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Paramahansa
YOGANANDA
AUTOBIOGRAFIA
DE UM IOGUE
UNIVERSALISMO
O Legado Espiritual de
Paramahansa Yogananda
Todos os seus escritos, conferências e palestras informais
Paramahansa Yogananda fundou a Self-Realization Fellowship em 1920, para
disseminar seus ensinamentos em escala mundial e preservar-lhes a pureza e a
integridade para futuras gerações. Conferencista e escritor prolífico, desde seus
primeiros anos nos Estados Unidos ele produziu um compêndio reputado e
volumoso sobre a ciência da meditação iogue, a arte da vida equilibrada e a
unidade fundamental de todas as grandes religiões. Hoje, esse legado espiritual,
único e extenso, mantém-se vivo, inspirando milhões de buscadores da verdade
no mundo inteiro.
De acordo com os desejos expressos do grande mestre, a Self-Realization
Fellowship tem dado prosseguimento à permanente tarefa de divulgar e manter
sempre publicadas “As Obras Completas de Paramahansa Yogananda”, que
incluem não apenas as edições finais de todos os livros que ele publicou em
vida, mas também muitos novos títulos que permaneciam inéditos na época de
seu falecimento, em 1952, ou que durante anos foram publicados em série, mas
de forma incompleta, na revista da Self-Realization Fellowship, e ainda centenas
de conferências e palestras informais profundamente inspiradoras, que foram
gravadas, mas não impressas, antes de sua morte.
Paramahansa Yogananda pessoalmente escolheu e instruiu seus discípulos
imediatos que dirigem o Conselho de Publicações da Self-Realization Fellowship
e lhes deu diretrizes específicas para a preparação e publicação de seus
ensinamentos. Os membros do Conselho de Publicações da SRF (monges e
monjas que fizeram votos vitalícios de renúncia e serviço altruísta) zelam por
essas diretrizes como um patrimônio sagrado, a fim de que a mensagem
universal desse bem-amado instrutor de todo o mundo se mantenha viva com a
força e a autenticidade originais.
O emblema da Self-Realization Fellowship (mostrado na página anterior) foi
criado por Paramahansa Yogananda para identificar a sociedade sem fins
lucrativos que ele fundou como a fonte autorizada de seus ensinamentos. O
nome e o emblema da SRF aparecem em todas as publicações e gravações da
Self-Realization Fellowship, garantindo ao leitor que o trabalho vem da
organização fundada por Paramahansa Yogananda e transmite seus
ensinamentos do modo como ele próprio idealizou.
SELF-REALIZATION FELLOWSHIP
Dedicada à memória de
LUTHER BURBANK
“Um santo americano”
Sou profundamente reconhecido à Srta. L.V. Pratt [Tara Mata] por seu longo
trabalho editorial no manuscrito deste livro. Devo meus agradecimentos também
ao Sr. C. Richard Wright pela permissão de usar trechos de seu diário de viagem
pela Índia. Ao Dr. W.Y. Evans-Wentz sou grato não apenas por seu Prefácio,
mas também por sugestões e incentivo.
PARAMAHANSA YOGANANDA
28 de outubro de 1945
Sumário
Prefácio por W.Y. Evans-Wentz
Introdução
1 — Meus Pais e Minha Infância
2 — A Morte de Minha Mãe e o Amuleto Místico
3 — O Santo de Dois Corpos
4 — Minha Fuga Interrompida Rumo ao Himalaia
5 — Um “Santo dos Perfumes” Exibe Seus Prodígios
6 — O Swami Tigre
7 — O Santo Que Levita
8 — Jagadis Chandra Bose, Grande Cientista da Índia
9 — O Devoto Bem-aventurado e Seu Romance Cósmico
10 — Encontro Meu Mestre, Sri Yukteswar
11 — Dois Jovens Sem Dinheiro em Brindaban
12 — Anos no Eremitério de Meu Mestre
13 — O Santo Que Não Dorme
14 — Uma Experiência em Consciência Cósmica
15 — O Roubo da Couve-Flor
16 — Mais Esperto Que os Astros
17 — Sasi e as Três Safiras
18 — Um Muçulmano Autor de Prodígios
19 — Meu Mestre, em Calcutá, Aparece em Serampore
20 — Não Visitamos a Caxemira
21 — Visitamos a Caxemira
22 — O Coração de uma Imagem de Pedra
23 — Recebo o Diploma Universitário
24 — Eu Me Torno Monge da Ordem dos Swamis
25 — Meu Irmão Ananta e Minha Irmã Nalini
26 — A Ciência da Kriya Yoga
27 — Fundação de uma Escola de Yoga em Ranchi
28 — Renascimento e Descoberta de Kashi
29 — Rabindranath Tagore e Eu Comparamos Sistemas de Educação
30 — A Lei dos Milagres
31 — Uma Entrevista com a Mãe Sagrada
32 — Rama é Ressuscitado
33 — Babaji, o Cristo-Iogue da Índia Moderna
34 — Materialização de um Palácio no Himalaia
35 — A Vida Crística de Lahiri Mahasaya
36 — Interesse de Babaji pelo Ocidente
37 — Vou à América
38 — Luther Burbank — um Santo entre as Rosas
39 — Teresa Neumann, a Estigmatizada Católica
40 — Volto para a Índia
41 — Idílio na Índia Meridional
42 — Últimos Dias com Meu Guru
43 — A Ressurreição de Sri Yukteswar
44 — Com Mahatma Gandhi em Wardha
45 — A “Mãe Impregnada de Alegria” de Bengala
46 — A Mulher Iogue Que Nunca Se Alimenta
47 — Volto para o Ocidente
48 — Em Encinitas, na Califórnia
49 — O Período de 1940 a 1951
Paramahansa Yogananda: um iogue na vida e na morte
Selo comemorativo emitido pelo governo indiano em honra de
Paramahansa Yogananda
A Linhagem de Gurus
Objetivos e Ideais da Self-Realization Fellowship
Índice Remissivo
Prefácio
W.Y. Evans-Wentz, M.A., D. Litt., D.Sc.
Jesus College, Oxford, Inglaterra
Autor e tradutor de muitos clássicos sobre yoga e
sobre a tradicional sabedoria do Oriente, incluindo:
A ioga tibetana e as doutrinas secretas,
Milarepa: história de um iogue tibetano,
O livro tibetano dos mortos.
O valor da Autobiografia de Yogananda é acentuado pelo fato de ser um dos
poucos livros em inglês sobre os sábios da Índia escrito não por um jornalista ou
um estrangeiro, mas por alguém de sua própria categoria e treinamento. Em
resumo: um livro sobre iogues escrito por um iogue. Como relato de uma
testemunha ocular das extraordinárias vidas e poderes dos santos hindus
modernos, o livro tem ao mesmo tempo valor oportuno e intemporal. A seu ilustre
autor, a quem tive o prazer de conhecer tanto na Índia quanto na América, podem
os leitores render o merecido apreço e gratidão. Seu invulgar documento
biográfico é certamente uma das maiores revelações até hoje publicadas no
Ocidente sobre as profundezas da mente e do coração hindus e sobre a riqueza
espiritual da Índia.
Tive o privilégio de encontrar um dos sábios cuja vida é aqui narrada: Sri
Yukteswar Giri. Um retrato do venerável santo apareceu no frontispício de meu
livro A ioga tibetana e as doutrinas secretas. 1 Foi em Puri, Orissa, Golfo de
Bengala, que conheci Sri Yukteswar. Ele dirigia, então, um tranquilo ashrama à
beira-mar, ocupando-se principalmente do treinamento espiritual de um grupo de
jovens discípulos. Expressou-me seu vivo interesse pelo bem-estar do povo dos
Estados Unidos e das três Américas, assim como da Inglaterra, e perguntou-me
sobre as atividades distantes, em especial na Califórnia, de Paramahansa
Yogananda, seu principal discípulo, a quem muito amava e a quem tinha enviado
como emissário ao Ocidente em 1920.
1. Editora Pensamento.
Sri Yukteswar era de semblante e voz suaves, de presença agradável e digno
da veneração que seus discípulos espontaneamente lhe tributavam. Quantos o
conheceram, fossem ou não de sua comunidade, o tinham na mais alta estima.
Recordo vividamente sua figura alta, ereta, ascética, envolta no hábito cor de
açafrão dos que renunciaram às conquistas mundanas, de pé, à entrada do
eremitério, para me receber. Seu cabelo era longo e ligeiramente ondulado, e a
barba lhe emoldurava o rosto. O corpo, de musculatura firme, era delgado e de
proporções harmoniosas; tinha enérgico o passo. Escolhera como residência
terrena a cidade santa de Puri, onde multidões de piedosos hindus,
representantes de todas as províncias da Índia vinham diariamente em
peregrinação ao famoso templo de Jagannath, “Senhor do Mundo”. Foi em Puri,
em 1936, que Sri Yukteswar fechou seus olhos mortais às cenas deste transitório
estado do ser, com a consciência de que sua encarnação na Terra tinha sido
levada a triunfal término.
Registro, com verdadeira satisfação, este testemunho do nobre caráter e
santidade de Sri Yukteswar. Contente de permanecer longe da multidão, ele
entregou-se sem reservas e com tranquilidade à vida ideal que seu discípulo,
Paramahansa Yogananda, descreve agora para as eras vindouras.
Introdução
“A experiência do encontro com Paramahansa Yogananda está gravada em
minha memória como um dos acontecimentos inesquecíveis de minha vida.
(...) Quando olhei para seu rosto, meus olhos foram quase cegados por um
esplendor — uma luz de espiritualidade que, literalmente, dele se irradiava.
Sua infinita suavidade e sua encantadora gentileza envolveram-me como um
cálido raio de sol. (...) Pude ver que sua compreensão e sua percepção
interior iam até o mais mundano dos problemas, apesar de ele ser um homem
do Espírito. Nele encontrei um verdadeiro embaixador da Índia, sendo
portador e divulgador da essência da antiga sabedoria indiana no mundo.”
Dr. Binay R. Sen,
ex-embaixador da Índia nos Estados Unidos
Para todos os que conheceram Paramahansa Yogananda pessoalmente, sua
vida e seu próprio ser eram um testemunho convincente do poder e da
autenticidade da antiga sabedoria que ele apresentou ao mundo. Os inúmeros
leitores de sua autobiografia atestam a presença, nas páginas do livro, da
mesma luz de autoridade espiritual que irradiava de sua pessoa. Aclamado como
obra-prima quando de seu lançamento há 60 anos, o livro não narra apenas a
história de uma vida de inconfundível grandeza. É também uma fascinante
introdução ao pensamento espiritual do Oriente — em especial da ciência
invulgar da comunhão direta e pessoal com Deus — revelando ao público
ocidental uma esfera de conhecimento até então acessível apenas a poucas
pessoas.
Hoje, a Autobiografia de um Iogue é reconhecida no mundo todo como um
clássico da literatura espiritual. Nesta introdução gostaríamos de compartilhar
um pouco da extraordinária história deste livro.
* * *
A materialização desta obra já havia sido profetizada há muito tempo. Lahiri
Mahasaya, uma dentre as personalidades cruciais para o renascimento da yoga
na época moderna, previu: “Aproximadamente cinquenta anos após a minha
morte, um relato da minha vida será escrito em virtude do profundo interesse
pela yoga que surgirá no Ocidente. A mensagem da yoga rodeará o globo.
Ajudará a estabelecer a fraternidade entre os homens: uma unidade baseada na
percepção direta do Pai Único.”
Muitos anos mais tarde, Swami Sri Yukteswar, eminente discípulo de Lahiri
Mahasaya, relatou esta profecia a Sri Yogananda. “Você precisa fazer a sua
parte na divulgação dessa mensagem e no relato escrito dessa vida sagrada”,
declarou.
Foi em 1945, exatamente 50 anos após Lahiri Mahasaya ter abandonado seu
corpo, que Paramahansa Yogananda terminou a Autobiografia de um Iogue,
atendendo plenamente ambas as instruções de seu guru: fornecer a primeira
apresentação detalhada, em inglês, da notável vida de Lahiri Mahasaya e
introduzir a milenar ciência indiana da alma ao público mundial.
* * *
A criação da Autobiografia de um Iogue foi um projeto no qual Paramahansa
Yogananda trabalhou por um período de vários anos. Sri Daya Mata, uma de
suas primeiras e mais próximas discípulas, 1 relembra:
1. Sri Daya Mata (1914-2010) entrou para a comunidade monástica estabelecida por
Paramahansa Yogananda em Mount Washington, com vista para a cidade de Los Angeles, em
1931. Ela ocupou o cargo de presidente da Self-Realization Fellowship/Yogoda Satsanga Society
desde 1955 até seu falecimento, em 30 de novembro de 2010.
“Quando vim para Mount Washington em 1931, Paramahansaji já tinha
começado seu trabalho na Autobiografia. Uma vez, enquanto eu realizava
algumas tarefas de escritório em seu estúdio, tive o privilégio de ver um dos
primeiros capítulos que ele escreveu: o do ‘Swami Tigre’. Ele me pediu que o
guardasse, explicando que faria parte de um livro que estava preparando. A
maior parte do livro foi escrita mais tarde, entre 1937 e 1945.”
De junho de 1935 a outubro de 1936, Sri Yogananda viajou pela Índia (passando
pela Europa e pela Palestina) para estar com seu guru, Swami Sri Yukteswar,
pela última vez. Enquanto na Índia, compilou muitos dados e fatos para a
Autobiografia, bem como histórias sobre alguns dos santos e sábios que
conhecera, cujas vidas ele descreveria de modo tão memorável no livro. “Nunca
me esqueci do pedido de Sri Yukteswar para que eu escrevesse sobre a vida de
Lahiri Mahasaya”, relatou posteriormente. “Durante minha permanência na Índia,
aproveitei todas as oportunidades para entrar em contato com discípulos diretos
e parentes do Yogavatar. Registrando suas declarações em volumosas
anotações, eu verificava datas e fatos, reunia fotografias, cartas e documentos
antigos.”
Ao voltar aos Estados Unidos em fins de 1936, Sri Yogananda começou a passar
a maior parte de seu tempo no eremitério que havia sido construído para ele em
sua ausência, localizado em Encinitas, ao sul da costa californiana. Aquele lugar
demonstrou ser ideal para a concentração necessária ao término do livro que
havia sido iniciado alguns anos antes.
“Ainda lembro vividamente os dias passados naquele pacífico eremitério à beira
do mar”, relembra Daya Mata. “Yoganandaji tinha tantas outras
responsabilidades e compromissos que não podia trabalhar diariamente na
Autobiografia; mas geralmente dedicava as noites ao trabalho no livro, bem como
qualquer momento livre de que dispusesse. Só no início de 1939 ou de 1940 é
que conseguiu devotar tempo total ao livro. E era realmente tempo total —
começava de madrugada e terminava de madrugada! Um pequeno grupo de
discípulas — Tara Mata; minha irmã, Ananda Mata; Sraddha Mata e eu —
estávamos presentes para ajudá-lo. Depois que cada parte era datilografada, ele
a entregava a Tara Mata, que desempenhava a tarefa de revisora.
“Que preciosas lembranças! Conforme escreveu, ele revivia interiormente as
sagradas experiências que registrava. Seu propósito divino era compartilhar a
alegria e as revelações encontradas na companhia de santos e de grandes
mestres e na própria percepção pessoal de Deus. Com frequência fazia uma
pausa, com o olhar voltado para cima e o corpo imóvel, arrebatado no estado de
profunda comunhão com Deus denominado samadhi. O aposento inteiro enchia-
se com uma aura de amor divino realmente poderosa. Para nós, discípulos, o
simples fato de estarmos presentes nessas horas significava a elevação a um
estado superior de consciência.
“Finalmente, em 1945 chegou o jubiloso dia do término do livro. Paramahansaji
escreveu as palavras finais: ‘Senhor, Tu deste a este monge uma grande
família!’; então ele pousou a caneta na mesa e exclamou alegremente: ‘Tudo
pronto; terminei. Este livro mudará a vida de milhões de pessoas. Será meu
mensageiro quando eu não estiver mais aqui.’”
* * *
Tara Mata ficou então com a responsabilidade de encontrar uma casa editora.
Paramahansa Yogananda conhecera Tara Mata em 1924, ao fazer uma série de
palestras e aulas em San Francisco. Dona de rara percepção espiritual interna,
ela tornou-se parte do pequeno círculo de discípulos mais avançados. Suas
habilidades de compilação e redação eram tidas no mais alto apreço por
Paramahansaji, que costumava dizer que ela possuía uma das mentes mais
brilhantes que ele conhecia. Ele apreciava o vasto conhecimento dela e sua
compreensão da sabedoria das escrituras indianas, observando em certa
ocasião: “Com exceção de Sri Yukteswarji, meu grande guru, não há outra
pessoa com quem mais apreciei conversar sobre filosofia indiana.”
Tara Mata levou o manuscrito para Nova Iorque; mas encontrar uma editora não
foi tarefa fácil. Como ocorre com frequência, a verdadeira envergadura de uma
grande obra nem sempre é reconhecida pelas pessoas convencionais. Em razão
do despertar da era atômica, havia uma ampliação da consciência coletiva
humana, com a compreensão crescente da sutil unidade da matéria, energia e
pensamento. Apesar disso, os editores daquela época não estavam preparados
para capítulos como “Materialização de um palácio no Himalaia” e “O santo de
dois corpos”!
Durante um ano, Tara Mata viveu num pequeno apartamento parcamente
mobiliado, sem calefação ou água quente, enquanto percorria as casas editoras.
Finalmente, um dia pôde enviar um telegrama com boas notícias. A Philosophical
Library, respeitada editora nova-iorquina, tinha aceitado publicar a Autobiografia.
“É impossível tentar descrever o que Tara Mata fez pelo livro. Se não fosse por
ela, o livro nunca teria ido adiante”, disse Sri Yogananda.
Um pouco antes do Natal de 1946, os tão esperados livros chegaram a Mount
Washington.
* * *
A obra foi saudada pelos leitores e pela imprensa mundial com uma torrente de
elogios. “Jamais houve, em inglês ou qualquer outra língua europeia, algo como
esta apresentação da yoga”, escreveu a Columbia University Press em sua
publicação Review of Religions. O The New York Times proclamou: “Um raro
relato.” A revista Newsweek registrou: “O livro de Yogananda é mais uma
autobiografia da alma do que do corpo (...) É um estudo fascinante, comentado
com clareza, de um modo de vida religioso, engenhosamente descrito no
exuberante estilo oriental.”
Seguem-se alguns trechos de vários outros comentários:
San Francisco Chronicle: “Em estilo muito legível (...) Yogananda apresenta
um caso convincente a favor da yoga, e os que ‘vieram para zombar’ talvez
‘fiquem para orar’.”
United Press: “Yogananda faz uma exposição do que é conhecido como
doutrinas esotéricas orientais com o máximo de franqueza e bom humor. Seu
livro nos recompensa com o relato de uma vida plena de aventuras
espirituais.”
The Times of India: “A autobiografia deste sábio é uma leitura cativante.”
Saturday Review: “(...) não deixará de impressionar e interessar o leitor
ocidental.”
Grandy’s Syndicated Book Reviews: “Envolvente, inspirador; uma
‘literaridade’!”
West Coast Review of Books: “Sejam quais forem suas crenças religiosas,
você encontrará na Autobiografia de um Iogue uma jubilosa afirmação do
poder da alma humana.
News-Sentinel, Fort Wayne, Indiana: “Revelação pura (...) relato
intensamente humano (...) deve ajudar a raça humana a compreender-se
melhor (...) uma autobiografia no melhor sentido (...) arrebatadora (...)
contada com deliciosa sagacidade e com irresistível sinceridade (...) tão
fascinante quanto qualquer romance.”
Sheffield Telegraph, Inglaterra: “(...) uma obra monumental.”
Com a tradução do livro em várias línguas, mais comentários surgiram em jornais
e periódicos do mundo todo.
Il Tempo del Lunedì, Roma: “Páginas que encantarão o leitor, porque apelam
às aspirações e anseios latentes no coração de todos os homens.”
China Weekly Review, Xangai: “O conteúdo do livro é incomum (...)
especialmente para o cristão contemporâneo, que tem o cômodo hábito de
relegar milagres aos séculos passados. (...) As passagens filosóficas são
extremamente interessantes. Yogananda situa-se num plano espiritual que
está acima das diferenças religiosas. (...) O livro vale muito ser lido.”
Haagsche Post, Holanda: “(...) fragmentos de uma sabedoria tão profunda
que ficamos fascinados, permanentemente comovidos.”
Welt und Wort, publicação literária mensal da Alemanha: “Extremamente
impressionante. (...) O singular valor da Autobiografia de um Iogue é que
aqui, pela primeira vez, um iogue rompe o silêncio e conta suas experiências
espirituais. Anteriormente, um relato deste tipo seria visto com ceticismo. Mas
a situação atual do mundo é tal que somos obrigados a reconhecer o valor
do livro. (...) O objetivo global do autor não é apresentar a yoga indiana em
oposição aos ensinamentos cristãos, e sim aliado a eles — como
companheiros caminhando juntos em direção ao mesmo objetivo grandioso.”
Eleftheria, Grécia: “É um livro com o qual o leitor (...) verá seu horizonte de
pensamentos expandido ao infinito e perceberá que seu coração é capaz de
bater por todos os seres humanos, independentemente de cor ou raça. É o
que se pode chamar de livro inspirado.”
Neue Telta Zeitung, Áustria: “Uma das mensagens mais profundas e mais
importantes deste século.”
La Paz, Bolívia: “Dificilmente o leitor atual encontrará um livro tão belo,
profundo e verdadeiro como a Autobiografia de um Iogue. (...) Pleno de
conhecimento e rico em experiências pessoais. (...) Um dos capítulos mais
deslumbrantes do livro é o que trata dos mistérios da vida além da morte
física.”
Schleswig-HoIsteinische Tagespost, Alemanha: “Com incomparável força e
clareza, as páginas revelam uma vida fascinante, uma personalidade de tal
grandeza inaudita, que o leitor fica mesmerizado do início ao fim. (...) É
preciso creditar a essa importante biografia o poder de deflagrar uma
revolução espiritual.”
Uma segunda edição foi rapidamente preparada, e em 1951 uma terceira. Além
de revisar e atualizar partes do texto, bem como eliminar passagens que
descreviam atividades e planos da organização que já não se aplicavam,
Paramahansa Yogananda acrescentou um último capítulo — um dos mais
longos do livro — abrangendo o período 1940-1951. Numa nota de rodapé no
novo capítulo, escreveu: “Muito material novo do capítulo 49 foi acrescentado na
terceira edição do livro (1951). Respondo, neste capítulo, a várias perguntas
sobre a Índia, a yoga e a filosofia védica.” 2
2. Outras revisões feitas por Paramahansa Yogananda foram incluídas na sétima edição (1956),
conforme descrição na nota da editora daquele ano:
“A edição americana de 1956 contém revisões feitas por Paramahansa Yogananda em 1949
para a publicação de seu livro em Londres, Inglaterra, além de revisões feitas pelo autor em
1951. Em ‘Nota da edição londrina’, datada de 25 de outubro de 1949, Paramahansa Yogananda
escreveu: ‘Os ajustes para a edição londrina do livro deram-me a oportunidade de revisar e
aumentar um pouco o texto. Além do novo material no último capítulo, acrescentei várias notas
de rodapé, nas quais respondo a perguntas feitas pelos leitores da edição americana.’
“Revisões posteriores, feitas pelo autor em 1951, deveriam aparecer na quarta edição americana
(1952). Naquela época, os direitos da Autobiografia de um Iogue pertenciam a uma casa editora
de Nova Iorque. Em 1946, a editora tinha gravado todas as páginas do livro em eletrótipos. Em
consequência deste processo, até o acréscimo de uma vírgula exige que a chapa de metal da
página inteira seja cortada e ressoldada com a nova frase contendo a vírgula em questão. Devido
aos custos envolvidos no processo de ressoldagem das chapas, a editora não incluiu na quarta
edição as revisões feitas pelo autor em 1951.
No final de 1953, a Self-Realization Fellowship (SRF) adquiriu da editora nova-iorquina todos os
direitos da Autobiografia de um Iogue. A SRF reimprimiu o livro em 1954 e 1955 (quinta e sexta
edições), mas durante esses anos outros compromissos impediram que o departamento de
publicações da SRF assumisse a formidável tarefa de incorporar as revisões do autor aos clichês.
Entretanto, o trabalho foi feito em tempo de ser incluído na sétima edição.”
Depois de 1956 algumas outras revisões foram feitas de acordo com orientações que
Paramahansa Yogananda tinha dado a Tara Mata antes de abandonar o corpo.
As primeiras edições da Autobiografia de um Iogue apresentam o título do autor como
“Paramhansa”, refletindo a habitual prática bengali de omitir da ortografia o a mudo ou semimudo.
Para garantir que o significado sagrado do título baseado nos Vedas fosse transmitido, em
edições posteriores usou-se a transliteração padrão do sânscrito: “Paramahansa”, de parama,
“mais elevado ou supremo” e hansa, “cisne” — significando o ser que atingiu a mais elevada
percepção do seu verdadeiro Eu, e da união deste Eu com o Espírito.
