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Ano 33 • n• 294
JULHO 2O11
Publicaçãodaassociaçãobrasileiradedistribuidoresvolkswagen
Crowdsourcing,
quando o consumidor
ajuda a criar o produto
Gente consciente
3
SHOWROOM
s três principais temas desta edição de Showroom tratam de gente. E de gente motivada.
A primeira abordagem sobre pessoas é feita pelo especialista em Recursos Humanos, Daniel
Ramirez, presidente da Eagle´s Flight, empresa de treinamento, líder no seu segmento no País.
Na seção Gente, Ramirez conta, entre outras curiosidades, como as empresas estão tratando
seus funcionários e como estes estão reagindo aos maus empregadores. Uma multidão que,
diferentemente de anos atrás, não se conforma em trabalhar apenas pelo salário, mas por
princípios e compromissos que precisam ser honrados.
Mais adiante, a matéria de Capa destaca o crescimento das plataformas de geração de conteúdo
colaborativo (crowdsourcing) e de financiamento (crowdfunding) no Brasil, fenômeno que
também depende de uma multidão motivada, alinhada com o mesmo objetivo. Para quem não
está familiarizado, crowdfunding (de multidão, em inglês) foi o conceito que arrecadou 137 milhões
de dólares pela internet para eleger Barack Obama em 2008.
Como tudo no Brasil, quando pega, propaga-se rapidamente. O estouro desta modalidade de
financiamento aconteceu este ano, contando já com 12 sites ativos. O motivo? Uma multidão
entusiasmada, acreditando na ideia de financiamento colaborativo pela internet, prova
incontestável de que o brasileiro já superou o receio de negociar pela rede mundial.
Nosso terceiro assunto, que também envolve muita gente, trata do marketing de relacionamento,
matéria onde mais uma vez apontamos o quanto é importante estabelecer um canal direto
de comunicação com o consumidor. A novidade é que este consumidor está muito mais ligado
na mídia que circula na internet do que na mídia impressa, como preconizavam os ditames
do marketing direto de alguns anos.Tanto é verdade que o e-commerce foi o segmento que
proporcionalmente recebeu a maior fatia dos investimentos alocados em marketing direto no
ano passado, segundo dados da ABEMD, Associação Brasileira de Marketing Direto. De qualquer
forma, é pensando no consumidor, no cliente, na multidão nada silenciosa que questiona
qualidade, preço e conduta que os esforços das empresas estão se concentrando. A cada dia, mais
e mais organizações aderem a programas de fidelização porque sabem e as estatísticas apontam
que ações orientadas garantem a frequência até 40% maior de clientes fidelizados, clientes que
gastam, em média, 20% a mais em cada compra do que clientes comuns.
Boa leitura.
Conselho Editorial
O
3 Recado
A mensagem do Conselho Editorial.
5 Cartas
O que dizem sobre Showroom.
6 Quem Passou por
Aqui
Personalidades e amigos que
visitaram a Assobrav e o Grupo
Disal.
8 Gente
Daniel Ramirez, o ator e diretor de
teatro que se tornou um expert em
treinamento. Atuando na área de
RH de grandes companhias, aliou
suas competências artísticas às
mais novas técnicas de treinamento
e montou sua própria empresa.
Visionário, trouxe para o Brasil a
inovadora Eagle´s Flight, empresa
de treinamento canadense, cujo
diferencial é a tônica lúdica.
12 RH
A reflexão do psicólogo, especialista
em relações corporativas, Armando
Siqueira Neto.
16 Mundo Verde
Nosso recado sobre a
preservação do meio
ambiente e suas
implicações legais.
18 Capa
Crowd, multidão em inglês, é o prefixo
de plataformas de geração de conteúdo
colaborativo (crowdsourcing) e de
financiamento coletivo (crowdfunding),
hoje caracterizados por uma
economia baseada em colaboração e
interatividade, empreendedorismo e a
aceleração de projetos inovadores. Não é
uma tendência ou mais uma moda, mas
uma nova economia que está surgindo
baseada na multidão.
24 TechMania
Os testes em laboratórios e em pistas
de prova da indústria automobilística,
segundo o jornalista Fernando Calmon.
26 Freio Solto
A opinião, a crítica e a ironia do
jornalista Joel Leite.
28 Marketing
Marketing de relacionamento, one-to-
one, comunicação dirigida, marketing
com database: novas denominações
para o bom, segmentado e sempre
mensurável marketing direto. Com
novas tecnologias e ferramentas, o setor
de varejo é o que mais se dedica a essa
atividade.
32 A Passeio
Montenegro, um dos cinco destinos que
todos precisam conhecer. Um país muito
pequeno e muito interessante. Costa
fantástica, montanhas exuberantes,
cidades antigas e fervilhantes. Ao norte
da costa, as Bocas de Cátaro, Kotor e a
história preservada em Budva encantam
turistas do mundo inteiro. Na costa sul,
a pequena Ulcinj, a magnífica Bar e o
Lago Skadar conquistam os visitantes. No
centro, o Monastério Ostrog, a histórica
Cetinje e o monte Lovcen. Ao norte, o
parque nacional de Durmitor e a floresta
Biogradska Gora. São muitas coisas para
serem vistas em apenas 14 mil km2
38 E se...
A ficção de Maria Regina Cyrino Corrêa
sobre as principais datas celebradas em
julho.
40 Novidades
O que há de novo em eletrônicos,
periféricos de informática e outras
utilidades.
41 Livros & Afins
Nossas dicas para a sua biblioteca,
cedeteca, devedeteca e pinacoteca.
42 Vinhos & Videiras
A opinião abalizada de Arthur Azevedo,
diretor executivo da ABS – Associação
Brasileira de Sommeliers – SP e editor da
revista WineStyle e do site www.artwine.
com.br
42 Mesa Posta
Receitas, segredos e informações sobre
a história da gastronomia com o chef
Gustavo Corrêa.
CAPA
4
APASSEIO
MUNDOVERDE
A perua no choco
Bem divertida e verdadeira a crônica do jornalista Joel Leite na edição passada
(“A Perua no choco e o choque cultural” – nº 293 – Junho 2011). É bem verdade
que a diversidade das culturas leva, mais frequentemente do que supomos, a
interpretações erradas.
José Mauro • São Paulo - SP
Madrid
Muito legal a reportagem sobre Madrid publicada
na Showroom de junho (Seção A Passeio -Edição 293).
Ela serve como uma aula de história e um roteiro
minucioso do que se pode fazer em pouco tempo na
maravilhosa capital espanhola.
Parabéns.
Janaina Correia Mendes • Brasília - DF
Matérias pertinentes
Primeiramente gostaria de parabenizá-los pelas
publicações da Revista Showroom, com artigos e
matérias extremamente pertinentes e que dispensam
qualquer comentário. 
Li uma nota em uma edição passada que é possível receber em casa os
exemplares da revista. Havendo esta possibilidade, gostaria de receber Showroom
em meu endereço.
Tiago Luiz Pavoski Klawa • Pós-Vendas VW Holanda
Veículos Ltda • Palmeira das Missões - RS
Leitura diversificada
Gostaria de agradecer o recebimento da ótima Revista Showroom durante todos
estes anos. É uma publicação diversificada e ao mesmo tempo de excelente
conteúdo cultural.
Sou Administrador e a utilizo sempre em meu trabalho. Já na minha casa, a
revista é disputada por todos devido às matérias e as informações sobre o
mercado automobilístico que traz.
Júlio Evaristo Salomon • Nova Friburgo - RJ
Bom instrumento para estudantes
Conheci a Revista Showroom na concessionária quando fui fazer a revisão do
meu carro Volkswagen.
Sou professora universitária e gostei muito dos artigos da revista. Curtos e
muito bem focados em diversos aspectos da realidade que vivemos. Ideais para
trabalhar tais assuntos com alunos de forma prática e proveitosa.
Maria Suelena Quadros • Professora Universidade de Caxias do Sul/RS
N.R.: Recordamos que para receber Showroom mensalmente os interessados devem
enviar um e-mail à Redação (www.editoria@tato.com) informando o seu endereço
e solicitando o envio da publicação. Os pedidos serão atendidos por ordem de
chegada e conforme a disponibilidade de exemplares.
Conselho Editorial
Antonio Francischinelli Jr. , Mauro I.C.
Imperatori e Silvia Teresa Bella Ramunno.
Editoria e Redação
Trade AT Once - Comunicação e Websites Ltda.
Rua Itápolis, 815 • CEP 01245-000
São Paulo •SP • Tel (11) 5078-5427
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Editora e Jornalista Responsável
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Redação - Rosângela Lotfi (23.254/MT)
Projeto Gráfico e Direção de Arte
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As matérias assinadas são de responsabilidade
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Vice-presidentes: André Oshiro
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Elias dos Santos Monteiro		
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Francisco Veríssimo S Filho	
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Luiz Francisco Viscardi	 	
Nilo Moraes Coelho Filho		
Rogério Wink			
Diretor Ad-hoc: Bruno Abib			
		
Conselho de Ex-Presidentes
Sérgio Antonio Reze, Paulo Pires Simões, João
Cláudio Pentagna Guimarães, Rômulo D.
Queiroz Monteiro Filho, Orlando S. Álvares de
Moura, Amaury Rodrigues de Amorim, Carlos
Roberto Franco de Mattos,
Roberto Torres Neves Osório,
Elmano Moisés Nigri e
Rui Flávio Chúfalo Guião.
Foto de capa:
http://www.volkswagen.com.br
5
Publicação mensal da
Ano 33 – Edição 294– julho de 2011
SHOWROOM
A elegante
advogada
Cecília
Oliveira, do
departamento
jurídico da
Volkswagen
do Brasil, para
prestigiar
mais um
evento
conjunto
entre e
Montadora e
a Assobrav...
6
O gerente de
Unidade – TSC da
Volkswagen do
Brasil, Josimar
Balbino de Oliveira,
para reunião de
calendário da área...
Marcos Roberto
Ramos Costa,
superintendente
comercial da
Sulamérica
Seguros e
Previdência,
para registrar os
bons negócios da
parceria com a
Assobrav/Grupo
Disal...
O ex-presidente
da Assobrav, João
Carlos Pentagna
Guimarães, com sua
elegância e carisma,
sempre presente,
quando solicitado,
para opinar sobre o
futuro do negócio
“Concessionária
Volkswagen”...
Glauber Fernando de Souza Fernandes, sucessor há tempo
atuante na VW Belcar de Goiânia, para uma troca de
experiências com a nova liderança da Rede Volkswagen...
Para uma visita de cortesia,
Adriano Comparoni, diretor
comercial adjunto da Cardif -
Grupo BNP Pariba...
Gente da Casa, o engenheiro
José Maria Graner, triatleta,
paraquedista e rato de academia,
exaltando bom humor e
competência na coordenação da
Assistência Técnica da Assobrav...
O amável Maurício
Barreto, do exigido
departamento de
Assistência Técnica da
Volkswagen do Brasil
par atualizar a agenda
de tarefas com seus
pares da Assobrav...
7
SHOWROOM
João Mariani,
diretor do Grupo
Faria, trazendo
sempre uma
boa palavra e
otimismo às
reuniões de
mercado...
O sucessor Fabiano
Hadad, diretor da
VW Capivari, no
interior de São Paulo,
munido de todo o
conhecimento para
participar de mais
um seminário sobre
vendas e marketing...
8
Com carreira na área de Recursos
Humanos desde 1983, Daniel Ramirez,
um bom ator, talentoso e atrevido diretor
de teatro, procurava a empresa ideal para
trabalhar a despeito de uma clara vocação
para o empreendedorismo e uma boa dose
de curiosidade. Já empresário, representando
filmes canadenses de treinamento no Brasil,
participou de um congresso em Dallas em
1995. Foi quando conheceu o consultor
de vendas Alberto Couto, famoso no
mundo corporativo por sua competência e
capacidade de liderança. Da troca de ideias,
nasceu a confiança, e dali a sociedade, até
2002, na Eagle´s Flight do Brasil, versão sul-
americana e muito bem-sucedida da empresa
de treinamento também canadense que se
baseia no conceito do aprendizado por meio
da experiência.
Com treinamentos intensos e enxutos, com
duração de 2, 4, e 8 horas, a metodologia
utiliza recursos lúdicos em ambientes
planejados e estruturados, onde regras e
detalhes são meticulosamente desenhados
para trazer à tona reflexões capazes de
impulsionar a mudança nos hábitos das
equipes. O que é vivido no jogo encontra
paralelo no campo profissional, ainda que
não de maneira óbvia.
Com até 50 treinamentos por mês, a
empresa é capaz de montar dinâmicas de 20
a 2 mil pessoas com a grande vantagem de
não afastar os funcionários por mais de um
dia de seus postos de trabalho.
Adepto da mão na massa, o presidente
da empresa, Daniel Ramirez, acredita que
todos, inclusive os líderes, podem aplicar
imediatamente os conceitos e atitudes que
aprendem nos jogos em suas situações de
trabalho, fazendo valer o ditado de Confúcio
de 400 anos antes de Cristo: “Se eu ouço eu
esqueço. Se eu vejo eu entendo. Se eu faço
eu aprendo”.
Showroom: Trazer a Eagle´s Flight
para o Brasil na década de 1990 foi uma
ousadia, considerando que só hoje,
Daniel
Ramirez
“Competição não é
rivalidade, assim como
autoridade não é poder”
Por Silvia Bella
9
SHOWROOM
termos de competência: temos o inconsciente
incompetente, que é quando a gente não sabe
que não sabe. Depois, quando cai a nossa
ficha e nos damos conta de que não sabemos,
passamos à etapa do consciente incompetente.
Um caso típico é a pessoa achar que sabe inglês
porque domina o básico. Quando vai para um
país de língua inglesa pela primeira vez fica
desesperada, porque não entende nada do
que as pessoas lhe respondem às perguntas
até corretas que ele faz. É nesse momento que
a pessoa percebe que precisa estudar muito
mais, para de fato dizer que sabe inglês. No
treinamento convencional verifica-se a mesma
coisa: a maioria fica ouvindo o palestrante
no piloto automático. Veja bem, não é uma
crítica às palestras, que eu também faço, e bem
conduzidas, com o tempo e o estilo certos,
são ótimas ferramentas, mas no treinamento
que se vê comumente, enquanto o palestrante
está falando, 75% ou mais da audiência está
mexendo no celular, no iPad ou pensando em
seus problemas. Ou seja, elas não sabem que
não sabem e não prestam atenção, não focam
no tema apresentado. Não há aderência. Já nas
nossas dinâmicas, onde é criado um cenário,
onde são apresentadas as regras para que o
jogo aconteça, as pessoas têm que estar 100%
envolvidas, presentes, focadas, caso contrário
não conseguirão jogar. Os outros participantes
mesmo vão pressioná-las para prestar atenção,
para atuar, uma vez que todas as dinâmicas
pressupõem equipes. Ao fim do jogo, a gente
faz a amarração, isto é, conceitua, pontua, de
maneira bastante informal, o aprendizado, o
resultado daquela vivência, trazendo para o dia
a dia profissional e até pessoal dos participantes
as escolhas vividas no jogo, porque nesse
momento, ao fim do jogo, se elas ganharam,
perderam ou ficaram em terceiro lugar,
perceberam que não sabem, e estão dispostas,
estão abertas, a aprender.
É interessante... na dinâmica a que assisti
as pessoas estavam enlouquecidas,
encantadas com o jogo de tabuleiro,
ansiosas por começar. Que fenômeno, que
reação é essa que faz com que homens
barbados se comportem como crianças
disputando o primeiro lugar?
A minha percepção é que as pessoas vêem o
jogo, o tabuleiro, como um brinquedo mesmo
e com a chance de, naquele momento, esquecer
a vida adulta, a responsabilidade. Elas querem
relaxar, se entreter com alguma coisa diferente,
que fuja totalmente à sua rotina. Nós temos um
jogo que consiste em montar pontes com peças
de lego e é mais do que comum ver diretores de
empresas, de terno e gravata, deitados no
chão para colocar uma peça fundamental
para o equilíbrio da estrutura. Só que
nesse período em que ele relaxa está
fazendo o mesmo que faz no escritório
ou no comando de pessoas: ele está
concentrado, escolhendo estratégias,
decidindo por um caminho ou outro,
ainda que ele não se dê conta disso.
Você tem dados que comprovem o
resultado positivo do seu método?
O volume de treinamentos que fazemos
por ano fala por si. Nós treinamos 30
mil pessoas por ano. Somos a maior
empresa em termos de treinamento
comportamental. O Brasil, ou seja, o
nosso escritório faz 40% de tudo que
acontece no mundo, é uma loucura. Nós
somos modelo para os outros países. O
nosso escritório, ao desenvolver toda
essa cenografia, essa aclimatação, essas
situações inusitadas, passou a ser um
modelo, uma referência de treinamento
para todo o mundo.
Ou seja, você gostou da ideia original
canadense, trouxe o modelo e o
adaptou, criou em cima?
Sim, até pelo fato de ser ator e diretor
de teatro, essa faceta da aclimatação,
da cenografia, de criar o clima para
que o jogo aconteça de forma eficiente
é bastante familiar. Também por
isso sempre tive atores na equipe,
profissionais que contribuem muito para
o bom desenrolar das dinâmicas.
E nunca sofreu preconceito
por apresentar essa equipe
“diferenciada”?
Preconceito não, mas talvez por sermos
espontâneos e estabelecermos de
imediato uma ligação bem próxima com
os clientes já houve quem confundisse
as coisas. Uma vez um executivo
responsável pela nossa contratação
durante a dinâmica de treinamento
pediu que eu o ajudasse a vencer o jogo.
Eu, obviamente, disse que não faria
aquilo porque comprometeria todo o
objetivo do trabalho, além do que ele
não era melhor do que ninguém.
Enfurecido, ele me disse
que se não o ajudasse não
me contrataria mais. Eu
respondi: tudo bem, sua
pressão de nada vale porque
vinte anos depois, o treinamento
corporativo começa a ser visto de
forma mais lúdica.Você sofreu muita
resistência?
Daniel Ramirez: No começo foi pior,
porque, imagine, no passado você fazia
um treinamento que consumia dois, três
dias das pessoas, e nós chegamos com
uma proposta de realizar treinamentos
em quatro horas ou até em duas horas,
então, era muito difícil a gente convencer
as pessoas de que este treinamento
funcionava. Para facilitar a explicação
da nossa proposta eu fazia a seguinte
analogia: quanto tempo uma criança
demora para entender que o quente dói?
É difícil explicar a uma criança isso,
mas se ela por acaso encostar o dedo no
forno vai vivenciar a dor e nunca mais vai
se esquecer de que o quente machuca.
No treinamento vale o mesmo, se o
instrutor só fala, fala, fala, o conteúdo
fica no campo racional e os ouvintes não
absorvem o conceito, mas a partir do
momento que o experimentam através de
uma atividade percebem que os resultados
que obtêm são consequência das escolhas
que fizeram e daí entendem que ao querer
um resultado melhor têm que mudar suas
escolhas, suas estratégias. Então a gente
simula situações, sempre inusitadas, - por
exemplo, uma travessia pelo deserto, uma
reunião na tavola redonda, rodar um filme
em Hollywood, uma reunião na ONU –
para que os treinandos exercitem suas
habilidades, suas competências.
E isso acontece sempre dentro de uma
sala...
Exatamente.
É mais econômico também, suponho...
Claro, se você considerar que as empresas
quando fazem os cálculos de treinamento
não contabilizam o custo das horas que
os profissionais ficam fora da empresa
– o chamado lucro cessante – além dos
gastos com hospedagem, traslado etc, a
possibilidade de treinar a equipe e fazer
dois treinamentos em um único dia, um
treinamento poderoso, cheio de vivências,
acaba sendo vista pelos organizadores
como muito mais interessante...
Mas o que lhe faz acreditar, mesmo,
que as pessoas saem diferentes dos
seus treinamentos?
Existem etapas na vida da gente em
10
eu sou o dono da empresa, não vou
perder meu emprego. Realmente, depois
daquele treinamento não fiz mais nada
para aquela organização até que ele foi
demitido, justamente por ser intratável.
Infelizmente ainda tem gente arrogante no
mundo corporativo, é uma minoria, mas
ainda existe…
Voltando aos jogos, outra coisa que
observei no meio da dinâmica a que
assisti foi a desinibição de algumas
pessoas, até o início do jogo muito
tímidas. O que leva o ser humano em
determinada situação a se envolver
tanto, a se liberar tanto a ponto de
levantar-se da sua mesa e ir interferir
na equipe alheia, de tentar convencer
os outros?
É a convicção que faz a pessoa sair do
seu lugar e ir convencer a outra de que a
escolha dela é a certa a seguir. É uma pena
que, de maneira geral, as pessoas desistam
muito rápido de tentar convencer as
outras. É o pensamento de que “não vai
adiantar nada eu me expor, no fim eles
não vão mudar de ideia”. Ou, pior: dou
a minha opinião e se ninguém concordar
com ela, fico logo quieto, torcendo para
o outro errar e daí provar que eu estava
certo. É aquela coisa do “eu não disse?”
Em geral as pessoas preferem perder
juntas a tentar convencer a equipe de que
o outro caminho era o certo.
E isto por quê? É competição entre
pessoas que estão na mesma equipe,
no mesmo barco?
A gente confunde competição
com rivalidade. Competição te faz
melhor, rivalidade não. Competição
é a concorrência lançar um carro
revolucionário e a Volks entender
e aplaudir o fato de que aquele
lançamento criou outro mercado e
que permite agora a ela lançar outro
melhor ainda. A competição cria
mercado. A competição ajuda os
fornecedores, porque eles passam
a fazer melhor e quem ganha é o
Qual é a sua recomendação aos
empresários para que esse clima de
rivalidade deixe de existir?
Primeiro é preciso que o líder goste ou
passe a gostar de gente, porque há muitos
líderes que não gostam de gente, de
lidar com pessoas, de falar com elas, de
estimulá-las. É comum ouvirmos, “nossa
meta é crescer 15%” E eu pergunto, por
que não crescer mais, crescer 30% ou
40%? Por que não estimular as pessoas
para que produzam mais e com isso
ganhem mais? Gostar de gente significa
promovê-las, estimulá-las através de
prêmios, benefícios, aumentos reais de
salário.
E a crise? Desde sempre enfrentamos
algum tipo de crise que impede
aumentos reais de salário...
Eu não acredito em crise; eu não olho
pra isso e nem falo disso. Crise é uma
desculpa que se dá para não sair da zona
de conforto. É uma desculpa de quem
não gosta de gente, de quem não quer
investir no pessoal para o crescimento da
sua própria empresa.
É incrível como ainda há empresários
que não entendem que eles dependem
muito mais dos empregados do que
os empregados dele. É esse tipo de
empresário que pára de treinar o pessoal
quando o mercado está fraco, daí,
empregado despreparado é empregado
à porta da demissão, então se estabelece
um círculo muito ruim.
Às vezes a empresa é muito
autoritária...
Outra coisa que é muito confundida:
consumidor. Rivalidade é torcer para
que a concorrência vá à falência, é torcer
para que aquele piloto quebre antes da
largada. Ao contrário, competição é ver
quem ganha.
No futebol tem muito isso.Vou
torcer para o time do outro país, para
não ver o adversário do meu time
ganhar...
Pois é, é uma infantilidade, imagine
o que seria do Corinthians sem o São
Paulo? Ninguém assistiria à televisão...É
preciso mudar essa cultura, também
impregnada nas empresas. Na minha
empresa existe competição, mas não
permito que exista rivalidade, porque
nós, como empresa, temos uma meta e
precisamos alcançar essa meta unindo a
força de todos. Não se pode confundir:
a competição me estimula a ganhar do
colega, enquanto a rivalidade me faz
desejar que ele fique doente para que
não venha trabalhar...
Essa mudança de cultura deve
começar pelo líder, não?
Sem dúvida. Conto o que aconteceu
com a minha empresa em 2007. Embora
o mercado estivesse super aquecido
e o clima fosse de euforia, minha
equipe vivia em guerra. Quando me
conscientizei do fato,
o que fiz? Demiti
todos os diretores
e gerentes e fiquei
bem próximo à
equipe. Passei a
trabalhar diretamente
com eles. Seis
meses depois de ter
tomado essa decisão
crescemos 40%.
