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SEGURIDADE
          SOCIAL,
DESENVOLVIMENTO
          E SAÚDE
                    Desafios para o
                  mundo do trabalho




     Realização      Apoio
Seguridade Social,
 Desenvolvimento e Saúde
Desafios para o mundo do trabalho
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde




                           Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


                  S456 Seguridade social, desenvolvimento e saúde: desafios para o mundo
                       do trabalho – São Paulo: Central Única dos Trabalhadores/Secretaria
                       Nacional de Saúde do Trabalhador, 2010.
                       108 p. : il.

                        1. Seguridade social. 2. Saúde do trabalhador - Políticas públicas. 3.
                        Previdência social. 4. Sistema Único de Saúde (Brasil).


                                                                     CDU 368.4(81)
                                                                     CDD 368.4


                         (Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 10/1507)
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


     Direção Executiva Nacional da CUT 2009/2012
Presidente: Artur Henrique da Silva Santos               Antonio Lisboa Amancio Vale
Ramo: Urbanitário – STI Energia Elétrica de Campinas     Ramo: Educação – Sind. Professores do Distrito Federal
Vice Presidente: José Lopez Feijóo                       Aparecido Donizetti da Silva
Ramo: Metalúrgico – STI Metalúrgicas do ABC              Ramo: Químico – STI Químicas, Petroquímicas e
Secretário Geral: Quintino Marques Severo                Plásticas do ABC
Ramo: Metalúrgico STI Metalúrgicas de São Leopoldo       Dary Beck Filho
Secretário de Administração e Finanças: Vagner           Ramo: Químico – Op. STI Dest. Ref. De Petróleo do Rio
Freitas de Moraes                                        Grande do Sul
Ramo Financeiro: Sind. Bancários de São Paulo            Elisangela dos Santos Araújo
Secretário de Relações Internacionais: João Antônio      Ramo: Rural Sind. Trab. Agricultura Familiar de São
Felício                                                  Domingos - BA
Ramo: Educação – Sind. Professores do Ensino Oficial     Jasseir Alves Fernandes
do Estado de São Paulo                                   Ramo: Rural – STR de Iuna e Urupi - ES
Secretário de Organização e Política Sindical: Jacy      Júlio Turra
Afonso de Melo                                           Ramo: Educação – SINPRO – Sind. Professores de Santo André
Ramo: Financeiro – Sind. Bancários do Distrito Federal
                                                         Junéia Martins Batista
Secretário de Formação: José Celestino Lourenço          Ramo: Municipais – Sin. Trab. Adm. Pública e
Ramo: Educação – Sind. Único dos Trab. em Educação       Autarquias de São Paulo
de Minas Gerais
                                                         Pedro Armengol de Sousa
Secretária de Relações do Trabalho: Denise Motta         Ramo: Adm. Pública – Sind. Servidores Públicos
Dau                                                      Federais do Piauí
Ramo: Seguridade Social – Sind. Trab. Públicos da
Saúde no Estado de São Paulo                             Rogério Batista Pantoja
                                                         Ramo: Urbanitário – STI Urbanas do Amapá
Secretária de Comunicação: Rosane Bertotti
Ramo: Rural – Sind. Trab. Agricultura Familiar de        Shakespeare Martins de Jesus
Xanxerê - SC                                             Ramo: Metalúrgico – STI Metalúrgicas de Belo
                                                         Horizonte e Contagem - MG
Secretária da Mulher Trabalhadora: Rosane da Silva
Ramo: Vestuário: STI Calçados de Ivoti -RS               Valeir Ertle
                                                         Ramo: Comércio e Serviços – Sind. Emp. do Comércio
Secretário de Políticas Sociais: Expedito Solaney de     de Florianópolis
Magalhães
Ramo:Financeiro – Sind. Bancários de Pernambuco
Secretário de Saúde do Trabalhador: Manoel               Conselho Fiscal
Messias Nascimento Melo                                  Waldir Maurício da Costa Filho
Ramo: Comunicação – Sind. Trabalhadores Informática      Ramo: Construção Civil – STI Const. Civil do Espírito
e Proc. Dados de Pernambuco                              Santo

Secretária da Juventude: Rosana de Sousa de Deus         Joice Belmira da Silva
Ramo: Químico – STI Químicas e Farmacêuticas de São      Ramo: Vestuário – STI Vestuário e Calçados de
Paulo                                                    Igrejinha - RS

Secretária de Meio Ambiente: Carmen Helena               Pedro Almeida dos Anjos
Ferreira Foro                                            Ramo: Rural – Sintraf de Itamaraju
Ramo: Rural: STR de Igarapé-Miri, Pará
Secretaria de Combate ao Racismo: Maria Júlia Reis       Suplentes
Nogueira                                                 Marlene Terezinha Ruza
Ramo: Seguridade Social – Sind. Públicos Federais        Ramo: Transporte – Sind. Nacional dos Aeronautas
Saúde e Previdência do Maranhão
                                                         Sérgio Irineu Bolzan
                                                         Ramo: Alimentação – STI Carnes de Aves, Bovinos
Diretores Executivos                                     Suínos e Derivados de Sidrolândia
Adeilson Ribeiro Telles
Ramo: Educação – Op. Sind. Estadual dos Prof. de         Rubens Graciano
Educação do Rio de Janeiro                               Ramo: Aposentados – Sind. Nacional de Aposentados e
                                                         Pensionistas
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde




   Seguridade Social,
 Desenvolvimento e Saúde
Desafios para o mundo do trabalho




                  Dezembro de 2010




                      Realização
      Secretaria Nacional de Saúde do Trabalhador
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde




                  Secretaria Nacional de Saúde do Trabalhador
        Manoel Messias Nascimento Melo – Secretário de Saúde do Trabalhador
                    Dary Beck Filho – Diretor Executivo Adjunto
                        Claudia Rejane de Lima – Assessora
                            Gilberto Salviano – Assessor
                  Antonia Sarah da Silva – Assistente de Secretaria



                               Organização e Revisão
                          Claudia Rejane de Lima – Assessora



                                   Secretaria/apoio
                    Antonia Sarah da Silva – Assistente de Secretaria



                            Projeto Gráfico e Diagramação
                                 M.Giora Comunicação


                                       Impressão
                                        Fabracor


                                        Tiragem
                                          3 mil




                              São Paulo, dezembro de 2010
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde



Sumário
Apresentação
	  Artur Henrique da Silva Santos .................................................................................8

Introdução
	   Manoel Messias Melo ..........................................................................................10

Saúde, Previdência e Assistência Social:
	  Trajetórias a partir da CF 1988 .......................................................... 15

	    Um sistema de seguridade social inclusivo para consolidar
	    um modelo de desenvolvimento sustentável, soberano e
	    democrático – Artur Henrique da Silva Santos ....................................................... 17

	    Na contramão do mundo: A experiência brasileira
	    de seguridade social – Eduardo Fagnani .............................................................. 22

	    Trajetórias da Seguridade Social a partir
	    da CF 1988: O olhar da Saúde – Humberto Costa ................................................. 39

	    Saúde, Previdência e Assistência Social: Trajetórias a partir
	    da CF 1988 – A perspectiva da Assistência Social -
	    Renato de Paula Francisco dos Santos Paula............................................................ 49

Modalidades de Gestão do Serviço Público ............................................... 57

	    A experiência de gestão da Secretaria de Saúde
	    de São Bernardo do Campo - Arthur Chioro ......................................................... 59

	    Gestão do SUS: O que fazer - Francisco Batista Júnior ........................................... 72

	    Gestão do SUS: Analisando o presente com os olhos
	    no futuro - Maria Aparecida do Amaral de Godói Faria ......................................... 81

Saúde, Trabalho e Previdência Social: O desafio da intersetorialidade .......... 83

	    A construção da Saúde do Trabalhador - Avanços e
	    recuos - Maria Maeno ............................................................................................ 85

	    O desafio da intersetorialidade das políticas de saúde
	    do trabalhador: Visão do Ministério da
	    Previdência Social - Domingos Lino ...................................................................... 99
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde



    Apresentação


                                                  das propostas apresentadas nos eixos
                                                  Valorização do Trabalho e Distribuição
                                                  de Renda e Inclusão Social, estruturantes
                                                  da plataforma, tiveram como subsídio os
                                                  debates efetuados na oficina, realizada
                                                  em março deste ano, transcritos
                                                  integralmente nesta revista.

                                                  Compreendemos a seguridade social




    É
                                                  como direito humano fundamental, que
                com       grande     satisfação   deve assegurar proteção social e o pleno
                que        apresentamos       a   desenvolvimento humano em todas as
8               Revista Seguridade Social,        etapas da vida, o que, necessariamente,
                Desenvolvimento e Saúde,          requer um Estado compromissado com os
                Desafios para o Mundo do          interesses da maioria da sociedade, capaz
    Trabalho às nossas instâncias, sindicatos     de desenvolver políticas consistentes de
    filiados, militância sindical do campo da     trabalho, emprego e renda, de viabilizar
    saúde do trabalhador e da seguridade          políticas de educação, saúde, assistência
    social e aos nossos parceiros, em especial,   social, previdência social, habitação
    a FES- Fundação Fiedrich Ebert, entidade      e demais condições que permitam
    que tem uma importante trajetória de          sobrevivência digna a todas as pessoas.
    solidariedade e apoio às lutas pela
    democracia no Brasil e em outros países       A    defesa   da    universalidade, da
    do mundo, com quem a CUT tem uma              solidariedade e da ampliação da
    profícua relação e produção de trabalhos      cobertura vertical e horizontal dos
    conjuntos.                                    sistemas de seguridade social, com
                                                  base na Convenção 102 da OIT, são
    Presente nas lutas da Central desde a         questões que devem ocupar o centro do
    sua fundação, a seguridade social tem         debate político sindical internacional no
    um lugar de destaque na Plataforma que        próximo período, posto que as investidas
    a CUT apresentou às eleições de 2010,         neoliberais     de     responsabilização
    cujas diretrizes orientarão as estratégias    individual    pelas     condições      de
    da Central no próximo período. Parte          sobrevivência, de flexibilização das
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde




relações de trabalho e de focalização        dos trabalhadores e a nossa intervenção
das políticas sociais tendem a ganhar        sindical nos espaços de controle social
força em decorrência da crise econômica      e de negociação no âmbito da Saúde,
mundial.                                     Trabalho e Previdência Social, assuntos
                                             abordados nesta Revista.
No Brasil, em que pese o cenário político-
econômico favorável e o fato de o sistema    Reiteramos que, aliado à defesa do
de proteção social brasileiro estar acima    trabalho e dos direitos dele derivados,
dos parâmetros mínimos propostos pela        defendemos a responsabilidade pública
OIT, temos pela frente enormes desafios      pela proteção social aos que se encontram
políticos e estruturais para consolidar      em situação de contingência social, e, por
a seguridade social como sistema, hoje       isso, demandam serviços sociais como
composto por três áreas que atuam            direito de cidadania.
de forma fragmentada – a Saúde, a
Assistência Social e a Previdência Social,   Assim, esperamos que esta Revista
como também permanece o desafio de           contribua para continuar estimulando
reverter o quadro de precarização do         o debate, promovendo a escuta de
mercado de trabalho, cujas conseqüências     diferentes vozes e posicionamentos, com      9
se expressam no aumento do número            vistas a avançarmos na consolidação
de acidentes e doenças, na piora da          do nosso sistema de seguridade de
qualidade de vida, na fragilização do        seguridade social, tendo como foco
pilar contributivo da seguridade social,     de nossas estratégias a conquista do
dentre outros.                               Trabalho Decente para todos e todas.

Considerando que o trabalho é um             Parabéns à Secretaria de Saúde do
dos principais pilares dos sistemas de       Trabalhador pela iniciativa!
proteção social e que a desconstrução
dos direitos dele advindos repercute
no conjunto da sociedade, a eliminação
do desemprego, da informalidade e da
precarização são elementos estratégicos
na conformação de uma agenda de lutas.

Neste contexto se insere a Saúde do
Trabalhador, área da seguridade social
que tem relação direta com a ação sindical
nos locais de trabalho, onde permanece                Artur Henrique da Silva Santos
o desafio de avançarmos na organização                      Presidente – CUT Nacional
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde



     Introdução

                                                  de organização dos trabalhadores e com
                                                  a importância do fortalecimento dos
                                                  instrumentos de negociação coletiva,
                                                  como também defende a proteção a
                                                  social, compreendida como elemento
                                                  de cidadania, sob a responsabilidade do
                                                  Estado, seja por meio dos direitos sociais
                                                  ou de outros mecanismos de regulação,
                                                  tais como as ações de vigilância em saúde,
                                                  fiscalização, inspeção e outras.




     A
                 Revista Seguridade Social,       Nesta trajetória contribuímos com marcos
                 Desenvolvimento e Saúde,         históricos importantes, como a criação do
                 Desafios para o Mundo do         SUS e do próprio Capítulo de Seguridade
                 Trabalho é resultado de uma      Social inscrito na nossa Constituição
10               Oficina, que fizemos em          Federal de 1988, processo impulsionado
     março de 2010, em São Paulo, no Salão Azul
                                                  pelos movimentos sociais, com uma
     do Sindicato dos Bancários, para debater
                                                  participação importante dos trabalhadores
     e elaborar propostas sobre Seguridade
                                                  e trabalhadoras, em especial os do ramo
     Social e Saúde do Trabalhador para a
                                                  da seguridade social.
     Plataforma da CUT para Eleições de 2010.
     Tanto a oficina como esta revista foram      As ações de resistência às políticas
     possíveis porque contamos com a parceria     neoliberais nos anos de 1990 são outro
     da FES – Fundação Friedrich Ebert, com       marco, na medida em que conseguimos
     as contribuições trazidas pelos nossos
                                                  impedir a privatização do SAT – Seguro
     convidados - parceiros de luta, e com a
                                                  Acidente de Trabalho, por meio de
     participação expressiva de dirigentes dos
                                                  uma forte campanha que dialogou
     ramos de atividade e das Estaduais da
                                                  com trabalhadores e outros setores da
     CUT, a quem, mais uma vez, agradecemos.
                                                  sociedade, e desenvolvemos outras tantas
     A Seguridade Social e a Saúde do             lutas em defesa da saúde do trabalhador,
     Trabalhador não são temas novos na agenda    dos aposentados, das pessoas com
     da Central. Desde a sua fundação, em 1983,   deficiência, contra as altas programadas,
     a CUT defende melhorias nas condições        contra a precarização do trabalho,
     de trabalho, compreendida em sua             contra o fator previdenciário, contra a
     relação intrínseca com a democratização      reforma da previdência social etc. além
     das relações de trabalho, com o direito      da intervenção nos espaços tripartite do
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


Ministério do Trabalho e Emprego, no         a seguridade social brasileira, ou seja,
Conselho Nacional de Saúde e Conselhos       Saúde, Previdência e Assistência Social.
Estaduais e Municipais de Saúde, no
Conselho Nacional de Previdência Social      No primeiro painel tivemos a participação
e outros espaços das políticas públicas.     de Artur Henrique da Silva Santos,
                                             presidente da CUT, que fez a abertura da
Estas lutas permanecem na agenda dos         atividade e nos brindou com uma análise
anos 2000, juntamente com novos desafios     da crise da econômica e social instaurada
e contradições. No que tange à saúde         em 2008 e uma contextualização do
do trabalhador, por exemplo, obtivemos       tema da seguridade social e da saúde
conquistas importantes como a realização     do trabalhador na agenda da Central.
da 3ª Conferência Nacional de Saúde          Destacou, dentre outros aspectos, a
do Trabalhador, a implementação da           importância de avançarmos, na luta pela
RENAST – Rede Nacional de Saúde do           redução da jornada de trabalho a fim de
Trabalhador; a implantação do NTEP Nexo      obtermos uma qualidade de vida melhor
Técnico Epidemiológico Previdenciário e      dentro e fora do trabalho, sermos mais
do FAP – Fator Acidentário de Prevenção,     saudáveis e felizes. Sua contribuição
mas não avançamos na superação da            foi transformada em um dos artigos
modelo tradicional de prevenção, baseado     desta revista sob o título “Um sistema de
na Medicina do Trabalho e na Saúde           seguridade social inclusivo para consolidar
Ocupacional.                                 um modelo de desenvolvimento sustentável,
No que tange à Seguridade Social,            soberano e democrático”, que sintetiza        11
avançamos com a implantação do SUAS          a estratégia da Central para o próximo
– Sistema Único de Assistência Social e      período,
na sua compreensão como um direito de
                                             Na sequência tivemos a apresentação
cidadania, mas permanecem diversas
                                             do     companheiro    Eduardo     Fagnani,
barreiras na consolidação do SUS –
                                             economista, professor da Unicamp-SP, que
Sistema Único de Saúde, sobretudo por
                                             fez um resgate da seguridade social no
dificuldades de financiamento. No âmbito
                                             Brasil, demonstrando que as conquistas
da previdência persiste uma lógica
                                             da Constituição de 1988, obtidas na rota
securitária, que impõe grandes restrições
                                             inversa do neoliberalismo, são inéditas no
e problemas para os trabalhadores.
                                             mundo. Também abordou a tensão entre
Foi considerando limites e possibilidades,   paradigmas no período de 1990-2010,
avanços e recuos que a Oficina Seguridade    apresentando conceitos e dados estatísticos
Social, Desenvolvimento e Saúde, Desafios    das políticas de saúde, previdência e
para o Mundo do Trabalho, visou resgatar     assistência social para demonstrar a
e discutir os preceitos constitucionais      viabilidade e os desafios que estão postos
conquistados em 1988, tendo como pano        para consolidar o sistema de seguridade
de fundo a situação da economia e do         social brasileiro. Concluiu sua exposição
mercado de trabalho e as trajetórias         apresentando um conjunto de propostas à
percorridas pelas três áreas que compõem     Plataforma da CUT para as eleições.
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde



     Humberto Costa, médico, ex-ministro              resignificar os conceitos de seguridade
     da saúde no governo Lula, apresentou             social à luz do projeto democrático popular.
     uma evolução histórica dos conceitos
     de proteção social subjacentes nos               Encerrando o primeiro dia, Arthur Chioro,
     distintos modelos de seguridade social           secretário de saúde do município de
     e as principais classificações usadas            São Bernardo, e Francisco Batista Júnior
     atualmente, isto é, o modelo segmentado,         debateram as modalidades de gestão no
     financiado pelo sistema público e privado,       serviço público, tendo como pano de fundo
     com um componente contributivo, e o              os tensionamentos entre a dimensão pública
     modelo universalista, financiado pelo            e privada; os avanços e recuos em relação
     estado a todos os cidadãos. Neste contexto,      aos princípios norteadores do sistema de
     situou o SUS e as dificuldades institucionais,   seguridade social brasileiro, em especial a
     financeiras e de gestão que o sistema vem        universalidade e a integralidade; a gestão
     enfrentando desde que foi implantado, em         dos serviços e do trabalho e as políticas
     1988, concluindo sua palestra apontando          de financiamento. Travou-se um acalorado
     desafios a serem enfrentados para                debate acerca das fundações estatais de
     preservar os princípios de um sistema            direito privado.
     universal, integral e equitativo, mas que
                                                      Chioro apresentou como as modalidades
     ao mesmo tempo seja viável política e
                                                      de gestão no campo da administração
     economicamente.
12                                                    pública estão amparadas nos marcos legais
                                                      constitucionais e infraconstitucionais; as
     O olhar da Assistência Social foi trazido
     por Renato Francisco dos Santos de Paula,        dificuldades de gestão enfrentadas pelo
     assistente social; assessor do gabinete          sistema; o seu posicionamento em relação
     da Secretaria Nacional de Assistência            às modalidades de gestão apresentadas,
     Social do Ministério do Desenvolvimento          tendo por base a sua própria trajetória na
                                                      gestão pública, onde tem adotado o uso
     Social e Combate à Fome que, a partir
                                                      de fundação estatal de direito privado
     da contextualização feita por Fagnani e
                                                      como estratégia de gestão. Concluiu sua
     Humberto Costa, relacionou os avanços e
                                                      apresentação reiterando importância da
     dificuldades arrolados pelos expositores
                                                      continuidade do debate.
     anteriores com o SUAS – Sistema Único
     de Assistência Social, que padece de             Júnior, por sua vez, resgatou e reforçou os
     problemas e desafios semelhantes aos             preceitos constitucionais, problematizando
     do SUS no que tange a relação entre o            a fragilidade do sistema de saúde como
     público e o privado, as modalidades de           decorrência da não implementação dos seus
     gestão, as dificuldades de financiamento,        eixos estruturantes, ou seja, argumentando
     etc. destacando, contudo, a importância do       que não se trata restritamente de um
     sistema de seguridade social, em particular      problema de gestão, mas também de
     da assistência social e sua assunção efetiva     financiamento, da não superação da
     como direito no governo Lula. Apontou            perspectiva       hospitalocêntrica,     da
     com um dos desafios a importância de             precarização da força de trabalho e outros
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde



problemas estruturais. Concluiu apontando      ética nas políticas públicas de saúde do
a necessidade de superar os problemas          trabalhador. Problematizou, também, a
arrolados, enfatizando a importância de        relação entre desenvolvimento e saúde,
fortalecer o controle social.                  tendo como pano de fundo a razão social do
                                               trabalho. Concluiu apontando um conjunto
A coordenação do debate sobre                  de desafios para compor a agenda no
modalidades de gestão foi feita por Maria      próximo período.
Aparecida do Amaral de Godói Faria,
presidente da CNTSS-CUT Confederação           O painel seguinte foi apresentado por
Nacional      dos    Trabalhadores      da     Domingos Lino, Diretor Adjunto do
Seguridade Social, trabalhadora da saúde       Departamento de Saúde e Segurança
no Estado de São Paulo, cuja participação      Ocupacional do Ministério da Previdência
também se transformou em um artigo             Social, especialista em Prevenção e
nesta revista, onde problematiza o intenso     proteção de riscos laborais, que fez um
e acalorado debate em curso sobre os           balanço da atuação do governo Lula no
rumos do SUS, apontado desafios no que         âmbito da saúde e segurança no trabalho,
tange à regulamentação do financiamento,       no qual destacou a importância da
à aplicação dos recursos e à resolução do      prevenção e problematizou a atuação dos
pontos de gargalos na gestão do sistema.       diversos atores, em especial do movimento
                                               sindical.
Começamos o segundo dia com a reflexão
sobre Saúde, Trabalho e Previdência Social     Cada uma das exposições de nossos
                                                                                            13
em que discutimos o desafio da construção      convidados foi seguida de debate, onde
da intersetorialidade das políticas de         os participantes manifestaram seus pontos
saúde do trabalhador, tendo como pano          de vista, dúvidas, indagações e críticas,
de fundo a sua concepção e diretrizes          cuja riqueza, por mais que tentássemos,
constitucionais, com vistas a identificar      a transcrição não reproduziria, seja por
avanços e recuos em relação ao conceito        sua diversidade, seja por elementos
de seguridade social, aos princípios           simbólicos de comunicação não traduzíveis
norteadores da saúde, em especial o            para a linguagem escrita. Fica aqui o
controle social; aos princípios e diretrizes   registro da importância das contribuições
da vigilância em saúde; a fiscalização e       trazidas pelos participantes e mais um
inspeção do trabalho.                          agradecimento.

O primeiro painel foi feito por Maria Maeno,   Boa leitura!
médica e pesquisadora da Fundacentro
que, a partir de um conceito ampliado de
saúde, contextualizou politicamente os
marcos institucionais, problematizando
as dificuldades para superar o referencial                        Manoel Messias Melo
da Medicina do Trabalho e da Saúde                       Secretário Nacional de Saúde do
Ocupacional e para introduzir uma nova                                       Trabalhador
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde




14
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde




 Saúde, Previdência
e Assistência Social:
 Trajetórias a partir                                       15
         da CF 1988
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde




16
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde



Um sistema de seguridade social
inclusivo para consolidar um modelo
de desenvolvimento sustentável,
soberano e democrático

Artur Henrique da Silva Santos
Presidente da CUT Brasil,
Sociólogo, Eletricitário




E
            m nosso 10º Congresso
            criamos a Secretaria Nacional
            de Saúde do Trabalhador
            da CUT, fruto de ampla
            participação e mobilização
de vários companheiros e companheiras
                                                 remete, portanto, à ação sindical, à OLT -
                                                                                                17
hoje reunidos neste seminário, que sempre
                                                 Organização no Local de Trabalho, princípio
defenderam a necessidade de avançar
no debate sobre a saúde, nos marcos da           que temos defendido desde a fundação da
seguridade social e, neste contexto, a           Central como elemento estratégico das
saúde do trabalhador, compreendida como          nossas lutas. A criação da Secretaria vem
um campo de intervenção essencialmente           ao encontro desta diretriz – estabelecer
sindical e de caráter multidisciplinar. Tarefa   condições para modificar as situações de
sob responsabilidade do companheiro              risco, a fim de evitar que os trabalhadores/
Messias Melo, nosso 1º Secretário Nacional       as se acidentem e adoeçam.
de Saúde do Trabalhador.
                                                 Houve     um    grande   debate   sobre
Não resta dúvida de que o debate sobre           seguridade social no último período no
seguridade social e a atuação nos espaços        Brasil, especialmente no Fórum Nacional
institucionais são questões importantes;         da Previdência, uma das primeiras
contudo não podemos perder de vista              experiências de diálogo social sobre o
que para a CUT o principal espaço de             tema. Tivemos uma atuação importante,
intervenção nas lutas pela saúde é nos locais    porém como não temos cultura de diálogo
de trabalho, que é onde homens e mulheres        social, todos querem solução rápida. É
são submetidos diuturnamente a situações         importante mencionar que países como
que levam ao adoecimento e à ocorrência          a Espanha demorou aproximadamente
de acidentes. Saúde do trabalhador               14 anos de diálogo social para construir
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


     uma proposta articulada. Aqui no               deveria resolver todos os problemas
     Brasil, infelizmente, só tivemos uma           também faliu.
     experiência de diálogo social envolvendo
     trabalhadores/as, empresários e governo        Vivenciamos um momento muito rico no
     nesse ponto específico. Infelizmente, não      Brasil e no mundo para discutir modelos
     teve continuidade. Persistiremos nessa         e neste debate duas questões são
     batalha. Um dos grandes lutadores da causa     extremamente importantes para a classe
     da seguridade social, Eduardo Fagnani,         trabalhadora no Brasil: uma delas é a Saúde
     professor da Unicamp, teve destacada           do Trabalhador e a outra é a Seguridade
     contribuição nos debates do Fórum              Social. Tenho orgulho de participar do
     Nacional da Previdência, espaço em que         CDES - Conselho de Desenvolvimento
     pudemos articular o acúmulo da academia,       Econômico e Social e ser convidado por
     em especial da Unicamp, com o acúmulo          vários países para falar sobre o sistema de
     do movimento sindical.                         proteção social brasileiro. Recentemente
                                                    fui à Rússia e aos Estados Unidos.
     Temos a satisfação também de ter
     convivido com nosso companheiro                No CDES, em algumas ocasiões, discutimos
     Humberto Costa, que fez um excelente           o sistema de seguridade social brasileiro
     trabalho no Ministério da Saúde assim          com ministros das áreas da saúde, do
     como todas as ações do Ministério do           desenvolvimento social, do trabalho e
18   Desenvolvimento Social, no campo das           da previdência social, juntamente com
     políticas públicas de assistência social       empresários, governadores e conselheiros,
     que geraram a proposta de consolidação         muitos dos quais, contraditoriamente,
     das leis sociais, transformando os direitos    pertencentes àquele grupo que um dia
     sociais em política de Estado, um dos          depois da promulgação da Constituição
     desafios que temos no processo de disputa      Federal de 1988 se reuniu para avaliar
     por um modelo de desenvolvimento.              por onde poderiam começar a destruir os
                                                    avanços conquistados na seguridade social.
     No Brasil e em todo o mundo rediscutimos       Hoje este mesmo grupo se vê obrigado
     e   disputamos     novos    modelos      de    a reconhecer a importância que o atual
     desenvolvimento. Se, por um lado, o muro       sistema de proteção social brasileiro vem
     de Berlim caiu já há alguns anos; também       tendo no enfrentamento da crise.
     recentemente, em setembro de 2008, caiu o
     muro de Wall Street, o muro dos financistas,   Participei do Congresso da AFL-CIO, nos
     daqueles que aplicaram dinheiro e não          Estados Unidos, onde o presidente Obama
     produziram nem um parafuso, nem um             esteve presente e em sua apresentação
     prego, nem uma geladeira, nem um               disse ter vergonha de debater com
     automóvel, mas ganharam muito dinheiro         determinados países, entre eles o Brasil,
     com aplicações financeiras. O mercado, o       sobre sistemas de proteção social. Eu, que
     famoso mercado que, na lógica neoliberal,      estava lá ouvindo, fiquei me perguntando:
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


como pode o país mais importante do          sociedade, são enormes, sem contar o
mundo, com toda tradição e patriotismo       sofrimento que imputa aos trabalhadores/
arraigados, dizer que se envergonha em       as e suas famílias.
admitir que uma parte importante da sua
população não tem absolutamente nenhum       Esses dois temas, Seguridade Social e
sistema de proteção social? Como pode        Saúde do Trabalhador, são desafios de
admitir que pessoas idosas e aqueles         extrema importância na agenda sindical. A
que não têm condição de pagar o seguro       construção de uma plataforma para incidir
saúde estão morrendo pelas ruas? Isto dá     na disputa eleitoral que se dará em 2010
um pouco a dimensão da importância do        coloca a essencialidade dessa oficina para
debate e dos desafios que temos.             aprofundar o debate sobre o tema e elaborar
                                             propostas, bem como para compor a nossa
Em relação à saúde do trabalhador temos,     agenda de pressão ao Congresso Nacional
também, um importante acúmulo e um           pela aprovação de algumas reivindicações
conjunto de desafios, como a luta pela       que consideramos prioritárias.
redução da jornada de trabalho para 40
                                             Uma das bandeiras prioritárias é a
horas, que é não apenas para distribuir os
                                             redução da jornada de trabalho. Uma
ganhos de produtividade acumulado. Na
                                             bandeira para a disputa por um modelo de
Constituição de 1988, reduzimos a jornada
                                             desenvolvimento sustentável, soberano e
de trabalho de 48 para 44 horas. Lembrando
que a reivindicação era redução de 48 para   includente. Porque queremos mais tempo        19
40 horas e que, fruto de um acordo, foi      para lazer, para a família, para o convívio
reduzida para 44 horas.                      familiar e para a própria qualificação
                                             profissional. Queremos menos estresse no
A indústria brasileira teve um aumento       trabalho! Estamos vivendo para trabalhar,
nos índices de produtividade da ordem de     numa sociedade que é a sociedade só do
84,21% desde então. Hoje nós produzimos      trabalho. Ora, a esta máxima de que “o
o dobro de automóveis, de geladeiras e de    trabalho dignifica o homem” esqueceram
outros produtos com metade do número         de acrescentar que enriquece o patrão...
de trabalhadores/as de poucos anos atrás.
E, para não deixar de falar de um setor      É preciso mudar o padrão de vida de nossa
em que o ritmo de trabalho e os critérios    sociedade, ampliando a sustentabilidade,
de produtividade repercutem gravemente       para que o propalado progresso tecnológico
na saúde dos trabalhadores/as, com           e qualificação profissional não resultem em
uma enorme incidência de acidentes           pessoas cada vez mais estressadas, pelo
e doenças, matamos cinco vezes mais          assédio moral, pela pressão por metas,
frangos com provavelmente 45, 50, 60%        pela produtividade exacerbada que está
menos trabalhadores/as. O custo social       sendo imposta em vários setores. Neste
e econômico dos acidentes de trabalho        contexto se inserem a nossa luta pela
à previdência social, à saúde, enfim à       saúde, como a que travamos atualmente
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


     para garantir a implementação do Nexo          diariamente com 180 milhões de pessoas!
     Técnico Epidemiológico e do FAP – Fator        A idéia que é veiculada cotidianamente
     Acidentário Previdenciário.                    pelos meios de comunicação sobre a crise
                                                    na Grécia e na Espanha é de que o Estado
     Sabemos da dificuldade que temos no            de bem estar social europeu gastou muito,
     Congresso Nacional, cujo campo de forças       é deficitário, sinalizando para reformas
     é desfavorável às nossas propostas. Esta é     na previdência social brasileira. Este foi o
                                                    discurso empresarial no Fórum Nacional
     outra missão que temos pela frente, ou seja,
                                                    de Previdência!
     envidar esforços para renovar o Congresso
     e o Senado e para continuar avançando no       Nesse debate, é preciso continuar a
     processo de mudança.                           aprofundar questões como a pirâmide
                                                    etária, o futuro da população, compreender
     Há que se modificar também a lógica
                                                    que o Brasil está ficando mais velho,
     corporativa ou de interesses específicos       necessitando de equilíbrio nas contas
     quando se discute os recursos e as políticas   públicas, etc. Contudo, o que está por
     públicas. Por exemplo, no debate feito         trás do discurso conservador é que não
     recentemente em relação ao pré-sal, que        podemos continuar tendo um sistema
     é uma vital para o conjunto da sociedade       de proteção social universal no Brasil.
     brasileira, foi apresentada uma emenda         Foi com este espírito que derrubaram a
     para destinar 5% de um recurso que             CPMF, um verdadeiro atentado contra os
     ainda nem existe para aposentados que          recursos da saúde pública. Infelizmente,
20   ganham mais de um salário mínimo. Ora,         temos que reconhecer que não tivemos
     compreendemos as dificuldades por que          correlação de forças suficiente para a
     passam os aposentados, mas essa não é          disputa, mobilizando para garantir a sua
     a nossa proposta! O debate que fazemos         continuidade.
     sobre o pré-sal é o de utilizar a riqueza
                                                    Permanece ainda o debate da Emenda
     por ele gerada para combater a miséria,
                                                    Constitucional,a EC 29.É uma oportunidade
     combater a pobreza, investir massivamente      de fazermos a disputa para garantir um
     em educação, em ciência e tecnologia e         sistema de financiamento estável da saúde
     na Seguridade Social, questões que se          e este não deve ser um debate só de quem
     relacionam com um projeto de nação e não       é da área de saúde, dos sindicatos da saúde
     de interesses específicos.                     ou da CNTSS – Confederação Nacional dos
                                                    Trabalhadores em Saúde e Seguridade
     A construção de propostas sobre                Social. A EC 29 é um debate do conjunto
     seguridade social para a Plataforma da         da classe trabalhadora brasileira.
     CUT para as eleições de 2010 é estratégica.
     E é com nossa independência e autonomia,       Em se tratando da disputa de modelo
     que envidaremos todos os esforços para         de Estado, pela democratização do
     fazer valer o lado da classe trabalhadora.     Estado, no cenário político brasileiro
     O que remete ao debate sobre o papel           sempre surgem “novidades”. Os jornais
                                                    e revistas conservadoras brasileiras ao
     do Estado. Enquanto dialogamos com 50,
                                                    tratarem da campanha política de Marina
     100, 10 mil pessoas, a rede Globo dialoga
                                                    Silva cunharam um novo conceito, o de
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


“liberalismo sustentável”, ou
seja, “tucanaram” a campanha
dela! A “novidade” agora não é
um debate sobre Estado forte,
ou Estado mínimo. O Estado
deve ser enxuto! O argumento
é a reprisada cantilena de que
é necessário reduzir os gastos
públicos, que o Brasil precisa
investir de 5 a 6% do PIB,
que não é possível o governo
Lula contratar 100 mil novos
servidores públicos, etc. Se
queremos resgatar e fortalecer
o papel público do Estado, não
nos calaremos diante desse
debate! Embora importantes;
estas contratações ainda são
                                                fortalecer os mecanismos de controle
pequenas diante do tamanho da destruição
                                                social.
neoliberal do Estado brasileiro efetuadas
nos anos 1990!
                                                Uma grande disputa está em curso. No
                                                dia 1º de junho realizaremos uma grande
É preciso assegurar que iniciativas como
o PRONAF, Territórios da Cidadania, Luz
                                                assembléia das centrais sindicais, em        21
                                                São Paulo, com aproximadamente 50
para Todos, Bolsa Família, a valorização
                                                mil pessoas no Estádio do Pacaembu.
do salário mínimo, as várias conferências
                                                O objetivo é referendar uma pauta a
realizadas em distintas áreas, a ampliação da
                                                ser entregue para quem tem condições
participação social e outros tantos avanços
                                                efetivamente de implementá-la e impedir
já conquistados no governo Lula, não se
                                                o retrocesso.
restrinjam a políticas governamentais,
correndo o risco de interrupção a cada
                                                Elaborar propostas na área da saúde e
novo mandato. Temos que transformá-
                                                seguridade para a Plataforma da CUT
las em políticas de Estado para garantir a
                                                para as eleições 2010 é uma tarefa desse
sua perenidade. Por isso, é fundamental a
                                                Seminário. Mas também temos uma grande
consolidação das leis sociais.
                                                responsabilidade que é o de defender a
                                                democracia, e ampliando a mobilização,
Outro ponto importante é viabilizar o
                                                avançar em direitos e conquistas,
debate que fizemos no Fórum Nacional da
                                                consolidando o projeto democrático e
Previdência: criar um Conselho Nacional
                                                popular com a eleição da companheira
de Seguridade Social quadripartite, que
articule as ações dos Ministérios do            Dilma Rousseff, a primeira mulher
Trabalho,Saúde,Previdência e Assistência        presidente da República do Brasil!
Social. Também temos que transformar
determinados fóruns que hoje são
consultivos em deliberativos, além de
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde



     Na contramão do mundo:
     A experiência brasileira de
     seguridade social

                                           Eduardo Fagnani
                                           Doutor em Economia, Professor do Instituto
                                           de Economia e Pesquisador do CESIT




                                                      das ações das outras Centrais Sindicais,
                                                      mas, sobretudo, na defesa efetiva da visão
                                                      dos trabalhadores no Fórum. Um debate
                                                      dificílimo: de um lado, empresários; e, de
                                                      outro, alguns dos economistas ortodoxos
22                                                    mais radicais. E eu acredito que o resultado
                                                      para os trabalhadores foi bastante positivo.

