Este documento resume um livro sobre educação comparada entre Brasil e Portugal. O livro contém artigos sobre história da educação, educação superior, inclusão e formação de professores nos dois países. A obra fornece uma análise valiosa das semelhanças e diferenças entre os sistemas educacionais brasileiro e português.
6. alfabetização e letramento nas séries iniciais franklin
Educação comparada: temas e perspectivas
1. RESENHA
Temas em Educação comparada
Josania de Lourdes Alcantarino Nery*
Resenha do livro: SOUZA, Donaldo Bello de; MARTINEZ, Silvia Alicia
(orgs.). Educação Comparada: Rotas de além-mar. São Paulo: Xamã,
2009, 519p. (ISBN: 978-85-7587-124-9)
A Educação Comparada tem sido objeto de estudo de muitos pesquisadores por ajudar a explicitar questionamentos na área da educação. Tal
perspectiva Não se trata de comparar dados para ver quem é melhor ou pior,
mais ou menos, igualdades ou similaridades, mas acima de tudo, trata-se
de verificar o que é singular em cada comparação; o que o torna único e
diferente dos outros.
Neste livro Donaldo Bello de Souza e Silvia Alicia Martínez fazem um
brilhante trabalho de organizar uma coletânea de artigos em quatro diferentes eixos: 1.Educação Comparada: Possibilidades e Limites; 2. História
da Educação em Perspectiva Comparada Brasil-Portugal; 3. Educação
Superior, de Jovens e Adultos, Inclusiva e Formação de Professores em
Perspectiva Comparada Brasil-Portugal; 4. Gestão e Avaliação da Educação
Perspectiva Comparada Brasil-Portugal.
Este é um livro muito denso (519 páginas) e importante, ao fazer sua
resenha fiquei envolvida com a qualidade do material nele publicado. A
leitura desta obra é recomendada em sua totalidade a todos os que desejam
se aprofundar no assunto.
Inicialmente quero comentar sobre o prefácio tão bem escrito pelo
Presidente do Conselho Diretivo da Faculdade de Psicologia e de Ciências
da Educação da Universidade de Lisboa, Prof. Dr. João Barroso, que não
só teve o cuidado de não esvaziar o sabor da leitura da obra, mas apresenta
contribuições riquíssimas quando evidencia a existência de “paradoxos” na
educação comparada, chamando a atenção para as condições de comparabilidade, afirmando, mesmo, que “Não há comparação sem comparáveis”. Por
isso, afirma que “a comparação não é uma relação de A com B, mas uma
* Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo, Umesp.
Revista Múltiplas Leituras, v. 4, 1, 2011, p. 143-148 • ISSN 1982-8993
143
2. relação de A e B com C, em que C é a própria condição de comparabilidade
de A e B” ( p.10).
Ele também chama a nossa atenção para dois grandes aspectos desta
obra: a valorização da contribuição dos textos da primeira parte para uma
reflexão fundamentada sobre a definição da educação comparada como
campo de estudo das ciências da educação e, o segundo aspecto destacado,
a importância das “redes sociais” de pesquisa na construção de um campo
científico. De acordo com o Prof. João Barroso, a constituição dessas redes
é uma importante contribuição para o surgimento de “novas geografias” de
conhecimento sobre a educação (p.13).
Na primeira parte do livro: Educação Comparada: Possibilidades
e Limites são discutidos os referencias teóricos e metodológicos de uma
”disciplina” ainda em construção, apresentando a especialização técnica e
métodos comparativos de coleta e de análise de dados, além da reflexão científica necessária à problematização e à elaboração de teorias da comparação
(Barroso, p. 11), distribuídos em cinco textos:
•
•
•
Modelos de análise em educação comparada: o campo e o mapa ,
de Antonio Nóvoa. Texto publicado em francês, em meados de
1990, mas ainda relevante para os dias atuais, foi traduzido por Ana
Isabel Madeira. Neste texto, Nóvoa aborda as dimensões teóricas e
conceituais da educação comparada, discutindo a historicidade da
educação comparada até os anos 1960, com uma relação dos espaços dos saberes e dos poderes e as configurações dos sete modelos
de análise adotados na segunda metade do século XX. São elas:
perspectivas historicistas, positivistas, da modernização, da resolução de problemas, críticas, do sistema mundial e sociohistóricas.
Para Nóvoa, a educação comparada traz novos desafios tais como:
identificar novos problemas, colocar em prática novos modelos de
análise e o de inventar novas abordagens.
Aceitando os desafios da complexidade: metodologia da educação
comparada em transição de Jürgen Schriewer, em que é evidenciada
a necessidade de as Ciências Sociais fornecerem explicações para os
fenômenos macrossociais. No artigo, ele busca enfatizar principalmente as dificuldades para que isso aconteça. E o autor problematiza
em torno das possibilidades fornecidas pela mudança sociohistórica e
das diferentes metodologias usadas nos processo de comparação.