Superada a crise fui
readmitindo gerentes
e diretores, mas todos
com essa pegada,
a pegada ética, de
competir sem ser
rival. Este ano, até
junho, já faturamos o
equivalente a todo o
ano de 2007.
11
SHOWROOM
Que erro as empresas cometem
mais frequentemente ao montar
suas equipes? É no momento da
contratação?
Eu penso assim: o ser humano é
complexo. Assim como as empresas
fazem promessas no ato da contratação,
que às vezes depois não cumprem, os
empregados também se mostram super
dispostos na hora da entrevista e depois
de contratados não entregam o que
prometeram. Então eu acho que uma
maneira boa de contratar – e eu já errei
por não fazê-lo - é tentar entender o
histórico do candidato pela versão dos
antigos empregadores. É investigar junto
aos ex patrões, ex chefes, como aquela
pessoa se comporta no dia a dia.
Hoje ainda vemos muita rotatividade
de mão de obra, inclusive de
executivos.Todo mundo está errando
tanto assim?
Sabe o que acontece? 67% dos
funcionários saem das empresas por causa
do chefe. De cada três demissões, duas
se dão por incompatibilidade total com o
chefe.
Isso é estatística?
E Gallup. 67% dos empregados no Brasil
se demitem por causa do chefe. Enquanto
o chefe deveria ser modelo de conduta,
de conhecimento técnico, de liderança, de
educação, a realidade é o oposto.
Aliás, falta de educação está virando
moda...
Pois é, e a maior prova de falta de
educação é o celular. Você identifica a
importância que você tem para uma
pessoa no momento em que o celular
toca. Se a pessoa disser aquele clássico
“só um minutinho”, você já sabe que
importância você tem para ela. Nenhuma.
Por que as pessoas estão tão afoitas
com o celular, com a necessidade de
informação? É medo de perder tempo,
dinheiro?
Eu concordo com o Içami Tiba
(psiquiatra) que diz: o poder não
corrompe as pessoas, o poder revela as
pessoas. As pessoas são o que são. Dê
poder e dinheiro às pessoas e elas se
revelam. Se elas se mostram mal-educadas
é porque são mal-educadas.
Eu fui a uma empresa de origem
japonesa onde um dos mandamentos
que compõem a missão da organização
está estampado em letras garrafais e diz:
autoridade e poder. Poder remete a medo,
autoridade a confiança, admiração. O líder
que tem autoridade pode se ausentar da
empresa porque a autoridade dele acontece
mesmo quando ele não está. Tem líderes
que reclamam porque não saem de férias,
e dizem com orgulho ”se eu sair de férias a
empresa não anda”, ora, eles deveriam ter
vergonha de dizer isso, porque o verdadeiro
líder é aquele que sai de férias tranquilo
porque sabe que a empresa, mesmo sem
ele, vai andar.
Você acha que existe algum tipo de
motivação maior do que um bom
salário?
Eu acho que é preciso oferecer várias
coisas: bons salários são importantes, mas
o que segura as pessoa em uma empresa é a
soma de salário, bons propósitos e valores.
É esse conjunto de coisas que diferencia um
funcionário motivado de um funcionário
engajado. O motivado olha mais para o
próprio umbigo, pensa em como subir
na empresa, no que a empresa lhe dá. O
funcionário engajado é aquele que pensa
no bem da empresa, que se orgulha de
fazer parte dos seus quadros, aquele que
deseja que a empresa cresça, que ganhe
reconhecimento, que seja respeitada.
E aqueles que ficam quietos na zona de
conforto, sem dar bandeira para sequer
serem notados?
Esses são a minoria.
Minoria?
Eu acho, acho que é uma minoria a que
não tem vontade de trabalhar, que se
encosta nos outros. Eu prefiro pensar
como o Diniz (Abílio Diniz, presidente
do Grupo Pão de Açúcar) que diz assim:
“se você não pode acompanhar você não
pode cobrar.” E eu acompanho tudo. Se
vejo um funcionário pouco engajado, faço
de tudo para mudar sua postura. Mas se
ele, mesmo assim, não se comprometer,
eu o demito, porque ninguém deve ficar
infeliz no trabalho. Isso é horrível. Agora,
as pessoas também precisam entender que
lamentar o ato de trabalhar é indecente,
porque enquanto elas estão se queixando
enquanto assistem ao Fantástico porque já
é domingo, outros tantos estão sofrendo
porque depois do Fantástico não precisarão
dormir imediatamente já que não têm
emprego que os faça acordar cedo na
Segunda-feira.
“respeito às pessoas” No entanto, quando
o diretor entra no elevador todo mundo
tem que sair, porque ele não quer contato
nenhum com os funcionários. Então,
veja o contrassenso, a empresa ostenta
uma filosofia que o seu comandante
não pratica. E sabe para onde vão os
funcionários que saem mal da empresa?
Para a concorrência...
Exatamente. Vão para a concorrência,
para se vingar, para mostrar que podem
triunfar fora dali.
Por outro lado, o que leva uma pessoa
a permanecer anos a fio sendo
maltratada em uma empresa?
É a pressão psicológica, o assédio moral,
coisas que se a pessoa não reagir ou
buscar ajuda profissional, vão minando
sua autoestima. Por que a pessoa se
submete? Porque ela acha que saindo
daquela empresa ruim, daquele ambiente
nefasto, os outros lugares serão iguais,
mas isso não é verdade. A maioria das
empresas é séria e oferece bom clima
para trabalhar. O tempo do “manda
quem pode e obedece quem tem juízo” já
passou. O Brasil vive outra fase, uma fase
de progresso econômico e de progresso
humano também.
Armando Correa de Siqueira Neto é
psicólogo (CRP 06/69637), palestrante,
professor e mestre em Liderança. Coautor
dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes
da Liderança e Educação 2006. E-mail:
selfcursos@uol.com.br
Por Armando Correa de Siqueira Neto
12
Parece que foi ontem
Embora se possa alegar que 10 mil
anos se situem longinquamente
no calendário, e que são
necessárias muitas gerações de
pessoas para cumprir tal período,
as maneiras de se viver primitiva
e contemporânea demonstram
relativizar o tempo a cada análise
que se faz acerca de como vivemos
em sociedade ontem e hoje.
Ao comparar como os
nossos antepassados neolíticos
se estabeleceram nas primeiras
cidades criadas no planeta com
a nossa atual forma de nos
relacionarmos socialmente, é
possível encontrar lá atrás os
vestígios das sementes que até
hoje dão frutos com o mesmíssimo
sabor, alguns adocicados, outros...
A arqueologia revelou há
certo tempo a cidade de Çatal
Hüyük, situada ao sul da
Turquia, na qual conviveram
cerca de seis mil pessoas, em
8.000 a.C., em casas de formato
retangular, feitas de tijolos crus,
com acesso por um andar superior
e através de escadas, pois não havia
qualquer rua que as interligasse.
Andava-se sobre elas para ir e
vir. A sua distribuição interna,
conforme as evidências apontam,
indica lugar específico para o
uso comum, qual uma lareira, e
ornamentos de parede (chifre de
touro) e estatuetas femininas que
decoravam os 24 metros quadrados
de construção existentes em média.
Conseguiu-se, inclusive, recriar
um mapa local com as muitas
residências, a partir do desenho
original encontrado cravado em
pedra - é o primeiro mapa de que se
tem conhecimento.
Porém, chama a atenção outros
tipos de evidências trazidas à luz no
sitio arqueológico turco, tais como
restos de cereais, pilões de pedra e
cerâmica. A produção alimentícia,
através do plantio, da colheita, do
processamento e da estocagem
ganhava vulto após ter-se deixado
para trás o ancestral hábito da
caça e da coleta. E, em meio a tais
achados, constatou-se a presença
de ossos de pés femininos bem
desgastados nas juntas em razão
da forçosa posição de moagem - fato
este não evidenciado nos ossos dos
pés masculinos, que, diferentemente,
indicaram desgaste na região da
rótula, levantando a suspeita de que
os homens permaneciam sentados
por longos períodos. Lembrou de algo
semelhante?
Então, consegue imaginar a
vizinhança tão próxima se
comunicando diariamente, contando
sobre suas dores e amores, esperanças
e frustrações, raiva e alegria, a respeito
das amenidades relacionadas aos
trabalhos típicos da lavoura e da lida
com os animais, o relacionamento
conjugal e a criação dos filhos, os
quais deviam ser muito importantes
haja vista emergir a necessidade de
mão de obra com o crescimento da
produção local? Percebe o provável
disse-me-disse cotidiano ali presente
com tanta gente convivendo em casas
tão próximas umas das outras, com
ocupações similares, além das ideias
diferentes que cada um devia ter em
relação aos seus próprios direitos e
deveres? Parece que foi ontem. Nem
parece que faz tanto tempo assim
desde o surgimento deste primeiro
modelo de convívio na primitiva
cidade de Çatal Hüyük e a maneira de
se relacionar dos tempos atuais.
C
16
uma exigência e uma necessidade
no transporte,
Sustentabilidade
Acessar o que desejamos com o menor custo possível, seja
econômico ou socioambiental, tem nos levado a conceber
inovadores modelos para transportar pessoas com maior
eficiência energética. Um dos modelos mais eficazes que
vem sendo gradativamente implantado nos grandes centros
urbanos ao redor do mundo é conhecido por BRT - Bus Rapid
Transit, em português, Ônibus de Trânsito Rápido. 
Por Laércio Bruno Filho
Laércio Bruno Filho é Professor Convidado do MBA PECEGE da ESALQ/USP para a disciplina
Agronegócios/Sustentabilidade; Coordenador e Relator do Subgrupo que prepara a proposta de
normalização de Projetos de Carbono em Florestas no âmbito do Mercado Voluntario pela FIESP/
ABNT, membro do Grupo de Estudos sobre Gestão da Sustentabilidade, entre outras instituições.
17
SHOWROOMSHOWROOM
Criado em Curitiba sob a gestão de
Jaime Lerner em 1974,o sistema veio se
aprimorando e tem sido replicado como
modelo de referência em transporte por
diversas cidades do mundo,como Los Angeles,
Nova Iorque,Cleveland,Bogotá,Quito,São
Paulo e brevemente no Rio de Janeiro e Belo
Horizonte. É reconhecido como o modelo
de transporte coletivo mais eficaz para
cidades com população a partir de 500 mil
habitantes. 
O sistema funciona em corredores
segregados,com paradas predeterminadas
ou até mesmo sem paradas intermediárias,
operando como um ônibus expresso. Livre dos
automóveis,permite velocidade média de 20
a 28 km/hora,o que torna mais eficaz para o
usuário a experiência de deslocar-se de um
ponto a outro. O sistema convencional oferece
uma velocidade média entre 10 e 12 km/hora. 
Além disso,o BRT apresenta elevada
eficiência energética quando comparado
ao transporte realizado por automóvel ou
moto.Transporta mais passageiros utilizando
menos combustível e emite menos poluentes
na atmosfera. Uma motocicleta polui 32
vezes mais e consome cinco vezes mais
energia por pessoa transportada do que os
ônibus; automóveis poluem 17 vezes mais e
consomem 13 vezes mais energia por pessoa
transportada do que os ônibus. 
Outra grande vantagem é que os ônibus
mais modernos podem usar combustível
renovável como etanol,energia elétrica
(trólebus),biodiesel (B20 e B100 ainda em fase
de testes) ou,de forma simultânea,conjugar
eletricidade e etanol nos modelos híbridos.
Por fim,em fase de testes,há o ônibus movido
a hidrogênio.Todos com baixíssima emissão
de gases efeito estufa e de poluentes.  
Melhor e mais rápido
Até mesmo quando comparados aos modais
VLT – Veículo Leve sobre Trilho e Metrô,o BRT
demonstra melhores resultados,seja quanto
à resposta ao investimento realizado,quanto
ao tempo de deslocamento para o usuário ou
ainda à eficiência energética proporcionada. 
O estudo preparado por Jaime Lerner
Arquitetos Associados apontou o tempo
necessário para se percorrer uma distância de
10 km,pelos diversos modais,considerando
o tempo de deslocamento até o terminal,o
acesso à plataforma e o acesso à rua. Assim
o que se apurou foi:o passageiro de metrô
levaria 28,6 minutos; de BRT,26 minutos;
de VLT,34 minutos e pelo sistema de ônibus
convencional,38,4 minutos. 
Quando o assunto é implantação do sistema,
também o BRT apresenta forte vantagem
sobre os outros modais segundo o estudo.
Os custos e prazos para implantação por
quilômetro para 150 mil passageiros/dia do
metrô é de R$ 2,1 bilhões; do VLT custa R$ 404
milhões; do BRT R$ 111 milhões e do ônibus
convencional R$ 55 milhões,este último mais
barato mas pouco eficiente.         
Uma boa solução
Tendo em vista os eventos Copa de 2014
e Olimpíada em 2016,abre-se uma
oportunidade ímpar para que as cidades
brasileiras viabilizem projetos de mobilidade
urbana. O governo tem dedicado muita
atenção a essa questão que é um dos grandes
entraves dos municípios brasileiros e tem
destinado através da Caixa Econômica Federal
e do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social recursos da ordem de R$
6,5 bilhões – dinheiro com baixo custo para a
construção de sistemas de mobilidade urbana
nas principais capitais.Também o Banco
Internacional do Desenvolvimento e o Banco
Mundial oferecem linhas de crédito a custos
muito baixos. 
Algumas cidades-sede já estão se capacitando
para acessar esses recursos. É o caso do Rio
de Janeiro e Belo Horizonte,Manaus,Recife,
Salvador,entre outras. 
Projetos que contemplem o desenvolvimento
sustentável nas áreas impactadas pelas
implantações desses sistemas serão,sem
dúvida alguma,uma das principais exigências
nas licitações. Nesse cenário,considerando os
estudos elaborados sobre os diversos modais,
o BRT se apresenta como a solução ideal. Mais
barato,mais eficiente,com infraestrutura
menos complexa e de menor impacto
ambiental,é a opção adequada a atender a
todas as exigências constantes das licitações. 
Entretanto,sem um amplo e bem-estruturado
programa de gestão que dê forma às políticas
de sustentabilidade exigidas nos editais,
será inviável a captação desses recursos por
parte das prefeituras,empresas ou consórcios
interessados.
18
O termo “nova economia” foi cunhado nos anos 1990 e se
referia a negócios baseados nas então novas plataformas
de internet, nas tecnologias de informação e comunicação.
O termo caiu em desuso e voltou com força com a web 2.0
para descrever uma economia baseada em colaboração e
interatividade, empreendedorismo e a aceleração de projetos
inovadores. Não é uma tendência ou mais uma moda, mas uma
nova economia que está surgindo baseada na multidão.
Multidão
apaixonada e
mobilizada
Rosângela lotfi
19
SHOWROOMSHOWROOM
Por ROSÂNGELA LOTFI
C
e como tal gera lucros que são devolvidos ao
investidor na proporção do investimento, mas
o que faz o crowdfunding funcionar, explica
Zatti, é a multidão.“Você precisa ter uma
multidão apaixonada e que acredita na sua
ideia. Esse é o pensamento fundamental para
que grandes multidões possam ser mobilizadas.”
O financiamento colaborativo pela internet
já é uma alternativa palpável aos fundos de
capital e outros instrumentos de crédito para
viabilizar investimentos. Só para dar uma noção
dos valores movimentados nos Estados Unidos,
um único site, o Kickstarter, já arrecadou US$ 35
milhões. No Brasil os sites atraíram R$ 600 mil
em investimentos.“Estamos cerca de cinco anos
atrasados. Fora do Brasil os dois conceitos são
rotineiros. É um grande mercado, não só nos EUA,
a Índia também é.”
Paixão por ideias
O apoio da multidão pede um vínculo pessoal
com a ideia, seja para exigir democracia no
Egito, manifestando-se na Praça Tahrir ou
para financiar música, filmes, arte, caridade e,
por que não, startups (empresas iniciantes).
Levantamento feito pelo jornal O Globo
mostra que no Brasil os principais sites
de crowdfunding investem 67,77%
do total arrecadado em projetos
artísticos, como a produção de
filmes e de livros. Os projetos
de empreendedorismo, seja
para criação de empresas ou
de produtos inovadores,
ficaram com fatia de 28,83%.
Iniciativas de cunho
social levaram 3,40% dos
recursos.“A maioria das
plataformas que surgiram
por aqui se voltaram para
a área cultural, então virou
‘destino’ - “crowdfunding é só para
área cultural.” Uma das razões é que
os projetos culturais são mais simples
e fáceis de colaborar, são quase uma
compra.Você entra em um site, conhece e
rowd, multidão em inglês, é o
prefixo de plataformas de geração de
conteúdo colaborativo (crowdsourcing) e
de financiamento coletivo (crowdfunding).
Rafael Zatti, fundador da ideas.me e
especialista em crowdsourcing, explica
que os conceitos nasceram nos EUA e
são bem parecidos:“O financiamento
coletivo nasceu do crowdsourcing, ambos
trabalham com colaboração, mas não
necessariamente caminham juntos ou
necessitam um do outro. O crowdsourcing
é mais independente.” Em ambos, as
redes sociais como Facebook, LinkedIn
e outras onde é possível se conectar
facilmente e mobilizar muitas pessoas
desempenham um papel crucial. Nos EUA
o crowdfunding ganhou força em 2008
quando o então candidato a presidência
Barack Obama levantou US$ 137 milhões
de dólares para a sua campanha eleitoral
utilizando o conceito. No Brasil, onde as
redes sociais crescem há muito tempo o
boom dessa modalidade de financiamento
só aconteceu este ano e, na última
contagem, havia nada menos que
12 sites funcionando nesse modelo
de arrecadação. É um investimento
Sem legislação, as ideias não
saem do papel
20
analisa os projetos e se vir algo que
entusiasme, clica e gera boleto de
pagamento ou colabora com cartão de
crédito. As pessoas estão mais do que
acostumadas com compras on-line.”
Outra razão, explica Rafael Zatti,
é que não há legislação específica
para financiamento coletivo. O
enquadramento jurídico coloca
essas plataformas como meio de
investimento financeiro, o que
só pode ser feito por instituição
financeira e a legislação de equity
(participação em empresas que não
abriram capital) cria um problema
logístico, como a necessidade
de contratos assinados por cada
investidor. Assim, iniciativas como o
site de crowdfunding para startups
tecnológicas Love Money do Instituto
Inovação não saem do papel. O
site para micro empreendedor
Kiva.org é outro exemplo, eles não
conseguiram entrar no Brasil porque,
pela lei, o capital doado
não pode sair do País. O
Kiva inspirou o impulso.
org.br que transformou
os empréstimos
dos internautas em doações,
para respeitar a lei. Apesar das
restrições, já arrecadou quase R$ 3
mil para micro empreendedores.
Imbróglio
“São só dois exemplos, mas
já temos problemas com
financiamento de startups que
atrapalham o desenvolvimento
do crowdfunding na área de
tecnologia no Brasil”, lamenta
Zatti, que conta, sem citar nomes,
que algumas plataformas de
crowdfunding têm estratégias de
defesa prontas caso tenham que
responder a algum processo no
BC (Banco Central) ou na Receita
Federal. “Algumas conseguem
driblar a legislação, mas sempre
com medo de que, se chamarem
muito a atenção, o governo vai
querer a parte dele. Foi o que
aconteceu com o Fairplace.
O site, uma plataforma
de micro crédito e
empréstimos entre
pessoas, viabilizou
R$ 1,8 milhão
em empréstimos, mas encerrou as
atividades quando foi processado
pelo BC e pela CVM (Comissão de
Valores Mobiliários).
“Tenho esperança que consigamos
uma mudança de legislação em
um futuro não muito distante. O
governo vai ter que olhar para isso e
rever sua posição. Essa modalidade
é muito interessante para startups”,
afirma Zatti, citando que em 2008,
com a crise financeira nos EUA,
quando muitos fundos de capital de
risco quebraram, o crowdfunding
capitalizou startups como o
Profounders e o GrowVc e seus
investidores ganham participação
sobre os lucros das companhias.
“Não que seja ruim começar com
produtos culturais - foi o caminho
do Kickstarter.com, que começou
focado em projetos artísticos e
tornou-se uma incubadora de
empreendedorismo e inovação. A
esperança de Zatti apóia-se não só
no otimismo, mas no financiamento
da plataforma de crowdfunding
Incentivador (projetos de cultura)
pela empresa pública FINEP
(Financiadora de Estudos e Projetos).
“Do jeito que está hoje, estamos
perdendo projetos de tecnologia e
inovação.
A modalidade é muito
interessante para startups
Conteúdo coletivo
Crowdsourcing é mais antigo e, de
certa forma, mais sedimentado.
O open-source, código aberto
de software como o Linux, ou
conteúdo colaborativo como o
Wikipedia, são dois exemplos
conhecidíssimos. Segundo Rafael
Zatti, o crowdsourcing anda mais
devagar.“É mais fácil colaborar com
o crowdfunding. O crowdsourcing
exige dedicar um tempo para
pensar criar uma solução, para
sentar escrever um conteúdo. As
pessoas estão mais interessadas
em doar dinheiro do que tempo.”
Crowdsourcing enfrenta outros
imbróglios dos dois lados do balcão.
De acordo com Zatti,“a inovação
está no discurso de dez entre dez
empresas, mas quando apresentamos
algo realmente inovador como
crowdsourcing elas se fecham.
Temem que se colocarem um
problema ou uma ideia na web, os
concorrentes vão se aproveitar disso,
sair na frente e dominar o mercado.
Do lado dos colaboradores, eles
acham que a ideia deles vale milhões
e que o valor oferecido é muito baixo
e que não vale a pena entregar isso
para grandes empresas.”
O empreendedor Zatti não vê
problemas. Afirma que é o que
acontece com conceitos novos no
mercado: sempre haverá pessoas
que desconfiam, outras que serão
contra, outras ainda que encontrarão
defeitos, mas também haverá
entusiastas,“é uma mudança de
cultura”. De qualquer maneira, há
no Brasil iniciativas interessantes
de crowdsourcing. O Fiat Mio, por
exemplo, nasceu com a intenção de
ser o maior laboratório de ideias na
indústria automotiva. Foi Idealizado
pela filial brasileira da Fiat e convidou
internautas para darem sugestões
e ideias para um novo carro da
montadora. O mote era desenvolver
o produto junto com os clientes,
potenciais compradores.“Além de
reduzir o tempo de desenvolvimento
e os custos do
projeto, ao chamar
a multidão para criar
o Mio, a Fiat recebeu
tantas sugestões que
somente a multidão,
através da inovação
aberta, poderia entregar”,
conta Zatti. Mais de 10 mil
sugestões depois, a Fiat chegou a
um carro urbano, compacto, com
convergência de mídias, fácil de
estacionar e com emissão zero de
poluentes, que já foi mostrado
como protótipo em salões do
automóvel.
Inovação aberta
não só propaganda
A Tecnisa é outro bom exemplo,
em agosto de 2010, lançou um
portal de crowdsourcing e open
innovation,Tecnisa Ideias, que em
apenas dois meses recebeu mais
de 400 ideias, algumas em estudo
para implementação. Outras
empresas rumam para a inovação
aberta, para a criação de novos
produtos com a colaboração dos
consumidores, o que aproxima
os clientes da marca, como por
exemplo a Dell e Procter&Gamble.
Outras têm boas ideias, mas
implementação falha. Caso da LG
que fez a campanha“Para a LG
não existe mais distância entre
criadores e consumidores”. O
que era para ser uma campanha
crowdsourced virou puro
marketing. A empresa convidou
21
SHOWROOMSHOWROOM
Participar não
significa aumentar
automaticamente as
vendas
participantes a enviar uma ideia que
poderia virar produto, qualquer ideia.
E recebeu várias, a maioria sem chance
nenhuma de implementação.“Virou
campanha de marketing, com sorteio
de produtos da marca, só para gerar
buchicho ( buzz) na web, no Facebook.
