Barros, o SEDEP, o Lar Fabiano de
Cristo, a Casa Chico Mendes, o Centro
de Educação Continuada Chico Men-
des e Nova Esperança e o Centro de
Saúde do bairro.
Pelo menos uma vez por ano é reali-
zado o Encontro da Família e Parcei-
ros, onde se apresentam vídeos e re-
portagens divulgados sobre o projeto,
as atividades do mes, as dificuldades
apresentadas e os próximos passos,
definidos junto aos moradores e par-
ceiros. No final de cada encontro é re-
alizada uma confraternização.
Com o crescimento do projeto, mui-
tos grupos, turmas de escolas e facul-
dades começaram a agendar visitas
2727
junto à Revolução dos Baldinhos.
As visitas guiadas foram um marco
muito importante, pois a comuni-
dade, estigmatizada por ser mui-
to violenta, abriu suas portas para
apresentar uma ação positiva que
influenciou diretamente na auto es-
tima dos moradores. A Revolução
dos Baldinhos foi também chamada
para participar de palestras, even-
tos e congressos, em que se desta-
cam a Rio + 20 (Rio de Janeiro) e
o Terra Madre/Slow Food (Itália),
entre outros. Segundo relato dos
próprios integrantes, a Revolução
dos Baldinhos ganhou asas e pode
sensibilizar muitas comunidades e
pessoas de várias regiões do país e
do mundo.
Como trabalho diferenciado, des-
taca-se também a articulação do
Cepagro e o grupo Revolução dos
Baldinhos para efetivação da gestão
comunitária de resíduos orgânicos
e agricultura urbana como política
pública. Prova disso é que vários se-
tores da prefeitura de Florianópolis,
como as Secretarias de Habitação e
Saneamento Ambiental, de Saúde
e de Assistência Social, os Centros
de Saúde (CS) e de Referência e
Assistência Social (CRAS), além da
COMCAP, vem sensibilizando-se
gradativamente com o modelo.
28
Novamente preconiza-se a parceria
com o poder municipal para a ma-
terialização destas infraestruturas,
visto que as ações de tratamento dos
resíduos, reciclagem e redução dos
materiais enviados aos aterros e li-
xões são de responsabilidade de cada
prefeitura. Ao contrário de usinas de
reciclagem e incineradores, os pátios
de compostagem tem um custo baixo
de implantação e manutenção.
É essencial o investimento mu-
nicipal para garantir um pátio de
compostagem profissional que será
gerenciado pela organização comu-
nitária. Além disso, os Planos Di-
retores devem alocar, no escopo do
zoneamento urbano, áreas para as
atividades de compostagem e agri-
cultura urbana em atenção ao mode-
lo descentralizado de gestão de resí-
duos. Em Florianópolis, temos como
um dos grandes entraves a falta de
disponibilidade de áreas públicas,
causada tanto pela grande especula-
ção imobiliária, quanto pela escolha
das prioridades atribuídas aos terre-
nos de posse do município.
Quando conquista-se uma área ade-
quada para o manejo da composta-
PÁTIO DE COMPOSTAGEM, ECO
PRAÇA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
- GESTÃO COMUNITÁRIA COM
INFRAESTRUTURA MUNICIPAL
gem, esse local tem validade ilimita-
da. Isto porque, no sistema de leiras,
há sempre unidades em uso, uni-
dades em repouso e unidades com
composto orgânico pronto para ser
utilizado nas hortas; quando estes
são removidos, abre-se espaço para
novas leiras, criando um ciclo virtu-
oso na gestão dos resíduos orgânicos.
Os pátios de compostagem são mais
do que locais de reciclagem: confi-
28
29
Proposta de
pátio para a
Revolução dos
Baldinhos, cuja
materialização
depende da
cessão de uma
área pública
pela prefeitura,
já demarcada
porém não
homologada
guram-se como áreas de educação
e promoção da agricultura urbana.
Para otimizar estes potenciais, um
projeto elaborado em parceria com
a Secretaria Municipal de Habitação
propõe o modelo de Eco Praça, um
espaço cuja função seria acomodar
grupos para realização de palestras,
cursos e oficinas, bem como promo-
ver a integração dos moradores atra-
vés das hortas comunitárias.
Seguindo os critérios estipulados
para pátios de compostagem de pe-
queno porte, conseguimos avançar
na gestão comunitária local com
qualidade e respeito aos morado-
res. Importante sempre ter um
pátio de compostagem sem cheiro,
limpo, sem insetos e outros veto-
res, servindo de exemplo perma-
nente e estimulando sua prática
em outros locais.
29
30
OUTROS ARRANJOS E MODELOS
PARA REALIZAR A GESTÃO COMUNITÁRIA
DE RESÍDUOS ORGÂNICOS
D
urante o curso de Gestão
Comunitária de Resíduos
Orgânicos mencionado nes-
ta publicação, baseado na
realidade encontrada no município
de Florianópolis e envolvendo grupos
de outras cidades do Brasil, foi de-
monstrado que cada local (seja con-
domínio, empreendimento, bairro ou
município) requer um olhar atento às
suas potencialidades e especificida-
des. É aconselhável começar numa
escala pequena, para que aos poucos,
com aumento de credibilidade e arti-
culação com a comunidade e gestores
públicos, a experiência possa crescer
com qualidade e sem sobrecargas.
A seguir, apresentamos alguns
modelos, diversificados quanto às
suas escalas e modos de organização:
30
31
Em parceria com uma associação que faz a coleta e o manejo,
a empresa municipal de limpeza urbana de Florianópolis
(Comcap) mantém um pátio mecanizado que recebe resíduos
orgânicos de grandes geradores
COMPOSTAGEM DE VIZINHANÇA
Disseminada pelo Coletivo Pátios
Amigos no bairro do Rio Verme-
lho, em Florianópolis, consiste
na compostagem comunitária em
uma área com predomínio de casas
e moradores interessados na pro-
moção das hortas agroecológicas.
Em cada rua, um morador dispo-
nibiliza seu terreno para a prática
da compostagem, realizada 2 vezes
por semana. Também combinam
mutirões nas casas para plantio e
manejo das hortas.
COMPOSTAGEM EM PARQUES
Os parques municipais e estaduais
são espaços com muito potencial
para a promoção da compostagem
comunitária. Geralmente os parques
já possuem suas barreiras verdes
constituídas. Dentro de seus princí-
pios de gestão, podem fomentar esta
prática que, além de utilizar as so-
bras de comida, dão uma destinação
nobre para as folhas e galhos, trans-
formando tudo em composto para
uso também interno, como produ-
ção de mudas.
31
32
Em Florianópolis existe o projeto
Família Casca, situado no Parque
Ecológico do Córrego Grande, que
dispõe de um PEV para os morado-
res trazerem seus resíduos orgâni-
cos, com posterior disponibilização
do composto produzido.
No Camping do Parque Estadual
do Rio Vermelho, administrado por
uma parceria entre o Cepagro e a
FATMA (Fundação do Meio Am-
biente de SC), também é realizada
a gestão dos resíduos sólidos, com
compostagem dos resíduos orgâ-
nicos dos campistas e dos eventos
que são realizados. Neste espaço,
a compostagem configura-se como
estratégia de recomposição das áre-
as degradadas, através de compos-
teiras itinerantes. Importante res-
saltar que estes parques já possuem
uma equipe de educação ambiental,
e são locais estratégicos para disse-
minação da reciclagem orgânica e
agricultura urbana.
COMPOSTAGEM
EM CONDOMÍNIOS
Sejam de casas ou de apartamentos,
os condomínios possuem um qua-
dro de funcionários que podem re-
ceber formação para a inserção das
atividades de reciclagem, com com-
postagem e hortas. Cada local re-
quer um planejamento para dimen-
sionamento de área ideal conforme
o número de condôminos. É impor-
tante, no processo de organização,
estabelecer ações de sensibilização
e sistematização da forma de parti-
cipação dos moradores, envolvendo
separação, coleta e disposição final.
O composto orgânico é um produto
muito utilizado nestes locais, prin-
cipalmente para jardinagem e pe-
quenas hortas.
CONJUNTO HABITACIONAL
Nesses conjuntos, a possibilidade
de geração de renda pode ser um
grande fator para as ações de reci-
clagem orgânica. A horta comuni-
tária também é uma estratégia para
manutenção dos vínculos e encon-
tro entre os moradores. Os con-
juntos habitacionais podem tanto
formar um sistema independente,
como acionar parcerias com a mu-
nicipalidade. Da mesma forma, po-
dem adaptar modelos de compos-
teiras residenciais, compostagem
de vizinhança ou pátios locais des-
centralizados.