                                                      A minha exposição se divide em três
                                                      partes:

      Foto: Carlos Villalba
                                                       •	A primeira pretende mostrar que as
                                                         conquistas da Constituição de 1988 são
                                                         inéditas no mundo. O Brasil caminhou na




     B
                                                         contramão do mundo, na rota inversa do
               om dia a todos os presentes.              neoliberalismo
               Gostaria de cumprimentar a to-
               dos em nome do Artur Henrique,          •	A segunda idéia é ressaltar que no
               presidente da CUT. E ao me dirigir        período 1990-2010 vivemos um período
               ao Artur, gostaria de explicitar a        de tensão entre paradigmas. Por um lado
     satisfação de ter participado do processo           têm as forças políticas que defendem as
     de defesa da Seguridade Social ocorrido             conquistas de 88; e, por outro, as forças
     no Fórum Nacional da Previdência Social             que defendem o estado mínimo.
     (2007), do qual você foi uma liderança
     notável.                                          •	Finalmente, na terceira parte procurarei
                                                         apresentar alguns dos desafios que
     O Artur teve um papel fundamental naquele           temos pela frente para a consolidação
     processo, não só na coordenação conjunta            das conquistas de 1988.
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


1- CONQUISTAS NA                               Nós fomos salvos pelo momento político.
                                               O notável movimento social que vai
CONTRAMÃO DO MUNDO                             impulsionar essas mudanças queria
O que acontecia no mundo entre 1975            acertar as contas com a ditadura militar.
e 2008? É a fase da hegemonia do               Não havia campo fértil para germinar erva
neoliberalismo como pensamento único.          daninha do neoliberalismo.
Reforma do estado, reforço do mercado
                                               Nesse contexto, a partir de meados
privatização, desregulamentação, abertura
                                               dos anos 70, no âmago do processo de
financeira, abertura comercial, ajuste
                                               restauração do Estado Democrático de
fiscal, metas de inflação, Banco Central
                                               Direito, o movimento social formulou um
independente, câmbio flutuante, ajuste
                                               amplo projeto de reformas de caráter
fiscal, superávit primário etc. E do ponto
                                               democrático,      desenvolvimentista    e
de vista dos princípios norteadores do
                                               redistributivo. O Movimento Democrático
sistema de proteção social? O Estado
                                               Brasileiro (MDB), principal frente de
Mínimo, políticas focalizadas, privatização,
                                               oposição, teve papel destacado na
negação de direitos, seguro social (só
                                               construção dessa agenda. Uma primeira
recebe quem paga) e flexibilização do
                                               versão      desse   projeto   encontra-se
mercado de trabalho.
                                               delineado no documento “Esperança e
Foram quase 40 anos de dominância desse        Mudança: uma Proposta de Governo para
pensamento neoliberal, que define um           o Brasil”, consolidado pelo MDB em 1982.
plano único de ajustamento para os países
                                               Eram três os núcleos do projeto reformista:
periféricos. Isto ficou conhecido na agenda
                                               a restauração do Estado Democrático de        23
como Consenso de Washington (1989). Um
                                               Direito; a construção de um sistema de
plano único de ajustamento dos países
                                               proteção social, inspirado nos princípios
periféricos.
                                               do Estado de Bem-Estar Social implantado
E a maior parte dos países acabou aderindo     nos países europeus nos “anos de ouro”
a esse padrão já no início da década           do pós-guerra (1945/75) e a concepção
de 1980. A privatização da Previdência         de uma nova estratégia macroeconômica,
no Chile (1981) é um caso exemplar.            plenamente      direcionada      para    o
Nas décadas seguintes ocorreram a              crescimento econômico com distribuição
privatização da Previdência nos seguintes      de renda.
países: Peru (1993), Argentina (1994),
Colômbia (1994), Uruguai (1995), Bolívia       Como se sabe, o desaguadouro de parte
(1997), México (1997), El Salvador (1998),     desta agenda foi a Constituição de 1988.
Panamá (2002), República Dominicana            O Estado Democrático de Direito foi
(2003), 11 Países do Leste Europeu, 2          restabelecido. A Constituição Federal
Países da Ásia e Nigéria (2005).               também consagrou princípios e diretrizes
                                               que apontavam no sentido da construção
E o que ocorreu no Brasil? Caminhamos          das bases do Estado de Bem-Estar Social.
na rota inversa, na contramão do mundo.        Se a sociedade brasileira teve êxito na
Desenhamos aqui um modelo de proteção          viabilização desses núcleos, o mesmo
social baseado no Estado de Bem-Estar          não se verificou no tocante ao desenho
Social implantado pela social democracia       de uma nova estratégia macroeconômica.
européia no pós-Guerra (1945/1975).            Não avançamos na construção das bases
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


     financeiras que dariam sustentação para       contraposição ao seguro social) e da
     cidadania recém conquistada. Como se          compreensão da questão social como um
     sabe,o Brasil acumula 26 anos de estagnação   direito da cidadania (em contraposição ao
     da economia e de agravamento da crise         assistencialismo). Para financiar os novos
     social. Esse quadro tem apresentado           direitos, a Carta instituiu novas fontes
     crescentes limites financeiros para a         de financiamento não reembolsáveis e
     manutenção das conquistas populares no        vinculadas aos programas sociais.
     campo da proteção social.
                                                   A Constituição inovou em diversos pontos.
     Esse é o pano de fundo para se compre-        Uma das mais expressivas foi a instituição
     ender a questão do financiamento              da Seguridade Social (previdência urbana
     da seguridade social. De um lado, na          e rural, saúde, assistência social e seguro-
     contramão do neoliberalismo, o movimento      desemprego).
     social construiu um formidável sistema de
     proteção social no Brasil. De outro, desde    Para financiar a Seguridade Social, os
     meados dos anos 80 a economia brasileira      constituintes instituíram o Orçamento
     esteve semi-estagnada e submetida à uma       da Seguridade Social, que vinculou um
     política monetária e fiscal restritivas que   conjunto de fontes de financiamento à
     explodiram o endividamento e estreitaram      cobertura dos novos direitos sociais,
     as possibilidades do financiamento            baseadas em contribuições (folha de
     público em geral.                             salários e Pis-Pasep) e impostos, criados
                                                   em 1988 para esse fim (CSLL e COFINS).
24
     A Seguridade Social na Constituição
     de 1988
     A Constituição de 1988 representou
     etapa fundamental – embora inconclusa
     – da viabilização do projeto das reformas
     socialmente progressistas. Com ela,
     desenhou-se pela primeira vez na história
     do Brasil, o embrião de projeto inspirado
     no Estado de Bem Estar Social. Seu âmago
     reside nos princípios da universalidade
     (em     contraposição     à    focalização
     exclusiva), da seguridade social (em
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde



                         Orçamento da Seguridade Social
                              RESULTADO DA SEGURIDADE SOCIAL - 2000 a 2006
                                     Valores correntes em R$ milhões
RECEITA(1)                                          2000      2001      2002      2003      2004       2005      2006
CONTRIBUIÇÃO P/ INSS                                55.715    61.060    71.028    80.730    93.765    108.434   133.015
COFINS                                              38.707    45.507    50.913    58.216    77.593     87.902    92.475
CPMF                                                14.395    17.157    20.265    22.987    26.340     29.230    32.090
CSLL                                                 8.750     9.016    12.507    16.200    19.575     26.323    28.116
RECEITA DE CONCURSOS DE PROGNÓSTICOS                  923      1.028     1.062     1.276     1.450      1.564     1.410
PIS/PASEP   (2)
                                                     5.791     6.700     7.498    10.011    11.650     13.228    14.566
TOTAL DA RECEITA                                   124.281   140.468   163.273   189.420   230.373    266.681   301.672

DESPESA(3)
ASSISTÊNCIA SOCIAL                                   4.442     5.298     6.513     8.416    13.863     15.806    21.551
SAÚDE                                               20.270    23.634    25.435    27.172    32.973     36.483    39.736
PREVIDÊNCIA       (4)
                                                    67.544    77.584    89.380   109.625   125.901    144.918   156.257
ABONO E SEGURO DESEMPREGO                            4.636     5.635     7.062     8.074     9.471     11.337    11.927
TOTAL DA DESPESA                                    96.892   112.151   128.390   153.287   182.208    208.544   229.471
RECEITA - DESPESA                                   27.389    28.317    34.883    36.133    48.165     58.137    72.201
RECEITA COM DRU         (5)
                              . DESPESA             13.675    12.435    16.434    14.395    20.844     26.488    38.470
                                                                                                                          25
Os constituintes de 1988 não inventaram a                      seguridade social no bloco dos 15 países
roda. Seguiram o padrão universal clássico                     mais ricos da Europa são compostas, em
para financiar a seguridade social baseado                     média, por 38,3% da contribuição dos
na contribuição tripartite (empregados,                        empregadores, 22,4% pela contribuição
empregadores e governo). Observe-                              dos empregados e 35,8% da contribuição
se que as fontes de financiamento da                           do governo (impostos).

                                          Composição das Despesas - %
    Países                                                                                    Total        % PIB
	                             Empregadores	Empregados	Impostos	                  Outras
    Alemanha	                      36,9	          28,2	 32,5	 2,4	 100,0	29,5
    Áustria	                       37,1	          26,8	 35,3	 0,8	 100,0	28,7
    Bélgica	                       49,5	          22,8	 25,3	 2,4	 100,0	26,7
    Dinamarca	                      9,1	          20,3	 63,9	 6,7	 100,0	28,8
    Espanha	                       52,7	          16,4	 26,9	 4,0	 100,0	20,1
    Finlândia	                     37,7	          12,1	 43,1	 7,1	 100,0	25,2
    França	                        45,9	          20,6	 30,6	 2,9	 100,0	29,7
    Grécia	                        38,2	          22,6	 29,1	 10,1	100,0	26,4
    Irlanda	                       25,0	          15,1	 58,3	 1,6	 100,0	14,1
    Itália	                        43,2	          14,9	 39,8	 2,1	 100,0	25,2
    Luxemburgo	                    24,6	          23,8	 47,1	 4,5	 100,0	21,0
    P. Baixos	                     29,1	          38,8	 14,2	 17,9	100,0	27,4
    Portugal	                      35,9	          17,6	 38,7	 7,8	 100,0	22,7
    Reino Unido	                   30,2	          21,4	 47,1	 1,3	 100,0	 26,8
    Suécia	                        39,7	           9,4	46,7	4,2	   100,0	 32,3
    Europa dos 15	                 38,3	          22,4	 35,8	 3,5	 100,0	 27,3
    Fonte: Eurostat
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


     Desde 1934 o Brasil segue esse modelo            jamais engoliram a dura derrota sofrida
     clássico. A Lei Orgânica da Previdência          na Constituição Federal de 1988, fruto
     Social – LOPS (1961) e a ditadura militar        do extraordinário movimento social que
     (1964-1985) reafirmaram esse princípio.          lutava contra a ditadura militar, liderado
     O Orçamento da Seguridade Social (OSS)           pelo saudoso Deputado Ulysses Guimarães
     aperfeiçoa esse modelo. Reúne um conjunto        presidente do Movimento Democrático
     de impostos e contribuições, seguindo o          Brasileiro – MDB.
     modelo tripartite: recursos dos empregados
     e empregadores (sobre a folha de salários        Desde a Assembléia Nacional Constituinte
     para a previdência) e do governo (fiscais        (ANC) o argumento de que os custos
     e contribuições das empresas sobre o             financeiros da seguridade social são
     lucro, sobre o faturamento e sobre parte         “insustentáveis”, “explosivos” e levarão o
     do Pis-Pasep dentre outras). Mais do que         país à “catástrofe” fiscal são recorrentes.
     isso, é importante realçar que tanto a           O argumento é de uma simplificação
     Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL),       rudimentar: sempre que a contribuição
     como a Contribuição sobre o Faturamento          dos empregados e empregadores para
     das Empresas (COFINS), faziam parte da           a previdência social não é suficiente
     agenda do movimento social do início dos         para bancar os gastos da seguridade e o
     anos 80 e foram novas receitas criadas em        governo tem de contribuir com a sua parte
     1988 com o fim especifico de financiar a         ou utilizar recursos da CSLL e do COFINS,
     Seguridade Social.                               emerge o temível “déficit” da previdência
                                                      social, um tsunami devastador que levará
26   O que motivou os constituintes a
     vincular constitucionalmente fontes de
                                                      de roldão o ajuste fiscal, a estabilidade e
                                                      os “sólidos” fundamentos da economia.
     financiamento para a seguridade? Foi             Nesses       malabarismos       estatísticos
     contrapor-se a uma prática da ditadura           cometem um pecado capital: renegam a
     militar, que não cumpria com a sua               existência da Constituição da República
     parte, deixando de integralizar recursos         e os fundamentos do Estado Democrático
     fiscais para a previdência, assistência e        de Direito.
     saúde. E, sempre que a contribuição dos
     empregados e empregadores cobria
     essas despesas, o Tesouro capturava
     o excedente. A previdência financiava            A Tese do País Ingovernável
     a política econômica e não o inverso.            Observe-se que em meados de 1988, uma
     Como se sabe, os governos democráticos           das últimas cartadas para tentar obstruir
     reeditaram essa prática, em grande estilo.       os avanços sociais na Assembléia Nacional
     Portanto, quando o Tesouro Nacional              Constituinte foi capitaneada pessoalmente
     aporta recursos fiscais ou recursos da           pelo presidente da República. Num ato
     CSLL e do COFINS para o Regime Geral             emblemático e desesperado, quando teria
     de Previdência Social (INSS urbano e             início a votação da última fase dos trabalhos
     rural) e para a saúde e a assistência social     da Assembléia Nacional Constituinte –
     (Loas), não se trata de ‘déficit’ mas, sim, de   durante a qual só se admitiam emendas
     cumprir a parcela de responsabilidade que        de caráter supressivo ou levemente
     cabe ao Estado, prevista na Constituição         corretivo – o presidente Sarney, em uma
     da República. Todavia, os conservadores          derradeira tentativa para modificar os
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


rumos do processo constituinte, fez um           sistema tripartite, não aportando recursos
pronunciamento em cadeia nacional de             previstos Orçamento da Seguridade
rádio e televisão, no qual pretendia “alertar    Social capturados para financiar a dívida
o povo e os constituintes” para “os perigos”     pública e repetindo expedientes do
que algumas das decisões contidas no             regime militar. Assim, só a partir de 1997
texto já aprovado representavam para             é que as contas do INSS começaram a
o futuro do país. A principal tese então         apresentar saldos negativos.
defendida pelo presidente da República
era que o país tornar-se-ia “ingovernável”       Outro aspecto olimpicamente desconsiderado
caso se mantivesse o texto aprovado em           pelos porta-vozes do contra-reformismo
primeiro turno. (Sarney vai à TV criticar o      neoliberal é que, dentre os principais
projeto. Gazeta Mercantil. 27/7/1988).           condicionantes estruturais dos desequilíbrios
                                                 financeiros da previdência, estão as
O discurso de Sarney teve intensa                renúncias fiscais, a estagnação econômica e
repercussão e provocou críticas e aplausos,      a desorganização do mercado de trabalho,
de progressistas e conservadores.                implícitos ao modelo de estabilização
Entretanto, nada se comparou à                   econômica      adotado.    Baixa   atividade
memorável defesa dos trabalhos da ANC            econômica,        desemprego,      aumento
feita por seu presidente, o deputado             do trabalho informal, flexibilização
Ulysses Guimarães, rebatendo de forma            do mercado de trabalho, todos esses
categórica as ameaças que Sarney
                                                 processos engendrados como estratégia
fizera na noite anterior. A Constituição
será a “guardiã da governabilidade”,
                                                 macroeconômica e de reforma do Estado,          27
                                                 de corte liberalizante, reduziram a
sentenciou Ulysses. É nesse discurso e
                                                 arrecadação do INSS, ancorada na massa
contexto que Ulysses intitulou a Carta
                                                 de salários do mercado formal. Basta isso,
de 1988 como a “Constituição cidadã”
(Ulysses Guimarães (Discurso). “Esta             para que se conheçam as verdadeiras
constituição terá cheiro de amanhã, não          causas do dito ‘déficit’.
de mofo”. Folha de S.Paulo, 28/7/1989).
                                                 Por outro lado, a proteção social
Após quase 20 anos, não se pode afirmar          proporcionada pela seguridade social
que a seguridade social tenha quebrado o         é, hoje, um dos principais pilares da
país. Ou ainda, que ela seja o principal vilão   governabilidade, como profetizou o
do ajuste fiscal e do desgoverno do País.        saudoso deputado Ulysses Guimarães.
Contrariando os que advogavam a tese de          O Legado da Constituição de 1988 é
que o Brasil seria “ingovernável”, até 1997      extraordinário:
as contribuições dos empregadores e dos
trabalhadores para a previdência foram             •	Entre 1990 e 2007 a mortalidade
suficientes para financiar as despesas,              infantil no Brasil, caiu de 47 para
gerando saldos financeiros positivos.                14 (1000 crianças nascidas vivas).
Nesse contexto – como se viu acontecer               No Nordeste de 75 para 27. O SUS
durante a ditadura –, a União eximiu-                representou uma mudança no padrão
se de cumprir sua responsabilidade no                de saúde.
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde



                                             Mortalidade Infantil




       •	Em termos de Seguro Desemprego nós temos hoje algo em torno de seis milhões de
         segurados. Não é pouca coisa.
28
                                             Seguro-desemprego                                              TABELA 94
                                                        BRASIL 1997- 2007
                                                                                  Valor emitido
                                                                    Taxa de       dos benefícios    Valor médio do
       ANO           Requerentes             Segurados             habilitação   (em milhões de      benefício em
                                                                      (em %)     moeda corrente)   salários mínimos
        1997            4.426.718             4.400.738                 99,4         3.451,04            1,57
        1998            4.398.302             4.357.528                 99,1         4.056,87            1,56
        1999            4.416.358             4.315.593                 97,7         3.834,85            1,55
        2000            4.260.699             4.176.004                 98,0         4.053,43            1,51
        2001            4.772.779             4.686.756                 98,2         4.808,31            1,48
        2002            4.884.001             4.803.535                 98,4         5.677,88            1,42
        2003            5.051.407             4.971.712                 98,4         6.616,84            1,38
        2004            4.892.760             4.812.008                 98,4         7.020,92            1,39
        2005            5.473.693             5.362.968                 98,0         8.770,73            1,36
        2006            5.857.041             5.749.511                 98,2        10.302,10            1,31
        2007            6.275.716             6.149.789                 98,0        12.497,14            1,29
      TOTAL            54.709.474            53.786.142                 98,3        71.090,11            1,44
       Fonte: MTE Coordenação Geral do Seguro Desemprego e Abono Salarial
       Elaboração: DIEESE
       Obs: Dados enviados por e-mail em 4 de julho de 2008
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


Entre 1988 e 2009, o número de benefícios o                                       Não pode haver dúvidas acerca do
Regime Geral da Previdência Social (RGPS)                                         formidável efeito distributivo desses
aumentou de 11 para 25 milhões. Em 2006,                                          programas. Esse caráter fica ainda mais
desse total de aposentadorias e pensões,                                          evidente se também contabilizarmos os
cerca de 14,3 milhões correspondem aos                                            seus beneficiários indiretos. Segundo o
trabalhadores urbanos (INPS Urbano);                                              IBGE (Pnad, 2001), para cada beneficiário
7,3 milhões, aos trabalhadores rurais                                             direto há 2,5 beneficiários indiretos,
(Previdência Rural); e 2,9 milhões, aos                                           membros da família. Dessa forma, o
benefícios assistenciais voltados aos                                             INPS urbano, a Previdência Rural e o BCP
grupos mais vulneráveis, com destaque                                             beneficiam, direta e indiretamente, cerca de
para o programa Benefício de Prestação                                            86 milhões de pessoas.
Continuada (BCP/LOAS).