As pessoas mandavam qualquer
coisa. Isso desmerece o conceito,
que ainda é novo”, lamenta Zatti.
Para ele,“a tecnologia e,
fundamentalmente, a internet, as
redes, o digital, impulsionada pelo
crowdsourcing e crowdfunding, são as
maiores ferramentas de transformação
social já criadas.“Uma revolução
absoluta e irreversível”, diz, com a crença
de que o pensamento está sempre se
modificando. Gradualmente, não
como um choque, mas aos poucos.
Quando olhamos lá na frente,
algo já mudou.Trata-se de
acompanhar as mudanças ou
ficar estagnado.
C
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br) é jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor
em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística
e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É
reproduzida em uma rede nacional de 65 publicações entre jornais,
revistas e sites. É, ainda, correspondente para a América do Sul do
site just-auto (Inglaterra).
Por Fernando Calmon
ertas simplificações de linguagem mal utilizadas
no Brasil acabam confundindo conceitos técnicos
importantes. Uma delas é o chamado“Piloto
Automático” nos automóveis que, na verdade, não
passa – ou passava – de um simples controle de
velocidade de cruzeiro (Cruise Control, em inglês).
No entanto, trata-se de um assunto muito sério e
a Europa criou, em fevereiro de 2008, o programa
HAVEit, acrônimo em inglês que significa Veículos
Altamente Automatizados para Transporte
Inteligente.
No total são 17 parceiros entre fabricantes
de automóveis, caminhões, componentes e
institutos científicos da Alemanha, Suécia,
França, Áustria, Suíça, Grécia e Hungria com
apoio financeiro dos participantes e da União
Europeia. As preocupações existem em função
da crescente densidade de tráfego e do aumento
da idade média da população que passa a guiar
com reflexos menos imediatos, além da massa
de informações atualmente disponível aos
motoristas. Automação aliviará o estresse ao
dirigir. A busca pelo tráfego eficiente persegue
o objetivo de torná-lo mais amigável ao meio
ambiente.
Agora em junho, os parceiros se reuniram na
cidade sueca de Boräs para demonstração de sete
veículos, com diferentes graus de automação,
apresentados pela Volkswagen,Volvo, Continental,
Haldex e o Centro Aeroespacial Alemão. Hoje
já é possível comprar automóveis com controle
ativo de cruzeiro (freia e acelera conforme o
programado), assistência para se manter dentro
das faixas de rodagem e parada automática
abaixo de 30 km/h a fim de evitar colisão ou
atropelamento.
24
O passo adiante surgiu em um Passat equipado
com TAP (Piloto Automático Temporário, na sigla
inglesa). O sistema programado pelo motorista
conserva distância segura do veículo à frente
até 130 km/h, mantém o carro dentro das faixas
delimitadas no solo e reduz a velocidade antes de
uma curva, segundo seu raio, com ajuda do GPS.
Também tem capacidade de ultrapassar observando
regras (nunca pela direita) e limites de velocidade.
Parada e arrancada nos congestionamentos são
totalmente automáticas.Porém, o termo temporário
é usado porque, mesmo sem precisar utilizar
mãos e pés para guiar, o motorista deve ficar
atento ao tráfego na estrada e intervir em caso de
necessidade. Na realidade, ainda se considera esse
um dispositivo semiautomático, baseado em uma
combinação de recursos existentes agora agrupados
experimentalmente. Uma câmera interna monitora
o grau de atenção do motorista pela movimentação
dos olhos e dispara avisos sonoros ou vibratórios.
A Volvo desenvolveu um sistema semelhante para
caminhões que funciona sob medida quando há filas
de congestionamento nas estradas ou nas cidades.
Alivia bastante o trabalho do motorista profissional
por frear e arrancar de acordo com a movimentação
dos outros veículos e evita acidentes, em geral
catastróficos quando envolvem veículos de menor
porte.
HAVEit é um programa em constante evolução.
Futuras demonstrações serão feitas até o
amadurecimento completo das tecnologias, inclusive
tornando-as as mais intuitivas possíveis. As ideias
lançadas estão previstas para a produção seriada no
intervalo de cinco a dez anos, quando o custo ficará
mais acessível para modelos pequenos e médios.
A busca pelo tráfego eficiente persegue o
objetivo de torná-lo mais amigável ao meio
ambiente.
Mais
segurança
com
automação
ao dirigir
26
em sempre sou compreendido.
Outro dia uma moça se assustou e
mudou de calçada quando eu deferi
um poderoso“Bom dia! Tudo bem
com você?”
O paulistano não está acostumado
com essa interação. Aqui na
Paulicéia a gente é muito
individualista, egoísta, encerrado
em si mesmo.
Moro há dois anos no Brooklin e
até agora não consegui contato
com os vizinhos. Eles entram com
o carro protegido pelo insufilme,
o portão elétrico abre e fecha
em segundos, pra proteger do
ladrão. Junto com a proteção,
vem o isolamento. Ficam
N
Joel Leite é jornalista, formado pela Fundação
Cásper Líbero, com pós-graduação em
Semiótica, ComunicaçãoVisual e Meio Ambiente.
Diretor da Agência AutoInforme, assina colunas
em jornais, revistas, rádio,TV e internet. Não tem
nenhum livro editado e nunca ganhou nenhum
prêmio de jornalismo. Nem se inscreveu.
Eu mudo o jeito de abordar as pessoas
sempre que passo alguns dias no
Rio de Janeiro. Volto pra São Paulo
cumprimentando todo mundo que não
conheço: o segurança da loja, o gari
que passa varrendo a rua, a menina
que balança a seta de papelão na
esquina indicando o lançamento do
prédio.
Cada qual no seu canto
todos escondidos nos casarões
cercados por muros altos ou nos
condomínios residenciais, que
proliferam para abrigar os novos
ricos. É tudo doutor: médico,
advogado, juiz. Não os conheço.
Sei porque o Reinaldo, segurança
da rua, me conta a história de
cada um. O doutor Martins é
médico, sofreu um acidente
de carro, perdeu a mulher e a
memória. O doutor Fernandes já
foi ministro, é poderoso. Foi ele
quem fez a CET fechar as saídas
para a avenida, garantindo a
tranquilidade do trânsito na rua.
Dona Anne nasceu na Inglaterra.
Está no Brasil há 30 anos, mas
quando aborda uma pessoa
pergunta se ela speak english.
Seu Reinaldo conhece os donos das casas,
os empregados, os prestadores de serviço,
os assaltantes.
Do lado de fora das fortalezas ficam os
segregados, que moram bem longe dali
e só aparecem para trabalhar, chegam
de madrugada e vão embora no fim da
tarde. Outro dia a polícia abordou o Zé
Bob: mãos na parede, pernas abertas. Zé
Bob é o jardineiro; como chega cedo e
não quer acordar o patrão, fica circulando
pela vizinhança esperando dar sete
horas. Com aquele aspecto de“gente
diferenciada” - pernambucano, preto,
cara de prontuário policial – ele assusta
as pessoas, que chamam a polícia.
A população não ocupa o mesmo espaço
territorial na cidade. Burrice. Os pobres
são expulsos para a periferia e por isso
perdem mais tempo no ir e vir e custam
mais caro para o patrão.
Esse apartheid é consequência da
valorização imobiliária. Mas agora a
elite do bairro de Higienópolis resolveu
que não quer nem mesmo a presença
provisória de“gente diferenciada”.
Os moradores no bairro fizeram um
movimento para impedir a instalação
de uma estação de metrô na região,
para evitar a circulação dessa“gente
diferenciada” que anda de metrô. Um
verdadeiro respeito aos antepassados,
que já no início do século 20 quiseram se
diferenciar“higienizando” o bairro até no
nome.
Semanas depois do episódio de
Higienópolis, o prefeito paulistano
Gilberto Kassab decidiu também que
pobre não precisa de carro: proibiu
a construção de garagens em casas
populares construídas pela prefeitura.
Por uma questão espacial, no Rio as
classes sociais se misturam mais do
que em São Paulo. Isso não resolve
os problemas, evidentemente. As
dificuldades e os problemas são os
mesmos, mas pelo menos na aparência
uma sociedade compartilhada é menos
carrancuda, mais divertida.
Por JOEL LEITE
28
Minimizar
os riscos de
investimento e
falar direto ao
cliente
Marketing de relacionamento, one-to-
one, comunicação dirigida, marketing com
database: novas denominações para o bom,
segmentado e sempre mensurável marketing
direto. Com novas tecnologias e ferramentas,
o setor de varejo é o que mais se dedica a essa
atividade.
Por Sophia Zahle
Considerado um dos pais da disciplina, Lester
Wunderman cunhou a expressão marketing
direto em 1967, segundo contou em entrevista
concedida em seu nonagésimo aniversário [2010]
à Direct Marketing News:“Não queria excluir
a expressão mala direta porque definia o que
as empresas faziam, isto é, localizar usuários e
oferecer diretamente do fabricante ou fornecedor
produtos específicos.Todos os tipos de promoções
podem ser usados como parte desta plataforma,
faz os consumidores sentirem-se parte da
empresa concedendo vantagens e deixando-os
saber o que as empresas podem fazer por eles.”
Durante muitos anos o marketing direto foi
visto como primo pobre da publicidade, mas
se o objetivo for realizar uma ação para gerar
relacionamento, engajar a audiência e medir os
resultados, essa estratégia é imbatível.“Quando
pensam em marketing as empresas pensam em
marca, outdoor, anúncios em jornais, comerciais
em TV, tudo isso é muito caro e não é mensurável.
Marketing multicanal mensurável, como
gostamos de chamá-lo, minimiza os riscos dos
investimentos, porque se baseia em pesquisas
bem fundamentadas com os consumidores,
além de mensurar resultados de todas as ações”,
esclarece José César Martins, sócio da GoDigital,
ao explicar por que grandes anunciantes
brasileiros, especialmente varejistas, aderem ao
marketing direto.
“Quantas propagandas de
cerveja existem para que você
compre determinada marca
em detrimento de outra, e você
nem gosta de cerveja?”
30
O marketing de
relacionamento, a versão mais
moderna e atualizada, utiliza
as mesmas ferramentas do
marketing direto: mala direta,
e-mail e telemarketing, mais
recentemente móbile e, na
área digital, database, CRM,
internet e e-commerce. Como
não podia deixar de ser, este
último segmento é o que
obteve maior participação
nas receitas investidas
em marketing direto,
concentrando 24,9% dos
investimentos.
CRM
estruturado
Indicadores da Associação
Brasileira de Marketing Direto
2010 (ABEMD) apontam
que o setor de varejo é o
que mais cresce no uso do
marketing direto no Brasil. Do
faturamento do setor em 2099
que foi de R$ 21,7 bilhões, 10%
vieram das ações realizadas
para o setor de varejo que ao
lado dos setores financeiro
e de telecomunicações
figura entre os principais
usuários do marketing com
database. As razões são
várias, diz Yumi Mori Tuleski,
consultora associada do CEDET
(Centro de Desenvolvimento
Profissional e Tecnológico)
para desenvolvimento
e implementação de
treinamentos nas áreas
de vendas e de marketing.
Uma das razões é que o
potencial de retorno do
marketing direto é fácil de ser
percebido.“Quantas ações
de marketing em massa as
pessoas recebem diariamente
sem participar do público-
alvo a que elas se destinavam?
Quantas propagandas de
cerveja existem para que você
compre determinada marca em
detrimento de outra, e você nem
gosta de cerveja? Este é um dos
principais motivos pelo qual o
marketing direto vem obtendo
sucesso e crescimento no Brasil e
no mundo. Ele identifica quem a
empresa deve atingir e direciona
sua estratégia de marketing até
essas pessoas, seu target.” Outro
desafio que o marketing direto
atende com excelência, continua
Yumi Tuleski, é ter sincronismo
com o calendário promocional
e ações de mídia de massa.“É
preciso conhecer e estimular
o comportamento de compra
do cliente não só com base em
suas características cadastrais e
transacionais, mas também com
base na sazonalidade proveniente
de datas comemorativas e
mesmo das ações realizadas pela
concorrência.”
Lealdade
Ao utilizar as ferramentas
de marketing direto ou de
comunicação dirigida, outros
objetivos perseguidos pelo
varejo são a fidelização, retenção,
vendas, apoio à construção de
marca.“As mídias de massa são
utilizadas para captação, mas é
com o marketing direto que se
desenvolve o relacionamento, pois
tem a grande vantagem sobre os
demais canais, o da segmentação”,
explica Martins da GoDigital.
Não à toa, em grandes varejistas
como Grupo Pão de Açucar,
Magazine Luiza, há equipes
internas para cuidar apenas
de CRM. No supermercado
Pão de Açúcar, por exemplo,
“As mídias de massa são utilizadas
para captação, mas é com o
marketing direto que se desenvolve
o relacionamento.”
são realizadas por mês 15 ações de
marketing direto, que atingem cerca
de 500 mil clientes, segmentadas
de acordo com o perfil de compra. O
investimento é centralizado nos clientes
com maior probabilidade de retorno,
evitando a dispersão – o que demonstra
a importância de um CRM bem
estruturado, alicerce que viabiliza ações
de marketing de sucesso. Informações
de baixa qualidade impedem que as
ações atinjam seus objetivos, e, segundo
os especialistas, há muita informação
de má qualidade no mercado.
Fieis gastam mais
São muitas as opções para realizar
ações de marketing de relacionamento
para manter fieis os clientes.“A metas
das lojas é fidelizar oito em cada dez
pessoas”, afirma Marcelo Gonçalves,
diretor executivo da Marka Fidelização
e Relacionamento. Programas de
fidelização são comuns nos setores de
companhias aéreas, cartões de crédito
e de varejo supermercadista. Setores
que perceberam os benefícios de criar
vínculo com os consumidores. De acordo
com Gonçalves, para cada um real gasto
em e-mail marketing, mala direta ou
ligações telefônicas para recuperar
um cliente há retorno de entre 10 e
20 reais. De novo, o case de maior
sucesso é o grupo Pão de Açúcar: 50%
do faturamento vem das compras dos
Clientes Mais (o programa de fidelização
deles), que gastam, em média, o
dobro dos outros consumidores. O
primeiro passo é saber o que, quanto,
quando e como os consumidores
compram, considerando os produtos
que adquirem, quanto gastam e a
frequência das compras. A partir daí,
podem ofertar produtos sob medida
para esses consumidores.“O desafio não
é apenas conseguir quantidade, mas
qualificar essas relações para chegar à
gestão dos consumidores.
Os varejistas estão mais habituados a
gerenciar produtos, o relacionamento
com o cliente é uma tarefa nova,
mas vale à pena: programas bem
estruturados garantem a frequência até
40% maior dos clientes fidelizados, que
gastam, em média, 20% a mais
em cada compra”,
finaliza Gonçalves.
32
Por Carolina Gonçalves
MontenegrA joia da coroa
Montenegro está entre os cinco lugares que você tem que
visitar. É impressionante como um país tão pequeno pode ser
tão interessante. Costa fantástica, montanhas exuberantes,
cidades antigas e fervilhantes. Ao norte da costa, as Bocas
de Cátaro, Kotor e a história preservada em Budva encantam
turistas do mundo inteiro. Na costa sul, a pequena Ulcinj, a
magnífica Bar e o Lago Skadar conquistam os visitantes. No
centro, o Monastério Ostrog, a histórica Cetinje e o monte
Lovcen. Ao norte, o parque nacional de Durmitor e a floresta
Biogradska Gora. São muitas coisas para serem vistas em
apenas 14 mil km2
33
SHOWROOM
ro
Ao sul do mar Adriático, a pérola do Mediterrâneo
concentra em seu território praias tranquilas, lagos cristalinos,
rios e lindas montanhas.Tudo cercado de muita beleza natural.
O seu dia pode ser bem emocionante, com as mais diferentes
atividades e paisagens.
Incrustrado nos Balcãs, Montenegro destaca-se por sua história,
cultura e tradição, que sobreviveram por séculos. O país é um
modelo de luta pela liberdade e pela própria existência.Várias
civilizações como a cristã, muçulmana, ilíria, bizantina, turca
e eslava encontraram seu espaço em Montenegro. O clima
ameno, somado a um povo bonito – são pouco mais de 670 mil
Montenegrinos - garantem uma estadia inesquecível. De frente
para a Itália, combina duas características:
país europeu e mediterrâneo, na Península
Balcânica.
Uma das menores
capitais da Europa
Você vai chegar na capital Podgorica, centro
comercial e cultural. Parcialmente destruída
na Segunda Guerra, Podgorica ressurgiu com
prédios novos, espaços verdes e parques. São
muitos teatros, monumentos culturais e
históricos.
Uma das menores capitais da Europa, com
menos de 150 mil habitantes, abriga o maior
shopping do país – Delta City – com as
principais marcas do mundo, restaurantes,
cinemas e entretenimento. Há apenas 10
km, fica Medun, uma das mais antigas
povoações da região, onde se vê belezas
naturais e tradição preservada. Medun
sobreviveu a várias civilizações e regimes e
seu museu reflete essa história. Já Duklja foi
uma importante cidade romana na região.
Visitá-la é como viajar no tempo, 20 séculos
atrás. Ruínas de termas, templos, necrópoles
e fóruns tornam o local muito interessante,
principalmente quando se sabe que a própria
Podgorica teve ali sua origem.
Outro ponto interessante é o Mosteiro Dajbase,
situado na base do Monte de mesmo nome,
fundado em 1897. Construído numa caverna
em forma de cruz, é um dos muitos edifícios
sagrados do país. A cidade de Nemanja, onde
nasceu o fundador da dinastia servia Nemanjic,
é um passeio impressionante pela beleza do
edifício de pedra e pela atmosfera romântica.
Vale visitar ainda Vranjina, uma vila pesqueira
que é uma pequena Veneza, no Lago Skadar. O
lugar hoje é muito animado e pitoresco, com
uma antiga escola e uma vista grandiosa de
toda a região.
Cátaro, uma das baias
mais bonitas do mundo
Indo em direção da costa, visite a antiga
capital real Cetinje, no meio do caminho. É
um tesouro cultural e histórico, situado na
base da montanha Lovcen. Durante o período
do rei Nilkola, a cidade ganhou prédios para
abrigar embaixadas que hoje pontuam toda
a cidade. Há também mosteiros como Cetinje
e Biljarda. O primeiro, construído em
1701, foi destruído várias vezes, mas
a população sempre o reconstruiu.
Ali estão relíquias de São Petar de
Cetinje, um dos patronos mais
ilustres da história de Montenegro.
Este mosteiro é a sede espiritual
34
e política do povo do país. Já o mosteiro
de Biljarda foi construído por Njegos, um
poeta, filósofo e estadista. A cidade, que
tem inúmeros museus e parques, abriga
também a Academia de Arte.
A região da Montanha Lovcen é um
parque nacional, que se eleva acima da
costa.Tem um profundo significado para
o povo montenegrino: ali repousam,
num mausoléu, os restos mortais de
Petar II Petrovic Njegos, um dos maiores
poetas, filósofos e estadistas do país.
Outro valiosos monumento é a aldeia de
Njegusi, o berço de Njegos, na estrada que
liga Cetinje a Kotor.
Siga por ela e você vai chegar em Kotor,
ou Cátaro – seu nome italiano, uma das
baías mais bonitas do mundo, formada
por quatro estreitos conectados. Altas
falésias refletem-se em suas águas azuis
e profundas do Mar Adriático. A baía tem
sete pequenas ilhas. Às suas margens
está a vila de mesmo nome. Pouco mais
de 5 mil habitantes, em sua maioria
pescadores. A Cidade Velha é típica de
Idade Média, muito bem preservada,
construída no século XII e listada entre
como patrimônio histórico e natural
pela UNESCO. Caminhando em suas ruas
pode-se chegar à catedral conhecida
como Sveti Tripun, um monumento da
cultura romana e um dos símbolos
mais conhecidos da cidade. As igrejas
multiplicam-se: Santa Ana, do século
XII, São Lucas e Santa Maria, do
século XIII e a Igreja de Cura da Mãe
de Deus – Gospe od Zdravlja, do século
15.Tem ainda o Palácio do Duque, do
século XVII e o Teatro de Napoleão, do
século XIX. A cidade é muito charmosa
e tem várias festas ao longo do ano,
tornando-se um destino imperdível
numa viagem a Montenegro.
Mansões, mimosas
e a prisão que virou
teatro
São várias cidades ao redor da Baía de
Kotor, como Perast, Risan e Herceg Novi.
Perast viveu um período de grandes
construções entre os séculos XVII
e XVIII. Na cidade, voltada para o
comércio marítimo, os capitães do mar
construíram grandes mansões que
até hoje impressionam pela beleza.
A cidade é tranquila e tem muitos
monumentos sagrados, como Igreja
de São Nicolas, do século XV. Duas
ilhas em frente à cidade têm igrejas
famosas, como a de São Jorge, do
século XII e a de Nossa Senhora das
rochas, igreja barroca de 1630.
Risan é a cidade mais antiga da área da
Baía de Kotor, construída por artesãos
e marinheiros, no século III a.C. para ser
o centro comercial do estado Ilírico. Os
romanos vieram e trouxeram palácios
de mármore grego, esculturas e
mosaicos, tudo preservado até hoje. Em
Risan veja um mosaico curioso: a única
representação do Deus Hypnos, o
deus do sonho, que existe no mundo
está lá.
Conhecida como a cidade das
mimosas, Herceg Novi é a cidade
do Sol, pelo grande número de dias
ensolarados por ano. A cidade velha,
com estruturas construídas ao longo
de diferentes épocas da história,
permite uma viagem no tempo.
A torre do relógio data de 1667. As
fortalezas Forte Mare e Spanjola
são construções impressionantes.
Mas o imbatível é o Kanli-Kula,
construído pelo turcos, para ser uma
prisão. O nome origina; era Torre
Sangrenta. Mas em 1966 tornou-se
uma maravilhoso teatro de verão,
que oferece mais de mil lugares. Nas
paredes sul da fortaleza, está a Porta
Donkey, construída por austríacos.
A cidade em inúmeras espécies de
flores tropicais. Em janeiro, acontece
o Festival de Mimosas.
Praias
Seguindo viagem, vá para Tivat,
na parte central da Baía de Kotor.
A cidade, a mais jovem ao redor
da baía, tem um marina natural,
Kaliman. É também a única a contar
com aeroporto, na costa. No centro
da cidade, está o Renaissance
Summer House Buca, residência de
verão medieval das famílias Buca e
35
SHOWROOM
Lukovic, com um centro cultural que
atrai toda a atenção. Ainda tem a
Ilha das flores, com monumentos
sagrados e Gornja Lastva, uma
antiga comunidade a 300m de
altitude. Mas as grandes atrações
são a praia Plavi Horizonti e a Ilha de
São Nicola.
Seguindo para o Sul, chegamos
a Budva. Os montenegrinos
consideram a cidade a metrópole
do turismo, por ter 17 praias lindas.
Ninguém fica indiferente. A cidade
velha fica em uma península e é um
tesouro. Ruas e praças abrigam as
Igrejas da Santa Trindade, de São
Ivan, de Nossa Senhora e de Santa
Sava e o túmulo do escritor Stjepan
Mitrov Ljubisa. Durante o verão,
Budva se transforma na cidade do
teatro, onde acontecem peças locais
e estrangeiras. Na cidade velha -
Stari Grad você encontra butiques,
cafés, restaurantes e galerias. Outra
grande atração são os mosteiros
de Stanjevici, Podostrog, Rezevici
Gradiste. A vida noturna é muito
agitada. A cidade não para de
crescer
Próximas paradas,
Sveti Stefan e
Milocer
Este é o trecho mais interessante,
frequentado pelos turistas mais
exigentes. Sveti Stefan fica numa ilha
ligada ao continente por um banco de
areia. Foi construída por pescadores e
comerciantes no século XV. Desde 1960
é um resort, cidade-hotel. Desde então,
abrigou a elite europeia, recebendo
artistas e nobres. Milocer, bem perto,
era o retiro de verão da família real
Karadjordjevic. Hotéis com excelente
serviço, praia linda e plantas raras fazem
de Milocer um destino de primeira linha.