* * *
Sri Yogananda escreveu na Nota do Autor da edição de 1951: “Fiquei
profundamente comovido ao receber cartas de milhares de leitores. Seus
comentários e o fato de que o livro foi traduzido em muitas línguas dão-me
incentivo para acreditar que o Ocidente encontrou nestas páginas uma resposta
afirmativa à pergunta: ‘Pode a ciência da yoga ter lugar e valor significativo na
vida do homem moderno?’”
Com o passar dos anos, os “milhares de leitores” tornaram-se milhões, e o apelo
universal e duradouro da Autobiografia de um Iogue tornou-se cada vez mais
evidente. Sessenta anos após a primeira publicação do livro, ele ainda surge nas
listas dos bestsellers metafísicos e inspiradores. Um raro fenômeno! Disponível
em diversos idiomas, atualmente é usado em faculdades e universidades de todo
o mundo, em cursos das mais diferentes matérias: filosofia e religião orientais,
literatura inglesa, psicologia, sociologia, antropologia, história e até mesmo
administração de empresas. Como Lahiri Mahasaya previu há mais de cem anos,
a mensagem da yoga e sua antiga tradição de meditação realmente abraçaram
o globo.
Na edição de outubro de 1986, o periódico metafísico New Frontier escreveu:
“Talvez mais conhecido pela Autobiografia de um Iogue, que inspirou incontáveis
milhões em todo o mundo, Paramahansa Yogananda, como Gandhi, trouxe a
espiritualidade à corrente principal da sociedade. É razoável afirmar que
Yogananda fez mais para colocar a palavra ‘yoga’ em nosso vocabulário do que
qualquer outra pessoa.”
O respeitado acadêmico Dr. David Frawley, diretor do American Institute of Vedic
Sciences, declarou no periódico bimestral Yoga Journal de outubro/novembro de
1996: “Pode-se dizer que Yogananda é o pai da yoga no Ocidente — não a mera
yoga física que se tornou popular, mas a yoga espiritual, a ciência de
Autorrealização, que é o verdadeiro sentido da yoga.”
O professor Ashutosh Das, Ph.D, D. Litt., da Universidade de Calcutá, declara:
“A Autobiografia de um Iogue é considerada como um Upanishad da nova era.
(...) Tem aplacado a sede espiritual de centenas de milhares de buscadores da
verdade em todo o mundo. Na Índia, observamos fascinados e maravilhados a
fenomenal difusão da popularidade deste livro sobre filosofia e santos indianos.
Sentimos grande satisfação e grande orgulho no fato de o néctar imortal do
Sanatana Dharma da Índia, as eternas leis da verdade, ter sido preservado no
cálice de ouro da Autobiografia de um Iogue.”
Aparentemente, até na ex-União Soviética o livro causou profunda impressão no
número relativamente reduzido de pessoas que tiveram acesso a ele durante o
regime comunista. O juiz V. R. Krishna Iyer, ex-magistrado do Supremo Tribunal
indiano, conta da visita que fez a uma cidade próxima a São Petersburgo
(naquela época Leningrado), quando perguntou a um grupo de professores “se
já tinham pensado sobre o que acontece quando uma pessoa morre. (...) Um dos
professores saiu rapidamente e voltou com um livro — Autobiografia de um
Iogue. Fiquei surpreso. Num país governado pela filosofia materialista de Marx
e Lenin, eis aqui um funcionário de instituto governamental que me mostra o livro
de Paramahansa Yogananda! — Por favor, entenda que o espírito da Índia não
nos é desconhecido — ele disse. — Aceitamos a autenticidade de tudo o que
está registrado no livro.”
Um artigo publicado em 21 de abril de 1995 no India Journal conclui: “Dentre os
milhares de livros anualmente publicados, existem os que divertem, os que
instruem e os que edificam. O leitor pode se considerar afortunado quando
encontra um livro que reúne as três coisas. A Autobiografia de um Iogue é ainda
mais raro — é um livro que abre janelas da mente e do espírito.”
Em anos recentes, ele foi aclamado por donos de livrarias, resenhistas e leitores
como um dos livros espirituais mais influentes da época contemporânea. Em
1999, durante um painel de escritores e estudiosos promovido pela editora
Harper Collins, a Autobiografia de um Iogue foi escolhida como um dos “100
melhores livros espirituais do século XX”, e no seu 50 Spiritual Classics,
publicado em 2005, Tom Butler-Bowden escreveu que o livro foi
“justificadamente celebrado como um dos livros espirituais mais envolventes e
esclarecedores já escritos”.
* * *
No último capítulo do livro, Paramahansa Yogananda escreve sobre a profunda
certeza que tem sido afirmada e reafirmada ao longo das eras por santos e
sábios de todas as religiões do mundo:
Deus é Amor. Seu plano para a criação só pode estar enraizado no amor.
Não oferece esse simples pensamento mais consolo ao coração humano do
que os raciocínios eruditos? Cada santo que penetrou no âmago da
Realidade deu o testemunho de que existe um plano universal divino e que
ele é belo e pleno de alegria.
Passado meio século desde o lançamento da Autobiografia de um Iogue,
esperamos que todos os leitores desta obra inspiradora — tanto os que a
encontram pela primeira vez quanto os que a consideram um velho e estimado
companheiro no caminho da vida — descubram sua própria alma abrindo-se
para um aprofundamento da fé, na verdade transcendente que está no centro
dos aparentes mistérios da vida.
SELF-REALIZATION FELLOWSHIP
Los Angeles, Califórnia
Julho de 2007
A Eterna Lei de Justiça
A bandeira da nova India independente (1947) é formada por três listras: uma,
cor de açafrão; outra, branca; e a terceira, verde-escuro. O Dharma Chakra (a
roda da lei), em azul-marinho, é reprodução do desenho que aparece na coluna
de pedra de Sarnath, erigida no século III a.C. pelo imperador Asoka.
A roda foi escolhida como símbolo da eterna lei de justiça e, incidentalmente,
como homenagem à memória do mais ilustre soberano do mundo. “O seu
reinado de 40 anos não tem paralelo na História”, escreveu o historiador inglês
H. G. Rawlinson. “Ele foi, em diferentes épocas, comparado a Marco Aurélio, S.
Paulo e Constantino. (...) 250 anos antes de Cristo, Asoka teve a coragem de
expressar seu horror e remorso pelos resultados de uma campanha bélica
vitoriosa e de renunciar deliberadamente à guerra como processo político.”
Os domínios que Asoka herdou incluíam a Índia, o Nepal, o Afeganistão e o
Baluquistão. Foi o primeiro internacionalista, enviando missões religiosas e
culturais à Birmânia, Ceilão, Egito, Síria e Macedônia.
“Asoka, terceiro rei da dinastia Mauria, foi (...) um dos grandes reis-filósofos da
História” — observou o historiador P. Masson-Oursel. “Ninguém como ele soube
combinar energia, benevolência, justiça e caridade. Foi a personificação viva de
sua própria época e surge perante nós como figura deveras moderna. No
decurso de longo reinado, conseguiu aquilo que a nós parece a mera aspiração
de um visionário: desfrutando do maior poderio material possível, organizou a
paz. Realizou, para muito além de seus vastos domínios, o que tem sido o sonho
de algumas religiões: a ordem universal, uma ordem abraçando a humanidade.”
“Dharma (a lei cósmica) aspira à felicidade de todas as criaturas.” Nos seus
éditos, inscritos em rochas e em colunas de pedra que sobreviveram até nossos
dias, Asoka adverte afetuosamente os súditos de seu extenso império de que a
felicidade se fundamenta na moralidade e na santidade.
A Índia moderna, aspirando a renovar a eminência e a prosperidade que durante
milênios conheceu, presta homenagem, em sua nova bandeira, à memória de
Asoka, o soberano “querido dos deuses”.
Autobiografia de um Iogue
(Mapa anterior a 1947. No noroeste há seções que agora fazem parte do Paquistão; no
nordeste, de Bangladesh)
1
Meus Pais e Minha Infância
OS TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DA CULTURA INDIANA têm sido, desde
sempre, a busca das verdades últimas e a concomitante relação entre guru 1 e
discípulo.
1. Mestre espiritual. O Guru Gita (verso 17) descreve de modo adequado o guru como “o que
dissipa as trevas” (do sânscrito gu, “trevas” e ru, “o que dissipa”).
Meu próprio caminho conduziu-me a um sábio semelhante a Cristo; sua bela
vida foi modelada para o benefício de todas as épocas. Foi ele um dos grandes
mestres que constituem a mais autêntica riqueza da Índia e que, surgindo em
todas as gerações, ergueram as fortificações que evitaram para sua terra o
destino que sofreram o antigo Egito e a Babilônia.
Minhas recordações mais antigas abrangem traços anacrônicos de uma
encarnação anterior. Lembro-me claramente de uma existência longínqua em
que eu era um iogue 2 entre as neves do Himalaia. Esses lampejos do passado,
por alguma ligação não dimensionável, permitiram-me também vislumbres do
futuro.
2. Praticante de yoga, “união”, antiga ciência de meditação em Deus. (Ver capítulo 26: “A ciência
da Kriya Yoga”.)
Ainda me lembro das indefesas humilhações da infância. Era com ressentimento
que eu tinha consciência de ser incapaz de me locomover e de me expressar
livremente. Sucessivas ondas de oração erguiam-se dentro de mim ao
reconhecer essa impotência física. Minha forte vida emocional exprimiu-se
mentalmente em palavras de muitas línguas. Entre a confusão interna de
idiomas, habituei-me, pouco a pouco, a ouvir as sílabas bengalis do meu povo.
Como se enganam os adultos ao avaliar o alcance da mente infantil
considerando-a limitada aos brinquedos e aos dedinhos dos pés!
A efervescência psicológica e meu corpo desobediente levaram-me a muitas e
obstinadas crises de choro. Recordo-me da desorientação e do assombro que
meu desespero provocava em toda a família. Lembranças mais felizes também
se acumulam: os carinhos de minha mãe, as primeiras tentativas que fiz para
balbuciar frases e dar os primeiros passos. Esses triunfos infantis, normalmente
logo esquecidos, nos dão entretanto um alicerce natural de autoconfiança.
O grande alcance de minha memória não é caso único. Sabe-se de muitos
iogues que conservaram ininterruptamente a consciência de si mesmos durante
a dramática transição da “vida” para a “morte” e de uma vida para outra. Se o
homem é apenas um corpo, a perda desse corpo realmente seria para ele o fim
de sua identidade. Se, porém, no decurso de milênios os profetas falaram a
verdade, o homem é essencialmente uma alma, incorpórea e onipresente.
Apesar de insólitas, recordações nítidas da primeira infância não são
extremamente raras. Durante minhas viagens por numerosos países, ouvi, de
lábios de homens e mulheres verazes, o testemunho de recordações que
remontam à mais tenra idade.
Nasci em 5 de janeiro de 1893, em Gorakhpur, no nordeste da Índia, perto das
montanhas do Himalaia. Ali passei meus primeiros oito anos. Éramos oito
irmãos: quatro meninos e quatro meninas. Eu, Mukunda Lal Ghosh, 3 fui o quarto
a nascer e o segundo varão.
3. Meu nome de família foi substituído pelo de Yogananda em 1915, quando ingressei na antiga
ordem monástica dos Swamis. Em 1935, meu guru conferiu-me um título religioso mais elevado,
o de Paramahansa. (Ver páginas 231 e 418.)
Meu pai e minha mãe eram bengalis, da casta xátria. 4 Ambos foram abençoados
com uma natureza santa. O mútuo amor que os uniu, tranquilo e digno, nunca
se expressou com frivolidade. Sua harmonia conjugal perfeita era o foco de
serenidade em torno do qual girava o tumulto de oito filhos pequenos.
4. A segunda casta, tradicionalmente de governantes e guerreiros.
Meu pai, Bhagabati Charan Ghosh, era bondoso, sério, às vezes rigoroso.
Embora lhe tivéssemos muito amor, nós crianças mantínhamos para com ele
certa distância que beirava a reverência. Excepcional em matemática e lógica,
ele guiava-se principalmente por seu intelecto. Minha mãe, porém, era uma
rainha de corações e nos educou inteiramente pelo amor. Depois que ela morreu,
papai externou mais sua afeição interior; notei que seu olhar muitas vezes
parecia metamorfosear-se no olhar de minha mãe.
Foi em presença de mamãe que travamos os primeiros contatos agridoces com
as Escrituras. Ela recorria ao Mahabharata e ao Ramayana 5 para dali retirar
histórias adequadas às exigências disciplinares. Nessas ocasiões, instrução e
castigo caminhavam de mãos dadas.
5. Esses antigos poemas épicos são um tesouro da história, mitologia e filosofia da Índia.
Em sinal de respeito por meu pai, mamãe nos vestia cuidadosamente, todas as
tardes, para recebê-lo ao regressar do escritório. O cargo por ele ocupado era
equiparável ao de vice-presidente, em uma das maiores companhias ferroviárias
da Índia: a de Bengala-Nagpur. Seu trabalho implicava fazer viagens; nossa
família viveu em diversas cidades durante minha meninice.
Mamãe tinha mão aberta para os necessitados. Papai também era caridoso, mas
seu respeito à lei e à ordem se estendia ao orçamento doméstico. Certa
quinzena, mamãe gastou, alimentando os pobres, mais do que a renda mensal
de papai.
— Por favor, tudo o que peço é que seja caridosa dentro de limites razoáveis. —
Mesmo uma repreensão suave de seu esposo era de suma gravidade para
minha mãe. Sem revelar aos filhos seu desacordo com papai, ela fez vir uma
carruagem de aluguel.
— Adeus, vou-me embora para a casa de minha mãe. — Antiquíssimo ultimato!
Rompemos em lamentos, estupefatos. Nosso tio materno chegou no momento
oportuno; segredou a meu pai algum sábio conselho, certamente provindo de
priscas eras. Depois de papai ter pronunciado algumas palavras de conciliação,
mamãe alegremente dispensou a carruagem. Assim terminou a única
divergência de que tive conhecimento entre meus pais. Mas recordo-me de uma
discussão característica:
— Por favor, preciso de dez rupias para dar a uma pobre mulher que veio bater
à nossa porta. — O sorriso de mamãe era persuasivo.
— Por que dez rupias? Uma é o bastante. — Papai acrescentou uma justificação:
— Quando meu pai e meus avós faleceram subitamente, eu soube pela primeira
vez o que era a pobreza. De manhã, comia unicamente uma pequena banana,
antes de caminhar vários quilômetros até a escola. Mais tarde, na universidade,
sofri tantas privações que me vi forçado a pedir a um abastado juiz o auxílio de
uma rupia por mês. Ele recusou, declarando que mesmo uma rupia era
importante.
— Com que amargura você se lembra da recusa dessa rupia! — O coração de
minha mãe teve uma lógica instantânea. — Você quer que essa mulher também
se lembre dolorosamente da recusa das dez rupias que ela necessita com
urgência?
— Você ganhou! — Com o gesto imemorial dos maridos derrotados, meu pai
abriu a carteira. — Aqui está uma nota de dez rupias. Entregue-a com os meus
votos de felicidade.
Papai tinha a tendência de primeiro dizer “não” a qualquer proposta nova. Sua
atitude perante aquela desconhecida, que tão depressa conquistara a
compaixão de minha mãe, era um exemplo de sua cautela habitual. Na verdade,
a aversão à aceitação imediata é apenas uma homenagem ao princípio da
“reflexão necessária”. Sempre achei meu pai justo e equilibrado em seus
julgamentos. Se eu pudesse reforçar meus numerosos pedidos com um ou dois
bons argumentos, ele invariavelmente poria ao meu alcance o objetivo
ambicionado — fosse uma viagem de férias ou uma nova motocicleta.
Meu pai foi um austero disciplinador de seus filhos quando pequenos. Mas sua
atitude para consigo mesmo era verdadeiramente espartana. Por exemplo,
nunca frequentou o teatro, mas buscava recreação em várias práticas espirituais
e na leitura do Bhagavad Gita. 6 Repudiando qualquer luxo, usava um mesmo
par de sapatos velhos até que se tornassem imprestáveis. Seus filhos
compraram automóveis depois que seu uso se tornou popular, mas papai
contentava-se com o bonde para ir diariamente ao escritório.
6. Este nobre poema sânscrito, que faz parte do épico Mahabharata, é a Bíblia hindu. Mahatma
Gandhi escreveu: “Aqueles que meditarem no Gita retirarão dele novas alegrias e novos
significados todos os dias. Não há nenhum emaranhado espiritual que o Gita não possa
desembaraçar.”
Ele não tinha interesse em acumular dinheiro por amor ao poder. Certa ocasião,
depois de organizar o Banco Urbano de Calcutá, recusou beneficiar-se disso e
não guardou para si nenhuma das ações do banco. Desejara apenas cumprir um
dever cívico nas horas de folga.
Vários anos depois de meu pai ter-se aposentado, um contador veio da Inglaterra
para a Índia a fim de examinar os livros da Estrada de Ferro Bengala-Nagpur.
Surpreso, o auditor descobriu que papai jamais havia requerido suas
bonificações vencidas.
— Ele fez sozinho o trabalho de três homens! — o contador informou à
companhia. — Tem em haver 125.000 rupias (41.250 dólares) de remunerações
atrasadas. — O tesoureiro enviou a papai um cheque com esse valor. Meu pai
deu tão pouca importância ao assunto que se esqueceu de mencioná-lo à
família. Muito tempo depois, meu pai foi interrogado por Bishnu, meu irmão mais
moço, que havia notado a grande quantia depositada ao ver um extrato do
banco.
— Por que me exaltar com lucro material? — papai respondeu. — Quem procura
alcançar a serenidade mental não se rejubila com o lucro nem se desespera com
a perda; sabe que o homem chega sem dinheiro a este mundo e dele parte sem
levar uma única rupia!
Pouco depois de seu casamento, meus pais tornaram-se discípulos do grande
mestre Lahiri Mahasaya, de Benares. Esta associação fortaleceu o
temperamento naturalmente ascético de meu pai. Certa ocasião, mamãe fez
uma confidência notável à minha irmã mais velha, Roma: “Seu pai e eu nos
unimos como marido e mulher apenas uma vez por ano, com o intuito de termos
filhos”.
Meu pai conheceu pela primeira vez Lahiri Mahasaya por intermédio de Abinash
Babu, 7 funcionário de um ramal da Estrada de Ferro Bengala-Nagpur. Em
Gorakhpur, Abinash Babu instruía meus jovens ouvidos com cativantes histórias
sobre muitos santos da Índia. Concluía, invariavelmente, prestando tributo às
glórias superiores de seu próprio guru.
7. Babu (senhor) é colocado ao final dos nomes em bengali.
— Alguma vez lhe contaram em que circunstâncias extraordinárias seu pai se
tornou discípulo de Lahiri Mahasaya? — Era uma preguiçosa tarde de verão e
estávamos sentados na varanda de minha casa quando Abinash fez esta
pergunta em tom intrigante. Neguei com a cabeça, sorrindo antecipadamente de
satisfação.
— Anos atrás, antes de você nascer, supliquei a meu chefe — seu pai — uma
licença de sete dias a fim de visitar meu guru em Benares. Seu pai ridicularizou
meu plano.
— “Vai se converter num fanático religioso?” perguntou-me. “Concentre-se em
seu trabalho no escritório, se quiser progredir.”
— Naquele dia, voltando tristemente para casa por uma vereda no bosque,
encontrei-me com seu pai, que era transportado numa liteira. Ele dispensou
servidores e liteira, passando a caminhar a meu lado. Procurando me consolar,
começou a discorrer sobre as vantagens de lutar pelo sucesso mundano. Mas
eu o escutava sem prestar atenção. Meu coração repetia: “Lahiri Mahasaya, não
posso viver sem te ver!”
— O caminho levou-nos à orla de um campo tranquilo, onde os raios do sol ao
entardecer coroavam a ondulante elevação do capim bravo. Paramos, em
admiração. E ali, no campo, a alguns metros de nós, apareceu subitamente a
forma de meu grande guru! 8
8. Os fenomenais poderes possuídos pelos grandes mestres são explicados no capítulo 30, “A
lei dos milagres”.
— “Bhagabati, você é muito duro com seu funcionário!” A voz ressoava em
nossos ouvidos atônitos. Meu guru desapareceu tão misteriosamente como
viera. De joelhos, eu exclamava: “Lahiri Mahasaya! Lahiri Mahasaya!” Durante
alguns momentos seu pai ficou imobilizado pelo assombro.
— “Abinash, além de conceder a sua licença, concedo também a minha, a fim
de irmos amanhã para Benares. Preciso conhecer esse grande Lahiri Mahasaya,
capaz de se materializar à vontade para interceder por você! Levarei minha
esposa e pedirei a esse mestre que nos inicie na senda espiritual. Você nos
levará até ele?”
— “Sem dúvida!” Eu transbordava de alegria ante a resposta miraculosa à minha
prece e a rápida e favorável alteração no curso dos acontecimentos.
— Na noite seguinte seus pais e eu viajamos de trem para Benares. Chegando
lá no outro dia, contratamos um trole para cobrir parte do caminho, e depois
tivemos de andar por ruelas estreitas para chegar à isolada moradia de meu
guru. Entrando em sua pequena sala, fizemos uma reverência ao mestre, firme
na habitual postura de lótus. Ele piscou os olhos penetrantes e os fixou em seu
pai: “Bhagabati, você é muito duro com seu funcionário!” As palavras eram as
mesmas pronunciadas dois dias antes no campo de Gorakhpur. E acrescentou:
“Alegro-me por haver permitido a Abinash visitar-me e terem vindo, você e sua
esposa, em companhia dele.”
— Para alegria dos dois, iniciou-os na prática espiritual de Kriya Yoga. 9 Seu pai
e eu, condiscípulos espirituais, temos sido amigos íntimos desde o memorável
dia da visão. Lahiri Mahasaya manifestou particular interesse em seu
nascimento, Mukunda. Sua vida estará certamente relacionada com a dele; as
bênçãos do mestre nunca falham.
9. Uma técnica iogue ensinada por Lahiri Mahasaya; acalma o tumulto sensorial, permitindo ao
homem alcançar identidade crescente com a consciência cósmica. (Ver capítulo 26.)
Lahiri Mahasaya deixou este mundo pouco depois de eu nele haver entrado. Seu
retrato, em moldura ornamentada, sempre honrou o altar de nossa família nas
várias cidades para onde meu pai era transferido pelo escritório. Muitas manhãs
e noites nos encontraram, à minha mãe e a mim, em meditação ante o
improvisado altar, oferecendo flores aromatizadas com pasta de sândalo.
Juntando incenso e mirra às nossas devoções, honrávamos a Divindade que se
manifestara plenamente em Lahiri Mahasaya.
Sua fotografia teve influência extraordinária em minha vida. À medida que eu
crescia, o pensamento focalizado no mestre crescia comigo. Em meditação, via
com frequência sua imagem fotográfica destacar-se da pequena moldura e,
assumindo forma vivente, sentar-se diante de mim. Quando tentava tocar os pés
de seu corpo luminoso, ele voltava a se transformar em fotografia. Com o passar
da infância para a adolescência, Lahiri Mahasaya deixou de ser em minha mente
uma pequena imagem emoldurada, passando a ser presença viva e iluminadora.
Eu frequentemente orava para ele nos momentos de provação ou confusão,
encontrando em meu interior sua orientação confortadora.
No início, sofria por ele não mais estar fisicamente vivo. Quando comecei a
descobrir sua secreta onipresença, não me lamentei mais. Ele muitas vezes
escrevia aos discípulos demasiadamente ansiosos em visitá-lo: “Por que vir me
contemplar em carne e osso, quando estou sempre dentro do raio de visão de
seu kutastha (olho espiritual)?”
Aos oito anos de idade aproximadamente, fui abençoado com uma cura
maravilhosa graças ao retrato de Lahiri Mahasaya. Essa experiência intensificou
meu amor. Quando estávamos na propriedade familiar de Ichapur, em Bengala,
contraí o cólera asiático. Fui desenganado pelos médicos, que nada podiam
fazer. À minha cabeceira, mamãe incitava-me freneticamente a olhar para a
fotografia de Lahiri Mahasaya presa à parede, acima de minha cabeça.
— Curve-se diante dele mentalmente! — Ela sabia que eu estava fraco demais,
até para erguer as mãos em saudação. — Se realmente mostrar sua devoção e
se ajoelhar interiormente diante dele, sua vida será poupada!
Olhei fixamente a fotografia e vi uma luz cegante, que envolvia meu corpo e o
quarto inteiro. O enjoo e outros sintomas incontroláveis desapareceram; eu
estava curado. Imediatamente senti força suficiente para inclinar-me e tocar os
pés de minha mãe, em gesto de reconhecimento por sua fé incomensurável no
guru. Minha mãe comprimiu a cabeça várias vezes contra o pequeno retrato:
— Ó Mestre Onipresente, agradeço-te por tua luz ter curado meu filho!
Compreendi que ela também havia presenciado o resplendor luminoso que tinha
me recuperado instantaneamente de uma doença quase sempre fatal.
Um de meus bens mais preciosos é essa mesma fotografia. Dada a meu pai pelo
próprio Lahiri Mahasaya, ela irradia uma santa vibração. O retrato teve origem
miraculosa. Ouvi a história contada por Kali Kumar Roy, condiscípulo espiritual
de meu pai.
