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O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  1	
  
1ª	
  aula	
  
APRESENTAÇÃO	
  DO	
  CURSO	
  
A fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo (Cl 1.28).
VISÃO	
  GERAL	
  DA	
  1ª	
  AULA	
  
Informações contidas neste capítulo:
 O núcleo bíblico do cristão frutífero.
 O alvo do curso Cristão Frutífero.
 Vocação, habilidades e jeito de ser.
1.1	
  O	
  NÚCLEO	
  BÍBLICO	
  DO	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  
A expressão “cristão frutífero”, conforme usada nestes estudos, é extraída de uma oração de
Paulo, registrada no início de sua carta aos Colossenses:
[3]
Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós,
[4]
desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os
santos; [5]
por causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual antes ouvistes
pela palavra da verdade do evangelho, [6]
que chegou até vós; como também, em todo o
mundo, está produzindo fruto e crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia em que
ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade; [7]
segundo fostes instruídos por Epafras,
nosso amado conservo e, quanto a vós outros, fiel ministro de Cristo, [8]
o qual também nos
relatou do vosso amor no Espírito.
[9]
Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós
e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e
entendimento espiritual; [10]
a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro
agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; [11]
sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança
e longanimidade; com alegria, [12]
dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos
cabe da herança dos santos na luz (Cl 1.3–12).
1.1.1	
  Uma	
  rápida	
  explicação	
  da	
  oração	
  de	
  Paulo	
  
Paulo agradece a Deus pela fé daqueles crentes e suplica ao Senhor que lhes abençoe.
Primeiramente ele reconhece alguns sinais de verdadeira conversão naqueles irmãos: Fé e amor,
ouvir a Palavra entendendo a “graça de Deus na verdade” e ser transformado (v. 3-7).
Daí ele pede a Deus algumas coisas em favor deles: Que eles transbordem “de pleno
conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual” (v. 9). E que tal
conhecimento produza santidade prática: Que eles vivam “de modo digno do Senhor, para o
seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus”
(v. 10). Para isso eles precisam de provisão de poder espiritual a fim de terem paciência e
aguentarem firmes, como verdadeiros adoradores (v. 11-12).
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  2	
  
É o poder que suporta o insuportável e se derrama em alegria e gratidão ao Pai que nos fez fortes
o suficiente para que tenhamos parte em tudo de glorioso e belo que ele tem para nós.1
1 Salvação. Ele crê sinceramente em Cristo e vive em amor; isso indica que ele é
regenerado e convertido (v. 4).
2 Santidade. Ele vive para o agrado de Deus (v. 10).
3 Serviço. Ele serve a Deus com boas obras (v. 10).
4 Conhecimento espiritual. Ele cresce em “pleno conhecimento de Deus” (v. 10).
5 Força. Ele é fortalecido “com todo o poder” espiritual (v. 11).
1.1.2	
  A	
  vida	
  cristã	
  é	
  obra	
  da	
  graça	
  de	
  Deus	
  
Cada um dos itens desse perfil é uma faceta do desfrute da pessoa e obra de Cristo. Os
cristãos de Colossos estavam sendo atraídos por ideias estranhas, aparentemente uma mistura
de filosofia, rigorismo judaico e culto aos anjos (2.8, 11, 16-23). Daí a ênfase repetida do
apóstolo na supremacia do Redentor (1.13-23).
Sendo assim, cada aspecto desse perfil é obra da graça divina no cristão. Observemos que
eles são tópicos de uma oração e não mandamentos. Com exceção do primeiro ponto, que é
uma constatação da salvação daqueles crentes, os outros itens são anseios de Paulo. Os cinco
pontos agrupados formam o perfil de um cristão ideal. Isso quer dizer que nós também
precisamos orar por isso — para que nossas vidas sejam alinhadas, cada vez mais, a este
padrão bíblico de vida cristã. De certo modo, Paulo aplica o ensino de nosso Senhor: A
produção de fruto permanente exige a prática da oração (Jo 15.16).2
Em suma, no v. 6 o apóstolo se refere ao evangelho que “produz fruto e cresce”. Em
seguida, no v. 10, ele ora para que os crentes frutifiquem em “toda boa obra” e cresçam no
“pleno conhecimento” de Deus, ou seja, que eles sejam cristãos frutíferos (figura 01).
Figura 01. O cristão completo ou frutífero
1.1.3	
  A	
  vida	
  cristã	
  é	
  equilibrada	
  
A Bíblia propõe a vida cristã equilibrada. Nós somos inclinados a assumir uma “versão”
de vida cristã de um ou, talvez, de alguns pontos. Cada vez que deixamos de viver todos os
1
PETERSON, Eugene H. Mensagem: Bíblia em Linguagem Contemporânea. São Paulo: Vida, 2011, p. 1681.
2
“O meio de frutificação para a qual eles [os crentes] são escolhidos é a oração em nome de Jesus” (CARSON, D.
A. O Comentário de João. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 524).
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  3	
  
cinco aspectos da vida cristã, nós descartamos o Cristianismo autêntico e encarnamos uma
distorção ou caricatura. As cinco distorções mais comuns são mencionadas a seguir:
 O crente da fé ponto — o relaxado. Aquele que enfatiza a justificação pela graça
mediante a fé sem a continuada dependência do Espírito, sem busca de crescimento na
graça e conhecimento de Cristo e sem fruto de santidade ou serviço. Ele insiste em que
somos eleitos ponto, quando a Bíblia ensina que nós fomos eleitos a fim de ou para a
santidade, testemunho e frutificação (cf. Jo 15.16; Ef 1.4; 1Ts 1.4-7; 1Pe 1.2; 2.9).
 O crente rigorista ou santarrão insiste na necessidade de sermos santos. Ele é rigoroso
na observância de regras para manutenção da pureza e entende que sem o domínio dos
sentidos não é possível agradar a Deus. O problema é que ele faz isso sem destacar que
a santidade é a aplicação graciosa da redenção pelo Espírito (Rm 8.1-11; Gl 3.1-5). Ele
se torna legalista e corre o perigo de considerar-se superior a qualquer pessoa que não
se sujeita a determinadas regras ou não seja tão santa quanto ele.
 O crente serviçal ou o ativista. Para este a coisa mais necessária é servir. Ele ama
mergulhar em ministérios e julga isso muito mais relevante do que qualquer
conhecimento teológico. Como o trabalho para Deus é prioritário, importa assumir
mais cargos. Sendo assim, ele se abre para dois perigos, quais sejam, o ativismo que o
arrasta sob uma torrente de trabalho esgotante, e o pragmatismo que ignora a doutrina
cristã e preocupa-se exclusivamente com resultados.
 O crente cerebral — o sabichão. Em alguns filmes de ficção científica, os alienígenas
são mostrados como seres de corpo pequeno e cabeça enorme. Assim são os crentes
sabichões. Desenvolveram o conhecimento bíblico e teológico, mas permaneceram
atrofiados no restante de suas funções. Conhecem os mínimos detalhes do que
aconteceu no Concílio de Trento, mas não se preocupam com o cumprimento das
ordenanças de Deus no poder do Espírito Santo. O maior perigo que correm é o do
orgulho intelectual que afasta o coração de Jesus (Jo 7.48-49).
 O crente 220v ou o ungidão. No interior de São Paulo nós dizemos que uma pessoa
cheia de energia é ligada em 220v — “fulano é 220v”. O crente 220v é semelhante a
um dispositivo altamente energizado. Enquanto ele fala é quase possível enxergar
faíscas saindo de suas orelhas. Ele toca nas pessoas e elas caem. Ele ora e o teto treme.
O tempo todo ele busca mais poder espiritual orando no monte, jejuando e
participando de campanhas de consagração. Ele aprecia o ministério solo e não se sente
confortável no trabalho em grupo, sujeitando-se a outros irmãos da igreja.
Todas as posições acima destoam do padrão bíblico de vida cristã. Ao enfatizar uma
coisa em detrimento de outras, elas impedem a formação do cristão frutífero. Sem enfatizar o
desfrute e prática de todos os cinco aspectos da experiência cristã mencionados na oração de
Paulo, nós permanecemos capengas.
1.2	
  O	
  ALVO	
  DO	
  CURSO	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  
Este curso sublinha o terceiro item do perfil do cristão frutífero — o cristão como servo. Ele
tem como alvo auxiliar e motivar você a servir a Deus dentro da igreja. Ao invés de entender a
igreja como uma plateia — um ajuntamento composto de muitos expectadores que assistem e
avaliam o desempenho de um pequeno corpo de obreiros remunerados e voluntários heroicos
— temos de enxergá-la como família, corpo de Cristo e nação de sacerdotes (Ef 2.19-20; Rm
12.4-5; 1Pe 2.9; Ap 1.5-6).
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  4	
  
A consequência desta vivência familiar e orgânica, bem como do sacerdócio universal, é o
serviço de cada crente com seus dons (Rm 12.6-8; Ef 4.15-16; 1Pe 4.10-11).
Sendo assim, é bíblico e desejável que aproveitemos as oportunidades de serviço
disponíveis na igreja, testando nossas habilidades e confirmando nossa vocação. Nós podemos
servir a Deus de acordo com o nosso chamado, com alegria e responsabilidade, ou seja,
exercendo ministérios frutíferos.
1.3	
  CHAMADO,	
  HABILIDADES	
  E	
  JEITO	
  DE	
  SER	
  
O envolvimento com o trabalho na igreja exige a consideração de três coisas: O chamado para
o serviço, que aponta para áreas de identificação ou encaminhamentos da providência; nossas
habilidades provenientes dos dons da criação e dons espirituais; e o nosso jeito de ser ou o
modo como funcionamos e interagimos uns com os outros (figura 02).3
Figura 02. Chamado, habilidades e jeito de ser
1.3.1	
  Nosso	
  chamado	
  para	
  o	
  serviço	
  
Paulo tinha a convicção de que Deus o chamara para ser um apóstolo (1Co 1.1). Isso o
motivou a trabalhar de todo coração, com responsabilidade e alegria (At 20.24; 2Co 6.4-10).
Sem tal motivação o serviço se torna cansativo e desgastante (Sl 100.2; cf. Hb 13.17).
Algumas vezes este chamado relaciona-se diretamente com as coisas que gostamos de
fazer. Outras vezes Deus nos chama para fazer coisas que nós jamais desejaríamos ou
escolheríamos.4
Enquanto a pessoa inconversa vive para satisfazer seus próprios desejos; o
convertido tem compromisso com o agrado do Senhor (Ef 2.3; 2Co 5.9). O chamado nos
ajuda a descobrir onde devemos servir.
1.3.2	
  Nossas	
  habilidades	
  ou	
  dons	
  
Deus nos deu habilidades — dons da criação e dons espirituais — para trabalharmos em
sua igreja (1Co 12.7). Os sacerdotes do AT deviam consagrar seus dons a Deus (Lv 8.22-29).
O jovem Timóteo foi admoestado a não negligenciar o seu dom (1Tm 4.14; 2Tm 1.6). A
3
O leitor atento verificará a semelhança com as categorias apresentadas no curso Rede Ministerial — o lugar do
crente na igreja, a sua paixão e o seu estilo pessoal. As expressões “paixão” e “estilo pessoal” são intencionalmente
evitadas. Conforme pode ser constatado no decorrer deste texto, eu uso a formatação geral ao mesmo tempo em
que rejeito alguns pressupostos, conclusões e proposições da Rede Ministerial.
4
Eis um primeiro ponto de discordância com o material original de Rede Ministerial. Corre-se perigo ao identificar
precipitadamente a vocação divina somente com as coisas com as quais nos entusiasmamos.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  5	
  
prática de tais recomendações implica em conhecer as habilidades que o Senhor nos concedeu,
e em usá-las para a sua glória. Nossas habilidades ou dons indicam o que fazemos enquanto
servimos.
1.3.3	
  Nosso	
  jeito	
  de	
  ser	
  
Cada um de nós é divinamente moldado com características exclusivas (Sl 139.13-18).
Jesus chamou doze discípulos, cada um diferente do outro (Mt 10.1-4).
Cada cristão é destacado para uma tarefa ímpar; não existem duas pessoas que façam a
mesma coisa de forma idêntica. O apóstolo Pedro, com sua personalidade e formação, foi
usado na pregação do evangelho aos judeus (At 2.14-41). Paulo, dotado de outras
características, foi útil e frutífero na proclamação da palavra aos gentios (At 9.15-16, 17.22-
37; cf. Gl 1.15-17). Sendo assim, as tentativas de reproduzir o ministério de outra pessoa
geram frustrações.
Alguns indivíduos mergulham em tarefas que exigem isolamento e concentração. Outros
são mais voltados para a interação com pessoas. Nosso jeito de ser indica como nós servimos.
RESUMO	
  DA	
  AULA	
  1	
  
A expressão “cristão frutífero”, conforme usada nestes estudos, é extraída de uma oração do
apóstolo Paulo, registrada em Colossenses 1.3-12. O cristão frutífero é salvo, santo, servo,
conhecedor e fortalecido por Deus. O desfrute e prática de todos os cinco aspectos da
experiência cristã mencionados na oração de Paulo caracterizam a vida cristã equilibrada.
O curso Cristão Frutífero trabalha a terceira característica listada acima — o cristão
como servo. Ele tem como alvo auxiliar e motivar você a servir a Deus dentro da igreja.
Os cristãos devem compreender a igreja como família, corpo de Cristo e nação de
sacerdotes. A consequência desta vivência familiar e orgânica, bem como do sacerdócio
universal, é o serviço de cada crente com seus dons.
O envolvimento com o trabalho na igreja exige a consideração de três coisas: O chamado
para o serviço, que aponta para áreas de identificação ou encaminhamentos da providência;
nossas habilidades provenientes dos dons da criação e dons espirituais; e o nosso jeito de ser
ou o modo como funcionamos e interagimos uns com os outros.
O chamado para o serviço nos ajuda a descobrir onde devemos servir; as habilidades ou
dons indicam o que fazemos enquanto servimos e nosso jeito de ser indica como nós servimos.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  6	
  