Dirigir até lá já é de tirar o fôlego. A vista
é deslumbrante. Parece um conto de
fadas.
A pequena Petrovac tem as praias mais
bonitas da chamada Riviera Budva:
Perazica Do, Lucice, Sveta Nedjelja e
Buljarice. Os nomes são difíceis, mas
passar horas ao sol por lá não oferece
nenhuma dificuldade. Andando pela
cidade, pode-se ver mosaicos do século
III e a Fortaleza Castello, construída por
venezianos no século XVI. Quem gosta
de ir para o mar, pode ir até as pequena
ilhas de Katic e Nedjelja.
Cidade portuária em desenvolvimento
constante, Bar surpreende pelas bem
cuidadas áreas verde. Ao seu redor,
atrações como a cidade velha, a fortaleza
de Haj Nehaj, do século XV e o castelo
do rei Nicola. Em Bar você pode ver
uma oliveira com mais de 2 mil anos,
onde acontece um evento chamado
de Encontro Sob a Velha Oliveira. São
vários eventos interessante, entre eles,
o Festival Internacional de TV. As praias Canj e
Vode Dobre atraem muitos turistas.
O maior lago da península
balcânica
Bar está ao lado do lago Skadar. A superfície
tranquila, cercada de penhascos e colinas, com
ilhas e enseadas chamam a atenção.
A história de sua formação como a vemos hoje
é interessante. Em 1858, uma forte tempestade
encheu o Rio Drin de tal maneira, que ele
arrastou partes das montanhas da Albânia,
empilhando-as no estuário do rio Bojana,
mudando seu curso. O lago cresceu e tornou-se
o maior da península balcânica. Esta mudança
mexeu até com o clima, que tornou-se mais
ameno.Tudo isso aconteceu a seis metros
acima do nível do mar. Hoje, dois terços do lago
pertencem a Montenegro e o restante pertence
à Albânia.
É um importante habitat de aves aquáticas.
O lago fica dentro de um Parque Nacional,
cuja marca é o raro pelicano crespo. O lago
tem em média 6 metros de profundidade,
mas existem partes que estão abaixo do nível
do mar, chegando a 60m. Estes lugares são
chamados“oka”. Durante o inverno, aves de
diferentes partes do mundo migram para o
lago. São muitos tipos diferentes de patos,
gansos, biguás, garças, águias, grifos e gaivotas.
A diversidade do lago faz dele um dos maiores
habitats de aves na Europa, cercado de rica
vegetação. São mais de 900 tipos de algas e 48
espécies de peixes. A Convenção Ramasar de
1996 listou o Lago Skadar como um pântano de
importância internacional.
A maior praia de areia
Seguindo para o extremo sul, está Ulcinj, cidade
que tem a maior praia de areia no Adriático:
Velika Plaza tem 13 km de comprimento.Tem
Valdanos, uma baía com o litoral coberto de
oliveiras. A parte antiga, reconstruída, tem
restaurantes, cafés, galerias, tudo muito
agitado.
Próximo está Ada Bojana, uma ilha artificial
criada no rio Bojana. No Século XIX haviam
duas ilhas menores. Um navio naufragou entre
elas. Com o passar dos anos, os restos do navio
e as duas ilhas uniram-se com os sedimentos
do rio formando a nova ilha, um triângulo
banhado pelo Adriático de um lado e pelo rio
dos outros. A praia de frente para o mar é de
areia, com 3 km, sendo um paraíso para
velejadores. Nas margens voltadas para
o rio tem restaurantes especializados
em servir peixes à moda antiga.
As montanhas
Depois de presentear os sentidos
com a magnífica costa
36
montenegrina, é hora de rumar para as montanhas,
entrando pelo País, em direção do Parque Nacional
Durmitor, assim denominado em 1952, dada sua beleza
incrível e sua natureza intocada. O parque se estende
da montanha que lhe dá o nome, entre cânions dos
rios Tara, Sisica e Draga, até o vale do cânion do Rio
Komarnica. O gigante Durmitor tem montanhas,
lagos glaciares e florestas. Corredeiras, fauna e flora
abundantes atraem muitos amantes da natureza para
este Patrimônio da Natureza Mundial.
O cânion do rio Tara é o segundo maior do mundo.
São desfiladeiros de tirar o fôlego, forjados através de
séculos. Cachoeiras e partes mais calmas fazem um
cenário onírico. Os bancos têm vegetação e florestas de
pinho preto que tem mais de 400 anos. O rio inquieto,
de águas claras, é um convite para os amantes do
rafting.
A cidade mais alta dos Balcãs é Zabjljak, a 1.456m, bem
no centro da montanha Durmitor. É um excelente
destino no inverno. Rodeada de lagos e cumes, a
pequena cidade atrai cada vez mais turistas. A
montanha, coberta por mais de 1500 espécies de
plantas é por si só um grande atrativo. Mas ainda
tem mosteiros e igrejas nos arredores da cidade
que valem a pena ser vistos.
Depois de explorar Durmitor, vá para o outro
parque nacional, Biogradska Gora, entre os rios
Tara e Lim, no meio da montanha Bjelasica.
Pequenas corredeiras cortam a paisagem, formada
de pastos verdes e lagos cristalinos que refletem
florestas centenárias. A floresta virgem é única.
Em seu interior, está o Lago Biogradsko, um
grande lago glaciar. O parque guarda um grande
patrimônio cultural e histórico, com monumentos
secretos, sítios arqueológicos e edifícios. Rodeando
a floresta virgem da montanha, pastagens de verão
e aldeias, com construções tradicionais completam
a paisagem.
Perto do Parque, você visita Kolasin, estabelecida
pelos turcos no século XVII. Cercada pelas
37
SHOWROOM
37
SHOWROOM
montanhas Sinjajevina, Bjelasica, Kljuc e Vucje, a cidade parece
protegida por todos os lados. A uma altitude de 954m, é um
grande point de inverno, mas também recebe bem os turistas no
verão. A altitude e o clima fazem dela um spa.
Peregrinação
Voltando para Podgorica, visite o Mosteiro Ostrog, da Igreja
Ortodoxa.
O mosteiro foi fundado por Vasilije, Bispo Metropolitano
de Herzegovina, no século XVII. Ele morreu ali em 1671 e foi
glorificado alguns anos mais tarde. Seu corpo está consagrado
num relicário mantido na caverna-igreja dedicada à
Apresentação da Mãe de Deus para o Templo.
Ele não parece criado pelo homem. Foi esculpido em pedra,
numa parede quase vertical. Muitas vezes, está encoberto pela
neblina. Localizado acima do vale Bjelopavlic, bem no centro
do país, é um dos mais populares lugares de peregrinação
em Montenegro. O mosteiro fica em torno de duas cavernas-
igrejas. A mais baixa e mais antiga foi construída em 1655. A
que fica mais ao alto foi dedicada à Santa Cruz, no século XVIII.
Os afrescos da igreja da Apresentação foram pintados no final
do século XVII. Já os da Santa Cruz foram pintados pelo mestre
Radul, que os pintou sobre a rocha.
As duas cavernas-igrejas são as principais áreas de visitação.
Entre os seus tesouros, a igreja tem um livro de orações de 1732 e
castiçais decorados de 1779.Visitado por fieis do mundo inteiro,
Ostrog é ponto de encontro de ortodoxos e católicos, que buscam
milagres curativos.
Hospedar-se em Montenegro é uma experiência e tanto. Os
hotéis são maravilhosos. A cozinha é fantástica, tirando o melhor
do Mediterrâneo,mas com a personalidade montenegrina.
Brasileiros não precisam de visto para permanência
de até 90 dias.
se eu não tivesse tido estes pensamentos
tão profundos aos sete anos? Será que eu seria quem
eu sou hoje? Definitivamente não! As férias de julho
foram definitivas para eu ser quem eu sou. E as de verão
também, lógico. Mas as de verão pareciam mais naturais.
Você parava para esperar o Natal e ver o ano novo chegar.
Depois tinha que esperar o Carnaval…
Já as férias de julho são realmente férias: sua atenção é
toda pra elas.
Na infância, praia! Um universo de descobertas em
praias quase desertas. Alguém acredita que eu vi
Peruíbe praticamente intocada?
Eram verdadeiras aulas de natureza. Ainda que eu não
morresse de amores por bichinhos úmidos, gelados e
saltitantes...
Eu tenho uma memória – que nem sei se é real
– de que a areia da Praia do Canto acordava
com pegadas de onça... Aquilo sim era uma boa
história pra contar na escola em agosto!
E puxar picaré? Quem já fez isso na vida? Eu fiz! E
38
Maria Regina Cyrino Correa
Jornalista, publicitária, sempre acha que aproveitou tudo o que
pode da vida até hoje... mas aproveitaria mais um pouquinho das
férias de julho...
regina.cyrino@uol.com.br
http://felllikeaqueen.blogspot.com/
www.2showcomunicacao.com.br
Por Maria Regina
Cyrino Corrêa
Julho é o mês de férias! Era,
pelo menos, enquanto eu estava
na escola. E eu tinha a sorte de
ter uma mãe professora, então
ficávamos as duas de férias.
Naquele tempo ir para a praia era
um acontecimento. E a gente ia.
Santos! Eu adorava a sensação de
chegar pela Avenida Ana Costa e
ver que à minha frente não havia
prédios. Só dos lados, mas nada
à frente… só o horizonte. Só o
profundo mar azul!
catar marisco na areia à noite? Eram tempos em que não era
perigoso ir à praia deserta à noite. A propósito, puxar picaré era
uma pesca com rede, bem bacana.
Na adolescência, o programa mudou. Fomos de armas e
bagagens pras montanhas. Poços de Caldas. Que época!
Primeiro beijo com sabor de chicle de tutti-frutti! Andar a
cavalo, dançar nos bailinhos, jogar baralho, piscina sulfurosa...
Poços era tudo de bom. Um dia, fomos a uma fábrica de cristais.
Meu cérebro pode envelhecer comigo, mas vou sempre me
lembrar com olhos de menina do encantamento de ver o
homem soprar o vidro incandescente e depois moldar um
cavalinho... Uau!
E se a minha adolescência não tivesse sido pontilhada por
histórias fantásticas contadas aos sussurros pelos corredores
do velho e elegante hotel? Eu prestava atenção em tudo. Bebia
as informações. As férias me abriam um leque tão amplo de
opções... E se eu não tivesse ido lá tantas vezes até decorar cada
corredor, cada escada, cada sala?
Na faculdade, despedindo-me da delícia de ter tantas férias,
voltei pra praia. Ah! Recém saída do colégio de meninas,
descobri um universo misto em todos os sentidos... Meninos
e meninas, direita e esquerda, proibido e permitido, medo e
coragem, desafio e recuo... Na praia, desta vez, conheci amigos
que carreguei comigo vida afora. E se eu não os conhecesse?
Definitivamente, minha vida seria mais chata. As férias de
julho ficaram pra trás quando acabei a faculdade, aos 21 anos.
Mas até hoje acho o máximo! Imaginem só! E se o governo
decretasse uma lei obrigando as empresas a liberarem as
pessoas pelo menos uma semana para férias? Com direito
a abono e tudo o mais! Quem mora em São Paulo, iria
pra Campos do Jordão, se acabar de ouvir música e comer
chocolate. Quem mora no centro oeste, poderia pescar e contar
histórias ao pé do fogo. Quem está no nordeste, voaria pra
Fernando de Noronha, ou Marajó... Férias numa ilha! Os do sul
iriam pra Gramado, lógico!
E se a gente pudesse ir pra um tipo de acampamento de férias
para adultos estressados? Andar a cavalo, tomar banho na
cachoeira, contar causos e passar a noite com lanterna acesa
embaixo do cobertor...
Sonhar – ainda! – não paga imposto!
E
As férias
de julho
40
Grandes pequenos da LG
Já saíram os novos modelos de notebooks
da série P da LG. São os LG P420 e LG P210. A
empresa caprichou no design fininho, com
suas bordas superfinas que fazem com que
a tela pareça mais ampla, sem o aumento das
dimensões do produto. O acabamento minimalista
é fosco, com touch pad invisível e teclado estilo“Peeble”
– teclas mais espaçadas, que proporcionam maior conforto
à digitação.
O modelo LG P420 está disponível nas cores branca ou preta, com
tela LED LCD widescreen (16:9) de alta definição de 14 polegadas, mas
com as dimensões de um aparelho de 13 polegadas. Possui a segunda
geração de processadores da família Core™, da Intel, memória de 4GB, saída HDMI e, para algumas
versões, placa de vídeo dedicada, que proporciona melhor desempenho gráfico. Já o notebook LG P210,
disponível na cor branca, tem tela LED LCD widescreen (16:9) de alta definição de 12,5 polegadas, com
as medidas de um notebook de 11,6 polegadas, processadores Intel Core i3 ou i5, memória de 4GB,
bateria de longa duração (até 5 horas) e saída micro HDMI.
Preço sugerido a partir de R$ 2.199,00.
Um All in One VAIO
Há cerca de dois meses, a Sony lançou seu
primeiro notebook VAIO 3D no Brasil. Agora
apresenta o L225FB, um desktop, ou melhor,
um All in One 3D. É um equipamento que
permite o consumidor interagir e se
conectar com outros produtos da marca
de forma fácil e intuitiva, como com o
Playstation 3 para jogar games em três
dimensões.
Neste modelo top de linha da categoria
a tela é de 24 polegadas, de alta
definição com touchscreen e moldura
interativa. Reproduz imagens 3D e
mídias HD, e o máximo desempenho
multitarefas está garantido com a
segunda geração de processadores Intel
Core i7.Tem ainda placa de vídeo NVIDIA
com 1GB de memória dedicada, HD de
1TB, Bluetooth 3.0 e USB 3.0, entrada
e saída HDMI, garantindo conexões.
Possui também webcam de 1.3MP com
tecnologia Exmor, para melhorar a
captura de imagens mesmo em
ambientes com pouca luz, além
de gravador e leitor de Blu-Ray.
Acompanha óculos recarregável
via USB.
Preço: não divulgado.
Onde encontrar: 4003-7669
para capitais e regiões
metropolitanas e 0800-
8807669 para as demais
localidades.
Sony HT- SS380
A Sony anda investindo forte na tecnologia 3D, além de notebook e
desktop, lançou seu home theater compatível com 3D e com outros
equipamentos da marca como Blu-ray Players 3D e Playstation 3.
O HT-SS380 tem design moderno e sofisticado que embeleza qualquer
ambiente e tecnologia 3D Pass Thru, que recebe e envia sinais de
vídeo e áudio em 3D. A usabilidade amigável permite a conexão com
aparelhos Blu-ray 2D, DVDs convencionais e com a tecnologia BRAVIA
Sync, que permite a operação integrada do Home Theater com a
TV Bravia ou handycam, via conexão HDMI, para reproduzir, ligar e
desligar o sistema com um simples toque de botão.
O HT-SS380 oferece 3 entradas HDMI, 2 Óptica Digital, 1 Digital áudio
Coaxial, 1 Áudio Analógica e 1 Microfone para Autocalibração, que
ajusta o sistema 5.1 para garantir a perfeita distribuição do som no
ambiente, com potência de áudio total de 720 RMS. Suporta diversos
formatos de som e possui amplificador digital S-Master, que garante
total fidelidade de áudio com menor consumo de energia e sem
distorções, mesmo com volume elevado.
Preço sugerido: R$ 1.299.
Onde encontrar: nas lojas Fast Shop e nas SonyStyle Store do Shopping Cidade Jardim
e Bourbon Shopping Pompéia (São Paulo), Park Shopping (Brasília), Barra Shopping (Rio
de Janeiro), Salvador Shopping (Salvador) e Barra Shopping Sul (Porto Alegre), ou nos
respectivos sites: www.fastshop.com.br, www.sonystyle.com.br
Dificuldade em expressar
os sentimentos
“Extremamente alto & incrivelmente perto”,do
aclamado escritor norte-americano Jonathan
Safran Foer versa sobre dois acontecimentos
históricos:o bombardeio aliado sobre Dresden,
que arrasou a cidade e sua população civil na II
Grande Guerra Mundial e o ataque às torres do
World Trade Center sob o olhar de Oskar Schell,
um menino de nove anos que tem que lidar
com a perda trágica do pai,morto no atentado
de 11 de setembro.
Oskar tem uma imaginação fértil,e sofrendo
cria histórias,algumas até absurdas. Após
encontrar uma chave nos guardados de
seu pai,ficção e realidade se encontram na
história de sua família,narrada por seus avós,
sobreviventes de Dresden. A narrativa mistura
essas duas tragédias,usa grafismos,cores,fotos,
códigos numéricos e textos sobrescritos,além das
palavras,frases e parágrafos, tentando expressar
a dificuldade de estabelecer comunicação,de
expressar o amor em momentos cotidianos,que pode
anteceder acontecimentos como estes,que tornam as
pessoas próximas irremediavelmente distantes.
O mote de Oskar é similar ao de muitas personagens de
Foer,pessoas que amam profundamente,mas que têm
extrema dificuldade em dizê-lo.
Talvez por ser uma dificuldade comum a muitas pessoas ou
por abordar um tema sensível aos norte-americanos,o livro
chamou a atenção de Hollywood e está sendo adaptado para o
cinema. Os protagonistas serão os queridinhos da América - Tom
Hanks e Sandra Bullock. A estreia do filme está prevista para 2012 nos
Estados Unidos.
“Extremamente alto e incrivelmente perto”,de Jonathan Safran Foer com tradução de Daniel
Galera,(Editora Rocco,2011,392 páginas)
Preço sugerido:R$ 47,00
41
SHOWROOM
Um genial Woody Allen
Já está em cartaz,mas é uma recomendação necessária:“Midnight in Paris”com certeza
entrará na lista dos melhores filmes do ano,e também de um dos mais brilhantes deWoody
Allen.
O cineasta continua sua temporada europeia,que já rendeu aos cinéfilos obras-primas
como“Vicky,Cristina,Barcelona”e“Match Point”(Ponto final).Escrito e dirigido porWoody
Allen,“Meia noite em Paris”(título em português) é uma comédia romântica ao estilo dele:
cínica.OwenWilson é Gil,o protagonista e alter-ego de Allen,um roteirista de Hollywood
muito bem remunerado,mas insatisfeito.Ele sonhava em trilhar o caminho dos grandes
novelistas norte-americanos,de Hemingway e Fitzgerald,que viveram na Paris dos anos
1920.O próprio Gil já morou na Cidade Luz e sonha em voltar.Na história ele está de férias
com a noiva Inez (Rachel McAdams) e os pais dela John (Kurt Fuller),um conservador
homem de negócios,e Helen (Mimi Kennedy).A família da noiva é desinteressante.Talvez
a imagem que Allen tenha atualmente dos seus compatriotas:republicanos fúteis,que só
pensam em comprar,pedantes que merecem a descrição que Gil faz na frase:
“Do lugar de onde eu venho às pessoas são medidas pela quantidade de cocaína
em suas colheres.”
É a história de Gil,que tem nostalgia do que não viveu,da efervescência cultural da Paris
do início do século XX,da crença ilusória de que as pessoas têm que uma vida diferente
da dele são sempre muito mais felizes e interessantes.É uma fantasia ao estilo de
“De volta para o futuro”,só que neste caso,ao passado para onde Gil embarca em
um Peugeot 191,ele têm a chance de conviver com Hemingway,Picasso,os Scott
Fitzgerald,Buñuel,Dalí,Gertrud Stein e outros notáveis.Ele vai emergir no
presente,vivendo seus sonhos na cidade que é mais do que uma metáfora para
a magia,é um sinônimo.
Assim como“Barcelona”foi personagem na história deVicky e Cristina,Paris
também é com seu patrimônio cultural,com a beleza das ruas,avenidas,
jardins e museus.
“Meia noite em Paris”é uma homenagem deWoody Allen à cidade.
O filme que abriu o Festival de Cannes 2011,estreou em 17de junho
com 97 cópias em todo o Brasil,um recorde para um filme
do cineasta.De lá para cá vêm batendo
recordes de bilheteria.São 94 minutos
de puro encantamento,que
funcionam como um
poderoso
42
O projeto nasceu de uma idéia do sommelier, ou melhor,
escanção,português, José Carlos Santanita, premiado profissional
que durante muitos anos trabalhou no famoso restaurante
Galleria,da Herdade do Esporão,no Alentejo. Partindo para
a ação,Santanita entrou em contato com um dos mais
prestigiados enólogos de Portugal,Antonio Saramago,cujo
trabalho ao longo de mais de 40 anos à frente de vinícolas como
José Maria da Fonseca e posteriormente sua própria vinícola,
a Antonio Saramago Vinhos,o credenciava para dar vida ao
vinho dos sommeliers/escanções. Aceito o convite,chegou a
vez do signatário dessa coluna ser cooptado para o projeto,
representando os profissionais brasileiros,visto estarmos
diretamente envolvidos com a formação dos sommeliers em
nosso País,por meio da Associação Brasileira de Sommeliers-SP,
entidade que tivemos o privilégio de presidir por duas vezes. Não
hesitei em aceitar a missão e a partir daí foram longos meses de
trabalho,voltados para a escolha das uvas,do tipo de vinificação,
do tratamento em madeira e finalmente,a parte mais difícil e
delicada,o corte final dos vinhos. Decidimos,os três,produzir
duas versões do Scancio,uma mais acessível no curto prazo,
à qual denominamos Scancio Reserva e uma mais complexa
e ambiciosa,para longa guarda,denominada Scancio Private
Selection,ambas da safra 2008. O nome escolhido,Scancio,
tem origem na Grécia e a palavra designava o encarregado do
serviço do vinho. Os portugueses chamam este profissional
de Escanção,não dando margens a dúvidas sobre a origem do
termo. No Brasil,usamos a palavra francesa Sommelier.Voltando
aos vinhos,depois de muitas provas e deliberações conjuntas,
chegamos ao consenso final sobre a composição dos mesmos.
O Scancio Reserva 2008 é um corte de duas uvas clássicas do
Alentejo,a Alfrocheiro e a Grand Noir,com passagem por barricas
de carvalho francês por 12 meses, o que resultou num vinho
acessível,com muita fruta,agradável e fácil de beber.
A outra vertente do projeto,o Scancio Private Selection 2008,é
uma mescla de três uvas,a saber,Aragonês,Trincadeira e Alicante
Bouschet,com amadurecimento por 24 meses em barricas novas
de carvalho francês. O resultado foi um vinho de alta gama,
intenso,complexo, elegante e sofisticado, com imenso potencial
de guarda e a mais perfeita expressão do terroir alentejano.
Os vinhos Scancio são importados para o Brasil pela Vinissimo
Importadora (www.vinissimo.com.br).
Espero que vocês gostem dos Scancio tanto quanto eu gosto,mas
não me peçam para escolher meu preferido,pois,afinal de contas,
os considero a ambos como filhos muito queridos. Saúde!
Arthur Azevedo é diretor da Associação Brasileira de Sommeliers –SP,
editor da revista Wine Style (www.winestyle.com.br) e consultor da
Artwine (www.artwine.com.br)
Por Arthur Azevedo
Scancio, um vinho
elaborado a seis mãos
Raclete (ou raclette)
Por Gustavo Corrêa
Raclete deriva do verbo francês racler, que significa raspar,
uma alusão à forma tradicional de preparar este prato.
Menos conhecido que a fondue, a raclete é também um
prato típico suíço e que como o foundue traz mistério em sua
origem. O queijo raclete é consumido nos Alpes há 400 anos,
e sua história tem duas versões principais: há quem conte
que a Raclete surgiu quando um montanhês, durante um
inverno, para se aquecer e saciar a fome foi até a despensa
e pegou um bom queijo. Em seguida o derreteu no fogo da
lareira, raspou pedaços desse queijo derretido e o acomodou
sobre pães. Comeu o queijo ainda borbulhante acompanhado
de um bom vinho. Porém, há também registros medievais
sobre uma refeição consumida por pastores que conduziam
o gado de uma pastagem à outra, subindo montanhas e que,
ao anoitecer, ao redor de uma fogueira, derretiam o queijo no
fogo e raspavam pão sobre as partes derretidas.
