Argumentação
Situa-se entre a retórica e a lógica.
pelo seu carácter dialéctico, dela retirando algumas noções como,
por exemplo, a de auditório.
retirando dela a estrutura que sustenta o discurso.
A argumentação
- pode ocorrer no encontro interpessoal, isto é, numa situação de
diálogo em que as pessoas se dirigem directamente umas às outras;
- ou de forma mais indirecta através dos meios de comunicação
social.
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Ao nível das relações interpessoais, o discurso argumentativo
exerce-se num contexto em que há um determinado emissor ou
orador e um destinatário ou auditório que, de uma ou outra
forma, estabelecem um contacto dialógico próximo e directo: a
palestra, a conferência, o debate, a exposição...
Ao nível dos meios de comunicação social, agente formador e
informador da opinião pública, o discurso argumentativo dirige-se
a um auditório indiferenciado, como acontece com um artigo de
fundo, com um editorial, com as notícias, com os comentários e
com a publicidade.
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Discurso argumentativo
Acto comunicativo que apresenta provas ou razões para defesa de
uma opinião, as quais visam persuadir o receptor e interferir nas suas
atitudes e comportamentos.
Para deliberar, justificar, discutir, explicar, provar ou fundamentar,
recorremos ao discurso argumentativo .
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Características do discurso
argumentativo
Exerce-se numa situação comunicativa, pressupõe o uso da palavra,
excluindo a violência ou a força física para atingir o seu objectivo:
conquistar a adesão do auditório.
Serve-se da linguagem natural e não de símbolos abstractos, a
linguagem deve ser compreendida pelo auditório.
Possui carácter dialógico. Relação interactiva entre orador e
auditório, podendo ambos, em cada momento, dar assentimento ou
rejeitar aquilo que o outro diz.
As mensagens transmitidas não são neutras, visam alterar as
convicções e as atitudes das outras pessoas. Pela palavra, o orador
pretende agir sobre os outros, interferindo nas suas opiniões.
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O objectivo é granjear adesão, esforçando-se por conquistar o
auditório.
Integra um conjunto de estratégias. Para melhor convencer o
receptor, uma boa selecção e organização de argumentos pode
conduzir mais eficazmente ao que se pretende.
É uma forma problematizadora de encarar os temas – os que
conduzem à dúvida e suscitam diferentes pontos de vista. Uma
questão é objecto de argumentação se a sua verdade não for
evidente nem objectiva.
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Argumento dedutivo
São susceptíveis de validade formal – constituem objecto de estudo da
lógica;
Característico das ciências formais, como a lógica e a matemática;
Processo de inferência pelo qual de uma ou mais proposições conhecidas
(premissas) se conclui necessariamente uma proposição (conclusão), nelas, de
algum modo, incluída e implicada;
A conclusão de um argumento dedutivo é uma consequência necessária ou
lógica das premissas;
Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão é necessariamente
verdadeira;
Não é ampliativo ou demonstrativo.
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Argumento indutivo
Num argumento indutivo, a verdade da conclusão não é garantida pela
verdade das premissas, a conclusão é apenas provavelmente verdadeira;
Está presente nas ciências experimentais como a física e a biologia
(investigação com base nos dados recolhidos pela observação na natureza);
Processo de inferência que vai do particular para o geral;
São ampliativos ou não-demonstrativos ( a conclusão “ultrapassa” as
premissas, é uma extrapolação – no sentido em que, a verdade conjunta das
premissas não garante a verdade da conclusão);
Um argumento indutivo é forte quando a força das premissas torna
altamente improvável (embora não impossível logicamente) que a conclusão
seja falsa.
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Argumento por analogia
Baseia-se numa comparação entre objectos diferentes e inferem de certas
semelhanças outras semelhanças (partem da ideia de que se diferentes coisas
são semelhantes em determinados aspectos, também o serão noutros);
a verdade da conclusão não é garantida pela verdade das premissas (há que
ter em conta aquilo que as premissas e a conclusão afirmam e os dados da
experiência);
A forma não permite concluir se é bom ou mau – a qualidade deste
argumento não depende da sua forma lógica;
Podem ser fortes ou fracos:
- a comparação tem de se basear num número razoável de semelhanças;
- as semelhanças apontadas devem ser relevantes para a conclusão que se
quer inferir;
- não deve haver diferenças fundamentais relativamente aos aspectos que
estão a ser comparados.
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Outros argumentos: Entimema (argumento dedutivo)
É um silogismo em que uma das premissas é omitida por ser óbvia e
poder ser facilmente subentendida. É um silogismo a que falta uma
premissa, geralmente a primeira.