BAIRROS –
GESTÃO COMUNITÁRIA
Com escolha de áreas estratégicas
pelas comunidades, pode-se envol-
ver um bairro inteiro na gestão de
seus próprios resíduos.
33
A gestão comunitária deve envol-
ver todos os componentes de um
bairro, como casas, apartamentos,
instituições de ensino, projetos so-
ciais, empresas, hospitais e postos
de saúde, dentre outros, com par-
cerias locais que a fortaleçam. Mo-
radores, professores, merendeiras,
equipe de limpeza, empresários,
agentes de saúde e alunos devem
ser reunidos através da iniciativa.
A gestão comunitária pode en-
globar composteiras residenciais,
compostagem de vizinhança e com-
postagem institucional, em um so-
matório de ações visando reciclar
100% dos resíduos orgânicos de
forma local e descentralizada. Um
pátio de compostagem bem capri-
chado contribui para essa difusão.
Empresas alimentícias, restauran-
tes e supermercados, que se en-
quadram como grandes geradores,
podem estabelecer contrato com
uma empresa de compostagem ou
estabelecer parceria com uma as-
sociação ou cooperativa comunitá-
ria, conforme capacidade do pátio
de compostagem.
COMPOSTAGEM
MUNICIPAL
A gestão municipal pode englobar
as diferentes estratégias para a re-
ciclagem dos resíduos orgânicos.
Partimos sempre do princípio da
reciclagem local e descentralizada.
Para isso, os diferentes arranjos
e modelos devem coexistir. Para
atender toda demanda, podem ser
estabelecidos pátios centrais para
incentivar principalmente a parti-
cipação dos grandes geradores.
Para promover estes sistemas são
necessárias políticas que garan-
tam a autonomia e sua viabilidade.
Uma das estratégias encontradas e
previstas na política nacional de
resíduos sólidos é o repasse de
verbas pelas toneladas tratadas e
recicladas, por grupos formaliza-
dos em associações e cooperati-
vas, preferencialmente. Outra es-
tratégia é fomentar mecanismos
de distribuição de composteiras
residenciais, além de investir em
práticas de educação ambiental e
no estímulo à agricultura urbana.
São também fundamentais o
apoio à instalação dos pátios de
compostagem ou Eco-praças,
com equipamentos para garantir
a qualidade das atividades, e a
disponibilização dos materiais es-
senciais para o processo de com-
postagem, como palha, grama
cortada e folhas, obtidas nos ser-
viços de roçagem e limpeza, bem
como a serragem, obtida com a tri-
turação de galhos e podas.
33
34
P
ara implantar um modelo
de gestão inspirado na Re-
volução dos Baldinhos, é
sempre importante avaliar
o contexto estrutural e conjuntura
organizativa local com uma visão
voltada para a prática. Diante disto
trazemos aqui alguns importantes
elementos a serem avaliados pre-
viamente para o alcance do sucesso
desta implantação.
ASPECTOS PARA O
DIMENSIONAMENTO DE
UM PÁTIO DE COMPOSTAGEM
Neste ponto, é importante res-
saltar uma das características fun-
damentais que diferenciam um
aterro sanitário e um pátio de com-
postagem: enquanto o primeiro
funciona como um “depósito”, re-
cebendo resíduos até a saturação
de seu espaço físico, o segundo é
um espaço de transformação, onde
o produto final (adubo orgânico) é
removido periodicamente dando
espaço a novos ciclos de tratamen-
to de resíduos. No método UFSC
de compostagem, extensamente
relatado neste documento, perce-
bemos uma capacidade elástica do
pátio, diretamente relacionada não
somente aos volumes de entrada
quanto à sua dinâmica operacio-
nal. Em decorrência deste fator,
cada metro quadrado de um pátio
de compostagem estará disponível
novamente após 7 meses, tempo que
representa um ciclo completo entre
a carga máxima recebido por uma
leira, seu descanso e a maturação do
composto.
Outro aspecto importante é a re-
lação de massa entre as partes úmi-
das, que são os resíduos orgânicos
a serem tratados, e as partes secas,
que são materiais estruturantes
(serragem, cavacos de madeira, fo-
lhas secas, podas trituradas etc.) da
leira de compostagem e sua cober-
tura de palha. De acordo com levan-
tamentos realizados na Revolução
dos Baldinhos e outras iniciativas de
compostagem com leiras estáticas
do método UFSC em Florianópolis,
a proporção ideal entre ambos é de 3
para 1, ou seja, cada 1,5kg de resíduo
requer 0,5kg de material seco.
ELEMENTOS PARA O SUCESSO
DA GESTÃO COMUNITÁRIA
34
35
Dados de pesquisas apontam
que sistemas de compostagem do
modelo UFSC tem a capacidade de
reciclar até 1,31 toneladas (consi-
derada a mistura de resíduos orgâ-
nicos e materiais secos) por metro
quadrado de base de leira. Para
compreender a disposição espacial
ideal de uma leira de composta-
gem, alguns requisitos devem ser
observados:
• Em relação à sua largura, pode
variar de 2 a 2,5 metros (operação
manual) a 3 a 3,5 metros (ope-
ração semimecanizada), consi-
derando o acesso ao centro das
leiras onde serão depositados os
materiais
• Na mesma lógica, sua altura
pode variar de 1,5 metros (opera-
ção manual, em um limite de con-
forto ao trabalhador) a 2,5 me-
tros (operação semi-mecanizada,
podendo ainda variar de acordo
com a capacidade do implemento
utilizado)
• Quanto ao comprimento, os li-
mitantes são apenas o formato
do terreno e os arranjos com as
demais estruturas do pátio.
QUANTIDADE TRATADA		 ÁREA NECESSÁRIA
01 ton/dia 			 500m²
02 ton/dia 			 750m²
03 ton/dia 			 1.000m²
07 ton/dia 			 2.000m²
10 ton/dia 			 2.750m²
A área total de um pátio de compostagem não deve conside-
rar apenas os arranjos das leiras, mas também suas estruturas
de apoio, como locais para abrigo das ferramentas e utensílios,
armazenamento de materiais secos e líquidos percolados coleta-
dos, recebimento de resíduos úmidos, maturação do composto,
barreiras verdes, hortas e viveiro de mudas, dentre outras.
Considerando as variáveis apresentadas, para estimar uma
área para instalar o pátio de compostagem podemos tomar como
referência que, para cada 1 tonelada diária de resíduos compos-
tado, devemos prever 500 m². A partir desta escala inicial, a
cada tonelada acrescida deve-se somar mais 250m². Numa tabe-
la simples teríamos:
35
36
ASSESSORIA TÉCNICA
Com a formação do Grupo Comu-
nitário é fundamental ter uma insti-
tuição de apoio técnico para a prática
da compostagem e da agricultura ur-
bana, pois problemas no manejo po-
CONSTRUÇÃO DOS PLANOS DE GESTÃO COMUNITÁRIA
Ter um bom plano de ação com metas, responsáveis e
prazos para realização é fundamental para o grupo envolvido
conseguir avaliar sua implantação. Este plano de ação deve ser
construído participativamente com os envolvidos diretamente
na implantação do modelo de gestão comunitária, bem como
outros atores da comunidade. Nele devem constar:
• As formas de abordagem e de sensibilização das
famílias e o progresso na participação das mesmas;
• A forma de implantação e os tipos de
recipientes dos PEVs, além dos equipamentos
para a coleta dos resíduos;
• As ações de educação ambiental
e de agricultura urbana;
• As estratégias de divulgação e as necessidades
de articulação com o poder público e outras
organizações com e sem fins lucrativos do setor.
As realidades de cada comunidade, como forma de ocupação
do solo, relevo, existência ou não de sistemas de coleta de
resíduos, presença de catadores, disponibilidade de locais e
infraestruturas, potenciais de parcerias públicas e privadas e
outros elementos serão fundamentais para o modelo de plano
estabelecido.
dem atrair vetores e causar mau chei-
ro, colocando em risco todo o projeto.
A partir deste apoio, gradativamente
o grupo comunitário vai assumindo
as responsabilidades técnicas.
37
INTERFACE COM
POLÍTICAS PÚBLICAS
A
metodologia de gestão
comunitária construída
pela Revolução dos Bal-
dinhos representa uma
especial importância no contexto
da atual Política Nacional de Re-
síduos Sólidos, balizada pela Lei
12305/2010. Discutida durante
20 anos (foi finalmente sancio-
nada em agosto de 2010), esta
Lei determina, entre outras dis-
posições, a completa proibição
dos “lixões” a partir de 2015, e
que os aterros sanitários legali-
zados sejam exclusivamente alo-
cados para os rejeitos, ou seja,
resíduos que não disponham de
meios viáveis (operacional ou
economicamente) para a cadeia
da reciclagem.
