2. Quinhentismo (1500 a 1601)
• “Primeiras letras” produzidas no país;
• 1500 – Carta a El-Rey D Manuel (Pero Vaz
de Caminha);
• 1601 – Prosopopeia (Bento Teixeira);
• Literatura do período de “descobrimento”
do Brasil;
• Literatura de informação e de formação.
3. Contexto histórico
• “Descobrimento” do Brasil;
• Expedições exploradoras (1501/1503) e
colonizadoras (1530);
• Capitanias hereditárias (1534);
• Governo Geral (1548-1572);
• Período das grandes navegações;
• Reforma protestante e contrarreforma.
4. Literatura de informação
• Relatórios, cartas, diários;
• Crônicas de navegação/viagem;
• Descrição → detalhamento;
• Exaltação da natureza e dos recursos;
• Aborígene (índio) → exótico e pitoresco;
• Linguagem referencial e denotativa.
• Descrição da terra (flora, fauna, minérios,
recursos, clima, nativos);
• Descrição dos costumes indígenas (nudez,
rituais, antropofagia).
5. Literatura de informação
• Carta a El-Rey D Manuel
▫ Pero Vaz de Caminha
• Diálogo sobre a conversão do gentio
▫ Manuel da Nóbrega
• Tratado da Terra do Brasil
▫ Pero de Magalhães Gôndavo
• Tratado descritivo do Brasil
▫ Gabriel Soares de Sousa
6. Literatura de formação
• Religiosidade (contrarreforma católica);
• Intenção pedagógica e moralizante;
▫ + didático / - artístico
• Destribalização e catequização do índio;
• José de Anchieta
▫ “Apóstolo” do Brasil;
▫ Visão teocêntrica e religiosidade medieval;
▫ Linguagem simples;
▫ Uso de redondilhas (maiores e menores);
▫ Teatro;
▫ Estudou a língua nativa.
Autor da primeira gramática tupi
7. Literatura de informação
Carta a El-Rey D Manuel (Pero Vaz de Caminha)
Tratado da Terra do Brasil (Pero de Magalhães)
8. Carta a El-Rei D Manuel
(Pero Vaz de Caminha)
“Certidão de nascimento” do
Brasil
→ Primeiro texto escrito no país e
primeiras impressões de um
europeu sobre as terras
brasileiras.
(...) Neste mesmo dia, a horas de
véspera, houvemos vista de terra! A
saber, primeiramente de um grande
monte, muito alto e redondo; e de
outras serras mais baixas ao sul
dele; e de terra chã, com grandes
arvoredos; ao qual monte alto o
capitão pôs o nome de O Monte
Pascoal e à terra A Terra de Vera
Cruz!
9. (...) Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse
suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas.
Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho
lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram.
Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que
aproveitasse, por o mar quebrar na costa. (...) A feição deles é
serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons
narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem
fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas
vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de
grande inocência. (...) Ali andavam entre eles três ou quatro
moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e
compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão
cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito
bem olharmos, não se envergonhavam.
10. (...) Parece-me gente de tal inocência que, se nós
entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos,
visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as
aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar
aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que
eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos
e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor
que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela
simplicidade. E imprimir- se-á facilmente neles qualquer cunho
que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu
bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele nos
para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa
Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve
cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco
trabalho seja assim!
11. (...) Entre todos estes que hoje vieram não veio mais
que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à
qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em
volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o
estender muito para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência
desta gente é tal que a de Adão não seria maior -- com
respeito ao pudor.
(...) Até agora não pudemos saber se há ouro ou
prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos.
Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e
temperados como os de Entre-Douro-e- Minho, porque neste
tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas
são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que,
querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das
águas que tem!
12. Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me
que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente
que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais
do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação
de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir
e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento
da nossa fé!
E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que
nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe.
Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim
pelo miúdo.
(...)
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje,
sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha
13. TRATADO DA TERRA DO BRASIL, NO QUAL SE CONTEM A
INFORMAÇÃO DAS COUSAS QUE HÁ NESTAS PARTES,
FEITO POR PERO DE MAGALHÃES
Ao mui alto e Sereníssimo Príncipe dom Henrique, Cardeal,
Infante de Portugal.
Posto que os dias passados apresentei outro summario da terra
do Brasil a el-Rei nosso Senhor, foi por cumprir primeiro com
esta obrigação de Vassallo que todos devemos a nosso Rei: e
por esta razão me pareceu cousa mui necessaria (muito Alto e
Sereníssimo Senhor) offerecer também este a V. A. a quem se
devem referir os louvores e accrescentamento das terras que
nestes Reinos florecem: pois sempre desejou tanto augmentá-las,
e conservar seus Subditos e Vassallos em perpetua paz.