                    Evolução da Quantidade de Benefícios
                      Emitidos pela Previdência Social
                           Em milhões de benefícios - 2000 a 2009 (dezembro)




                                                                                                                                                                 29




 Fontes: Anuário Estatístico da Previdência Social - AEPS; Boletim Estatístico da Previdência Social – BEPS. Elaboração: SPS/MPS.
 Obs.: Os benefícios assistenciais, embora operacionalizados pelo INSS, estão sob a responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.


Aqui que está parte da força consumo                                              pelo menos, como uma fonte de renda.
interno – principal motor da dinâmica da                                          Segundo dados da CEPAL, a média da
economia nos últimos anos. A economia                                             cobertura na América Latina é de 30% dos
que está crescendo pelo consumo interno.                                          idosos. Na década dos 90, a participação
Isso é um aspecto importantíssimo: 69%                                            da renda da Seguridade na composição da
dos benefícios equivalem a salário mínimo.                                        renda familiar urbana passou de 10% para
                                                                                  24%; e, na renda familiar rural, de 9 para
A cobertura no Brasil é elevada: cerca de                                         26%. Sem a Seguridade 70% dos idosos
80% dos idosos no Brasil têm pelo menos a                                         estariam abaixo da linha de pobreza (ante
aposentadoria como fonte de renda. Ou seja,                                       os 10% atuais). Sem esses progressos, hoje,
80% dos idosos no Brasil têm a Previdência,                                       o país poderia ser “ingovernável”.
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


     2- TENSÕES ENTRE                              O cenário hostil, a partir de 1990 e até
                                                   nossos dias, não impediu que parcela
     PARADIGMAS (1990/2010):                       significativa das conquistas sociais de
     ESTADO MÍNIMO X ESTADO                        1988 fosse consagrada. O legado dos
     DE BEM-ESTAR SOCIAL                           movimentos sociais foi a construção de
                                                   um razoável sistema de proteção social
     Na trajetória da política social brasileira   conquistado na contramão do pensamento
     nas últimas cinco décadas é possível          neoliberal hegemônico em escala mundial
     identificar dois movimentos opostos. O        e do movimento em direção ao Estado
     primeiro aponta o rumo da estruturação        Mínimo a que foram submetidos, via
     das bases institucionais, financeiras e de    de regra, os países subdesenvolvidos,
     proteção características do Estado de Bem-    incluindo os da América Latina.
     Estar Social em nosso país. Esse processo
     ganhou impulso a partir de meados dos
     anos 70, no âmago da luta social pela
                                                   O Movimento Inspirado no Estado
     redemocratização do Brasil. Foi conduzido
     pelo amplo movimento social e popular
                                                   de Bem-Estar Social
     que se opunha ao Regime Militar. Essa         A Constituição inovou em diversos
     longa travessia desaguou na Constituição      pontos. Um dos mais expressivos foi
     de 1988.                                      a Seguridade Social, integrada pelos
                                                   setores    Saúde,    Previdência   Social,
     O segundo aponta na direção contrária:
                                                   Assistência Social e Seguro-Desemprego.
     tentar impedir a consumação daquelas
                                                   Inspirada na experiência inglesa do
30   bases esboçadas em 1988. Após as
     primeiras contramarchas (nos últimos
                                                   pós-Guerra, especialmente o Plano
                                                   Beveridge, é baseada na solidariedade
     anos da transição democrática), esse
                                                   social: o acesso aos bens e serviços
     movimento ganhou vigor, a partir de
                                                   independe da capacidade de pagamento
     1990. Desde então, abriu-se um novo ciclo
                                                   dos indivíduos. Selou-se um pacto social
     de reformas liberais e conservadoras.
                                                   pelo qual os impostos – que deveriam
     Os princípios que orientam o contra-
                                                   ser pagos pelos mais ricos – financiariam
     reformismo neoliberal na questão social
                                                   os direitos dos indivíduos com inserção
     eram radicalmente antagônicos aos da
                                                   social mais vulnerável. Esse princípio
     Carta de 1988.
                                                   permitiu incorporar mais de 7 milhões de
     Mesmo submetido a tensões entre para-         aposentados rurais e mais de 3 milhões de
     digmas tão antagônicos, o caso brasileiro     beneficiários da LOAS – Lei Orgânica de
     é inédito dentre os países de capitalismo     Assistência à Saúde, além de assegurar o
     tardio. Conquistamos a cidadania social       acesso universal e gratuito dos cidadãos
     na contramão do pensamento neoliberal,        aos serviços do Sistema Único de Saúde.
     hegemônico no mundo desde o final dos anos
                                                   Em suma, a Constituição de 1988
     70. Em grande medida, isso decorreu do fato
                                                   representou etapa fundamental – embora
     de que a agenda da redemocratização do
                                                   inconclusa – da viabilização do projeto
     País, impulsionada pelo movimento social
                                                   das reformas socialmente progressistas.
     a partir de meados dos anos 70, não abriu
                                                   Com 40 anos de atraso, desenhou-se com
     brechas políticas para os experimentos
                                                   a Constituição de 1988, pela primeira vez
     neoliberais – pelo menos até o final dos
                                                   na história do Brasil, o embrião de um
     anos 80.
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


Estado de Bem-Estar Social, universal e                                    reformistas conservadores, o Brasil é um
equânime. Seu âmago reside nos princípios                                  “país rico”. Recursos existem, mas são ‘mal
da universalidade, da solidariedade, da                                    distribuídos’, posto que são apropriados
seguridade e da compreensão da questão                                     pelos mais “abastados”. O seguro-
social como um direito da cidadania (em                                    desemprego, por exemplo, é tido como um
contraposição à caridade, à filantropia                                    privilégio inaceitável, apropriado pelas
e ao assistencialismo). Para financiar os                                  “elites dos trabalhadores” (aqueles que
novos direitos, a Carta instituiu e vinculou                               possuem carteira de trabalho). A ‘solução’
constitucionalmente fontes de financiamento                                para “erradicar” a pobreza é simples:
não reembolsáveis e vinculados aos setores                                 destruir de vez o aparato conquistado
que compõem a Seguridade Social.                                           em 1988, que seria acessível apenas para
                                                                           os “privilegiados que estão no topo da
                                                                           pirâmide de distribuição da renda” (os que
O Movimento Inspirado no Estado                                            ganham mais de R$ 500,00) e transferir esses
Mínimo                                                                     recursos para os programas focalizados.

O segundo movimento aponta na direção                                      Aqui abro parênteses: Poucos sabem que,
contrária: o de tentar impedir a consumação                                na pirâmide da distribuição da renda do
daquelas bases esboçadas em 1988. Após as                                  trabalho, elaborada pelo IBGE, os 20% mais
primeiras contramarchas (nos últimos anos                                  ricos são os indivíduos com rendimentos
da transição democrática), esse movimento                                  superiores a cerca de R$ 500,00; e os 10%
ganhou vigor, a partir de 1990. Desde então,                               mais ricos, os que auferem renda superior
abriu-se um novo ciclo de reformas liberais                                a R$ 800,00. Os verdadeiros ricos no Brasil
e conservadoras, que no campo social,                                      escondem suas riquezas e não aparecem nas
                                                                           pesquisas oficiais, como a Pnad, que capta
                                                                                                                                       31
visava, em última instância, a enterrar as
conquistas sociais de 1988 e a implantar o                                 apenas a renda do Trabalho. Na última Pnad,
Estado Mínimo.                                                             por exemplo,somente 14 entrevistados,numa
                                                                           amostra de 410.241 pessoas declararam
Dessa forma, desde o final dos anos 80 e                                   ter rendimentos mensais superiores a R$
até hoje, a política social brasileira vem                                 50 mil (0,005% do total) (Antônio Gois,
sendo submetida a tensões entre dois                                       Muitos ricos escondem renda em pesquisa.
paradigmas antagônicos: o Estado Mínimo                                    Folha de S.Paulo, 21/10/07). De acordo com
versus o embrionário Estado de Bem-Estar                                   Estudo da Merrill Lynch e da Capgemini “o
Social; a seguridade social versus o seguro                                número de milionários (pessoas com mais
social; universalização versus a focalização;                              de US$ 1 milhão) no Brasil cresceu 10% no
a prestação estatal dos serviços versus                                    ano passado em relação a 2005, passando
privatização; os direitos trabalhistas versus a                            para 120 mil pessoas, uma aceleração mais
desregulamentação e flexibilização.                                        rápida que a média mundial, de 8,3%.
                                                                           (Robison Borges, O que faz os ricos, ricos.
Para os defensores do Estado Mínimo1, o                                    Caderno EU&, Valor, 23/11/07)
gasto social aplicado em políticas universais
é o vilão da estabilidade da moeda e das                                   Outra impropriedade, segundo os defen-
contas públicas. Além de ‘elevado’ ante                                    sores do Estado Mínimo: o gasto social seria
a experiência internacional, ele seria                                     apropriado uma casta de ‘velhos’, ‘marajás’
apropriado pelos ‘ricos’. Aos olhos dos                                    e ‘vagabundos’, em detrimento da educação

1
 Consultar, especialmente: Henriques (org.) (2000); Paes de Barros e Fogel (2000); Ferreira e Litchfield (2000); Néri (2000 e 2004);
Scheinkman e outros (2002); Giambiagi, Reis e Urani (org.) (2004); e Paes de Barros e Carvalho (2004).
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


     das crianças, tido pelos conservadores        hum salário mínimo (R$ 380,00)? Não.
     como o único caminho possível para a          Seguem os parâmetros determinados pelo
     distribuição da renda. Mais do que isso, a    Banco Mundial. Aqui a tecnocracia arbitrou
     renda das famílias aposentadas induziria      que a linha que divide os miseráveis dos
     o ócio dos jovens. Segundo Camargo e          afortunados é a renda de R$ 120,00. Quando
     Reis (2007), por exemplo, após finalmente     se diz que a pobreza no Brasil foi reduzida,
     reconhecerem que os rendimentos com           significa que alguns indivíduos passaram
     aposentadorias e pensões representam          a ganhar mais de R$ 120. Quem passou a
     uma parcela importante da renda de            ganhar R$ 150, por exemplo, “deixou de
     muitos domicílios no Brasil, constatam que    ser pobre” e teria adentrado o admirável
     os elevados valores desses benefícios,        mundo da prosperidade. Tornou-se rico.
     aumentam a renda domiciliar per capita.       Parcela da pobreza no país foi “erradicada”.
     Todavia, esse fato extremante positivo        Um único exemplo: somente com passagens
     tem seu lado perverso: podem influenciar      de transporte público, um trabalhador gasta
     as decisões dos jovens moradores dos          mais de R$ 200 por dia em metrópoles como
     domicílios quanto a trabalhar e estudar. De   São Paulo.
     acordo com os autores, o aumento na renda     Logo, para os defensores do Estado Mínimo,
     domiciliar proveniente de aposentadorias      qualquer programa social que tenha
     e pensões reduz a taxa de participação dos    impactos sobre a população que ganhe
     jovens na força de trabalho. Os resultados    mais de R$ 120 (o seguro-desemprego
     também indicam que essa redução na
                                                   ou a previdência social, por exemplo) é
     participação está associada a um aumento na
                                                   considerado não “focalizado”, benéfico
32   proporção de jovens estudando. Entretanto,
     as evidências também indicam que
                                                   aos “ricos” e “perpetuador da armadilha
                                                   da desigualdade”. Devem ser, portanto,
     rendimentos com aposentadorias e pensões
                                                   aniquilados, e seus recursos transferidos
     aumentam a probabilidade de que os jovens
     não estejam estudando nem participando do     para os programas de transferência de
     mercado de trabalho (grifos meus).            renda voltados aos “mais pobres”, aqueles
                                                   que recebem menos de R$ 120 por mês.
                                                   Com a destruição das políticas universais
                                                   que beneficiariam os ricos, seria possível
     O Fundamentalismo de uma                      “erradicar” a pobreza. Teríamos, assim, uma
     Nota Só                                       massa de afortunados que receberiam, por
     Assim, para “erradicar a pobreza”, os         exemplo, R$ 200 mensais.
     fundamentalistas de uma nota só defendem      Os       pesquisadores      desse     matiz
     uma única estratégia: programas focalizados   desconsideram o crescimento econômico e
     de transferência de renda. Elegem um único    os seus impactos sobre o emprego e a renda.
     público-alvo: as famílias que estão “abaixo   Desqualificam a importância da reposição
     da linha de pobreza”.                         do valor real do salário mínimo. Descartam
     Como definir quem está abaixo da linha        a necessidade de políticas sociais que
     de pobreza? Seriam aqueles que ganham         assegurem direitos universais. Em suma, o
     menos que o salário mínimo necessário de      fundamentalismo de uma nota só defende
     R$ 1.780,00 calculados pelo Dieese? Seriam    que apenas com políticas “cientificamente
     aqueles que recebem menos da metade da        focadas” será possível pôr “fim à exclusão
     renda média do país, como faz a OCDE?         social” e “erradicar” a pobreza.
     Seriam aqueles que recebem menos de
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


Em tempos de ressurgimento da filantropia,      auto-intitulados “economistas da pobreza”.
do Terceiro Setor e da Responsabilidade         Lamentavelmente,       essa    perspectiva
Social, a sofisticação técnica, a competência   equi-vocada tem sido preconizada por
em convencer o senso comum com o                instituições internacionais de fomento
irresistível apelo de que estão fazendo uma     (Banco Mundial, 2001, por exemplo) e
opção preferencial pelos pobres camufla         defendida por inúmeros especialistas,
algo que não é perceptível para os incautos:    alguns já mencionados. E, não se pode
trata-se, ao contrário, de competente e         acusar o atual Governo Brasileiro de estar
sedutora versão adaptada aos trópicos da        cometendo esse equívoco.
agenda em favor do Estado Mínimo pela via
da destruição do embrião do Estado de Bem-
Estar Social. Não são defensores dos pobres,    Retrocesso nos Direitos
como se autodenominam. São instrumentos
de um modelo macroeconômico excludente
                                                Previdenciários
que busca, em última instância, o ajuste        É neste contexto de fortalecimento do
fiscal pela subtração de gastos sociais         pensamento neoliberal no Brasil, que foi
universais, tidos como “perpetuadores de        realizada a reforma da Previdência em 1998.
privilégios” e principais responsáveis pela     A Emenda Constitucional n.20 enterrou
contínua “explosão” dos gastos correntes e      parcialmente o legado da Constituição de
da projetada “catástrofe” fiscal.               1988.Dentre o conjunto de medidas adotadas
                                                destacam-se: substituiu-se a comprovação
Políticas de transferência de renda são
                                                do “tempo de serviço” pelo “tempo de
mais baratas que políticas universais que
                                                contribuição”; eliminou-se a aposentadoria
asseguram padrões mínimos e dignos de
cidadania. Observe-se que o gasto anual
                                                proporcional; desvincularam-se o benefício       33
                                                previdenciário e o salário mínimo, para os
com o Programa Bolsa Família é de cerca
                                                benefícios acima do piso; e rebaixou-se
de R$ 10 bilhões, enquanto os gastos
                                                o teto nominal dos benefícios. Por razões
previdenciários (INSS e Previdência Rural)
                                                de espaço, comentamos aqui apenas as
atingem mais de R$ 160 bilhões. Esta é
                                                mudanças introduzidas na idade mínima e
verdadeira razão que move a suposta opção
                                                no tempo de contribuição.
preferencial pelos mais pobres, que há
mais de duas décadas tem sido defendida         Para os contra-reformistas, uma das
com tenacidade pelo Banco Mundial, FMI,         distorções do Regime Geral da Previdência
demais instituições que pregam a cartilha       Social (RGPS) era a aposentadoria em idade
neoliberal seguida à risca pela ortodoxia       considerada precoce. Essa crítica estava
econômica brasileira. Dirigem-se ao senso       parcialmente correta. De fato, não houve
comum e sua maior competência é passar          consenso na ANC para introduzir o limite
para a opinião pública e para a mídia os        de idade (55 anos para aposentadoria). Sem
seus propósitos visando à “justiça social”.     a fixação da idade mínima, prevaleceu a
                                                aposentadoria “por tempo de serviço” aos
Entendo que uma efetiva estratégia de
                                                35 anos para o homem e aos 30 anos para a
combate à pobreza no Brasil não pode
                                                mulher.
prescindir de programas emergenciais
focados naqueles que estão à margem do          Todavia, para corrigir esta distorção, a EC n.
trabalho e submetidos à miséria extrema.        20/98 proposta pelo Executivo preconizava
O equívoco é pretender fazer desse eixo         regras draconianas de acesso: acumulavam
a própria ‘estratégia’ de enfrentamento         idade mínima (65 anos para homens e
do problema social, como preconizam os          de 60 anos para mulheres) mais tempo
Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde


     de contribuição (35 anos para homens e          caso, até que os contribuintes atinjam 65/60
     30 anos para mulheres). Felizmente, não         anos, passou a incidir o chamado “fator
     houve consenso em torno desse ponto             previdenciário” (criado em 1999) que
     no Congresso Nacional. Com o texto final        suprime parcela do valor do benefício e
     aprovado, a partir de 1998 passaram a existir   posterga o início da aposentadoria.
     duas alternativas para a aposentadoria:
                                                     Assim, tanto a idade mínima (65 e 60
     •	 a aposentadoria “por idade” – 65 anos        anos) quanto o tempo de contribuição
        para homens e 60 anos para mulher, além      (35 e 30 anos) são elevados em relação
        da exigência de contribuição mínima por      aos padrões estabelecidos em países
        15 anos; e                                   desenvolvidos. A vigência dessas regras
                                                     mostra-se paradoxal, se consideramos
     •	 a aposentadoria “por tempo de                que não há como demarcar qualquer
        contribuição” – 35/30 anos e idade mínima    equivalência entre esses países e o nosso
        de 53/48 anos. Nesse caso, até que os        contexto socioeconômico e demográfico
        contribuintes atinjam 65/60 anos, passou a   de capitalismo tardio. A implicação desse
        incidir o chamado “fator previdenciário”,    quadro é óbvia para a proteção social: a
        criado posteriormente (1999), que            maior parte dos trabalhadores brasileiros
        suprime parcela expressiva do valor do       dificilmente terá condições de comprovar
        benefício, incentivando a postergação da     tempo de contribuição para o sistema de
        aposentadoria.                               previdência.
     No caso da “aposentadoria por idade”,
     conseguiu-se transpor para este nosso
34   país de miseráveis padrões semelhantes
     ou superiores aos existentes em países
                                                     3- DESAFIOS PARA A PRÓXIMA
     desenvolvidos. A idade mínima de 65 anos        DÉCADA 2010/2019
     não era adotada sequer em países como a         Vivemos um momento ímpar para consolidar
     Bélgica, Alemanha, Canadá, Espanha, França      as conquistas sociais da Constituição de 1988.
     e Portugal (60 anos) e os EUA (62 anos), por    No campo político e ideológico emergiu
     exemplo; e equivale ao parâmetro seguido        um cenário favorável para a ampliação do
     na Suécia, Alemanha, Finlândia e Áustria (65    papel do Estado na economia e na regulação
     anos), por exemplo. A própria Organização       dos mercados. O colapso financeiro
     Mundial de Saúde (OMS) faz uma distinção,       internacional (2008) interrompeu um longo
     ao definir a população idosa, entre países      ciclo de hegemonia do neoliberalismo
     desenvolvidos (acima de 65 anos) e países       em escala global. Muitos dos dogmas do
     em desenvolvimento (acima de 60 anos)           “pensamento único” caíram por terra.
     (FIBGE, 2002:9).                                Instituições como BIRD e FMI reconhecem
     No caso da “aposentadoria por tempo             o fracasso das políticas inspiradas pelo
     de contribuição”, passou-se a exigir a          Consenso de Washington. Este cenário
     comprovação de 35 anos para os homens e         abre     uma     oportunidade       histórica
     de 30 anos para as mulheres. Esse patamar       para a ampliação do papel do Estado na
     é superior ao estabelecido, por exemplo,        consolidação do sistema de proteção social
     na Suécia (30 anos) e a Finlândia (30 a 39);    consagrado pela Constituição de 1988.
     e se aproxima do nível vigente em outros:       Uma agenda neste sentido foi construída por
     EUA (35 anos), Portugal (36), Alemanha (35      um conjunto de especialistas e entidades
     a 40) e França (37,5), dentre vários. Nesse     do movimento social que emergiram do
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  • 1. SEGURIDADE SOCIAL, DESENVOLVIMENTO E SAÚDE Desafios para o mundo do trabalho Realização Apoio
  • 2. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Desafios para o mundo do trabalho
  • 3. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S456 Seguridade social, desenvolvimento e saúde: desafios para o mundo do trabalho – São Paulo: Central Única dos Trabalhadores/Secretaria Nacional de Saúde do Trabalhador, 2010. 108 p. : il. 1. Seguridade social. 2. Saúde do trabalhador - Políticas públicas. 3. Previdência social. 4. Sistema Único de Saúde (Brasil). CDU 368.4(81) CDD 368.4 (Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 10/1507)
  • 4. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Direção Executiva Nacional da CUT 2009/2012 Presidente: Artur Henrique da Silva Santos Antonio Lisboa Amancio Vale Ramo: Urbanitário – STI Energia Elétrica de Campinas Ramo: Educação – Sind. Professores do Distrito Federal Vice Presidente: José Lopez Feijóo Aparecido Donizetti da Silva Ramo: Metalúrgico – STI Metalúrgicas do ABC Ramo: Químico – STI Químicas, Petroquímicas e Secretário Geral: Quintino Marques Severo Plásticas do ABC Ramo: Metalúrgico STI Metalúrgicas de São Leopoldo Dary Beck Filho Secretário de Administração e Finanças: Vagner Ramo: Químico – Op. STI Dest. Ref. De Petróleo do Rio Freitas de Moraes Grande do Sul Ramo Financeiro: Sind. Bancários de São Paulo Elisangela dos Santos Araújo Secretário de Relações Internacionais: João Antônio Ramo: Rural Sind. Trab. Agricultura Familiar de São Felício Domingos - BA Ramo: Educação – Sind. Professores do Ensino Oficial Jasseir Alves Fernandes do Estado de São Paulo Ramo: Rural – STR de Iuna e Urupi - ES Secretário de Organização e Política Sindical: Jacy Júlio Turra Afonso de Melo Ramo: Educação – SINPRO – Sind. Professores de Santo André Ramo: Financeiro – Sind. Bancários do Distrito Federal Junéia Martins Batista Secretário de Formação: José Celestino Lourenço Ramo: Municipais – Sin. Trab. Adm. Pública e Ramo: Educação – Sind. Único dos Trab. em Educação Autarquias de São Paulo de Minas Gerais Pedro Armengol de Sousa Secretária de Relações do Trabalho: Denise Motta Ramo: Adm. Pública – Sind. Servidores Públicos Dau Federais do Piauí Ramo: Seguridade Social – Sind. Trab. Públicos da Saúde no Estado de São Paulo Rogério Batista Pantoja Ramo: Urbanitário – STI Urbanas do Amapá Secretária de Comunicação: Rosane Bertotti Ramo: Rural – Sind. Trab. Agricultura Familiar de Shakespeare Martins de Jesus Xanxerê - SC Ramo: Metalúrgico – STI Metalúrgicas de Belo Horizonte e Contagem - MG Secretária da Mulher Trabalhadora: Rosane da Silva Ramo: Vestuário: STI Calçados de Ivoti -RS Valeir Ertle Ramo: Comércio e Serviços – Sind. Emp. do Comércio Secretário de Políticas Sociais: Expedito Solaney de de Florianópolis Magalhães Ramo:Financeiro – Sind. Bancários de Pernambuco Secretário de Saúde do Trabalhador: Manoel Conselho Fiscal Messias Nascimento Melo Waldir Maurício da Costa Filho Ramo: Comunicação – Sind. Trabalhadores Informática Ramo: Construção Civil – STI Const. Civil do Espírito e Proc. Dados de Pernambuco Santo Secretária da Juventude: Rosana de Sousa de Deus Joice Belmira da Silva Ramo: Químico – STI Químicas e Farmacêuticas de São Ramo: Vestuário – STI Vestuário e Calçados de Paulo Igrejinha - RS Secretária de Meio Ambiente: Carmen Helena Pedro Almeida dos Anjos Ferreira Foro Ramo: Rural – Sintraf de Itamaraju Ramo: Rural: STR de Igarapé-Miri, Pará Secretaria de Combate ao Racismo: Maria Júlia Reis Suplentes Nogueira Marlene Terezinha Ruza Ramo: Seguridade Social – Sind. Públicos Federais Ramo: Transporte – Sind. Nacional dos Aeronautas Saúde e Previdência do Maranhão Sérgio Irineu Bolzan Ramo: Alimentação – STI Carnes de Aves, Bovinos Diretores Executivos Suínos e Derivados de Sidrolândia Adeilson Ribeiro Telles Ramo: Educação – Op. Sind. Estadual dos Prof. de Rubens Graciano Educação do Rio de Janeiro Ramo: Aposentados – Sind. Nacional de Aposentados e Pensionistas
  • 6. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Desafios para o mundo do trabalho Dezembro de 2010 Realização Secretaria Nacional de Saúde do Trabalhador
  • 7. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Secretaria Nacional de Saúde do Trabalhador Manoel Messias Nascimento Melo – Secretário de Saúde do Trabalhador Dary Beck Filho – Diretor Executivo Adjunto Claudia Rejane de Lima – Assessora Gilberto Salviano – Assessor Antonia Sarah da Silva – Assistente de Secretaria Organização e Revisão Claudia Rejane de Lima – Assessora Secretaria/apoio Antonia Sarah da Silva – Assistente de Secretaria Projeto Gráfico e Diagramação M.Giora Comunicação Impressão Fabracor Tiragem 3 mil São Paulo, dezembro de 2010
  • 8. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Sumário Apresentação Artur Henrique da Silva Santos .................................................................................8 Introdução Manoel Messias Melo ..........................................................................................10 Saúde, Previdência e Assistência Social: Trajetórias a partir da CF 1988 .......................................................... 15 Um sistema de seguridade social inclusivo para consolidar um modelo de desenvolvimento sustentável, soberano e democrático – Artur Henrique da Silva Santos ....................................................... 17 Na contramão do mundo: A experiência brasileira de seguridade social – Eduardo Fagnani .............................................................. 22 Trajetórias da Seguridade Social a partir da CF 1988: O olhar da Saúde – Humberto Costa ................................................. 39 Saúde, Previdência e Assistência Social: Trajetórias a partir da CF 1988 – A perspectiva da Assistência Social - Renato de Paula Francisco dos Santos Paula............................................................ 49 Modalidades de Gestão do Serviço Público ............................................... 57 A experiência de gestão da Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo - Arthur Chioro ......................................................... 59 Gestão do SUS: O que fazer - Francisco Batista Júnior ........................................... 72 Gestão do SUS: Analisando o presente com os olhos no futuro - Maria Aparecida do Amaral de Godói Faria ......................................... 81 Saúde, Trabalho e Previdência Social: O desafio da intersetorialidade .......... 83 A construção da Saúde do Trabalhador - Avanços e recuos - Maria Maeno ............................................................................................ 85 O desafio da intersetorialidade das políticas de saúde do trabalhador: Visão do Ministério da Previdência Social - Domingos Lino ...................................................................... 99
  • 9. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Apresentação das propostas apresentadas nos eixos Valorização do Trabalho e Distribuição de Renda e Inclusão Social, estruturantes da plataforma, tiveram como subsídio os debates efetuados na oficina, realizada em março deste ano, transcritos integralmente nesta revista. Compreendemos a seguridade social É como direito humano fundamental, que com grande satisfação deve assegurar proteção social e o pleno que apresentamos a desenvolvimento humano em todas as 8 Revista Seguridade Social, etapas da vida, o que, necessariamente, Desenvolvimento e Saúde, requer um Estado compromissado com os Desafios para o Mundo do interesses da maioria da sociedade, capaz Trabalho às nossas instâncias, sindicatos de desenvolver políticas consistentes de filiados, militância sindical do campo da trabalho, emprego e renda, de viabilizar saúde do trabalhador e da seguridade políticas de educação, saúde, assistência social e aos nossos parceiros, em especial, social, previdência social, habitação a FES- Fundação Fiedrich Ebert, entidade e demais condições que permitam que tem uma importante trajetória de sobrevivência digna a todas as pessoas. solidariedade e apoio às lutas pela democracia no Brasil e em outros países A defesa da universalidade, da do mundo, com quem a CUT tem uma solidariedade e da ampliação da profícua relação e produção de trabalhos cobertura vertical e horizontal dos conjuntos. sistemas de seguridade social, com base na Convenção 102 da OIT, são Presente nas lutas da Central desde a questões que devem ocupar o centro do sua fundação, a seguridade social tem debate político sindical internacional no um lugar de destaque na Plataforma que próximo período, posto que as investidas a CUT apresentou às eleições de 2010, neoliberais de responsabilização cujas diretrizes orientarão as estratégias individual pelas condições de da Central no próximo período. Parte sobrevivência, de flexibilização das
  • 10. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde relações de trabalho e de focalização dos trabalhadores e a nossa intervenção das políticas sociais tendem a ganhar sindical nos espaços de controle social força em decorrência da crise econômica e de negociação no âmbito da Saúde, mundial. Trabalho e Previdência Social, assuntos abordados nesta Revista. No Brasil, em que pese o cenário político- econômico favorável e o fato de o sistema Reiteramos que, aliado à defesa do de proteção social brasileiro estar acima trabalho e dos direitos dele derivados, dos parâmetros mínimos propostos pela defendemos a responsabilidade pública OIT, temos pela frente enormes desafios pela proteção social aos que se encontram políticos e estruturais para consolidar em situação de contingência social, e, por a seguridade social como sistema, hoje isso, demandam serviços sociais como composto por três áreas que atuam direito de cidadania. de forma fragmentada – a Saúde, a Assistência Social e a Previdência Social, Assim, esperamos que esta Revista como também permanece o desafio de contribua para continuar estimulando reverter o quadro de precarização do o debate, promovendo a escuta de mercado de trabalho, cujas conseqüências diferentes vozes e posicionamentos, com 9 se expressam no aumento do número vistas a avançarmos na consolidação de acidentes e doenças, na piora da do nosso sistema de seguridade de qualidade de vida, na fragilização do seguridade social, tendo como foco pilar contributivo da seguridade social, de nossas estratégias a conquista do dentre outros. Trabalho Decente para todos e todas. Considerando que o trabalho é um Parabéns à Secretaria de Saúde do dos principais pilares dos sistemas de Trabalhador pela iniciativa! proteção social e que a desconstrução dos direitos dele advindos repercute no conjunto da sociedade, a eliminação do desemprego, da informalidade e da precarização são elementos estratégicos na conformação de uma agenda de lutas. Neste contexto se insere a Saúde do Trabalhador, área da seguridade social que tem relação direta com a ação sindical nos locais de trabalho, onde permanece Artur Henrique da Silva Santos o desafio de avançarmos na organização Presidente – CUT Nacional
  • 11. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Introdução de organização dos trabalhadores e com a importância do fortalecimento dos instrumentos de negociação coletiva, como também defende a proteção a social, compreendida como elemento de cidadania, sob a responsabilidade do Estado, seja por meio dos direitos sociais ou de outros mecanismos de regulação, tais como as ações de vigilância em saúde, fiscalização, inspeção e outras. A Revista Seguridade Social, Nesta trajetória contribuímos com marcos Desenvolvimento e Saúde, históricos importantes, como a criação do Desafios para o Mundo do SUS e do próprio Capítulo de Seguridade Trabalho é resultado de uma Social inscrito na nossa Constituição 10 Oficina, que fizemos em Federal de 1988, processo impulsionado março de 2010, em São Paulo, no Salão Azul pelos movimentos sociais, com uma do Sindicato dos Bancários, para debater participação importante dos trabalhadores e elaborar propostas sobre Seguridade e trabalhadoras, em especial os do ramo Social e Saúde do Trabalhador para a da seguridade social. Plataforma da CUT para Eleições de 2010. Tanto a oficina como esta revista foram As ações de resistência às políticas possíveis porque contamos com a parceria neoliberais nos anos de 1990 são outro da FES – Fundação Friedrich Ebert, com marco, na medida em que conseguimos as contribuições trazidas pelos nossos impedir a privatização do SAT – Seguro convidados - parceiros de luta, e com a Acidente de Trabalho, por meio de participação expressiva de dirigentes dos uma forte campanha que dialogou ramos de atividade e das Estaduais da com trabalhadores e outros setores da CUT, a quem, mais uma vez, agradecemos. sociedade, e desenvolvemos outras tantas A Seguridade Social e a Saúde do lutas em defesa da saúde do trabalhador, Trabalhador não são temas novos na agenda dos aposentados, das pessoas com da Central. Desde a sua fundação, em 1983, deficiência, contra as altas programadas, a CUT defende melhorias nas condições contra a precarização do trabalho, de trabalho, compreendida em sua contra o fator previdenciário, contra a relação intrínseca com a democratização reforma da previdência social etc. além das relações de trabalho, com o direito da intervenção nos espaços tripartite do