Parece que Lahiri Mahasaya tinha aversão a ser fotografado. Sob seus
protestos, certo dia tiraram um retrato do mestre com um grupo de devotos,
inclusive Kali Kumar Roy. Foi com surpresa que o fotógrafo descobriu que a
chapa, que continha nítidas imagens de todos os discípulos, revelou apenas um
espaço vazio no centro, onde ele logicamente esperava que aparecesse a figura
de Lahiri Mahasaya. O fenômeno foi muito comentado.
Ganga Dhar Babu, discípulo e fotógrafo perito, gabou-se de que o vulto fugidio
não lhe escaparia. Na manhã seguinte, quando o guru estava em posição de
lótus num assento de madeira com um biombo por trás, Ganga Dhar Babu
chegou com seu equipamento. Tomando todas as precauções para ser bem-
sucedido, sofregamente bateu doze chapas. Em todas, encontrou a impressão
do assento de madeira com o biombo, mas de novo faltava a figura do mestre.
Em lágrimas e com o orgulho despedaçado, Ganga Dhar Babu apelou ao guru.
Passaram-se muitas horas antes que Lahiri Mahasaya quebrasse o silêncio com
um significativo comentário:
— Eu sou Espírito. Pode sua câmera fotográfica refletir o Invisível onipresente?
— Vejo que é impossível! Mas, santo senhor, desejo amorosamente um retrato
de seu templo corpóreo. Minha visão era limitada: até hoje não tinha percebido
que o Espírito habita plenamente no senhor.
— Então regresse amanhã de manhã. Posarei para você.
O fotógrafo novamente focalizou sua máquina. Desta vez a sagrada figura, não
coberta de imperceptibilidade misteriosa, apareceu nítida na chapa. O mestre
jamais posou para outro retrato; pelo menos, eu nunca vi outro.
A fotografia é reproduzida neste livro. 10 Os traços fisionômicos de Lahiri
Mahasaya, de casta universal, dificilmente indicam a raça a que pertencia. A
alegria da comunhão com Deus é ligeiramente revelada em seu sorriso
enigmático. Seus olhos, semiabertos para indicar um interesse nominal pelo
mundo externo, também estão semicerrados, revelando sua absorção na bem-
aventurança interior. Alheio às insignificantes atrações do mundo, ele estava
sempre plenamente alerta aos problemas espirituais dos que buscavam sua
generosidade.
10. Ver página 307. Quando foi à Índia em 1935-36, Sri Paramahansa Yogananda deu instruções
a um artista bengali para que pintasse uma reprodução da foto original (ver pág. 334),
designando-a mais tarde como o retrato formal de Lahiri Mahasaya a ser usado nas publicações
da SRF. (Esse quadro encontra-se em Mount Washington, na sala de estar de Paramahansa
Yogananda.) (Nota da editora)
Pouco depois de minha cura por meio do poder da fotografia do guru, tive uma
visão espiritual que muito me influenciou. Sentado em minha cama certa manhã,
entrei em profundo devaneio.
— Que haverá por trás da escuridão dos olhos fechados? — Este pensamento
inquiridor entrou com força em minha mente. Um imenso clarão de luz
manifestou-se instantaneamente em minha visão interior. Divinas figuras de
santos, sentados na postura de meditação em cavernas de montanhas,
passavam, como imagens de um filme em miniatura, na grande tela brilhante
dentro de minha testa.
— Quem são vocês? — perguntei em voz alta.
— Somos iogues do Himalaia. — É difícil descrever a resposta celestial; meu
coração vibrava.
— Ah, como anseio ir ao Himalaia e tornar-me um de vocês! — A visão
desapareceu, mas os raios prateados expandiram-se em círculos cada vez
maiores, até o infinito.
— Que maravilhoso esplendor é este?
— Eu sou Ishwara. 11 Eu sou Luz! — A voz era de nuvens murmurantes.
11. Nome sânscrito para indicar Deus em Seu aspecto de Regente Cósmico; da raiz is, reger. As
Escrituras hindus contêm milhares de nomes para designar Deus, cada um correspondendo a
um diferente matiz de significado filosófico. Deus, sob o aspecto de Ishwara, é quem cria e
dissolve por Sua vontade todos os universos, em ciclos regulares.
— Quero unir-me a Ti!
Do lento desvanecer-se do meu êxtase divino ficou-me um legado permanente
de inspiração para buscar a Deus. “Ele é Alegria eterna, sempre renovada!” Esta
lembrança perdurou longamente após o dia do arrebatamento místico.
Outra recordação de minha infância é literalmente marcante, tanto que carrego
sua cicatriz até hoje. Certa manhã, bem cedo, minha segunda irmã mais velha,
Uma, estava sentada comigo sob uma árvore de nim em nossa casa de
Gorakhpur. Ela me ajudava no estudo de minha primeira cartilha em bengali, nos
momentos em que eu consentia desviar minha vista de alguns papagaios que,
ali perto, bicavam os frutos maduros da amargoseira.
Queixou-se Uma de inchaço em sua perna e foi buscar um frasco de unguento.
Untei meu antebraço com um pouco da pomada.
— Por que esfrega remédio num braço sadio?
— Bem, mana, sinto que amanhã vou ter um furúnculo. Estou experimentando o
unguento no lugar onde a inflamação vai aparecer.
— Seu mentirosinho!
— Mana, não me chame de mentiroso até ver o que acontecerá amanhã. — A
indignação tomou conta de mim.
Sem se deixar impressionar, Uma repetiu três vezes a ofensa. Uma resolução
inflexível soou em minha voz quando lhe disse lentamente:
— Pelo poder da vontade em mim, afirmo que amanhã terei um enorme furúnculo
exatamente neste lugar de meu braço; e o seu furúnculo estará duas vezes mais
inchado que hoje!
A manhã seguinte me encontrou com um robusto furúnculo no lugar indicado; o
de Uma tinha duplicado suas dimensões. Com um grito, minha irmã correu para
mamãe. — Mukunda converteu-se em adepto da magia negra! — Muito séria,
mamãe instruiu-me a jamais usar o poder da palavra para fazer o mal. Sempre
recordei seu conselho e o segui.
Um cirurgião lancetou meu furúnculo. Uma cicatriz visível até hoje mostra onde
o médico fez a incisão. Em meu antebraço direito existe um constante lembrete
do poder existente na pura palavra humana.
Aquelas frases simples e aparentemente inofensivas a Uma, pronunciadas com
profunda concentração, tiveram suficiente força oculta para explodir como
bombas e produzir efeitos definidos, embora prejudiciais. Mais tarde compreendi
que o explosivo poder vibratório da fala poderia ser sabiamente dirigido para
libertar nossa vida de dificuldades e, assim, operar sem deixar cicatrizes ou
censuras. 12
12. As potencialidades infinitas do som derivam do Verbo Criador, Om, o poder cósmico vibratório
por trás de toda energia atômica. Qualquer palavra proferida com clara compreensão e
concentração profunda tem valor materializante. A repetição oral ou silenciosa de palavras
inspiradoras provou sua eficácia em sistemas psicoterápicos como o de Coué; o segredo reside
em introduzir um “crescendo” na frequência vibratória da mente.
Nossa família transferiu-se para Lahore, no Punjab. Lá comprei uma gravura da
Mãe Divina sob a forma da Deusa Kali, 13 que santificou um pequeno altar
informal na sacada de nossa casa. Fui tomado pela inequívoca convicção de que
todas as orações que eu fizesse naquele lugar sagrado seriam atendidas. Certo
dia, de pé na sacada, em companhia de Uma, observei dois meninos empinando
pipas sobre o telhado de dois edifícios vizinhos, separados de nossa casa por
uma rua extremamente estreita.
13. Kali é um símbolo de Deus sob o aspecto da eterna Mãe Natureza.
— Por que está tão quieto? — perguntou-me Uma, dando-me um empurrão de
brincadeira.
— Estou pensando como é maravilhoso que a Mãe Divina me dá tudo o que
quero.
— Suponho que Ela lhe daria aquelas duas pipas! — minha irmã riu, caçoando
de mim.
— Por que não? — iniciei silenciosas orações para obtê-las.
Na Índia, os meninos fazem competições com pipas cujas linhas são recobertas
de cola e vidro moído. Cada jogador procura cortar a linha de seu adversário.
Uma pipa solta voa sobre os telhados; é muito divertido ir apanhá-la. Estando
Uma e eu numa sacada interna, recoberta de telhas, parecia impossível que uma
pipa solta viesse cair em nossas mãos; sua linha naturalmente passaria
flutuando sobre o telhado.
Do outro lado da estreita viela os competidores começaram o combate. Uma das
linhas foi cortada; imediatamente a pipa flutuou em minha direção. Em razão de
uma súbita ausência de brisa, a pipa permaneceu imóvel por um momento;
nessa pausa, a linha enroscou-se em um cacto que havia no terraço da casa em
frente. Um longo e perfeito laço se formou para que eu a pegasse. Passei o troféu
para Uma.
— Foi apenas um acidente fora do comum, não uma resposta à sua oração. Se
a outra pipa vier até você, então acreditarei.
Os olhos negros de minha irmã denunciavam mais assombro que suas palavras.
Continuei a orar intensamente. Um puxão mais forte do outro jogador causou a
brusca perda de sua pipa. Ela veio em minha direção, dançando com o vento.
Meu prestativo ajudante, o cacto, novamente prendeu a linha da pipa com o laço
suficientemente longo para que meu braço a alcançasse. Apresentei o segundo
troféu a Uma.
— Realmente a Mãe Divina o escuta! É tudo misterioso demais para mim! — E
minha irmã disparou a correr como uma corça assustada.
GURRU (Gyana Prabha) GHOSH (1868-1904)
Mãe de Yoganandaji; discípula de Lahiri Mahasaya
BHAGABATI CHARAN GHOSH (1853-1942)
Pai de Yoganandaji; discípulo de Lahiri Mahasaya
Sri Yogananda aos 6 anos de idade
2
A Morte de Minha Mãe
e o Amuleto Místico
O MAIOR DESEJO DE MINHA MÃE era o de ver casado meu irmão mais velho.
— Ah, quando eu contemplar a face da esposa de Ananta, terei encontrado o
céu nesta terra! — Frequentemente ouvi mamãe expressar com essas palavras
o seu arraigado sentimento hindu pela continuidade da família.
Eu tinha onze anos quando se realizaram os esponsais de Ananta. Mamãe
estava em Calcutá, supervisionando alegremente os preparativos para o
casamento. Papai e eu ficamos sozinhos em nossa casa em Bareilly, ao norte
da Índia, para onde ele tinha sido transferido após dois anos em Lahore.
Anteriormente eu havia presenciado o esplendor dos ritos nupciais de minhas
duas irmãs mais velhas, Roma e Uma; para Ananta, entretanto, como
primogênito, os preparativos eram realmente meticulosos. Mamãe, em Calcutá,
recepcionava numerosos parentes que chegavam diariamente de regiões
distantes. Alojava-os confortavelmente em uma casa ampla, recém-adquirida,
situada em Amherst Street, 50. Tudo estava pronto: as iguarias do banquete, o
trono vistoso no qual meu irmão seria carregado até a casa da noiva, as fileiras
de luzes coloridas, os gigantescos elefantes e camelos feitos de papelão, as
orquestras indiana, inglesa e escocesa, os artistas encarregados de alegrar a
festa, os sacerdotes celebrantes dos antigos ritos.
Papai e eu, com espírito festivo, planejávamos nos reunir à família em tempo
oportuno para a cerimônia. Entretanto, pouco antes do grande dia, tive uma visão
de mau presságio.
Foi em Bareilly, à meia-noite: eu dormia ao lado de meu pai no terraço de nosso
bangalô, quando fui acordado pelo tremular peculiar do mosquiteiro sobre a
cama. As finas cortinas abriram-se e vi a amada figura de minha mãe.
— Acorde seu pai! — Sua voz era apenas um sussurro. — Tomem o primeiro
trem, o das quatro da madrugada. Corram a Calcutá se quiserem me ver! — A
aparição desvaneceu-se.
— Pai, papai! Mamãe está morrendo! — O terror em minha voz despertou-o
instantaneamente. Em soluços comuniquei-lhe a notícia fatídica.
— Esqueça esta alucinação sua. — Meu pai, como de costume, deu sua negativa
a uma situação nova. — Sua mãe está em perfeita saúde. Se recebermos
notícias ruins, partiremos amanhã.
— O senhor nunca se perdoará por não ir agora! — E a angústia me fez
acrescentar amargamente: — Eu também jamais o perdoarei!
A manhã seguinte despontou melancolicamente com as explícitas palavras:
“Mamãe gravemente enferma; casamento adiado; venham imediatamente.”
Papai e eu saímos transtornados. Um de meus tios veio ao nosso encontro numa
estação onde tínhamos de baldear. Estrondoso trem vinha em nossa direção,
aumentando seu tamanho telescopicamente. De meu tumulto interior brotou a
determinação repentina de me atirar aos trilhos do trem. Já me sentindo
destituído de minha mãe, eu não podia suportar um mundo que de repente
perdera todo o sentido. Eu amava minha mãe como a amiga mais querida sobre
a Terra. Seus confortadores olhos negros tinham sido meu refúgio nas
insignificantes tragédias de minha infância.
— Ela ainda está viva? — Detive-me para fazer esta última pergunta a meu tio.
Ele interpretou com rapidez o desespero em minha face. — Claro que sim! —
Mas eu não consegui acreditar.
Quando chegamos à nossa casa em Calcutá, foi só para nos defrontarmos com
o chocante mistério da morte. Entrei em colapso, mergulhando em estado de
quase torpor. Muitos anos decorreram antes que meu coração se conformasse.
Atacando os próprios portões do céu, minhas súplicas afinal impeliram a Mãe
Divina a Se apresentar. Suas palavras trouxeram cura definitiva às feridas ainda
abertas:
— Sou Eu que tenho velado por ti, vida após vida, na ternura de muitas mães!
Vê em Meu olhar os dois olhos negros, os belos olhos perdidos que andas
buscando!
Papai e eu regressamos a Bareilly logo após os ritos crematórios da bem-amada.
Todas as madrugadas, bem cedo, eu fazia uma patética peregrinação em sua
memória à frondosa árvore sheoli que sombreava o prado auriverde em frente
ao nosso bangalô. Em momentos poéticos, imaginava que as flores brancas de
sheoli se derramavam com espontânea devoção sobre o altar do prado.
Misturando minhas lágrimas ao orvalho, frequentemente observei uma estranha
luz sobrenatural emergindo da aurora. Dores me assaltavam, intensas, de
saudade de Deus. Sentia-me fortemente atraído para o Himalaia.
Um de meus primos, recentemente chegado de uma viagem às montanhas
sagradas, visitou-nos em Bareilly. Escutei ansiosamente suas histórias sobre a
alta cordilheira, morada de iogues e swamis. 1
1. Swa, a raiz sânscrita de swami, significa “aquele que se uniu ao seu Eu” (ver capítulo 24).
— Vamos fugir para o Himalaia! — Minha sugestão, feita um dia a Dwarka
Prasad, jovem filho de nosso caseiro em Bareilly, foi mal recebida. Ele revelou o
plano a meu irmão mais velho, recém-chegado para visitar papai. Em vez de
sorrir com tolerância do projeto impraticável de um menino, Ananta aproveitou o
fato para me ridicularizar.
— Onde está sua túnica alaranjada? Você não pode ser um swami sem ela.
Suas palavras, porém, provocaram em mim inexplicável comoção. Fizeram com
que visse uma nítida imagem: de mim mesmo como monge, percorrendo a Índia.
Talvez as palavras de Ananta despertassem lembranças de uma vida anterior;
em todo caso, percebi com que naturalidade eu usaria a túnica daquela ordem
monástica, de fundação antiquíssima.
Conversando certa manhã com Dwarka, senti que o amor por Deus descia sobre
mim com a força de uma avalanche. Meu companheiro mal prestou atenção à
eloquência que se seguiu, mas eu me ouvia atentamente.
Fugi naquela tarde para Naini Tal, no sopé do Himalaia. Ananta perseguiu-me
com determinação; fui forçado a regressar tristemente a Bareilly. A única
peregrinação permitida era o passeio habitual à árvore sheoli todas as
madrugadas. Meu coração chorava pelas duas mães perdidas, a humana e a
Divina.
A morte de mamãe deixou no tecido da família um rasgão irreparável. Papai
nunca voltou a se casar nos quase quarenta anos que ainda viveu. Assumindo
o difícil papel de pai e mãe de seu pequeno rebanho, ele se tornou
perceptivelmente mais terno, mais acessível. Com serenidade e discernimento,
resolvia os vários problemas da família. Após as horas de trabalho no escritório,
retirava-se como um eremita à cela de seu quarto, praticando Kriya Yoga em
doce tranquilidade. Muito depois da morte de mamãe, tentei contratar uma
enfermeira inglesa para cuidar dos detalhes que tornariam mais confortável a
vida de meu pai. Mas ele abanou a cabeça negativamente.
— Os cuidados para comigo terminaram quando sua mãe se foi. — Seus olhos
estavam distantes, cheios de devoção perpétua. — Não aceitarei os serviços de
nenhuma outra mulher.
Catorze meses depois da partida de minha mãe, eu soube que havia me deixado
uma importante mensagem. Ananta estivera presente no seu leito de morte e
registrara suas palavras. Embora ela tivesse recomendado que a revelação me
fosse feita um ano após morte, meu irmão a retardou. Em breve ele partiria de
Bareilly para Calcutá, para casar-se com a jovem escolhida por mamãe. 2 Uma
noite, chamou-me para junto dele.
2. O costume indiano segundo o qual os pais escolhem o cônjuge de seus filhos tem resistido às
rudes investidas do tempo. Elevada é a percentagem de casamentos indianos felizes.
— Mukunda, tenho relutado em dar-lhe uma estranha mensagem. — Sua voz
tinha um tom de resignação. — Temi avivar seu desejo de abandonar a casa.
Mas, de qualquer jeito, você está revestido de fervor divino. Quando o capturei
recentemente a caminho do Himalaia, tomei uma resolução definitiva: não
adiarei por mais tempo o cumprimento de uma promessa solene. — Entregando-
me uma caixinha, meu irmão transmitiu a mensagem de mamãe:
“Deixe que estas palavras sejam minha bênção final, meu amado filho
Mukunda!”, dissera minha mãe. “Chegou a hora em que devo relatar alguns
fenômenos extraordinários acontecidos após o seu nascimento. Conheci a
senda reservada a você quando ainda era um bebê em meus braços. Naquela
época, levei-o no colo à casa de meu guru em Benares. Eu mal podia ver Lahiri
Mahasaya, sentado em meditação profunda, quase escondido atrás de uma
multidão de discípulos.
“Enquanto o acalentava, eu orava para que o grande guru nos percebesse e
abençoasse. À medida que meu silencioso pedido devocional crescia em
intensidade, ele entreabriu os olhos e fez sinal para que me aproximasse. Os
outros abriram caminho; curvei-me diante dos pés sagrados. Lahiri Mahasaya
colocou você no colo dele, pousando a mão em sua fronte, à guisa de batismo
espiritual.
“— Mãezinha, teu filho será um iogue. Como uma locomotiva espiritual, levará
muitas almas ao reino de Deus.
“Meu coração saltou de alegria ao perceber que minha súplica secreta tinha sido
atendida pelo guru onisciente. Pouco antes de seu nascimento, Mukunda, Lahiri
Mahasaya me disse que você seguiria o caminho dele.
“Mais tarde, meu filho, sua visão da Grande Luz foi testemunhada por mim e por
sua irmã Roma; de um quarto próximo, nós observávamos você imóvel na cama.
Seu rostinho iluminou-se; sua voz soou com determinação férrea quando falou
em ir para o Himalaia em busca do Divino.
“Por esses meios, filho querido, eu soube que seu caminho está muito além das
ambições mundanas. O mais singular evento de vida trouxe-me confirmação
posterior — um evento que agora me impele a dar-lhe esta mensagem em meu
leito de morte.
“Foi uma entrevista com um sábio, no Punjab. Quando nossa família vivia em
Lahore, a criada entrou certa manhã em meu quarto.
“— Senhora, um estranho sadhu 3 está aqui. Ele insiste em ‘ver a mãe de
Mukunda’.
3. Anacoreta; pessoa dedicada ao ascetismo e à disciplina espiritual.
“Estas singelas palavras tocaram uma corda profunda dentro de mim. Fui
imediatamente cumprimentar o visitante. Curvando-me a seus pés, senti que
estava na presença de um verdadeiro homem de Deus.
“— Mãe — disse ele —, os grandes mestres desejam que saiba que sua
permanência na Terra não será longa. Sua próxima doença será a última 4 —
Houve um silêncio durante o qual não me senti alarmada; apenas senti uma
vibração de grande paz. Finalmente ele voltou a falar:
4. Quando descobri, por essas palavras, que mamãe tinha conhecimento secreto da breve
duração de sua vida, compreendi pela primeira vez por que ela insistira tanto em apressar os
planos para o casamento de Ananta. Embora ela tivesse morrido antes do casamento, seu desejo
materno natural fora o de assistir aos ritos.
“— A senhora deve ser a guardiã de certo amuleto de prata. Não lhe darei o
talismã hoje; para demonstrar a veracidade de minhas palavras, ele vai se
materializar em suas mãos, amanhã, quando estiver meditando. De seu leito de
morte, deverá instruir seu filho mais velho, Ananta, para que guarde o amuleto
durante um ano e então o entregue a seu segundo filho. Mukunda entenderá o
significado do talismã, proveniente de grandes seres. Ele deve recebê-lo na
época em que estiver pronto para renunciar a todas as esperanças mundanas e
começar a sua busca vital de Deus. Depois de haver conservado o amuleto por
vários anos e quando ele tiver servido a seu propósito, desaparecerá. Mesmo
que esteja guardado no esconderijo mais secreto, voltará ao lugar de onde veio.
“Ofereci esmolas 5 ao santo e me inclinei diante dele com grande reverência.
Sem aceitar minha oferenda, abençoou-me e partiu. Na noite seguinte, quando
eu estava sentada em meditação, um amuleto materializou-se entre as palmas
de minhas mãos entrelaçadas, tal como o sadhu prometera. Fez-se notar por
seu contato liso e frio. Guardei-o zelosamente durante mais de dois anos, e
agora o deixo sob a custódia de Ananta. Não lamente minha partida, pois serei
introduzida por meu grande guru nos braços do Infinito. Adeus, meu filho; a Mãe
Cósmica o protegerá.”
5. Um gesto habitual de respeito para com os sadhus.
Um raio de iluminação desceu sobre mim quando peguei o amuleto; muitas
recordações adormecidas despertaram. O talismã, redondo e autenticamente
antigo, estava coberto de caracteres sânscritos. Compreendi que procedia de
mestres de vidas anteriores, que invisivelmente guiavam meus passos. Havia
outro significado ainda, mas não se pode revelar completamente a essência de
um amuleto. 6
6. O amuleto era um objeto produzido astralmente. De estrutura evanescente, tais objetos
precisam um dia desaparecer do nosso mundo físico. (Ver capítulo 43.)
Inscrito no talismã havia um mantra ou letra de um cântico sagrado. Em nenhuma outra parte os
poderes do som e de vach, a voz humana, foram tão profundamente pesquisados quanto na
Índia. A vibração de Om que reverbera em todo o universo (o “Verbo” ou “voz de muitas águas”
da Bíblia) tem três manifestações ou gunas: criação, preservação e destruição (Taittirya
Upanishad 1:8). Sempre que o homem pronuncia uma palavra, aciona uma das três qualidades
de Om. Esta lei está por trás do mandamento que, em todas as Escrituras, diz que o homem
deve falar a verdade.
O mantra sânscrito inscrito no amuleto, quando pronunciado de modo correto, possuía uma
potência vibratória espiritualmente benéfica. O alfabeto sânscrito, de construção ideal,
compreende 50 letras, tendo cada qual uma pronúncia determinada, fixa. George Bernard Shaw
escreveu um ensaio sagaz e, logicamente, satírico sobre a inadequação fonética do alfabeto
inglês de base latina, no qual 26 letras se esforçam para carregar, sem êxito, o pesado fardo do
som. Com sua habitual impiedade (“Se a apresentação de um alfabeto inglês, para o idioma
inglês, custar uma guerra civil [...] não o lamentarei.”), o Sr. Shaw insistia na adoção de um novo
alfabeto de 42 letras (ver seu prefácio ao livro de Wilson, The Miraculous Birth of Language,
Philosophical Library, N. Y.). Semelhante alfabeto se aproximaria da perfeição fonética do
sânscrito, cujo emprego de 50 letras evita erros de pronúncia.
A descoberta de sinetes no vale do rio Indo está levando vários estudiosos a abandonar a teoria
de que a Índia tomou seu alfabeto sânscrito “emprestado” de fontes semíticas. Algumas grandes
cidades hindus foram recentemente escavadas em Mohenjo-Daro e Harappa, fornecendo provas
de uma cultura eminente que “deve ter tido uma longa história anterior no solo da Índia, pois nos
faz retroceder a eras suspeitadas apenas obscuramente” (Sir John Marshall, Mohenjo-Daro and
the Indus Civilization, 1931).