O campo da educação comparada: do simbolismo fundacional à
renovação das lógicas de investigação: de Ana Isabel Madeira em
144 Revista Múltiplas Leituras, v. 4, 1, 2011, p. 143-148 • ISSN 1982-8993
3. •
que a autora faz uma clarificação da posição da educação comparada nas Ciências Sociais. De acordo com a autora, a ruptura com
os modelos dominantes até meados do século XX está na atual
reconfiguração das abordagens em educação comparada, que visa
articular perspectivas do sistema mundial com as perspectivas sóciohistóricas.
O sentido da educação comparada: uma compreensão sobre a
construção de uma identidade de Antonio Gomes Ferreira, cuja
análise gira em torno do sentido da comparação na educação.Ele traz
a evolução da educação comparada analisando diversos períodos: o
da criação, da descrição, da interpretação (que abrange as abordagens
interpretativo-histórica, interpretativo-antropológica e interpretativofilosófica), da comparação complexa (com as abordagens positivista,
de resolução de problemas, crítica e sócio-histórica).
Encerrando a primeira parte do livro, o artigo assinado pelos organizadores do livro, Donaldo Bello de Souza e Sílvia Alicia Martínez: O estado
do conhecimento em educação comparada Brasil-Portugal (1986-2006),
com uma analise da produção em educação comparada no Brasil e Portugal,
discutindo a crescente expressão de trabalhos em educação comparada nos
cursos de pós-graduação, no âmbito de seminários e congressos.
A segunda parte, sob o título: História da Educação em Perspectiva
Comparada Brasil-Portugal traz uma coletânea de estudos, com resultados
de pesquisas em educação comparada na relação Brasil-Portugal, organizada
no campo da história da educação:
•
•
Produção e Circulação do conhecimento pedagógico: análise comparada de revistas de educação e ensino no Brasil e em Portugal
(1880-1930) de Ana Lúcia Cunha Fernandes, texto que faz parte de
sua tese de doutorado, em que investiga a gênese e a produção de
um discurso especializado sobre educação, em Portugal e Brasil,
veiculado por meio de revistas pedagógicas de ambos os países, em
dois momentos distintos: o último quartel do século XIX e os anos
20 e 30 do século XX (p. 221).
Saberes “normalistas” e sua circulação e aproximação no contexto
Portugal-Brasil: o caso do manual Elementos da Pedagogia, de
Affreixo e Freire, autora Silvia Alicia Martínez; Baseaando-se no
estudo de um manual elaborado num contexto português, refere-se
ao livro Elementos de Pedagogia, adotado na Escola Normal de
Revista Múltiplas Leituras, v. 4, 1, 2011, p. 143-148 • ISSN 1982-8993
145
4. •
•
•
•
Campos, Rio de Janeiro, objeto de estudo da autora, e que traz
um contexto luso-brasileiro para o meio de circulação dos saberes
pedagógicos.
A educação na casa: uma prática das elites portuguesas e brasileiras no século XIX, de Maria Celi Chaves Vasconcelos; A autora
aborda a educação doméstica, fazendo um resgate histórico no Brasil
e em Portugal e mostrando como a mesma resistiu como prática
educativa ao longo do século XX, convivendo com as escolas particulares e com a escola pública estadual emergente.
Notas sobre uma história de leituras para normalistas em Portugal
e no Brasil (1870-1970): tornar visíveis os distanciamentos nas
proximidades, de Vivian Batista da Silva, é um artigo em que a autora traz uma pesquisa realizada sob uma perspectiva sociohistóricocomparada e relacionada a manuais pedagógicos editados nos dois
países ( Brasil e Portugal).
História comparada sobre a institucionalização da disciplina de
Desenho nas escolas imperiais luso-brasileiras, de Gláucia Maria
Costa Trinchão. Neste texto a autora faz um levantamento da trajetória
e identifica as raízes históricas da inserção da disciplina de Desenho
nas escolas públicas luso-brasileiras a partir das primeiras iniciativas
de institucionalização de ensino público, no século XX.
Estar aqui, estar lá , de Vera Lúcia Gaspar da Silva. Texto baseado em aparentes semelhanças entre o pensamento de professores
catarinenses e franceses com formação e atuação no fim do século
XIX e inicio do século XX. Estudo que serviu de base para a tese
de doutorado da autora: Sentido da profissão docente, defendida
em 2004 e que envolveu o corpo docente de Santa Catarina, São
Paulo e Portugal. A autora buscou através de um diferente olhar, a
compreensão de projetos semelhantes em terras tão distantes.