2ª	
  aula	
  
CHAMADOS	
  PELO	
  EVANGELHO	
  PARA	
  O	
  SERVIÇO	
  
Portanto, dize à casa de Israel: Assim diz o SENHOR Deus: Convertei- vos, e apartai- vos dos
vossos ídolos, e dai as costas a todas as vossas abominações (Ez 14.6).
VISÃO	
  GERAL	
  DA	
  2ª	
  AULA	
  
Informações contidas neste capítulo:
 A seriedade do chamado.
 Uma palavra sobre Amanda Lindhout.
 O chamado do evangelho.
 O chamado é para a vontade de Deus e possui várias camadas.
2.1	
  A	
  SERIEDADE	
  DO	
  CHAMADO	
  
Isso não é brincadeira ou conto de fadas. O assunto desta aula depreende-se da verdade
absoluta de Deus. Eu escrevo assim para que você não desligue sua mente nem mergulhe no
universo paralelo da abstração, considerando que isso não tem nada a ver com sua vida
prática. Sinceramente eu creio que Deus me chamou para insistir no assunto deste capítulo até
o fim de meu ministério. Quase três décadas de exercício de liderança cristã, participando de
comissões de estudo, congressos e reuniões de concílios, me deixam convencido de que esta é
uma das questões mais importantes para a igreja neste tempo.
Eu estou falando do chamado para o serviço.
Minha observação é a seguinte: Estamos perdendo a noção do que seja isso. Senão
vejamos; há menos de meio século atrás uma das características principais de quem se
candidatava ao Sagrado Ministério era a diligência, ou seja, era ordenado ao pastorado o
indivíduo trabalhador. Tinha-se por certo de que servir a Deus como pastor equivalia a
trabalhar muito. E isso era tido como bíblico, normal e desejável (2Co 11.23; Cl 1.29; 1Tm
5.17). Hoje há pastores especialistas em muita coisa, mas nem todos são identificados pelos
membros de suas igrejas ou colegas de ministério como trabalhadores.
O mesmo pode ser dito dos crentes em geral. Enfatiza-se muito a adoração, mas deixa-se
de lado que Deus procura não apenas “adoradores”, mas, também “trabalhadores” (Jo 4.23-
24; Mt 9.37-38). O grande fato é que, deste o início, adoração e trabalho são inseparáveis (Gn
2.15).5
Eu fico ouvindo estes especialistas em estratégia, missiologia urbana, comunicação e
antropologia cultural, todos dedicados ao estudo do crescimento da igreja. Eu leio seus textos
e analiso seus ensaios e gráficos. Depois penso nas igrejas que estão realmente crescendo na
atualidade e concluo que o que faz diferença, o que leva uma igreja a crescer é simplesmente o
empenho prático de seus membros no trabalho. Igrejas que crescem trabalham; o povo se
reúne para refletir e trabalhar. Simples assim. E isso de acordo com determinado padrão,
belamente demonstrado nas duas primeiras linhas da 3ª estrofe do hino Coração
Quebrantado:
5
As palavras da Bíblia Hebraica traduzidas por “cultivar” e “guardar” são ligadas ao culto no tabernáculo do AT.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  7	
  
Todo o meu ser não considero meu;
Quero gastá-lo no serviço teu.6
Observe o padrão. Eu não pertenço a mim mesmo. Eu quero gastar-me no serviço de
Deus. Isso nada mais é do que a aplicação da analogia da luz. Nós assumimos que somos “luz
do mundo” (Mt 5.14-16). O problema é que não somos alcançados pela força da analogia,
porque em nosso tempo, para iluminar um ambiente, basta apertar um botão. No tempo do
NT, porém, a iluminação era provida por lâmpadas alimentadas com azeite (Mt 25.1-3). Até
cerca de 150 anos atrás, iluminava-se um ambiente com lampiões, lamparinas ou velas.
O que tais dispositivos de iluminação tinham em comum? Eles proviam luz desgastando-
se. O cristão não brilha como uma lâmpada elétrica, e sim, como uma vela. Ele derrete
enquanto trabalha. Ele se gasta no serviço. Era assim antigamente.
Mais uma vez, isso não é brincadeira. Temos de entender o que cantamos.
Hoje toda a ênfase é em como manter o nosso bem-estar, em como Deus nos consola
com sua graça, em alívio e motivação; em Deus provendo o que eu necessito para ter uma
semana vitoriosa. Até o século passado, os cristãos queriam “se gastar” no serviço. O
problema maior da igreja é que levantou-se uma geração que perdeu a noção do que seja se
gastar no serviço de Cristo.
2.2	
  UMA	
  PALAVRA	
  SOBRE	
  AMANDA	
  LINDHOUT	
  
Provavelmente você nunca ouviu falar de Amanda (ou Linda) Lindhout. Ela é uma cristã
profissional de comunicação, que recebeu um chamado para o serviço. Sua história é
brevemente comentada pelo pastor Bill Hybels.
Ela é uma jornalista canadense de 30 anos, que ouviu sobre as coisas terríveis que
acontecem na Somália e então disse ao jornal onde trabalhava: “Estou indo para a Somália
para escrever sobre as coisas terríveis que acontecem lá”. Pouco depois de ali chegar, ela foi
sequestrada e mantida por 15 meses. E durante aqueles 15 meses ela foi abusada, espancada,
passou fome e foi maltratada de maneiras tais que devem envergonhar o mundo. E depois
que a família e amigos conseguiram o dinheiro do resgate a tiraram dali, ela voltou ao
Canadá e se recuperou um pouco, e depois Deus chegou para ela e disse: “Volte. Volte, mas
não como jornalista. Volte e ofereça ajuda humanitária às crianças da Somália”.
Agora, pense. Especialmente vocês, mulheres, pensem: Como alguém faz isso? Esse é um
chamado difícil. Ela disse “OK” e voltou a servir às crianças no país que a fez passar pelo
pior pesadelo imaginável. Isso é coragem. Não o que eu faço. Isso é coragem.7
O que faz uma pessoa abrir mão de seu próprio conforto e, mesmo sofrendo maus-tratos,
continuar firme em um lugar ou tarefa? A resposta simples é esta: O chamado de Deus para o
serviço. É a mesma coisa que movia Paulo (At 18.9-11; 27.23-26; cf. 26.19). Amanda é uma
cristã que ouviu o chamado de Deus para o serviço. Ela tinha todas as razões pra dizer “estou
traumatizada e tenho de pensar em meu bem-estar” ou “agora eu não quero mais saber da fé
cristã; se Deus existisse e me amasse mesmo ele não permitiria que isso acontecesse”.
6
ORR, J. E.; KASCHEL, W. Hino 67. Coração Quebrantado. In: NOVO CÂNTICO. 15. ed. Reimp. 2007. São
Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 62.
7
HYBELS, Bill. Um Chamado Difícil. In: The Global Leadership Summit 2011, p. 5. Cf. CBC NEWS. Amanda
Lindhout Talks Candidly About Abuse While In Captivity. Disponível em:
<http://www.cbc.ca/news/canada/calgary/story/2013/02/15/calgary-amanda-lindhout-speaks.html>. Acesso em: 17
fev. 2013.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  8	
  
Notem o contraste entre esta jovem de pouco mais de 30 anos e nós. Nós nos sentimos
chateados se entendemos que ninguém nos dá suporte na igreja; eu não recebo a atenção que
gostaria de receber. Esta é a geração atual de cristãos. Temos de voltar ao “todo o meu ser não
considero meu; quero gastá-lo no serviço teu”.
2.3	
  O	
  CHAMADO	
  DO	
  EVANGELHO	
  
Ao pensarmos em servir a Deus, temos de considerar o nosso chamado. Existe uma noção
equivocada de que chamado é somente para pastores ou missionários, mas receber um
chamado divino é a experiência de todo cristão. A palavra usada pela Bíblia para referir-se a
isso é “vocação” (1Co 1.26; Ef 4.1, 4; Fp 3.14; 2Tm 1.9; Hb 3.1; 2Pe 1.10).
A vocação é um chamado para a salvação que produz conversão (figura 03). É uma obra
do Espírito que aplica a palavra pregada no coração dos eleitos (At 16.13-15; Rm 8.28-30).
O Espírito Santo opera de tal maneira sobre o povo eleito de Deus, que eles são levados ao
arrependimento e à fé, e assim feitos herdeiros da vida eterna, por meio de Jesus Cristo,
Senhor deles. Esta obra do Espírito, nas Escrituras, chama-se vocação.8
Figura 03. O chamado para a conversão muda a vida
A ideia de chamado ou vocação é pactual: O Deus vivo estabelece um pacto conosco,
abençoando-nos e responsabilizando-nos.9
O modo como isso se dá é personalizado. Abraão,
Moisés, Davi, Josias, Isaías, Jeremias e os apóstolos do NT exemplificam isso: Cada um foi
chamado em seu próprio tempo e lugar de um modo diferente.
2.3.1	
  Tudo	
  novo	
  e	
  para	
  Cristo	
  
O fato é que, em determinado momento de nossa história, Deus nos regenera. Então
ouvimos seu chamado ao arrependimento e fé. É quando nos convertemos a ele. Nós
abandonamos a prática do pecado (Is 31.6; Jr 3.4; Ez 14.6; 18.30; 33.11; Os 14.2; Jl 2.12-13;
Mc 1.15; At 3.19). Fazemos isso confiando unicamente em Cristo como nosso Salvador e
Senhor (Mt 11.28-30; Jo 3.14-18; 3.36; 5.24; 6.40, 47; 12.46; At 10.43; 13.39; 16.31; Rm
1.16; 10.4). A partir de então, a vida que era centrada em nossos próprios interesses passa a
organizar-se em torno da vontade de Deus (Mt 6.10; 7.21; 12.50; 26.42; Jo 4.34; 6.38; cf. Hb
10.7; Jo 7.17; Rm 12.2; Ef 5.17; Cl 1.9; Hb 13.20-21; 1Jo 2.17). Enfim, o chamado para a
conversão muda tudo (2Co 5.17; Cl 1.13-14).
Não existe meia conversão. Assim como em Gênesis 1 Deus cria e organiza todas as
coisas por sua palavra, atualmente ele vem até nós e nos acha perdidos e mergulhados no caos.
Então ele fala em nosso coração e nos alcança pelo Espírito. Ocorre nova criação e
reorganização (2Co 4.6). Somos refeitos e santificados.
8
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 961.
9
Nestes estudos o termo “pacto” aponta para a aliança que Deus estabeleceu com o homem na criação, reafirmada
e garantida pelos pactos da redenção (firmado na eternidade entre o Pai e o Filho) e da graça (firmado entre Deus e
o homem).
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  9	
  
Preste atenção. Isso não é fábula. Isso é real.
2.3.2	
  A	
  praga	
  do	
  cinismo	
  eclesiástico	
  
Por que eu insisto nisso? Porque os membros de igrejas correm o risco de serem afetados
por um dos piores venenos espirituais — o cinismo eclesiástico. Eles se tornam cínicos com as
coisas da igreja. Eles ouvem verdades como essas e pensam: “Isso não é bem assim; isso não é
real”. Alguns cogitam: “Esse pastor é bem-intencionado, tadinho. Vive no universo da
Teologia e não no mundo concreto”, ou ainda: “Esse pastor chegou agora e não conhece
nossa igreja. Pastor, acorde pra vida! O senhor não sabe como as coisas funcionam; aqui as
coisas são diferentes, pastor!”
Cinismo eclesiástico. Cuidado com isso. Não é porque alguns estão sendo reservados
para disciplina e juízo que nós devemos deixar de crer e viver na pureza e simplicidade do
evangelho (2Ts 2.11-12; 2Pe 3.7; cf. Rm 9.19-29). Quando alguém dentro da igreja faz o que
não devia, ao invés de copiar o comportamento errado, eu preciso aplicar Mateus 18.15-20 e
ao mesmo tempo me preservar, para que eu não caia (1Co 10.12-13; Ap 2.25-29).
E quando percebermos as “coisas antigas” — as tentações de outrora — querendo nos
arrastar para desobediência a Deus, oremos: “Pai Celestial, aplica tua verdade em meu
coração; eu não estou mais na carne, mas em Cristo; não estou mais nas trevas, mas na luz; e
não apenas eu estou na luz, mas eu sou luz no Senhor” (Rm 6.1-14; Cl 1.13; Ef 5.1-20).
2.4	
  O	
  CHAMADO	
  É	
  PARA	
  A	
  VONTADE	
  DE	
  DEUS	
  E	
  POSSUI	
  VÁRIAS	
  CAMADAS	
  