Se a teoria hindu da grande antiguidade da existência do homem civilizado no planeta estiver
correta, torna-se possível explicar por que a mais antiga língua do mundo, o sânscrito, é também
a mais perfeita. (Ver nota da página 90.) Sir William Jones, fundador da Asiatic Society, disse:
“O sânscrito, seja qual for a sua antiguidade, possui maravilhosa estrutura. É mais perfeito que
o grego, mais rico que o latim e mais primorosamente refinado que qualquer dos dois.”
E afirma a Encyclopedia Americana: “Desde o ressurgimento dos estudos clássicos não houve
acontecimento mais importante na história da cultura que a descoberta do sânscrito [por
estudiosos ocidentais] no final do século 18. A linguística, a gramática comparada, a mitologia
comparada e a ciência da religião (...) ou devem sua própria existência à descoberta do sânscrito
ou foram profundamente influenciadas por seu estudo.”
Como o talismã afinal desapareceu em meio a circunstâncias profundamente
infelizes de minha vida, e como a sua perda foi o arauto da chegada de um guru,
não será contado neste capítulo.
O menininho, frustrado em suas tentativas de chegar ao Himalaia, apesar disso
viajava para longe, todos os dias, nas asas de seu amuleto.
Yoganandaji (em pé), quando estudante secundário,
com Ananta, seu irmão mais velho.
A irmã mais velha, Roma (à esquerda), e Nalini, irmã mais nova,
com Paramahansa Yogananda, na casa em que ele morou
na juventude, em Calcutá, 1935.
Uma, segunda irmã mais velha de Yoganandaji,
quando menina, em Gorakhpur.
3
O Santo de Dois Corpos
— PAPAI, SE EU PROMETER VOLTAR PARA CASA DE LIVRE e espontânea
vontade, poderei fazer uma excursão a Benares?
Meu pai raramente punha obstáculos ao meu acentuado amor por viagens.
Permitiu-me, ainda menino, visitar muitas cidades e lugares de peregrinação. Em
geral, um ou dois amigos me acompanhavam; viajávamos confortavelmente com
passes de primeira classe, fornecidos por papai. Sua posição de alto funcionário
na ferrovia era bastante satisfatória para os nômades da família.
Papai prometeu estudar meu pedido. No dia seguinte, chamou-me e deu-me
uma passagem de ida e volta de Bareilly a Benares, algumas notas de rupias e
duas cartas.
— Tenho um negócio a propor a um amigo em Benares, Kedar Nath Babu.
Infelizmente perdi seu endereço, mas acredito que você poderá lhe entregar esta
carta por intermédio de nosso amigo em comum, Swami Pranabananda. Esse
swami, que é meu condiscípulo, alcançou elevada estatura espiritual. A
companhia dele lhe será benéfica; esta segunda carta lhe servirá de
apresentação.
Piscando um olho, papai acrescentou:
— Lembre-se, nada de fugir de casa novamente!
Parti com o entusiasmo de meus doze anos (embora a idade nunca tenha
diminuído meu prazer em ver novas paisagens e rostos desconhecidos). Ao
chegar a Benares me dirigi imediatamente à residência do swami. A porta de
entrada estava aberta; subi a um quarto, longo como um corredor, no segundo
andar. Um homem robusto, usando apenas uma tanga, estava sentado em
posição de lótus, numa plataforma pouco acima do chão. Sua cabeça tinha sido
raspada e a face sem rugas, barbeada; um sorriso de beatitude pairava em seus
lábios. Para banir meu pensamento de estar sendo um intruso, cumprimentou-
me como a um velho amigo.
— Baba anand (bem-aventurança para o meu querido). — Suas boas-vindas
foram expressas calorosamente, com voz infantil. Ajoelhei-me e toquei-lhe os
pés.
— O senhor é Swami Pranabananda?
Ele moveu a cabeça afirmativamente. — Você é o filho de Bhagabati? — Suas
palavras foram ditas antes que eu tivesse tempo de retirar do bolso a carta de
papai. Espantado, estendi-lhe a carta de apresentação, que agora parecia
supérflua.
— Naturalmente localizarei Kedar Nath Babu para você. — O santo de novo me
surpreendeu por sua clarividência. Passou os olhos pela carta e fez algumas
referências afetuosas a meu pai.
— Sabe, estou desfrutando duas aposentadorias. Uma, por recomendação de
seu pai, para quem já trabalhei na ferrovia. Outra, por recomendação de meu Pai
Celestial, para quem terminei conscientemente meus deveres terrenos nesta
vida.
Achei muito obscura esta última frase. — Senhor, que tipo de aposentadoria
recebe do Pai Celestial? Ele atira dinheiro no seu colo?
O swami riu. — Refiro-me a uma aposentadoria de paz insondável, recompensa
por muitos anos de meditação profunda. Agora não anseio mais por dinheiro. A
satisfação de minhas escassas necessidades materiais está sobejamente
garantida. No futuro você entenderá o significado de uma segunda
aposentadoria.
Terminando a conversa de repente, o santo imobilizou-se, sério. Um ar de
esfinge o envolveu. A princípio, seus olhos brilharam como se observassem algo
interessante, depois se tornaram opacos. Seu mutismo deixou-me
desconcertado; ele ainda não havia dito como eu poderia encontrar o amigo de
papai. Um tanto inquieto, circunvaguei o olhar pelo quarto vazio; exceto por nós,
estava deserto. Meus olhos errantes pousaram em suas sandálias de madeira,
que estavam sob o estrado.
— Senhorzinho, 1 não se preocupe. O homem que gostaria de ver estará aqui
em meia hora. — O iogue estava lendo meu pensamento; um feito não muito
difícil naquele momento!
1. Alguns santos indianos usavam a expressão Choto Mahasaya ao se dirigirem a mim. Ela
significa “senhorzinho” (little sir).
Novamente ele se interiorizou num silêncio impenetrável. Quando meu relógio
indicou a passagem de trinta minutos, o swami saiu de seu silêncio.
— Acho que Kedar Nath Babu está se aproximando da porta — disse ele.
Ouvi alguém subindo as escadas. Um misto de incompreensão e espanto surgiu
em mim; meus pensamentos voavam, confusos. “Como é possível que o amigo
de meu pai tenha sido chamado aqui sem o auxílio de um mensageiro? Desde
que cheguei, o swami só falou comigo!”
Sem cerimônia, abandonei o quarto e desci a escada. A meio caminho encontrei
um homem magro, de pele clara e de média estatura. Parecia estar com pressa.
— O senhor é Kedar Nath Babu? — A agitação dava colorido à minha voz.
— Sim. E você não é o filho de Bhagabati que está esperando por mim? — ele
sorriu amigavelmente.
— Senhor, como lhe ocorreu vir aqui? — Eu sentia frustração e ressentimento
por não poder explicar sua presença.
— Hoje tudo é misterioso! Há menos de uma hora, eu estava saindo do banho
no Ganges quando Swami Pranabananda se aproximou. Não tenho a menor
ideia de como soube que eu me achava ali àquela hora.
— Ele me disse: “O filho de Bhagabati está à sua espera em meu apartamento.
Pode vir comigo?” Concordei alegremente. Caminhamos lado a lado, mas o
estranho é que o swami, com suas sandálias de madeira, tomou a dianteira,
apesar de eu estar calçando estes sapatos resistentes.
— “Quanto tempo levará para chegar à minha casa?” Pranabananda parou de
súbito para fazer-me esta pergunta.
— “Cerca de meia hora.”
— Ele me olhou enigmaticamente. “Tenho outra coisa para fazer agora, vou
deixá-lo para trás. Nós nos encontraremos em minha casa, onde o filho de
Bhagabati e eu estaremos à sua espera.”
— Antes que eu pudesse responder, ele passou por mim velozmente e
desapareceu entre a multidão. Vim para cá o mais depressa possível.
Esta explicação apenas aumentou meu assombro. Perguntei há quanto tempo
ele conhecia o swami.
— Nós nos encontramos algumas vezes no ano passado, mas não
recentemente. Foi com prazer que o revi no ghat de banhos esta manhã.
— Não posso crer no que ouço! Estarei ficando louco? O senhor encontrou
Pranabananda numa visão ou realmente o viu, tocou-lhe a mão e escutou o ruído
de seus passos?
— Não sei onde está querendo chegar! — Ele ficou rubro de indignação. — Não
estou mentindo. Não pode compreender que só por intermédio do swami eu
poderia ter sabido que você me esperava aqui?
— Pois eu lhe asseguro que esse homem, Swami Pranabananda, não se afastou
de minha vista um só instante desde que entrei aqui há uma hora. — Contei-lhe
toda a história, repetindo a conversa que tivera com o swami.
Ele arregalou os olhos. — Estamos vivendo nesta era materialista ou estamos
sonhando? Nunca esperei testemunhar tal milagre em minha vida! Julguei que o
swami era apenas um homem comum e agora descubro que pode materializar
um corpo extra e agir com ele! — Entramos juntos no quarto do santo. Kedar
Nath Babu apontou com o dedo para o calçado sob o estrado.
— Olhe, são as mesmas sandálias que ele usava no ghat — segredou-me. — E
vestia apenas uma tanga, exatamente como agora.
Quando o visitante se inclinou diante dele, o santo voltou-se para mim com um
sorriso divertido.
— Por que se espanta com tudo isso? A sutil unidade do mundo dos fenômenos
não se acha oculta aos verdadeiros iogues. Eu vejo e converso
instantaneamente com meus discípulos na distante Calcutá. Eles também
podem transcender à vontade qualquer obstáculo de matéria densa.
Foi provavelmente para avivar o ardor espiritual em meu jovem peito que o
swami condescendeu em falar-me de seus poderes de rádio e televisão astrais.
2 Mas, em vez de entusiasmo, senti apenas terror. Talvez porque eu estivesse
destinado a empreender minha busca divina sob a orientação de determinado
guru — Sri Yukteswar, a quem ainda não havia encontrado — não me senti
disposto a aceitar Pranabananda como meu instrutor. Olhei-o com desconfiança,
conjeturando se era ele ou seu segundo corpo o que eu tinha à minha frente.
2. A ciência física está, por seus próprios métodos, confirmando a validade de leis descobertas
pelos iogues por meio da ciência mental. Por exemplo, na Universidade de Roma, em 26 de
novembro de 1934, foi demonstrado que o homem possui poderes de clarividência. “O Dr.
Giuseppe Calligaris, professor de neuropsicologia, comprimiu certas partes do corpo de um
indivíduo, que descreveu minuciosamente pessoas e objetos situados atrás de uma parede. O
Dr. Calligaris disse aos outros professores que quando certas áreas da pele são estimuladas a
pessoa adquire percepção extrassensorial, tornando-se capaz de ver objetos que, de outra
maneira, não poderia perceber. Para fazer o indivíduo discernir objetos situados atrás de uma
parede, o Dr. Calligaris comprimiu um ponto no lado direito do tórax durante quinze minutos.
Afirmou o Dr. Calligaris que quando certos pontos do corpo são estimulados as pessoas podem
ver objetos a qualquer distância, mesmo no caso de nunca terem visto tais objetos antes.”
O mestre procurou dissipar minha inquietude lançando-me um olhar de alento
espiritual e dizendo algumas palavras inspiradoras sobre seu guru.
— Lahiri Mahasaya foi o maior iogue que conheci. Ele era a própria Divindade
revestida de carne.
Se um discípulo, refleti, pode materializar uma forma carnal extra à vontade, que
milagres não estarão ao alcance de seu mestre?
— Vou lhe dar uma ideia do quanto é inestimável a ajuda de um guru. Eu
costumava meditar com outro discípulo durante oito horas, todas as noites.
Tínhamos de trabalhar no escritório da ferrovia durante o dia. Eu desejava
dedicar todo o meu tempo a Deus, e tinha dificuldade em cumprir meus deveres
diurnos. Durante oito anos perseverei, meditando metade da noite. Obtive
maravilhosos resultados; tremendas percepções espirituais me iluminaram a
mente. Mas sempre um véu delgado persistia entre mim e o Infinito. Mesmo
fazendo esforços sobre-humanos, a união irrevogável e final me era negada.
Certa noite, fiz uma visita a Lahiri Mahasaya e supliquei sua divina intercessão.
Continuei a importuná-lo a noite toda.
— “Angélico guru, minha angústia espiritual é tanta que não posso mais suportar
a vida sem ver o Bem-amado Supremo face a face!”
— “Que posso fazer? Você precisa meditar mais profundamente.”
— “Estou apelando a Ti, ó Deus meu Mestre! Vejo-Te materializado à minha
frente em corpo físico; abençoa-me para que Te possa perceber em Teu aspecto
infinito!”
— Lahiri Mahasaya estendeu a mão num gesto afável: “Agora você pode ir e
meditar. Intercedi por você junto a Brahma.” 3
3. Deus em Seu aspecto de Criador, da raiz sânscrita brih, expandir. Quando o poema “Brahma”,
de Emerson, foi publicado no Atlantic Monthly em 1857, a maioria dos leitores escandalizou-se.
Emerson riu ironicamente: “Digam Jeová em lugar de Brahma e não sentirão perplexidade
alguma.”
— Em estado de elevação incomensurável, voltei para casa. Ao meditar, naquela
mesma noite, alcancei o ardente Ideal de minha vida. Agora desfruto
incessantemente da aposentadoria espiritual. Desde aquele dia o Criador
Beatífico nunca mais ficou oculto de meus olhos por trás do véu da ilusão.
A face de Pranabananda irradiava luz divina. A paz de um outro mundo penetrou
em meu coração; todo o medo voara para longe. O santo fez ainda outra
confidência:
— Alguns meses depois voltei a visitar Lahiri Mahasaya e tentei agradecer por
me haver concedido a dádiva infinita. Na mesma ocasião mencionei outro
problema.
— “Guru divino, não posso mais trabalhar no escritório. Por favor, liberte-me.
Brahma me mantém constantemente inebriado.”
— “Peça sua aposentadoria à Estrada de Ferro.”
— “Que razão invocarei, se tenho poucos anos de serviço?”
— “Diga o que sente.”
— No dia seguinte fiz o requerimento. O médico procurou saber que fundamento
havia para a solicitação prematura.
— “Durante o trabalho experimento uma sensação avassaladora subindo pela
espinha dorsal, permeando meu corpo inteiro e me incapacitando para o
cumprimento dos deveres.” 4
4. Em meditação profunda, a primeira experiência do Espírito é percebida no altar da espinha
dorsal e depois no cérebro. Uma torrente de bem-aventurança domina o iogue, mas ele aprende
a controlar suas manifestações exteriores.
Na época de nosso encontro, Pranabananda era, de fato, um mestre plenamente iluminado. Mas
os últimos anos de sua vida profissional haviam ocorrido muito antes, quando ele ainda não se
estabelecera irrevogavelmente em nirbikalpa samadhi (ver página 249 e nota da página 435).
Nesse perfeito e imutável estado de consciência, o iogue não encontra dificuldade em
desempenhar seus deveres mundanos.
Depois que se aposentou, Pranabananda escreveu Pranab Gita, profundo comentário sobre o
Bhagavad Gita, publicado em híndi e bengali.
O poder de aparecer em mais de um corpo é um siddhi (poder iogue) mencionado nos Yoga
Sutras de Patânjali (ver nota da página 238). É o fenômeno da bilocação, registrado na vida de
muitos santos através dos séculos. A. P. Schimberg, em The Story of Therese Neumann (Bruce
Public Co.), descreve diversas ocasiões em que essa santa cristã apareceu a pessoas distantes
que necessitavam de sua ajuda e com elas conversou.
— Sem mais perguntas, o médico me fez alta recomendação para a
aposentadoria, que recebi sem demora. Sei que a vontade divina de Lahiri
Mahasaya operou através do médico e dos chefes da ferrovia, seu pai inclusive.
Eles obedeceram automaticamente à direção espiritual do grande guru e me
deixaram livre para uma vida de ininterrupta comunhão com o Bem-amado.
Depois dessa extraordinária revelação, Swami Pranabananda mergulhou num
de seus longos silêncios. Quando me despedi, tocando-lhe os pés com
reverência, ele me deu sua bênção.
— Sua vida pertence à senda da renúncia e da yoga. Um dia ainda o verei
juntamente com seu pai. — Os anos trouxeram a confirmação destas duas
previsões. 5
5. Ver capítulo 27.
Kedar Nath Babu caminhava a meu lado na escuridão crescente. Entreguei-lhe
a carta de meu pai e meu companheiro a leu sob um lampião da rua.
— Seu pai sugere que eu aceite um emprego no escritório da ferrovia em
Calcutá. Que agradável é a perspectiva de ter pelo menos uma das
aposentadorias de que goza Swami Pranabananda! Mas é impossível; não
posso sair de Benares. Infelizmente, ainda não tenho dois corpos!
SWAMI PRANABANANDA
“O santo de dois corpos” de Benares
4
Minha Fuga Interrompida
Rumo ao Himalaia
— ABANDONE A SALA DE AULA ARRANJANDO algum pretexto fútil e alugue
um coche. Pare na travessa lateral, onde ninguém de minha casa possa ver
você.
Estas foram minhas instruções finais a Amar Mitter, colega da escola secundária
que tinha planejado me acompanhar ao Himalaia. Havíamos escolhido o dia
seguinte para a fuga. Era necessário tomar precauções, pois meu irmão Ananta
exercia vigilância rigorosa. Ele decidira frustrar todos os planos de fuga que
suspeitava predominarem em meus pensamentos. Como fermento espiritual, o
amuleto trabalhava silenciosamente dentro de mim. Eu esperava encontrar, em
meio às neves do Himalaia, o mestre cuja face muitas vezes me aparecia em
visões.
Minha família estava morando em Calcutá, para onde papai fora definitivamente
transferido. Seguindo o costume patriarcal indiano, Ananta trouxera sua esposa
para viver em nossa casa. Num quartinho do sótão, eu me entregava a
meditações diárias, preparando minha mente para a busca divina.
A memorável manhã chegou com uma chuva pouco auspiciosa. Ouvindo as
rodas do coche de Amar na rua, embrulhei precipitadamente um cobertor, um
par de sandálias, duas tangas, um colar de contas de oração, a fotografia de
Lahiri Mahasaya e um exemplar do Bhagavad Gita. Atirei o embrulho pela janela
do terceiro andar, desci as escadas correndo e passei por meu tio, que estava
comprando peixe à porta.
— Que agitação é essa? — Seu olhar me examinou cheio de suspeita.
Sorri com ar inocente e caminhei até a viela. Apanhando meu embrulho, reuni-
me a Amar com a cautela de um conspirador. Dirigimo-nos para Chandni Chauk,
zona comercial da cidade. Durante meses havíamos economizado o dinheiro do
lanche para comprar roupas inglesas. Sabendo que meu esperto irmão
desempenharia facilmente o papel de detetive, pensamos em despistá-lo
disfarçados em trajes europeus.
Em nosso caminho para a estação, paramos para apanhar meu primo, Jotin
Ghosh, a quem eu chamava de Jatinda. Ele era um recém-convertido, que
suspirava por um guru no Himalaia. Vestiu a nova roupa que lhe tínhamos
reservado. Bem camuflados, assim esperávamos! Profunda euforia dominava o
nosso coração.
— Agora só nos faltam sapatos de lona. — Levei meus companheiros a uma loja
onde estavam expostos calçados com sola de borracha. — Artigos de couro,
obtidos pela matança de animais, não devem ser usados nesta santa viagem. —
Detive-me na rua para remover a capa de couro de meu Bhagavad Gita e as
correias de couro de meu sola topi (capacete) de manufatura inglesa.
Na estação, compramos passagens para Burdwan, de onde planejávamos
baldear para Hardwar, no sopé do Himalaia. Assim que o trem, como nós, se pôs
em fuga, dei rédea solta a algumas de minhas gloriosas previsões, antegozando-
as.
— Imaginem só! — exclamei. — Seremos iniciados pelos mestres e
experimentaremos o transe da consciência cósmica. Nossos corpos se
carregarão de tal magnetismo que os animais selvagens do Himalaia se
aproximarão mansamente de nós. Os tigres não passarão de dóceis gatos
caseiros, à espera de nossas carícias!
Este comentário — que delineava perspectivas fascinantes, tanto metafórica
quanto literalmente — produziu um sorriso entusiástico em Amar. Jatinda,
porém, desviou o olhar e, pela janela, dirigiu-o para a paisagem que passava
rapidamente.
— Vamos dividir o dinheiro em três partes. — Jatinda quebrou um longo silêncio
com esta sugestão. — Cada um de nós deve comprar sua própria passagem em
Burdwan. Assim, ninguém na estação desconfiará que estamos fugindo juntos.
Sem de nada suspeitar, concordei. Ao anoitecer, nosso trem parou em Burdwan.
Jatinda foi ao guichê de passagens; Amar e eu nos sentamos na plataforma.
Esperamos quinze minutos; depois, infrutiferamente, inquirimos sobre seu
paradeiro. Procurando por todos os lados, gritávamos o nome de Jatinda com a
urgência do pavor. Mas ele se esfumara nos desconhecidos e obscuros
arredores da pequena estação.
Fiquei completamente abatido, num estado de choque próximo do torpor. Não
acreditava que Deus pudesse aprovar um incidente tão deprimente! Minha
romântica fuga em direção a Ele, a primeira cuidadosamente planejada,
redundara em perda cruel.
— Amar, precisamos voltar para casa. — Eu chorava feito criança. — O adeus
empedernido de Jatinda é um mau presságio. Esta viagem se destina ao
fracasso.
— É esse o seu amor pelo Senhor? Não pode suportar o pequeno teste da
traição de um companheiro?
Graças à possibilidade sugerida por Amar, de que se tratava de teste divino, meu
coração se acalmou. Logo nos refizemos com os famosos doces de Burdwan,
sitabhog (manjar para a deusa) e motichur (pepitas de pérola doce). Poucas
horas depois, tomamos o trem para Hardwar, via Bareilly. Fazendo a baldeação
no dia seguinte em Moghul Serai, discutimos um assunto vital enquanto
esperávamos na plataforma.
— Amar, logo poderemos ser interrogados pelos funcionários da ferrovia. Não
vou subestimar a argúcia de meu irmão! Aconteça o que acontecer, não direi
uma só mentira.
— Só lhe peço, Mukunda, que não fale. Não ria e não faça um gesto enquanto
eu falar.
Neste momento, um funcionário europeu da estação se aproximou de mim. Ele
sacudia um telegrama, cujo conteúdo adivinhei imediatamente.
— Estão fugindo de casa contrariados?
— Não! — Fiquei satisfeito por sua escolha de palavras me permitir esta resposta
enfática. Não era a contrariedade, porém a “mais divina saudade”, a responsável
por meu comportamento nada convencional.
O funcionário voltou-se para Amar. O duelo de sutil inteligência que sustentaram
quase me impediu de manter a estoica gravidade aconselhada.
— Onde está o terceiro jovem? — O homem imprimiu um selo de plena
autoridade em sua voz. — Vamos, diga a verdade.
— Senhor, noto que usa óculos. Não pode ver que somos apenas dois? — Amar
sorriu descaradamente. — Não sou mágico, não posso fazer aparecer um
terceiro rapaz.
O funcionário, visivelmente desconcertado com essa impertinência, procurou
outra área vulnerável.
— Qual é o seu nome?
— Chamam-me de Thomas. Sou filho de mãe inglesa e pai indiano convertido
ao cristianismo.
— Qual é o nome de seu amigo?
— Eu o chamo de Thompson.
Nesta altura, minha hilaridade interior tinha atingido o auge. Sem a menor
cerimônia, caminhei para o trem, que providencialmente dava o apito de partida.
Amar veio atrás, acompanhado pelo funcionário, que se tornara crédulo e
obsequioso a ponto de nos alojar em um compartimento reservado a europeus.
Evidentemente lhe doía ver dois jovens de sangue parcialmente inglês viajarem
numa seção destinada aos indianos. Quando se despediu cortesmente, reclinei-
me para trás, no assento, em gargalhadas incontroláveis. O semblante de Amar
expressava incontida satisfação por haver logrado um funcionário europeu
veterano.
Na plataforma, eu dera um jeito de ler o telegrama. Era de meu irmão Ananta e
dizia: “Três jovens bengalis vestidos à inglesa fogem de casa para Hardwar via
Moghul Serai. Favor detê-los até minha chegada. Ampla recompensa por seus
serviços.”
— Amar, eu o preveni que não deixasse em sua casa itinerários marcados. —
Meu olhar era de censura. — Meu irmão deve ter encontrado algum desses
papéis.
Como um cordeiro, meu amigo admitiu sua falta. Paramos brevemente em
Bareilly, onde Dwarka Prasad 1 esperava por nós com um telegrama de Ananta.
Dwarka tentou valentemente nos deter. Convenci-o de que nossa fuga não fora
empreendida por motivos fúteis. Como acontecera em ocasião anterior, Dwarka
recusou meu convite de partir para o Himalaia.