Ex. O aborto deve ser proibido, porque é o assassínio de inocentes.
A primeira premissa está suprimida.
Forma canónica
Todo o assassínio de inocentes deve ser proibido.
O aborto é um assassínio de inocentes.
Logo, o aborto deve ser proibido.
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Ex. Os golfinhos não são peixes porque não respiram por guelras.
Falta a primeira premissa.
Forma canónica
Os peixes respiram por guelras.
Os golfinhos não respiram por guelras.
Logo, os golfinhos não são peixes.
Ex. Todo o texto é subversivo. Logo, o poema é subversivo.
Falta a segunda premissa.
Forma canónica
Todo o texto é subversivo.
O poema é um texto.
Logo, o poema é subversivo.
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Argumentos com base em exemplos
Argumento de natureza indutiva que consiste em citar com
oportunidade um exemplo ou caso particular
visa produzir no auditório a convicção de que ilustra um
princípio geral
Efectuam generalizações e previsões a partir de casos ou
exemplos particulares (mesmo quando os exemplos são
verdadeiros, a generalização comporta certa possibilidade de
erro)
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Argumentos de autoridade
Argumento baseado na opinião de um especialista (pessoa ou
instituição com conhecimentos seguros sobre dada matéria).
O argumento estrutura-se da seguinte forma:
X (alguém com conhecimentos seguros) faz a afirmação Y. A diz que P.
Logo: A afirmação Y é verdadeira.
ou Logo, P.
Ex. Hegel diz que todo o real é racional e todo o racional é real; logo,
todo o real é racional e todo o racional é real.
É um mau argumento de autoridade, não porque Hegel não seja um
especialista na matéria, mas porque muitos outros especialistas na matéria
discordam dele, quanto ao que está em causa.
Nota: em filosofia, os argumentos de autoridade são quase sempre maus; isto porque os filósofos discordam
entre si acerca de quase tudo o que é interessante.
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Regras a ter em conta para que o argumento de autoridade seja um bom argumento:
O especialista invocado deve ser muito bom no assunto em causa
Não haver discordâncias significativas entre os especialistas relativamente ao
assunto em questão
Não haver outros argumentos mais fortes ou de força igual a favor da tese
contrária
Os especialistas não terem interesses pessoais na afirmação em causa (imparciais)
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Falácias informais
São erros de raciocínio, que pode ter várias origens, mas que decorre sempre do
conteúdo do argumento, da sua matéria (da linguagem natural comum) e não
propriamente da sua forma – as premissas não sustentam a conclusão.
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Falácias da irrelevância
Falácias ad baculum ou recurso à força Uso de ameaças ou intimidações com
o objectivo de fazer aceitar uma
afirmação.
Estes argumentos “de mão dura” não
deixam as pessoas decidir de forma livre.
Ex. “O dinheiro ou a vida”
Falácias ad hominem ou contra a pessoa Atacar ou lançar em descrédito
Estes ataques poderão centrar-se: na alguém para mostrar a falsidade das
classe social, na etnia, na família, religião, suas afirmações. Ataca-se a pessoa
partido político … em vez de atacar ou refutar a sua
Ex. A tua tese não tem qualquer tese.
valor, porque és comunista e ateu.
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» Falácias da irrelevância
Falácias ad ignorantiam ou da ignorância Quando alguém apela à ignorância
Estes argumentos são usados muitas vezes defendendo que uma afirmação
no âmbito de fenómenos psíquicos raros e deve ser verdadeira só porque não
excepcionais, para os quais é difícil encontrar se provou a sua falsidade ou falsa
provas (telepatia, espiritismo, fantasmas …). só porque não se provou que é
Ex. Não há destino. Jamais se provou verdadeira.
o contrário.
Falácias ad misericordiam ou da misericórdia
Argumentos que, em vez de
Recorre-se à pressão apresentar razões justificativas da
por via emocional. conclusão, apelam à piedade ou
compaixão do auditório.
Ex. Os sacrifícios que tenho feito por ti (chantagem
afectiva).
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» Falácias da irrelevância
Falácias ad populum ou falácia populista Fazer aderir a uma tese ou
produto, servindo-se do facto de a
Nestas falácias tenta-se conquistar a
concordância popular, despertando a sua origem ou apresentação se
admiração e entusiasmo. deverem a pessoa credora de
popularidade.
Ex. Campanhas eleitorais.
Falácias ad verecundiam ou da autoridade Tentativa de sustentar uma tese,
Surge quando : apelando a uma personalidade de
- Se pretende apoiar uma afirmação, apelando a reconhecido mérito (cujo saber
alguém que é prestigiado numa área diferente. ou competência é irrelevante
- Se insiste na autoridade de um especialista e tenta
furtar-se às objecções críticas dos interlocutores. para o tema em discussão).