Notemos o que o apóstolo diz em 1Pedro 4.1-6. A vida cristã é coisa séria. Cristo morreu para
o pecado. Sendo assim, enquanto nós vivemos sobre esta terra, digamos não ao pecado e
vivamos conforme o propósito divino.
Deus nos chamou pra que agora nós não vivamos mais segundo nossas vontades e sim,
segundo a vontade dele. Pedro chega ao ponto de dizer “basta o tempo decorrido” (v. 3).
Parem com isso, chegou a hora de viver segundo a vontade de Deus! Há crentes professos de
uma década que insistem em prosseguir segundo os seus desejos e preferências. Basta!
Entendamos o evangelho! Isso não é brincadeira. Agora nós vivemos para o agrado dele —
esta é uma das características do cristão frutífero (cf. seção 1.1.1).
Aquela jovem que foi para a Somália entendeu isso. Ela está fazendo diferença no mundo
como cristã, seguindo o chamado de Deus.
Você não foi criado por Deus para apenas ganhar dinheiro. Você não está nesta vida
apenas para preocupar-se com as coisas deste mundo. Você está nesta vida — e isso não é
brincadeira — para cumprir o propósito de Deus que te moldou para que você faça alguma
coisa para glória dele. Ele quer que você faça e não apenas ouça como deve ser feito, ou como
determinado missionário está fazendo. Ele quer que você faça. Um hino coloca a questão
nesses termos:
O trabalho a que Jesus te chama aqui,
Como será feito, se o não for por ti?10
Cada um prestará contas diante de Deus pelo modo como respondeu a este chamado.
Você está pronto para isso? Ademais, o chamado que começa na conversão se aprofunda em
camadas. Considerando que a conversão é uma moeda de dois lados (arrependimento e fé), há
10
WRIGTH, H. M. Hino 312. Há Trabalho Certo. In: NOVO CÂNTICO, op. cit., p. 284. Grifo nosso.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
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  10	
  
um chamado à santidade incluído na conversão. Conversão é isso: Começar a conhecer a Deus,
amar a Deus e caminhar com ele. Mas isso desemboca em outras três coisas: Serviço na igreja,
missão e mandato cultural (figura 04).
Figura 04. Camadas distintas do chamado de Deus
Existe uma chamado para o serviço na igreja, um chamado para a missão e um chamado
para o cumprimento do mandato cultural. Nós estudaremos tudo isso logo adiante, mas ficam
aqui apresentadas as ideias gerais. Na próxima aula nós entenderemos o que são e como
interagem estas camadas do chamado divino.
RESUMO	
  DA	
  AULA	
  2	
  
Atualmente enfatiza-se muito a adoração, mas deixa-se de lado que Deus procura não apenas
“adoradores”, mas, também “trabalhadores”. O que faz diferença, o que leva uma igreja a
crescer é simplesmente o empenho prático de seus membros no trabalho. O problema maior da
igreja é que levantou-se uma geração que perdeu a noção do que seja se gastar no serviço de
Cristo.
Quando nós pensamos em como servir a Deus, temos de considerar melhor o nosso
chamado. A palavra usada pela Bíblia para referir-se a isso é “vocação”.
O chamado é pactual — é a aplicação prática do pacto ou aliança de Deus conosco — e é
experimentado desde a conversão, quando respondemos ao evangelho com arrependimento e
fé. Esse chamado para a conversão muda tudo.
Deus nos chamou pra que agora nós não vivamos mais segundo nossas vontades e sim,
segundo a vontade dele.
Há um chamado à santidade incluído na conversão. Conversão é isso: Começar a
conhecer a Deus, amar a Deus e caminhar com ele. Mas isso desemboca em outras três coisas:
Serviço na igreja, missão e mandato cultural.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  11	
  
3ª	
  aula	
  
AS	
  CAMADAS	
  DO	
  CHAMADO	
  E	
  O	
  SACERDÓCIO	
  UNIVERSAL	
  DOS	
  CRISTÃOS	
  
Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te
consagrei, e te constituí profeta às nações (Jr 1.5).
VISÃO	
  GERAL	
  DA	
  3ª	
  AULA	
  
Informações contidas neste capítulo:
 Uma rápida descrição das camadas do chamado para o serviço.
 O chamado e o sacerdócio universal.
3.1	
  UMA	
  RÁPIDA	
  DESCRIÇÃO	
  DAS	
  CAMADAS	
  DO	
  CHAMADO	
  PARA	
  O	
  SERVIÇO	
  
Todas as palavras bíblicas que tratam do chamado referem-se a um “apelo de Deus a uma
tarefa ou função específica e sua relação especial com o seu povo”.11
Esses dois aspectos —
relacionamento e serviço — nos remetem a Marcos 3.13-15:
[13]
Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. [14]
Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar [15]
e a exercer a
autoridade de expelir demônios.
Deus nos chama soberanamente para “estarmos com ele” (relacionamento) e, em seguida,
nos incumbe de uma ou mais tarefas (serviço). Quem se apega somente ao serviço transforma-
se em ativista seco. Quem destaca exclusivamente a comunhão com Deus torna-se místico
despreocupado com as obras do reino. Nós somos corrigidos com a compreensão das camadas
do chamado.
Relembrando, a consciência do chamado de Deus é iniciada na conversão e se aprofunda
ao longo da vida nos chamados para o serviço na igreja, para a missão e para o cumprimento
do mandato cultural (cf. seção 2.4, figura 04).
3.1.1	
  O	
  chamado	
  para	
  o	
  serviço	
  na	
  igreja	
  
O cristão é chamado para servir a Deus na igreja, ou melhor, servir a Deus servindo a
igreja. Eu afirmo isso sabendo que a pessoa pode amar a igreja como instituição religiosa
distanciando-se de uma experiência pulsante e real com o evangelho. Eu falo de amar a Deus
amando aos irmãos, nos termos de 1João 4.7-8:
[7]
Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que
ama é nascido de Deus e conhece a Deus. [8]
Aquele que não ama não conhece a Deus, pois
Deus é amor.
E ainda:
11
MYERS, Allen C. The Eerdmans Bible Dictionary. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1987, p. 183. Grifos nossos.
Os termos bíblicos são qārā (Êx 3.4 na Bíblia Hebraica) e o termo grego kaleō (Mt	
  25.14) e seus cognatos gregos
proskaleō	
  (Mc	
  3.13); klēsis	
  (Rm	
  11.29); klētos	
  (Rm	
  1.1); legō	
  (no	
  sentido	
  de	
  nomear,	
  perguntar	
  ou	
  responder;	
  Mt	
  1.16;	
  
Mc	
  2.16;	
  4.11); phōneō	
  (Mc	
  10.49) e chrēmatizō	
  (denominar	
  ou	
  advertir	
  com	
  instrução;	
  At	
  11.26;	
  Hb	
  8.5).
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  12	
  
[1]
Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão
do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, [2]
completai a minha alegria, de modo
que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo
sentimento. [3]
Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando
cada um os outros superiores a si mesmo. [4]
Não tenha cada um em vista o que é
propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros (Fp 2.1-4).
Isso implica em trabalhar nas coisas ligadas ao culto, à liderança cristã e aos esforços
gerais e comuns do corpo de Cristo (Êx 31.1-11; Js 1.1-9; Jz 6.11-24; Ef 4.15-16; Fp 1.27-30;
1Ts 1.2-4). Depois de ensinar aos crentes de Corinto que eles deviam servir uns aos outros
com seus dons espirituais (1Co 12.1—14.40), Paulo sublinha que o trabalho realizado para
Deus — como sugere o contexto, na e para a igreja — não é vão (1Co 15.58).
Na aula passada eu mencionei o perigo do cinismo eclesiástico (cf. seção 2.3.2). Há
diversas coisas que se instalam em nossa alma ao ponto de nos retirar da esfera do serviço da
igreja. Há quem assuma: “Ah, eu não tenho mais nada a fazer nesta igreja; não tenho mais
idade para trabalhar”, desconsiderando que Moisés iniciou seu ministério aos 80 anos de
idade (At 7.23-24, 30-31). Outros lamentam por algo que lhes aconteceu tempos atrás: “Por
causa daquilo eu nunca mais farei nada nesta igreja”. Estes se esquecem de que Jesus, mesmo
tendo razões de sobra para não mais contar com seus discípulos, “amou-os até o fim” (Jo
13.1).
Tais pessoas não entendem o que estão perdendo. Elas não levam em conta que foram
chamadas por Deus para viver para a vontade dele e não para as suas próprias vontades. Elas
acham que o chamado para o serviço na igreja é um detalhe que pode ser dispensado. “Como
eu sou salvo pela graça apesar da igreja, não preciso me envolver com ela mais do que o
mínimo necessário” — eis o que pensam. Ao fazer isso, mesmo considerando-se cuidadosas na
doutrina, tornam-se falhas na prática. Não era este o problema de nossos irmãos de Éfeso?
(Ap 2.2, 4). O fato é que a vocação para o serviço não é uma opção.
3.1.2	
  O	
  chamado	
  para	
  a	
  missão	
  
Nós somos chamados à missão. Cristo convocou Pedro e André para se tornarem
“pescadores de homens” (Mt 4.18-19). Após a ressurreição eles foram incumbidos de pregar o
evangelho e fazer discípulos na dependência do Espírito Santo (Lc 24.48; Jo 20.21-22; Mt
28.18-20; At 1.8). Paulo recebeu uma vocação semelhante (At 26.12-18). Ele considerou a
evangelização como “obrigação” (1Co 9.16-18). Os demais apóstolos e as igrejas de Filipos e
Tessalônica entenderam o chamado para a missão e cumpriram a tarefa (Fp 1.5; 1Ts 1.8).
Além do esforço dos apóstolos e evangelistas, a força vital para a evangelização residia
no testemunho dos crentes em suas esferas de influência. Levi convidou seus colegas de
trabalho para uma refeição (Mc 2.14-15). O geraseno foi enviado à sua casa (Mc 5.19). Pedro
conheceu Jesus através de seu irmão André (Jo 1.41). Natanael, por meio de Felipe (Jo 1.45).
Na cura do filho do “oficial do rei”, creram “ele e toda a sua casa” (Jo 4.53). Cornélio ouviu
a pregação de Pedro juntamente com “seus parentes e amigos íntimos” (At 10.24). Lídia foi
batizada juntamente com “toda a sua casa” (At 16.15). De modo semelhante o carcereiro de
Filipos (At 16.30-34). A evangelização não era um programa, mas o transbordamento da vida
espiritual dos crentes para aqueles à sua volta.
Uma pesquisa realizada 20 anos atrás demonstrou que “uma maioria esmagadora dos
cristãos atualmente ativos (76%) têm suas raízes espirituais no relacionamento com um amigo
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  13	
  
ou parente, por meio do qual veio a Jesus e à igreja”.12
Os pesquisadores chamaram isso de
“fator oikos”, “casa”(Gr.) e apresentaram a experiência de Michael Lehfeldt (figura 05):
Figura 05. Oikos: Michael Lehfeldt cumprindo a missão
“Oikos” é a palavra grega para “casa”. Na cultura greco-romana o termo “oikos” não se
referia somente à família direta com a qual a pessoa morava, mas também incluía escravos,
amigos e até colegas de trabalho. “Oikos” descrevia a esfera de influência de uma pessoa, a
rede de seus relacionamentos.13
12
SCHWARZ, Christian. Evangelização Básica: Uma Maneira Agradável de Ensinar as Boas Novas. Curitiba:
Editora Evangélica Esperança, 2003, p. 25. Grifo nosso.
13
SCHWARZ, op. cit., p. 27.
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  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  14	
  
Lehfeldt era pedreiro em Hamburgo.14
Ele conheceu a graça de Deus aos 24 anos de
idade, em setembro de 1978. Daí ele testemunhou à sua irmã, Florence Krohn. A semente do
evangelho continuou dando frutos de modo que, até 1990, outras 15 pessoas haviam sido
trazidas para o conhecimento de Cristo.15
Ainda que tenha havido diferença nos eventos e
métodos empregados, o princípio que une todas as iniciativas é o relacionamento que abre a
porta para o testemunho.
Isso se aplica a nós. Não há um cristão sequer que não seja chamado para a missão.
Pensemos no ladrão pregado na cruz ao lado de Jesus e que creu no Senhor. Ele não teve
tempo de realizar qualquer ação missionária, mas até hoje sua vida é um testemunho (Lc
23.39-43). Não há desculpa para negligenciarmos a evangelização. O chamado para a missão
não é uma opção.
3.1.3	
  O	
  chamado	
  para	
  o	
  cumprimento	
  do	
  mandato	
  cultural	
  
Por fim, nós somos chamados para cumprir o mandato cultural — glorificar a Deus no
desempenho de nossa carreira ou trabalho. Esta camada do chamado foi destacada por
Martinho Lutero. Ele aplicou a expressão alemã beruf, “vocação”, às profissões em geral.
Um sapateiro, um ferreiro, lavrador, cada um tem o ofício e a ocupação próprios de seu
trabalho. [...] cada qual deve ser útil e prestativo aos outros com seu ofício ou ocupação, de
forma que múltiplas ocupações estão todas voltadas para uma comunidade, para promover
corpo e alma, da mesma forma com que os membros do corpo servem todos um ao outro.16
Este chamado é uma aplicação de Colossenses 3.17, 22-25. Tudo o que fazemos deve ser
para Deus e em nome do Senhor Jesus Cristo. E isso é para todos os crentes, ou seja, a
convocação divina para o cumprimento do mandato cultural não é uma opção.
3.1.4	
  O	
  problema	
  dos	
  cristãos	
  sadios	
  na	
  doutrina	
  e	
  doentes	
  na	
  prática	
  
Alguns de nós já ouviram falar de ortodoxia. Ortodoxia é o ensino conforme a sã
doutrina, fiel à Palavra de Deus. O oposto de ortodoxia é heterodoxia ou heresia. Por isso o
heterodoxo é chamado de herege. Ao longo de sua história a igreja dedicou esforços
significativos ao combate às heresias e estabelecimento da ortodoxia.
Poucos ouviram falar de ortopraxia. No vocabulário médico, ortopraxia é a “correção
mecânica de deformações”.17
Na vida cristã, é a prática conformada à sã doutrina, ou seja,
obedecer a Deus. O oposto de ortopraxia é heteropraxia, viver contrário à vontade de Deus
revelada na Bíblia, ou seja, desobediência. Cristãos podem ser sadios na doutrina e doentes na
prática, aceitando as doutrinas relativas à salvação e descartando o chamado para o serviço. É
possível dizer que amamos a Deus nos esquivando da palavra de Cristo:
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me
ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele (Jo 14.21).
14
Lehfeldt foi um dentre os vários cristãos pesquisados por Schwarz. Cf. op. cit., p. 29-31.
15
Até 1993, mais seis pessoas haviam sido acrescentadas à lista. Ibid., p. 30.
16
LUTERO, Martinho. À Nobreza Cristã da Nação Alemã, p. 81, apud BOBSIN, Oneide. Luteranos na Ética
Protestante, in Revista Eletrônica do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Protestantismo (NEPP) da Escola Superior
de Teologia, v. 6, jan.-abr. de 2005, p. 12. Disponível em: <http://www3.10 est.edu.br/nepp>. Acesso em: 22 out.
2012.
17
FERREIRA, op. cit., loc. cit.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  15	
  
