3. “vos comeis uns aos outros”
“os grandes comem os pequenos”
"Se os pequenos comeram os grandes, bastara um
grande para muitos pequenos; mas como os grandes
comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem
mil, para um só grande.“
“notável ignorância e cegueira” […] que leva a “perder a
vida” “enganados por um retalho de pano”
Principais defeitos apontados aos peixes pelo pregador:
4. Primeiro momento do texto em que surge a identificação
entre os peixes e os homens:
Citação de Santo Agostinho,
É a ideia de “cobiça”, que é simultaneamente “má”,
“perversa” e plural (“cobiças”) e que retoma a ideia
da “Nau Cobiça” da parte III, salva apenas pela
língua de António, “como rémora”.
5. 5
O pregador inicia as repreensões aos peixes/homens, seguindo
o método usado para os louvores dos peixes/homens:
do geral para o particular.
Primeira Repreensão
OS PEIXES COMEM-SE UNS AOS OUTROS – OS HOMENS COMEM-SE UNS AOS OUTROS
Vedes
TUDO
AQUILO
É
Andarem buscando os
homens como hão-de
comer e como se hão-de
comer
Todo aquele bulir
Todo aquele andar
Aquele concorrer e cruzar
Aquele subir e descer
Aquele entrar e sair
(nominalizações /
substantivações dos verbos)
a. Apelo à Observação:
6. Valor da enumeração introduzida pela forma verbal “vedes”
para caracterizar as ações humanas praticadas na cidade, e
que os peixes devem observar:
o A enumeração remete para a ideia de movimento, para a
forma como os homens vivem o seu dia-a-dia, para a
agitação motivada pela ambição de alcançar certos
objetivos sociais.
7. b. Exemplificação
Alguém que morreu Algum réu em julgamento
Comem-no os herdeiros
Comem-no os testamenteiros
Comem-no os legatários
Comem-no os credores
Comem-nos os oficiais dos defuntos
e dos ausentes
Come-o o advogado
Come-o o sangrador
Come-o a mulher
Come-o o coveiro
Come-o o tocador de sinos
Comem-no os padres
Come-o o meirinho
Come-o o carcereiro
Come-o o escrivão
Come-o o solicitador
Come-o o inquiridor
Come-o o médico
Come-o a testemunha
Come-o o julgador
CONCLUSÃO – valor conotativo do verbo COMER
Ainda o não comeu a terra e já o tem
comido toda a terra
Ainda não está executado nem
sentenciado e já está comido
8. Valor polissémico do verbo “comer”:
O verbo “comer” não significa apenas alimentar-se,
ingerir alimentos (“buscando os homens como hão
de comer”); neste contexto (“como se hão de
comer”) significa usurpar o dinheiro do defunto,
explorá-lo.
9.
10. b. Amplificação
. Os peixes / homens comem os mais pequenos
. Os homens comem não só o povo, mas a sua plebe
. Os homens não só se comem, mas engolem-nos e devoram-nos
. Os homens devoram e comem como se se tratasse de pão
11. O estilo de Vieira nesta 1.ª parte do discurso
a. Lógica da argumentação: Observação / Exemplificação / Ampliação
b. Lógica das conclusões: Conclusões implacáveis
c. Ritmo das frases: ritmo variado: lento e repousado (frases longas, com exemplos
de paralelismo) / rápido e muito rápido (frases curtas, com sucessivas anáforas e
interrogações retóricas , vivo (exemplo do defunto e do réu), capaz de prender
facilmente os ouvintes
Discurso:
Ondular das águas do mar: revoltas e vivas, para depois se espraiarem pela areia
(gradações crescentes)
d. Visualismo: a repetição da forma verbal “vedes” (no imperativo), certamente a
acompanhar o gesto expressivo, cria na mente dos ouvintes um forte
visualismo do espetáculo descrito, assim como os deíticos e as Nominalizações/
Substantivação do infinitivo verbal (deixa de ser uma acção limitada para ser uma
situação alargada)
e. Efeitos dos deíticos demonstrativos: localizar os atos referidos.
12. Segunda Repreensão
A IGNORÂNCIA E CEGUEIRA DOS PEIXES
A IGNORÂNCIA E CEGUEIRA DOS HOMENS
PEIXES HOMENS
. Caem tão facilmente no engodo da isca . Enganam facilmente os indígenas
(peixes que facilmente se deixam
enganar)
CONCLUSÃO
Os peixes / homens são muito cegos e ignorantes
No entanto,
Santo António nunca se deixou enganar pela vaidade do mundo, fazendo-se pobre e
simples, e assim pescou muitos para salvação.
13. Conclusão
Cap. IV – Repreensões aos peixes em geral
– comem-se uns aos outros, com a agravante de os
grandes comerem os pequenos;
– ignorância, cegueira e vaidade.