1. Mencionado na página 18.
Enquanto, à noite, nosso trem se detinha numa estação e eu cochilava, Amar foi
acordado por outro funcionário inquiridor. Também este foi vítima do híbrido
encantamento de “Thomas e Thompson”. O trem nos levou a uma chegada
triunfal em Hardwar ao nascer do sol. As majestosas montanhas assomavam
convidativas à distância. Como um raio, atravessamos a estação e entramos na
liberdade das multidões citadinas. Nosso primeiro ato foi mudar a roupa para
trajes indianos, pois Ananta, de algum modo, havia descoberto nosso disfarce
europeu. Uma premonição de captura me pesava na cabeça.
Reconhecendo que seria prudente sair logo de Hardwar, compramos passagens
para prosseguir em direção ao norte, até Rishikesh, terra santificada pelos pés
de muitos mestres desde épocas remotas. Eu já tinha subido ao trem. Mas Amar,
que se atrasou na plataforma, foi pego de surpresa pelo grito de um policial. Esse
indesejado vigilante escoltou-nos até a delegacia de polícia e confiscou nosso
dinheiro. Cortesmente explicou que era seu dever reter-nos até a chegada de
meu irmão mais velho.
Ao saber que nosso destino de fugitivos era o Himalaia, o policial relatou uma
estranha história.
— Vejo que são alucinados por santos! Nunca, porém, encontrarão maior
homem de Deus do que um santo com quem estive ainda ontem. Um colega
policial e eu o vimos pela primeira vez há cinco dias. Patrulhávamos o Ganges
em caçada feroz a um assassino. Tínhamos ordem de capturá-lo, vivo ou morto.
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  • 5. O Legado Espiritual de Paramahansa Yogananda Todos os seus escritos, conferências e palestras informais Paramahansa Yogananda fundou a Self-Realization Fellowship em 1920, para disseminar seus ensinamentos em escala mundial e preservar-lhes a pureza e a integridade para futuras gerações. Conferencista e escritor prolífico, desde seus primeiros anos nos Estados Unidos ele produziu um compêndio reputado e volumoso sobre a ciência da meditação iogue, a arte da vida equilibrada e a unidade fundamental de todas as grandes religiões. Hoje, esse legado espiritual, único e extenso, mantém-se vivo, inspirando milhões de buscadores da verdade no mundo inteiro. De acordo com os desejos expressos do grande mestre, a Self-Realization Fellowship tem dado prosseguimento à permanente tarefa de divulgar e manter sempre publicadas “As Obras Completas de Paramahansa Yogananda”, que incluem não apenas as edições finais de todos os livros que ele publicou em vida, mas também muitos novos títulos que permaneciam inéditos na época de seu falecimento, em 1952, ou que durante anos foram publicados em série, mas de forma incompleta, na revista da Self-Realization Fellowship, e ainda centenas de conferências e palestras informais profundamente inspiradoras, que foram gravadas, mas não impressas, antes de sua morte. Paramahansa Yogananda pessoalmente escolheu e instruiu seus discípulos imediatos que dirigem o Conselho de Publicações da Self-Realization Fellowship e lhes deu diretrizes específicas para a preparação e publicação de seus ensinamentos. Os membros do Conselho de Publicações da SRF (monges e monjas que fizeram votos vitalícios de renúncia e serviço altruísta) zelam por essas diretrizes como um patrimônio sagrado, a fim de que a mensagem universal desse bem-amado instrutor de todo o mundo se mantenha viva com a força e a autenticidade originais. O emblema da Self-Realization Fellowship (mostrado na página anterior) foi criado por Paramahansa Yogananda para identificar a sociedade sem fins lucrativos que ele fundou como a fonte autorizada de seus ensinamentos. O nome e o emblema da SRF aparecem em todas as publicações e gravações da Self-Realization Fellowship, garantindo ao leitor que o trabalho vem da
  • 6. organização fundada por Paramahansa Yogananda e transmite seus ensinamentos do modo como ele próprio idealizou. SELF-REALIZATION FELLOWSHIP
  • 7. Dedicada à memória de LUTHER BURBANK “Um santo americano”
  • 8. Sou profundamente reconhecido à Srta. L.V. Pratt [Tara Mata] por seu longo trabalho editorial no manuscrito deste livro. Devo meus agradecimentos também ao Sr. C. Richard Wright pela permissão de usar trechos de seu diário de viagem pela Índia. Ao Dr. W.Y. Evans-Wentz sou grato não apenas por seu Prefácio, mas também por sugestões e incentivo. PARAMAHANSA YOGANANDA 28 de outubro de 1945
  • 9. Sumário Prefácio por W.Y. Evans-Wentz Introdução 1 — Meus Pais e Minha Infância 2 — A Morte de Minha Mãe e o Amuleto Místico 3 — O Santo de Dois Corpos 4 — Minha Fuga Interrompida Rumo ao Himalaia 5 — Um “Santo dos Perfumes” Exibe Seus Prodígios 6 — O Swami Tigre 7 — O Santo Que Levita 8 — Jagadis Chandra Bose, Grande Cientista da Índia 9 — O Devoto Bem-aventurado e Seu Romance Cósmico 10 — Encontro Meu Mestre, Sri Yukteswar 11 — Dois Jovens Sem Dinheiro em Brindaban 12 — Anos no Eremitério de Meu Mestre 13 — O Santo Que Não Dorme 14 — Uma Experiência em Consciência Cósmica 15 — O Roubo da Couve-Flor 16 — Mais Esperto Que os Astros 17 — Sasi e as Três Safiras 18 — Um Muçulmano Autor de Prodígios 19 — Meu Mestre, em Calcutá, Aparece em Serampore 20 — Não Visitamos a Caxemira 21 — Visitamos a Caxemira 22 — O Coração de uma Imagem de Pedra
  • 10. 23 — Recebo o Diploma Universitário 24 — Eu Me Torno Monge da Ordem dos Swamis 25 — Meu Irmão Ananta e Minha Irmã Nalini 26 — A Ciência da Kriya Yoga 27 — Fundação de uma Escola de Yoga em Ranchi 28 — Renascimento e Descoberta de Kashi 29 — Rabindranath Tagore e Eu Comparamos Sistemas de Educação 30 — A Lei dos Milagres 31 — Uma Entrevista com a Mãe Sagrada 32 — Rama é Ressuscitado 33 — Babaji, o Cristo-Iogue da Índia Moderna 34 — Materialização de um Palácio no Himalaia 35 — A Vida Crística de Lahiri Mahasaya 36 — Interesse de Babaji pelo Ocidente 37 — Vou à América 38 — Luther Burbank — um Santo entre as Rosas 39 — Teresa Neumann, a Estigmatizada Católica 40 — Volto para a Índia 41 — Idílio na Índia Meridional 42 — Últimos Dias com Meu Guru 43 — A Ressurreição de Sri Yukteswar 44 — Com Mahatma Gandhi em Wardha 45 — A “Mãe Impregnada de Alegria” de Bengala 46 — A Mulher Iogue Que Nunca Se Alimenta 47 — Volto para o Ocidente 48 — Em Encinitas, na Califórnia 49 — O Período de 1940 a 1951 Paramahansa Yogananda: um iogue na vida e na morte Selo comemorativo emitido pelo governo indiano em honra de Paramahansa Yogananda
  • 11. A Linhagem de Gurus Objetivos e Ideais da Self-Realization Fellowship Índice Remissivo
  • 12. Prefácio W.Y. Evans-Wentz, M.A., D. Litt., D.Sc. Jesus College, Oxford, Inglaterra Autor e tradutor de muitos clássicos sobre yoga e sobre a tradicional sabedoria do Oriente, incluindo: A ioga tibetana e as doutrinas secretas, Milarepa: história de um iogue tibetano, O livro tibetano dos mortos. O valor da Autobiografia de Yogananda é acentuado pelo fato de ser um dos poucos livros em inglês sobre os sábios da Índia escrito não por um jornalista ou um estrangeiro, mas por alguém de sua própria categoria e treinamento. Em resumo: um livro sobre iogues escrito por um iogue. Como relato de uma testemunha ocular das extraordinárias vidas e poderes dos santos hindus modernos, o livro tem ao mesmo tempo valor oportuno e intemporal. A seu ilustre autor, a quem tive o prazer de conhecer tanto na Índia quanto na América, podem os leitores render o merecido apreço e gratidão. Seu invulgar documento biográfico é certamente uma das maiores revelações até hoje publicadas no Ocidente sobre as profundezas da mente e do coração hindus e sobre a riqueza espiritual da Índia. Tive o privilégio de encontrar um dos sábios cuja vida é aqui narrada: Sri Yukteswar Giri. Um retrato do venerável santo apareceu no frontispício de meu livro A ioga tibetana e as doutrinas secretas. 1 Foi em Puri, Orissa, Golfo de Bengala, que conheci Sri Yukteswar. Ele dirigia, então, um tranquilo ashrama à beira-mar, ocupando-se principalmente do treinamento espiritual de um grupo de jovens discípulos. Expressou-me seu vivo interesse pelo bem-estar do povo dos Estados Unidos e das três Américas, assim como da Inglaterra, e perguntou-me sobre as atividades distantes, em especial na Califórnia, de Paramahansa Yogananda, seu principal discípulo, a quem muito amava e a quem tinha enviado como emissário ao Ocidente em 1920. 1. Editora Pensamento. Sri Yukteswar era de semblante e voz suaves, de presença agradável e digno da veneração que seus discípulos espontaneamente lhe tributavam. Quantos o conheceram, fossem ou não de sua comunidade, o tinham na mais alta estima. Recordo vividamente sua figura alta, ereta, ascética, envolta no hábito cor de açafrão dos que renunciaram às conquistas mundanas, de pé, à entrada do
  • 13. eremitério, para me receber. Seu cabelo era longo e ligeiramente ondulado, e a barba lhe emoldurava o rosto. O corpo, de musculatura firme, era delgado e de proporções harmoniosas; tinha enérgico o passo. Escolhera como residência terrena a cidade santa de Puri, onde multidões de piedosos hindus, representantes de todas as províncias da Índia vinham diariamente em peregrinação ao famoso templo de Jagannath, “Senhor do Mundo”. Foi em Puri, em 1936, que Sri Yukteswar fechou seus olhos mortais às cenas deste transitório estado do ser, com a consciência de que sua encarnação na Terra tinha sido levada a triunfal término. Registro, com verdadeira satisfação, este testemunho do nobre caráter e santidade de Sri Yukteswar. Contente de permanecer longe da multidão, ele entregou-se sem reservas e com tranquilidade à vida ideal que seu discípulo, Paramahansa Yogananda, descreve agora para as eras vindouras.
  • 14. Introdução “A experiência do encontro com Paramahansa Yogananda está gravada em minha memória como um dos acontecimentos inesquecíveis de minha vida. (...) Quando olhei para seu rosto, meus olhos foram quase cegados por um esplendor — uma luz de espiritualidade que, literalmente, dele se irradiava. Sua infinita suavidade e sua encantadora gentileza envolveram-me como um cálido raio de sol. (...) Pude ver que sua compreensão e sua percepção interior iam até o mais mundano dos problemas, apesar de ele ser um homem do Espírito. Nele encontrei um verdadeiro embaixador da Índia, sendo portador e divulgador da essência da antiga sabedoria indiana no mundo.” Dr. Binay R. Sen, ex-embaixador da Índia nos Estados Unidos Para todos os que conheceram Paramahansa Yogananda pessoalmente, sua vida e seu próprio ser eram um testemunho convincente do poder e da autenticidade da antiga sabedoria que ele apresentou ao mundo. Os inúmeros leitores de sua autobiografia atestam a presença, nas páginas do livro, da mesma luz de autoridade espiritual que irradiava de sua pessoa. Aclamado como obra-prima quando de seu lançamento há 60 anos, o livro não narra apenas a história de uma vida de inconfundível grandeza. É também uma fascinante introdução ao pensamento espiritual do Oriente — em especial da ciência invulgar da comunhão direta e pessoal com Deus — revelando ao público ocidental uma esfera de conhecimento até então acessível apenas a poucas pessoas. Hoje, a Autobiografia de um Iogue é reconhecida no mundo todo como um clássico da literatura espiritual. Nesta introdução gostaríamos de compartilhar um pouco da extraordinária história deste livro. * * * A materialização desta obra já havia sido profetizada há muito tempo. Lahiri Mahasaya, uma dentre as personalidades cruciais para o renascimento da yoga na época moderna, previu: “Aproximadamente cinquenta anos após a minha morte, um relato da minha vida será escrito em virtude do profundo interesse pela yoga que surgirá no Ocidente. A mensagem da yoga rodeará o globo. Ajudará a estabelecer a fraternidade entre os homens: uma unidade baseada na percepção direta do Pai Único.”
  • 15. Muitos anos mais tarde, Swami Sri Yukteswar, eminente discípulo de Lahiri Mahasaya, relatou esta profecia a Sri Yogananda. “Você precisa fazer a sua parte na divulgação dessa mensagem e no relato escrito dessa vida sagrada”, declarou. Foi em 1945, exatamente 50 anos após Lahiri Mahasaya ter abandonado seu corpo, que Paramahansa Yogananda terminou a Autobiografia de um Iogue, atendendo plenamente ambas as instruções de seu guru: fornecer a primeira apresentação detalhada, em inglês, da notável vida de Lahiri Mahasaya e introduzir a milenar ciência indiana da alma ao público mundial. * * * A criação da Autobiografia de um Iogue foi um projeto no qual Paramahansa Yogananda trabalhou por um período de vários anos. Sri Daya Mata, uma de suas primeiras e mais próximas discípulas, 1 relembra: 1. Sri Daya Mata (1914-2010) entrou para a comunidade monástica estabelecida por Paramahansa Yogananda em Mount Washington, com vista para a cidade de Los Angeles, em 1931. Ela ocupou o cargo de presidente da Self-Realization Fellowship/Yogoda Satsanga Society desde 1955 até seu falecimento, em 30 de novembro de 2010. “Quando vim para Mount Washington em 1931, Paramahansaji já tinha começado seu trabalho na Autobiografia. Uma vez, enquanto eu realizava algumas tarefas de escritório em seu estúdio, tive o privilégio de ver um dos primeiros capítulos que ele escreveu: o do ‘Swami Tigre’. Ele me pediu que o guardasse, explicando que faria parte de um livro que estava preparando. A maior parte do livro foi escrita mais tarde, entre 1937 e 1945.” De junho de 1935 a outubro de 1936, Sri Yogananda viajou pela Índia (passando pela Europa e pela Palestina) para estar com seu guru, Swami Sri Yukteswar, pela última vez. Enquanto na Índia, compilou muitos dados e fatos para a Autobiografia, bem como histórias sobre alguns dos santos e sábios que conhecera, cujas vidas ele descreveria de modo tão memorável no livro. “Nunca me esqueci do pedido de Sri Yukteswar para que eu escrevesse sobre a vida de Lahiri Mahasaya”, relatou posteriormente. “Durante minha permanência na Índia, aproveitei todas as oportunidades para entrar em contato com discípulos diretos e parentes do Yogavatar. Registrando suas declarações em volumosas anotações, eu verificava datas e fatos, reunia fotografias, cartas e documentos antigos.” Ao voltar aos Estados Unidos em fins de 1936, Sri Yogananda começou a passar a maior parte de seu tempo no eremitério que havia sido construído para ele em sua ausência, localizado em Encinitas, ao sul da costa californiana. Aquele lugar demonstrou ser ideal para a concentração necessária ao término do livro que havia sido iniciado alguns anos antes.
  • 16. “Ainda lembro vividamente os dias passados naquele pacífico eremitério à beira do mar”, relembra Daya Mata. “Yoganandaji tinha tantas outras responsabilidades e compromissos que não podia trabalhar diariamente na Autobiografia; mas geralmente dedicava as noites ao trabalho no livro, bem como qualquer momento livre de que dispusesse. Só no início de 1939 ou de 1940 é que conseguiu devotar tempo total ao livro. E era realmente tempo total — começava de madrugada e terminava de madrugada! Um pequeno grupo de discípulas — Tara Mata; minha irmã, Ananda Mata; Sraddha Mata e eu — estávamos presentes para ajudá-lo. Depois que cada parte era datilografada, ele a entregava a Tara Mata, que desempenhava a tarefa de revisora. “Que preciosas lembranças! Conforme escreveu, ele revivia interiormente as sagradas experiências que registrava. Seu propósito divino era compartilhar a alegria e as revelações encontradas na companhia de santos e de grandes mestres e na própria percepção pessoal de Deus. Com frequência fazia uma pausa, com o olhar voltado para cima e o corpo imóvel, arrebatado no estado de profunda comunhão com Deus denominado samadhi. O aposento inteiro enchia- se com uma aura de amor divino realmente poderosa. Para nós, discípulos, o simples fato de estarmos presentes nessas horas significava a elevação a um estado superior de consciência. “Finalmente, em 1945 chegou o jubiloso dia do término do livro. Paramahansaji escreveu as palavras finais: ‘Senhor, Tu deste a este monge uma grande família!’; então ele pousou a caneta na mesa e exclamou alegremente: ‘Tudo pronto; terminei. Este livro mudará a vida de milhões de pessoas. Será meu mensageiro quando eu não estiver mais aqui.’” * * * Tara Mata ficou então com a responsabilidade de encontrar uma casa editora. Paramahansa Yogananda conhecera Tara Mata em 1924, ao fazer uma série de palestras e aulas em San Francisco. Dona de rara percepção espiritual interna, ela tornou-se parte do pequeno círculo de discípulos mais avançados. Suas habilidades de compilação e redação eram tidas no mais alto apreço por Paramahansaji, que costumava dizer que ela possuía uma das mentes mais brilhantes que ele conhecia. Ele apreciava o vasto conhecimento dela e sua compreensão da sabedoria das escrituras indianas, observando em certa ocasião: “Com exceção de Sri Yukteswarji, meu grande guru, não há outra pessoa com quem mais apreciei conversar sobre filosofia indiana.” Tara Mata levou o manuscrito para Nova Iorque; mas encontrar uma editora não foi tarefa fácil. Como ocorre com frequência, a verdadeira envergadura de uma grande obra nem sempre é reconhecida pelas pessoas convencionais. Em razão do despertar da era atômica, havia uma ampliação da consciência coletiva humana, com a compreensão crescente da sutil unidade da matéria, energia e pensamento. Apesar disso, os editores daquela época não estavam preparados
  • 17. para capítulos como “Materialização de um palácio no Himalaia” e “O santo de dois corpos”! Durante um ano, Tara Mata viveu num pequeno apartamento parcamente mobiliado, sem calefação ou água quente, enquanto percorria as casas editoras. Finalmente, um dia pôde enviar um telegrama com boas notícias. A Philosophical Library, respeitada editora nova-iorquina, tinha aceitado publicar a Autobiografia. “É impossível tentar descrever o que Tara Mata fez pelo livro. Se não fosse por ela, o livro nunca teria ido adiante”, disse Sri Yogananda. Um pouco antes do Natal de 1946, os tão esperados livros chegaram a Mount Washington. * * * A obra foi saudada pelos leitores e pela imprensa mundial com uma torrente de elogios. “Jamais houve, em inglês ou qualquer outra língua europeia, algo como esta apresentação da yoga”, escreveu a Columbia University Press em sua publicação Review of Religions. O The New York Times proclamou: “Um raro relato.” A revista Newsweek registrou: “O livro de Yogananda é mais uma autobiografia da alma do que do corpo (...) É um estudo fascinante, comentado com clareza, de um modo de vida religioso, engenhosamente descrito no exuberante estilo oriental.” Seguem-se alguns trechos de vários outros comentários: San Francisco Chronicle: “Em estilo muito legível (...) Yogananda apresenta um caso convincente a favor da yoga, e os que ‘vieram para zombar’ talvez ‘fiquem para orar’.” United Press: “Yogananda faz uma exposição do que é conhecido como doutrinas esotéricas orientais com o máximo de franqueza e bom humor. Seu livro nos recompensa com o relato de uma vida plena de aventuras espirituais.” The Times of India: “A autobiografia deste sábio é uma leitura cativante.” Saturday Review: “(...) não deixará de impressionar e interessar o leitor ocidental.” Grandy’s Syndicated Book Reviews: “Envolvente, inspirador; uma ‘literaridade’!” West Coast Review of Books: “Sejam quais forem suas crenças religiosas, você encontrará na Autobiografia de um Iogue uma jubilosa afirmação do poder da alma humana. News-Sentinel, Fort Wayne, Indiana: “Revelação pura (...) relato intensamente humano (...) deve ajudar a raça humana a compreender-se melhor (...) uma autobiografia no melhor sentido (...) arrebatadora (...)