Levando em conta o tamanho
da fração orgânica, que corres-
ponde, no Brasil, a 51,4% do peso
de todos os resíduos sólidos, a Lei
12305/2010 determina deveres
específicos ao titular dos servi-
ços públicos de limpeza urbana,
dentre eles: “implantar sistema
de compostagem para resíduos
sólidos orgânicos e articular com
os agentes econômicos e sociais
formas da utilização do compos-
to produzido.” Por este motivo,
a gestão comunitária de resíduos
orgânicos passou a ser vista como
uma alternativa viável ao cumpri-
mento dos deveres municipais na
cadeia da compostagem.
A gestão comunitária pode ain-
da alinhar-se a outras iniciativas
nacionais, como a PNAPO (Po-
lítica Nacional de Agroecologia
e Produção Orgânica), especial-
mente aos incisos I e III de seu
artigo terceiro, que determinam
a promoção da soberania e se-
gurança alimentar e nutricional,
através da oferta de produtos
agroecológicos, e a adoção de
métodos e práticas que reduzam
resíduos poluentes e a depen-
dência de insumos externos para
a produção. Este alinhamento
acontece quando é estabelecido
o vínculo entre os excedentes de
produção de composto orgânico
nas cidades e os agricultores fa-
miliares do entorno.
37
38
A gestão local dos resíduos orgânicos promove
DIVERSOS BENEFÍCIOS, dentre os quais podemos citar:
BENEFÍCIOS DA GESTÃO
COMUNITÁRIA DE RESÍDUOS
ORGÂNICOSEAGRICULTURAURBANA
A demanda por pequenas áreas
para a reciclagem através da
compostagem, seguindo critérios
para o bom funcionamento da
atividade no espaço urbano;
O envolvimento da própria
comunidade para a sensibilização e
educação ambiental das famílias;
A economia de recursos utilizados
para o transporte aos aterros
sanitários, diminuindo o tráfego de
caminhões da coleta convencional;
A redução de matérias primas e
recursos que vão para o aterro
sanitário, contribuindo para o ciclo dos
nutrientes e a qualidade ambiental;
A geração de trabalho e renda;
O aumento da auto estima e oferta de
possibilidades a jovens e moradores
em situação de vulnerabilidade social;
O empoderamento de
jovens e moradores,
que apropriam-se dos
conhecimentos da gestão
comunitária e o disseminam
através de oficinas,
cursos e palestras;
A limpeza das ruas e a
redução de focos de doenças.
O aumento da qualidade
dos resíduos secos, que
também seguem seu
trajeto para reciclagem;
A produção de composto
orgânico e sua destinação
para as hortas residenciais,
hortas escolares e hortas
comunitárias, com
promoção da agricultura
urbana e consumo de
alimentos saudáveis.
3838
39
40
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O passo-a-passo de uma Revolução – compostagem e agricultura urbana na gestão comunitária de resíduos orgânicos

  • 1. 1 O PASSO-A-PASSO DE UMA NA GESTÃO COMUNITÁRIA DE RESÍDUOS ORGÂNICOS Agricultura URBANA COMPOSTAGEM E REVOLUCAO
  • 2. 2 EXPEDIENTE CEPAGRO – Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo Diretor Presidente: Eduardo Daniel da Rocha Vice Diretora Geral: Erika Sagae Diretora Administrativa: Maria Dênis Schneider Diretor Financeiro: Rafael Beghini Ruas Coordenador de Projetos Rurais: Charles Onassis Peres Lamb Coordenador de Projetos Urbanos: Marcos José de Abreu Coordenador de Comunicação: Fernando Angeoletto Cartilha “O passo-a-passo de uma Revolução – compostagem e agricultura urbana na gestão comunitária de resíduos orgânicos” Conselho Editorial e Textos: Fernando Angeoletto, Júlio César Maestri, Oscar José Rover e Marcos José de Abreu Edição e Fotografia: Fernando Angeoletto Ilustrações, Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Juliana Duclós Florianópolis, maio de 2016
  • 3. 3 O PASSO-A-PASSO DE UMA NA GESTÃO COMUNITÁRIA DE RESÍDUOS ORGÂNICOS Agricultura URBANA COMPOSTAGEM E Apoio
  • 4. 4 APRESENTAÇÃO No tocante ao saneamento urbano, a perspectiva agrônomica é ainda um horizonte distante como medida predominante no tratamento da fração orgânica. Porém, considerada esta como a maior parcela do lixo doméstico, estimada em 51,4%, as soluções que minimizam a demanda por aterros sanitários podem ser consideradas verdadeiras revoluções – é o caso da Revolução dos Baldinhos, experimentada como combate a um surto de ratos na comunidade onde nasceu e transformada ao longo dos anos em um modelo de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos. Esta publicação avalia a importância do aproveitamento da fração orgânica como matéria prima, discutindo a cadeia da reciclagem e a maneira com que a comunidade Chico Mendes (Florianópolis) se organizou até tornar-se uma referência nacional em compostagem e agricultura urbana. Tão fundamental quanto promover o saneamento, o método da Revolução dos Baldinhos provou ser possível promover cidadania e educação ambiental através de uma completa mudança de foco na relação com o “lixo”. Ao longo das páginas seguintes, registros desta trajetória compartilham inspirações e parâmetros para sua livre reprodução.
  • 5. 5 CAPÍTULO 1 Gestão local dos resíduos sólidos orgânicos................................................................................06 Segregando os resíduos para favorecer a cadeia da reciclagem ......................................10 CAPÍTULO 2 A Revolução dos Baldinhos .................................................................................................................12 CAPÍTULO 3 Caracterização do Modelo de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos .................20 CAPÍTULO 4 Outros arranjos e modelos para realizar a Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos..................................................................................................................................30 CAPÍTULO 5 Elementos para o sucesso da Gestão Comunitária..................................................................34 CAPÍTULO 6 Interface com políticas públicas........................................................................................................37 CAPÍTULO 7 Benefícios da Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos e Agricultura Urbana...........................................................................................................................................................38 Índice
  • 6. 66 GESTÃO LOCAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS O gestão dos resíduos sólidos nas cidades, que engloba desde os funcionários, os equipamentos utilizados, caminhões, serviço de limpeza e co- leta e a destinação final, está entre os maiores gastos das prefeituras. Em grande parte dos casos, os ater- ros sanitários para destinação final são administrados por empresas terceirizadas, com uma taxa exclu- siva por tonelada de resíduos envia- da. Além de oneroso, este modelo padrão tem como consequência o descarte irregular dos materiais passíveis de reciclagem. Quanto mais próximo da geração dos resíduos se dá o trabalho de tria- gem e reciclagem, melhor se dá o pro- cesso de sensibilização, pelo fato das pessoas da comunidade verem de per- to todas as famílias envolvidas e o re- sultado desse processo, criando o ciclo da correta separação e destinação. As- sociações e cooperativas de catadores
  • 7. 77 e recicladores podem contribuir de maneira significativa na gestão mu- nicipal dos resíduos sólidos, tanto pela coleta de casa em casa ou nos PEV’s (Pontos de Entrega Voluntá- ria), como recebendo nos galpões os materiais da coleta seletiva, triando e encaminhando para as indústrias. No tocante à gestão dos resíduos sólidos orgânicos, nossa condição de país tropical demanda agilida- de na operacionalização, já que as altas temperaturas influenciam di- retamente na velocidade da decom- posição do material. Devido a isso, a coleta desta fração do “lixo” deve atender a um período fixo, de duas a três vezes por semana. Atualmente essa periodicidade na coleta é feita apenas para os rejeitos, visto que praticamente nenhuma cidade bra- sileira recicla seus resíduos orgâni- cos, ficando estes misturados com outros materiais. Um dia de rotina em frente ao galpão da Revolução dos Baldinhos. No local, bolsistas e o grupo comunitário realizam tarefas internas, como peneiramento e ensacamento de adubo, e preparam-se para visitas às famílias do projeto
  • 8. 8 dos resíduos orgânicos são água 70% Resíduos compostáveis orgânicos Recicláveis secos Rejeitos 35% 15% COMPOSIÇÃO DO LIXO DOMÉSTICO URBANO 50% Compostos em grande proporção por água, os resíduos orgânicos são passíveis de tratamento local e desvio do aterro sanitário
  • 9. 99 O que se busca com a gestão des- centralizada é inverter a lógica de enviar tudo para o aterro sanitário, através da coleta frequente dos resí- duos compostáveis orgânicos - o que diretamente qualifica os resíduos re- cicláveis secos, que podem ser coleta- dos mais espaçadamente, bem como os rejeitos, que serão reduzidos. De tudo que produzimos e desti- namos aos aterros sanitários, cerca de 50% são resíduos compostáveis orgânicos, 35% recicláveis secos e apenas 15% rejeitos. A média nacio- nal que cada um de nós produzimos é de aproximadamente 1 kg de resí- duos por dia, sendo que a maioria é enterrada em aterros ou lixões. A gestão dos resíduos sólidos or- gânicos fica facilitada quando reali- zada localmente, praticada de forma descentralizada, aliada a um circuito curto de reciclagem. O modelo de gestão comunitária é uma solução adequada aos municípios brasileiros, visto que cerca de 80% destes tem população inferior à 20.000 habitan- tes, com produção estimada em até 10 toneladas de resíduos orgânicos por dia. Para os municípios maiores, a gestão comunitária pode ser efeti- vada com diferentes pátios de com- postagem. Os resíduos sólidos orgânicos são compostos de cascas de frutas e ver- Além de desperdiçados como matérias-primas, os resíduos orgânicos enviados aos aterros reagem com materiais tóxicos e tornam-se poluentes. O modelo de gestão comunitária é uma alternativa para a realidade tropical e urbanística brasileira duras, sobras de comida, borra de café e chimarrão, filtro de café, cas- ca de ovo, guardanapo engordurado, palito de dente, aparas de grama, fo- lhas e podas de árvores, serragem e óleo de fritura (o óleo é utilizado para fazer sabão e biodiesel, mas sua borra também pode ser compostada). Interessante saber que a compo- sição dos resíduos sólidos orgânicos dos países tropicais segue a mesma proporção de água do corpo huma- no, ou seja, 70% é água. Quando os resíduos orgânicos são misturados e enviados ao aterro sanitário, por sua acidez, reagem com outros materiais tóxicos, onde é produzido o líquido chamado de chorume, considerado um grande poluente.