A saúde da igreja é prejudicada quando os seus membros não atendem ao chamado para
o serviço em todas as suas dimensões. Isso é muitas vezes respaldado pelo desconhecimento ou
compreensão deficiente do ensino da Bíblia sobre o sacerdócio universal.
3.2	
  O	
  CHAMADO	
  E	
  O	
  SACERDÓCIO	
  UNIVERSAL	
  
A gente acha normal Deus ter chamado Abraão ou Gideão no passado, mas entende que hoje
as coisas são diferentes. Talvez “chamado” seja para missionários ou pastores, mas não para
os crentes em geral. “Quem sabe” — pensamos — “isso de Deus chamar cada cristão para
viver absolutamente dentro de sua vontade não passe de fábula”.
3.2.1	
  O	
  clericalismo	
  como	
  distorção	
  da	
  doutrina	
  do	
  chamado	
  
A ideia comum é que os crentes são separados em duas categorias: Os clérigos
(especialistas) e leigos (cristãos comuns — tabela 01).
A ideia popular sobre o chamado para o serviço
OS CLÉRIGOS — O CLERO OS LEIGOS — O LAICATO
Únicos chamados para o serviço sacerdotal
Especialistas em Teologia
Chamados para sustentar a igreja e os clérigos
Desconhecedores ou alheios à Teologia
Serviço remunerado Serviço voluntário esporádico
Tabela 01. Cristãos clérigos e leigos
Esse modo de enxergar as coisas é antibíblico. No NT klēros significa “uma parte” —
um pedaço ou porção (At 1.17). Nos primeiros dias da igreja os cristãos se autodenominavam
“clero” por entender que eram “escolhidos para serem de Deus, a ‘parte’ [ou porção] do
SENHOR (como em Dt 32.9)”.18
Menos de dois séculos depois, “já nos tempos de Tertuliano
[klēros] era usada em referência aos oficiais ordenados da igreja, ou seja: Bispos, sacerdotes e
diáconos”.19
O termo “clérigo” passou a identificar o indivíduo “chamado por Deus” e que
pertence à classe eclesiástica; o sacerdote, pastor ou obreiro remunerado da igreja.
Os leigos são também chamados laicato, por causa da palavra grega laos, “povo” (laikos,
laico ou leigo, é o que provém do laos).20
O dicionário define “leigo” como alguém “que é
estranho ou alheio a um assunto; desconhecedor”.21
Na igreja, trata-se da pessoa que não se
ocupa da Teologia, ou seja, o crente que não foi chamado para o ministério. O que cabe a este
é sustentar a igreja com seus dízimos e ofertas, além de frequentar esporadicamente as reuniões.
Alguns “leigos” podem até ajudar como voluntários, mas esse não é o procedimento padrão,
uma vez que o trabalho de Deus deve ser feito pelos clérigos.
Esse entendimento errôneo da igreja como clero e laicato é chamado de clericalismo.
18
MORRIS, L. Clérigos. In: ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São
Paulo: Vida Nova. 1988, p. 290-291. v. 1 A—D.
19
MORRIS, op. cit., p. 291. Grifo nosso.
20
Na cultura ocidental, “leigo” é o oposto de religioso. A Bíblia usa laos para referir-se a povo em geral, mas insiste
em qualificar os crentes como povo especial de Deus. “Deus tomou dentre os ethnē [grupos étnicos ou nações] um laos
para o seu nome (At 15.14)” (BIETENHARD, H. Povo. In: COENEN, Lothar; BROWN, Colin. (Orgs.). Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2ed. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 1743. v. 2). Cf. ainda:
NASCIMENTO FILHO, Antonio José do. O Laicato na Teologia e Ensino dos Reformadores. Disponível em:
<http://www.thirdmill.org/files/portuguese/31822~9_18_01_3-22-31_PM~laicato.htm>. Acesso em: 21 fev. 2013.
21
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Leigo. In: Dicionário Aurélio Eletrônico 7.0. Curitiba: Editora
Positivo, 2009. CD-ROM). Grifos nossos.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  16	
  
Larry Richards propõe um esquema visual do clericalismo, reproduzido com pequenas
modificações na figura 06:
Em primeiro lugar, a igreja é o pastor. (Quantas vezes falamos de uma igreja local nestes
termos: “A igreja do pastor tal, no centro”?) Em segundo lugar, visualiza-se os membros
leigos da igreja assim, como normalmente estão, sentados em fileiras, encarando o pastor,
prontos para serem servidos. Depois podemos imaginar os líderes leigos de um lado, porque
são invisíveis para a congregação que nem sabe para que eles existem, a não ser quando se
reúnem em diretoria uma vez por mês ou servem a ceia.22
Observe os detalhes: “O pastor — o que serve. Os leigos — não servem, mas são servidos.
Líderes [e voluntários] leigos — presentes, mas com função incerta”.23
Figura 06. Como funciona uma igreja que assume o clericalismo
O clericalismo não é assumido por má fé. Muitos dos que entendem o chamado para o
serviço dentro desta moldura clerical o fazem na melhor das intenções. A questão é que isso
não é bíblico, e aquilo que não é bíblico provoca problemas sérios.
Considerar apenas o pastor capaz de realizar o ministério produz uma distorção. Todo o
trabalho da igreja é centralizado nele e os leigos são tidos como seus colaboradores e vivendo
em sua órbita. Ele é não apenas o clérigo ou vocacionado. Ele também é remunerado e os
crentes, sem perceber, assumem mais e mais o papel de clientes que cobram o bom serviço
pastoral sem engajar-se diretamente no trabalho da igreja.
O papel do pastor é apresentar “todo homem perfeito em Cristo” (Cl 1.28). Isso implica
em treinar os crentes para que estes sirvam em suas áreas de chamado. Uma das tarefas do
pastor, conforme a Bíblia, é investir nos crentes que querem trabalhar, capacitando-os para o
desempenho do seu serviço (Ef 4.11-12). O clericalismo, no entanto, produz igrejas
acomodadas e pastores que se encaixam na descrição sugerida por Kyle Hasselden:
“Escoteiro agradável, sempre prestativo, sempre pronto para ajudar; como o querido
das senhoras idosas e como suficientemente reservado com as mais jovens; como a
imagem paternal para os moços e companheiro para os homens solitários; como o
cordial recepcionista afável nos chás e nos almoços dos clubes cívicos”. Se isto, de
algum modo, retrata a realidade, mesmo que as pessoas gostem do pregador, certamente
não irão respeitá-lo.24
22
RICHARDS, Lawrence O. Teologia da Educação Cristã. 3ed. Reimp. 2008. São Paulo: Vida Nova, 1996, p. 107.
23
RICHARDS, op. cit., loc. cit.
24
HADELSEN, Kyle. The Urgency of Preaching, p. 88-89, apud ROBINSON, Haddon W. Pregação Bíblica: O
Desenvolvimento e a Entrega de Sermões Expositivos. 1ed. Atualizada e Ampliada. Reimp. 2011. São Paulo: Vida
Nova, 2002.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  17	
  
3.2.2	
  O	
  clericalismo	
  é	
  corrigido	
  pelo	
  sacerdócio	
  universal	
  dos	
  crentes	
  
A Bíblia ensina o sacerdócio universal dos crentes. No AT o sacerdote era o mediador
entre Deus e Israel. Com sua obra redentora, Jesus assumiu o ofício de sumo sacerdote dos
cristãos (Hb 5.5-10). Em seguida, por seu sangue, ele “nos constituiu reino, sacerdotes para o
seu Deus e Pai” (Ap 1.6). Isso quer dizer, em primeiro lugar, que não há mais uma classe
sacerdotal distinta da igreja como um todo; todos os crentes podem achegar-se a Deus
oferecendo “sacrifício de louvor” aceitável por meio de Cristo (Hb 13.15; cf. Rm 12.1-2).
Em segundo lugar, o serviço a Deus, que no AT era restrito aos sacerdotes e levitas,
agora é atribuído a cada um dos crentes, de modo que a igreja-serva é estabelecida como
bênção de Cristo ao mundo (Lc 24.48; Jo 17.20-23; At 1.8; Ef 3.10-12 — figura 07).
Figura 07. O sacerdócio de todos os crentes
Sendo assim:
Permanece, no entanto, um sacerdócio que pertence àqueles que, pela fé, foram unidos com
Cristo. Costuma-se chamá-lo “o sacerdócio de todos os crentes”. [...] É por isso que somos
exortados a “apresentar os nossos corpos”, isto é, a nós mesmos, “por sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus”(Rm 12.1); e, ao nos sacrificarmos de boa vontade, expressamos o nosso
sacerdócio espiritual nos atos de louvor e gratidão, e no serviço altruísta ao nosso próximo,
quando ministramos às suas necessidades.[...]
[O reino de Cristo], acima de tudo, não possui nenhum sistema sacerdotal. Não interpõe
nenhuma tribo ou classe sacerdotal entre Deus e o homem, por cujo exclusivo intermédio
Deus é reconciliado e o homem perdoado. Cada membro individual tem comunhão pessoal
com a Cabeça Divina. A pessoa tem responsabilidade imediata diante dele, e é diretamente
dele que ela obtém perdão e adquire força.25
O que isso nos diz? Nós somos um corpo de sacerdotes (1Pe 2.9-10). Deus nos chama
para o serviço que ele “de antemão preparou” para nós (Ef 2.10; Jr 1.4-5; Gl 1.15-17). Sendo
assim, podemos declarar como o autor do Catecismo de Heidelberg: “Como sacerdote,
ofereço minha vida a ele como sacrifício vivo de gratidão” (pergunta 32).
RESUMO	
  DA	
  AULA	
  3	
  
Em todo chamado divino devem ser consideradas duas coisas (exemplificadas em Mc 3.13-15),
relacionamento e serviço.
25
HUGHES, P. E. Sacerdócio. In: ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São
Paulo: Vida Nova, 1990, p. 329. v. 3 N—Z.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
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  P.	
  18	
  
O chamado para o serviço na igreja é uma convocação a amar a Deus amando aos
irmãos, nos termos de 1João 4.7-8. Isso implica em trabalhar nas coisas ligadas ao culto, à
liderança cristã e aos esforços gerais e comuns do corpo de Cristo.
Nós somos chamados à missão. Não há desculpa para negligenciarmos a evangelização.
O chamado para a missão não é uma opção. Por fim, nós somos chamados para cumprir o
mandato cultural — glorificar a Deus no desempenho de nossa carreira ou trabalho.
A ideia comum é que os crentes são separados em duas categorias: Os clérigos
(especialistas) e leigos (cristãos comuns). Esse modo de enxergar as coisas é antibíblico. Tal
entendimento errôneo da igreja como clero e laicato é chamado de clericalismo.
No clericalismo apenas o pastor é considerado capaz de realizar o ministério. Todo o
trabalho da igreja é centralizado nele e os leigos são tidos como seus colaboradores e vivendo
em sua órbita. Só ele é considerado vocacionado. Isso produz distorções, pois, de acordo com
Efésios 4.11-12, uma das tarefas do pastor é investir nos crentes que querem trabalhar,
capacitando-os para o “desempenho do seu serviço”.
De fato, a doutrina do sacerdócio universal dos crentes ensina que o serviço a Deus, que
no AT era restrito aos sacerdotes e levitas, agora é atribuído a cada crente, de modo que a
igreja-serva é estabelecida como bênção de Cristo ao mundo.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  19	
  
4ª	
  aula	
  
MOLDADOS	
  E	
  CHAMADOS	
  PARA	
  O	
  SERVIÇO	
  CONTENTE	
  
E Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e
obras (At 7.22).
VISÃO	
  GERAL	
  DA	
  4ª	
  AULA	
  
Informações contidas neste capítulo:
 O chamado e a providência.
 O chamado, o contentamento e a fidelidade.
4.1	
  O	
  CHAMADO	
  E	
  A	
  PROVIDÊNCIA	
  