No século XX este prato se sofisticou com o aparecimento
das racleteiras elétricas. Elas dispõem de panelinhas que são
colocadas sobre uma armação redonda de metal, aquecida por
uma resistência. Na parte de cima, encontra-se uma chapa,
onde podem ser grelhados batatas ou legumes. Algumas
permitem derreter queijo na mesa em panelinhas junto com
outros ingredientes como toucinho, tomate, abacaxi etc.
Para a racleteira, é preciso que o queijo esteja fatiado, pois
as panelas e as espátulas são pequenas, feitas para porções
individuais.
Adaptações da raclete surgem a cada dia, no Brasil usam-se
outros queijos além do raclete. A preferência são pelos queijos
do tipo suiço - gruyére, emmental, maasdam - mas também
dá para usar estepe, gouda, mussarela.Você pode usar os
queijos de sua preferência. Para enriquecer o prato e permitir
mais combinações de sabores, você pode acrescentar, além das
batatas, das azeitonas e das conservas, porções de cogumelos
frescos, berinjela fatiadas e abobrinha.
Raclete Tradicional
Ingredientes:
Queijo (gouda, suiço ou outro de sua preferência, mas
que seja fácil de derreter )
Batata cozida cortada no meio
Pepino, cebolinha e picles em conserva
Frios diversos (copa, presunto parma, salame, bacon, etc)
Pães diversos para acompanhar
Modo de Preparo:
Corte os queijos em cubos, cozinhe as batatas com água e
sal (com a casca) e coloque sobre a chapa da racleteira.
A seguir, acrescente em cada: um cubinho de queijo no
recipiente que vai entre a chapa e o fogo, para derreter.
Cada um serve o prato de acordo com seu gosto; com os
frios e a batata, adicione manteiga e misture o queijo
derretido na batata cozida.
Bom apetite!
Gustavo Corrêa é chef formado pelo SENAC Águas de São Pedro.
Trabalhou em várias regiões brasileiras, em restaurantes renomados
internacionalmente. Sua especialidade e prazer são os jantares
temáticos. gustavocyr@hotmail.com
Uma das mais difíceis missões que um ser humano pode
enfrentar é falar de uma criação sua. O pai sempre tem
bons olhos para seus filhos,o criador sempre tende a ser
condescendente com a sua criatura. Digo isso como preâmbulo
para esse artigo,pois vou contar a história do primeiro vinho que
tenho a honra de assinar o rótulo,o Scancio,um vinho elaborado
para homenagear os sommeliers do Brasil e de Portugal.

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  • 1. Ano 33 • n• 294 JULHO 2O11 Publicaçãodaassociaçãobrasileiradedistribuidoresvolkswagen Crowdsourcing, quando o consumidor ajuda a criar o produto
  • 2. Gente consciente 3 SHOWROOM s três principais temas desta edição de Showroom tratam de gente. E de gente motivada. A primeira abordagem sobre pessoas é feita pelo especialista em Recursos Humanos, Daniel Ramirez, presidente da Eagle´s Flight, empresa de treinamento, líder no seu segmento no País. Na seção Gente, Ramirez conta, entre outras curiosidades, como as empresas estão tratando seus funcionários e como estes estão reagindo aos maus empregadores. Uma multidão que, diferentemente de anos atrás, não se conforma em trabalhar apenas pelo salário, mas por princípios e compromissos que precisam ser honrados. Mais adiante, a matéria de Capa destaca o crescimento das plataformas de geração de conteúdo colaborativo (crowdsourcing) e de financiamento (crowdfunding) no Brasil, fenômeno que também depende de uma multidão motivada, alinhada com o mesmo objetivo. Para quem não está familiarizado, crowdfunding (de multidão, em inglês) foi o conceito que arrecadou 137 milhões de dólares pela internet para eleger Barack Obama em 2008. Como tudo no Brasil, quando pega, propaga-se rapidamente. O estouro desta modalidade de financiamento aconteceu este ano, contando já com 12 sites ativos. O motivo? Uma multidão entusiasmada, acreditando na ideia de financiamento colaborativo pela internet, prova incontestável de que o brasileiro já superou o receio de negociar pela rede mundial. Nosso terceiro assunto, que também envolve muita gente, trata do marketing de relacionamento, matéria onde mais uma vez apontamos o quanto é importante estabelecer um canal direto de comunicação com o consumidor. A novidade é que este consumidor está muito mais ligado na mídia que circula na internet do que na mídia impressa, como preconizavam os ditames do marketing direto de alguns anos.Tanto é verdade que o e-commerce foi o segmento que proporcionalmente recebeu a maior fatia dos investimentos alocados em marketing direto no ano passado, segundo dados da ABEMD, Associação Brasileira de Marketing Direto. De qualquer forma, é pensando no consumidor, no cliente, na multidão nada silenciosa que questiona qualidade, preço e conduta que os esforços das empresas estão se concentrando. A cada dia, mais e mais organizações aderem a programas de fidelização porque sabem e as estatísticas apontam que ações orientadas garantem a frequência até 40% maior de clientes fidelizados, clientes que gastam, em média, 20% a mais em cada compra do que clientes comuns. Boa leitura. Conselho Editorial O
  • 3. 3 Recado A mensagem do Conselho Editorial. 5 Cartas O que dizem sobre Showroom. 6 Quem Passou por Aqui Personalidades e amigos que visitaram a Assobrav e o Grupo Disal. 8 Gente Daniel Ramirez, o ator e diretor de teatro que se tornou um expert em treinamento. Atuando na área de RH de grandes companhias, aliou suas competências artísticas às mais novas técnicas de treinamento e montou sua própria empresa. Visionário, trouxe para o Brasil a inovadora Eagle´s Flight, empresa de treinamento canadense, cujo diferencial é a tônica lúdica. 12 RH A reflexão do psicólogo, especialista em relações corporativas, Armando Siqueira Neto. 16 Mundo Verde Nosso recado sobre a preservação do meio ambiente e suas implicações legais. 18 Capa Crowd, multidão em inglês, é o prefixo de plataformas de geração de conteúdo colaborativo (crowdsourcing) e de financiamento coletivo (crowdfunding), hoje caracterizados por uma economia baseada em colaboração e interatividade, empreendedorismo e a aceleração de projetos inovadores. Não é uma tendência ou mais uma moda, mas uma nova economia que está surgindo baseada na multidão. 24 TechMania Os testes em laboratórios e em pistas de prova da indústria automobilística, segundo o jornalista Fernando Calmon. 26 Freio Solto A opinião, a crítica e a ironia do jornalista Joel Leite. 28 Marketing Marketing de relacionamento, one-to- one, comunicação dirigida, marketing com database: novas denominações para o bom, segmentado e sempre mensurável marketing direto. Com novas tecnologias e ferramentas, o setor de varejo é o que mais se dedica a essa atividade. 32 A Passeio Montenegro, um dos cinco destinos que todos precisam conhecer. Um país muito pequeno e muito interessante. Costa fantástica, montanhas exuberantes, cidades antigas e fervilhantes. Ao norte da costa, as Bocas de Cátaro, Kotor e a história preservada em Budva encantam turistas do mundo inteiro. Na costa sul, a pequena Ulcinj, a magnífica Bar e o Lago Skadar conquistam os visitantes. No centro, o Monastério Ostrog, a histórica Cetinje e o monte Lovcen. Ao norte, o parque nacional de Durmitor e a floresta Biogradska Gora. São muitas coisas para serem vistas em apenas 14 mil km2 38 E se... A ficção de Maria Regina Cyrino Corrêa sobre as principais datas celebradas em julho. 40 Novidades O que há de novo em eletrônicos, periféricos de informática e outras utilidades. 41 Livros & Afins Nossas dicas para a sua biblioteca, cedeteca, devedeteca e pinacoteca. 42 Vinhos & Videiras A opinião abalizada de Arthur Azevedo, diretor executivo da ABS – Associação Brasileira de Sommeliers – SP e editor da revista WineStyle e do site www.artwine. com.br 42 Mesa Posta Receitas, segredos e informações sobre a história da gastronomia com o chef Gustavo Corrêa. CAPA 4 APASSEIO MUNDOVERDE
  • 4. A perua no choco Bem divertida e verdadeira a crônica do jornalista Joel Leite na edição passada (“A Perua no choco e o choque cultural” – nº 293 – Junho 2011). É bem verdade que a diversidade das culturas leva, mais frequentemente do que supomos, a interpretações erradas. José Mauro • São Paulo - SP Madrid Muito legal a reportagem sobre Madrid publicada na Showroom de junho (Seção A Passeio -Edição 293). Ela serve como uma aula de história e um roteiro minucioso do que se pode fazer em pouco tempo na maravilhosa capital espanhola. Parabéns. Janaina Correia Mendes • Brasília - DF Matérias pertinentes Primeiramente gostaria de parabenizá-los pelas publicações da Revista Showroom, com artigos e matérias extremamente pertinentes e que dispensam qualquer comentário.  Li uma nota em uma edição passada que é possível receber em casa os exemplares da revista. Havendo esta possibilidade, gostaria de receber Showroom em meu endereço. Tiago Luiz Pavoski Klawa • Pós-Vendas VW Holanda Veículos Ltda • Palmeira das Missões - RS Leitura diversificada Gostaria de agradecer o recebimento da ótima Revista Showroom durante todos estes anos. É uma publicação diversificada e ao mesmo tempo de excelente conteúdo cultural. Sou Administrador e a utilizo sempre em meu trabalho. Já na minha casa, a revista é disputada por todos devido às matérias e as informações sobre o mercado automobilístico que traz. Júlio Evaristo Salomon • Nova Friburgo - RJ Bom instrumento para estudantes Conheci a Revista Showroom na concessionária quando fui fazer a revisão do meu carro Volkswagen. Sou professora universitária e gostei muito dos artigos da revista. Curtos e muito bem focados em diversos aspectos da realidade que vivemos. Ideais para trabalhar tais assuntos com alunos de forma prática e proveitosa. Maria Suelena Quadros • Professora Universidade de Caxias do Sul/RS N.R.: Recordamos que para receber Showroom mensalmente os interessados devem enviar um e-mail à Redação (www.editoria@tato.com) informando o seu endereço e solicitando o envio da publicação. Os pedidos serão atendidos por ordem de chegada e conforme a disponibilidade de exemplares. Conselho Editorial Antonio Francischinelli Jr. , Mauro I.C. Imperatori e Silvia Teresa Bella Ramunno. Editoria e Redação Trade AT Once - Comunicação e Websites Ltda. Rua Itápolis, 815 • CEP 01245-000 São Paulo •SP • Tel (11) 5078-5427 editoria@tato.com Editora e Jornalista Responsável Silvia Teresa Bella Ramunno (13.452/MT) Redação - Rosângela Lotfi (23.254/MT) Projeto Gráfico e Direção de Arte Azevedo Publicidade - Marcelo Azevedo marcelo@azevedocom.com.br Publicidade Disal Serviços - Maria Marta Mello Guimarães Tel (11) 5078-5480 mmello@grupodisal.com.br Impressão Gráfica Itú Tiragem 6.000 exemplares Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte. As matérias assinadas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição da Assobrav. Registro nº 137.785 – 3º Cartório Civil de Pessoas Jurídicas da Capital de São Paulo. Assobrav Av. José Maria Whitaker, 603 CEP 04057-900 São Paulo – SP Tel: (11) 5078-5400 assobrav@assobrav.com.br Diretoria Executiva Presidente: Mauro Saddi Vice-presidentes: André Oshiro Carlos Roberto F de Mattos Jr. Elias dos Santos Monteiro Eric Braz Tambasco Francisco Veríssimo S Filho Luis Eduardo B Cruz e Guião Luiz Francisco Viscardi Nilo Moraes Coelho Filho Rogério Wink Diretor Ad-hoc: Bruno Abib Conselho de Ex-Presidentes Sérgio Antonio Reze, Paulo Pires Simões, João Cláudio Pentagna Guimarães, Rômulo D. Queiroz Monteiro Filho, Orlando S. Álvares de Moura, Amaury Rodrigues de Amorim, Carlos Roberto Franco de Mattos, Roberto Torres Neves Osório, Elmano Moisés Nigri e Rui Flávio Chúfalo Guião. Foto de capa: http://www.volkswagen.com.br 5 Publicação mensal da Ano 33 – Edição 294– julho de 2011 SHOWROOM
  • 5. A elegante advogada Cecília Oliveira, do departamento jurídico da Volkswagen do Brasil, para prestigiar mais um evento conjunto entre e Montadora e a Assobrav... 6 O gerente de Unidade – TSC da Volkswagen do Brasil, Josimar Balbino de Oliveira, para reunião de calendário da área... Marcos Roberto Ramos Costa, superintendente comercial da Sulamérica Seguros e Previdência, para registrar os bons negócios da parceria com a Assobrav/Grupo Disal... O ex-presidente da Assobrav, João Carlos Pentagna Guimarães, com sua elegância e carisma, sempre presente, quando solicitado, para opinar sobre o futuro do negócio “Concessionária Volkswagen”... Glauber Fernando de Souza Fernandes, sucessor há tempo atuante na VW Belcar de Goiânia, para uma troca de experiências com a nova liderança da Rede Volkswagen...
  • 6. Para uma visita de cortesia, Adriano Comparoni, diretor comercial adjunto da Cardif - Grupo BNP Pariba... Gente da Casa, o engenheiro José Maria Graner, triatleta, paraquedista e rato de academia, exaltando bom humor e competência na coordenação da Assistência Técnica da Assobrav... O amável Maurício Barreto, do exigido departamento de Assistência Técnica da Volkswagen do Brasil par atualizar a agenda de tarefas com seus pares da Assobrav... 7 SHOWROOM João Mariani, diretor do Grupo Faria, trazendo sempre uma boa palavra e otimismo às reuniões de mercado... O sucessor Fabiano Hadad, diretor da VW Capivari, no interior de São Paulo, munido de todo o conhecimento para participar de mais um seminário sobre vendas e marketing...
  • 7. 8 Com carreira na área de Recursos Humanos desde 1983, Daniel Ramirez, um bom ator, talentoso e atrevido diretor de teatro, procurava a empresa ideal para trabalhar a despeito de uma clara vocação para o empreendedorismo e uma boa dose de curiosidade. Já empresário, representando filmes canadenses de treinamento no Brasil, participou de um congresso em Dallas em 1995. Foi quando conheceu o consultor de vendas Alberto Couto, famoso no mundo corporativo por sua competência e capacidade de liderança. Da troca de ideias, nasceu a confiança, e dali a sociedade, até 2002, na Eagle´s Flight do Brasil, versão sul- americana e muito bem-sucedida da empresa de treinamento também canadense que se baseia no conceito do aprendizado por meio da experiência. Com treinamentos intensos e enxutos, com duração de 2, 4, e 8 horas, a metodologia utiliza recursos lúdicos em ambientes planejados e estruturados, onde regras e detalhes são meticulosamente desenhados para trazer à tona reflexões capazes de impulsionar a mudança nos hábitos das equipes. O que é vivido no jogo encontra paralelo no campo profissional, ainda que não de maneira óbvia. Com até 50 treinamentos por mês, a empresa é capaz de montar dinâmicas de 20 a 2 mil pessoas com a grande vantagem de não afastar os funcionários por mais de um dia de seus postos de trabalho. Adepto da mão na massa, o presidente da empresa, Daniel Ramirez, acredita que todos, inclusive os líderes, podem aplicar imediatamente os conceitos e atitudes que aprendem nos jogos em suas situações de trabalho, fazendo valer o ditado de Confúcio de 400 anos antes de Cristo: “Se eu ouço eu esqueço. Se eu vejo eu entendo. Se eu faço eu aprendo”. Showroom: Trazer a Eagle´s Flight para o Brasil na década de 1990 foi uma ousadia, considerando que só hoje, Daniel Ramirez “Competição não é rivalidade, assim como autoridade não é poder” Por Silvia Bella
  • 8. 9 SHOWROOM termos de competência: temos o inconsciente incompetente, que é quando a gente não sabe que não sabe. Depois, quando cai a nossa ficha e nos damos conta de que não sabemos, passamos à etapa do consciente incompetente. Um caso típico é a pessoa achar que sabe inglês porque domina o básico. Quando vai para um país de língua inglesa pela primeira vez fica desesperada, porque não entende nada do que as pessoas lhe respondem às perguntas até corretas que ele faz. É nesse momento que a pessoa percebe que precisa estudar muito mais, para de fato dizer que sabe inglês. No treinamento convencional verifica-se a mesma coisa: a maioria fica ouvindo o palestrante no piloto automático. Veja bem, não é uma crítica às palestras, que eu também faço, e bem conduzidas, com o tempo e o estilo certos, são ótimas ferramentas, mas no treinamento que se vê comumente, enquanto o palestrante está falando, 75% ou mais da audiência está mexendo no celular, no iPad ou pensando em seus problemas. Ou seja, elas não sabem que não sabem e não prestam atenção, não focam no tema apresentado. Não há aderência. Já nas nossas dinâmicas, onde é criado um cenário, onde são apresentadas as regras para que o jogo aconteça, as pessoas têm que estar 100% envolvidas, presentes, focadas, caso contrário não conseguirão jogar. Os outros participantes mesmo vão pressioná-las para prestar atenção, para atuar, uma vez que todas as dinâmicas pressupõem equipes. Ao fim do jogo, a gente faz a amarração, isto é, conceitua, pontua, de maneira bastante informal, o aprendizado, o resultado daquela vivência, trazendo para o dia a dia profissional e até pessoal dos participantes as escolhas vividas no jogo, porque nesse momento, ao fim do jogo, se elas ganharam, perderam ou ficaram em terceiro lugar, perceberam que não sabem, e estão dispostas, estão abertas, a aprender. É interessante... na dinâmica a que assisti as pessoas estavam enlouquecidas, encantadas com o jogo de tabuleiro, ansiosas por começar. Que fenômeno, que reação é essa que faz com que homens barbados se comportem como crianças disputando o primeiro lugar? A minha percepção é que as pessoas vêem o jogo, o tabuleiro, como um brinquedo mesmo e com a chance de, naquele momento, esquecer a vida adulta, a responsabilidade. Elas querem relaxar, se entreter com alguma coisa diferente, que fuja totalmente à sua rotina. Nós temos um jogo que consiste em montar pontes com peças de lego e é mais do que comum ver diretores de empresas, de terno e gravata, deitados no chão para colocar uma peça fundamental para o equilíbrio da estrutura. Só que nesse período em que ele relaxa está fazendo o mesmo que faz no escritório ou no comando de pessoas: ele está concentrado, escolhendo estratégias, decidindo por um caminho ou outro, ainda que ele não se dê conta disso. Você tem dados que comprovem o resultado positivo do seu método? O volume de treinamentos que fazemos por ano fala por si. Nós treinamos 30 mil pessoas por ano. Somos a maior empresa em termos de treinamento comportamental. O Brasil, ou seja, o nosso escritório faz 40% de tudo que acontece no mundo, é uma loucura. Nós somos modelo para os outros países. O nosso escritório, ao desenvolver toda essa cenografia, essa aclimatação, essas situações inusitadas, passou a ser um modelo, uma referência de treinamento para todo o mundo. Ou seja, você gostou da ideia original canadense, trouxe o modelo e o adaptou, criou em cima? Sim, até pelo fato de ser ator e diretor de teatro, essa faceta da aclimatação, da cenografia, de criar o clima para que o jogo aconteça de forma eficiente é bastante familiar. Também por isso sempre tive atores na equipe, profissionais que contribuem muito para o bom desenrolar das dinâmicas. E nunca sofreu preconceito por apresentar essa equipe “diferenciada”? Preconceito não, mas talvez por sermos espontâneos e estabelecermos de imediato uma ligação bem próxima com os clientes já houve quem confundisse as coisas. Uma vez um executivo responsável pela nossa contratação durante a dinâmica de treinamento pediu que eu o ajudasse a vencer o jogo. Eu, obviamente, disse que não faria aquilo porque comprometeria todo o objetivo do trabalho, além do que ele não era melhor do que ninguém. Enfurecido, ele me disse que se não o ajudasse não me contrataria mais. Eu respondi: tudo bem, sua pressão de nada vale porque vinte anos depois, o treinamento corporativo começa a ser visto de forma mais lúdica.Você sofreu muita resistência? Daniel Ramirez: No começo foi pior, porque, imagine, no passado você fazia um treinamento que consumia dois, três dias das pessoas, e nós chegamos com uma proposta de realizar treinamentos em quatro horas ou até em duas horas, então, era muito difícil a gente convencer as pessoas de que este treinamento funcionava. Para facilitar a explicação da nossa proposta eu fazia a seguinte analogia: quanto tempo uma criança demora para entender que o quente dói? É difícil explicar a uma criança isso, mas se ela por acaso encostar o dedo no forno vai vivenciar a dor e nunca mais vai se esquecer de que o quente machuca. No treinamento vale o mesmo, se o instrutor só fala, fala, fala, o conteúdo fica no campo racional e os ouvintes não absorvem o conceito, mas a partir do momento que o experimentam através de uma atividade percebem que os resultados que obtêm são consequência das escolhas que fizeram e daí entendem que ao querer um resultado melhor têm que mudar suas escolhas, suas estratégias. Então a gente simula situações, sempre inusitadas, - por exemplo, uma travessia pelo deserto, uma reunião na tavola redonda, rodar um filme em Hollywood, uma reunião na ONU – para que os treinandos exercitem suas habilidades, suas competências. E isso acontece sempre dentro de uma sala... Exatamente. É mais econômico também, suponho... Claro, se você considerar que as empresas quando fazem os cálculos de treinamento não contabilizam o custo das horas que os profissionais ficam fora da empresa – o chamado lucro cessante – além dos gastos com hospedagem, traslado etc, a possibilidade de treinar a equipe e fazer dois treinamentos em um único dia, um treinamento poderoso, cheio de vivências, acaba sendo vista pelos organizadores como muito mais interessante... Mas o que lhe faz acreditar, mesmo, que as pessoas saem diferentes dos seus treinamentos? Existem etapas na vida da gente em
  • 9. 10 eu sou o dono da empresa, não vou perder meu emprego. Realmente, depois daquele treinamento não fiz mais nada para aquela organização até que ele foi demitido, justamente por ser intratável. Infelizmente ainda tem gente arrogante no mundo corporativo, é uma minoria, mas ainda existe… Voltando aos jogos, outra coisa que observei no meio da dinâmica a que assisti foi a desinibição de algumas pessoas, até o início do jogo muito tímidas. O que leva o ser humano em determinada situação a se envolver tanto, a se liberar tanto a ponto de levantar-se da sua mesa e ir interferir na equipe alheia, de tentar convencer os outros? É a convicção que faz a pessoa sair do seu lugar e ir convencer a outra de que a escolha dela é a certa a seguir. É uma pena que, de maneira geral, as pessoas desistam muito rápido de tentar convencer as outras. É o pensamento de que “não vai adiantar nada eu me expor, no fim eles não vão mudar de ideia”. Ou, pior: dou a minha opinião e se ninguém concordar com ela, fico logo quieto, torcendo para o outro errar e daí provar que eu estava certo. É aquela coisa do “eu não disse?” Em geral as pessoas preferem perder juntas a tentar convencer a equipe de que o outro caminho era o certo. E isto por quê? É competição entre pessoas que estão na mesma equipe, no mesmo barco? A gente confunde competição com rivalidade. Competição te faz melhor, rivalidade não. Competição é a concorrência lançar um carro revolucionário e a Volks entender e aplaudir o fato de que aquele lançamento criou outro mercado e que permite agora a ela lançar outro melhor ainda. A competição cria mercado. A competição ajuda os fornecedores, porque eles passam a fazer melhor e quem ganha é o Qual é a sua recomendação aos empresários para que esse clima de rivalidade deixe de existir? Primeiro é preciso que o líder goste ou passe a gostar de gente, porque há muitos líderes que não gostam de gente, de lidar com pessoas, de falar com elas, de estimulá-las. É comum ouvirmos, “nossa meta é crescer 15%” E eu pergunto, por que não crescer mais, crescer 30% ou 40%? Por que não estimular as pessoas para que produzam mais e com isso ganhem mais? Gostar de gente significa promovê-las, estimulá-las através de prêmios, benefícios, aumentos reais de salário. E a crise? Desde sempre enfrentamos algum tipo de crise que impede aumentos reais de salário... Eu não acredito em crise; eu não olho pra isso e nem falo disso. Crise é uma desculpa que se dá para não sair da zona de conforto. É uma desculpa de quem não gosta de gente, de quem não quer investir no pessoal para o crescimento da sua própria empresa. É incrível como ainda há empresários que não entendem que eles dependem muito mais dos empregados do que os empregados dele. É esse tipo de empresário que pára de treinar o pessoal quando o mercado está fraco, daí, empregado despreparado é empregado à porta da demissão, então se estabelece um círculo muito ruim. Às vezes a empresa é muito autoritária... Outra coisa que é muito confundida: consumidor. Rivalidade é torcer para que a concorrência vá à falência, é torcer para que aquele piloto quebre antes da largada. Ao contrário, competição é ver quem ganha. No futebol tem muito isso.Vou torcer para o time do outro país, para não ver o adversário do meu time ganhar... Pois é, é uma infantilidade, imagine o que seria do Corinthians sem o São Paulo? Ninguém assistiria à televisão...É preciso mudar essa cultura, também impregnada nas empresas. Na minha empresa existe competição, mas não permito que exista rivalidade, porque nós, como empresa, temos uma meta e precisamos alcançar essa meta unindo a força de todos. Não se pode confundir: a competição me estimula a ganhar do colega, enquanto a rivalidade me faz desejar que ele fique doente para que não venha trabalhar... Essa mudança de cultura deve começar pelo líder, não? Sem dúvida. Conto o que aconteceu com a minha empresa em 2007. Embora o mercado estivesse super aquecido e o clima fosse de euforia, minha equipe vivia em guerra. Quando me conscientizei do fato, o que fiz? Demiti todos os diretores e gerentes e fiquei bem próximo à equipe. Passei a trabalhar diretamente com eles. Seis meses depois de ter tomado essa decisão crescemos 40%. Superada a crise fui readmitindo gerentes e diretores, mas todos com essa pegada, a pegada ética, de competir sem ser rival. Este ano, até junho, já faturamos o equivalente a todo o ano de 2007.