  • 10. SEGREGANDO OS RESÍDUOS PARA FAVORECER A CADEIA DA RECICLAGEM Quando se separam correta- mente os resíduos orgânicos para reciclagem, uma consequência imediata é a melhoria na triagem dos resíduos secos, gerando quali- dade na rotina dos trabalhadores e maiores valores de venda para as empresas que reciclam. No Bairro Monte Cristo, ponto de referência desta publicação, a segregação dos resíduos beneficia os catadores au- tônomos que circulam pelas ruas re- colhendo materiais recicláveis, bem como a ARESP (Associação de Re- cicladores Esperança), onde traba- lham cerca de 15 famílias, receben- do em torno de um salário mínimo mensal pela venda dos materiais. A reciclagem orgânica, na pers- pectiva da gestão comunitária descentralizada, traz em sua ori- gem a relevância social da geração de renda e qualidade ambiental às comunidades, tendo recipro- cidade de princípios e interesses com o movimento dos catadores e recicladores de materiais secos. Um dos princípios é que a atua- ção dos agentes comunitários seja 10
  • 11. 11 articulada por associações e coo- perativas, como prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305). Com a organização asso- ciativa tanto dos catadores de reci- cláveis secos quanto de orgânicos, seria possível reciclar até 86% de tudo o que produzimos. 11 Trabalhadores da ARESP e da Revolução dos Baldinhos. O modelo associativo para os recicláveis secos deve servir para os compostáveis orgânicos, com reciprocidade de ações e benefícios
  • 12. 12 A Revolução dos Baldinhos sur- giu por um problema real: o excesso de lixo misturado de- positado nas ruas, em sacolas que eram reviradas e rasgadas por animais, causando a proliferação de doenças. Em 2008 ocorreu um surto de leptospirose, contraída através dos ratos. Algumas crianças voltavam das creches com mordidas dos roedores, e dois jovens chegaram a falecer. Foi nessa conjuntura que lide- ranças e moradores da comunidade, representantes das escolas e do Cen- tro de Saúde, um técnico do Cepagro e mulheres da Frente Temporária de Trabalho reuniram-se para entender o problema. O consenso era de que não bastava intervir com dedetização, posto que, se o alimento proveniente do lixo nas ruas continuasse acessível, a chance de ocorrer um novo surto se- ria ainda maior. Era necessário achar uma solução mais adequada. O Bairro Monte Cristo, em Floria- nópolis, possui 9 comunidades carac- terizadas pela violência, população em situação de pobreza e baixo índice de escolarização, com muitas famí- lias provenientes de áreas rurais para tentar uma vida melhor na cidade. As ruas são muito estreitas, o que dificul- ta a coleta dos resíduos. Muitos são os casos de descarte irregular de lixo, em terrenos baldios e áreas públicas. A sugestão para reduzir o número de roedores foi separar as sobras de comida em baldinhos com tampa e re- ciclar na própria comunidade. A prin- cípio parecia uma medida difícil de entender: combater os ratos reunindo no próprio bairro todos os resíduos orgânicos produzidos. Para compreender esta iniciativa, é necessário conhecer algumas expe- riências que já eram anteriormente realizadas no local. Para o enfrenta- mento do problema do lixo acumu- lado, existia a Frente Temporária de Trabalho, pela qual algumas mulheres eram contratadas por 3 meses para realizar a limpeza nas ruas e tinham um contato muito próximo com as fa- mílias do bairro. Em 2006, 2 escolas participavam também do projeto de hortas escolares do Cepagro, tendo a compostagem como base para a pro- dução do composto orgânico. Além disto, um médico do posto de saúde local promovia a compostagem para reciclagem dos resíduos domésticos e produção de alimentos saudáveis. A REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS 12
  • 13. 1313 A concepção das sobras orgânicas como matéria prima já era conhecida pelos moradores da Chico Mendes, envolvidos em programas de compostagem e agricultura urbana. As ações também mostraram-se adequadas para o combate a uma epidemia de ratos que assolava a comunidade
  • 14. 14 Quando esta solução foi apontada em reunião, os moradores já estavam cientes da técnica da compostagem. Além disso, as mulheres da Frente Temporária, que eram da própria co- munidade, se dispuseram a ir de casa em casa e distribuir um “baldinho” para as famílias, informando sobre o projeto e o que poderia ser descarta- do ali. Assim os moradores poderiam separar corretamente os resíduos or- gânicos em recipientes fechados que impedissem o contato com roedores e outros vetores de doenças. O Cepagro prontificou-se tanto a assessorar a compostagem, iniciada na Escola Básica Estadual América Dutra Machado, quanto a estimular o desenvolvimento coletivo da metodo- logia de gestão comunitária. Os demais parceiros e a comunidade prontifica- ram-se a participar e contribuir com todo o processo. Surgia assim a “Re- volução dos Baldinhos”, que começou com apenas 5 famílias e num curto es- paço de tempo atingiu 95 famílias. Desta forma foi criada uma re- lação de reciprocidade, onde as fa- mílias participantes viam de perto o trabalho de coleta e reciclagem realizado, sendo posteriormen- te contempladas com o composto orgânico para utilização nas suas hortas. Em pouco tempo a dis- seminação das informações era Eunice Brasil, Rose Helena de Souza (ambas da Frente Temporária de Trabalho) e a merendeira adaptada para ações ambientais Kátia Lalau (Creche Chico Mendes) foram pioneiras na sensibilização das famílias para separação da fração orgânica na comunidade Chico Mendes
  • 15. 15 realizada pelas próprias famílias participantes, que informavam os vizinhos para a correta separação de seus resíduos orgânicos. A coleta era realizada com um carrinho de supermercado pelo gru- po comunitário Revolução dos Bal- dinhos, duas vezes por semana, de casa em casa. Com o aumento das famílias, o tempo de coleta passou a durar quase o dia inteiro. Observou- -se então a necessidade de fazer uma parceria com a empresa municipal de limpeza urbana (COMCAP), que disponibilizou um pequeno utilitá- rio, adequado para o dimensiona- mento das ruas, para a coleta dos re- síduos orgânicos. Para a viabilidade da logística, o grupo Revolução dos Baldinhos implantou PEVs (Pontos de Entrega Voluntária) na comuni- dade. Cada PEV era instalado entre 5 a 8 habitações, em média, poden- do ser na frente da casa de algum morador, tendo este como respon- sável, ou junto à postes de luz. 15 O sucesso do projeto deu-se inicialmente pela sensibilização. Não eram técnicos que iam às casas conversar com as famílias, eram jovens e moradores da própria comunidade, falando de soluções que eles mesmos identificaram para o bem do bairro
  • 16. 16 O número de PEVs espalhados pelo Bairro Monte Cristo chegou a 43, envolvendo 200 famílias. A par- tir disto chegou-se a um dos aspectos mais difíceis da gestão local de resí- duos: obter um terreno para as ativi- dades de reciclagem orgânica. Houve inclusive a ocupação de uma área pú- blica para suprir esta demanda, deso- cupada após um ano por meio de in- timação judicial, forçando o projeto a retornar ao pátio da Escola. Com a sobrecarga do local, foi necessário re- duzir os PEVs e consequentemente o número de participantes. Atualmen- te, o projeto abrange 100 famílias e 08 instituições de ensino e projetos sociais, com 28 PEVs instalados pela comunidade. São recicladas 12 tone- ladas por mês de resíduos orgânicos, resultando em 03 toneladas de com- posto orgânico. ARTICULAÇÕES, PARCERIAS E REPLICAÇÃO: CONQUISTAS PASSO A PASSO As ações do projeto sempre aconteceram de forma propositiva, por tratar-se de uma inovação com poucos referenciais anteriores, onde o grupo Revolução dos Baldinhos e o Cepagro foram aprendendo com os erros e aprimorando as atividades no decorrer dos anos. A importância de uma organização de apoio foi fun- damental para a obtenção de recur- sos para o trabalho do grupo comu- nitário, com elaboração de projetos para editais e premiações, possibili- tando a permanência do mesmo du- rante os 8 anos de projeto. Dentre os patrocínios obtidos, destacam-se as parcerias com a Eletrosul, Instituto Vonpar, Misereor, Caixa ODM, Oi REVOLUÇÃO DOS BALDINHOS 2016 100 Famílias 8 Instituições de ensino e projetos sociais 28 PEVs toneladas de adubo reciclam toneladas mensais de resíduos orgânicos geram 3 12