Além do significado relacionado à vida religiosa, entende-se vocação como uma “disposição
natural e espontânea que orienta uma pessoa no sentido de uma atividade, uma função ou
profissão; pendor, propensão, tendência”.26
É nesse sentido que dizemos que uma pessoa tem
vocação para as artes, a medicina ou os negócios.
Vocações são formatadas a partir das experiências da infância e no contexto das relações
com nossos pais. Wolfgang Amadeus Mozart demonstrou genialidade musical desde cedo. Aos
14 anos compôs Mitridate, sua primeira ópera de grande sucesso. Ele foi influenciado por seu
pai, o músico e compositor Leopold Mozart.27
De modo semelhante, é difícil dissociar as
figuras de Neymar da Silva Santos Júnior (o jogador que empolga os torcedores do Santos e da
Seleção Brasileira) e Neymar da Silva Santos, seu pai e empresário.28
Vocação infundida na
relação pai-filho. No 6º episódio da 1ª temporada da série The Following, a agente do FBI
Debra Parker afirma que nós somos “definidos” por nossos pais. Ela tornou-se uma
especialista no estudo de seitas porque, na infância, foi distanciada de seus pais que se
tornaram seguidores fanáticos de um guru sedento de poder.29
De fato, até os erros humanos
contribuem para a definição da vocação. Como afirma Stevens:
Os tapetes artesanais persas são repletos de erros. Mas os tapetes acabam sendo lindos
porque quando o mestre-artesão vê um erro na trama, incorpora, junto com seus
ajudantes, o erro em traçado agora alterado. Nosso Deus soberano nunca comete um
erro, nunca falha.30
Isso equivale a dizer que a vocação ou chamado para o serviço cumpre o propósito
divino revelado em sua criação e providência. Deus nos criou e nos inseriu no lar em que
crescemos. Ele permitiu que passássemos por cada experiência a fim de nos moldar para
26
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Sales. (Ed.). Vocação. In: Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua
Portuguesa. Versão 1.0. Editora Objetivo Ltda., 2009. CD-ROM).
27
SUA PESQUISA.COM. Mozart: Biografia de Mozart, Suas Principais Obras, Óperas, Sonetos, Concertos,
Composições Para Piano, Sonatas, Serenatas e Outras Composições Musicais. Disponível em:
<http://www.suapesquisa.com/pesquisa/mozart.htm>. Acesso em: 1 mar. 2013.
28
Cf. NEYMAR JÚNIOR: OFICIAL. Carreira. <http://www.neymaroficial.com/nav/carreira.php>. Acesso em: 1
mar. 2013.
29
THE FOLLOWING. Produção de Kevin Williamson. Local: Estados Unidos, 2013, episódio 6: The Fall.
30
STEVENS, Paul. A Hora e a Vez dos Leigos. São Paulo: ABU Editora, 1998, p. 91. Grifo nosso.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  20	
  
sermos e fazermos as obras que ele “preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). Sendo
assim, “é bom discernir a soberania de Deus em nossa formação e maneira de ser. É melhor
viver para Deus no lugar em que estamos, seja onde for. Nisso reside o crescimento e a
graça”.31
Essa compreensão é vital para a saúde da fé e das emoções (figura 08).
Figura 08. Diversas influências para o chamado
Pensemos em José do Egito. Deus esteve com ele em todos os momentos. José passou um
tempo preso, em uma situação que não havia escolhido, para a qual não estava naturalmente
adaptado e que certamente era desagradável. Sua vocação, o resultado de todo o processo
histórico de sua vida, não era o resultado de uma série de escolhas indolores e alegres.
Podemos nos sentir profissionalmente frustrados ou vocacionalmente insatisfeitos mas,
mesmo assim, temos de saber que nossa vida transcorre debaixo do controle de um Deus
soberano. Em outras palavras, é possível passar por dificuldades e enxergar motivos de
frustração, mesmo quando estamos no centro da vontade divina. A aceitação serena deste fato
é o que separa o infantilismo da maturidade (figura 09).
Figura 09. A criação, a providência e o chamado
[11]
Teu, SENHOR, é o poder, a grandeza, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo
quanto há nos céus e na terra; teu, Senhor, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos.
[12]
Riquezas e glória vêm de ti, tu dominas sobre tudo, na tua mão há força e poder; contigo
está o engrandecer e a tudo dar força (1Cr 29.11–12).
31
STEVENS, op. cit., p. 90.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  21	
  
Outro exemplo disso é Moisés. Ele “foi vocacionado e preparado para receber e
comunicar grandes verdades da revelação de Deus. De maneira erudita, e com unção especial,
ele transmitiu à sua gente aquilo que recebera do céu”.32
Ele foi preservado do infanticídio
ordenado pelo Faraó, acolhido na corte egípcia, nutrido e criado em sua primeira infância por
sua própria mãe israelita e, em seguida, pela filha do Faraó (Êx 1.8-16, 22; 2.1-10). Da
afirmação de Atos 7.22 depreende-se que ele recebeu treinamento de alto nível, provavelmente
“ao lado de herdeiros reais da Síria e outras terras”.33
Santos sugere que:
Sem dúvida Moisés desenvolveu-se no campo da filosofia, religião, legislação, geometria,
escrita e tudo o que os mais sábios de então poderiam oferecer-lhe. Era a provisão de Deus
para o homem que deveria ser príncipe de um povo em formação durante quarenta anos em
um deserto. Mas sua missão era ainda maior do que a de um príncipe. Seria o portador da
revelação divina e o iniciador do seu registro; introduziria conceitos de pecado, redenção,
perdão e santificação que formariam o arcabouço para toda a revelação divina posterior;
assentaria as bases da religião judaica, a qual conteria em si os princípios das verdades
divinas que seriam desenvolvidas nos séculos seguintes e alcançariam sua plenitude na vinda
do Messias. Assim, deveria receber preparo espiritual suficiente para torná-lo varão de Deus.
Onde melhor que um deserto?34
O chamado divino pode nos dirigir a experiências aparentemente novas, para a qual
entendemos não ter habilidades ou recursos (Êx 4.10; cf. 2Co 2.16). Por outro lado, o
chamado sempre tem a ver com a totalidade daquilo que somos, definida por nossa
experiência histórica, talentos e qualificações.
4.2	
  O	
  CHAMADO,	
  O	
  CONTENTAMENTO	
  E	
  A	
  FIDELIDADE	
  
O cristão frutífero é alegre. Ele ora e se regozija mesmo diante das coisas negativas (Fp 1.3-4,
17-18). Ele aprende a alegrar-se em Deus para o bem de sua alma (Fp 3.1). Quem não
consegue alegrar-se não produz fruto, pois a amargura impede a frutificação (Hb 12.14-17;
13.17). Mas o cristão deve ir além. Ele precisa chegar ao contentamento: “Aprendi a viver
contente em toda e qualquer situação” (Fp 4.11).
4.2.1	
  O	
  desafio	
  do	
  contentamento	
  e	
  a	
  ameaça	
  do	
  cinismo	
  eclesiástico	
  
Contentar-se é dar-se por satisfeito. Em outras palavras, sentir-se pleno. Nada mais é
necessário. Estamos bem; estamos satisfeitos. Isso nada mais é do que a prática da Palavra de
Deus: “Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu” (Sl 40.8). E ainda: “Bem-aventurado
aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para que assista nos teus átrios; ficaremos satisfeitos
com a bondade de tua casa — o teu santo templo” (Sl 65.4). Aplicado ao serviço da igreja,
contentar-se é satisfazer-se “com a bondade” da igreja!
Lembre-se do vilão que assombra o serviço cristão, o cinismo eclesiástico. Esta doença
nos torna especialistas em enxergar os defeitos da igreja e nos impede de ver sua bondade. Há
“bondade” na igreja porque o Redentor reside nela. A casa do Redentor é boa. A igreja é a
casa de Cristo, a casa do Pai e a casa do Espírito Santo. Ela abriga vidas transformadas. Ela
abriga vidas imperfeitas que desfrutam, todas as semanas, do perdão divino. Ela abriga a
Palavra e os sacramentos. Na comunhão da igreja Deus dispensa sua bênção (Sl 133.3). Falar
32
SANTOS, Jonathan F. dos. O Culto no Antigo Testamento: Sua Relevância Para os Cristãos. São Paulo: Vida
Nova, 1986, p. 7.
33
SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 49.
34
Op. cit., p. 11-12.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  22	
  
mal da igreja é criticar a noiva de Cristo. Quem insiste nisso seca de dentro para fora; não
produz flor, muito menos fruto (cf. Mt 21.18-19).
Quando olhamos apenas os defeitos da igreja nós nos afastamos do serviço ou servimos
por obrigação ou maliciosamente, quais urubus, deliciando-nos com o falatório acerca dos
erros de outras pessoas — geralmente sem reconhecer nossos próprios erros. Isso é contradizer
o verdadeiro chamado divino.
O rei Davi ensinou que o crente deve ter fé, alimentar-se da verdade e agradar-se do
Senhor (Sl 37.3-5). O salmista une o serviço a Deus à alegria (Sl 100.2). Os setenta voltaram
de seus trabalhos alegres (Lc 10.17-20). Paulo, ainda que suportando adversidades, expressava
satisfação no ministério de Cristo (2Co 6.4-10).
Dito de outro modo, a obediência ao chamado de Deus produz autarkeia,
“contentamento”; “suficiência”, ou seja, “um espírito contente com a sua sorte ou porção”.35
Como afirma Hybels:
Nunca conheci um único líder [e isso se aplica a todo cristão] que tenha se arrependido por
ter aceitado e cumprido um chamado difícil. Eles chegam ao fim da vida e dizem: “Puxa, foi
demais. Sabe, foi demais”. Eles têm histórias para contar, livramentos que podem atribuir a
Deus. Respostas de oração. Eles têm uma coleção valiosa de lembranças da fidelidade e da
grandeza de Deus.36
4.2.2	
  A	
  heresia	
  da	
  idolatria	
  da	
  satisfação	
  de	
  nossos	
  desejos	
  
A alegria pode decorrer da afinidade da tarefa recebida com aquilo que nós gostamos de
fazer. Eu conheço cristãos que amam surfe e iniciaram um ministério de testemunho a surfistas.
Outros confeccionam artesanato, organizam coleções, praticam esportes ou conversam com
pessoas. Deus pode inclinar os nossos corações para determinadas coisas e então nos chamar
para servi-lo com elas.
O chamado cristão, no entanto, vai além de meramente nos inserir em serviços
condizentes com nossos gostos ou habilidades. Isso precisa ser muito bem esclarecido porque a
igreja de Cristo tem sido iludida com uma heresia. Esta heresia é, na verdade, uma versão
pseudoevangélica de uma ideia popular: Dizem que a gente é feliz quando faz o que gosta. Este
é o pressuposto por detrás da maioria dos testes vocacionais; encontre algo de que goste e
mergulhe nisso. Quem faz o que gosta é feliz.
Esta ideia atrativa tem uma versão aparentemente cristã. Deixe eu explicar melhor. Há
quase 20 anos eu ouço que os serviços da igreja devem ser orientados por dons. Essa é uma
maneira de sugerir que, conforme os dons espirituais sejam detectados, devemos organizar o
serviço em torno deles.
Isso dá origem ao serviço iupi! A proposta é articulada mais ou menos assim: “Se eu
gosto desenhar, Deus me deu dons artísticos, por isso, meu chamado é para o ministério de
arte cristã”. Ao fazer o que eu gosto na igreja eu sou feliz ou, em outras palavras, eu me
realizo no ministério cristão”. Como isso funciona na prática? Você gosta de música? Lidere o
louvor. Gosta de pintar? Faça cartazes. Gosta de organizar? Lidere uma sociedade interna. Os
resultados são, às vezes, desastrosos, porque tal ensino, apesar de simpático, é antibíblico.
35
LOUW, Johannes P.; NIDA, Eugene Albert. Greek-English Lexicon Of The New Testament: Based On Semantic
Domains. Electronic ed. of the 2nd edition. New York: United Bible Societies, 1996, 298. v. 1.
36
HYBELS, op. cit, p. 7.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  23	
  
O primeiro problema desta ideia é que ela estabelece um alvo de vida equivocado. Ela me
diz que meu alvo nesta existência deve ser feliz “ponto”, ou seja, a felicidade é assumida como
meta final. Nós nos desdobramos para sermos “felizes”. Você já deve ter ouvido pais —
inclusive pais cristãos — dizendo: “O que eu quero para meus filhos é que eles ‘sejam felizes’”.
Líderes de igrejas se esforçam para que os crentes “sejam felizes” — o alvo supremo de alguns
Conselhos é “fazer suas igrejas felizes”.
Isso resulta na síndrome da pesquisa de satisfação. Aqueles que deviam ser guias
espirituais da igreja circulam entre a membresia perguntando: “O que você está achando do
louvor, ou das pregações? O que podemos fazer para você sentir-se mais confortável e feliz?”
O que eles deviam perguntar de fato é: “Você está cumprindo seu chamado com serviço
contente?” Essa ênfase na felicidade egoísta como resultado último da vida é tanto agradável
de dizer e ouvir, quanto absolutamente anticristã.
No mundo esta ideia favorece, de modo neutro, a especialização. As pessoas mergulham
cada vez mais nos detalhes de suas áreas de interesse, desprezando aquilo com que não se
identificam. Negativamente, a mesma ideia fomenta o canto da sereia na chamada crise da
meia-idade: “Eu tenho de sair desta profissão ou casamento; eu mereço ser feliz”.
Surge o descontentamento eclesiástico. No trato com o serviço do reino, a felicidade
torna-se o padrão de medida de nosso envolvimento. “Se eu não estiver feliz, então Deus não
me chamou para isso”. Pastores agora assumem campos somente se a tarefa encaixar-se em
suas habilidades e preferências: “Meu dom é o ensino; eu não posso trabalhar neste ponto de
pregação que exige as habilidades de um evangelista”. Ou ainda “meu dom é administração;
eu não posso visitar”. Ou: “Gosto de trabalhar com jovens; Deus não me chamou para ajudar
aquela congregação de adultos”. E pior: “Deus me chamou para um ministério rural; não
posso assumir uma igreja urbana”, ou vice-versa. Dizem que isso é a aplicação do princípio de
ministérios orientados por dons. Eu chamo isso de deturpação da doutrina do chamado cristão.
Uma heresia.
4.2.3	
  No	
  chamado	
  divino	
  a	
  felicidade	
  está	
  na	
  fidelidade	
  