  • 10. 11 SHOWROOM Que erro as empresas cometem mais frequentemente ao montar suas equipes? É no momento da contratação? Eu penso assim: o ser humano é complexo. Assim como as empresas fazem promessas no ato da contratação, que às vezes depois não cumprem, os empregados também se mostram super dispostos na hora da entrevista e depois de contratados não entregam o que prometeram. Então eu acho que uma maneira boa de contratar – e eu já errei por não fazê-lo - é tentar entender o histórico do candidato pela versão dos antigos empregadores. É investigar junto aos ex patrões, ex chefes, como aquela pessoa se comporta no dia a dia. Hoje ainda vemos muita rotatividade de mão de obra, inclusive de executivos.Todo mundo está errando tanto assim? Sabe o que acontece? 67% dos funcionários saem das empresas por causa do chefe. De cada três demissões, duas se dão por incompatibilidade total com o chefe. Isso é estatística? E Gallup. 67% dos empregados no Brasil se demitem por causa do chefe. Enquanto o chefe deveria ser modelo de conduta, de conhecimento técnico, de liderança, de educação, a realidade é o oposto. Aliás, falta de educação está virando moda... Pois é, e a maior prova de falta de educação é o celular. Você identifica a importância que você tem para uma pessoa no momento em que o celular toca. Se a pessoa disser aquele clássico “só um minutinho”, você já sabe que importância você tem para ela. Nenhuma. Por que as pessoas estão tão afoitas com o celular, com a necessidade de informação? É medo de perder tempo, dinheiro? Eu concordo com o Içami Tiba (psiquiatra) que diz: o poder não corrompe as pessoas, o poder revela as pessoas. As pessoas são o que são. Dê poder e dinheiro às pessoas e elas se revelam. Se elas se mostram mal-educadas é porque são mal-educadas. Eu fui a uma empresa de origem japonesa onde um dos mandamentos que compõem a missão da organização está estampado em letras garrafais e diz: autoridade e poder. Poder remete a medo, autoridade a confiança, admiração. O líder que tem autoridade pode se ausentar da empresa porque a autoridade dele acontece mesmo quando ele não está. Tem líderes que reclamam porque não saem de férias, e dizem com orgulho ”se eu sair de férias a empresa não anda”, ora, eles deveriam ter vergonha de dizer isso, porque o verdadeiro líder é aquele que sai de férias tranquilo porque sabe que a empresa, mesmo sem ele, vai andar. Você acha que existe algum tipo de motivação maior do que um bom salário? Eu acho que é preciso oferecer várias coisas: bons salários são importantes, mas o que segura as pessoa em uma empresa é a soma de salário, bons propósitos e valores. É esse conjunto de coisas que diferencia um funcionário motivado de um funcionário engajado. O motivado olha mais para o próprio umbigo, pensa em como subir na empresa, no que a empresa lhe dá. O funcionário engajado é aquele que pensa no bem da empresa, que se orgulha de fazer parte dos seus quadros, aquele que deseja que a empresa cresça, que ganhe reconhecimento, que seja respeitada. E aqueles que ficam quietos na zona de conforto, sem dar bandeira para sequer serem notados? Esses são a minoria. Minoria? Eu acho, acho que é uma minoria a que não tem vontade de trabalhar, que se encosta nos outros. Eu prefiro pensar como o Diniz (Abílio Diniz, presidente do Grupo Pão de Açúcar) que diz assim: “se você não pode acompanhar você não pode cobrar.” E eu acompanho tudo. Se vejo um funcionário pouco engajado, faço de tudo para mudar sua postura. Mas se ele, mesmo assim, não se comprometer, eu o demito, porque ninguém deve ficar infeliz no trabalho. Isso é horrível. Agora, as pessoas também precisam entender que lamentar o ato de trabalhar é indecente, porque enquanto elas estão se queixando enquanto assistem ao Fantástico porque já é domingo, outros tantos estão sofrendo porque depois do Fantástico não precisarão dormir imediatamente já que não têm emprego que os faça acordar cedo na Segunda-feira. “respeito às pessoas” No entanto, quando o diretor entra no elevador todo mundo tem que sair, porque ele não quer contato nenhum com os funcionários. Então, veja o contrassenso, a empresa ostenta uma filosofia que o seu comandante não pratica. E sabe para onde vão os funcionários que saem mal da empresa? Para a concorrência... Exatamente. Vão para a concorrência, para se vingar, para mostrar que podem triunfar fora dali. Por outro lado, o que leva uma pessoa a permanecer anos a fio sendo maltratada em uma empresa? É a pressão psicológica, o assédio moral, coisas que se a pessoa não reagir ou buscar ajuda profissional, vão minando sua autoestima. Por que a pessoa se submete? Porque ela acha que saindo daquela empresa ruim, daquele ambiente nefasto, os outros lugares serão iguais, mas isso não é verdade. A maioria das empresas é séria e oferece bom clima para trabalhar. O tempo do “manda quem pode e obedece quem tem juízo” já passou. O Brasil vive outra fase, uma fase de progresso econômico e de progresso humano também.
  • 11. Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), palestrante, professor e mestre em Liderança. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: selfcursos@uol.com.br Por Armando Correa de Siqueira Neto 12 Parece que foi ontem Embora se possa alegar que 10 mil anos se situem longinquamente no calendário, e que são necessárias muitas gerações de pessoas para cumprir tal período, as maneiras de se viver primitiva e contemporânea demonstram relativizar o tempo a cada análise que se faz acerca de como vivemos em sociedade ontem e hoje. Ao comparar como os nossos antepassados neolíticos se estabeleceram nas primeiras cidades criadas no planeta com a nossa atual forma de nos relacionarmos socialmente, é possível encontrar lá atrás os vestígios das sementes que até hoje dão frutos com o mesmíssimo sabor, alguns adocicados, outros... A arqueologia revelou há certo tempo a cidade de Çatal Hüyük, situada ao sul da Turquia, na qual conviveram cerca de seis mil pessoas, em 8.000 a.C., em casas de formato retangular, feitas de tijolos crus, com acesso por um andar superior e através de escadas, pois não havia qualquer rua que as interligasse. Andava-se sobre elas para ir e vir. A sua distribuição interna, conforme as evidências apontam, indica lugar específico para o uso comum, qual uma lareira, e ornamentos de parede (chifre de touro) e estatuetas femininas que decoravam os 24 metros quadrados de construção existentes em média. Conseguiu-se, inclusive, recriar um mapa local com as muitas residências, a partir do desenho original encontrado cravado em pedra - é o primeiro mapa de que se tem conhecimento. Porém, chama a atenção outros tipos de evidências trazidas à luz no sitio arqueológico turco, tais como restos de cereais, pilões de pedra e cerâmica. A produção alimentícia, através do plantio, da colheita, do processamento e da estocagem ganhava vulto após ter-se deixado para trás o ancestral hábito da caça e da coleta. E, em meio a tais achados, constatou-se a presença de ossos de pés femininos bem desgastados nas juntas em razão da forçosa posição de moagem - fato este não evidenciado nos ossos dos pés masculinos, que, diferentemente, indicaram desgaste na região da rótula, levantando a suspeita de que os homens permaneciam sentados por longos períodos. Lembrou de algo semelhante? Então, consegue imaginar a vizinhança tão próxima se comunicando diariamente, contando sobre suas dores e amores, esperanças e frustrações, raiva e alegria, a respeito das amenidades relacionadas aos trabalhos típicos da lavoura e da lida com os animais, o relacionamento conjugal e a criação dos filhos, os quais deviam ser muito importantes haja vista emergir a necessidade de mão de obra com o crescimento da produção local? Percebe o provável disse-me-disse cotidiano ali presente com tanta gente convivendo em casas tão próximas umas das outras, com ocupações similares, além das ideias diferentes que cada um devia ter em relação aos seus próprios direitos e deveres? Parece que foi ontem. Nem parece que faz tanto tempo assim desde o surgimento deste primeiro modelo de convívio na primitiva cidade de Çatal Hüyük e a maneira de se relacionar dos tempos atuais.
  • 12. C 16 uma exigência e uma necessidade no transporte, Sustentabilidade Acessar o que desejamos com o menor custo possível, seja econômico ou socioambiental, tem nos levado a conceber inovadores modelos para transportar pessoas com maior eficiência energética. Um dos modelos mais eficazes que vem sendo gradativamente implantado nos grandes centros urbanos ao redor do mundo é conhecido por BRT - Bus Rapid Transit, em português, Ônibus de Trânsito Rápido.  Por Laércio Bruno Filho
  • 13. Laércio Bruno Filho é Professor Convidado do MBA PECEGE da ESALQ/USP para a disciplina Agronegócios/Sustentabilidade; Coordenador e Relator do Subgrupo que prepara a proposta de normalização de Projetos de Carbono em Florestas no âmbito do Mercado Voluntario pela FIESP/ ABNT, membro do Grupo de Estudos sobre Gestão da Sustentabilidade, entre outras instituições. 17 SHOWROOMSHOWROOM Criado em Curitiba sob a gestão de Jaime Lerner em 1974,o sistema veio se aprimorando e tem sido replicado como modelo de referência em transporte por diversas cidades do mundo,como Los Angeles, Nova Iorque,Cleveland,Bogotá,Quito,São Paulo e brevemente no Rio de Janeiro e Belo Horizonte. É reconhecido como o modelo de transporte coletivo mais eficaz para cidades com população a partir de 500 mil habitantes.  O sistema funciona em corredores segregados,com paradas predeterminadas ou até mesmo sem paradas intermediárias, operando como um ônibus expresso. Livre dos automóveis,permite velocidade média de 20 a 28 km/hora,o que torna mais eficaz para o usuário a experiência de deslocar-se de um ponto a outro. O sistema convencional oferece uma velocidade média entre 10 e 12 km/hora.  Além disso,o BRT apresenta elevada eficiência energética quando comparado ao transporte realizado por automóvel ou moto.Transporta mais passageiros utilizando menos combustível e emite menos poluentes na atmosfera. Uma motocicleta polui 32 vezes mais e consome cinco vezes mais energia por pessoa transportada do que os ônibus; automóveis poluem 17 vezes mais e consomem 13 vezes mais energia por pessoa transportada do que os ônibus.  Outra grande vantagem é que os ônibus mais modernos podem usar combustível renovável como etanol,energia elétrica (trólebus),biodiesel (B20 e B100 ainda em fase de testes) ou,de forma simultânea,conjugar eletricidade e etanol nos modelos híbridos. Por fim,em fase de testes,há o ônibus movido a hidrogênio.Todos com baixíssima emissão de gases efeito estufa e de poluentes.   Melhor e mais rápido Até mesmo quando comparados aos modais VLT – Veículo Leve sobre Trilho e Metrô,o BRT demonstra melhores resultados,seja quanto à resposta ao investimento realizado,quanto ao tempo de deslocamento para o usuário ou ainda à eficiência energética proporcionada.  O estudo preparado por Jaime Lerner Arquitetos Associados apontou o tempo necessário para se percorrer uma distância de 10 km,pelos diversos modais,considerando o tempo de deslocamento até o terminal,o acesso à plataforma e o acesso à rua. Assim o que se apurou foi:o passageiro de metrô levaria 28,6 minutos; de BRT,26 minutos; de VLT,34 minutos e pelo sistema de ônibus convencional,38,4 minutos.  Quando o assunto é implantação do sistema, também o BRT apresenta forte vantagem sobre os outros modais segundo o estudo. Os custos e prazos para implantação por quilômetro para 150 mil passageiros/dia do metrô é de R$ 2,1 bilhões; do VLT custa R$ 404 milhões; do BRT R$ 111 milhões e do ônibus convencional R$ 55 milhões,este último mais barato mas pouco eficiente.          Uma boa solução Tendo em vista os eventos Copa de 2014 e Olimpíada em 2016,abre-se uma oportunidade ímpar para que as cidades brasileiras viabilizem projetos de mobilidade urbana. O governo tem dedicado muita atenção a essa questão que é um dos grandes entraves dos municípios brasileiros e tem destinado através da Caixa Econômica Federal e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social recursos da ordem de R$ 6,5 bilhões – dinheiro com baixo custo para a construção de sistemas de mobilidade urbana nas principais capitais.Também o Banco Internacional do Desenvolvimento e o Banco Mundial oferecem linhas de crédito a custos muito baixos.  Algumas cidades-sede já estão se capacitando para acessar esses recursos. É o caso do Rio de Janeiro e Belo Horizonte,Manaus,Recife, Salvador,entre outras.  Projetos que contemplem o desenvolvimento sustentável nas áreas impactadas pelas implantações desses sistemas serão,sem dúvida alguma,uma das principais exigências nas licitações. Nesse cenário,considerando os estudos elaborados sobre os diversos modais, o BRT se apresenta como a solução ideal. Mais barato,mais eficiente,com infraestrutura menos complexa e de menor impacto ambiental,é a opção adequada a atender a todas as exigências constantes das licitações.  Entretanto,sem um amplo e bem-estruturado programa de gestão que dê forma às políticas de sustentabilidade exigidas nos editais, será inviável a captação desses recursos por parte das prefeituras,empresas ou consórcios interessados.
  • 14. 18 O termo “nova economia” foi cunhado nos anos 1990 e se referia a negócios baseados nas então novas plataformas de internet, nas tecnologias de informação e comunicação. O termo caiu em desuso e voltou com força com a web 2.0 para descrever uma economia baseada em colaboração e interatividade, empreendedorismo e a aceleração de projetos inovadores. Não é uma tendência ou mais uma moda, mas uma nova economia que está surgindo baseada na multidão. Multidão apaixonada e mobilizada Rosângela lotfi
  • 15. 19 SHOWROOMSHOWROOM Por ROSÂNGELA LOTFI C e como tal gera lucros que são devolvidos ao investidor na proporção do investimento, mas o que faz o crowdfunding funcionar, explica Zatti, é a multidão.“Você precisa ter uma multidão apaixonada e que acredita na sua ideia. Esse é o pensamento fundamental para que grandes multidões possam ser mobilizadas.” O financiamento colaborativo pela internet já é uma alternativa palpável aos fundos de capital e outros instrumentos de crédito para viabilizar investimentos. Só para dar uma noção dos valores movimentados nos Estados Unidos, um único site, o Kickstarter, já arrecadou US$ 35 milhões. No Brasil os sites atraíram R$ 600 mil em investimentos.“Estamos cerca de cinco anos atrasados. Fora do Brasil os dois conceitos são rotineiros. É um grande mercado, não só nos EUA, a Índia também é.” Paixão por ideias O apoio da multidão pede um vínculo pessoal com a ideia, seja para exigir democracia no Egito, manifestando-se na Praça Tahrir ou para financiar música, filmes, arte, caridade e, por que não, startups (empresas iniciantes). Levantamento feito pelo jornal O Globo mostra que no Brasil os principais sites de crowdfunding investem 67,77% do total arrecadado em projetos artísticos, como a produção de filmes e de livros. Os projetos de empreendedorismo, seja para criação de empresas ou de produtos inovadores, ficaram com fatia de 28,83%. Iniciativas de cunho social levaram 3,40% dos recursos.“A maioria das plataformas que surgiram por aqui se voltaram para a área cultural, então virou ‘destino’ - “crowdfunding é só para área cultural.” Uma das razões é que os projetos culturais são mais simples e fáceis de colaborar, são quase uma compra.Você entra em um site, conhece e rowd, multidão em inglês, é o prefixo de plataformas de geração de conteúdo colaborativo (crowdsourcing) e de financiamento coletivo (crowdfunding). Rafael Zatti, fundador da ideas.me e especialista em crowdsourcing, explica que os conceitos nasceram nos EUA e são bem parecidos:“O financiamento coletivo nasceu do crowdsourcing, ambos trabalham com colaboração, mas não necessariamente caminham juntos ou necessitam um do outro. O crowdsourcing é mais independente.” Em ambos, as redes sociais como Facebook, LinkedIn e outras onde é possível se conectar facilmente e mobilizar muitas pessoas desempenham um papel crucial. Nos EUA o crowdfunding ganhou força em 2008 quando o então candidato a presidência Barack Obama levantou US$ 137 milhões de dólares para a sua campanha eleitoral utilizando o conceito. No Brasil, onde as redes sociais crescem há muito tempo o boom dessa modalidade de financiamento só aconteceu este ano e, na última contagem, havia nada menos que 12 sites funcionando nesse modelo de arrecadação. É um investimento Sem legislação, as ideias não saem do papel
  • 16. 20 analisa os projetos e se vir algo que entusiasme, clica e gera boleto de pagamento ou colabora com cartão de crédito. As pessoas estão mais do que acostumadas com compras on-line.” Outra razão, explica Rafael Zatti, é que não há legislação específica para financiamento coletivo. O enquadramento jurídico coloca essas plataformas como meio de investimento financeiro, o que só pode ser feito por instituição financeira e a legislação de equity (participação em empresas que não abriram capital) cria um problema logístico, como a necessidade de contratos assinados por cada investidor. Assim, iniciativas como o site de crowdfunding para startups tecnológicas Love Money do Instituto Inovação não saem do papel. O site para micro empreendedor Kiva.org é outro exemplo, eles não conseguiram entrar no Brasil porque, pela lei, o capital doado não pode sair do País. O Kiva inspirou o impulso. org.br que transformou os empréstimos dos internautas em doações, para respeitar a lei. Apesar das restrições, já arrecadou quase R$ 3 mil para micro empreendedores. Imbróglio “São só dois exemplos, mas já temos problemas com financiamento de startups que atrapalham o desenvolvimento do crowdfunding na área de tecnologia no Brasil”, lamenta Zatti, que conta, sem citar nomes, que algumas plataformas de crowdfunding têm estratégias de defesa prontas caso tenham que responder a algum processo no BC (Banco Central) ou na Receita Federal. “Algumas conseguem driblar a legislação, mas sempre com medo de que, se chamarem muito a atenção, o governo vai querer a parte dele. Foi o que aconteceu com o Fairplace. O site, uma plataforma de micro crédito e empréstimos entre pessoas, viabilizou R$ 1,8 milhão em empréstimos, mas encerrou as atividades quando foi processado pelo BC e pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). “Tenho esperança que consigamos uma mudança de legislação em um futuro não muito distante. O governo vai ter que olhar para isso e rever sua posição. Essa modalidade é muito interessante para startups”, afirma Zatti, citando que em 2008, com a crise financeira nos EUA, quando muitos fundos de capital de risco quebraram, o crowdfunding capitalizou startups como o Profounders e o GrowVc e seus investidores ganham participação sobre os lucros das companhias. “Não que seja ruim começar com produtos culturais - foi o caminho do Kickstarter.com, que começou focado em projetos artísticos e tornou-se uma incubadora de empreendedorismo e inovação. A esperança de Zatti apóia-se não só no otimismo, mas no financiamento da plataforma de crowdfunding Incentivador (projetos de cultura) pela empresa pública FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos). “Do jeito que está hoje, estamos perdendo projetos de tecnologia e inovação. A modalidade é muito interessante para startups
  • 17. Conteúdo coletivo Crowdsourcing é mais antigo e, de certa forma, mais sedimentado. O open-source, código aberto de software como o Linux, ou conteúdo colaborativo como o Wikipedia, são dois exemplos conhecidíssimos. Segundo Rafael Zatti, o crowdsourcing anda mais devagar.“É mais fácil colaborar com o crowdfunding. O crowdsourcing exige dedicar um tempo para pensar criar uma solução, para sentar escrever um conteúdo. As pessoas estão mais interessadas em doar dinheiro do que tempo.” Crowdsourcing enfrenta outros imbróglios dos dois lados do balcão. De acordo com Zatti,“a inovação está no discurso de dez entre dez empresas, mas quando apresentamos algo realmente inovador como crowdsourcing elas se fecham. Temem que se colocarem um problema ou uma ideia na web, os concorrentes vão se aproveitar disso, sair na frente e dominar o mercado. Do lado dos colaboradores, eles acham que a ideia deles vale milhões e que o valor oferecido é muito baixo e que não vale a pena entregar isso para grandes empresas.” O empreendedor Zatti não vê problemas. Afirma que é o que acontece com conceitos novos no mercado: sempre haverá pessoas que desconfiam, outras que serão contra, outras ainda que encontrarão defeitos, mas também haverá entusiastas,“é uma mudança de cultura”. De qualquer maneira, há no Brasil iniciativas interessantes de crowdsourcing. O Fiat Mio, por exemplo, nasceu com a intenção de ser o maior laboratório de ideias na indústria automotiva. Foi Idealizado pela filial brasileira da Fiat e convidou internautas para darem sugestões e ideias para um novo carro da montadora. O mote era desenvolver o produto junto com os clientes, potenciais compradores.“Além de reduzir o tempo de desenvolvimento e os custos do projeto, ao chamar a multidão para criar o Mio, a Fiat recebeu tantas sugestões que somente a multidão, através da inovação aberta, poderia entregar”, conta Zatti. Mais de 10 mil sugestões depois, a Fiat chegou a um carro urbano, compacto, com convergência de mídias, fácil de estacionar e com emissão zero de poluentes, que já foi mostrado como protótipo em salões do automóvel. Inovação aberta não só propaganda A Tecnisa é outro bom exemplo, em agosto de 2010, lançou um portal de crowdsourcing e open innovation,Tecnisa Ideias, que em apenas dois meses recebeu mais de 400 ideias, algumas em estudo para implementação. Outras empresas rumam para a inovação aberta, para a criação de novos produtos com a colaboração dos consumidores, o que aproxima os clientes da marca, como por exemplo a Dell e Procter&Gamble. Outras têm boas ideias, mas implementação falha. Caso da LG que fez a campanha“Para a LG não existe mais distância entre criadores e consumidores”. O que era para ser uma campanha crowdsourced virou puro marketing. A empresa convidou 21 SHOWROOMSHOWROOM Participar não significa aumentar automaticamente as vendas participantes a enviar uma ideia que poderia virar produto, qualquer ideia. E recebeu várias, a maioria sem chance nenhuma de implementação.“Virou campanha de marketing, com sorteio de produtos da marca, só para gerar buchicho ( buzz) na web, no Facebook. As pessoas mandavam qualquer coisa. Isso desmerece o conceito, que ainda é novo”, lamenta Zatti. Para ele,“a tecnologia e, fundamentalmente, a internet, as redes, o digital, impulsionada pelo crowdsourcing e crowdfunding, são as maiores ferramentas de transformação social já criadas.“Uma revolução absoluta e irreversível”, diz, com a crença de que o pensamento está sempre se modificando. Gradualmente, não como um choque, mas aos poucos. Quando olhamos lá na frente, algo já mudou.Trata-se de acompanhar as mudanças ou ficar estagnado.