  • 17. 171717 Futuro, Fundação Banco do Brasil e ONU Habitação. Em 2011 ocorreu um grande im- pulso ao reconhecimento nacional da Revolução dos Baldinhos: foi quando o projeto recebeu o certi- ficado de Tecnologia Social pela Fundação Banco do Brasil (FBB). Em 2013, um prêmio vinculado a este certificado proporcionou re- cursos para a replicação do méto- do em outra comunidade do Bairro Monte Cristo. Em 2012, durante premiação obtida junto à ADVB/SC (Asso- ciação dos Dirigentes de Vendas e Marketing), foi desenhada uma parceria com o SESC (Serviço So- cial do Comércio) de Santa Cata- rina. Quando consolidada, a par- ceria desdobrou-se na capacitação dos funcionários do Hotel SESC Cacupé, que ficaram uma semana em estágio na Revolução dos Bal- dinhos. A partir desta formação, foi im- plementado um pátio de compos- tagem na unidade SESC/Cacupé em Florianópolis, cujo modelo ex- pandiu-se também para as unida- des de Blumenau e de Lages. Este passo foi muito importante para o desenvolvimento da compostagem como método de tratamento de resíduos orgânicos, tendo nestes pátios institucionais o desenvolvi- mento da barreira verde e do sis- tema de drenagem para coleta do composto líquido. Conquistas importantes da Re- volução dos Baldinhos aconteceram em 2015. Em março, o Cepagro re- alizou o 1o. Curso de Formação em Gestão Comunitária de Resíduos Or- gânicos, com duração de uma sema- na e participantes de diversas partes do país. No mesmo ano iniciou-se a assessoria à implantação de pátios de compostagem no munícipio de São Paulo, para reciclagem dos resí- duos orgânicos de feiras livres. Em dezembro, o prefeito da ci- dade participou de um cerimonial inaugurando um pátio piloto na subprefeitura da Lapa, que absorve os resíduos de 26 feiras livres, num total de 140 toneladas mensais. Em seu discurso, o gestor enfatizou a necessidade de estender a iniciativa a todas as subprefeituras do muni- cípio, visando atender as 900 feiras livres existentes. Através do vínculo com a FBB, a partir de 2016 o modelo de ges- tão comunitária será replicado em empreendimentos vinculados à po- lítica de habitações populares “Mi- nha Casa, Minha Vida”, através do PNHU (Programa Nacional de Ha- bitação Urbana).
  • 18. 1818 2008 Surto de leptospirose na Comunidade Chico Mendes. Nasce a Revolução dos Baldinhos 2011 Certificado de Tecnologia Social pela FBB 2012 Parceria com o SESC/SC 2006 Projeto de compostagem e hortas do Cepagro BALDINHOS A Revolução dos Em ato simbólico na subprefeitura da Lapa, prefeito de São Paulo Fernando Haddad confere a temperatura de uma leira de compostagem, durante entrega do primeiro lote de composto produzido a partir de resíduos de 26 feiras livres no bairro Para o avanço do modelo, é funda- mental que haja sua incorporação pelos municípios, reconhecendo a gestão lo- cal como uma forma de cumprir a Lei 12.305 dos resíduos sólidos, que proíbe o envio de materiais passíveis de reci- clagem aos aterros sanitários, sugerin- do a parceria com associações e coope- rativas com dispensa de licitação para a correta destinação e reciclagem dos resíduos. Para a viabilidade do siste- ma, é necessário o repasse dos recursos economizados pelo não envio aos ater- ros para as associações e cooperativas, bem como a disponibilidade de áreas adequadas para a reciclagem orgânica, com compostagem e agricultura urbana.
  • 19. 1919 2015 Realização da Formação em Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos / Inauguração de pátio de compostagem para feiras em São Paulo 2016 Replicação pelo Programa Nacional de Habitação Urbana 2013 Prêmio de Tecnologia Social pela FBB O avanço do método está nas mãos das prefeituras, que devem estabelecer parcerias com associações e remunerá-las pelo serviço público realizado, além de destinar áreas adequadas para a compostagem e agricultura urbana
  • 20. 20 O modelo conhecido como Revolução dos Baldinhos tem como base o trabalho de sensibilização das famílias e parceiros, aliado à agricultura urbana, onde todos os participantes recebem o composto orgânico para promoção das hortas residenciais, escolares e comunitárias. Dentre os elementos de implantação, manutenção e disseminação, destacam-se: CARACTERIZAÇÃO DO MODELO DE GESTÃO COMUNITÁRIA DE RESÍDUOS ORGÂNICOSGRUPO COMUNITÁRIO Constituído por moradores e mo- radoras da comunidade, caracte- rística que influenciou diretamente no sucesso da Revolução dos Bal- dinhos, gerando confiança e reci- procidade entre os participantes. Dentre as principais ações do Gru- po Comunitário estão: Mobilização e sensibilização das famílias e instituições educacionais; Execução do trabalho periódico de coleta, transporte e tratamento/ destino dos resíduos orgânicos através da compostagem; Distribuição do composto orgânico produzido; Realização de oficinas nas escolas; Contribuição à incidência política através de palestras e apresentações, além da participação em reuniões e articulação com as parcerias envolvidas. 20
  • 21. 21 Os resíduos orgânicos representam cerca de 50% de tudo que produzimos e descartamos. Trabalhar com a va- lorização da fração orgânica também passa por uma mudança de olhar so- bre nossos resíduos, visto que quando sefalaemreciclarassobrasdecomida, é comum brotar no inconsciente cole- tivo uma ideia de mau cheiro e repug- nância. No entanto, ao descascar uma banana, a casca tem um ótimo cheiro, assim como a casca de laranja e todos os resíduos orgânicos. Essa visão está muito associada ao modelo que temos hoje, onde tudo vai para um saco fe- chado, todo misturado, passando por um processo de fermentação natural que libera gases como metano, amô- nia e enxofre, responsáveis pelo chei- ro desagradável. Quando se inicia uma ação de com- postagem, consequentemente se pro- move a valorização direta de todos os outros resíduos recicláveis, que passam a ficar mais limpos e aptos ao manuseio. Para facilitar o manejo, sugerimos a destinação dos resíduos sólidos em 3 frações: VALORIZAÇÃO DA FRAÇÃO ORGÂNICA Compostáveis Orgânicos (cascas de frutas e verduras, frutos do mar, casca de ovo, borra e filtro de café, chimarrão, guardanapo engordurado, restos de comida, ...); Rejeitos (Não recicláveis: bitucas de cigarro, fraldas, absorventes, preservativos, papel higiênico, plásticos sujos, ...); Recicláveis Secos (plástico, vidro, metal, papel, tetra pack,...); 21
  • 22. 22 SEPARAÇÃO NA FONTE Para o início da Gestão Comuni- tária de Resíduos Orgânicos, foi feito um trabalho bem atencioso do grupo comunitário com cada família, com explicação do pro- jeto e o que poderia ser enviado para a reciclagem orgânica. Dis- ponibilizar um recipiente ade- quado para a correta separação dos resíduos orgânicos contri- bui muito com a qualidade de todo processo. Por isso a Revo- lução dos Baldinhos distribuiu para as famílias um “baldinho” com tampa e alça para facilitar a participação das famílias. O “baldinho” evita que pequenos animais e insetos possam aces- sar os resíduos orgânicos, além de ser adequado ao manejo e descarga nos recipientes maio- res dos PEVs. 22 TRANSPORTE ADEQUADO A Revolução dos Baldinhos iniciou a coleta dos resíduos orgânicos de casa em casa utilizando um carrinho de supermercado. Com o aumento das famílias, foram implantados PEVs na comunidade e adquirido um car- rinho de quatro rodas para realizar a coleta. O número de adesões cresceu ainda mais, proporcionalmente ao ga- nho de credibilidade junto às famílias e instituições. Dessa forma buscou-se parceria com a empresa de limpeza urbana de Florianópolis (COMCAP), que disponibilizou um veículo em ta- manho adequado para a coleta, com motorista e dois garis. No entanto, a frequência da cole- ta mecanizada foi insatisfatória em muitos momentos, por motivos como quebra de veículos ou greve dos fun- cionários. Nestas ocasiões, para que o resíduo não ficasse acumulado nas bombonas em frente às casas, o gru-