- O próprio orador se erige em autoridade.
Ex. É falacioso defender a boa qualidade de uma TV, afirmando que o
futebolista X ou a top-model Y compraram um igual. Ficha de trabalho
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As situações seguintes têm subjacentes falácias da irrelevância. Identifique-as.
Ad verecundiam Ad populum Ad hominem Ad baculum
Ad baculum Ad mesiricordiam Ad populum Ad ignorantiam
Ad hominem Ad hominem Ad hominem Ad mesiricordiam
Ad baculum Ad verecundiam Ad populum Ad populum
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Falácias da insuficiência de dados
Falácia da generalização precipitada Enunciar uma lei ou uma regra geral
Esquema da generalização precipitada:
a partir de dados insuficientes ou
O fenómeno X ocorre em A1, A2, … não representativos.
_____________________________________________________________________________
Logo, o fenómeno X ocorre em todos os AA
Falácia da falsa causa
Non causa pro causa (“não causa pela
causa”)
Atribuição da causa de um fenómeno a outro fenómeno,
não existindo entre eles qualquer relação causal.
Post hoc, ergo propter hoc(“depois de, logo por causa de”)
Esquema: Consiste em supor que a causa de
O fenómeno B ocorre a seguir ao fenómeno A. um fenómeno reside noutro que o
______________________________________
Logo, A é causa de B. precede no tempo.
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» Falácias da insuficiência de dados
Falácia da falsa analogia Tirar conclusões de um objecto ou de uma
situação para outra semelhante, sem
Esquema da falsa analogia: atender às diferenças significativas.
O fenómeno X apresenta a característica A
O fenómeno Y apresenta a característica A
_____________________________________________________________________________
Logo: X é igual a Y
Falácia da petição de princípio Adopção da conclusão que se quer
demonstrar para premissa do raciocínio
Confunde-se a repetição de uma (usa as mesmas palavras ou palavras com
afirmação com a sua prova. Trata- o mesmo significado para designar o que
se de “andar às voltas” sem nada quer explicar e as explicações).
clarificar.
Ex. Uma pessoa odeia as pessoas de outra raça porque é racista.
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As situações seguintes têm subjacentes falácias da insuficiência de dados. Identifique-as.
Generalização Falsa analogia Falsa causa
precipitada
Petição de Falsa analogia Generalização
princípio precipitada
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Falácias da ambiguidade
Falácia da equivocidade Introdução de um termo com duplo
Argumento: sentido num argumento.
Os pés têm dedos e unhas O termo “pés”, neste caso, é uma palavra
As mesas têm pés equívoca, refere-se a conceitos distintos.
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Logo: As mesas têm dedos e unhas
Falácia do falso dilema
Consiste em reduzir as opções possíveis a
apenas duas, ignorando-se as restantes
É como se existissem só dois caminhos. alternativas.
Ex. Ou concordas comigo ou não! (pode concordar-se parcialmente) .
Ex. Ou és meu amigo, ou és meu inimigo.
Não és meu amigo.
Logo, és meu inimigo.
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» Falácias da ambiguidade
Falácia do espantalho Consiste em atribuir a outrem uma
opinião fictícia ou em deturpar as suas
afirmações de modo a terem outro
significado.
É frequente em contendas ou polémicas.
Ocorre uma caricatura do argumento
apresentado.
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As situações seguintes têm subjacentes falácias da ambiguidade. Identifique-as.
Equivocidade Espantalho Equivocidade
Falso dilema Falso dilema Falso dilema
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Bibliografia
Maria Antónia Abrunhosa e Miguel Leitão, Manual Escolar “Um Olhar sobre o Mundo”,
Ensino Secundário, 11º Ano, Vol.1, Edições ASA, 2008
Fátima Alves, José Arêdes e José Carvalho, Manual Escolar “Pensar Azul Filosofia - 11º
Ano”, Texto Editores, 2008
Fátima Alves, José Arêdes e José Carvalho, Manual Escolar “705 Azul Introdução à
Filosofia - 11º Ano”, Texto Editores, 2004
Marta Paiva, Orlanda Tavares e José Ferreira Borges, Manual Escolar “Contextos, Filosofia
- 11º Ano”, Porto Editora, 2008
Artur Polónio, Faustino Vaz e Teresa Cristóvão, Manual Escolar “CriticaMente Filosofia - 11º
Ano”, Porto Editora, 2008
Adília Maia Gaspar e António Manzarra, Manual Escolar “Em Diálogo Filosofia 11º Ano /
Ensino Secundário”, Lisboa Editora, 2008
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