A verdade é que os serviços da igreja devem ser orientados pelo chamado divino, e a
execução do chamado de Deus nem sempre é acompanhada de alegria juvenil. Jeremias não
transbordou de alegria ao servir (Jr 8.18, 21; 16.1-2; 20.7-9). Muito menos Jonas (Jn 1.1-3).
Cumprir o chamado divino foi doloroso e desgastante para o Senhor Jesus Cristo e seus
apóstolos (Lc 22.44; cf. Mt 26.38; Gl 4.19). A alegria natural decorre de eu fazer o que gosto
e quero. O contentamento ou alegria espiritual decorre de eu fazer a vontade de Deus, ainda
que esta contrarie aquilo que eu escolheria naturalmente (Mt 26.39, 42).
Dito de outro modo, o alvo da vida cristã é ser feliz desfrutando de Deus (1ª pergunta do
Breve Catecismo de Westminster). Nós não devemos nos desdobrar para sermos felizes e sim
para sermos obedientes e fiéis (Ap 2.10). Na comunhão obediente com Deus, desfrutamos da
experiência apontada pelo salmista: “Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há
plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl 16.11).
Calvino podia fazer sua vontade, dedicando-se aos estudos acadêmicos, mas Deus o
levou para a igreja pouco amigável de Genebra. William Carey podia deliciar-se com os
recursos da sociedade inglesa, mas Deus o mandou para a Índia. Simonton podia ter
estabelecido um próspero negócio nos Estados Unidos, mas Deus ordenou que ele viesse ao
Brasil para estabelecer a Igreja Presbiteriana do Brasil e morrer com menos de 40 anos de
idade. Mais: Jesus podia ter continuado em sua glória, mas veio ao mundo sofrer afrontas e
morrer em uma cruz. Biblicamente falando, ser útil é melhor do que ser feliz.
O	
  CRISTÃO	
  FRUTÍFERO	
  —	
  P.	
  24	
  
Sendo assim, abandonemos a falácia da “geração jujubinha da felicidade”. Nosso alvo na
existência é cumprir o chamado de Deus. O que os pais crentes devem desejar para seus filhos
é que eles sejam obedientes à vontade de Deus. Os líderes de igrejas devem esforçar-se para
que os crentes sejam fiéis. Isso pode ser desagradável de dizer e ouvir, mas é absolutamente
bíblico e, portanto, cristão: “Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que,
havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa” (Hb 10.36).
Na próxima aula nós finalizaremos a primeira parte deste curso, estudando sobre os
conflitos vocacionais do cristão e realizando um teste de averiguação de nosso chamado.
RESUMO	
  DA	
  AULA	
  4	
  
A vocação ou chamado para o serviço cumpre o propósito divino revelado em sua criação e
providência. Sendo assim, é bom discernir a soberania de Deus em nossa formação e maneira
de ser. Essa compreensão é vital para a saúde da fé e das emoções.
O chamado divino sempre tem a ver com aquilo que somos, com a totalidade de nossa
estrutura, definida por nossa experiência histórica, talentos, qualificações e anseios.
O cristão frutífero é alegre. Quem não consegue alegrar-se não produz fruto, pois a
amargura impede a frutificação. Mas o cristão deve ir além. Ele precisa chegar ao
contentamento.
Quando olhamos apenas os defeitos da igreja nós nos afastamos do serviço ou servimos
por obrigação ou maliciosamente. Isso é contradizer o verdadeiro chamado divino.
As igrejas cristãs tem sido iludidas com a heresia de que a gente é feliz quando faz o que
gosta, ou seja, na igreja, os serviços da igreja devem ser orientados por dons.
A verdade é que os serviços da igreja devem ser orientados pelo chamado divino, e a
execução do chamado de Deus para o serviço nem sempre é acompanhada de alegria juvenil.
A alegria natural decorre de eu fazer o que gosto e quero. O contentamento ou alegria
espiritual decorre de eu fazer a vontade de Deus, ainda que esta contrarie aquilo que eu
escolheria naturalmente (Mt 26.39, 42).
Nós não devemos nos desdobrar para sermos felizes e sim para sermos obedientes. Sendo
assim, abandonemos a falácia da “geração jujubinha da felicidade”. Nosso alvo na existência é
cumprir o chamado de Deus. O que os pais crentes devem desejar para seus filhos é que eles
sejam obedientes à vontade de Deus. Os líderes de igrejas devem esforçar-se para que os
crentes sejam fiéis.

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Aulas 01 04-cristao_frutifero2013