  • 12. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Ministério do Trabalho e Emprego, no a seguridade social brasileira, ou seja, Conselho Nacional de Saúde e Conselhos Saúde, Previdência e Assistência Social. Estaduais e Municipais de Saúde, no Conselho Nacional de Previdência Social No primeiro painel tivemos a participação e outros espaços das políticas públicas. de Artur Henrique da Silva Santos, presidente da CUT, que fez a abertura da Estas lutas permanecem na agenda dos atividade e nos brindou com uma análise anos 2000, juntamente com novos desafios da crise da econômica e social instaurada e contradições. No que tange à saúde em 2008 e uma contextualização do do trabalhador, por exemplo, obtivemos tema da seguridade social e da saúde conquistas importantes como a realização do trabalhador na agenda da Central. da 3ª Conferência Nacional de Saúde Destacou, dentre outros aspectos, a do Trabalhador, a implementação da importância de avançarmos, na luta pela RENAST – Rede Nacional de Saúde do redução da jornada de trabalho a fim de Trabalhador; a implantação do NTEP Nexo obtermos uma qualidade de vida melhor Técnico Epidemiológico Previdenciário e dentro e fora do trabalho, sermos mais do FAP – Fator Acidentário de Prevenção, saudáveis e felizes. Sua contribuição mas não avançamos na superação da foi transformada em um dos artigos modelo tradicional de prevenção, baseado desta revista sob o título “Um sistema de na Medicina do Trabalho e na Saúde seguridade social inclusivo para consolidar Ocupacional. um modelo de desenvolvimento sustentável, No que tange à Seguridade Social, soberano e democrático”, que sintetiza 11 avançamos com a implantação do SUAS a estratégia da Central para o próximo – Sistema Único de Assistência Social e período, na sua compreensão como um direito de Na sequência tivemos a apresentação cidadania, mas permanecem diversas do companheiro Eduardo Fagnani, barreiras na consolidação do SUS – economista, professor da Unicamp-SP, que Sistema Único de Saúde, sobretudo por fez um resgate da seguridade social no dificuldades de financiamento. No âmbito Brasil, demonstrando que as conquistas da previdência persiste uma lógica da Constituição de 1988, obtidas na rota securitária, que impõe grandes restrições inversa do neoliberalismo, são inéditas no e problemas para os trabalhadores. mundo. Também abordou a tensão entre Foi considerando limites e possibilidades, paradigmas no período de 1990-2010, avanços e recuos que a Oficina Seguridade apresentando conceitos e dados estatísticos Social, Desenvolvimento e Saúde, Desafios das políticas de saúde, previdência e para o Mundo do Trabalho, visou resgatar assistência social para demonstrar a e discutir os preceitos constitucionais viabilidade e os desafios que estão postos conquistados em 1988, tendo como pano para consolidar o sistema de seguridade de fundo a situação da economia e do social brasileiro. Concluiu sua exposição mercado de trabalho e as trajetórias apresentando um conjunto de propostas à percorridas pelas três áreas que compõem Plataforma da CUT para as eleições.
  • 13. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Humberto Costa, médico, ex-ministro resignificar os conceitos de seguridade da saúde no governo Lula, apresentou social à luz do projeto democrático popular. uma evolução histórica dos conceitos de proteção social subjacentes nos Encerrando o primeiro dia, Arthur Chioro, distintos modelos de seguridade social secretário de saúde do município de e as principais classificações usadas São Bernardo, e Francisco Batista Júnior atualmente, isto é, o modelo segmentado, debateram as modalidades de gestão no financiado pelo sistema público e privado, serviço público, tendo como pano de fundo com um componente contributivo, e o os tensionamentos entre a dimensão pública modelo universalista, financiado pelo e privada; os avanços e recuos em relação estado a todos os cidadãos. Neste contexto, aos princípios norteadores do sistema de situou o SUS e as dificuldades institucionais, seguridade social brasileiro, em especial a financeiras e de gestão que o sistema vem universalidade e a integralidade; a gestão enfrentando desde que foi implantado, em dos serviços e do trabalho e as políticas 1988, concluindo sua palestra apontando de financiamento. Travou-se um acalorado desafios a serem enfrentados para debate acerca das fundações estatais de preservar os princípios de um sistema direito privado. universal, integral e equitativo, mas que Chioro apresentou como as modalidades ao mesmo tempo seja viável política e de gestão no campo da administração economicamente. 12 pública estão amparadas nos marcos legais constitucionais e infraconstitucionais; as O olhar da Assistência Social foi trazido por Renato Francisco dos Santos de Paula, dificuldades de gestão enfrentadas pelo assistente social; assessor do gabinete sistema; o seu posicionamento em relação da Secretaria Nacional de Assistência às modalidades de gestão apresentadas, Social do Ministério do Desenvolvimento tendo por base a sua própria trajetória na gestão pública, onde tem adotado o uso Social e Combate à Fome que, a partir de fundação estatal de direito privado da contextualização feita por Fagnani e como estratégia de gestão. Concluiu sua Humberto Costa, relacionou os avanços e apresentação reiterando importância da dificuldades arrolados pelos expositores continuidade do debate. anteriores com o SUAS – Sistema Único de Assistência Social, que padece de Júnior, por sua vez, resgatou e reforçou os problemas e desafios semelhantes aos preceitos constitucionais, problematizando do SUS no que tange a relação entre o a fragilidade do sistema de saúde como público e o privado, as modalidades de decorrência da não implementação dos seus gestão, as dificuldades de financiamento, eixos estruturantes, ou seja, argumentando etc. destacando, contudo, a importância do que não se trata restritamente de um sistema de seguridade social, em particular problema de gestão, mas também de da assistência social e sua assunção efetiva financiamento, da não superação da como direito no governo Lula. Apontou perspectiva hospitalocêntrica, da com um dos desafios a importância de precarização da força de trabalho e outros
  • 14. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde problemas estruturais. Concluiu apontando ética nas políticas públicas de saúde do a necessidade de superar os problemas trabalhador. Problematizou, também, a arrolados, enfatizando a importância de relação entre desenvolvimento e saúde, fortalecer o controle social. tendo como pano de fundo a razão social do trabalho. Concluiu apontando um conjunto A coordenação do debate sobre de desafios para compor a agenda no modalidades de gestão foi feita por Maria próximo período. Aparecida do Amaral de Godói Faria, presidente da CNTSS-CUT Confederação O painel seguinte foi apresentado por Nacional dos Trabalhadores da Domingos Lino, Diretor Adjunto do Seguridade Social, trabalhadora da saúde Departamento de Saúde e Segurança no Estado de São Paulo, cuja participação Ocupacional do Ministério da Previdência também se transformou em um artigo Social, especialista em Prevenção e nesta revista, onde problematiza o intenso proteção de riscos laborais, que fez um e acalorado debate em curso sobre os balanço da atuação do governo Lula no rumos do SUS, apontado desafios no que âmbito da saúde e segurança no trabalho, tange à regulamentação do financiamento, no qual destacou a importância da à aplicação dos recursos e à resolução do prevenção e problematizou a atuação dos pontos de gargalos na gestão do sistema. diversos atores, em especial do movimento sindical. Começamos o segundo dia com a reflexão sobre Saúde, Trabalho e Previdência Social Cada uma das exposições de nossos 13 em que discutimos o desafio da construção convidados foi seguida de debate, onde da intersetorialidade das políticas de os participantes manifestaram seus pontos saúde do trabalhador, tendo como pano de vista, dúvidas, indagações e críticas, de fundo a sua concepção e diretrizes cuja riqueza, por mais que tentássemos, constitucionais, com vistas a identificar a transcrição não reproduziria, seja por avanços e recuos em relação ao conceito sua diversidade, seja por elementos de seguridade social, aos princípios simbólicos de comunicação não traduzíveis norteadores da saúde, em especial o para a linguagem escrita. Fica aqui o controle social; aos princípios e diretrizes registro da importância das contribuições da vigilância em saúde; a fiscalização e trazidas pelos participantes e mais um inspeção do trabalho. agradecimento. O primeiro painel foi feito por Maria Maeno, Boa leitura! médica e pesquisadora da Fundacentro que, a partir de um conceito ampliado de saúde, contextualizou politicamente os marcos institucionais, problematizando as dificuldades para superar o referencial Manoel Messias Melo da Medicina do Trabalho e da Saúde Secretário Nacional de Saúde do Ocupacional e para introduzir uma nova Trabalhador
  • 16. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Saúde, Previdência e Assistência Social: Trajetórias a partir 15 da CF 1988
  • 18. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Um sistema de seguridade social inclusivo para consolidar um modelo de desenvolvimento sustentável, soberano e democrático Artur Henrique da Silva Santos Presidente da CUT Brasil, Sociólogo, Eletricitário E m nosso 10º Congresso criamos a Secretaria Nacional de Saúde do Trabalhador da CUT, fruto de ampla participação e mobilização de vários companheiros e companheiras remete, portanto, à ação sindical, à OLT - 17 hoje reunidos neste seminário, que sempre Organização no Local de Trabalho, princípio defenderam a necessidade de avançar no debate sobre a saúde, nos marcos da que temos defendido desde a fundação da seguridade social e, neste contexto, a Central como elemento estratégico das saúde do trabalhador, compreendida como nossas lutas. A criação da Secretaria vem um campo de intervenção essencialmente ao encontro desta diretriz – estabelecer sindical e de caráter multidisciplinar. Tarefa condições para modificar as situações de sob responsabilidade do companheiro risco, a fim de evitar que os trabalhadores/ Messias Melo, nosso 1º Secretário Nacional as se acidentem e adoeçam. de Saúde do Trabalhador. Houve um grande debate sobre Não resta dúvida de que o debate sobre seguridade social no último período no seguridade social e a atuação nos espaços Brasil, especialmente no Fórum Nacional institucionais são questões importantes; da Previdência, uma das primeiras contudo não podemos perder de vista experiências de diálogo social sobre o que para a CUT o principal espaço de tema. Tivemos uma atuação importante, intervenção nas lutas pela saúde é nos locais porém como não temos cultura de diálogo de trabalho, que é onde homens e mulheres social, todos querem solução rápida. É são submetidos diuturnamente a situações importante mencionar que países como que levam ao adoecimento e à ocorrência a Espanha demorou aproximadamente de acidentes. Saúde do trabalhador 14 anos de diálogo social para construir
  • 19. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde uma proposta articulada. Aqui no deveria resolver todos os problemas Brasil, infelizmente, só tivemos uma também faliu. experiência de diálogo social envolvendo trabalhadores/as, empresários e governo Vivenciamos um momento muito rico no nesse ponto específico. Infelizmente, não Brasil e no mundo para discutir modelos teve continuidade. Persistiremos nessa e neste debate duas questões são batalha. Um dos grandes lutadores da causa extremamente importantes para a classe da seguridade social, Eduardo Fagnani, trabalhadora no Brasil: uma delas é a Saúde professor da Unicamp, teve destacada do Trabalhador e a outra é a Seguridade contribuição nos debates do Fórum Social. Tenho orgulho de participar do Nacional da Previdência, espaço em que CDES - Conselho de Desenvolvimento pudemos articular o acúmulo da academia, Econômico e Social e ser convidado por em especial da Unicamp, com o acúmulo vários países para falar sobre o sistema de do movimento sindical. proteção social brasileiro. Recentemente fui à Rússia e aos Estados Unidos. Temos a satisfação também de ter convivido com nosso companheiro No CDES, em algumas ocasiões, discutimos Humberto Costa, que fez um excelente o sistema de seguridade social brasileiro trabalho no Ministério da Saúde assim com ministros das áreas da saúde, do como todas as ações do Ministério do desenvolvimento social, do trabalho e 18 Desenvolvimento Social, no campo das da previdência social, juntamente com políticas públicas de assistência social empresários, governadores e conselheiros, que geraram a proposta de consolidação muitos dos quais, contraditoriamente, das leis sociais, transformando os direitos pertencentes àquele grupo que um dia sociais em política de Estado, um dos depois da promulgação da Constituição desafios que temos no processo de disputa Federal de 1988 se reuniu para avaliar por um modelo de desenvolvimento. por onde poderiam começar a destruir os avanços conquistados na seguridade social. No Brasil e em todo o mundo rediscutimos Hoje este mesmo grupo se vê obrigado e disputamos novos modelos de a reconhecer a importância que o atual desenvolvimento. Se, por um lado, o muro sistema de proteção social brasileiro vem de Berlim caiu já há alguns anos; também tendo no enfrentamento da crise. recentemente, em setembro de 2008, caiu o muro de Wall Street, o muro dos financistas, Participei do Congresso da AFL-CIO, nos daqueles que aplicaram dinheiro e não Estados Unidos, onde o presidente Obama produziram nem um parafuso, nem um esteve presente e em sua apresentação prego, nem uma geladeira, nem um disse ter vergonha de debater com automóvel, mas ganharam muito dinheiro determinados países, entre eles o Brasil, com aplicações financeiras. O mercado, o sobre sistemas de proteção social. Eu, que famoso mercado que, na lógica neoliberal, estava lá ouvindo, fiquei me perguntando:
  • 20. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde como pode o país mais importante do sociedade, são enormes, sem contar o mundo, com toda tradição e patriotismo sofrimento que imputa aos trabalhadores/ arraigados, dizer que se envergonha em as e suas famílias. admitir que uma parte importante da sua população não tem absolutamente nenhum Esses dois temas, Seguridade Social e sistema de proteção social? Como pode Saúde do Trabalhador, são desafios de admitir que pessoas idosas e aqueles extrema importância na agenda sindical. A que não têm condição de pagar o seguro construção de uma plataforma para incidir saúde estão morrendo pelas ruas? Isto dá na disputa eleitoral que se dará em 2010 um pouco a dimensão da importância do coloca a essencialidade dessa oficina para debate e dos desafios que temos. aprofundar o debate sobre o tema e elaborar propostas, bem como para compor a nossa Em relação à saúde do trabalhador temos, agenda de pressão ao Congresso Nacional também, um importante acúmulo e um pela aprovação de algumas reivindicações conjunto de desafios, como a luta pela que consideramos prioritárias. redução da jornada de trabalho para 40 Uma das bandeiras prioritárias é a horas, que é não apenas para distribuir os redução da jornada de trabalho. Uma ganhos de produtividade acumulado. Na bandeira para a disputa por um modelo de Constituição de 1988, reduzimos a jornada desenvolvimento sustentável, soberano e de trabalho de 48 para 44 horas. Lembrando que a reivindicação era redução de 48 para includente. Porque queremos mais tempo 19 40 horas e que, fruto de um acordo, foi para lazer, para a família, para o convívio reduzida para 44 horas. familiar e para a própria qualificação profissional. Queremos menos estresse no A indústria brasileira teve um aumento trabalho! Estamos vivendo para trabalhar, nos índices de produtividade da ordem de numa sociedade que é a sociedade só do 84,21% desde então. Hoje nós produzimos trabalho. Ora, a esta máxima de que “o o dobro de automóveis, de geladeiras e de trabalho dignifica o homem” esqueceram outros produtos com metade do número de acrescentar que enriquece o patrão... de trabalhadores/as de poucos anos atrás. E, para não deixar de falar de um setor É preciso mudar o padrão de vida de nossa em que o ritmo de trabalho e os critérios sociedade, ampliando a sustentabilidade, de produtividade repercutem gravemente para que o propalado progresso tecnológico na saúde dos trabalhadores/as, com e qualificação profissional não resultem em uma enorme incidência de acidentes pessoas cada vez mais estressadas, pelo e doenças, matamos cinco vezes mais assédio moral, pela pressão por metas, frangos com provavelmente 45, 50, 60% pela produtividade exacerbada que está menos trabalhadores/as. O custo social sendo imposta em vários setores. Neste e econômico dos acidentes de trabalho contexto se inserem a nossa luta pela à previdência social, à saúde, enfim à saúde, como a que travamos atualmente
  • 21. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde para garantir a implementação do Nexo diariamente com 180 milhões de pessoas! Técnico Epidemiológico e do FAP – Fator A idéia que é veiculada cotidianamente Acidentário Previdenciário. pelos meios de comunicação sobre a crise na Grécia e na Espanha é de que o Estado Sabemos da dificuldade que temos no de bem estar social europeu gastou muito, Congresso Nacional, cujo campo de forças é deficitário, sinalizando para reformas é desfavorável às nossas propostas. Esta é na previdência social brasileira. Este foi o discurso empresarial no Fórum Nacional outra missão que temos pela frente, ou seja, de Previdência! envidar esforços para renovar o Congresso e o Senado e para continuar avançando no Nesse debate, é preciso continuar a processo de mudança. aprofundar questões como a pirâmide etária, o futuro da população, compreender Há que se modificar também a lógica que o Brasil está ficando mais velho, corporativa ou de interesses específicos necessitando de equilíbrio nas contas quando se discute os recursos e as políticas públicas, etc. Contudo, o que está por públicas. Por exemplo, no debate feito trás do discurso conservador é que não recentemente em relação ao pré-sal, que podemos continuar tendo um sistema é uma vital para o conjunto da sociedade de proteção social universal no Brasil. brasileira, foi apresentada uma emenda Foi com este espírito que derrubaram a para destinar 5% de um recurso que CPMF, um verdadeiro atentado contra os ainda nem existe para aposentados que recursos da saúde pública. Infelizmente, 20 ganham mais de um salário mínimo. Ora, temos que reconhecer que não tivemos compreendemos as dificuldades por que correlação de forças suficiente para a passam os aposentados, mas essa não é disputa, mobilizando para garantir a sua a nossa proposta! O debate que fazemos continuidade. sobre o pré-sal é o de utilizar a riqueza Permanece ainda o debate da Emenda por ele gerada para combater a miséria, Constitucional,a EC 29.É uma oportunidade combater a pobreza, investir massivamente de fazermos a disputa para garantir um em educação, em ciência e tecnologia e sistema de financiamento estável da saúde na Seguridade Social, questões que se e este não deve ser um debate só de quem relacionam com um projeto de nação e não é da área de saúde, dos sindicatos da saúde de interesses específicos. ou da CNTSS – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Saúde e Seguridade A construção de propostas sobre Social. A EC 29 é um debate do conjunto seguridade social para a Plataforma da da classe trabalhadora brasileira. CUT para as eleições de 2010 é estratégica. E é com nossa independência e autonomia, Em se tratando da disputa de modelo que envidaremos todos os esforços para de Estado, pela democratização do fazer valer o lado da classe trabalhadora. Estado, no cenário político brasileiro O que remete ao debate sobre o papel sempre surgem “novidades”. Os jornais e revistas conservadoras brasileiras ao do Estado. Enquanto dialogamos com 50, tratarem da campanha política de Marina 100, 10 mil pessoas, a rede Globo dialoga Silva cunharam um novo conceito, o de