  • 18. contada com deliciosa sagacidade e com irresistível sinceridade (...) tão fascinante quanto qualquer romance.” Sheffield Telegraph, Inglaterra: “(...) uma obra monumental.” Com a tradução do livro em várias línguas, mais comentários surgiram em jornais e periódicos do mundo todo. Il Tempo del Lunedì, Roma: “Páginas que encantarão o leitor, porque apelam às aspirações e anseios latentes no coração de todos os homens.” China Weekly Review, Xangai: “O conteúdo do livro é incomum (...) especialmente para o cristão contemporâneo, que tem o cômodo hábito de relegar milagres aos séculos passados. (...) As passagens filosóficas são extremamente interessantes. Yogananda situa-se num plano espiritual que está acima das diferenças religiosas. (...) O livro vale muito ser lido.” Haagsche Post, Holanda: “(...) fragmentos de uma sabedoria tão profunda que ficamos fascinados, permanentemente comovidos.” Welt und Wort, publicação literária mensal da Alemanha: “Extremamente impressionante. (...) O singular valor da Autobiografia de um Iogue é que aqui, pela primeira vez, um iogue rompe o silêncio e conta suas experiências espirituais. Anteriormente, um relato deste tipo seria visto com ceticismo. Mas a situação atual do mundo é tal que somos obrigados a reconhecer o valor do livro. (...) O objetivo global do autor não é apresentar a yoga indiana em oposição aos ensinamentos cristãos, e sim aliado a eles — como companheiros caminhando juntos em direção ao mesmo objetivo grandioso.” Eleftheria, Grécia: “É um livro com o qual o leitor (...) verá seu horizonte de pensamentos expandido ao infinito e perceberá que seu coração é capaz de bater por todos os seres humanos, independentemente de cor ou raça. É o que se pode chamar de livro inspirado.” Neue Telta Zeitung, Áustria: “Uma das mensagens mais profundas e mais importantes deste século.” La Paz, Bolívia: “Dificilmente o leitor atual encontrará um livro tão belo, profundo e verdadeiro como a Autobiografia de um Iogue. (...) Pleno de conhecimento e rico em experiências pessoais. (...) Um dos capítulos mais deslumbrantes do livro é o que trata dos mistérios da vida além da morte física.” Schleswig-HoIsteinische Tagespost, Alemanha: “Com incomparável força e clareza, as páginas revelam uma vida fascinante, uma personalidade de tal grandeza inaudita, que o leitor fica mesmerizado do início ao fim. (...) É preciso creditar a essa importante biografia o poder de deflagrar uma revolução espiritual.” Uma segunda edição foi rapidamente preparada, e em 1951 uma terceira. Além de revisar e atualizar partes do texto, bem como eliminar passagens que
  • 19. descreviam atividades e planos da organização que já não se aplicavam, Paramahansa Yogananda acrescentou um último capítulo — um dos mais longos do livro — abrangendo o período 1940-1951. Numa nota de rodapé no novo capítulo, escreveu: “Muito material novo do capítulo 49 foi acrescentado na terceira edição do livro (1951). Respondo, neste capítulo, a várias perguntas sobre a Índia, a yoga e a filosofia védica.” 2 2. Outras revisões feitas por Paramahansa Yogananda foram incluídas na sétima edição (1956), conforme descrição na nota da editora daquele ano: “A edição americana de 1956 contém revisões feitas por Paramahansa Yogananda em 1949 para a publicação de seu livro em Londres, Inglaterra, além de revisões feitas pelo autor em 1951. Em ‘Nota da edição londrina’, datada de 25 de outubro de 1949, Paramahansa Yogananda escreveu: ‘Os ajustes para a edição londrina do livro deram-me a oportunidade de revisar e aumentar um pouco o texto. Além do novo material no último capítulo, acrescentei várias notas de rodapé, nas quais respondo a perguntas feitas pelos leitores da edição americana.’ “Revisões posteriores, feitas pelo autor em 1951, deveriam aparecer na quarta edição americana (1952). Naquela época, os direitos da Autobiografia de um Iogue pertenciam a uma casa editora de Nova Iorque. Em 1946, a editora tinha gravado todas as páginas do livro em eletrótipos. Em consequência deste processo, até o acréscimo de uma vírgula exige que a chapa de metal da página inteira seja cortada e ressoldada com a nova frase contendo a vírgula em questão. Devido aos custos envolvidos no processo de ressoldagem das chapas, a editora não incluiu na quarta edição as revisões feitas pelo autor em 1951. No final de 1953, a Self-Realization Fellowship (SRF) adquiriu da editora nova-iorquina todos os direitos da Autobiografia de um Iogue. A SRF reimprimiu o livro em 1954 e 1955 (quinta e sexta edições), mas durante esses anos outros compromissos impediram que o departamento de publicações da SRF assumisse a formidável tarefa de incorporar as revisões do autor aos clichês. Entretanto, o trabalho foi feito em tempo de ser incluído na sétima edição.” Depois de 1956 algumas outras revisões foram feitas de acordo com orientações que Paramahansa Yogananda tinha dado a Tara Mata antes de abandonar o corpo. As primeiras edições da Autobiografia de um Iogue apresentam o título do autor como “Paramhansa”, refletindo a habitual prática bengali de omitir da ortografia o a mudo ou semimudo. Para garantir que o significado sagrado do título baseado nos Vedas fosse transmitido, em edições posteriores usou-se a transliteração padrão do sânscrito: “Paramahansa”, de parama, “mais elevado ou supremo” e hansa, “cisne” — significando o ser que atingiu a mais elevada percepção do seu verdadeiro Eu, e da união deste Eu com o Espírito. * * * Sri Yogananda escreveu na Nota do Autor da edição de 1951: “Fiquei profundamente comovido ao receber cartas de milhares de leitores. Seus comentários e o fato de que o livro foi traduzido em muitas línguas dão-me incentivo para acreditar que o Ocidente encontrou nestas páginas uma resposta afirmativa à pergunta: ‘Pode a ciência da yoga ter lugar e valor significativo na vida do homem moderno?’” Com o passar dos anos, os “milhares de leitores” tornaram-se milhões, e o apelo universal e duradouro da Autobiografia de um Iogue tornou-se cada vez mais evidente. Sessenta anos após a primeira publicação do livro, ele ainda surge nas
  • 20. listas dos bestsellers metafísicos e inspiradores. Um raro fenômeno! Disponível em diversos idiomas, atualmente é usado em faculdades e universidades de todo o mundo, em cursos das mais diferentes matérias: filosofia e religião orientais, literatura inglesa, psicologia, sociologia, antropologia, história e até mesmo administração de empresas. Como Lahiri Mahasaya previu há mais de cem anos, a mensagem da yoga e sua antiga tradição de meditação realmente abraçaram o globo. Na edição de outubro de 1986, o periódico metafísico New Frontier escreveu: “Talvez mais conhecido pela Autobiografia de um Iogue, que inspirou incontáveis milhões em todo o mundo, Paramahansa Yogananda, como Gandhi, trouxe a espiritualidade à corrente principal da sociedade. É razoável afirmar que Yogananda fez mais para colocar a palavra ‘yoga’ em nosso vocabulário do que qualquer outra pessoa.” O respeitado acadêmico Dr. David Frawley, diretor do American Institute of Vedic Sciences, declarou no periódico bimestral Yoga Journal de outubro/novembro de 1996: “Pode-se dizer que Yogananda é o pai da yoga no Ocidente — não a mera yoga física que se tornou popular, mas a yoga espiritual, a ciência de Autorrealização, que é o verdadeiro sentido da yoga.” O professor Ashutosh Das, Ph.D, D. Litt., da Universidade de Calcutá, declara: “A Autobiografia de um Iogue é considerada como um Upanishad da nova era. (...) Tem aplacado a sede espiritual de centenas de milhares de buscadores da verdade em todo o mundo. Na Índia, observamos fascinados e maravilhados a fenomenal difusão da popularidade deste livro sobre filosofia e santos indianos. Sentimos grande satisfação e grande orgulho no fato de o néctar imortal do Sanatana Dharma da Índia, as eternas leis da verdade, ter sido preservado no cálice de ouro da Autobiografia de um Iogue.” Aparentemente, até na ex-União Soviética o livro causou profunda impressão no número relativamente reduzido de pessoas que tiveram acesso a ele durante o regime comunista. O juiz V. R. Krishna Iyer, ex-magistrado do Supremo Tribunal indiano, conta da visita que fez a uma cidade próxima a São Petersburgo (naquela época Leningrado), quando perguntou a um grupo de professores “se já tinham pensado sobre o que acontece quando uma pessoa morre. (...) Um dos professores saiu rapidamente e voltou com um livro — Autobiografia de um Iogue. Fiquei surpreso. Num país governado pela filosofia materialista de Marx e Lenin, eis aqui um funcionário de instituto governamental que me mostra o livro de Paramahansa Yogananda! — Por favor, entenda que o espírito da Índia não nos é desconhecido — ele disse. — Aceitamos a autenticidade de tudo o que está registrado no livro.” Um artigo publicado em 21 de abril de 1995 no India Journal conclui: “Dentre os milhares de livros anualmente publicados, existem os que divertem, os que instruem e os que edificam. O leitor pode se considerar afortunado quando
  • 21. encontra um livro que reúne as três coisas. A Autobiografia de um Iogue é ainda mais raro — é um livro que abre janelas da mente e do espírito.” Em anos recentes, ele foi aclamado por donos de livrarias, resenhistas e leitores como um dos livros espirituais mais influentes da época contemporânea. Em 1999, durante um painel de escritores e estudiosos promovido pela editora Harper Collins, a Autobiografia de um Iogue foi escolhida como um dos “100 melhores livros espirituais do século XX”, e no seu 50 Spiritual Classics, publicado em 2005, Tom Butler-Bowden escreveu que o livro foi “justificadamente celebrado como um dos livros espirituais mais envolventes e esclarecedores já escritos”. * * * No último capítulo do livro, Paramahansa Yogananda escreve sobre a profunda certeza que tem sido afirmada e reafirmada ao longo das eras por santos e sábios de todas as religiões do mundo: Deus é Amor. Seu plano para a criação só pode estar enraizado no amor. Não oferece esse simples pensamento mais consolo ao coração humano do que os raciocínios eruditos? Cada santo que penetrou no âmago da Realidade deu o testemunho de que existe um plano universal divino e que ele é belo e pleno de alegria. Passado meio século desde o lançamento da Autobiografia de um Iogue, esperamos que todos os leitores desta obra inspiradora — tanto os que a encontram pela primeira vez quanto os que a consideram um velho e estimado companheiro no caminho da vida — descubram sua própria alma abrindo-se para um aprofundamento da fé, na verdade transcendente que está no centro dos aparentes mistérios da vida. SELF-REALIZATION FELLOWSHIP Los Angeles, Califórnia Julho de 2007
  • 22. A Eterna Lei de Justiça A bandeira da nova India independente (1947) é formada por três listras: uma, cor de açafrão; outra, branca; e a terceira, verde-escuro. O Dharma Chakra (a roda da lei), em azul-marinho, é reprodução do desenho que aparece na coluna de pedra de Sarnath, erigida no século III a.C. pelo imperador Asoka. A roda foi escolhida como símbolo da eterna lei de justiça e, incidentalmente, como homenagem à memória do mais ilustre soberano do mundo. “O seu reinado de 40 anos não tem paralelo na História”, escreveu o historiador inglês H. G. Rawlinson. “Ele foi, em diferentes épocas, comparado a Marco Aurélio, S. Paulo e Constantino. (...) 250 anos antes de Cristo, Asoka teve a coragem de expressar seu horror e remorso pelos resultados de uma campanha bélica vitoriosa e de renunciar deliberadamente à guerra como processo político.” Os domínios que Asoka herdou incluíam a Índia, o Nepal, o Afeganistão e o Baluquistão. Foi o primeiro internacionalista, enviando missões religiosas e culturais à Birmânia, Ceilão, Egito, Síria e Macedônia. “Asoka, terceiro rei da dinastia Mauria, foi (...) um dos grandes reis-filósofos da História” — observou o historiador P. Masson-Oursel. “Ninguém como ele soube combinar energia, benevolência, justiça e caridade. Foi a personificação viva de sua própria época e surge perante nós como figura deveras moderna. No decurso de longo reinado, conseguiu aquilo que a nós parece a mera aspiração de um visionário: desfrutando do maior poderio material possível, organizou a paz. Realizou, para muito além de seus vastos domínios, o que tem sido o sonho de algumas religiões: a ordem universal, uma ordem abraçando a humanidade.” “Dharma (a lei cósmica) aspira à felicidade de todas as criaturas.” Nos seus éditos, inscritos em rochas e em colunas de pedra que sobreviveram até nossos dias, Asoka adverte afetuosamente os súditos de seu extenso império de que a felicidade se fundamenta na moralidade e na santidade.
  • 23. A Índia moderna, aspirando a renovar a eminência e a prosperidade que durante milênios conheceu, presta homenagem, em sua nova bandeira, à memória de Asoka, o soberano “querido dos deuses”.
  • 25. (Mapa anterior a 1947. No noroeste há seções que agora fazem parte do Paquistão; no nordeste, de Bangladesh)
  • 26. 1 Meus Pais e Minha Infância OS TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DA CULTURA INDIANA têm sido, desde sempre, a busca das verdades últimas e a concomitante relação entre guru 1 e discípulo. 1. Mestre espiritual. O Guru Gita (verso 17) descreve de modo adequado o guru como “o que dissipa as trevas” (do sânscrito gu, “trevas” e ru, “o que dissipa”). Meu próprio caminho conduziu-me a um sábio semelhante a Cristo; sua bela vida foi modelada para o benefício de todas as épocas. Foi ele um dos grandes mestres que constituem a mais autêntica riqueza da Índia e que, surgindo em todas as gerações, ergueram as fortificações que evitaram para sua terra o destino que sofreram o antigo Egito e a Babilônia. Minhas recordações mais antigas abrangem traços anacrônicos de uma encarnação anterior. Lembro-me claramente de uma existência longínqua em que eu era um iogue 2 entre as neves do Himalaia. Esses lampejos do passado, por alguma ligação não dimensionável, permitiram-me também vislumbres do futuro. 2. Praticante de yoga, “união”, antiga ciência de meditação em Deus. (Ver capítulo 26: “A ciência da Kriya Yoga”.) Ainda me lembro das indefesas humilhações da infância. Era com ressentimento que eu tinha consciência de ser incapaz de me locomover e de me expressar livremente. Sucessivas ondas de oração erguiam-se dentro de mim ao reconhecer essa impotência física. Minha forte vida emocional exprimiu-se mentalmente em palavras de muitas línguas. Entre a confusão interna de idiomas, habituei-me, pouco a pouco, a ouvir as sílabas bengalis do meu povo. Como se enganam os adultos ao avaliar o alcance da mente infantil considerando-a limitada aos brinquedos e aos dedinhos dos pés! A efervescência psicológica e meu corpo desobediente levaram-me a muitas e obstinadas crises de choro. Recordo-me da desorientação e do assombro que meu desespero provocava em toda a família. Lembranças mais felizes também se acumulam: os carinhos de minha mãe, as primeiras tentativas que fiz para balbuciar frases e dar os primeiros passos. Esses triunfos infantis, normalmente logo esquecidos, nos dão entretanto um alicerce natural de autoconfiança.
  • 27. O grande alcance de minha memória não é caso único. Sabe-se de muitos iogues que conservaram ininterruptamente a consciência de si mesmos durante a dramática transição da “vida” para a “morte” e de uma vida para outra. Se o homem é apenas um corpo, a perda desse corpo realmente seria para ele o fim de sua identidade. Se, porém, no decurso de milênios os profetas falaram a verdade, o homem é essencialmente uma alma, incorpórea e onipresente. Apesar de insólitas, recordações nítidas da primeira infância não são extremamente raras. Durante minhas viagens por numerosos países, ouvi, de lábios de homens e mulheres verazes, o testemunho de recordações que remontam à mais tenra idade. Nasci em 5 de janeiro de 1893, em Gorakhpur, no nordeste da Índia, perto das montanhas do Himalaia. Ali passei meus primeiros oito anos. Éramos oito irmãos: quatro meninos e quatro meninas. Eu, Mukunda Lal Ghosh, 3 fui o quarto a nascer e o segundo varão. 3. Meu nome de família foi substituído pelo de Yogananda em 1915, quando ingressei na antiga ordem monástica dos Swamis. Em 1935, meu guru conferiu-me um título religioso mais elevado, o de Paramahansa. (Ver páginas 231 e 418.) Meu pai e minha mãe eram bengalis, da casta xátria. 4 Ambos foram abençoados com uma natureza santa. O mútuo amor que os uniu, tranquilo e digno, nunca se expressou com frivolidade. Sua harmonia conjugal perfeita era o foco de serenidade em torno do qual girava o tumulto de oito filhos pequenos. 4. A segunda casta, tradicionalmente de governantes e guerreiros. Meu pai, Bhagabati Charan Ghosh, era bondoso, sério, às vezes rigoroso. Embora lhe tivéssemos muito amor, nós crianças mantínhamos para com ele certa distância que beirava a reverência. Excepcional em matemática e lógica, ele guiava-se principalmente por seu intelecto. Minha mãe, porém, era uma rainha de corações e nos educou inteiramente pelo amor. Depois que ela morreu, papai externou mais sua afeição interior; notei que seu olhar muitas vezes parecia metamorfosear-se no olhar de minha mãe. Foi em presença de mamãe que travamos os primeiros contatos agridoces com as Escrituras. Ela recorria ao Mahabharata e ao Ramayana 5 para dali retirar histórias adequadas às exigências disciplinares. Nessas ocasiões, instrução e castigo caminhavam de mãos dadas. 5. Esses antigos poemas épicos são um tesouro da história, mitologia e filosofia da Índia. Em sinal de respeito por meu pai, mamãe nos vestia cuidadosamente, todas as tardes, para recebê-lo ao regressar do escritório. O cargo por ele ocupado era equiparável ao de vice-presidente, em uma das maiores companhias ferroviárias da Índia: a de Bengala-Nagpur. Seu trabalho implicava fazer viagens; nossa família viveu em diversas cidades durante minha meninice.
  • 28. Mamãe tinha mão aberta para os necessitados. Papai também era caridoso, mas seu respeito à lei e à ordem se estendia ao orçamento doméstico. Certa quinzena, mamãe gastou, alimentando os pobres, mais do que a renda mensal de papai. — Por favor, tudo o que peço é que seja caridosa dentro de limites razoáveis. — Mesmo uma repreensão suave de seu esposo era de suma gravidade para minha mãe. Sem revelar aos filhos seu desacordo com papai, ela fez vir uma carruagem de aluguel. — Adeus, vou-me embora para a casa de minha mãe. — Antiquíssimo ultimato! Rompemos em lamentos, estupefatos. Nosso tio materno chegou no momento oportuno; segredou a meu pai algum sábio conselho, certamente provindo de priscas eras. Depois de papai ter pronunciado algumas palavras de conciliação, mamãe alegremente dispensou a carruagem. Assim terminou a única divergência de que tive conhecimento entre meus pais. Mas recordo-me de uma discussão característica: — Por favor, preciso de dez rupias para dar a uma pobre mulher que veio bater à nossa porta. — O sorriso de mamãe era persuasivo. — Por que dez rupias? Uma é o bastante. — Papai acrescentou uma justificação: — Quando meu pai e meus avós faleceram subitamente, eu soube pela primeira vez o que era a pobreza. De manhã, comia unicamente uma pequena banana, antes de caminhar vários quilômetros até a escola. Mais tarde, na universidade, sofri tantas privações que me vi forçado a pedir a um abastado juiz o auxílio de uma rupia por mês. Ele recusou, declarando que mesmo uma rupia era importante. — Com que amargura você se lembra da recusa dessa rupia! — O coração de minha mãe teve uma lógica instantânea. — Você quer que essa mulher também se lembre dolorosamente da recusa das dez rupias que ela necessita com urgência? — Você ganhou! — Com o gesto imemorial dos maridos derrotados, meu pai abriu a carteira. — Aqui está uma nota de dez rupias. Entregue-a com os meus votos de felicidade. Papai tinha a tendência de primeiro dizer “não” a qualquer proposta nova. Sua atitude perante aquela desconhecida, que tão depressa conquistara a compaixão de minha mãe, era um exemplo de sua cautela habitual. Na verdade, a aversão à aceitação imediata é apenas uma homenagem ao princípio da “reflexão necessária”. Sempre achei meu pai justo e equilibrado em seus julgamentos. Se eu pudesse reforçar meus numerosos pedidos com um ou dois bons argumentos, ele invariavelmente poria ao meu alcance o objetivo ambicionado — fosse uma viagem de férias ou uma nova motocicleta.
  • 29. Meu pai foi um austero disciplinador de seus filhos quando pequenos. Mas sua atitude para consigo mesmo era verdadeiramente espartana. Por exemplo, nunca frequentou o teatro, mas buscava recreação em várias práticas espirituais e na leitura do Bhagavad Gita. 6 Repudiando qualquer luxo, usava um mesmo par de sapatos velhos até que se tornassem imprestáveis. Seus filhos compraram automóveis depois que seu uso se tornou popular, mas papai contentava-se com o bonde para ir diariamente ao escritório. 6. Este nobre poema sânscrito, que faz parte do épico Mahabharata, é a Bíblia hindu. Mahatma Gandhi escreveu: “Aqueles que meditarem no Gita retirarão dele novas alegrias e novos significados todos os dias. Não há nenhum emaranhado espiritual que o Gita não possa desembaraçar.” Ele não tinha interesse em acumular dinheiro por amor ao poder. Certa ocasião, depois de organizar o Banco Urbano de Calcutá, recusou beneficiar-se disso e não guardou para si nenhuma das ações do banco. Desejara apenas cumprir um dever cívico nas horas de folga. Vários anos depois de meu pai ter-se aposentado, um contador veio da Inglaterra para a Índia a fim de examinar os livros da Estrada de Ferro Bengala-Nagpur. Surpreso, o auditor descobriu que papai jamais havia requerido suas bonificações vencidas. — Ele fez sozinho o trabalho de três homens! — o contador informou à companhia. — Tem em haver 125.000 rupias (41.250 dólares) de remunerações atrasadas. — O tesoureiro enviou a papai um cheque com esse valor. Meu pai deu tão pouca importância ao assunto que se esqueceu de mencioná-lo à família. Muito tempo depois, meu pai foi interrogado por Bishnu, meu irmão mais moço, que havia notado a grande quantia depositada ao ver um extrato do banco. — Por que me exaltar com lucro material? — papai respondeu. — Quem procura alcançar a serenidade mental não se rejubila com o lucro nem se desespera com a perda; sabe que o homem chega sem dinheiro a este mundo e dele parte sem levar uma única rupia! Pouco depois de seu casamento, meus pais tornaram-se discípulos do grande mestre Lahiri Mahasaya, de Benares. Esta associação fortaleceu o temperamento naturalmente ascético de meu pai. Certa ocasião, mamãe fez uma confidência notável à minha irmã mais velha, Roma: “Seu pai e eu nos unimos como marido e mulher apenas uma vez por ano, com o intuito de termos filhos”. Meu pai conheceu pela primeira vez Lahiri Mahasaya por intermédio de Abinash Babu, 7 funcionário de um ramal da Estrada de Ferro Bengala-Nagpur. Em Gorakhpur, Abinash Babu instruía meus jovens ouvidos com cativantes histórias sobre muitos santos da Índia. Concluía, invariavelmente, prestando tributo às glórias superiores de seu próprio guru.
  • 30. 7. Babu (senhor) é colocado ao final dos nomes em bengali. — Alguma vez lhe contaram em que circunstâncias extraordinárias seu pai se tornou discípulo de Lahiri Mahasaya? — Era uma preguiçosa tarde de verão e estávamos sentados na varanda de minha casa quando Abinash fez esta pergunta em tom intrigante. Neguei com a cabeça, sorrindo antecipadamente de satisfação. — Anos atrás, antes de você nascer, supliquei a meu chefe — seu pai — uma licença de sete dias a fim de visitar meu guru em Benares. Seu pai ridicularizou meu plano. — “Vai se converter num fanático religioso?” perguntou-me. “Concentre-se em seu trabalho no escritório, se quiser progredir.” — Naquele dia, voltando tristemente para casa por uma vereda no bosque, encontrei-me com seu pai, que era transportado numa liteira. Ele dispensou servidores e liteira, passando a caminhar a meu lado. Procurando me consolar, começou a discorrer sobre as vantagens de lutar pelo sucesso mundano. Mas eu o escutava sem prestar atenção. Meu coração repetia: “Lahiri Mahasaya, não posso viver sem te ver!” — O caminho levou-nos à orla de um campo tranquilo, onde os raios do sol ao entardecer coroavam a ondulante elevação do capim bravo. Paramos, em admiração. E ali, no campo, a alguns metros de nós, apareceu subitamente a forma de meu grande guru! 8 8. Os fenomenais poderes possuídos pelos grandes mestres são explicados no capítulo 30, “A lei dos milagres”. — “Bhagabati, você é muito duro com seu funcionário!” A voz ressoava em nossos ouvidos atônitos. Meu guru desapareceu tão misteriosamente como viera. De joelhos, eu exclamava: “Lahiri Mahasaya! Lahiri Mahasaya!” Durante alguns momentos seu pai ficou imobilizado pelo assombro. — “Abinash, além de conceder a sua licença, concedo também a minha, a fim de irmos amanhã para Benares. Preciso conhecer esse grande Lahiri Mahasaya, capaz de se materializar à vontade para interceder por você! Levarei minha esposa e pedirei a esse mestre que nos inicie na senda espiritual. Você nos levará até ele?” — “Sem dúvida!” Eu transbordava de alegria ante a resposta miraculosa à minha prece e a rápida e favorável alteração no curso dos acontecimentos. — Na noite seguinte seus pais e eu viajamos de trem para Benares. Chegando lá no outro dia, contratamos um trole para cobrir parte do caminho, e depois tivemos de andar por ruelas estreitas para chegar à isolada moradia de meu guru. Entrando em sua pequena sala, fizemos uma reverência ao mestre, firme na habitual postura de lótus. Ele piscou os olhos penetrantes e os fixou em seu
  • 31. pai: “Bhagabati, você é muito duro com seu funcionário!” As palavras eram as mesmas pronunciadas dois dias antes no campo de Gorakhpur. E acrescentou: “Alegro-me por haver permitido a Abinash visitar-me e terem vindo, você e sua esposa, em companhia dele.” — Para alegria dos dois, iniciou-os na prática espiritual de Kriya Yoga. 9 Seu pai e eu, condiscípulos espirituais, temos sido amigos íntimos desde o memorável dia da visão. Lahiri Mahasaya manifestou particular interesse em seu nascimento, Mukunda. Sua vida estará certamente relacionada com a dele; as bênçãos do mestre nunca falham. 9. Uma técnica iogue ensinada por Lahiri Mahasaya; acalma o tumulto sensorial, permitindo ao homem alcançar identidade crescente com a consciência cósmica. (Ver capítulo 26.) Lahiri Mahasaya deixou este mundo pouco depois de eu nele haver entrado. Seu retrato, em moldura ornamentada, sempre honrou o altar de nossa família nas várias cidades para onde meu pai era transferido pelo escritório. Muitas manhãs e noites nos encontraram, à minha mãe e a mim, em meditação ante o improvisado altar, oferecendo flores aromatizadas com pasta de sândalo. Juntando incenso e mirra às nossas devoções, honrávamos a Divindade que se manifestara plenamente em Lahiri Mahasaya. Sua fotografia teve influência extraordinária em minha vida. À medida que eu crescia, o pensamento focalizado no mestre crescia comigo. Em meditação, via com frequência sua imagem fotográfica destacar-se da pequena moldura e, assumindo forma vivente, sentar-se diante de mim. Quando tentava tocar os pés de seu corpo luminoso, ele voltava a se transformar em fotografia. Com o passar da infância para a adolescência, Lahiri Mahasaya deixou de ser em minha mente uma pequena imagem emoldurada, passando a ser presença viva e iluminadora. Eu frequentemente orava para ele nos momentos de provação ou confusão, encontrando em meu interior sua orientação confortadora. No início, sofria por ele não mais estar fisicamente vivo. Quando comecei a descobrir sua secreta onipresença, não me lamentei mais. Ele muitas vezes escrevia aos discípulos demasiadamente ansiosos em visitá-lo: “Por que vir me contemplar em carne e osso, quando estou sempre dentro do raio de visão de seu kutastha (olho espiritual)?” Aos oito anos de idade aproximadamente, fui abençoado com uma cura maravilhosa graças ao retrato de Lahiri Mahasaya. Essa experiência intensificou meu amor. Quando estávamos na propriedade familiar de Ichapur, em Bengala, contraí o cólera asiático. Fui desenganado pelos médicos, que nada podiam fazer. À minha cabeceira, mamãe incitava-me freneticamente a olhar para a fotografia de Lahiri Mahasaya presa à parede, acima de minha cabeça. — Curve-se diante dele mentalmente! — Ela sabia que eu estava fraco demais, até para erguer as mãos em saudação. — Se realmente mostrar sua devoção e se ajoelhar interiormente diante dele, sua vida será poupada!