  • 23. 23 po comunitário seguiu realizando a coleta, voltando a utilizar o car- rinho de tração humana e mais recentemente uma Kombi adqui- rida pelo projeto. A manutenção do compromisso de limpeza foi também um fator crucial para o sucesso do modelo de gestão co- munitária. O SESC, cujos funcionário fo- ram capacitados pela Revolução dos Baldinhos, utiliza nas unidades de Blumenau e Lages um quadri- ciclo com reboque para transpor- te das bombonas e materiais até o pátio de compostagem. Em alguns países a coleta é toda realizada mecanicamente, com recipientes de coleta adaptados para os cami- nhões. Cabe a cada realidade en- contrar um modelo eficiente que facilite este processo e possa com- portar a dimensão planejada. 23 Aliado às parcerias locais, as enti- dades de apoio, como ONGs, insti- tuições, universidades e secretarias municipais, dentre outros, são fun- damentais para o sucesso do modelo. Neste somatório de forças, busca-se questionar e redefinir a estrutura do sistema de coleta convencional que, apesar de deixar a cidade limpa, acar- reta em prejuízos ambientais decor- rentes do tratamento do lixo mistura- do, além dos altos custos financeiros envolvidos direta e indiretamente. É importante a articulação das inicia- tivas locais junto às Universidades, para estreitamento da pesquisa e ex- tensão, com o envolvimento de aca- dêmicos que serão precursores de um novo modelo de cidade, bem como as alianças com secretarias e organi- zações para promover a mobilização junto aos gestores públicos. ENTIDADES DE APOIO
  • 24. 24 O envio dos resíduos sólidos para o aterro sanitário demanda alto custo com o transporte de longa distância para o enterro dos resíduos, visto que a destinação final deve ser afastada dos grandes centros populacionais, devido aos seus impactos e odores. Devem também ser considerados os ruídos, a poluição e o prejuízo à mo- bilidade urbana causados pelo trá- fego de caminhões. Além disso, esta lógica de saneamento desvaloriza as matérias primas para a reciclagem, bem como as relações que estas po- dem criar em uma comunidade. A Revolução dos Baldinhos trou- xe uma nova reflexão ao reciclar os resíduos orgânicos na própria co- munidade, colocando as famílias e instituições de ensino na frente do processo, porque são elas que ini- ciam a separação correta dos ma- teriais que vão para compostagem. Assim como na agricultura cresce o movimento dos circuitos curtos de comercialização, vemos que a reciclagem local é a solução para o tratamento dos resíduos orgânicos, que representam metade de tudo que descartamos. Por estarmos num país com clima quente, onde a de- composição destes resíduos se dá de forma mais rápida, os pátios de compostagem descentralizados con- tribuem para a agilidade, a redução de custos com transporte e o trata- mento com qualidade. Por trabalhar incisivamente com a sensibilização e agricultura urbana, são fortalecidas a relações comuni- tárias, através da troca de sementes, mudas e encontros entre os parcei- ros, que fortalecem a participação e o envolvimento. DESTINAÇÃO DESCENTRALIZADA, RECICLAGEM LOCAL 24
  • 25. 25 Existem vários modelos de compos- tagem. Há 20 anos, a Universidade Federal de Santa Catarina, através do professor Rick Miller (Departa- mento de Engenharia Rural / Centro de Ciências Agrárias), dissemina um modelo praticado de forma milenar pelos camponeses indianos, aprimo- rado pela instituição, conhecido como “método UFSC – leiras estáticas com aeração passiva”. Utilizando matérias primas mui- to produzidas nos centros urbanos, como palha e serragem de podas de árvores, o modelo tem como base utilizar estes materiais como estrutu- rantes para oxigenação das leiras de compostagem, dispensando o revol- vimento por completo das mesmas - o que proporciona um sistema sem odores, fator primordial para sua prá- tica próximo à residências e junto ao espaço urbano. A oxigenação, aliada ao equilíbrio na proporção entre os materiais estru- turantes e os resíduos orgânicos, de- sencadeia a proliferação de bactérias e fungos benéficos cuja ação eleva a temperatura das leiras de composta- gem para 65 °C em média, tempera- tura responsável pela aceleração da decomposição e sanidade de todo o COMPOSTAGEM TERMOFÍLICA – MÉTODO UFSC sistema. As altas temperaturas pro- vocam a circulação de água pela face superior, através da sua evaporação. A água também circula por baixo das leiras, desenhadas para favorecer a drenagem do composto líquido. Para cada 10 toneladas de resíduos re- ciclados, cerca de 2 toneladas de com- posto orgânico são produzidas, além do composto líquido. O tempo para produção varia de 4 a 6 meses, depen- dendo do tamanho das leiras de com- postagem, a quantidade de resíduos colocada, a periodicidade de alimenta- ção destas com novos resíduos orgâni- cos e o tipo de resíduo que é colocado. A opção por pátios descentralizados, ao invés do incentivo à compostagem doméstica, levou em conta as exíguas áreas dos quintais na comunidade Chico Mendes / Bairro Monte Cristo, um fator que poderia trazer riscos ao método. Por esta razão foram capa- citados agentes comunitários(as) da Revolução dos Baldinhos, responsá- veis por todo o processo da composta- gem, da sensibilização comunitária ao manejo cotidiano. 25
  • 26. 26 A Revolução dos Baldinhos mostra que o diferencial para o envolvimento comunitário está na relação próxima com as famílias e entidades do bair- ro. Um conjunto de ações é levado em prática pelos próprios agentes da comunidade, sensibilizando para uma mudança de atitudes. Entre os moti- vos que levaram à adesão das famílias, destacam-se: • A proposta de reduzir o número de ratos na comunidade; • As visitas domiciliares, feitas cons- tantemente pelo grupo comunitário; • O testemunho do envolvimento diá- rio do grupo comunitário trabalhando pela melhoria do bairro; • A exigência dos filhos e filhas, após receberem oficinas de compostagem e agricultura urbana nas escolas, de que os resíduos orgânicos fossem coloca- dos nos baldinhos para seguir o cami- nho da reciclagem. Como estratégia, o grupo comunitário passou a participar das reuniões pe- dagógicas nas escolas, para fortalecer o vínculo com diretoras, professores, profissionais da cozinha e da limpeza, bem como articular atividades junto às turmas. Atualmente, existem par- cerias com a Escola América Dutra, as CrechesChicoMendes,JoeleMatheus SENSIBILIZAÇÃO E ARTICULAÇÃO 26 de Barros, o SEDEP, o Lar Fabiano de Cristo, a Casa Chico Mendes, o Centro de Educação Continuada Chico Men- des e Nova Esperança e o Centro de Saúde do bairro. Pelo menos uma vez por ano é reali- zado o Encontro da Família e Parcei- ros, onde se apresentam vídeos e re- portagens divulgados sobre o projeto, as atividades do mes, as dificuldades apresentadas e os próximos passos, definidos junto aos moradores e par- ceiros. No final de cada encontro é re- alizada uma confraternização. Com o crescimento do projeto, mui- tos grupos, turmas de escolas e facul- dades começaram a agendar visitas
  • 27. 2727 junto à Revolução dos Baldinhos. As visitas guiadas foram um marco muito importante, pois a comuni- dade, estigmatizada por ser mui- to violenta, abriu suas portas para apresentar uma ação positiva que influenciou diretamente na auto es- tima dos moradores. A Revolução dos Baldinhos foi também chamada para participar de palestras, even- tos e congressos, em que se desta- cam a Rio + 20 (Rio de Janeiro) e o Terra Madre/Slow Food (Itália), entre outros. Segundo relato dos próprios integrantes, a Revolução dos Baldinhos ganhou asas e pode sensibilizar muitas comunidades e pessoas de várias regiões do país e do mundo. Como trabalho diferenciado, des- taca-se também a articulação do Cepagro e o grupo Revolução dos Baldinhos para efetivação da gestão comunitária de resíduos orgânicos e agricultura urbana como política pública. Prova disso é que vários se- tores da prefeitura de Florianópolis, como as Secretarias de Habitação e Saneamento Ambiental, de Saúde e de Assistência Social, os Centros de Saúde (CS) e de Referência e Assistência Social (CRAS), além da COMCAP, vem sensibilizando-se gradativamente com o modelo.