  • 1. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  1   1ª  aula   APRESENTAÇÃO  DO  CURSO   A fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo (Cl 1.28). VISÃO  GERAL  DA  1ª  AULA   Informações contidas neste capítulo:  O núcleo bíblico do cristão frutífero.  O alvo do curso Cristão Frutífero.  Vocação, habilidades e jeito de ser. 1.1  O  NÚCLEO  BÍBLICO  DO  CRISTÃO  FRUTÍFERO   A expressão “cristão frutífero”, conforme usada nestes estudos, é extraída de uma oração de Paulo, registrada no início de sua carta aos Colossenses: [3] Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós, [4] desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos; [5] por causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, [6] que chegou até vós; como também, em todo o mundo, está produzindo fruto e crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade; [7] segundo fostes instruídos por Epafras, nosso amado conservo e, quanto a vós outros, fiel ministro de Cristo, [8] o qual também nos relatou do vosso amor no Espírito. [9] Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; [10] a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; [11] sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, [12] dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz (Cl 1.3–12). 1.1.1  Uma  rápida  explicação  da  oração  de  Paulo   Paulo agradece a Deus pela fé daqueles crentes e suplica ao Senhor que lhes abençoe. Primeiramente ele reconhece alguns sinais de verdadeira conversão naqueles irmãos: Fé e amor, ouvir a Palavra entendendo a “graça de Deus na verdade” e ser transformado (v. 3-7). Daí ele pede a Deus algumas coisas em favor deles: Que eles transbordem “de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual” (v. 9). E que tal conhecimento produza santidade prática: Que eles vivam “de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus” (v. 10). Para isso eles precisam de provisão de poder espiritual a fim de terem paciência e aguentarem firmes, como verdadeiros adoradores (v. 11-12).
  • 2. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  2   É o poder que suporta o insuportável e se derrama em alegria e gratidão ao Pai que nos fez fortes o suficiente para que tenhamos parte em tudo de glorioso e belo que ele tem para nós.1 1 Salvação. Ele crê sinceramente em Cristo e vive em amor; isso indica que ele é regenerado e convertido (v. 4). 2 Santidade. Ele vive para o agrado de Deus (v. 10). 3 Serviço. Ele serve a Deus com boas obras (v. 10). 4 Conhecimento espiritual. Ele cresce em “pleno conhecimento de Deus” (v. 10). 5 Força. Ele é fortalecido “com todo o poder” espiritual (v. 11). 1.1.2  A  vida  cristã  é  obra  da  graça  de  Deus   Cada um dos itens desse perfil é uma faceta do desfrute da pessoa e obra de Cristo. Os cristãos de Colossos estavam sendo atraídos por ideias estranhas, aparentemente uma mistura de filosofia, rigorismo judaico e culto aos anjos (2.8, 11, 16-23). Daí a ênfase repetida do apóstolo na supremacia do Redentor (1.13-23). Sendo assim, cada aspecto desse perfil é obra da graça divina no cristão. Observemos que eles são tópicos de uma oração e não mandamentos. Com exceção do primeiro ponto, que é uma constatação da salvação daqueles crentes, os outros itens são anseios de Paulo. Os cinco pontos agrupados formam o perfil de um cristão ideal. Isso quer dizer que nós também precisamos orar por isso — para que nossas vidas sejam alinhadas, cada vez mais, a este padrão bíblico de vida cristã. De certo modo, Paulo aplica o ensino de nosso Senhor: A produção de fruto permanente exige a prática da oração (Jo 15.16).2 Em suma, no v. 6 o apóstolo se refere ao evangelho que “produz fruto e cresce”. Em seguida, no v. 10, ele ora para que os crentes frutifiquem em “toda boa obra” e cresçam no “pleno conhecimento” de Deus, ou seja, que eles sejam cristãos frutíferos (figura 01). Figura 01. O cristão completo ou frutífero 1.1.3  A  vida  cristã  é  equilibrada   A Bíblia propõe a vida cristã equilibrada. Nós somos inclinados a assumir uma “versão” de vida cristã de um ou, talvez, de alguns pontos. Cada vez que deixamos de viver todos os 1 PETERSON, Eugene H. Mensagem: Bíblia em Linguagem Contemporânea. São Paulo: Vida, 2011, p. 1681. 2 “O meio de frutificação para a qual eles [os crentes] são escolhidos é a oração em nome de Jesus” (CARSON, D. A. O Comentário de João. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 524).
  • 3. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  3   cinco aspectos da vida cristã, nós descartamos o Cristianismo autêntico e encarnamos uma distorção ou caricatura. As cinco distorções mais comuns são mencionadas a seguir:  O crente da fé ponto — o relaxado. Aquele que enfatiza a justificação pela graça mediante a fé sem a continuada dependência do Espírito, sem busca de crescimento na graça e conhecimento de Cristo e sem fruto de santidade ou serviço. Ele insiste em que somos eleitos ponto, quando a Bíblia ensina que nós fomos eleitos a fim de ou para a santidade, testemunho e frutificação (cf. Jo 15.16; Ef 1.4; 1Ts 1.4-7; 1Pe 1.2; 2.9).  O crente rigorista ou santarrão insiste na necessidade de sermos santos. Ele é rigoroso na observância de regras para manutenção da pureza e entende que sem o domínio dos sentidos não é possível agradar a Deus. O problema é que ele faz isso sem destacar que a santidade é a aplicação graciosa da redenção pelo Espírito (Rm 8.1-11; Gl 3.1-5). Ele se torna legalista e corre o perigo de considerar-se superior a qualquer pessoa que não se sujeita a determinadas regras ou não seja tão santa quanto ele.  O crente serviçal ou o ativista. Para este a coisa mais necessária é servir. Ele ama mergulhar em ministérios e julga isso muito mais relevante do que qualquer conhecimento teológico. Como o trabalho para Deus é prioritário, importa assumir mais cargos. Sendo assim, ele se abre para dois perigos, quais sejam, o ativismo que o arrasta sob uma torrente de trabalho esgotante, e o pragmatismo que ignora a doutrina cristã e preocupa-se exclusivamente com resultados.  O crente cerebral — o sabichão. Em alguns filmes de ficção científica, os alienígenas são mostrados como seres de corpo pequeno e cabeça enorme. Assim são os crentes sabichões. Desenvolveram o conhecimento bíblico e teológico, mas permaneceram atrofiados no restante de suas funções. Conhecem os mínimos detalhes do que aconteceu no Concílio de Trento, mas não se preocupam com o cumprimento das ordenanças de Deus no poder do Espírito Santo. O maior perigo que correm é o do orgulho intelectual que afasta o coração de Jesus (Jo 7.48-49).  O crente 220v ou o ungidão. No interior de São Paulo nós dizemos que uma pessoa cheia de energia é ligada em 220v — “fulano é 220v”. O crente 220v é semelhante a um dispositivo altamente energizado. Enquanto ele fala é quase possível enxergar faíscas saindo de suas orelhas. Ele toca nas pessoas e elas caem. Ele ora e o teto treme. O tempo todo ele busca mais poder espiritual orando no monte, jejuando e participando de campanhas de consagração. Ele aprecia o ministério solo e não se sente confortável no trabalho em grupo, sujeitando-se a outros irmãos da igreja. Todas as posições acima destoam do padrão bíblico de vida cristã. Ao enfatizar uma coisa em detrimento de outras, elas impedem a formação do cristão frutífero. Sem enfatizar o desfrute e prática de todos os cinco aspectos da experiência cristã mencionados na oração de Paulo, nós permanecemos capengas. 1.2  O  ALVO  DO  CURSO  CRISTÃO  FRUTÍFERO   Este curso sublinha o terceiro item do perfil do cristão frutífero — o cristão como servo. Ele tem como alvo auxiliar e motivar você a servir a Deus dentro da igreja. Ao invés de entender a igreja como uma plateia — um ajuntamento composto de muitos expectadores que assistem e avaliam o desempenho de um pequeno corpo de obreiros remunerados e voluntários heroicos — temos de enxergá-la como família, corpo de Cristo e nação de sacerdotes (Ef 2.19-20; Rm 12.4-5; 1Pe 2.9; Ap 1.5-6).
  • 4. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  4   A consequência desta vivência familiar e orgânica, bem como do sacerdócio universal, é o serviço de cada crente com seus dons (Rm 12.6-8; Ef 4.15-16; 1Pe 4.10-11). Sendo assim, é bíblico e desejável que aproveitemos as oportunidades de serviço disponíveis na igreja, testando nossas habilidades e confirmando nossa vocação. Nós podemos servir a Deus de acordo com o nosso chamado, com alegria e responsabilidade, ou seja, exercendo ministérios frutíferos. 1.3  CHAMADO,  HABILIDADES  E  JEITO  DE  SER   O envolvimento com o trabalho na igreja exige a consideração de três coisas: O chamado para o serviço, que aponta para áreas de identificação ou encaminhamentos da providência; nossas habilidades provenientes dos dons da criação e dons espirituais; e o nosso jeito de ser ou o modo como funcionamos e interagimos uns com os outros (figura 02).3 Figura 02. Chamado, habilidades e jeito de ser 1.3.1  Nosso  chamado  para  o  serviço   Paulo tinha a convicção de que Deus o chamara para ser um apóstolo (1Co 1.1). Isso o motivou a trabalhar de todo coração, com responsabilidade e alegria (At 20.24; 2Co 6.4-10). Sem tal motivação o serviço se torna cansativo e desgastante (Sl 100.2; cf. Hb 13.17). Algumas vezes este chamado relaciona-se diretamente com as coisas que gostamos de fazer. Outras vezes Deus nos chama para fazer coisas que nós jamais desejaríamos ou escolheríamos.4 Enquanto a pessoa inconversa vive para satisfazer seus próprios desejos; o convertido tem compromisso com o agrado do Senhor (Ef 2.3; 2Co 5.9). O chamado nos ajuda a descobrir onde devemos servir. 1.3.2  Nossas  habilidades  ou  dons   Deus nos deu habilidades — dons da criação e dons espirituais — para trabalharmos em sua igreja (1Co 12.7). Os sacerdotes do AT deviam consagrar seus dons a Deus (Lv 8.22-29). O jovem Timóteo foi admoestado a não negligenciar o seu dom (1Tm 4.14; 2Tm 1.6). A 3 O leitor atento verificará a semelhança com as categorias apresentadas no curso Rede Ministerial — o lugar do crente na igreja, a sua paixão e o seu estilo pessoal. As expressões “paixão” e “estilo pessoal” são intencionalmente evitadas. Conforme pode ser constatado no decorrer deste texto, eu uso a formatação geral ao mesmo tempo em que rejeito alguns pressupostos, conclusões e proposições da Rede Ministerial. 4 Eis um primeiro ponto de discordância com o material original de Rede Ministerial. Corre-se perigo ao identificar precipitadamente a vocação divina somente com as coisas com as quais nos entusiasmamos.
  • 5. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  5   prática de tais recomendações implica em conhecer as habilidades que o Senhor nos concedeu, e em usá-las para a sua glória. Nossas habilidades ou dons indicam o que fazemos enquanto servimos. 1.3.3  Nosso  jeito  de  ser   Cada um de nós é divinamente moldado com características exclusivas (Sl 139.13-18). Jesus chamou doze discípulos, cada um diferente do outro (Mt 10.1-4). Cada cristão é destacado para uma tarefa ímpar; não existem duas pessoas que façam a mesma coisa de forma idêntica. O apóstolo Pedro, com sua personalidade e formação, foi usado na pregação do evangelho aos judeus (At 2.14-41). Paulo, dotado de outras características, foi útil e frutífero na proclamação da palavra aos gentios (At 9.15-16, 17.22- 37; cf. Gl 1.15-17). Sendo assim, as tentativas de reproduzir o ministério de outra pessoa geram frustrações. Alguns indivíduos mergulham em tarefas que exigem isolamento e concentração. Outros são mais voltados para a interação com pessoas. Nosso jeito de ser indica como nós servimos. RESUMO  DA  AULA  1   A expressão “cristão frutífero”, conforme usada nestes estudos, é extraída de uma oração do apóstolo Paulo, registrada em Colossenses 1.3-12. O cristão frutífero é salvo, santo, servo, conhecedor e fortalecido por Deus. O desfrute e prática de todos os cinco aspectos da experiência cristã mencionados na oração de Paulo caracterizam a vida cristã equilibrada. O curso Cristão Frutífero trabalha a terceira característica listada acima — o cristão como servo. Ele tem como alvo auxiliar e motivar você a servir a Deus dentro da igreja. Os cristãos devem compreender a igreja como família, corpo de Cristo e nação de sacerdotes. A consequência desta vivência familiar e orgânica, bem como do sacerdócio universal, é o serviço de cada crente com seus dons. O envolvimento com o trabalho na igreja exige a consideração de três coisas: O chamado para o serviço, que aponta para áreas de identificação ou encaminhamentos da providência; nossas habilidades provenientes dos dons da criação e dons espirituais; e o nosso jeito de ser ou o modo como funcionamos e interagimos uns com os outros. O chamado para o serviço nos ajuda a descobrir onde devemos servir; as habilidades ou dons indicam o que fazemos enquanto servimos e nosso jeito de ser indica como nós servimos.
  • 6. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  6   2ª  aula   CHAMADOS  PELO  EVANGELHO  PARA  O  SERVIÇO   Portanto, dize à casa de Israel: Assim diz o SENHOR Deus: Convertei- vos, e apartai- vos dos vossos ídolos, e dai as costas a todas as vossas abominações (Ez 14.6). VISÃO  GERAL  DA  2ª  AULA   Informações contidas neste capítulo:  A seriedade do chamado.  Uma palavra sobre Amanda Lindhout.  O chamado do evangelho.  O chamado é para a vontade de Deus e possui várias camadas. 2.1  A  SERIEDADE  DO  CHAMADO   Isso não é brincadeira ou conto de fadas. O assunto desta aula depreende-se da verdade absoluta de Deus. Eu escrevo assim para que você não desligue sua mente nem mergulhe no universo paralelo da abstração, considerando que isso não tem nada a ver com sua vida prática. Sinceramente eu creio que Deus me chamou para insistir no assunto deste capítulo até o fim de meu ministério. Quase três décadas de exercício de liderança cristã, participando de comissões de estudo, congressos e reuniões de concílios, me deixam convencido de que esta é uma das questões mais importantes para a igreja neste tempo. Eu estou falando do chamado para o serviço. Minha observação é a seguinte: Estamos perdendo a noção do que seja isso. Senão vejamos; há menos de meio século atrás uma das características principais de quem se candidatava ao Sagrado Ministério era a diligência, ou seja, era ordenado ao pastorado o indivíduo trabalhador. Tinha-se por certo de que servir a Deus como pastor equivalia a trabalhar muito. E isso era tido como bíblico, normal e desejável (2Co 11.23; Cl 1.29; 1Tm 5.17). Hoje há pastores especialistas em muita coisa, mas nem todos são identificados pelos membros de suas igrejas ou colegas de ministério como trabalhadores. O mesmo pode ser dito dos crentes em geral. Enfatiza-se muito a adoração, mas deixa-se de lado que Deus procura não apenas “adoradores”, mas, também “trabalhadores” (Jo 4.23- 24; Mt 9.37-38). O grande fato é que, deste o início, adoração e trabalho são inseparáveis (Gn 2.15).5 Eu fico ouvindo estes especialistas em estratégia, missiologia urbana, comunicação e antropologia cultural, todos dedicados ao estudo do crescimento da igreja. Eu leio seus textos e analiso seus ensaios e gráficos. Depois penso nas igrejas que estão realmente crescendo na atualidade e concluo que o que faz diferença, o que leva uma igreja a crescer é simplesmente o empenho prático de seus membros no trabalho. Igrejas que crescem trabalham; o povo se reúne para refletir e trabalhar. Simples assim. E isso de acordo com determinado padrão, belamente demonstrado nas duas primeiras linhas da 3ª estrofe do hino Coração Quebrantado: 5 As palavras da Bíblia Hebraica traduzidas por “cultivar” e “guardar” são ligadas ao culto no tabernáculo do AT.
  • 7. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  7   Todo o meu ser não considero meu; Quero gastá-lo no serviço teu.6 Observe o padrão. Eu não pertenço a mim mesmo. Eu quero gastar-me no serviço de Deus. Isso nada mais é do que a aplicação da analogia da luz. Nós assumimos que somos “luz do mundo” (Mt 5.14-16). O problema é que não somos alcançados pela força da analogia, porque em nosso tempo, para iluminar um ambiente, basta apertar um botão. No tempo do NT, porém, a iluminação era provida por lâmpadas alimentadas com azeite (Mt 25.1-3). Até cerca de 150 anos atrás, iluminava-se um ambiente com lampiões, lamparinas ou velas. O que tais dispositivos de iluminação tinham em comum? Eles proviam luz desgastando- se. O cristão não brilha como uma lâmpada elétrica, e sim, como uma vela. Ele derrete enquanto trabalha. Ele se gasta no serviço. Era assim antigamente. Mais uma vez, isso não é brincadeira. Temos de entender o que cantamos. Hoje toda a ênfase é em como manter o nosso bem-estar, em como Deus nos consola com sua graça, em alívio e motivação; em Deus provendo o que eu necessito para ter uma semana vitoriosa. Até o século passado, os cristãos queriam “se gastar” no serviço. O problema maior da igreja é que levantou-se uma geração que perdeu a noção do que seja se gastar no serviço de Cristo. 2.2  UMA  PALAVRA  SOBRE  AMANDA  LINDHOUT   Provavelmente você nunca ouviu falar de Amanda (ou Linda) Lindhout. Ela é uma cristã profissional de comunicação, que recebeu um chamado para o serviço. Sua história é brevemente comentada pelo pastor Bill Hybels. Ela é uma jornalista canadense de 30 anos, que ouviu sobre as coisas terríveis que acontecem na Somália e então disse ao jornal onde trabalhava: “Estou indo para a Somália para escrever sobre as coisas terríveis que acontecem lá”. Pouco depois de ali chegar, ela foi sequestrada e mantida por 15 meses. E durante aqueles 15 meses ela foi abusada, espancada, passou fome e foi maltratada de maneiras tais que devem envergonhar o mundo. E depois que a família e amigos conseguiram o dinheiro do resgate a tiraram dali, ela voltou ao Canadá e se recuperou um pouco, e depois Deus chegou para ela e disse: “Volte. Volte, mas não como jornalista. Volte e ofereça ajuda humanitária às crianças da Somália”. Agora, pense. Especialmente vocês, mulheres, pensem: Como alguém faz isso? Esse é um chamado difícil. Ela disse “OK” e voltou a servir às crianças no país que a fez passar pelo pior pesadelo imaginável. Isso é coragem. Não o que eu faço. Isso é coragem.7 O que faz uma pessoa abrir mão de seu próprio conforto e, mesmo sofrendo maus-tratos, continuar firme em um lugar ou tarefa? A resposta simples é esta: O chamado de Deus para o serviço. É a mesma coisa que movia Paulo (At 18.9-11; 27.23-26; cf. 26.19). Amanda é uma cristã que ouviu o chamado de Deus para o serviço. Ela tinha todas as razões pra dizer “estou traumatizada e tenho de pensar em meu bem-estar” ou “agora eu não quero mais saber da fé cristã; se Deus existisse e me amasse mesmo ele não permitiria que isso acontecesse”. 6 ORR, J. E.; KASCHEL, W. Hino 67. Coração Quebrantado. In: NOVO CÂNTICO. 15. ed. Reimp. 2007. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 62. 7 HYBELS, Bill. Um Chamado Difícil. In: The Global Leadership Summit 2011, p. 5. Cf. CBC NEWS. Amanda Lindhout Talks Candidly About Abuse While In Captivity. Disponível em: <http://www.cbc.ca/news/canada/calgary/story/2013/02/15/calgary-amanda-lindhout-speaks.html>. Acesso em: 17 fev. 2013.