  • 32. Olhei fixamente a fotografia e vi uma luz cegante, que envolvia meu corpo e o quarto inteiro. O enjoo e outros sintomas incontroláveis desapareceram; eu estava curado. Imediatamente senti força suficiente para inclinar-me e tocar os pés de minha mãe, em gesto de reconhecimento por sua fé incomensurável no guru. Minha mãe comprimiu a cabeça várias vezes contra o pequeno retrato: — Ó Mestre Onipresente, agradeço-te por tua luz ter curado meu filho! Compreendi que ela também havia presenciado o resplendor luminoso que tinha me recuperado instantaneamente de uma doença quase sempre fatal. Um de meus bens mais preciosos é essa mesma fotografia. Dada a meu pai pelo próprio Lahiri Mahasaya, ela irradia uma santa vibração. O retrato teve origem miraculosa. Ouvi a história contada por Kali Kumar Roy, condiscípulo espiritual de meu pai. Parece que Lahiri Mahasaya tinha aversão a ser fotografado. Sob seus protestos, certo dia tiraram um retrato do mestre com um grupo de devotos, inclusive Kali Kumar Roy. Foi com surpresa que o fotógrafo descobriu que a chapa, que continha nítidas imagens de todos os discípulos, revelou apenas um espaço vazio no centro, onde ele logicamente esperava que aparecesse a figura de Lahiri Mahasaya. O fenômeno foi muito comentado. Ganga Dhar Babu, discípulo e fotógrafo perito, gabou-se de que o vulto fugidio não lhe escaparia. Na manhã seguinte, quando o guru estava em posição de lótus num assento de madeira com um biombo por trás, Ganga Dhar Babu chegou com seu equipamento. Tomando todas as precauções para ser bem- sucedido, sofregamente bateu doze chapas. Em todas, encontrou a impressão do assento de madeira com o biombo, mas de novo faltava a figura do mestre. Em lágrimas e com o orgulho despedaçado, Ganga Dhar Babu apelou ao guru. Passaram-se muitas horas antes que Lahiri Mahasaya quebrasse o silêncio com um significativo comentário: — Eu sou Espírito. Pode sua câmera fotográfica refletir o Invisível onipresente? — Vejo que é impossível! Mas, santo senhor, desejo amorosamente um retrato de seu templo corpóreo. Minha visão era limitada: até hoje não tinha percebido que o Espírito habita plenamente no senhor. — Então regresse amanhã de manhã. Posarei para você. O fotógrafo novamente focalizou sua máquina. Desta vez a sagrada figura, não coberta de imperceptibilidade misteriosa, apareceu nítida na chapa. O mestre jamais posou para outro retrato; pelo menos, eu nunca vi outro. A fotografia é reproduzida neste livro. 10 Os traços fisionômicos de Lahiri Mahasaya, de casta universal, dificilmente indicam a raça a que pertencia. A alegria da comunhão com Deus é ligeiramente revelada em seu sorriso
  • 33. enigmático. Seus olhos, semiabertos para indicar um interesse nominal pelo mundo externo, também estão semicerrados, revelando sua absorção na bem- aventurança interior. Alheio às insignificantes atrações do mundo, ele estava sempre plenamente alerta aos problemas espirituais dos que buscavam sua generosidade. 10. Ver página 307. Quando foi à Índia em 1935-36, Sri Paramahansa Yogananda deu instruções a um artista bengali para que pintasse uma reprodução da foto original (ver pág. 334), designando-a mais tarde como o retrato formal de Lahiri Mahasaya a ser usado nas publicações da SRF. (Esse quadro encontra-se em Mount Washington, na sala de estar de Paramahansa Yogananda.) (Nota da editora) Pouco depois de minha cura por meio do poder da fotografia do guru, tive uma visão espiritual que muito me influenciou. Sentado em minha cama certa manhã, entrei em profundo devaneio. — Que haverá por trás da escuridão dos olhos fechados? — Este pensamento inquiridor entrou com força em minha mente. Um imenso clarão de luz manifestou-se instantaneamente em minha visão interior. Divinas figuras de santos, sentados na postura de meditação em cavernas de montanhas, passavam, como imagens de um filme em miniatura, na grande tela brilhante dentro de minha testa. — Quem são vocês? — perguntei em voz alta. — Somos iogues do Himalaia. — É difícil descrever a resposta celestial; meu coração vibrava. — Ah, como anseio ir ao Himalaia e tornar-me um de vocês! — A visão desapareceu, mas os raios prateados expandiram-se em círculos cada vez maiores, até o infinito. — Que maravilhoso esplendor é este? — Eu sou Ishwara. 11 Eu sou Luz! — A voz era de nuvens murmurantes. 11. Nome sânscrito para indicar Deus em Seu aspecto de Regente Cósmico; da raiz is, reger. As Escrituras hindus contêm milhares de nomes para designar Deus, cada um correspondendo a um diferente matiz de significado filosófico. Deus, sob o aspecto de Ishwara, é quem cria e dissolve por Sua vontade todos os universos, em ciclos regulares. — Quero unir-me a Ti! Do lento desvanecer-se do meu êxtase divino ficou-me um legado permanente de inspiração para buscar a Deus. “Ele é Alegria eterna, sempre renovada!” Esta lembrança perdurou longamente após o dia do arrebatamento místico. Outra recordação de minha infância é literalmente marcante, tanto que carrego sua cicatriz até hoje. Certa manhã, bem cedo, minha segunda irmã mais velha, Uma, estava sentada comigo sob uma árvore de nim em nossa casa de Gorakhpur. Ela me ajudava no estudo de minha primeira cartilha em bengali, nos
  • 34. momentos em que eu consentia desviar minha vista de alguns papagaios que, ali perto, bicavam os frutos maduros da amargoseira. Queixou-se Uma de inchaço em sua perna e foi buscar um frasco de unguento. Untei meu antebraço com um pouco da pomada. — Por que esfrega remédio num braço sadio? — Bem, mana, sinto que amanhã vou ter um furúnculo. Estou experimentando o unguento no lugar onde a inflamação vai aparecer. — Seu mentirosinho! — Mana, não me chame de mentiroso até ver o que acontecerá amanhã. — A indignação tomou conta de mim. Sem se deixar impressionar, Uma repetiu três vezes a ofensa. Uma resolução inflexível soou em minha voz quando lhe disse lentamente: — Pelo poder da vontade em mim, afirmo que amanhã terei um enorme furúnculo exatamente neste lugar de meu braço; e o seu furúnculo estará duas vezes mais inchado que hoje! A manhã seguinte me encontrou com um robusto furúnculo no lugar indicado; o de Uma tinha duplicado suas dimensões. Com um grito, minha irmã correu para mamãe. — Mukunda converteu-se em adepto da magia negra! — Muito séria, mamãe instruiu-me a jamais usar o poder da palavra para fazer o mal. Sempre recordei seu conselho e o segui. Um cirurgião lancetou meu furúnculo. Uma cicatriz visível até hoje mostra onde o médico fez a incisão. Em meu antebraço direito existe um constante lembrete do poder existente na pura palavra humana. Aquelas frases simples e aparentemente inofensivas a Uma, pronunciadas com profunda concentração, tiveram suficiente força oculta para explodir como bombas e produzir efeitos definidos, embora prejudiciais. Mais tarde compreendi que o explosivo poder vibratório da fala poderia ser sabiamente dirigido para libertar nossa vida de dificuldades e, assim, operar sem deixar cicatrizes ou censuras. 12 12. As potencialidades infinitas do som derivam do Verbo Criador, Om, o poder cósmico vibratório por trás de toda energia atômica. Qualquer palavra proferida com clara compreensão e concentração profunda tem valor materializante. A repetição oral ou silenciosa de palavras inspiradoras provou sua eficácia em sistemas psicoterápicos como o de Coué; o segredo reside em introduzir um “crescendo” na frequência vibratória da mente. Nossa família transferiu-se para Lahore, no Punjab. Lá comprei uma gravura da Mãe Divina sob a forma da Deusa Kali, 13 que santificou um pequeno altar informal na sacada de nossa casa. Fui tomado pela inequívoca convicção de que todas as orações que eu fizesse naquele lugar sagrado seriam atendidas. Certo dia, de pé na sacada, em companhia de Uma, observei dois meninos empinando
  • 35. pipas sobre o telhado de dois edifícios vizinhos, separados de nossa casa por uma rua extremamente estreita. 13. Kali é um símbolo de Deus sob o aspecto da eterna Mãe Natureza. — Por que está tão quieto? — perguntou-me Uma, dando-me um empurrão de brincadeira. — Estou pensando como é maravilhoso que a Mãe Divina me dá tudo o que quero. — Suponho que Ela lhe daria aquelas duas pipas! — minha irmã riu, caçoando de mim. — Por que não? — iniciei silenciosas orações para obtê-las. Na Índia, os meninos fazem competições com pipas cujas linhas são recobertas de cola e vidro moído. Cada jogador procura cortar a linha de seu adversário. Uma pipa solta voa sobre os telhados; é muito divertido ir apanhá-la. Estando Uma e eu numa sacada interna, recoberta de telhas, parecia impossível que uma pipa solta viesse cair em nossas mãos; sua linha naturalmente passaria flutuando sobre o telhado. Do outro lado da estreita viela os competidores começaram o combate. Uma das linhas foi cortada; imediatamente a pipa flutuou em minha direção. Em razão de uma súbita ausência de brisa, a pipa permaneceu imóvel por um momento; nessa pausa, a linha enroscou-se em um cacto que havia no terraço da casa em frente. Um longo e perfeito laço se formou para que eu a pegasse. Passei o troféu para Uma. — Foi apenas um acidente fora do comum, não uma resposta à sua oração. Se a outra pipa vier até você, então acreditarei. Os olhos negros de minha irmã denunciavam mais assombro que suas palavras. Continuei a orar intensamente. Um puxão mais forte do outro jogador causou a brusca perda de sua pipa. Ela veio em minha direção, dançando com o vento. Meu prestativo ajudante, o cacto, novamente prendeu a linha da pipa com o laço suficientemente longo para que meu braço a alcançasse. Apresentei o segundo troféu a Uma. — Realmente a Mãe Divina o escuta! É tudo misterioso demais para mim! — E minha irmã disparou a correr como uma corça assustada.
  • 36. GURRU (Gyana Prabha) GHOSH (1868-1904) Mãe de Yoganandaji; discípula de Lahiri Mahasaya
  • 37. BHAGABATI CHARAN GHOSH (1853-1942) Pai de Yoganandaji; discípulo de Lahiri Mahasaya
  • 38. Sri Yogananda aos 6 anos de idade
  • 39. 2 A Morte de Minha Mãe e o Amuleto Místico O MAIOR DESEJO DE MINHA MÃE era o de ver casado meu irmão mais velho. — Ah, quando eu contemplar a face da esposa de Ananta, terei encontrado o céu nesta terra! — Frequentemente ouvi mamãe expressar com essas palavras o seu arraigado sentimento hindu pela continuidade da família. Eu tinha onze anos quando se realizaram os esponsais de Ananta. Mamãe estava em Calcutá, supervisionando alegremente os preparativos para o casamento. Papai e eu ficamos sozinhos em nossa casa em Bareilly, ao norte da Índia, para onde ele tinha sido transferido após dois anos em Lahore. Anteriormente eu havia presenciado o esplendor dos ritos nupciais de minhas duas irmãs mais velhas, Roma e Uma; para Ananta, entretanto, como primogênito, os preparativos eram realmente meticulosos. Mamãe, em Calcutá, recepcionava numerosos parentes que chegavam diariamente de regiões distantes. Alojava-os confortavelmente em uma casa ampla, recém-adquirida, situada em Amherst Street, 50. Tudo estava pronto: as iguarias do banquete, o trono vistoso no qual meu irmão seria carregado até a casa da noiva, as fileiras de luzes coloridas, os gigantescos elefantes e camelos feitos de papelão, as orquestras indiana, inglesa e escocesa, os artistas encarregados de alegrar a festa, os sacerdotes celebrantes dos antigos ritos. Papai e eu, com espírito festivo, planejávamos nos reunir à família em tempo oportuno para a cerimônia. Entretanto, pouco antes do grande dia, tive uma visão de mau presságio. Foi em Bareilly, à meia-noite: eu dormia ao lado de meu pai no terraço de nosso bangalô, quando fui acordado pelo tremular peculiar do mosquiteiro sobre a cama. As finas cortinas abriram-se e vi a amada figura de minha mãe. — Acorde seu pai! — Sua voz era apenas um sussurro. — Tomem o primeiro trem, o das quatro da madrugada. Corram a Calcutá se quiserem me ver! — A aparição desvaneceu-se.
  • 40. — Pai, papai! Mamãe está morrendo! — O terror em minha voz despertou-o instantaneamente. Em soluços comuniquei-lhe a notícia fatídica. — Esqueça esta alucinação sua. — Meu pai, como de costume, deu sua negativa a uma situação nova. — Sua mãe está em perfeita saúde. Se recebermos notícias ruins, partiremos amanhã. — O senhor nunca se perdoará por não ir agora! — E a angústia me fez acrescentar amargamente: — Eu também jamais o perdoarei! A manhã seguinte despontou melancolicamente com as explícitas palavras: “Mamãe gravemente enferma; casamento adiado; venham imediatamente.” Papai e eu saímos transtornados. Um de meus tios veio ao nosso encontro numa estação onde tínhamos de baldear. Estrondoso trem vinha em nossa direção, aumentando seu tamanho telescopicamente. De meu tumulto interior brotou a determinação repentina de me atirar aos trilhos do trem. Já me sentindo destituído de minha mãe, eu não podia suportar um mundo que de repente perdera todo o sentido. Eu amava minha mãe como a amiga mais querida sobre a Terra. Seus confortadores olhos negros tinham sido meu refúgio nas insignificantes tragédias de minha infância. — Ela ainda está viva? — Detive-me para fazer esta última pergunta a meu tio. Ele interpretou com rapidez o desespero em minha face. — Claro que sim! — Mas eu não consegui acreditar. Quando chegamos à nossa casa em Calcutá, foi só para nos defrontarmos com o chocante mistério da morte. Entrei em colapso, mergulhando em estado de quase torpor. Muitos anos decorreram antes que meu coração se conformasse. Atacando os próprios portões do céu, minhas súplicas afinal impeliram a Mãe Divina a Se apresentar. Suas palavras trouxeram cura definitiva às feridas ainda abertas: — Sou Eu que tenho velado por ti, vida após vida, na ternura de muitas mães! Vê em Meu olhar os dois olhos negros, os belos olhos perdidos que andas buscando! Papai e eu regressamos a Bareilly logo após os ritos crematórios da bem-amada. Todas as madrugadas, bem cedo, eu fazia uma patética peregrinação em sua memória à frondosa árvore sheoli que sombreava o prado auriverde em frente ao nosso bangalô. Em momentos poéticos, imaginava que as flores brancas de sheoli se derramavam com espontânea devoção sobre o altar do prado. Misturando minhas lágrimas ao orvalho, frequentemente observei uma estranha luz sobrenatural emergindo da aurora. Dores me assaltavam, intensas, de saudade de Deus. Sentia-me fortemente atraído para o Himalaia.
  • 41. Um de meus primos, recentemente chegado de uma viagem às montanhas sagradas, visitou-nos em Bareilly. Escutei ansiosamente suas histórias sobre a alta cordilheira, morada de iogues e swamis. 1 1. Swa, a raiz sânscrita de swami, significa “aquele que se uniu ao seu Eu” (ver capítulo 24). — Vamos fugir para o Himalaia! — Minha sugestão, feita um dia a Dwarka Prasad, jovem filho de nosso caseiro em Bareilly, foi mal recebida. Ele revelou o plano a meu irmão mais velho, recém-chegado para visitar papai. Em vez de sorrir com tolerância do projeto impraticável de um menino, Ananta aproveitou o fato para me ridicularizar. — Onde está sua túnica alaranjada? Você não pode ser um swami sem ela. Suas palavras, porém, provocaram em mim inexplicável comoção. Fizeram com que visse uma nítida imagem: de mim mesmo como monge, percorrendo a Índia. Talvez as palavras de Ananta despertassem lembranças de uma vida anterior; em todo caso, percebi com que naturalidade eu usaria a túnica daquela ordem monástica, de fundação antiquíssima. Conversando certa manhã com Dwarka, senti que o amor por Deus descia sobre mim com a força de uma avalanche. Meu companheiro mal prestou atenção à eloquência que se seguiu, mas eu me ouvia atentamente. Fugi naquela tarde para Naini Tal, no sopé do Himalaia. Ananta perseguiu-me com determinação; fui forçado a regressar tristemente a Bareilly. A única peregrinação permitida era o passeio habitual à árvore sheoli todas as madrugadas. Meu coração chorava pelas duas mães perdidas, a humana e a Divina. A morte de mamãe deixou no tecido da família um rasgão irreparável. Papai nunca voltou a se casar nos quase quarenta anos que ainda viveu. Assumindo o difícil papel de pai e mãe de seu pequeno rebanho, ele se tornou perceptivelmente mais terno, mais acessível. Com serenidade e discernimento, resolvia os vários problemas da família. Após as horas de trabalho no escritório, retirava-se como um eremita à cela de seu quarto, praticando Kriya Yoga em doce tranquilidade. Muito depois da morte de mamãe, tentei contratar uma enfermeira inglesa para cuidar dos detalhes que tornariam mais confortável a vida de meu pai. Mas ele abanou a cabeça negativamente. — Os cuidados para comigo terminaram quando sua mãe se foi. — Seus olhos estavam distantes, cheios de devoção perpétua. — Não aceitarei os serviços de nenhuma outra mulher. Catorze meses depois da partida de minha mãe, eu soube que havia me deixado uma importante mensagem. Ananta estivera presente no seu leito de morte e registrara suas palavras. Embora ela tivesse recomendado que a revelação me fosse feita um ano após morte, meu irmão a retardou. Em breve ele partiria de
  • 42. Bareilly para Calcutá, para casar-se com a jovem escolhida por mamãe. 2 Uma noite, chamou-me para junto dele. 2. O costume indiano segundo o qual os pais escolhem o cônjuge de seus filhos tem resistido às rudes investidas do tempo. Elevada é a percentagem de casamentos indianos felizes. — Mukunda, tenho relutado em dar-lhe uma estranha mensagem. — Sua voz tinha um tom de resignação. — Temi avivar seu desejo de abandonar a casa. Mas, de qualquer jeito, você está revestido de fervor divino. Quando o capturei recentemente a caminho do Himalaia, tomei uma resolução definitiva: não adiarei por mais tempo o cumprimento de uma promessa solene. — Entregando- me uma caixinha, meu irmão transmitiu a mensagem de mamãe: “Deixe que estas palavras sejam minha bênção final, meu amado filho Mukunda!”, dissera minha mãe. “Chegou a hora em que devo relatar alguns fenômenos extraordinários acontecidos após o seu nascimento. Conheci a senda reservada a você quando ainda era um bebê em meus braços. Naquela época, levei-o no colo à casa de meu guru em Benares. Eu mal podia ver Lahiri Mahasaya, sentado em meditação profunda, quase escondido atrás de uma multidão de discípulos. “Enquanto o acalentava, eu orava para que o grande guru nos percebesse e abençoasse. À medida que meu silencioso pedido devocional crescia em intensidade, ele entreabriu os olhos e fez sinal para que me aproximasse. Os outros abriram caminho; curvei-me diante dos pés sagrados. Lahiri Mahasaya colocou você no colo dele, pousando a mão em sua fronte, à guisa de batismo espiritual. “— Mãezinha, teu filho será um iogue. Como uma locomotiva espiritual, levará muitas almas ao reino de Deus. “Meu coração saltou de alegria ao perceber que minha súplica secreta tinha sido atendida pelo guru onisciente. Pouco antes de seu nascimento, Mukunda, Lahiri Mahasaya me disse que você seguiria o caminho dele. “Mais tarde, meu filho, sua visão da Grande Luz foi testemunhada por mim e por sua irmã Roma; de um quarto próximo, nós observávamos você imóvel na cama. Seu rostinho iluminou-se; sua voz soou com determinação férrea quando falou em ir para o Himalaia em busca do Divino. “Por esses meios, filho querido, eu soube que seu caminho está muito além das ambições mundanas. O mais singular evento de vida trouxe-me confirmação posterior — um evento que agora me impele a dar-lhe esta mensagem em meu leito de morte. “Foi uma entrevista com um sábio, no Punjab. Quando nossa família vivia em Lahore, a criada entrou certa manhã em meu quarto.
  • 43. “— Senhora, um estranho sadhu 3 está aqui. Ele insiste em ‘ver a mãe de Mukunda’. 3. Anacoreta; pessoa dedicada ao ascetismo e à disciplina espiritual. “Estas singelas palavras tocaram uma corda profunda dentro de mim. Fui imediatamente cumprimentar o visitante. Curvando-me a seus pés, senti que estava na presença de um verdadeiro homem de Deus. “— Mãe — disse ele —, os grandes mestres desejam que saiba que sua permanência na Terra não será longa. Sua próxima doença será a última 4 — Houve um silêncio durante o qual não me senti alarmada; apenas senti uma vibração de grande paz. Finalmente ele voltou a falar: 4. Quando descobri, por essas palavras, que mamãe tinha conhecimento secreto da breve duração de sua vida, compreendi pela primeira vez por que ela insistira tanto em apressar os planos para o casamento de Ananta. Embora ela tivesse morrido antes do casamento, seu desejo materno natural fora o de assistir aos ritos. “— A senhora deve ser a guardiã de certo amuleto de prata. Não lhe darei o talismã hoje; para demonstrar a veracidade de minhas palavras, ele vai se materializar em suas mãos, amanhã, quando estiver meditando. De seu leito de morte, deverá instruir seu filho mais velho, Ananta, para que guarde o amuleto durante um ano e então o entregue a seu segundo filho. Mukunda entenderá o significado do talismã, proveniente de grandes seres. Ele deve recebê-lo na época em que estiver pronto para renunciar a todas as esperanças mundanas e começar a sua busca vital de Deus. Depois de haver conservado o amuleto por vários anos e quando ele tiver servido a seu propósito, desaparecerá. Mesmo que esteja guardado no esconderijo mais secreto, voltará ao lugar de onde veio. “Ofereci esmolas 5 ao santo e me inclinei diante dele com grande reverência. Sem aceitar minha oferenda, abençoou-me e partiu. Na noite seguinte, quando eu estava sentada em meditação, um amuleto materializou-se entre as palmas de minhas mãos entrelaçadas, tal como o sadhu prometera. Fez-se notar por seu contato liso e frio. Guardei-o zelosamente durante mais de dois anos, e agora o deixo sob a custódia de Ananta. Não lamente minha partida, pois serei introduzida por meu grande guru nos braços do Infinito. Adeus, meu filho; a Mãe Cósmica o protegerá.” 5. Um gesto habitual de respeito para com os sadhus. Um raio de iluminação desceu sobre mim quando peguei o amuleto; muitas recordações adormecidas despertaram. O talismã, redondo e autenticamente antigo, estava coberto de caracteres sânscritos. Compreendi que procedia de mestres de vidas anteriores, que invisivelmente guiavam meus passos. Havia outro significado ainda, mas não se pode revelar completamente a essência de um amuleto. 6 6. O amuleto era um objeto produzido astralmente. De estrutura evanescente, tais objetos precisam um dia desaparecer do nosso mundo físico. (Ver capítulo 43.)
  • 44. Inscrito no talismã havia um mantra ou letra de um cântico sagrado. Em nenhuma outra parte os poderes do som e de vach, a voz humana, foram tão profundamente pesquisados quanto na Índia. A vibração de Om que reverbera em todo o universo (o “Verbo” ou “voz de muitas águas” da Bíblia) tem três manifestações ou gunas: criação, preservação e destruição (Taittirya Upanishad 1:8). Sempre que o homem pronuncia uma palavra, aciona uma das três qualidades de Om. Esta lei está por trás do mandamento que, em todas as Escrituras, diz que o homem deve falar a verdade. O mantra sânscrito inscrito no amuleto, quando pronunciado de modo correto, possuía uma potência vibratória espiritualmente benéfica. O alfabeto sânscrito, de construção ideal, compreende 50 letras, tendo cada qual uma pronúncia determinada, fixa. George Bernard Shaw escreveu um ensaio sagaz e, logicamente, satírico sobre a inadequação fonética do alfabeto inglês de base latina, no qual 26 letras se esforçam para carregar, sem êxito, o pesado fardo do som. Com sua habitual impiedade (“Se a apresentação de um alfabeto inglês, para o idioma inglês, custar uma guerra civil [...] não o lamentarei.”), o Sr. Shaw insistia na adoção de um novo alfabeto de 42 letras (ver seu prefácio ao livro de Wilson, The Miraculous Birth of Language, Philosophical Library, N. Y.). Semelhante alfabeto se aproximaria da perfeição fonética do sânscrito, cujo emprego de 50 letras evita erros de pronúncia. A descoberta de sinetes no vale do rio Indo está levando vários estudiosos a abandonar a teoria de que a Índia tomou seu alfabeto sânscrito “emprestado” de fontes semíticas. Algumas grandes cidades hindus foram recentemente escavadas em Mohenjo-Daro e Harappa, fornecendo provas de uma cultura eminente que “deve ter tido uma longa história anterior no solo da Índia, pois nos faz retroceder a eras suspeitadas apenas obscuramente” (Sir John Marshall, Mohenjo-Daro and the Indus Civilization, 1931). Se a teoria hindu da grande antiguidade da existência do homem civilizado no planeta estiver correta, torna-se possível explicar por que a mais antiga língua do mundo, o sânscrito, é também a mais perfeita. (Ver nota da página 90.) Sir William Jones, fundador da Asiatic Society, disse: “O sânscrito, seja qual for a sua antiguidade, possui maravilhosa estrutura. É mais perfeito que o grego, mais rico que o latim e mais primorosamente refinado que qualquer dos dois.” E afirma a Encyclopedia Americana: “Desde o ressurgimento dos estudos clássicos não houve acontecimento mais importante na história da cultura que a descoberta do sânscrito [por estudiosos ocidentais] no final do século 18. A linguística, a gramática comparada, a mitologia comparada e a ciência da religião (...) ou devem sua própria existência à descoberta do sânscrito ou foram profundamente influenciadas por seu estudo.” Como o talismã afinal desapareceu em meio a circunstâncias profundamente infelizes de minha vida, e como a sua perda foi o arauto da chegada de um guru, não será contado neste capítulo. O menininho, frustrado em suas tentativas de chegar ao Himalaia, apesar disso viajava para longe, todos os dias, nas asas de seu amuleto.