  • 28. 28 Novamente preconiza-se a parceria com o poder municipal para a ma- terialização destas infraestruturas, visto que as ações de tratamento dos resíduos, reciclagem e redução dos materiais enviados aos aterros e li- xões são de responsabilidade de cada prefeitura. Ao contrário de usinas de reciclagem e incineradores, os pátios de compostagem tem um custo baixo de implantação e manutenção. É essencial o investimento mu- nicipal para garantir um pátio de compostagem profissional que será gerenciado pela organização comu- nitária. Além disso, os Planos Di- retores devem alocar, no escopo do zoneamento urbano, áreas para as atividades de compostagem e agri- cultura urbana em atenção ao mode- lo descentralizado de gestão de resí- duos. Em Florianópolis, temos como um dos grandes entraves a falta de disponibilidade de áreas públicas, causada tanto pela grande especula- ção imobiliária, quanto pela escolha das prioridades atribuídas aos terre- nos de posse do município. Quando conquista-se uma área ade- quada para o manejo da composta- PÁTIO DE COMPOSTAGEM, ECO PRAÇA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL - GESTÃO COMUNITÁRIA COM INFRAESTRUTURA MUNICIPAL gem, esse local tem validade ilimita- da. Isto porque, no sistema de leiras, há sempre unidades em uso, uni- dades em repouso e unidades com composto orgânico pronto para ser utilizado nas hortas; quando estes são removidos, abre-se espaço para novas leiras, criando um ciclo virtu- oso na gestão dos resíduos orgânicos. Os pátios de compostagem são mais do que locais de reciclagem: confi- 28
  • 29. 29 Proposta de pátio para a Revolução dos Baldinhos, cuja materialização depende da cessão de uma área pública pela prefeitura, já demarcada porém não homologada guram-se como áreas de educação e promoção da agricultura urbana. Para otimizar estes potenciais, um projeto elaborado em parceria com a Secretaria Municipal de Habitação propõe o modelo de Eco Praça, um espaço cuja função seria acomodar grupos para realização de palestras, cursos e oficinas, bem como promo- ver a integração dos moradores atra- vés das hortas comunitárias. Seguindo os critérios estipulados para pátios de compostagem de pe- queno porte, conseguimos avançar na gestão comunitária local com qualidade e respeito aos morado- res. Importante sempre ter um pátio de compostagem sem cheiro, limpo, sem insetos e outros veto- res, servindo de exemplo perma- nente e estimulando sua prática em outros locais. 29
  • 30. 30 OUTROS ARRANJOS E MODELOS PARA REALIZAR A GESTÃO COMUNITÁRIA DE RESÍDUOS ORGÂNICOS D urante o curso de Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos mencionado nes- ta publicação, baseado na realidade encontrada no município de Florianópolis e envolvendo grupos de outras cidades do Brasil, foi de- monstrado que cada local (seja con- domínio, empreendimento, bairro ou município) requer um olhar atento às suas potencialidades e especificida- des. É aconselhável começar numa escala pequena, para que aos poucos, com aumento de credibilidade e arti- culação com a comunidade e gestores públicos, a experiência possa crescer com qualidade e sem sobrecargas. A seguir, apresentamos alguns modelos, diversificados quanto às suas escalas e modos de organização: 30
  • 31. 31 Em parceria com uma associação que faz a coleta e o manejo, a empresa municipal de limpeza urbana de Florianópolis (Comcap) mantém um pátio mecanizado que recebe resíduos orgânicos de grandes geradores COMPOSTAGEM DE VIZINHANÇA Disseminada pelo Coletivo Pátios Amigos no bairro do Rio Verme- lho, em Florianópolis, consiste na compostagem comunitária em uma área com predomínio de casas e moradores interessados na pro- moção das hortas agroecológicas. Em cada rua, um morador dispo- nibiliza seu terreno para a prática da compostagem, realizada 2 vezes por semana. Também combinam mutirões nas casas para plantio e manejo das hortas. COMPOSTAGEM EM PARQUES Os parques municipais e estaduais são espaços com muito potencial para a promoção da compostagem comunitária. Geralmente os parques já possuem suas barreiras verdes constituídas. Dentro de seus princí- pios de gestão, podem fomentar esta prática que, além de utilizar as so- bras de comida, dão uma destinação nobre para as folhas e galhos, trans- formando tudo em composto para uso também interno, como produ- ção de mudas. 31
  • 32. 32 Em Florianópolis existe o projeto Família Casca, situado no Parque Ecológico do Córrego Grande, que dispõe de um PEV para os morado- res trazerem seus resíduos orgâni- cos, com posterior disponibilização do composto produzido. No Camping do Parque Estadual do Rio Vermelho, administrado por uma parceria entre o Cepagro e a FATMA (Fundação do Meio Am- biente de SC), também é realizada a gestão dos resíduos sólidos, com compostagem dos resíduos orgâ- nicos dos campistas e dos eventos que são realizados. Neste espaço, a compostagem configura-se como estratégia de recomposição das áre- as degradadas, através de compos- teiras itinerantes. Importante res- saltar que estes parques já possuem uma equipe de educação ambiental, e são locais estratégicos para disse- minação da reciclagem orgânica e agricultura urbana. COMPOSTAGEM EM CONDOMÍNIOS Sejam de casas ou de apartamentos, os condomínios possuem um qua- dro de funcionários que podem re- ceber formação para a inserção das atividades de reciclagem, com com- postagem e hortas. Cada local re- quer um planejamento para dimen- sionamento de área ideal conforme o número de condôminos. É impor- tante, no processo de organização, estabelecer ações de sensibilização e sistematização da forma de parti- cipação dos moradores, envolvendo separação, coleta e disposição final. O composto orgânico é um produto muito utilizado nestes locais, prin- cipalmente para jardinagem e pe- quenas hortas. CONJUNTO HABITACIONAL Nesses conjuntos, a possibilidade de geração de renda pode ser um grande fator para as ações de reci- clagem orgânica. A horta comuni- tária também é uma estratégia para manutenção dos vínculos e encon- tro entre os moradores. Os con- juntos habitacionais podem tanto formar um sistema independente, como acionar parcerias com a mu- nicipalidade. Da mesma forma, po- dem adaptar modelos de compos- teiras residenciais, compostagem de vizinhança ou pátios locais des- centralizados. BAIRROS – GESTÃO COMUNITÁRIA Com escolha de áreas estratégicas pelas comunidades, pode-se envol- ver um bairro inteiro na gestão de seus próprios resíduos.