  • 22. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde “liberalismo sustentável”, ou seja, “tucanaram” a campanha dela! A “novidade” agora não é um debate sobre Estado forte, ou Estado mínimo. O Estado deve ser enxuto! O argumento é a reprisada cantilena de que é necessário reduzir os gastos públicos, que o Brasil precisa investir de 5 a 6% do PIB, que não é possível o governo Lula contratar 100 mil novos servidores públicos, etc. Se queremos resgatar e fortalecer o papel público do Estado, não nos calaremos diante desse debate! Embora importantes; estas contratações ainda são fortalecer os mecanismos de controle pequenas diante do tamanho da destruição social. neoliberal do Estado brasileiro efetuadas nos anos 1990! Uma grande disputa está em curso. No dia 1º de junho realizaremos uma grande É preciso assegurar que iniciativas como o PRONAF, Territórios da Cidadania, Luz assembléia das centrais sindicais, em 21 São Paulo, com aproximadamente 50 para Todos, Bolsa Família, a valorização mil pessoas no Estádio do Pacaembu. do salário mínimo, as várias conferências O objetivo é referendar uma pauta a realizadas em distintas áreas, a ampliação da ser entregue para quem tem condições participação social e outros tantos avanços efetivamente de implementá-la e impedir já conquistados no governo Lula, não se o retrocesso. restrinjam a políticas governamentais, correndo o risco de interrupção a cada Elaborar propostas na área da saúde e novo mandato. Temos que transformá- seguridade para a Plataforma da CUT las em políticas de Estado para garantir a para as eleições 2010 é uma tarefa desse sua perenidade. Por isso, é fundamental a Seminário. Mas também temos uma grande consolidação das leis sociais. responsabilidade que é o de defender a democracia, e ampliando a mobilização, Outro ponto importante é viabilizar o avançar em direitos e conquistas, debate que fizemos no Fórum Nacional da consolidando o projeto democrático e Previdência: criar um Conselho Nacional popular com a eleição da companheira de Seguridade Social quadripartite, que articule as ações dos Ministérios do Dilma Rousseff, a primeira mulher Trabalho,Saúde,Previdência e Assistência presidente da República do Brasil! Social. Também temos que transformar determinados fóruns que hoje são consultivos em deliberativos, além de
  • 23. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Na contramão do mundo: A experiência brasileira de seguridade social Eduardo Fagnani Doutor em Economia, Professor do Instituto de Economia e Pesquisador do CESIT das ações das outras Centrais Sindicais, mas, sobretudo, na defesa efetiva da visão dos trabalhadores no Fórum. Um debate dificílimo: de um lado, empresários; e, de outro, alguns dos economistas ortodoxos 22 mais radicais. E eu acredito que o resultado para os trabalhadores foi bastante positivo. A minha exposição se divide em três partes: Foto: Carlos Villalba • A primeira pretende mostrar que as conquistas da Constituição de 1988 são inéditas no mundo. O Brasil caminhou na B contramão do mundo, na rota inversa do om dia a todos os presentes. neoliberalismo Gostaria de cumprimentar a to- dos em nome do Artur Henrique, • A segunda idéia é ressaltar que no presidente da CUT. E ao me dirigir período 1990-2010 vivemos um período ao Artur, gostaria de explicitar a de tensão entre paradigmas. Por um lado satisfação de ter participado do processo têm as forças políticas que defendem as de defesa da Seguridade Social ocorrido conquistas de 88; e, por outro, as forças no Fórum Nacional da Previdência Social que defendem o estado mínimo. (2007), do qual você foi uma liderança notável. • Finalmente, na terceira parte procurarei apresentar alguns dos desafios que O Artur teve um papel fundamental naquele temos pela frente para a consolidação processo, não só na coordenação conjunta das conquistas de 1988.
  • 24. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde 1- CONQUISTAS NA Nós fomos salvos pelo momento político. O notável movimento social que vai CONTRAMÃO DO MUNDO impulsionar essas mudanças queria O que acontecia no mundo entre 1975 acertar as contas com a ditadura militar. e 2008? É a fase da hegemonia do Não havia campo fértil para germinar erva neoliberalismo como pensamento único. daninha do neoliberalismo. Reforma do estado, reforço do mercado Nesse contexto, a partir de meados privatização, desregulamentação, abertura dos anos 70, no âmago do processo de financeira, abertura comercial, ajuste restauração do Estado Democrático de fiscal, metas de inflação, Banco Central Direito, o movimento social formulou um independente, câmbio flutuante, ajuste amplo projeto de reformas de caráter fiscal, superávit primário etc. E do ponto democrático, desenvolvimentista e de vista dos princípios norteadores do redistributivo. O Movimento Democrático sistema de proteção social? O Estado Brasileiro (MDB), principal frente de Mínimo, políticas focalizadas, privatização, oposição, teve papel destacado na negação de direitos, seguro social (só construção dessa agenda. Uma primeira recebe quem paga) e flexibilização do versão desse projeto encontra-se mercado de trabalho. delineado no documento “Esperança e Foram quase 40 anos de dominância desse Mudança: uma Proposta de Governo para pensamento neoliberal, que define um o Brasil”, consolidado pelo MDB em 1982. plano único de ajustamento para os países Eram três os núcleos do projeto reformista: periféricos. Isto ficou conhecido na agenda a restauração do Estado Democrático de 23 como Consenso de Washington (1989). Um Direito; a construção de um sistema de plano único de ajustamento dos países proteção social, inspirado nos princípios periféricos. do Estado de Bem-Estar Social implantado E a maior parte dos países acabou aderindo nos países europeus nos “anos de ouro” a esse padrão já no início da década do pós-guerra (1945/75) e a concepção de 1980. A privatização da Previdência de uma nova estratégia macroeconômica, no Chile (1981) é um caso exemplar. plenamente direcionada para o Nas décadas seguintes ocorreram a crescimento econômico com distribuição privatização da Previdência nos seguintes de renda. países: Peru (1993), Argentina (1994), Colômbia (1994), Uruguai (1995), Bolívia Como se sabe, o desaguadouro de parte (1997), México (1997), El Salvador (1998), desta agenda foi a Constituição de 1988. Panamá (2002), República Dominicana O Estado Democrático de Direito foi (2003), 11 Países do Leste Europeu, 2 restabelecido. A Constituição Federal Países da Ásia e Nigéria (2005). também consagrou princípios e diretrizes que apontavam no sentido da construção E o que ocorreu no Brasil? Caminhamos das bases do Estado de Bem-Estar Social. na rota inversa, na contramão do mundo. Se a sociedade brasileira teve êxito na Desenhamos aqui um modelo de proteção viabilização desses núcleos, o mesmo social baseado no Estado de Bem-Estar não se verificou no tocante ao desenho Social implantado pela social democracia de uma nova estratégia macroeconômica. européia no pós-Guerra (1945/1975). Não avançamos na construção das bases
  • 25. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde financeiras que dariam sustentação para contraposição ao seguro social) e da cidadania recém conquistada. Como se compreensão da questão social como um sabe,o Brasil acumula 26 anos de estagnação direito da cidadania (em contraposição ao da economia e de agravamento da crise assistencialismo). Para financiar os novos social. Esse quadro tem apresentado direitos, a Carta instituiu novas fontes crescentes limites financeiros para a de financiamento não reembolsáveis e manutenção das conquistas populares no vinculadas aos programas sociais. campo da proteção social. A Constituição inovou em diversos pontos. Esse é o pano de fundo para se compre- Uma das mais expressivas foi a instituição ender a questão do financiamento da Seguridade Social (previdência urbana da seguridade social. De um lado, na e rural, saúde, assistência social e seguro- contramão do neoliberalismo, o movimento desemprego). social construiu um formidável sistema de proteção social no Brasil. De outro, desde Para financiar a Seguridade Social, os meados dos anos 80 a economia brasileira constituintes instituíram o Orçamento esteve semi-estagnada e submetida à uma da Seguridade Social, que vinculou um política monetária e fiscal restritivas que conjunto de fontes de financiamento à explodiram o endividamento e estreitaram cobertura dos novos direitos sociais, as possibilidades do financiamento baseadas em contribuições (folha de público em geral. salários e Pis-Pasep) e impostos, criados em 1988 para esse fim (CSLL e COFINS). 24 A Seguridade Social na Constituição de 1988 A Constituição de 1988 representou etapa fundamental – embora inconclusa – da viabilização do projeto das reformas socialmente progressistas. Com ela, desenhou-se pela primeira vez na história do Brasil, o embrião de projeto inspirado no Estado de Bem Estar Social. Seu âmago reside nos princípios da universalidade (em contraposição à focalização exclusiva), da seguridade social (em
  • 26. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Orçamento da Seguridade Social RESULTADO DA SEGURIDADE SOCIAL - 2000 a 2006 Valores correntes em R$ milhões RECEITA(1) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 CONTRIBUIÇÃO P/ INSS 55.715 61.060 71.028 80.730 93.765 108.434 133.015 COFINS 38.707 45.507 50.913 58.216 77.593 87.902 92.475 CPMF 14.395 17.157 20.265 22.987 26.340 29.230 32.090 CSLL 8.750 9.016 12.507 16.200 19.575 26.323 28.116 RECEITA DE CONCURSOS DE PROGNÓSTICOS 923 1.028 1.062 1.276 1.450 1.564 1.410 PIS/PASEP (2) 5.791 6.700 7.498 10.011 11.650 13.228 14.566 TOTAL DA RECEITA 124.281 140.468 163.273 189.420 230.373 266.681 301.672 DESPESA(3) ASSISTÊNCIA SOCIAL 4.442 5.298 6.513 8.416 13.863 15.806 21.551 SAÚDE 20.270 23.634 25.435 27.172 32.973 36.483 39.736 PREVIDÊNCIA (4) 67.544 77.584 89.380 109.625 125.901 144.918 156.257 ABONO E SEGURO DESEMPREGO 4.636 5.635 7.062 8.074 9.471 11.337 11.927 TOTAL DA DESPESA 96.892 112.151 128.390 153.287 182.208 208.544 229.471 RECEITA - DESPESA 27.389 28.317 34.883 36.133 48.165 58.137 72.201 RECEITA COM DRU (5) . DESPESA 13.675 12.435 16.434 14.395 20.844 26.488 38.470 25 Os constituintes de 1988 não inventaram a seguridade social no bloco dos 15 países roda. Seguiram o padrão universal clássico mais ricos da Europa são compostas, em para financiar a seguridade social baseado média, por 38,3% da contribuição dos na contribuição tripartite (empregados, empregadores, 22,4% pela contribuição empregadores e governo). Observe- dos empregados e 35,8% da contribuição se que as fontes de financiamento da do governo (impostos). Composição das Despesas - % Países Total % PIB Empregadores Empregados Impostos Outras Alemanha 36,9 28,2 32,5 2,4 100,0 29,5 Áustria 37,1 26,8 35,3 0,8 100,0 28,7 Bélgica 49,5 22,8 25,3 2,4 100,0 26,7 Dinamarca 9,1 20,3 63,9 6,7 100,0 28,8 Espanha 52,7 16,4 26,9 4,0 100,0 20,1 Finlândia 37,7 12,1 43,1 7,1 100,0 25,2 França 45,9 20,6 30,6 2,9 100,0 29,7 Grécia 38,2 22,6 29,1 10,1 100,0 26,4 Irlanda 25,0 15,1 58,3 1,6 100,0 14,1 Itália 43,2 14,9 39,8 2,1 100,0 25,2 Luxemburgo 24,6 23,8 47,1 4,5 100,0 21,0 P. Baixos 29,1 38,8 14,2 17,9 100,0 27,4 Portugal 35,9 17,6 38,7 7,8 100,0 22,7 Reino Unido 30,2 21,4 47,1 1,3 100,0 26,8 Suécia 39,7 9,4 46,7 4,2 100,0 32,3 Europa dos 15 38,3 22,4 35,8 3,5 100,0 27,3 Fonte: Eurostat
  • 27. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Desde 1934 o Brasil segue esse modelo jamais engoliram a dura derrota sofrida clássico. A Lei Orgânica da Previdência na Constituição Federal de 1988, fruto Social – LOPS (1961) e a ditadura militar do extraordinário movimento social que (1964-1985) reafirmaram esse princípio. lutava contra a ditadura militar, liderado O Orçamento da Seguridade Social (OSS) pelo saudoso Deputado Ulysses Guimarães aperfeiçoa esse modelo. Reúne um conjunto presidente do Movimento Democrático de impostos e contribuições, seguindo o Brasileiro – MDB. modelo tripartite: recursos dos empregados e empregadores (sobre a folha de salários Desde a Assembléia Nacional Constituinte para a previdência) e do governo (fiscais (ANC) o argumento de que os custos e contribuições das empresas sobre o financeiros da seguridade social são lucro, sobre o faturamento e sobre parte “insustentáveis”, “explosivos” e levarão o do Pis-Pasep dentre outras). Mais do que país à “catástrofe” fiscal são recorrentes. isso, é importante realçar que tanto a O argumento é de uma simplificação Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL), rudimentar: sempre que a contribuição como a Contribuição sobre o Faturamento dos empregados e empregadores para das Empresas (COFINS), faziam parte da a previdência social não é suficiente agenda do movimento social do início dos para bancar os gastos da seguridade e o anos 80 e foram novas receitas criadas em governo tem de contribuir com a sua parte 1988 com o fim especifico de financiar a ou utilizar recursos da CSLL e do COFINS, Seguridade Social. emerge o temível “déficit” da previdência social, um tsunami devastador que levará 26 O que motivou os constituintes a vincular constitucionalmente fontes de de roldão o ajuste fiscal, a estabilidade e os “sólidos” fundamentos da economia. financiamento para a seguridade? Foi Nesses malabarismos estatísticos contrapor-se a uma prática da ditadura cometem um pecado capital: renegam a militar, que não cumpria com a sua existência da Constituição da República parte, deixando de integralizar recursos e os fundamentos do Estado Democrático fiscais para a previdência, assistência e de Direito. saúde. E, sempre que a contribuição dos empregados e empregadores cobria essas despesas, o Tesouro capturava o excedente. A previdência financiava A Tese do País Ingovernável a política econômica e não o inverso. Observe-se que em meados de 1988, uma Como se sabe, os governos democráticos das últimas cartadas para tentar obstruir reeditaram essa prática, em grande estilo. os avanços sociais na Assembléia Nacional Portanto, quando o Tesouro Nacional Constituinte foi capitaneada pessoalmente aporta recursos fiscais ou recursos da pelo presidente da República. Num ato CSLL e do COFINS para o Regime Geral emblemático e desesperado, quando teria de Previdência Social (INSS urbano e início a votação da última fase dos trabalhos rural) e para a saúde e a assistência social da Assembléia Nacional Constituinte – (Loas), não se trata de ‘déficit’ mas, sim, de durante a qual só se admitiam emendas cumprir a parcela de responsabilidade que de caráter supressivo ou levemente cabe ao Estado, prevista na Constituição corretivo – o presidente Sarney, em uma da República. Todavia, os conservadores derradeira tentativa para modificar os
  • 28. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde rumos do processo constituinte, fez um sistema tripartite, não aportando recursos pronunciamento em cadeia nacional de previstos Orçamento da Seguridade rádio e televisão, no qual pretendia “alertar Social capturados para financiar a dívida o povo e os constituintes” para “os perigos” pública e repetindo expedientes do que algumas das decisões contidas no regime militar. Assim, só a partir de 1997 texto já aprovado representavam para é que as contas do INSS começaram a o futuro do país. A principal tese então apresentar saldos negativos. defendida pelo presidente da República era que o país tornar-se-ia “ingovernável” Outro aspecto olimpicamente desconsiderado caso se mantivesse o texto aprovado em pelos porta-vozes do contra-reformismo primeiro turno. (Sarney vai à TV criticar o neoliberal é que, dentre os principais projeto. Gazeta Mercantil. 27/7/1988). condicionantes estruturais dos desequilíbrios financeiros da previdência, estão as O discurso de Sarney teve intensa renúncias fiscais, a estagnação econômica e repercussão e provocou críticas e aplausos, a desorganização do mercado de trabalho, de progressistas e conservadores. implícitos ao modelo de estabilização Entretanto, nada se comparou à econômica adotado. Baixa atividade memorável defesa dos trabalhos da ANC econômica, desemprego, aumento feita por seu presidente, o deputado do trabalho informal, flexibilização Ulysses Guimarães, rebatendo de forma do mercado de trabalho, todos esses categórica as ameaças que Sarney processos engendrados como estratégia fizera na noite anterior. A Constituição será a “guardiã da governabilidade”, macroeconômica e de reforma do Estado, 27 de corte liberalizante, reduziram a sentenciou Ulysses. É nesse discurso e arrecadação do INSS, ancorada na massa contexto que Ulysses intitulou a Carta de salários do mercado formal. Basta isso, de 1988 como a “Constituição cidadã” (Ulysses Guimarães (Discurso). “Esta para que se conheçam as verdadeiras constituição terá cheiro de amanhã, não causas do dito ‘déficit’. de mofo”. Folha de S.Paulo, 28/7/1989). Por outro lado, a proteção social Após quase 20 anos, não se pode afirmar proporcionada pela seguridade social que a seguridade social tenha quebrado o é, hoje, um dos principais pilares da país. Ou ainda, que ela seja o principal vilão governabilidade, como profetizou o do ajuste fiscal e do desgoverno do País. saudoso deputado Ulysses Guimarães. Contrariando os que advogavam a tese de O Legado da Constituição de 1988 é que o Brasil seria “ingovernável”, até 1997 extraordinário: as contribuições dos empregadores e dos trabalhadores para a previdência foram • Entre 1990 e 2007 a mortalidade suficientes para financiar as despesas, infantil no Brasil, caiu de 47 para gerando saldos financeiros positivos. 14 (1000 crianças nascidas vivas). Nesse contexto – como se viu acontecer No Nordeste de 75 para 27. O SUS durante a ditadura –, a União eximiu- representou uma mudança no padrão se de cumprir sua responsabilidade no de saúde.
  • 29. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Mortalidade Infantil • Em termos de Seguro Desemprego nós temos hoje algo em torno de seis milhões de segurados. Não é pouca coisa. 28 Seguro-desemprego TABELA 94 BRASIL 1997- 2007 Valor emitido Taxa de dos benefícios Valor médio do ANO Requerentes Segurados habilitação (em milhões de benefício em (em %) moeda corrente) salários mínimos 1997 4.426.718 4.400.738 99,4 3.451,04 1,57 1998 4.398.302 4.357.528 99,1 4.056,87 1,56 1999 4.416.358 4.315.593 97,7 3.834,85 1,55 2000 4.260.699 4.176.004 98,0 4.053,43 1,51 2001 4.772.779 4.686.756 98,2 4.808,31 1,48 2002 4.884.001 4.803.535 98,4 5.677,88 1,42 2003 5.051.407 4.971.712 98,4 6.616,84 1,38 2004 4.892.760 4.812.008 98,4 7.020,92 1,39 2005 5.473.693 5.362.968 98,0 8.770,73 1,36 2006 5.857.041 5.749.511 98,2 10.302,10 1,31 2007 6.275.716 6.149.789 98,0 12.497,14 1,29 TOTAL 54.709.474 53.786.142 98,3 71.090,11 1,44 Fonte: MTE Coordenação Geral do Seguro Desemprego e Abono Salarial Elaboração: DIEESE Obs: Dados enviados por e-mail em 4 de julho de 2008