  • 45. Yoganandaji (em pé), quando estudante secundário, com Ananta, seu irmão mais velho.
  • 46. A irmã mais velha, Roma (à esquerda), e Nalini, irmã mais nova, com Paramahansa Yogananda, na casa em que ele morou na juventude, em Calcutá, 1935.
  • 47. Uma, segunda irmã mais velha de Yoganandaji, quando menina, em Gorakhpur.
  • 48. 3 O Santo de Dois Corpos — PAPAI, SE EU PROMETER VOLTAR PARA CASA DE LIVRE e espontânea vontade, poderei fazer uma excursão a Benares? Meu pai raramente punha obstáculos ao meu acentuado amor por viagens. Permitiu-me, ainda menino, visitar muitas cidades e lugares de peregrinação. Em geral, um ou dois amigos me acompanhavam; viajávamos confortavelmente com passes de primeira classe, fornecidos por papai. Sua posição de alto funcionário na ferrovia era bastante satisfatória para os nômades da família. Papai prometeu estudar meu pedido. No dia seguinte, chamou-me e deu-me uma passagem de ida e volta de Bareilly a Benares, algumas notas de rupias e duas cartas. — Tenho um negócio a propor a um amigo em Benares, Kedar Nath Babu. Infelizmente perdi seu endereço, mas acredito que você poderá lhe entregar esta carta por intermédio de nosso amigo em comum, Swami Pranabananda. Esse swami, que é meu condiscípulo, alcançou elevada estatura espiritual. A companhia dele lhe será benéfica; esta segunda carta lhe servirá de apresentação. Piscando um olho, papai acrescentou: — Lembre-se, nada de fugir de casa novamente! Parti com o entusiasmo de meus doze anos (embora a idade nunca tenha diminuído meu prazer em ver novas paisagens e rostos desconhecidos). Ao chegar a Benares me dirigi imediatamente à residência do swami. A porta de entrada estava aberta; subi a um quarto, longo como um corredor, no segundo andar. Um homem robusto, usando apenas uma tanga, estava sentado em posição de lótus, numa plataforma pouco acima do chão. Sua cabeça tinha sido raspada e a face sem rugas, barbeada; um sorriso de beatitude pairava em seus lábios. Para banir meu pensamento de estar sendo um intruso, cumprimentou- me como a um velho amigo. — Baba anand (bem-aventurança para o meu querido). — Suas boas-vindas foram expressas calorosamente, com voz infantil. Ajoelhei-me e toquei-lhe os pés.
  • 49. — O senhor é Swami Pranabananda? Ele moveu a cabeça afirmativamente. — Você é o filho de Bhagabati? — Suas palavras foram ditas antes que eu tivesse tempo de retirar do bolso a carta de papai. Espantado, estendi-lhe a carta de apresentação, que agora parecia supérflua. — Naturalmente localizarei Kedar Nath Babu para você. — O santo de novo me surpreendeu por sua clarividência. Passou os olhos pela carta e fez algumas referências afetuosas a meu pai. — Sabe, estou desfrutando duas aposentadorias. Uma, por recomendação de seu pai, para quem já trabalhei na ferrovia. Outra, por recomendação de meu Pai Celestial, para quem terminei conscientemente meus deveres terrenos nesta vida. Achei muito obscura esta última frase. — Senhor, que tipo de aposentadoria recebe do Pai Celestial? Ele atira dinheiro no seu colo? O swami riu. — Refiro-me a uma aposentadoria de paz insondável, recompensa por muitos anos de meditação profunda. Agora não anseio mais por dinheiro. A satisfação de minhas escassas necessidades materiais está sobejamente garantida. No futuro você entenderá o significado de uma segunda aposentadoria. Terminando a conversa de repente, o santo imobilizou-se, sério. Um ar de esfinge o envolveu. A princípio, seus olhos brilharam como se observassem algo interessante, depois se tornaram opacos. Seu mutismo deixou-me desconcertado; ele ainda não havia dito como eu poderia encontrar o amigo de papai. Um tanto inquieto, circunvaguei o olhar pelo quarto vazio; exceto por nós, estava deserto. Meus olhos errantes pousaram em suas sandálias de madeira, que estavam sob o estrado. — Senhorzinho, 1 não se preocupe. O homem que gostaria de ver estará aqui em meia hora. — O iogue estava lendo meu pensamento; um feito não muito difícil naquele momento! 1. Alguns santos indianos usavam a expressão Choto Mahasaya ao se dirigirem a mim. Ela significa “senhorzinho” (little sir). Novamente ele se interiorizou num silêncio impenetrável. Quando meu relógio indicou a passagem de trinta minutos, o swami saiu de seu silêncio. — Acho que Kedar Nath Babu está se aproximando da porta — disse ele. Ouvi alguém subindo as escadas. Um misto de incompreensão e espanto surgiu em mim; meus pensamentos voavam, confusos. “Como é possível que o amigo de meu pai tenha sido chamado aqui sem o auxílio de um mensageiro? Desde que cheguei, o swami só falou comigo!”
  • 50. Sem cerimônia, abandonei o quarto e desci a escada. A meio caminho encontrei um homem magro, de pele clara e de média estatura. Parecia estar com pressa. — O senhor é Kedar Nath Babu? — A agitação dava colorido à minha voz. — Sim. E você não é o filho de Bhagabati que está esperando por mim? — ele sorriu amigavelmente. — Senhor, como lhe ocorreu vir aqui? — Eu sentia frustração e ressentimento por não poder explicar sua presença. — Hoje tudo é misterioso! Há menos de uma hora, eu estava saindo do banho no Ganges quando Swami Pranabananda se aproximou. Não tenho a menor ideia de como soube que eu me achava ali àquela hora. — Ele me disse: “O filho de Bhagabati está à sua espera em meu apartamento. Pode vir comigo?” Concordei alegremente. Caminhamos lado a lado, mas o estranho é que o swami, com suas sandálias de madeira, tomou a dianteira, apesar de eu estar calçando estes sapatos resistentes. — “Quanto tempo levará para chegar à minha casa?” Pranabananda parou de súbito para fazer-me esta pergunta. — “Cerca de meia hora.” — Ele me olhou enigmaticamente. “Tenho outra coisa para fazer agora, vou deixá-lo para trás. Nós nos encontraremos em minha casa, onde o filho de Bhagabati e eu estaremos à sua espera.” — Antes que eu pudesse responder, ele passou por mim velozmente e desapareceu entre a multidão. Vim para cá o mais depressa possível. Esta explicação apenas aumentou meu assombro. Perguntei há quanto tempo ele conhecia o swami. — Nós nos encontramos algumas vezes no ano passado, mas não recentemente. Foi com prazer que o revi no ghat de banhos esta manhã. — Não posso crer no que ouço! Estarei ficando louco? O senhor encontrou Pranabananda numa visão ou realmente o viu, tocou-lhe a mão e escutou o ruído de seus passos? — Não sei onde está querendo chegar! — Ele ficou rubro de indignação. — Não estou mentindo. Não pode compreender que só por intermédio do swami eu poderia ter sabido que você me esperava aqui? — Pois eu lhe asseguro que esse homem, Swami Pranabananda, não se afastou de minha vista um só instante desde que entrei aqui há uma hora. — Contei-lhe toda a história, repetindo a conversa que tivera com o swami.
  • 51. Ele arregalou os olhos. — Estamos vivendo nesta era materialista ou estamos sonhando? Nunca esperei testemunhar tal milagre em minha vida! Julguei que o swami era apenas um homem comum e agora descubro que pode materializar um corpo extra e agir com ele! — Entramos juntos no quarto do santo. Kedar Nath Babu apontou com o dedo para o calçado sob o estrado. — Olhe, são as mesmas sandálias que ele usava no ghat — segredou-me. — E vestia apenas uma tanga, exatamente como agora. Quando o visitante se inclinou diante dele, o santo voltou-se para mim com um sorriso divertido. — Por que se espanta com tudo isso? A sutil unidade do mundo dos fenômenos não se acha oculta aos verdadeiros iogues. Eu vejo e converso instantaneamente com meus discípulos na distante Calcutá. Eles também podem transcender à vontade qualquer obstáculo de matéria densa. Foi provavelmente para avivar o ardor espiritual em meu jovem peito que o swami condescendeu em falar-me de seus poderes de rádio e televisão astrais. 2 Mas, em vez de entusiasmo, senti apenas terror. Talvez porque eu estivesse destinado a empreender minha busca divina sob a orientação de determinado guru — Sri Yukteswar, a quem ainda não havia encontrado — não me senti disposto a aceitar Pranabananda como meu instrutor. Olhei-o com desconfiança, conjeturando se era ele ou seu segundo corpo o que eu tinha à minha frente. 2. A ciência física está, por seus próprios métodos, confirmando a validade de leis descobertas pelos iogues por meio da ciência mental. Por exemplo, na Universidade de Roma, em 26 de novembro de 1934, foi demonstrado que o homem possui poderes de clarividência. “O Dr. Giuseppe Calligaris, professor de neuropsicologia, comprimiu certas partes do corpo de um indivíduo, que descreveu minuciosamente pessoas e objetos situados atrás de uma parede. O Dr. Calligaris disse aos outros professores que quando certas áreas da pele são estimuladas a pessoa adquire percepção extrassensorial, tornando-se capaz de ver objetos que, de outra maneira, não poderia perceber. Para fazer o indivíduo discernir objetos situados atrás de uma parede, o Dr. Calligaris comprimiu um ponto no lado direito do tórax durante quinze minutos. Afirmou o Dr. Calligaris que quando certos pontos do corpo são estimulados as pessoas podem ver objetos a qualquer distância, mesmo no caso de nunca terem visto tais objetos antes.” O mestre procurou dissipar minha inquietude lançando-me um olhar de alento espiritual e dizendo algumas palavras inspiradoras sobre seu guru. — Lahiri Mahasaya foi o maior iogue que conheci. Ele era a própria Divindade revestida de carne. Se um discípulo, refleti, pode materializar uma forma carnal extra à vontade, que milagres não estarão ao alcance de seu mestre? — Vou lhe dar uma ideia do quanto é inestimável a ajuda de um guru. Eu costumava meditar com outro discípulo durante oito horas, todas as noites. Tínhamos de trabalhar no escritório da ferrovia durante o dia. Eu desejava dedicar todo o meu tempo a Deus, e tinha dificuldade em cumprir meus deveres
  • 52. diurnos. Durante oito anos perseverei, meditando metade da noite. Obtive maravilhosos resultados; tremendas percepções espirituais me iluminaram a mente. Mas sempre um véu delgado persistia entre mim e o Infinito. Mesmo fazendo esforços sobre-humanos, a união irrevogável e final me era negada. Certa noite, fiz uma visita a Lahiri Mahasaya e supliquei sua divina intercessão. Continuei a importuná-lo a noite toda. — “Angélico guru, minha angústia espiritual é tanta que não posso mais suportar a vida sem ver o Bem-amado Supremo face a face!” — “Que posso fazer? Você precisa meditar mais profundamente.” — “Estou apelando a Ti, ó Deus meu Mestre! Vejo-Te materializado à minha frente em corpo físico; abençoa-me para que Te possa perceber em Teu aspecto infinito!” — Lahiri Mahasaya estendeu a mão num gesto afável: “Agora você pode ir e meditar. Intercedi por você junto a Brahma.” 3 3. Deus em Seu aspecto de Criador, da raiz sânscrita brih, expandir. Quando o poema “Brahma”, de Emerson, foi publicado no Atlantic Monthly em 1857, a maioria dos leitores escandalizou-se. Emerson riu ironicamente: “Digam Jeová em lugar de Brahma e não sentirão perplexidade alguma.” — Em estado de elevação incomensurável, voltei para casa. Ao meditar, naquela mesma noite, alcancei o ardente Ideal de minha vida. Agora desfruto incessantemente da aposentadoria espiritual. Desde aquele dia o Criador Beatífico nunca mais ficou oculto de meus olhos por trás do véu da ilusão. A face de Pranabananda irradiava luz divina. A paz de um outro mundo penetrou em meu coração; todo o medo voara para longe. O santo fez ainda outra confidência: — Alguns meses depois voltei a visitar Lahiri Mahasaya e tentei agradecer por me haver concedido a dádiva infinita. Na mesma ocasião mencionei outro problema. — “Guru divino, não posso mais trabalhar no escritório. Por favor, liberte-me. Brahma me mantém constantemente inebriado.” — “Peça sua aposentadoria à Estrada de Ferro.” — “Que razão invocarei, se tenho poucos anos de serviço?” — “Diga o que sente.” — No dia seguinte fiz o requerimento. O médico procurou saber que fundamento havia para a solicitação prematura.
  • 53. — “Durante o trabalho experimento uma sensação avassaladora subindo pela espinha dorsal, permeando meu corpo inteiro e me incapacitando para o cumprimento dos deveres.” 4 4. Em meditação profunda, a primeira experiência do Espírito é percebida no altar da espinha dorsal e depois no cérebro. Uma torrente de bem-aventurança domina o iogue, mas ele aprende a controlar suas manifestações exteriores. Na época de nosso encontro, Pranabananda era, de fato, um mestre plenamente iluminado. Mas os últimos anos de sua vida profissional haviam ocorrido muito antes, quando ele ainda não se estabelecera irrevogavelmente em nirbikalpa samadhi (ver página 249 e nota da página 435). Nesse perfeito e imutável estado de consciência, o iogue não encontra dificuldade em desempenhar seus deveres mundanos. Depois que se aposentou, Pranabananda escreveu Pranab Gita, profundo comentário sobre o Bhagavad Gita, publicado em híndi e bengali. O poder de aparecer em mais de um corpo é um siddhi (poder iogue) mencionado nos Yoga Sutras de Patânjali (ver nota da página 238). É o fenômeno da bilocação, registrado na vida de muitos santos através dos séculos. A. P. Schimberg, em The Story of Therese Neumann (Bruce Public Co.), descreve diversas ocasiões em que essa santa cristã apareceu a pessoas distantes que necessitavam de sua ajuda e com elas conversou. — Sem mais perguntas, o médico me fez alta recomendação para a aposentadoria, que recebi sem demora. Sei que a vontade divina de Lahiri Mahasaya operou através do médico e dos chefes da ferrovia, seu pai inclusive. Eles obedeceram automaticamente à direção espiritual do grande guru e me deixaram livre para uma vida de ininterrupta comunhão com o Bem-amado. Depois dessa extraordinária revelação, Swami Pranabananda mergulhou num de seus longos silêncios. Quando me despedi, tocando-lhe os pés com reverência, ele me deu sua bênção. — Sua vida pertence à senda da renúncia e da yoga. Um dia ainda o verei juntamente com seu pai. — Os anos trouxeram a confirmação destas duas previsões. 5 5. Ver capítulo 27. Kedar Nath Babu caminhava a meu lado na escuridão crescente. Entreguei-lhe a carta de meu pai e meu companheiro a leu sob um lampião da rua. — Seu pai sugere que eu aceite um emprego no escritório da ferrovia em Calcutá. Que agradável é a perspectiva de ter pelo menos uma das aposentadorias de que goza Swami Pranabananda! Mas é impossível; não posso sair de Benares. Infelizmente, ainda não tenho dois corpos!
  • 54. SWAMI PRANABANANDA “O santo de dois corpos” de Benares
  • 55. 4 Minha Fuga Interrompida Rumo ao Himalaia — ABANDONE A SALA DE AULA ARRANJANDO algum pretexto fútil e alugue um coche. Pare na travessa lateral, onde ninguém de minha casa possa ver você. Estas foram minhas instruções finais a Amar Mitter, colega da escola secundária que tinha planejado me acompanhar ao Himalaia. Havíamos escolhido o dia seguinte para a fuga. Era necessário tomar precauções, pois meu irmão Ananta exercia vigilância rigorosa. Ele decidira frustrar todos os planos de fuga que suspeitava predominarem em meus pensamentos. Como fermento espiritual, o amuleto trabalhava silenciosamente dentro de mim. Eu esperava encontrar, em meio às neves do Himalaia, o mestre cuja face muitas vezes me aparecia em visões. Minha família estava morando em Calcutá, para onde papai fora definitivamente transferido. Seguindo o costume patriarcal indiano, Ananta trouxera sua esposa para viver em nossa casa. Num quartinho do sótão, eu me entregava a meditações diárias, preparando minha mente para a busca divina. A memorável manhã chegou com uma chuva pouco auspiciosa. Ouvindo as rodas do coche de Amar na rua, embrulhei precipitadamente um cobertor, um par de sandálias, duas tangas, um colar de contas de oração, a fotografia de Lahiri Mahasaya e um exemplar do Bhagavad Gita. Atirei o embrulho pela janela do terceiro andar, desci as escadas correndo e passei por meu tio, que estava comprando peixe à porta. — Que agitação é essa? — Seu olhar me examinou cheio de suspeita. Sorri com ar inocente e caminhei até a viela. Apanhando meu embrulho, reuni- me a Amar com a cautela de um conspirador. Dirigimo-nos para Chandni Chauk, zona comercial da cidade. Durante meses havíamos economizado o dinheiro do lanche para comprar roupas inglesas. Sabendo que meu esperto irmão desempenharia facilmente o papel de detetive, pensamos em despistá-lo disfarçados em trajes europeus.
  • 56. Em nosso caminho para a estação, paramos para apanhar meu primo, Jotin Ghosh, a quem eu chamava de Jatinda. Ele era um recém-convertido, que suspirava por um guru no Himalaia. Vestiu a nova roupa que lhe tínhamos reservado. Bem camuflados, assim esperávamos! Profunda euforia dominava o nosso coração. — Agora só nos faltam sapatos de lona. — Levei meus companheiros a uma loja onde estavam expostos calçados com sola de borracha. — Artigos de couro, obtidos pela matança de animais, não devem ser usados nesta santa viagem. — Detive-me na rua para remover a capa de couro de meu Bhagavad Gita e as correias de couro de meu sola topi (capacete) de manufatura inglesa. Na estação, compramos passagens para Burdwan, de onde planejávamos baldear para Hardwar, no sopé do Himalaia. Assim que o trem, como nós, se pôs em fuga, dei rédea solta a algumas de minhas gloriosas previsões, antegozando- as. — Imaginem só! — exclamei. — Seremos iniciados pelos mestres e experimentaremos o transe da consciência cósmica. Nossos corpos se carregarão de tal magnetismo que os animais selvagens do Himalaia se aproximarão mansamente de nós. Os tigres não passarão de dóceis gatos caseiros, à espera de nossas carícias! Este comentário — que delineava perspectivas fascinantes, tanto metafórica quanto literalmente — produziu um sorriso entusiástico em Amar. Jatinda, porém, desviou o olhar e, pela janela, dirigiu-o para a paisagem que passava rapidamente. — Vamos dividir o dinheiro em três partes. — Jatinda quebrou um longo silêncio com esta sugestão. — Cada um de nós deve comprar sua própria passagem em Burdwan. Assim, ninguém na estação desconfiará que estamos fugindo juntos. Sem de nada suspeitar, concordei. Ao anoitecer, nosso trem parou em Burdwan. Jatinda foi ao guichê de passagens; Amar e eu nos sentamos na plataforma. Esperamos quinze minutos; depois, infrutiferamente, inquirimos sobre seu paradeiro. Procurando por todos os lados, gritávamos o nome de Jatinda com a urgência do pavor. Mas ele se esfumara nos desconhecidos e obscuros arredores da pequena estação. Fiquei completamente abatido, num estado de choque próximo do torpor. Não acreditava que Deus pudesse aprovar um incidente tão deprimente! Minha romântica fuga em direção a Ele, a primeira cuidadosamente planejada, redundara em perda cruel. — Amar, precisamos voltar para casa. — Eu chorava feito criança. — O adeus empedernido de Jatinda é um mau presságio. Esta viagem se destina ao fracasso.
  • 57. — É esse o seu amor pelo Senhor? Não pode suportar o pequeno teste da traição de um companheiro? Graças à possibilidade sugerida por Amar, de que se tratava de teste divino, meu coração se acalmou. Logo nos refizemos com os famosos doces de Burdwan, sitabhog (manjar para a deusa) e motichur (pepitas de pérola doce). Poucas horas depois, tomamos o trem para Hardwar, via Bareilly. Fazendo a baldeação no dia seguinte em Moghul Serai, discutimos um assunto vital enquanto esperávamos na plataforma. — Amar, logo poderemos ser interrogados pelos funcionários da ferrovia. Não vou subestimar a argúcia de meu irmão! Aconteça o que acontecer, não direi uma só mentira. — Só lhe peço, Mukunda, que não fale. Não ria e não faça um gesto enquanto eu falar. Neste momento, um funcionário europeu da estação se aproximou de mim. Ele sacudia um telegrama, cujo conteúdo adivinhei imediatamente. — Estão fugindo de casa contrariados? — Não! — Fiquei satisfeito por sua escolha de palavras me permitir esta resposta enfática. Não era a contrariedade, porém a “mais divina saudade”, a responsável por meu comportamento nada convencional. O funcionário voltou-se para Amar. O duelo de sutil inteligência que sustentaram quase me impediu de manter a estoica gravidade aconselhada. — Onde está o terceiro jovem? — O homem imprimiu um selo de plena autoridade em sua voz. — Vamos, diga a verdade. — Senhor, noto que usa óculos. Não pode ver que somos apenas dois? — Amar sorriu descaradamente. — Não sou mágico, não posso fazer aparecer um terceiro rapaz. O funcionário, visivelmente desconcertado com essa impertinência, procurou outra área vulnerável. — Qual é o seu nome? — Chamam-me de Thomas. Sou filho de mãe inglesa e pai indiano convertido ao cristianismo. — Qual é o nome de seu amigo? — Eu o chamo de Thompson. Nesta altura, minha hilaridade interior tinha atingido o auge. Sem a menor cerimônia, caminhei para o trem, que providencialmente dava o apito de partida. Amar veio atrás, acompanhado pelo funcionário, que se tornara crédulo e
  • 58. obsequioso a ponto de nos alojar em um compartimento reservado a europeus. Evidentemente lhe doía ver dois jovens de sangue parcialmente inglês viajarem numa seção destinada aos indianos. Quando se despediu cortesmente, reclinei- me para trás, no assento, em gargalhadas incontroláveis. O semblante de Amar expressava incontida satisfação por haver logrado um funcionário europeu veterano. Na plataforma, eu dera um jeito de ler o telegrama. Era de meu irmão Ananta e dizia: “Três jovens bengalis vestidos à inglesa fogem de casa para Hardwar via Moghul Serai. Favor detê-los até minha chegada. Ampla recompensa por seus serviços.” — Amar, eu o preveni que não deixasse em sua casa itinerários marcados. — Meu olhar era de censura. — Meu irmão deve ter encontrado algum desses papéis. Como um cordeiro, meu amigo admitiu sua falta. Paramos brevemente em Bareilly, onde Dwarka Prasad 1 esperava por nós com um telegrama de Ananta. Dwarka tentou valentemente nos deter. Convenci-o de que nossa fuga não fora empreendida por motivos fúteis. Como acontecera em ocasião anterior, Dwarka recusou meu convite de partir para o Himalaia. 1. Mencionado na página 18. Enquanto, à noite, nosso trem se detinha numa estação e eu cochilava, Amar foi acordado por outro funcionário inquiridor. Também este foi vítima do híbrido encantamento de “Thomas e Thompson”. O trem nos levou a uma chegada triunfal em Hardwar ao nascer do sol. As majestosas montanhas assomavam convidativas à distância. Como um raio, atravessamos a estação e entramos na liberdade das multidões citadinas. Nosso primeiro ato foi mudar a roupa para trajes indianos, pois Ananta, de algum modo, havia descoberto nosso disfarce europeu. Uma premonição de captura me pesava na cabeça. Reconhecendo que seria prudente sair logo de Hardwar, compramos passagens para prosseguir em direção ao norte, até Rishikesh, terra santificada pelos pés de muitos mestres desde épocas remotas. Eu já tinha subido ao trem. Mas Amar, que se atrasou na plataforma, foi pego de surpresa pelo grito de um policial. Esse indesejado vigilante escoltou-nos até a delegacia de polícia e confiscou nosso dinheiro. Cortesmente explicou que era seu dever reter-nos até a chegada de meu irmão mais velho. Ao saber que nosso destino de fugitivos era o Himalaia, o policial relatou uma estranha história. — Vejo que são alucinados por santos! Nunca, porém, encontrarão maior homem de Deus do que um santo com quem estive ainda ontem. Um colega policial e eu o vimos pela primeira vez há cinco dias. Patrulhávamos o Ganges em caçada feroz a um assassino. Tínhamos ordem de capturá-lo, vivo ou morto.