  • 33. 33 A gestão comunitária deve envol- ver todos os componentes de um bairro, como casas, apartamentos, instituições de ensino, projetos so- ciais, empresas, hospitais e postos de saúde, dentre outros, com par- cerias locais que a fortaleçam. Mo- radores, professores, merendeiras, equipe de limpeza, empresários, agentes de saúde e alunos devem ser reunidos através da iniciativa. A gestão comunitária pode en- globar composteiras residenciais, compostagem de vizinhança e com- postagem institucional, em um so- matório de ações visando reciclar 100% dos resíduos orgânicos de forma local e descentralizada. Um pátio de compostagem bem capri- chado contribui para essa difusão. Empresas alimentícias, restauran- tes e supermercados, que se en- quadram como grandes geradores, podem estabelecer contrato com uma empresa de compostagem ou estabelecer parceria com uma as- sociação ou cooperativa comunitá- ria, conforme capacidade do pátio de compostagem. COMPOSTAGEM MUNICIPAL A gestão municipal pode englobar as diferentes estratégias para a re- ciclagem dos resíduos orgânicos. Partimos sempre do princípio da reciclagem local e descentralizada. Para isso, os diferentes arranjos e modelos devem coexistir. Para atender toda demanda, podem ser estabelecidos pátios centrais para incentivar principalmente a parti- cipação dos grandes geradores. Para promover estes sistemas são necessárias políticas que garan- tam a autonomia e sua viabilidade. Uma das estratégias encontradas e previstas na política nacional de resíduos sólidos é o repasse de verbas pelas toneladas tratadas e recicladas, por grupos formaliza- dos em associações e cooperati- vas, preferencialmente. Outra es- tratégia é fomentar mecanismos de distribuição de composteiras residenciais, além de investir em práticas de educação ambiental e no estímulo à agricultura urbana. São também fundamentais o apoio à instalação dos pátios de compostagem ou Eco-praças, com equipamentos para garantir a qualidade das atividades, e a disponibilização dos materiais es- senciais para o processo de com- postagem, como palha, grama cortada e folhas, obtidas nos ser- viços de roçagem e limpeza, bem como a serragem, obtida com a tri- turação de galhos e podas. 33
  • 34. 34 P ara implantar um modelo de gestão inspirado na Re- volução dos Baldinhos, é sempre importante avaliar o contexto estrutural e conjuntura organizativa local com uma visão voltada para a prática. Diante disto trazemos aqui alguns importantes elementos a serem avaliados pre- viamente para o alcance do sucesso desta implantação. ASPECTOS PARA O DIMENSIONAMENTO DE UM PÁTIO DE COMPOSTAGEM Neste ponto, é importante res- saltar uma das características fun- damentais que diferenciam um aterro sanitário e um pátio de com- postagem: enquanto o primeiro funciona como um “depósito”, re- cebendo resíduos até a saturação de seu espaço físico, o segundo é um espaço de transformação, onde o produto final (adubo orgânico) é removido periodicamente dando espaço a novos ciclos de tratamen- to de resíduos. No método UFSC de compostagem, extensamente relatado neste documento, perce- bemos uma capacidade elástica do pátio, diretamente relacionada não somente aos volumes de entrada quanto à sua dinâmica operacio- nal. Em decorrência deste fator, cada metro quadrado de um pátio de compostagem estará disponível novamente após 7 meses, tempo que representa um ciclo completo entre a carga máxima recebido por uma leira, seu descanso e a maturação do composto. Outro aspecto importante é a re- lação de massa entre as partes úmi- das, que são os resíduos orgânicos a serem tratados, e as partes secas, que são materiais estruturantes (serragem, cavacos de madeira, fo- lhas secas, podas trituradas etc.) da leira de compostagem e sua cober- tura de palha. De acordo com levan- tamentos realizados na Revolução dos Baldinhos e outras iniciativas de compostagem com leiras estáticas do método UFSC em Florianópolis, a proporção ideal entre ambos é de 3 para 1, ou seja, cada 1,5kg de resíduo requer 0,5kg de material seco. ELEMENTOS PARA O SUCESSO DA GESTÃO COMUNITÁRIA 34
  • 35. 35 Dados de pesquisas apontam que sistemas de compostagem do modelo UFSC tem a capacidade de reciclar até 1,31 toneladas (consi- derada a mistura de resíduos orgâ- nicos e materiais secos) por metro quadrado de base de leira. Para compreender a disposição espacial ideal de uma leira de composta- gem, alguns requisitos devem ser observados: • Em relação à sua largura, pode variar de 2 a 2,5 metros (operação manual) a 3 a 3,5 metros (ope- ração semimecanizada), consi- derando o acesso ao centro das leiras onde serão depositados os materiais • Na mesma lógica, sua altura pode variar de 1,5 metros (opera- ção manual, em um limite de con- forto ao trabalhador) a 2,5 me- tros (operação semi-mecanizada, podendo ainda variar de acordo com a capacidade do implemento utilizado) • Quanto ao comprimento, os li- mitantes são apenas o formato do terreno e os arranjos com as demais estruturas do pátio. QUANTIDADE TRATADA ÁREA NECESSÁRIA 01 ton/dia 500m² 02 ton/dia 750m² 03 ton/dia 1.000m² 07 ton/dia 2.000m² 10 ton/dia 2.750m² A área total de um pátio de compostagem não deve conside- rar apenas os arranjos das leiras, mas também suas estruturas de apoio, como locais para abrigo das ferramentas e utensílios, armazenamento de materiais secos e líquidos percolados coleta- dos, recebimento de resíduos úmidos, maturação do composto, barreiras verdes, hortas e viveiro de mudas, dentre outras. Considerando as variáveis apresentadas, para estimar uma área para instalar o pátio de compostagem podemos tomar como referência que, para cada 1 tonelada diária de resíduos compos- tado, devemos prever 500 m². A partir desta escala inicial, a cada tonelada acrescida deve-se somar mais 250m². Numa tabe- la simples teríamos: 35
  • 36. 36 ASSESSORIA TÉCNICA Com a formação do Grupo Comu- nitário é fundamental ter uma insti- tuição de apoio técnico para a prática da compostagem e da agricultura ur- bana, pois problemas no manejo po- CONSTRUÇÃO DOS PLANOS DE GESTÃO COMUNITÁRIA Ter um bom plano de ação com metas, responsáveis e prazos para realização é fundamental para o grupo envolvido conseguir avaliar sua implantação. Este plano de ação deve ser construído participativamente com os envolvidos diretamente na implantação do modelo de gestão comunitária, bem como outros atores da comunidade. Nele devem constar: • As formas de abordagem e de sensibilização das famílias e o progresso na participação das mesmas; • A forma de implantação e os tipos de recipientes dos PEVs, além dos equipamentos para a coleta dos resíduos; • As ações de educação ambiental e de agricultura urbana; • As estratégias de divulgação e as necessidades de articulação com o poder público e outras organizações com e sem fins lucrativos do setor. As realidades de cada comunidade, como forma de ocupação do solo, relevo, existência ou não de sistemas de coleta de resíduos, presença de catadores, disponibilidade de locais e infraestruturas, potenciais de parcerias públicas e privadas e outros elementos serão fundamentais para o modelo de plano estabelecido. dem atrair vetores e causar mau chei- ro, colocando em risco todo o projeto. A partir deste apoio, gradativamente o grupo comunitário vai assumindo as responsabilidades técnicas.
  • 37. 37 INTERFACE COM POLÍTICAS PÚBLICAS A metodologia de gestão comunitária construída pela Revolução dos Bal- dinhos representa uma especial importância no contexto da atual Política Nacional de Re- síduos Sólidos, balizada pela Lei 12305/2010. Discutida durante 20 anos (foi finalmente sancio- nada em agosto de 2010), esta Lei determina, entre outras dis- posições, a completa proibição dos “lixões” a partir de 2015, e que os aterros sanitários legali- zados sejam exclusivamente alo- cados para os rejeitos, ou seja, resíduos que não disponham de meios viáveis (operacional ou economicamente) para a cadeia da reciclagem. Levando em conta o tamanho da fração orgânica, que corres- ponde, no Brasil, a 51,4% do peso de todos os resíduos sólidos, a Lei 12305/2010 determina deveres específicos ao titular dos servi- ços públicos de limpeza urbana, dentre eles: “implantar sistema de compostagem para resíduos sólidos orgânicos e articular com os agentes econômicos e sociais formas da utilização do compos- to produzido.” Por este motivo, a gestão comunitária de resíduos orgânicos passou a ser vista como uma alternativa viável ao cumpri- mento dos deveres municipais na cadeia da compostagem. A gestão comunitária pode ain- da alinhar-se a outras iniciativas nacionais, como a PNAPO (Po- lítica Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica), especial- mente aos incisos I e III de seu artigo terceiro, que determinam a promoção da soberania e se- gurança alimentar e nutricional, através da oferta de produtos agroecológicos, e a adoção de métodos e práticas que reduzam resíduos poluentes e a depen- dência de insumos externos para a produção. Este alinhamento acontece quando é estabelecido o vínculo entre os excedentes de produção de composto orgânico nas cidades e os agricultores fa- miliares do entorno. 37
  • 38. 38 A gestão local dos resíduos orgânicos promove DIVERSOS BENEFÍCIOS, dentre os quais podemos citar: BENEFÍCIOS DA GESTÃO COMUNITÁRIA DE RESÍDUOS ORGÂNICOSEAGRICULTURAURBANA A demanda por pequenas áreas para a reciclagem através da compostagem, seguindo critérios para o bom funcionamento da atividade no espaço urbano; O envolvimento da própria comunidade para a sensibilização e educação ambiental das famílias; A economia de recursos utilizados para o transporte aos aterros sanitários, diminuindo o tráfego de caminhões da coleta convencional; A redução de matérias primas e recursos que vão para o aterro sanitário, contribuindo para o ciclo dos nutrientes e a qualidade ambiental; A geração de trabalho e renda; O aumento da auto estima e oferta de possibilidades a jovens e moradores em situação de vulnerabilidade social; O empoderamento de jovens e moradores, que apropriam-se dos conhecimentos da gestão comunitária e o disseminam através de oficinas, cursos e palestras; A limpeza das ruas e a redução de focos de doenças. O aumento da qualidade dos resíduos secos, que também seguem seu trajeto para reciclagem; A produção de composto orgânico e sua destinação para as hortas residenciais, hortas escolares e hortas comunitárias, com promoção da agricultura urbana e consumo de alimentos saudáveis. 3838
  • 39. 39