  • 30. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Entre 1988 e 2009, o número de benefícios o Não pode haver dúvidas acerca do Regime Geral da Previdência Social (RGPS) formidável efeito distributivo desses aumentou de 11 para 25 milhões. Em 2006, programas. Esse caráter fica ainda mais desse total de aposentadorias e pensões, evidente se também contabilizarmos os cerca de 14,3 milhões correspondem aos seus beneficiários indiretos. Segundo o trabalhadores urbanos (INPS Urbano); IBGE (Pnad, 2001), para cada beneficiário 7,3 milhões, aos trabalhadores rurais direto há 2,5 beneficiários indiretos, (Previdência Rural); e 2,9 milhões, aos membros da família. Dessa forma, o benefícios assistenciais voltados aos INPS urbano, a Previdência Rural e o BCP grupos mais vulneráveis, com destaque beneficiam, direta e indiretamente, cerca de para o programa Benefício de Prestação 86 milhões de pessoas. Continuada (BCP/LOAS). Evolução da Quantidade de Benefícios Emitidos pela Previdência Social Em milhões de benefícios - 2000 a 2009 (dezembro) 29 Fontes: Anuário Estatístico da Previdência Social - AEPS; Boletim Estatístico da Previdência Social – BEPS. Elaboração: SPS/MPS. Obs.: Os benefícios assistenciais, embora operacionalizados pelo INSS, estão sob a responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Aqui que está parte da força consumo pelo menos, como uma fonte de renda. interno – principal motor da dinâmica da Segundo dados da CEPAL, a média da economia nos últimos anos. A economia cobertura na América Latina é de 30% dos que está crescendo pelo consumo interno. idosos. Na década dos 90, a participação Isso é um aspecto importantíssimo: 69% da renda da Seguridade na composição da dos benefícios equivalem a salário mínimo. renda familiar urbana passou de 10% para 24%; e, na renda familiar rural, de 9 para A cobertura no Brasil é elevada: cerca de 26%. Sem a Seguridade 70% dos idosos 80% dos idosos no Brasil têm pelo menos a estariam abaixo da linha de pobreza (ante aposentadoria como fonte de renda. Ou seja, os 10% atuais). Sem esses progressos, hoje, 80% dos idosos no Brasil têm a Previdência, o país poderia ser “ingovernável”.
  • 31. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde 2- TENSÕES ENTRE O cenário hostil, a partir de 1990 e até nossos dias, não impediu que parcela PARADIGMAS (1990/2010): significativa das conquistas sociais de ESTADO MÍNIMO X ESTADO 1988 fosse consagrada. O legado dos DE BEM-ESTAR SOCIAL movimentos sociais foi a construção de um razoável sistema de proteção social Na trajetória da política social brasileira conquistado na contramão do pensamento nas últimas cinco décadas é possível neoliberal hegemônico em escala mundial identificar dois movimentos opostos. O e do movimento em direção ao Estado primeiro aponta o rumo da estruturação Mínimo a que foram submetidos, via das bases institucionais, financeiras e de de regra, os países subdesenvolvidos, proteção características do Estado de Bem- incluindo os da América Latina. Estar Social em nosso país. Esse processo ganhou impulso a partir de meados dos anos 70, no âmago da luta social pela O Movimento Inspirado no Estado redemocratização do Brasil. Foi conduzido pelo amplo movimento social e popular de Bem-Estar Social que se opunha ao Regime Militar. Essa A Constituição inovou em diversos longa travessia desaguou na Constituição pontos. Um dos mais expressivos foi de 1988. a Seguridade Social, integrada pelos setores Saúde, Previdência Social, O segundo aponta na direção contrária: Assistência Social e Seguro-Desemprego. tentar impedir a consumação daquelas Inspirada na experiência inglesa do 30 bases esboçadas em 1988. Após as primeiras contramarchas (nos últimos pós-Guerra, especialmente o Plano Beveridge, é baseada na solidariedade anos da transição democrática), esse social: o acesso aos bens e serviços movimento ganhou vigor, a partir de independe da capacidade de pagamento 1990. Desde então, abriu-se um novo ciclo dos indivíduos. Selou-se um pacto social de reformas liberais e conservadoras. pelo qual os impostos – que deveriam Os princípios que orientam o contra- ser pagos pelos mais ricos – financiariam reformismo neoliberal na questão social os direitos dos indivíduos com inserção eram radicalmente antagônicos aos da social mais vulnerável. Esse princípio Carta de 1988. permitiu incorporar mais de 7 milhões de Mesmo submetido a tensões entre para- aposentados rurais e mais de 3 milhões de digmas tão antagônicos, o caso brasileiro beneficiários da LOAS – Lei Orgânica de é inédito dentre os países de capitalismo Assistência à Saúde, além de assegurar o tardio. Conquistamos a cidadania social acesso universal e gratuito dos cidadãos na contramão do pensamento neoliberal, aos serviços do Sistema Único de Saúde. hegemônico no mundo desde o final dos anos Em suma, a Constituição de 1988 70. Em grande medida, isso decorreu do fato representou etapa fundamental – embora de que a agenda da redemocratização do inconclusa – da viabilização do projeto País, impulsionada pelo movimento social das reformas socialmente progressistas. a partir de meados dos anos 70, não abriu Com 40 anos de atraso, desenhou-se com brechas políticas para os experimentos a Constituição de 1988, pela primeira vez neoliberais – pelo menos até o final dos na história do Brasil, o embrião de um anos 80.
  • 32. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Estado de Bem-Estar Social, universal e reformistas conservadores, o Brasil é um equânime. Seu âmago reside nos princípios “país rico”. Recursos existem, mas são ‘mal da universalidade, da solidariedade, da distribuídos’, posto que são apropriados seguridade e da compreensão da questão pelos mais “abastados”. O seguro- social como um direito da cidadania (em desemprego, por exemplo, é tido como um contraposição à caridade, à filantropia privilégio inaceitável, apropriado pelas e ao assistencialismo). Para financiar os “elites dos trabalhadores” (aqueles que novos direitos, a Carta instituiu e vinculou possuem carteira de trabalho). A ‘solução’ constitucionalmente fontes de financiamento para “erradicar” a pobreza é simples: não reembolsáveis e vinculados aos setores destruir de vez o aparato conquistado que compõem a Seguridade Social. em 1988, que seria acessível apenas para os “privilegiados que estão no topo da pirâmide de distribuição da renda” (os que O Movimento Inspirado no Estado ganham mais de R$ 500,00) e transferir esses Mínimo recursos para os programas focalizados. O segundo movimento aponta na direção Aqui abro parênteses: Poucos sabem que, contrária: o de tentar impedir a consumação na pirâmide da distribuição da renda do daquelas bases esboçadas em 1988. Após as trabalho, elaborada pelo IBGE, os 20% mais primeiras contramarchas (nos últimos anos ricos são os indivíduos com rendimentos da transição democrática), esse movimento superiores a cerca de R$ 500,00; e os 10% ganhou vigor, a partir de 1990. Desde então, mais ricos, os que auferem renda superior abriu-se um novo ciclo de reformas liberais a R$ 800,00. Os verdadeiros ricos no Brasil e conservadoras, que no campo social, escondem suas riquezas e não aparecem nas pesquisas oficiais, como a Pnad, que capta 31 visava, em última instância, a enterrar as conquistas sociais de 1988 e a implantar o apenas a renda do Trabalho. Na última Pnad, Estado Mínimo. por exemplo,somente 14 entrevistados,numa amostra de 410.241 pessoas declararam Dessa forma, desde o final dos anos 80 e ter rendimentos mensais superiores a R$ até hoje, a política social brasileira vem 50 mil (0,005% do total) (Antônio Gois, sendo submetida a tensões entre dois Muitos ricos escondem renda em pesquisa. paradigmas antagônicos: o Estado Mínimo Folha de S.Paulo, 21/10/07). De acordo com versus o embrionário Estado de Bem-Estar Estudo da Merrill Lynch e da Capgemini “o Social; a seguridade social versus o seguro número de milionários (pessoas com mais social; universalização versus a focalização; de US$ 1 milhão) no Brasil cresceu 10% no a prestação estatal dos serviços versus ano passado em relação a 2005, passando privatização; os direitos trabalhistas versus a para 120 mil pessoas, uma aceleração mais desregulamentação e flexibilização. rápida que a média mundial, de 8,3%. (Robison Borges, O que faz os ricos, ricos. Para os defensores do Estado Mínimo1, o Caderno EU&, Valor, 23/11/07) gasto social aplicado em políticas universais é o vilão da estabilidade da moeda e das Outra impropriedade, segundo os defen- contas públicas. Além de ‘elevado’ ante sores do Estado Mínimo: o gasto social seria a experiência internacional, ele seria apropriado uma casta de ‘velhos’, ‘marajás’ apropriado pelos ‘ricos’. Aos olhos dos e ‘vagabundos’, em detrimento da educação 1 Consultar, especialmente: Henriques (org.) (2000); Paes de Barros e Fogel (2000); Ferreira e Litchfield (2000); Néri (2000 e 2004); Scheinkman e outros (2002); Giambiagi, Reis e Urani (org.) (2004); e Paes de Barros e Carvalho (2004).
  • 33. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde das crianças, tido pelos conservadores hum salário mínimo (R$ 380,00)? Não. como o único caminho possível para a Seguem os parâmetros determinados pelo distribuição da renda. Mais do que isso, a Banco Mundial. Aqui a tecnocracia arbitrou renda das famílias aposentadas induziria que a linha que divide os miseráveis dos o ócio dos jovens. Segundo Camargo e afortunados é a renda de R$ 120,00. Quando Reis (2007), por exemplo, após finalmente se diz que a pobreza no Brasil foi reduzida, reconhecerem que os rendimentos com significa que alguns indivíduos passaram aposentadorias e pensões representam a ganhar mais de R$ 120. Quem passou a uma parcela importante da renda de ganhar R$ 150, por exemplo, “deixou de muitos domicílios no Brasil, constatam que ser pobre” e teria adentrado o admirável os elevados valores desses benefícios, mundo da prosperidade. Tornou-se rico. aumentam a renda domiciliar per capita. Parcela da pobreza no país foi “erradicada”. Todavia, esse fato extremante positivo Um único exemplo: somente com passagens tem seu lado perverso: podem influenciar de transporte público, um trabalhador gasta as decisões dos jovens moradores dos mais de R$ 200 por dia em metrópoles como domicílios quanto a trabalhar e estudar. De São Paulo. acordo com os autores, o aumento na renda Logo, para os defensores do Estado Mínimo, domiciliar proveniente de aposentadorias qualquer programa social que tenha e pensões reduz a taxa de participação dos impactos sobre a população que ganhe jovens na força de trabalho. Os resultados mais de R$ 120 (o seguro-desemprego também indicam que essa redução na ou a previdência social, por exemplo) é participação está associada a um aumento na considerado não “focalizado”, benéfico 32 proporção de jovens estudando. Entretanto, as evidências também indicam que aos “ricos” e “perpetuador da armadilha da desigualdade”. Devem ser, portanto, rendimentos com aposentadorias e pensões aniquilados, e seus recursos transferidos aumentam a probabilidade de que os jovens não estejam estudando nem participando do para os programas de transferência de mercado de trabalho (grifos meus). renda voltados aos “mais pobres”, aqueles que recebem menos de R$ 120 por mês. Com a destruição das políticas universais que beneficiariam os ricos, seria possível O Fundamentalismo de uma “erradicar” a pobreza. Teríamos, assim, uma Nota Só massa de afortunados que receberiam, por Assim, para “erradicar a pobreza”, os exemplo, R$ 200 mensais. fundamentalistas de uma nota só defendem Os pesquisadores desse matiz uma única estratégia: programas focalizados desconsideram o crescimento econômico e de transferência de renda. Elegem um único os seus impactos sobre o emprego e a renda. público-alvo: as famílias que estão “abaixo Desqualificam a importância da reposição da linha de pobreza”. do valor real do salário mínimo. Descartam Como definir quem está abaixo da linha a necessidade de políticas sociais que de pobreza? Seriam aqueles que ganham assegurem direitos universais. Em suma, o menos que o salário mínimo necessário de fundamentalismo de uma nota só defende R$ 1.780,00 calculados pelo Dieese? Seriam que apenas com políticas “cientificamente aqueles que recebem menos da metade da focadas” será possível pôr “fim à exclusão renda média do país, como faz a OCDE? social” e “erradicar” a pobreza. Seriam aqueles que recebem menos de
  • 34. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde Em tempos de ressurgimento da filantropia, auto-intitulados “economistas da pobreza”. do Terceiro Setor e da Responsabilidade Lamentavelmente, essa perspectiva Social, a sofisticação técnica, a competência equi-vocada tem sido preconizada por em convencer o senso comum com o instituições internacionais de fomento irresistível apelo de que estão fazendo uma (Banco Mundial, 2001, por exemplo) e opção preferencial pelos pobres camufla defendida por inúmeros especialistas, algo que não é perceptível para os incautos: alguns já mencionados. E, não se pode trata-se, ao contrário, de competente e acusar o atual Governo Brasileiro de estar sedutora versão adaptada aos trópicos da cometendo esse equívoco. agenda em favor do Estado Mínimo pela via da destruição do embrião do Estado de Bem- Estar Social. Não são defensores dos pobres, Retrocesso nos Direitos como se autodenominam. São instrumentos de um modelo macroeconômico excludente Previdenciários que busca, em última instância, o ajuste É neste contexto de fortalecimento do fiscal pela subtração de gastos sociais pensamento neoliberal no Brasil, que foi universais, tidos como “perpetuadores de realizada a reforma da Previdência em 1998. privilégios” e principais responsáveis pela A Emenda Constitucional n.20 enterrou contínua “explosão” dos gastos correntes e parcialmente o legado da Constituição de da projetada “catástrofe” fiscal. 1988.Dentre o conjunto de medidas adotadas destacam-se: substituiu-se a comprovação Políticas de transferência de renda são do “tempo de serviço” pelo “tempo de mais baratas que políticas universais que contribuição”; eliminou-se a aposentadoria asseguram padrões mínimos e dignos de cidadania. Observe-se que o gasto anual proporcional; desvincularam-se o benefício 33 previdenciário e o salário mínimo, para os com o Programa Bolsa Família é de cerca benefícios acima do piso; e rebaixou-se de R$ 10 bilhões, enquanto os gastos o teto nominal dos benefícios. Por razões previdenciários (INSS e Previdência Rural) de espaço, comentamos aqui apenas as atingem mais de R$ 160 bilhões. Esta é mudanças introduzidas na idade mínima e verdadeira razão que move a suposta opção no tempo de contribuição. preferencial pelos mais pobres, que há mais de duas décadas tem sido defendida Para os contra-reformistas, uma das com tenacidade pelo Banco Mundial, FMI, distorções do Regime Geral da Previdência demais instituições que pregam a cartilha Social (RGPS) era a aposentadoria em idade neoliberal seguida à risca pela ortodoxia considerada precoce. Essa crítica estava econômica brasileira. Dirigem-se ao senso parcialmente correta. De fato, não houve comum e sua maior competência é passar consenso na ANC para introduzir o limite para a opinião pública e para a mídia os de idade (55 anos para aposentadoria). Sem seus propósitos visando à “justiça social”. a fixação da idade mínima, prevaleceu a aposentadoria “por tempo de serviço” aos Entendo que uma efetiva estratégia de 35 anos para o homem e aos 30 anos para a combate à pobreza no Brasil não pode mulher. prescindir de programas emergenciais focados naqueles que estão à margem do Todavia, para corrigir esta distorção, a EC n. trabalho e submetidos à miséria extrema. 20/98 proposta pelo Executivo preconizava O equívoco é pretender fazer desse eixo regras draconianas de acesso: acumulavam a própria ‘estratégia’ de enfrentamento idade mínima (65 anos para homens e do problema social, como preconizam os de 60 anos para mulheres) mais tempo
  • 35. Seguridade Social, Desenvolvimento e Saúde de contribuição (35 anos para homens e caso, até que os contribuintes atinjam 65/60 30 anos para mulheres). Felizmente, não anos, passou a incidir o chamado “fator houve consenso em torno desse ponto previdenciário” (criado em 1999) que no Congresso Nacional. Com o texto final suprime parcela do valor do benefício e aprovado, a partir de 1998 passaram a existir posterga o início da aposentadoria. duas alternativas para a aposentadoria: Assim, tanto a idade mínima (65 e 60 • a aposentadoria “por idade” – 65 anos anos) quanto o tempo de contribuição para homens e 60 anos para mulher, além (35 e 30 anos) são elevados em relação da exigência de contribuição mínima por aos padrões estabelecidos em países 15 anos; e desenvolvidos. A vigência dessas regras mostra-se paradoxal, se consideramos • a aposentadoria “por tempo de que não há como demarcar qualquer contribuição” – 35/30 anos e idade mínima equivalência entre esses países e o nosso de 53/48 anos. Nesse caso, até que os contexto socioeconômico e demográfico contribuintes atinjam 65/60 anos, passou a de capitalismo tardio. A implicação desse incidir o chamado “fator previdenciário”, quadro é óbvia para a proteção social: a criado posteriormente (1999), que maior parte dos trabalhadores brasileiros suprime parcela expressiva do valor do dificilmente terá condições de comprovar benefício, incentivando a postergação da tempo de contribuição para o sistema de aposentadoria. previdência. No caso da “aposentadoria por idade”, conseguiu-se transpor para este nosso 34 país de miseráveis padrões semelhantes ou superiores aos existentes em países 3- DESAFIOS PARA A PRÓXIMA desenvolvidos. A idade mínima de 65 anos DÉCADA 2010/2019 não era adotada sequer em países como a Vivemos um momento ímpar para consolidar Bélgica, Alemanha, Canadá, Espanha, França as conquistas sociais da Constituição de 1988. e Portugal (60 anos) e os EUA (62 anos), por No campo político e ideológico emergiu exemplo; e equivale ao parâmetro seguido um cenário favorável para a ampliação do na Suécia, Alemanha, Finlândia e Áustria (65 papel do Estado na economia e na regulação anos), por exemplo. A própria Organização dos mercados. O colapso financeiro Mundial de Saúde (OMS) faz uma distinção, internacional (2008) interrompeu um longo ao definir a população idosa, entre países ciclo de hegemonia do neoliberalismo desenvolvidos (acima de 65 anos) e países em escala global. Muitos dos dogmas do em desenvolvimento (acima de 60 anos) “pensamento único” caíram por terra. (FIBGE, 2002:9). Instituições como BIRD e FMI reconhecem No caso da “aposentadoria por tempo o fracasso das políticas inspiradas pelo de contribuição”, passou-se a exigir a Consenso de Washington. Este cenário comprovação de 35 anos para os homens e abre uma oportunidade histórica de 30 anos para as mulheres. Esse patamar para a ampliação do papel do Estado na é superior ao estabelecido, por exemplo, consolidação do sistema de proteção social na Suécia (30 anos) e a Finlândia (30 a 39); consagrado pela Constituição de 1988. e se aproxima do nível vigente em outros: Uma agenda neste sentido foi construída por EUA (35 anos), Portugal (36), Alemanha (35 um conjunto de especialistas e entidades a 40) e França (37,5), dentre vários. Nesse do movimento social que emergiram do