  • 18. C Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br) é jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É reproduzida em uma rede nacional de 65 publicações entre jornais, revistas e sites. É, ainda, correspondente para a América do Sul do site just-auto (Inglaterra). Por Fernando Calmon ertas simplificações de linguagem mal utilizadas no Brasil acabam confundindo conceitos técnicos importantes. Uma delas é o chamado“Piloto Automático” nos automóveis que, na verdade, não passa – ou passava – de um simples controle de velocidade de cruzeiro (Cruise Control, em inglês). No entanto, trata-se de um assunto muito sério e a Europa criou, em fevereiro de 2008, o programa HAVEit, acrônimo em inglês que significa Veículos Altamente Automatizados para Transporte Inteligente. No total são 17 parceiros entre fabricantes de automóveis, caminhões, componentes e institutos científicos da Alemanha, Suécia, França, Áustria, Suíça, Grécia e Hungria com apoio financeiro dos participantes e da União Europeia. As preocupações existem em função da crescente densidade de tráfego e do aumento da idade média da população que passa a guiar com reflexos menos imediatos, além da massa de informações atualmente disponível aos motoristas. Automação aliviará o estresse ao dirigir. A busca pelo tráfego eficiente persegue o objetivo de torná-lo mais amigável ao meio ambiente. Agora em junho, os parceiros se reuniram na cidade sueca de Boräs para demonstração de sete veículos, com diferentes graus de automação, apresentados pela Volkswagen,Volvo, Continental, Haldex e o Centro Aeroespacial Alemão. Hoje já é possível comprar automóveis com controle ativo de cruzeiro (freia e acelera conforme o programado), assistência para se manter dentro das faixas de rodagem e parada automática abaixo de 30 km/h a fim de evitar colisão ou atropelamento. 24 O passo adiante surgiu em um Passat equipado com TAP (Piloto Automático Temporário, na sigla inglesa). O sistema programado pelo motorista conserva distância segura do veículo à frente até 130 km/h, mantém o carro dentro das faixas delimitadas no solo e reduz a velocidade antes de uma curva, segundo seu raio, com ajuda do GPS. Também tem capacidade de ultrapassar observando regras (nunca pela direita) e limites de velocidade. Parada e arrancada nos congestionamentos são totalmente automáticas.Porém, o termo temporário é usado porque, mesmo sem precisar utilizar mãos e pés para guiar, o motorista deve ficar atento ao tráfego na estrada e intervir em caso de necessidade. Na realidade, ainda se considera esse um dispositivo semiautomático, baseado em uma combinação de recursos existentes agora agrupados experimentalmente. Uma câmera interna monitora o grau de atenção do motorista pela movimentação dos olhos e dispara avisos sonoros ou vibratórios. A Volvo desenvolveu um sistema semelhante para caminhões que funciona sob medida quando há filas de congestionamento nas estradas ou nas cidades. Alivia bastante o trabalho do motorista profissional por frear e arrancar de acordo com a movimentação dos outros veículos e evita acidentes, em geral catastróficos quando envolvem veículos de menor porte. HAVEit é um programa em constante evolução. Futuras demonstrações serão feitas até o amadurecimento completo das tecnologias, inclusive tornando-as as mais intuitivas possíveis. As ideias lançadas estão previstas para a produção seriada no intervalo de cinco a dez anos, quando o custo ficará mais acessível para modelos pequenos e médios. A busca pelo tráfego eficiente persegue o objetivo de torná-lo mais amigável ao meio ambiente. Mais segurança com automação ao dirigir
  • 19. 26 em sempre sou compreendido. Outro dia uma moça se assustou e mudou de calçada quando eu deferi um poderoso“Bom dia! Tudo bem com você?” O paulistano não está acostumado com essa interação. Aqui na Paulicéia a gente é muito individualista, egoísta, encerrado em si mesmo. Moro há dois anos no Brooklin e até agora não consegui contato com os vizinhos. Eles entram com o carro protegido pelo insufilme, o portão elétrico abre e fecha em segundos, pra proteger do ladrão. Junto com a proteção, vem o isolamento. Ficam N Joel Leite é jornalista, formado pela Fundação Cásper Líbero, com pós-graduação em Semiótica, ComunicaçãoVisual e Meio Ambiente. Diretor da Agência AutoInforme, assina colunas em jornais, revistas, rádio,TV e internet. Não tem nenhum livro editado e nunca ganhou nenhum prêmio de jornalismo. Nem se inscreveu. Eu mudo o jeito de abordar as pessoas sempre que passo alguns dias no Rio de Janeiro. Volto pra São Paulo cumprimentando todo mundo que não conheço: o segurança da loja, o gari que passa varrendo a rua, a menina que balança a seta de papelão na esquina indicando o lançamento do prédio. Cada qual no seu canto todos escondidos nos casarões cercados por muros altos ou nos condomínios residenciais, que proliferam para abrigar os novos ricos. É tudo doutor: médico, advogado, juiz. Não os conheço. Sei porque o Reinaldo, segurança da rua, me conta a história de cada um. O doutor Martins é médico, sofreu um acidente de carro, perdeu a mulher e a memória. O doutor Fernandes já foi ministro, é poderoso. Foi ele quem fez a CET fechar as saídas para a avenida, garantindo a tranquilidade do trânsito na rua. Dona Anne nasceu na Inglaterra. Está no Brasil há 30 anos, mas quando aborda uma pessoa pergunta se ela speak english. Seu Reinaldo conhece os donos das casas, os empregados, os prestadores de serviço, os assaltantes. Do lado de fora das fortalezas ficam os segregados, que moram bem longe dali e só aparecem para trabalhar, chegam de madrugada e vão embora no fim da tarde. Outro dia a polícia abordou o Zé Bob: mãos na parede, pernas abertas. Zé Bob é o jardineiro; como chega cedo e não quer acordar o patrão, fica circulando pela vizinhança esperando dar sete horas. Com aquele aspecto de“gente diferenciada” - pernambucano, preto, cara de prontuário policial – ele assusta as pessoas, que chamam a polícia. A população não ocupa o mesmo espaço territorial na cidade. Burrice. Os pobres são expulsos para a periferia e por isso perdem mais tempo no ir e vir e custam mais caro para o patrão. Esse apartheid é consequência da valorização imobiliária. Mas agora a elite do bairro de Higienópolis resolveu que não quer nem mesmo a presença provisória de“gente diferenciada”. Os moradores no bairro fizeram um movimento para impedir a instalação de uma estação de metrô na região, para evitar a circulação dessa“gente diferenciada” que anda de metrô. Um verdadeiro respeito aos antepassados, que já no início do século 20 quiseram se diferenciar“higienizando” o bairro até no nome. Semanas depois do episódio de Higienópolis, o prefeito paulistano Gilberto Kassab decidiu também que pobre não precisa de carro: proibiu a construção de garagens em casas populares construídas pela prefeitura. Por uma questão espacial, no Rio as classes sociais se misturam mais do que em São Paulo. Isso não resolve os problemas, evidentemente. As dificuldades e os problemas são os mesmos, mas pelo menos na aparência uma sociedade compartilhada é menos carrancuda, mais divertida. Por JOEL LEITE
  • 20. 28 Minimizar os riscos de investimento e falar direto ao cliente Marketing de relacionamento, one-to- one, comunicação dirigida, marketing com database: novas denominações para o bom, segmentado e sempre mensurável marketing direto. Com novas tecnologias e ferramentas, o setor de varejo é o que mais se dedica a essa atividade. Por Sophia Zahle Considerado um dos pais da disciplina, Lester Wunderman cunhou a expressão marketing direto em 1967, segundo contou em entrevista concedida em seu nonagésimo aniversário [2010] à Direct Marketing News:“Não queria excluir a expressão mala direta porque definia o que as empresas faziam, isto é, localizar usuários e oferecer diretamente do fabricante ou fornecedor produtos específicos.Todos os tipos de promoções podem ser usados como parte desta plataforma, faz os consumidores sentirem-se parte da empresa concedendo vantagens e deixando-os saber o que as empresas podem fazer por eles.” Durante muitos anos o marketing direto foi visto como primo pobre da publicidade, mas se o objetivo for realizar uma ação para gerar relacionamento, engajar a audiência e medir os resultados, essa estratégia é imbatível.“Quando pensam em marketing as empresas pensam em marca, outdoor, anúncios em jornais, comerciais em TV, tudo isso é muito caro e não é mensurável. Marketing multicanal mensurável, como gostamos de chamá-lo, minimiza os riscos dos investimentos, porque se baseia em pesquisas bem fundamentadas com os consumidores, além de mensurar resultados de todas as ações”, esclarece José César Martins, sócio da GoDigital, ao explicar por que grandes anunciantes brasileiros, especialmente varejistas, aderem ao marketing direto. “Quantas propagandas de cerveja existem para que você compre determinada marca em detrimento de outra, e você nem gosta de cerveja?”
  • 21. 30 O marketing de relacionamento, a versão mais moderna e atualizada, utiliza as mesmas ferramentas do marketing direto: mala direta, e-mail e telemarketing, mais recentemente móbile e, na área digital, database, CRM, internet e e-commerce. Como não podia deixar de ser, este último segmento é o que obteve maior participação nas receitas investidas em marketing direto, concentrando 24,9% dos investimentos. CRM estruturado Indicadores da Associação Brasileira de Marketing Direto 2010 (ABEMD) apontam que o setor de varejo é o que mais cresce no uso do marketing direto no Brasil. Do faturamento do setor em 2099 que foi de R$ 21,7 bilhões, 10% vieram das ações realizadas para o setor de varejo que ao lado dos setores financeiro e de telecomunicações figura entre os principais usuários do marketing com database. As razões são várias, diz Yumi Mori Tuleski, consultora associada do CEDET (Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico) para desenvolvimento e implementação de treinamentos nas áreas de vendas e de marketing. Uma das razões é que o potencial de retorno do marketing direto é fácil de ser percebido.“Quantas ações de marketing em massa as pessoas recebem diariamente sem participar do público- alvo a que elas se destinavam? Quantas propagandas de cerveja existem para que você compre determinada marca em detrimento de outra, e você nem gosta de cerveja? Este é um dos principais motivos pelo qual o marketing direto vem obtendo sucesso e crescimento no Brasil e no mundo. Ele identifica quem a empresa deve atingir e direciona sua estratégia de marketing até essas pessoas, seu target.” Outro desafio que o marketing direto atende com excelência, continua Yumi Tuleski, é ter sincronismo com o calendário promocional e ações de mídia de massa.“É preciso conhecer e estimular o comportamento de compra do cliente não só com base em suas características cadastrais e transacionais, mas também com base na sazonalidade proveniente de datas comemorativas e mesmo das ações realizadas pela concorrência.” Lealdade Ao utilizar as ferramentas de marketing direto ou de comunicação dirigida, outros objetivos perseguidos pelo varejo são a fidelização, retenção, vendas, apoio à construção de marca.“As mídias de massa são utilizadas para captação, mas é com o marketing direto que se desenvolve o relacionamento, pois tem a grande vantagem sobre os demais canais, o da segmentação”, explica Martins da GoDigital. Não à toa, em grandes varejistas como Grupo Pão de Açucar, Magazine Luiza, há equipes internas para cuidar apenas de CRM. No supermercado Pão de Açúcar, por exemplo, “As mídias de massa são utilizadas para captação, mas é com o marketing direto que se desenvolve o relacionamento.” são realizadas por mês 15 ações de marketing direto, que atingem cerca de 500 mil clientes, segmentadas de acordo com o perfil de compra. O investimento é centralizado nos clientes com maior probabilidade de retorno, evitando a dispersão – o que demonstra a importância de um CRM bem estruturado, alicerce que viabiliza ações de marketing de sucesso. Informações de baixa qualidade impedem que as ações atinjam seus objetivos, e, segundo os especialistas, há muita informação de má qualidade no mercado. Fieis gastam mais São muitas as opções para realizar ações de marketing de relacionamento para manter fieis os clientes.“A metas das lojas é fidelizar oito em cada dez pessoas”, afirma Marcelo Gonçalves, diretor executivo da Marka Fidelização e Relacionamento. Programas de fidelização são comuns nos setores de companhias aéreas, cartões de crédito e de varejo supermercadista. Setores que perceberam os benefícios de criar vínculo com os consumidores. De acordo com Gonçalves, para cada um real gasto em e-mail marketing, mala direta ou ligações telefônicas para recuperar um cliente há retorno de entre 10 e 20 reais. De novo, o case de maior sucesso é o grupo Pão de Açúcar: 50% do faturamento vem das compras dos Clientes Mais (o programa de fidelização deles), que gastam, em média, o dobro dos outros consumidores. O primeiro passo é saber o que, quanto, quando e como os consumidores compram, considerando os produtos que adquirem, quanto gastam e a frequência das compras. A partir daí, podem ofertar produtos sob medida para esses consumidores.“O desafio não é apenas conseguir quantidade, mas qualificar essas relações para chegar à gestão dos consumidores. Os varejistas estão mais habituados a gerenciar produtos, o relacionamento com o cliente é uma tarefa nova, mas vale à pena: programas bem estruturados garantem a frequência até 40% maior dos clientes fidelizados, que gastam, em média, 20% a mais em cada compra”, finaliza Gonçalves.
  • 22. 32 Por Carolina Gonçalves MontenegrA joia da coroa Montenegro está entre os cinco lugares que você tem que visitar. É impressionante como um país tão pequeno pode ser tão interessante. Costa fantástica, montanhas exuberantes, cidades antigas e fervilhantes. Ao norte da costa, as Bocas de Cátaro, Kotor e a história preservada em Budva encantam turistas do mundo inteiro. Na costa sul, a pequena Ulcinj, a magnífica Bar e o Lago Skadar conquistam os visitantes. No centro, o Monastério Ostrog, a histórica Cetinje e o monte Lovcen. Ao norte, o parque nacional de Durmitor e a floresta Biogradska Gora. São muitas coisas para serem vistas em apenas 14 mil km2
  • 23. 33 SHOWROOM ro Ao sul do mar Adriático, a pérola do Mediterrâneo concentra em seu território praias tranquilas, lagos cristalinos, rios e lindas montanhas.Tudo cercado de muita beleza natural. O seu dia pode ser bem emocionante, com as mais diferentes atividades e paisagens. Incrustrado nos Balcãs, Montenegro destaca-se por sua história, cultura e tradição, que sobreviveram por séculos. O país é um modelo de luta pela liberdade e pela própria existência.Várias civilizações como a cristã, muçulmana, ilíria, bizantina, turca e eslava encontraram seu espaço em Montenegro. O clima ameno, somado a um povo bonito – são pouco mais de 670 mil Montenegrinos - garantem uma estadia inesquecível. De frente para a Itália, combina duas características: país europeu e mediterrâneo, na Península Balcânica. Uma das menores capitais da Europa Você vai chegar na capital Podgorica, centro comercial e cultural. Parcialmente destruída na Segunda Guerra, Podgorica ressurgiu com prédios novos, espaços verdes e parques. São muitos teatros, monumentos culturais e históricos. Uma das menores capitais da Europa, com menos de 150 mil habitantes, abriga o maior shopping do país – Delta City – com as principais marcas do mundo, restaurantes, cinemas e entretenimento. Há apenas 10 km, fica Medun, uma das mais antigas povoações da região, onde se vê belezas naturais e tradição preservada. Medun sobreviveu a várias civilizações e regimes e seu museu reflete essa história. Já Duklja foi uma importante cidade romana na região. Visitá-la é como viajar no tempo, 20 séculos atrás. Ruínas de termas, templos, necrópoles e fóruns tornam o local muito interessante, principalmente quando se sabe que a própria Podgorica teve ali sua origem. Outro ponto interessante é o Mosteiro Dajbase, situado na base do Monte de mesmo nome, fundado em 1897. Construído numa caverna em forma de cruz, é um dos muitos edifícios sagrados do país. A cidade de Nemanja, onde nasceu o fundador da dinastia servia Nemanjic, é um passeio impressionante pela beleza do edifício de pedra e pela atmosfera romântica. Vale visitar ainda Vranjina, uma vila pesqueira que é uma pequena Veneza, no Lago Skadar. O lugar hoje é muito animado e pitoresco, com uma antiga escola e uma vista grandiosa de toda a região. Cátaro, uma das baias mais bonitas do mundo Indo em direção da costa, visite a antiga capital real Cetinje, no meio do caminho. É um tesouro cultural e histórico, situado na base da montanha Lovcen. Durante o período do rei Nilkola, a cidade ganhou prédios para abrigar embaixadas que hoje pontuam toda a cidade. Há também mosteiros como Cetinje e Biljarda. O primeiro, construído em 1701, foi destruído várias vezes, mas a população sempre o reconstruiu. Ali estão relíquias de São Petar de Cetinje, um dos patronos mais ilustres da história de Montenegro. Este mosteiro é a sede espiritual
  • 24. 34 e política do povo do país. Já o mosteiro de Biljarda foi construído por Njegos, um poeta, filósofo e estadista. A cidade, que tem inúmeros museus e parques, abriga também a Academia de Arte. A região da Montanha Lovcen é um parque nacional, que se eleva acima da costa.Tem um profundo significado para o povo montenegrino: ali repousam, num mausoléu, os restos mortais de Petar II Petrovic Njegos, um dos maiores poetas, filósofos e estadistas do país. Outro valiosos monumento é a aldeia de Njegusi, o berço de Njegos, na estrada que liga Cetinje a Kotor. Siga por ela e você vai chegar em Kotor, ou Cátaro – seu nome italiano, uma das baías mais bonitas do mundo, formada por quatro estreitos conectados. Altas falésias refletem-se em suas águas azuis e profundas do Mar Adriático. A baía tem sete pequenas ilhas. Às suas margens está a vila de mesmo nome. Pouco mais de 5 mil habitantes, em sua maioria pescadores. A Cidade Velha é típica de Idade Média, muito bem preservada, construída no século XII e listada entre como patrimônio histórico e natural pela UNESCO. Caminhando em suas ruas pode-se chegar à catedral conhecida como Sveti Tripun, um monumento da cultura romana e um dos símbolos mais conhecidos da cidade. As igrejas multiplicam-se: Santa Ana, do século XII, São Lucas e Santa Maria, do século XIII e a Igreja de Cura da Mãe de Deus – Gospe od Zdravlja, do século 15.Tem ainda o Palácio do Duque, do século XVII e o Teatro de Napoleão, do século XIX. A cidade é muito charmosa e tem várias festas ao longo do ano, tornando-se um destino imperdível numa viagem a Montenegro. Mansões, mimosas e a prisão que virou teatro São várias cidades ao redor da Baía de Kotor, como Perast, Risan e Herceg Novi. Perast viveu um período de grandes construções entre os séculos XVII e XVIII. Na cidade, voltada para o comércio marítimo, os capitães do mar construíram grandes mansões que até hoje impressionam pela beleza. A cidade é tranquila e tem muitos monumentos sagrados, como Igreja de São Nicolas, do século XV. Duas ilhas em frente à cidade têm igrejas famosas, como a de São Jorge, do século XII e a de Nossa Senhora das rochas, igreja barroca de 1630. Risan é a cidade mais antiga da área da Baía de Kotor, construída por artesãos e marinheiros, no século III a.C. para ser o centro comercial do estado Ilírico. Os romanos vieram e trouxeram palácios de mármore grego, esculturas e mosaicos, tudo preservado até hoje. Em Risan veja um mosaico curioso: a única representação do Deus Hypnos, o deus do sonho, que existe no mundo está lá. Conhecida como a cidade das mimosas, Herceg Novi é a cidade do Sol, pelo grande número de dias ensolarados por ano. A cidade velha, com estruturas construídas ao longo de diferentes épocas da história, permite uma viagem no tempo. A torre do relógio data de 1667. As fortalezas Forte Mare e Spanjola são construções impressionantes. Mas o imbatível é o Kanli-Kula, construído pelo turcos, para ser uma prisão. O nome origina; era Torre Sangrenta. Mas em 1966 tornou-se uma maravilhoso teatro de verão, que oferece mais de mil lugares. Nas paredes sul da fortaleza, está a Porta Donkey, construída por austríacos. A cidade em inúmeras espécies de flores tropicais. Em janeiro, acontece o Festival de Mimosas. Praias Seguindo viagem, vá para Tivat, na parte central da Baía de Kotor. A cidade, a mais jovem ao redor da baía, tem um marina natural, Kaliman. É também a única a contar com aeroporto, na costa. No centro da cidade, está o Renaissance Summer House Buca, residência de verão medieval das famílias Buca e
  • 25. 35 SHOWROOM Lukovic, com um centro cultural que atrai toda a atenção. Ainda tem a Ilha das flores, com monumentos sagrados e Gornja Lastva, uma antiga comunidade a 300m de altitude. Mas as grandes atrações são a praia Plavi Horizonti e a Ilha de São Nicola. Seguindo para o Sul, chegamos a Budva. Os montenegrinos consideram a cidade a metrópole do turismo, por ter 17 praias lindas. Ninguém fica indiferente. A cidade velha fica em uma península e é um tesouro. Ruas e praças abrigam as Igrejas da Santa Trindade, de São Ivan, de Nossa Senhora e de Santa Sava e o túmulo do escritor Stjepan Mitrov Ljubisa. Durante o verão, Budva se transforma na cidade do teatro, onde acontecem peças locais e estrangeiras. Na cidade velha - Stari Grad você encontra butiques, cafés, restaurantes e galerias. Outra grande atração são os mosteiros de Stanjevici, Podostrog, Rezevici Gradiste. A vida noturna é muito agitada. A cidade não para de crescer Próximas paradas, Sveti Stefan e Milocer Este é o trecho mais interessante, frequentado pelos turistas mais exigentes. Sveti Stefan fica numa ilha ligada ao continente por um banco de areia. Foi construída por pescadores e comerciantes no século XV. Desde 1960 é um resort, cidade-hotel. Desde então, abrigou a elite europeia, recebendo artistas e nobres. Milocer, bem perto, era o retiro de verão da família real Karadjordjevic. Hotéis com excelente serviço, praia linda e plantas raras fazem de Milocer um destino de primeira linha. Dirigir até lá já é de tirar o fôlego. A vista é deslumbrante. Parece um conto de fadas. A pequena Petrovac tem as praias mais bonitas da chamada Riviera Budva: Perazica Do, Lucice, Sveta Nedjelja e Buljarice. Os nomes são difíceis, mas passar horas ao sol por lá não oferece nenhuma dificuldade. Andando pela cidade, pode-se ver mosaicos do século III e a Fortaleza Castello, construída por venezianos no século XVI. Quem gosta de ir para o mar, pode ir até as pequena ilhas de Katic e Nedjelja. Cidade portuária em desenvolvimento constante, Bar surpreende pelas bem cuidadas áreas verde. Ao seu redor, atrações como a cidade velha, a fortaleza de Haj Nehaj, do século XV e o castelo do rei Nicola. Em Bar você pode ver uma oliveira com mais de 2 mil anos, onde acontece um evento chamado de Encontro Sob a Velha Oliveira. São vários eventos interessante, entre eles, o Festival Internacional de TV. As praias Canj e Vode Dobre atraem muitos turistas. O maior lago da península balcânica Bar está ao lado do lago Skadar. A superfície tranquila, cercada de penhascos e colinas, com ilhas e enseadas chamam a atenção. A história de sua formação como a vemos hoje é interessante. Em 1858, uma forte tempestade encheu o Rio Drin de tal maneira, que ele arrastou partes das montanhas da Albânia, empilhando-as no estuário do rio Bojana, mudando seu curso. O lago cresceu e tornou-se o maior da península balcânica. Esta mudança mexeu até com o clima, que tornou-se mais ameno.Tudo isso aconteceu a seis metros acima do nível do mar. Hoje, dois terços do lago pertencem a Montenegro e o restante pertence à Albânia. É um importante habitat de aves aquáticas. O lago fica dentro de um Parque Nacional, cuja marca é o raro pelicano crespo. O lago tem em média 6 metros de profundidade, mas existem partes que estão abaixo do nível do mar, chegando a 60m. Estes lugares são chamados“oka”. Durante o inverno, aves de diferentes partes do mundo migram para o lago. São muitos tipos diferentes de patos, gansos, biguás, garças, águias, grifos e gaivotas. A diversidade do lago faz dele um dos maiores habitats de aves na Europa, cercado de rica vegetação. São mais de 900 tipos de algas e 48 espécies de peixes. A Convenção Ramasar de 1996 listou o Lago Skadar como um pântano de importância internacional. A maior praia de areia Seguindo para o extremo sul, está Ulcinj, cidade que tem a maior praia de areia no Adriático: Velika Plaza tem 13 km de comprimento.Tem Valdanos, uma baía com o litoral coberto de oliveiras. A parte antiga, reconstruída, tem restaurantes, cafés, galerias, tudo muito agitado. Próximo está Ada Bojana, uma ilha artificial criada no rio Bojana. No Século XIX haviam duas ilhas menores. Um navio naufragou entre elas. Com o passar dos anos, os restos do navio e as duas ilhas uniram-se com os sedimentos do rio formando a nova ilha, um triângulo banhado pelo Adriático de um lado e pelo rio dos outros. A praia de frente para o mar é de areia, com 3 km, sendo um paraíso para velejadores. Nas margens voltadas para o rio tem restaurantes especializados em servir peixes à moda antiga. As montanhas Depois de presentear os sentidos com a magnífica costa
  • 26. 36 montenegrina, é hora de rumar para as montanhas, entrando pelo País, em direção do Parque Nacional Durmitor, assim denominado em 1952, dada sua beleza incrível e sua natureza intocada. O parque se estende da montanha que lhe dá o nome, entre cânions dos rios Tara, Sisica e Draga, até o vale do cânion do Rio Komarnica. O gigante Durmitor tem montanhas, lagos glaciares e florestas. Corredeiras, fauna e flora abundantes atraem muitos amantes da natureza para este Patrimônio da Natureza Mundial. O cânion do rio Tara é o segundo maior do mundo. São desfiladeiros de tirar o fôlego, forjados através de séculos. Cachoeiras e partes mais calmas fazem um cenário onírico. Os bancos têm vegetação e florestas de pinho preto que tem mais de 400 anos. O rio inquieto, de águas claras, é um convite para os amantes do rafting. A cidade mais alta dos Balcãs é Zabjljak, a 1.456m, bem no centro da montanha Durmitor. É um excelente destino no inverno. Rodeada de lagos e cumes, a pequena cidade atrai cada vez mais turistas. A montanha, coberta por mais de 1500 espécies de plantas é por si só um grande atrativo. Mas ainda tem mosteiros e igrejas nos arredores da cidade que valem a pena ser vistos. Depois de explorar Durmitor, vá para o outro parque nacional, Biogradska Gora, entre os rios Tara e Lim, no meio da montanha Bjelasica. Pequenas corredeiras cortam a paisagem, formada de pastos verdes e lagos cristalinos que refletem florestas centenárias. A floresta virgem é única. Em seu interior, está o Lago Biogradsko, um grande lago glaciar. O parque guarda um grande patrimônio cultural e histórico, com monumentos secretos, sítios arqueológicos e edifícios. Rodeando a floresta virgem da montanha, pastagens de verão e aldeias, com construções tradicionais completam a paisagem. Perto do Parque, você visita Kolasin, estabelecida pelos turcos no século XVII. Cercada pelas
  • 27. 37 SHOWROOM 37 SHOWROOM montanhas Sinjajevina, Bjelasica, Kljuc e Vucje, a cidade parece protegida por todos os lados. A uma altitude de 954m, é um grande point de inverno, mas também recebe bem os turistas no verão. A altitude e o clima fazem dela um spa. Peregrinação Voltando para Podgorica, visite o Mosteiro Ostrog, da Igreja Ortodoxa. O mosteiro foi fundado por Vasilije, Bispo Metropolitano de Herzegovina, no século XVII. Ele morreu ali em 1671 e foi glorificado alguns anos mais tarde. Seu corpo está consagrado num relicário mantido na caverna-igreja dedicada à Apresentação da Mãe de Deus para o Templo. Ele não parece criado pelo homem. Foi esculpido em pedra, numa parede quase vertical. Muitas vezes, está encoberto pela neblina. Localizado acima do vale Bjelopavlic, bem no centro do país, é um dos mais populares lugares de peregrinação em Montenegro. O mosteiro fica em torno de duas cavernas- igrejas. A mais baixa e mais antiga foi construída em 1655. A que fica mais ao alto foi dedicada à Santa Cruz, no século XVIII. Os afrescos da igreja da Apresentação foram pintados no final do século XVII. Já os da Santa Cruz foram pintados pelo mestre Radul, que os pintou sobre a rocha. As duas cavernas-igrejas são as principais áreas de visitação. Entre os seus tesouros, a igreja tem um livro de orações de 1732 e castiçais decorados de 1779.Visitado por fieis do mundo inteiro, Ostrog é ponto de encontro de ortodoxos e católicos, que buscam milagres curativos. Hospedar-se em Montenegro é uma experiência e tanto. Os hotéis são maravilhosos. A cozinha é fantástica, tirando o melhor do Mediterrâneo,mas com a personalidade montenegrina. Brasileiros não precisam de visto para permanência de até 90 dias.