14. Ha nestas nestas partes do Brasil seis mezes de verão
e seis de inverno: os de verao são de Setembro até
Fevereiro, os de inverno de Março até Agosto. Assi que
quando nesta provincia do Brasil he inverno cá neste Reinos
he verão, e os dias quasi sempre são tamanhos como as
noites huma hora somente crecem e mingoão. Cursão
sempre ventos geraes, no inverno seis mezes Sul e Sueste,
no verão Nordeste. Sempre correm as agoas com o vento por
costa, e porisso se não pode navegar de huma Capitanias
pera outras se não esperarem por monções pera irem com a
agoas e com o vento, porque cursão como digo seis mezes
duma parte e seis doutra, e portanto são muitas vezes as
viagens vagarosas, e quando vão contra tempo as
embarcações correm muito risco, arribão ás mais das vezes
ao porto donde sairão. (Sobre a terra e o curso dos ventos +
Clima)
15. CAPÍTULO SÉTIMO
DA CONDIÇAO E COSTUMES DOS INDIOS DA TERRA
Não se pode numerar nem comprender a multidão de barbaro
gentio que semeou a natureza por toda esta terra do Brasil;
porque ninguém pode pelo sertão dentro caminhar seguro, nem
passar por terra onde não acha povoações de indios armados
contra todas as nações humanas, e assi como são muitos permitiu
Deos que fossem contrarios huns dos outros, e que houvesse
entrelles grandes odios e discordias, porque se assi não fosse os
portuguezes não poderião viver na terra nem seria possivel
conquistar tamanho poder de gente.
(...) A lingua deste gentio toda pela Costa he, huma: carece de tres
letras —scilicet, não se acha nella F, nem L, nem R, cousa digna
de espanto, porque assi não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta
maneira vivem sem Justiça e desordenadamente. (Sobre os
indígenas)
16. (...) Traz na mão huma espada dum pao mui duro e pesado
com que costumão de matar, e chega-se ao padecente dizendo-lhe
muitas cousas e ameaçando-lhe sua geração que o mesmo ha
de fazer a seus parentes; e depois de o ter afrontado com muitas
palavras injuriosas da-lhe huma grande pancada na cabeça, e
logo da primeira o mata e lhe fazem pedaços. Está huma india
velha com hum cabaço na mão, e assi como elle cae acode muito
de pressa com elle a meter-lho na cabeça pera tomar os miollos e
o sangue: tudo emfim cozem e assão, e não fica delle cousa que
não comam. Isto he mais por vingança e por odio que por se
fartarem. Depois que comem a carne destes contrarios ficão nos
odios confirmados e sentem muito esta injuria, e por isso andão
sempre a vingar-se huns contra os outros. E se a moça que
dormia com o cativo fica prenhe, aquella criança, que pare depois
de criada, matão-na e comem-na e dizem que aquella menina ou
menino era seu contrario verdadeiro por isso estimão muito
comer-lhe a carne e vingar-se delle. (Ritual de antropofagia)
18. AUTO REPRESENTADO NA FESTA DE SÃO LOURENÇO
José de Anchieta
PERSONAGENS
GUAIXARÁ – rei dos diabos
AIMBIRÊ
SARAVAIA - criados de Guaixará
TATAURANA
URUBU
JAGUARUÇU – companheiros dos diabos
VALERIANO
DÉCIO – Imperadores romanos
SÃO SEBASTIÃO – padroeiro do Rio de Janeiro
SÃO LOURENÇO – padroeiro da aldeia de São Lourenço
VELHA
ANJO
19. TEMA
Após a cena do martírio de São Lourenço, Guaixará chama
Aimbirê e Saravaia para ajudarem a perverter a aldeia. São
Lourenço a defende, São Sebastião prende os demônios.
Um anjo manda-os sufocarem Décio e Valeriano. Quatro
companheiros acorrem para auxiliar os demônios. Os
imperadores recordam façanhas, quando Aimbirê se
aproxima. O calor que se desprende dele abrasa os
imperadores, que suplicam a morte. O Anjo, o Temor de
Deus, e o Amor de Deus aconselham a caridade, contrição e
confiança em São Lourenço. Faz-se o enterro do santo.
Meninos índios dançam.
20. PRIMEIRO ATO
(Cena do martírio de São
Lourenço)
Cantam:
Por Jesus, meu salvador,
Que morre por meus pecados,
Nestas brasas morro assado
Com fogo do meu amor
Bom Jesus, quando te vejo
Na cruz, por mim flagelado,
Eu por ti vivo e queimado
Mil vezes morrer desejo
Pois teu sangue redentor
Lavou minha culpa humana,
Arda eu pois nesta chama
Com fogo do teu amor.
O fogo do forte amor,
Ah, meu Deus!, com que me
amas
Mais me consome que as
chamas
E brasas, com seu calor.
Pois teu amor, pelo meu
Tais prodígios consumou,
Que eu, nas brasas onde estou,
Morro de amor pelo teu.
(Versos heptassílabos)
21. Poema da Virgem
COMPAIXÃO DA VIRGEM NA MORTE DO FILHO
(Versos dodecassílabos)
Por que ao profundo sono, alma, tu te abandonas,
e em pesado dormir, tão fundo assim ressonas?
Não te move a aflição dessa mãe toda em pranto,
que a morte tão cruel do filho chora tanto?
O seio que de dor amargado esmorece,
ao ver, ali presente, as chagas que padece?
Onde a vista pousar, tudo o que é de Jesus,
ocorre ao teu olhar vertendo sangue a flux.
Olha como, prostrado ante a face do Pai,
todo o sangue em suor do corpo se lhe esvai.
Olha como a ladrão essas bárbaras hordas
pisam-no e lhe retêm o colo e mãos com cordas.
Olha, perante Anás, como duro soldado
o esbofeteia mau, com punho bem cerrado