A próxima parte do livro, o terceiro eixo, aborda sobre assuntos diversos ligados a educação e tem como tema: Educação Superior, de Jovens e
Adultos, Inclusiva e Formação de Professores em Perspectiva Comparada
Brasil-Portugal. São eles:
•
Brasil e Portugal em busca da democratização do acesso ao ensino superior mediante os programas de financiamento estudantil
sob a perspectiva da prática comparativa, de autoria de Ana Maria
146 Revista Múltiplas Leituras, v. 4, 1, 2011, p. 143-148 • ISSN 1982-8993
5. •
•
•
•
Gonçalves de Sousa. No artigo a autora busca esclarecer o ponto
de partida de sua investigação, o espaço da lusofonia; depois faz o
ensaio de alguns conceitos e linhas de análise da construção teórica
dessa investigação e , por fim, trata das características dos programas
de financiamento estudantil no ensino superior e seus resultados.
Educação de jovens e adultos trabalhadores no Brasil e em Portugal: escritos preliminares, de Rui Canário e Sonia Maria Rummert;
Os autores analisam neste artigo as políticas voltadas para o EJA,
Educação de Jovens e Adultos a classe trabalhadora destes dois
países ( Brasil e Portugal) na presente década.
Estudo comparado das salas de recursos ( Brasil) e das salas de
apoio ( Portugal) : buscando nexos entre a educação especial e a
educação inclusiva , autoria de Fabiany de Cássia Tavares Silva;
Texto que faz parte da tese de doutorado da autora, tem como objeto de pesquisa o estudo comparado das proposições de criação
e funcionamento das salas de recursos, no Brasil, e das salas de
apoio, em Portugal. Ela buscou compreender como o oferecimento
desses serviços pela educação especial pode representar uma resposta
estratégica aos problemas de inclusão de alunos com necessidades
educacionais especiais em escolas comuns.
História da formação de professores em cursos a distância: é possível uma comparação entre Brasil e Portugal? Artigo de Maria
Luisa Furlan Costa, é uma provocação da autora para as diferenças
e semelhanças dos cursos superiores a distância para a formação de
professores no Brasil e em Portugal. Ela mostra como o caminho
percorrido pelos dois países aproxima-se em alguns pontos, mas
diverge, totalmente, em outros aspectos.
Sentidos da Profissão Docente, de Olinda Evangelista. A autora
busca abordar a importância da formação do professor nos anos noventa, considerando a relevância dada ao tema pelas políticas públicas e demais entidades voltadas para o ensino na referida época.
Na quarta e última parte, porém não menos importante do que as demais, sob o título: Gestão e Avaliação da Educação Perspectiva Comparada
Brasil-Portugal, os autores abordam questões sobre gestão e avaliação num
estudo comparativo entre Brasil e Portugal.
• Centralização e descentralização: dilemas em ambos os lados
do Atlântico, de Candido Alberto Gomes e Marta Luz Sisson de
Revista Múltiplas Leituras, v. 4, 1, 2011, p. 143-148 • ISSN 1982-8993
147
6. •
•
•
Castro. Os autores abordam a questão da descentralização, ou da
centralização, como não sendo a solução para uma maior e melhor
educação e, o fazem através de todas uma abordagem histórica nos
dois Países ( Brasil e Portugal);
Gestão e autonomia da escola pública no Brasil e em Portugal:
aproximações e distanciamentos, autoria de Ângela Maria Martins,
quem vem a discutir a agenda política implementada a partir de
meados dos anos 1980, tanto no Brasil quanto em Portugal, discutindo proximidades e distanciamentos entre estas duas realidades.
Ela considera que a agenda política implementada, centrada no discurso da modernização e da autonomia das escolas, não conseguiu
romper a cultura político-administrativa consagrada por práticas
tradicionais.
Políticas participantes em escolas públicas de educação básica:
comparações entre os casos brasileiro e português, de Flávia
Obino Corrêa Werle e Daianny Madalena Costa; Neste artigo os
autores trazem uma reflexão sobre as perspectivas democratizantes
e participativas presentes nas políticas públicas estudantis no Brasil ( através dos conselhos de escola) e em Portugal ( através das
assembléias escolares) e na possibilidade de seus representantes
serem considerados sujeitos capazes de intervir nos processos de
regulação da educação.
Investigação de fatores associados à eficácia escolar no Brasil e
em Portugal a partir dos dados do Pisa 2000, de Alicia Bonamino
e Fátima Alves. As autoras fazem um levantamento dos dados do
PISA e o retrato da educação nestes dois países ( Brasil e Portugal)
baseado nos dados de leitura. Neste estudo constatam muitas diferenças entre os resultados obtidos, mas destacam a importância de
realizar estudos comparados como instrumento para entender melhor
as problemáticas educacionais e as realidades locais.
A leitura dessa obra é fundamental para quem pesquisa em educação,
especialmente nessa perspectiva comparada; uma obra em que seus 27
autores brasileiros e portugueses nos presenteiam com suas contribuições
além-mares, no aperfeiçoamento de nossos conhecimentos sobre esse modo
de pesquisar... Imperdível!
148 Revista Múltiplas Leituras, v. 4, 1, 2011, p. 143-148 • ISSN 1982-8993