  • 28. se eu não tivesse tido estes pensamentos tão profundos aos sete anos? Será que eu seria quem eu sou hoje? Definitivamente não! As férias de julho foram definitivas para eu ser quem eu sou. E as de verão também, lógico. Mas as de verão pareciam mais naturais. Você parava para esperar o Natal e ver o ano novo chegar. Depois tinha que esperar o Carnaval… Já as férias de julho são realmente férias: sua atenção é toda pra elas. Na infância, praia! Um universo de descobertas em praias quase desertas. Alguém acredita que eu vi Peruíbe praticamente intocada? Eram verdadeiras aulas de natureza. Ainda que eu não morresse de amores por bichinhos úmidos, gelados e saltitantes... Eu tenho uma memória – que nem sei se é real – de que a areia da Praia do Canto acordava com pegadas de onça... Aquilo sim era uma boa história pra contar na escola em agosto! E puxar picaré? Quem já fez isso na vida? Eu fiz! E 38 Maria Regina Cyrino Correa Jornalista, publicitária, sempre acha que aproveitou tudo o que pode da vida até hoje... mas aproveitaria mais um pouquinho das férias de julho... regina.cyrino@uol.com.br http://felllikeaqueen.blogspot.com/ www.2showcomunicacao.com.br Por Maria Regina Cyrino Corrêa Julho é o mês de férias! Era, pelo menos, enquanto eu estava na escola. E eu tinha a sorte de ter uma mãe professora, então ficávamos as duas de férias. Naquele tempo ir para a praia era um acontecimento. E a gente ia. Santos! Eu adorava a sensação de chegar pela Avenida Ana Costa e ver que à minha frente não havia prédios. Só dos lados, mas nada à frente… só o horizonte. Só o profundo mar azul! catar marisco na areia à noite? Eram tempos em que não era perigoso ir à praia deserta à noite. A propósito, puxar picaré era uma pesca com rede, bem bacana. Na adolescência, o programa mudou. Fomos de armas e bagagens pras montanhas. Poços de Caldas. Que época! Primeiro beijo com sabor de chicle de tutti-frutti! Andar a cavalo, dançar nos bailinhos, jogar baralho, piscina sulfurosa... Poços era tudo de bom. Um dia, fomos a uma fábrica de cristais. Meu cérebro pode envelhecer comigo, mas vou sempre me lembrar com olhos de menina do encantamento de ver o homem soprar o vidro incandescente e depois moldar um cavalinho... Uau! E se a minha adolescência não tivesse sido pontilhada por histórias fantásticas contadas aos sussurros pelos corredores do velho e elegante hotel? Eu prestava atenção em tudo. Bebia as informações. As férias me abriam um leque tão amplo de opções... E se eu não tivesse ido lá tantas vezes até decorar cada corredor, cada escada, cada sala? Na faculdade, despedindo-me da delícia de ter tantas férias, voltei pra praia. Ah! Recém saída do colégio de meninas, descobri um universo misto em todos os sentidos... Meninos e meninas, direita e esquerda, proibido e permitido, medo e coragem, desafio e recuo... Na praia, desta vez, conheci amigos que carreguei comigo vida afora. E se eu não os conhecesse? Definitivamente, minha vida seria mais chata. As férias de julho ficaram pra trás quando acabei a faculdade, aos 21 anos. Mas até hoje acho o máximo! Imaginem só! E se o governo decretasse uma lei obrigando as empresas a liberarem as pessoas pelo menos uma semana para férias? Com direito a abono e tudo o mais! Quem mora em São Paulo, iria pra Campos do Jordão, se acabar de ouvir música e comer chocolate. Quem mora no centro oeste, poderia pescar e contar histórias ao pé do fogo. Quem está no nordeste, voaria pra Fernando de Noronha, ou Marajó... Férias numa ilha! Os do sul iriam pra Gramado, lógico! E se a gente pudesse ir pra um tipo de acampamento de férias para adultos estressados? Andar a cavalo, tomar banho na cachoeira, contar causos e passar a noite com lanterna acesa embaixo do cobertor... Sonhar – ainda! – não paga imposto! E As férias de julho
  • 29. 40 Grandes pequenos da LG Já saíram os novos modelos de notebooks da série P da LG. São os LG P420 e LG P210. A empresa caprichou no design fininho, com suas bordas superfinas que fazem com que a tela pareça mais ampla, sem o aumento das dimensões do produto. O acabamento minimalista é fosco, com touch pad invisível e teclado estilo“Peeble” – teclas mais espaçadas, que proporcionam maior conforto à digitação. O modelo LG P420 está disponível nas cores branca ou preta, com tela LED LCD widescreen (16:9) de alta definição de 14 polegadas, mas com as dimensões de um aparelho de 13 polegadas. Possui a segunda geração de processadores da família Core™, da Intel, memória de 4GB, saída HDMI e, para algumas versões, placa de vídeo dedicada, que proporciona melhor desempenho gráfico. Já o notebook LG P210, disponível na cor branca, tem tela LED LCD widescreen (16:9) de alta definição de 12,5 polegadas, com as medidas de um notebook de 11,6 polegadas, processadores Intel Core i3 ou i5, memória de 4GB, bateria de longa duração (até 5 horas) e saída micro HDMI. Preço sugerido a partir de R$ 2.199,00. Um All in One VAIO Há cerca de dois meses, a Sony lançou seu primeiro notebook VAIO 3D no Brasil. Agora apresenta o L225FB, um desktop, ou melhor, um All in One 3D. É um equipamento que permite o consumidor interagir e se conectar com outros produtos da marca de forma fácil e intuitiva, como com o Playstation 3 para jogar games em três dimensões. Neste modelo top de linha da categoria a tela é de 24 polegadas, de alta definição com touchscreen e moldura interativa. Reproduz imagens 3D e mídias HD, e o máximo desempenho multitarefas está garantido com a segunda geração de processadores Intel Core i7.Tem ainda placa de vídeo NVIDIA com 1GB de memória dedicada, HD de 1TB, Bluetooth 3.0 e USB 3.0, entrada e saída HDMI, garantindo conexões. Possui também webcam de 1.3MP com tecnologia Exmor, para melhorar a captura de imagens mesmo em ambientes com pouca luz, além de gravador e leitor de Blu-Ray. Acompanha óculos recarregável via USB. Preço: não divulgado. Onde encontrar: 4003-7669 para capitais e regiões metropolitanas e 0800- 8807669 para as demais localidades. Sony HT- SS380 A Sony anda investindo forte na tecnologia 3D, além de notebook e desktop, lançou seu home theater compatível com 3D e com outros equipamentos da marca como Blu-ray Players 3D e Playstation 3. O HT-SS380 tem design moderno e sofisticado que embeleza qualquer ambiente e tecnologia 3D Pass Thru, que recebe e envia sinais de vídeo e áudio em 3D. A usabilidade amigável permite a conexão com aparelhos Blu-ray 2D, DVDs convencionais e com a tecnologia BRAVIA Sync, que permite a operação integrada do Home Theater com a TV Bravia ou handycam, via conexão HDMI, para reproduzir, ligar e desligar o sistema com um simples toque de botão. O HT-SS380 oferece 3 entradas HDMI, 2 Óptica Digital, 1 Digital áudio Coaxial, 1 Áudio Analógica e 1 Microfone para Autocalibração, que ajusta o sistema 5.1 para garantir a perfeita distribuição do som no ambiente, com potência de áudio total de 720 RMS. Suporta diversos formatos de som e possui amplificador digital S-Master, que garante total fidelidade de áudio com menor consumo de energia e sem distorções, mesmo com volume elevado. Preço sugerido: R$ 1.299. Onde encontrar: nas lojas Fast Shop e nas SonyStyle Store do Shopping Cidade Jardim e Bourbon Shopping Pompéia (São Paulo), Park Shopping (Brasília), Barra Shopping (Rio de Janeiro), Salvador Shopping (Salvador) e Barra Shopping Sul (Porto Alegre), ou nos respectivos sites: www.fastshop.com.br, www.sonystyle.com.br
  • 30. Dificuldade em expressar os sentimentos “Extremamente alto & incrivelmente perto”,do aclamado escritor norte-americano Jonathan Safran Foer versa sobre dois acontecimentos históricos:o bombardeio aliado sobre Dresden, que arrasou a cidade e sua população civil na II Grande Guerra Mundial e o ataque às torres do World Trade Center sob o olhar de Oskar Schell, um menino de nove anos que tem que lidar com a perda trágica do pai,morto no atentado de 11 de setembro. Oskar tem uma imaginação fértil,e sofrendo cria histórias,algumas até absurdas. Após encontrar uma chave nos guardados de seu pai,ficção e realidade se encontram na história de sua família,narrada por seus avós, sobreviventes de Dresden. A narrativa mistura essas duas tragédias,usa grafismos,cores,fotos, códigos numéricos e textos sobrescritos,além das palavras,frases e parágrafos, tentando expressar a dificuldade de estabelecer comunicação,de expressar o amor em momentos cotidianos,que pode anteceder acontecimentos como estes,que tornam as pessoas próximas irremediavelmente distantes. O mote de Oskar é similar ao de muitas personagens de Foer,pessoas que amam profundamente,mas que têm extrema dificuldade em dizê-lo. Talvez por ser uma dificuldade comum a muitas pessoas ou por abordar um tema sensível aos norte-americanos,o livro chamou a atenção de Hollywood e está sendo adaptado para o cinema. Os protagonistas serão os queridinhos da América - Tom Hanks e Sandra Bullock. A estreia do filme está prevista para 2012 nos Estados Unidos. “Extremamente alto e incrivelmente perto”,de Jonathan Safran Foer com tradução de Daniel Galera,(Editora Rocco,2011,392 páginas) Preço sugerido:R$ 47,00 41 SHOWROOM Um genial Woody Allen Já está em cartaz,mas é uma recomendação necessária:“Midnight in Paris”com certeza entrará na lista dos melhores filmes do ano,e também de um dos mais brilhantes deWoody Allen. O cineasta continua sua temporada europeia,que já rendeu aos cinéfilos obras-primas como“Vicky,Cristina,Barcelona”e“Match Point”(Ponto final).Escrito e dirigido porWoody Allen,“Meia noite em Paris”(título em português) é uma comédia romântica ao estilo dele: cínica.OwenWilson é Gil,o protagonista e alter-ego de Allen,um roteirista de Hollywood muito bem remunerado,mas insatisfeito.Ele sonhava em trilhar o caminho dos grandes novelistas norte-americanos,de Hemingway e Fitzgerald,que viveram na Paris dos anos 1920.O próprio Gil já morou na Cidade Luz e sonha em voltar.Na história ele está de férias com a noiva Inez (Rachel McAdams) e os pais dela John (Kurt Fuller),um conservador homem de negócios,e Helen (Mimi Kennedy).A família da noiva é desinteressante.Talvez a imagem que Allen tenha atualmente dos seus compatriotas:republicanos fúteis,que só pensam em comprar,pedantes que merecem a descrição que Gil faz na frase: “Do lugar de onde eu venho às pessoas são medidas pela quantidade de cocaína em suas colheres.” É a história de Gil,que tem nostalgia do que não viveu,da efervescência cultural da Paris do início do século XX,da crença ilusória de que as pessoas têm que uma vida diferente da dele são sempre muito mais felizes e interessantes.É uma fantasia ao estilo de “De volta para o futuro”,só que neste caso,ao passado para onde Gil embarca em um Peugeot 191,ele têm a chance de conviver com Hemingway,Picasso,os Scott Fitzgerald,Buñuel,Dalí,Gertrud Stein e outros notáveis.Ele vai emergir no presente,vivendo seus sonhos na cidade que é mais do que uma metáfora para a magia,é um sinônimo. Assim como“Barcelona”foi personagem na história deVicky e Cristina,Paris também é com seu patrimônio cultural,com a beleza das ruas,avenidas, jardins e museus. “Meia noite em Paris”é uma homenagem deWoody Allen à cidade. O filme que abriu o Festival de Cannes 2011,estreou em 17de junho com 97 cópias em todo o Brasil,um recorde para um filme do cineasta.De lá para cá vêm batendo recordes de bilheteria.São 94 minutos de puro encantamento,que funcionam como um poderoso
  • 31. 42 O projeto nasceu de uma idéia do sommelier, ou melhor, escanção,português, José Carlos Santanita, premiado profissional que durante muitos anos trabalhou no famoso restaurante Galleria,da Herdade do Esporão,no Alentejo. Partindo para a ação,Santanita entrou em contato com um dos mais prestigiados enólogos de Portugal,Antonio Saramago,cujo trabalho ao longo de mais de 40 anos à frente de vinícolas como José Maria da Fonseca e posteriormente sua própria vinícola, a Antonio Saramago Vinhos,o credenciava para dar vida ao vinho dos sommeliers/escanções. Aceito o convite,chegou a vez do signatário dessa coluna ser cooptado para o projeto, representando os profissionais brasileiros,visto estarmos diretamente envolvidos com a formação dos sommeliers em nosso País,por meio da Associação Brasileira de Sommeliers-SP, entidade que tivemos o privilégio de presidir por duas vezes. Não hesitei em aceitar a missão e a partir daí foram longos meses de trabalho,voltados para a escolha das uvas,do tipo de vinificação, do tratamento em madeira e finalmente,a parte mais difícil e delicada,o corte final dos vinhos. Decidimos,os três,produzir duas versões do Scancio,uma mais acessível no curto prazo, à qual denominamos Scancio Reserva e uma mais complexa e ambiciosa,para longa guarda,denominada Scancio Private Selection,ambas da safra 2008. O nome escolhido,Scancio, tem origem na Grécia e a palavra designava o encarregado do serviço do vinho. Os portugueses chamam este profissional de Escanção,não dando margens a dúvidas sobre a origem do termo. No Brasil,usamos a palavra francesa Sommelier.Voltando aos vinhos,depois de muitas provas e deliberações conjuntas, chegamos ao consenso final sobre a composição dos mesmos. O Scancio Reserva 2008 é um corte de duas uvas clássicas do Alentejo,a Alfrocheiro e a Grand Noir,com passagem por barricas de carvalho francês por 12 meses, o que resultou num vinho acessível,com muita fruta,agradável e fácil de beber. A outra vertente do projeto,o Scancio Private Selection 2008,é uma mescla de três uvas,a saber,Aragonês,Trincadeira e Alicante Bouschet,com amadurecimento por 24 meses em barricas novas de carvalho francês. O resultado foi um vinho de alta gama, intenso,complexo, elegante e sofisticado, com imenso potencial de guarda e a mais perfeita expressão do terroir alentejano. Os vinhos Scancio são importados para o Brasil pela Vinissimo Importadora (www.vinissimo.com.br). Espero que vocês gostem dos Scancio tanto quanto eu gosto,mas não me peçam para escolher meu preferido,pois,afinal de contas, os considero a ambos como filhos muito queridos. Saúde! Arthur Azevedo é diretor da Associação Brasileira de Sommeliers –SP, editor da revista Wine Style (www.winestyle.com.br) e consultor da Artwine (www.artwine.com.br) Por Arthur Azevedo Scancio, um vinho elaborado a seis mãos Raclete (ou raclette) Por Gustavo Corrêa Raclete deriva do verbo francês racler, que significa raspar, uma alusão à forma tradicional de preparar este prato. Menos conhecido que a fondue, a raclete é também um prato típico suíço e que como o foundue traz mistério em sua origem. O queijo raclete é consumido nos Alpes há 400 anos, e sua história tem duas versões principais: há quem conte que a Raclete surgiu quando um montanhês, durante um inverno, para se aquecer e saciar a fome foi até a despensa e pegou um bom queijo. Em seguida o derreteu no fogo da lareira, raspou pedaços desse queijo derretido e o acomodou sobre pães. Comeu o queijo ainda borbulhante acompanhado de um bom vinho. Porém, há também registros medievais sobre uma refeição consumida por pastores que conduziam o gado de uma pastagem à outra, subindo montanhas e que, ao anoitecer, ao redor de uma fogueira, derretiam o queijo no fogo e raspavam pão sobre as partes derretidas. No século XX este prato se sofisticou com o aparecimento das racleteiras elétricas. Elas dispõem de panelinhas que são colocadas sobre uma armação redonda de metal, aquecida por uma resistência. Na parte de cima, encontra-se uma chapa, onde podem ser grelhados batatas ou legumes. Algumas permitem derreter queijo na mesa em panelinhas junto com outros ingredientes como toucinho, tomate, abacaxi etc. Para a racleteira, é preciso que o queijo esteja fatiado, pois as panelas e as espátulas são pequenas, feitas para porções individuais. Adaptações da raclete surgem a cada dia, no Brasil usam-se outros queijos além do raclete. A preferência são pelos queijos do tipo suiço - gruyére, emmental, maasdam - mas também dá para usar estepe, gouda, mussarela.Você pode usar os queijos de sua preferência. Para enriquecer o prato e permitir mais combinações de sabores, você pode acrescentar, além das batatas, das azeitonas e das conservas, porções de cogumelos frescos, berinjela fatiadas e abobrinha. Raclete Tradicional Ingredientes: Queijo (gouda, suiço ou outro de sua preferência, mas que seja fácil de derreter ) Batata cozida cortada no meio Pepino, cebolinha e picles em conserva Frios diversos (copa, presunto parma, salame, bacon, etc) Pães diversos para acompanhar Modo de Preparo: Corte os queijos em cubos, cozinhe as batatas com água e sal (com a casca) e coloque sobre a chapa da racleteira. A seguir, acrescente em cada: um cubinho de queijo no recipiente que vai entre a chapa e o fogo, para derreter. Cada um serve o prato de acordo com seu gosto; com os frios e a batata, adicione manteiga e misture o queijo derretido na batata cozida. Bom apetite! Gustavo Corrêa é chef formado pelo SENAC Águas de São Pedro. Trabalhou em várias regiões brasileiras, em restaurantes renomados internacionalmente. Sua especialidade e prazer são os jantares temáticos. gustavocyr@hotmail.com Uma das mais difíceis missões que um ser humano pode enfrentar é falar de uma criação sua. O pai sempre tem bons olhos para seus filhos,o criador sempre tende a ser condescendente com a sua criatura. Digo isso como preâmbulo para esse artigo,pois vou contar a história do primeiro vinho que tenho a honra de assinar o rótulo,o Scancio,um vinho elaborado para homenagear os sommeliers do Brasil e de Portugal.