  • 8. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  8   Notem o contraste entre esta jovem de pouco mais de 30 anos e nós. Nós nos sentimos chateados se entendemos que ninguém nos dá suporte na igreja; eu não recebo a atenção que gostaria de receber. Esta é a geração atual de cristãos. Temos de voltar ao “todo o meu ser não considero meu; quero gastá-lo no serviço teu”. 2.3  O  CHAMADO  DO  EVANGELHO   Ao pensarmos em servir a Deus, temos de considerar o nosso chamado. Existe uma noção equivocada de que chamado é somente para pastores ou missionários, mas receber um chamado divino é a experiência de todo cristão. A palavra usada pela Bíblia para referir-se a isso é “vocação” (1Co 1.26; Ef 4.1, 4; Fp 3.14; 2Tm 1.9; Hb 3.1; 2Pe 1.10). A vocação é um chamado para a salvação que produz conversão (figura 03). É uma obra do Espírito que aplica a palavra pregada no coração dos eleitos (At 16.13-15; Rm 8.28-30). O Espírito Santo opera de tal maneira sobre o povo eleito de Deus, que eles são levados ao arrependimento e à fé, e assim feitos herdeiros da vida eterna, por meio de Jesus Cristo, Senhor deles. Esta obra do Espírito, nas Escrituras, chama-se vocação.8 Figura 03. O chamado para a conversão muda a vida A ideia de chamado ou vocação é pactual: O Deus vivo estabelece um pacto conosco, abençoando-nos e responsabilizando-nos.9 O modo como isso se dá é personalizado. Abraão, Moisés, Davi, Josias, Isaías, Jeremias e os apóstolos do NT exemplificam isso: Cada um foi chamado em seu próprio tempo e lugar de um modo diferente. 2.3.1  Tudo  novo  e  para  Cristo   O fato é que, em determinado momento de nossa história, Deus nos regenera. Então ouvimos seu chamado ao arrependimento e fé. É quando nos convertemos a ele. Nós abandonamos a prática do pecado (Is 31.6; Jr 3.4; Ez 14.6; 18.30; 33.11; Os 14.2; Jl 2.12-13; Mc 1.15; At 3.19). Fazemos isso confiando unicamente em Cristo como nosso Salvador e Senhor (Mt 11.28-30; Jo 3.14-18; 3.36; 5.24; 6.40, 47; 12.46; At 10.43; 13.39; 16.31; Rm 1.16; 10.4). A partir de então, a vida que era centrada em nossos próprios interesses passa a organizar-se em torno da vontade de Deus (Mt 6.10; 7.21; 12.50; 26.42; Jo 4.34; 6.38; cf. Hb 10.7; Jo 7.17; Rm 12.2; Ef 5.17; Cl 1.9; Hb 13.20-21; 1Jo 2.17). Enfim, o chamado para a conversão muda tudo (2Co 5.17; Cl 1.13-14). Não existe meia conversão. Assim como em Gênesis 1 Deus cria e organiza todas as coisas por sua palavra, atualmente ele vem até nós e nos acha perdidos e mergulhados no caos. Então ele fala em nosso coração e nos alcança pelo Espírito. Ocorre nova criação e reorganização (2Co 4.6). Somos refeitos e santificados. 8 HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 961. 9 Nestes estudos o termo “pacto” aponta para a aliança que Deus estabeleceu com o homem na criação, reafirmada e garantida pelos pactos da redenção (firmado na eternidade entre o Pai e o Filho) e da graça (firmado entre Deus e o homem).
  • 9. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  9   Preste atenção. Isso não é fábula. Isso é real. 2.3.2  A  praga  do  cinismo  eclesiástico   Por que eu insisto nisso? Porque os membros de igrejas correm o risco de serem afetados por um dos piores venenos espirituais — o cinismo eclesiástico. Eles se tornam cínicos com as coisas da igreja. Eles ouvem verdades como essas e pensam: “Isso não é bem assim; isso não é real”. Alguns cogitam: “Esse pastor é bem-intencionado, tadinho. Vive no universo da Teologia e não no mundo concreto”, ou ainda: “Esse pastor chegou agora e não conhece nossa igreja. Pastor, acorde pra vida! O senhor não sabe como as coisas funcionam; aqui as coisas são diferentes, pastor!” Cinismo eclesiástico. Cuidado com isso. Não é porque alguns estão sendo reservados para disciplina e juízo que nós devemos deixar de crer e viver na pureza e simplicidade do evangelho (2Ts 2.11-12; 2Pe 3.7; cf. Rm 9.19-29). Quando alguém dentro da igreja faz o que não devia, ao invés de copiar o comportamento errado, eu preciso aplicar Mateus 18.15-20 e ao mesmo tempo me preservar, para que eu não caia (1Co 10.12-13; Ap 2.25-29). E quando percebermos as “coisas antigas” — as tentações de outrora — querendo nos arrastar para desobediência a Deus, oremos: “Pai Celestial, aplica tua verdade em meu coração; eu não estou mais na carne, mas em Cristo; não estou mais nas trevas, mas na luz; e não apenas eu estou na luz, mas eu sou luz no Senhor” (Rm 6.1-14; Cl 1.13; Ef 5.1-20). 2.4  O  CHAMADO  É  PARA  A  VONTADE  DE  DEUS  E  POSSUI  VÁRIAS  CAMADAS   Notemos o que o apóstolo diz em 1Pedro 4.1-6. A vida cristã é coisa séria. Cristo morreu para o pecado. Sendo assim, enquanto nós vivemos sobre esta terra, digamos não ao pecado e vivamos conforme o propósito divino. Deus nos chamou pra que agora nós não vivamos mais segundo nossas vontades e sim, segundo a vontade dele. Pedro chega ao ponto de dizer “basta o tempo decorrido” (v. 3). Parem com isso, chegou a hora de viver segundo a vontade de Deus! Há crentes professos de uma década que insistem em prosseguir segundo os seus desejos e preferências. Basta! Entendamos o evangelho! Isso não é brincadeira. Agora nós vivemos para o agrado dele — esta é uma das características do cristão frutífero (cf. seção 1.1.1). Aquela jovem que foi para a Somália entendeu isso. Ela está fazendo diferença no mundo como cristã, seguindo o chamado de Deus. Você não foi criado por Deus para apenas ganhar dinheiro. Você não está nesta vida apenas para preocupar-se com as coisas deste mundo. Você está nesta vida — e isso não é brincadeira — para cumprir o propósito de Deus que te moldou para que você faça alguma coisa para glória dele. Ele quer que você faça e não apenas ouça como deve ser feito, ou como determinado missionário está fazendo. Ele quer que você faça. Um hino coloca a questão nesses termos: O trabalho a que Jesus te chama aqui, Como será feito, se o não for por ti?10 Cada um prestará contas diante de Deus pelo modo como respondeu a este chamado. Você está pronto para isso? Ademais, o chamado que começa na conversão se aprofunda em camadas. Considerando que a conversão é uma moeda de dois lados (arrependimento e fé), há 10 WRIGTH, H. M. Hino 312. Há Trabalho Certo. In: NOVO CÂNTICO, op. cit., p. 284. Grifo nosso.
  • 10. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  10   um chamado à santidade incluído na conversão. Conversão é isso: Começar a conhecer a Deus, amar a Deus e caminhar com ele. Mas isso desemboca em outras três coisas: Serviço na igreja, missão e mandato cultural (figura 04). Figura 04. Camadas distintas do chamado de Deus Existe uma chamado para o serviço na igreja, um chamado para a missão e um chamado para o cumprimento do mandato cultural. Nós estudaremos tudo isso logo adiante, mas ficam aqui apresentadas as ideias gerais. Na próxima aula nós entenderemos o que são e como interagem estas camadas do chamado divino. RESUMO  DA  AULA  2   Atualmente enfatiza-se muito a adoração, mas deixa-se de lado que Deus procura não apenas “adoradores”, mas, também “trabalhadores”. O que faz diferença, o que leva uma igreja a crescer é simplesmente o empenho prático de seus membros no trabalho. O problema maior da igreja é que levantou-se uma geração que perdeu a noção do que seja se gastar no serviço de Cristo. Quando nós pensamos em como servir a Deus, temos de considerar melhor o nosso chamado. A palavra usada pela Bíblia para referir-se a isso é “vocação”. O chamado é pactual — é a aplicação prática do pacto ou aliança de Deus conosco — e é experimentado desde a conversão, quando respondemos ao evangelho com arrependimento e fé. Esse chamado para a conversão muda tudo. Deus nos chamou pra que agora nós não vivamos mais segundo nossas vontades e sim, segundo a vontade dele. Há um chamado à santidade incluído na conversão. Conversão é isso: Começar a conhecer a Deus, amar a Deus e caminhar com ele. Mas isso desemboca em outras três coisas: Serviço na igreja, missão e mandato cultural.
  • 11. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  11   3ª  aula   AS  CAMADAS  DO  CHAMADO  E  O  SACERDÓCIO  UNIVERSAL  DOS  CRISTÃOS   Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações (Jr 1.5). VISÃO  GERAL  DA  3ª  AULA   Informações contidas neste capítulo:  Uma rápida descrição das camadas do chamado para o serviço.  O chamado e o sacerdócio universal. 3.1  UMA  RÁPIDA  DESCRIÇÃO  DAS  CAMADAS  DO  CHAMADO  PARA  O  SERVIÇO   Todas as palavras bíblicas que tratam do chamado referem-se a um “apelo de Deus a uma tarefa ou função específica e sua relação especial com o seu povo”.11 Esses dois aspectos — relacionamento e serviço — nos remetem a Marcos 3.13-15: [13] Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele. [14] Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar [15] e a exercer a autoridade de expelir demônios. Deus nos chama soberanamente para “estarmos com ele” (relacionamento) e, em seguida, nos incumbe de uma ou mais tarefas (serviço). Quem se apega somente ao serviço transforma- se em ativista seco. Quem destaca exclusivamente a comunhão com Deus torna-se místico despreocupado com as obras do reino. Nós somos corrigidos com a compreensão das camadas do chamado. Relembrando, a consciência do chamado de Deus é iniciada na conversão e se aprofunda ao longo da vida nos chamados para o serviço na igreja, para a missão e para o cumprimento do mandato cultural (cf. seção 2.4, figura 04). 3.1.1  O  chamado  para  o  serviço  na  igreja   O cristão é chamado para servir a Deus na igreja, ou melhor, servir a Deus servindo a igreja. Eu afirmo isso sabendo que a pessoa pode amar a igreja como instituição religiosa distanciando-se de uma experiência pulsante e real com o evangelho. Eu falo de amar a Deus amando aos irmãos, nos termos de 1João 4.7-8: [7] Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. [8] Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. E ainda: 11 MYERS, Allen C. The Eerdmans Bible Dictionary. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1987, p. 183. Grifos nossos. Os termos bíblicos são qārā (Êx 3.4 na Bíblia Hebraica) e o termo grego kaleō (Mt  25.14) e seus cognatos gregos proskaleō  (Mc  3.13); klēsis  (Rm  11.29); klētos  (Rm  1.1); legō  (no  sentido  de  nomear,  perguntar  ou  responder;  Mt  1.16;   Mc  2.16;  4.11); phōneō  (Mc  10.49) e chrēmatizō  (denominar  ou  advertir  com  instrução;  At  11.26;  Hb  8.5).
  • 12. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  12   [1] Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, [2] completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. [3] Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. [4] Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros (Fp 2.1-4). Isso implica em trabalhar nas coisas ligadas ao culto, à liderança cristã e aos esforços gerais e comuns do corpo de Cristo (Êx 31.1-11; Js 1.1-9; Jz 6.11-24; Ef 4.15-16; Fp 1.27-30; 1Ts 1.2-4). Depois de ensinar aos crentes de Corinto que eles deviam servir uns aos outros com seus dons espirituais (1Co 12.1—14.40), Paulo sublinha que o trabalho realizado para Deus — como sugere o contexto, na e para a igreja — não é vão (1Co 15.58). Na aula passada eu mencionei o perigo do cinismo eclesiástico (cf. seção 2.3.2). Há diversas coisas que se instalam em nossa alma ao ponto de nos retirar da esfera do serviço da igreja. Há quem assuma: “Ah, eu não tenho mais nada a fazer nesta igreja; não tenho mais idade para trabalhar”, desconsiderando que Moisés iniciou seu ministério aos 80 anos de idade (At 7.23-24, 30-31). Outros lamentam por algo que lhes aconteceu tempos atrás: “Por causa daquilo eu nunca mais farei nada nesta igreja”. Estes se esquecem de que Jesus, mesmo tendo razões de sobra para não mais contar com seus discípulos, “amou-os até o fim” (Jo 13.1). Tais pessoas não entendem o que estão perdendo. Elas não levam em conta que foram chamadas por Deus para viver para a vontade dele e não para as suas próprias vontades. Elas acham que o chamado para o serviço na igreja é um detalhe que pode ser dispensado. “Como eu sou salvo pela graça apesar da igreja, não preciso me envolver com ela mais do que o mínimo necessário” — eis o que pensam. Ao fazer isso, mesmo considerando-se cuidadosas na doutrina, tornam-se falhas na prática. Não era este o problema de nossos irmãos de Éfeso? (Ap 2.2, 4). O fato é que a vocação para o serviço não é uma opção. 3.1.2  O  chamado  para  a  missão   Nós somos chamados à missão. Cristo convocou Pedro e André para se tornarem “pescadores de homens” (Mt 4.18-19). Após a ressurreição eles foram incumbidos de pregar o evangelho e fazer discípulos na dependência do Espírito Santo (Lc 24.48; Jo 20.21-22; Mt 28.18-20; At 1.8). Paulo recebeu uma vocação semelhante (At 26.12-18). Ele considerou a evangelização como “obrigação” (1Co 9.16-18). Os demais apóstolos e as igrejas de Filipos e Tessalônica entenderam o chamado para a missão e cumpriram a tarefa (Fp 1.5; 1Ts 1.8). Além do esforço dos apóstolos e evangelistas, a força vital para a evangelização residia no testemunho dos crentes em suas esferas de influência. Levi convidou seus colegas de trabalho para uma refeição (Mc 2.14-15). O geraseno foi enviado à sua casa (Mc 5.19). Pedro conheceu Jesus através de seu irmão André (Jo 1.41). Natanael, por meio de Felipe (Jo 1.45). Na cura do filho do “oficial do rei”, creram “ele e toda a sua casa” (Jo 4.53). Cornélio ouviu a pregação de Pedro juntamente com “seus parentes e amigos íntimos” (At 10.24). Lídia foi batizada juntamente com “toda a sua casa” (At 16.15). De modo semelhante o carcereiro de Filipos (At 16.30-34). A evangelização não era um programa, mas o transbordamento da vida espiritual dos crentes para aqueles à sua volta. Uma pesquisa realizada 20 anos atrás demonstrou que “uma maioria esmagadora dos cristãos atualmente ativos (76%) têm suas raízes espirituais no relacionamento com um amigo
  • 13. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  13   ou parente, por meio do qual veio a Jesus e à igreja”.12 Os pesquisadores chamaram isso de “fator oikos”, “casa”(Gr.) e apresentaram a experiência de Michael Lehfeldt (figura 05): Figura 05. Oikos: Michael Lehfeldt cumprindo a missão “Oikos” é a palavra grega para “casa”. Na cultura greco-romana o termo “oikos” não se referia somente à família direta com a qual a pessoa morava, mas também incluía escravos, amigos e até colegas de trabalho. “Oikos” descrevia a esfera de influência de uma pessoa, a rede de seus relacionamentos.13 12 SCHWARZ, Christian. Evangelização Básica: Uma Maneira Agradável de Ensinar as Boas Novas. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2003, p. 25. Grifo nosso. 13 SCHWARZ, op. cit., p. 27.
  • 14. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  14   Lehfeldt era pedreiro em Hamburgo.14 Ele conheceu a graça de Deus aos 24 anos de idade, em setembro de 1978. Daí ele testemunhou à sua irmã, Florence Krohn. A semente do evangelho continuou dando frutos de modo que, até 1990, outras 15 pessoas haviam sido trazidas para o conhecimento de Cristo.15 Ainda que tenha havido diferença nos eventos e métodos empregados, o princípio que une todas as iniciativas é o relacionamento que abre a porta para o testemunho. Isso se aplica a nós. Não há um cristão sequer que não seja chamado para a missão. Pensemos no ladrão pregado na cruz ao lado de Jesus e que creu no Senhor. Ele não teve tempo de realizar qualquer ação missionária, mas até hoje sua vida é um testemunho (Lc 23.39-43). Não há desculpa para negligenciarmos a evangelização. O chamado para a missão não é uma opção. 3.1.3  O  chamado  para  o  cumprimento  do  mandato  cultural   Por fim, nós somos chamados para cumprir o mandato cultural — glorificar a Deus no desempenho de nossa carreira ou trabalho. Esta camada do chamado foi destacada por Martinho Lutero. Ele aplicou a expressão alemã beruf, “vocação”, às profissões em geral. Um sapateiro, um ferreiro, lavrador, cada um tem o ofício e a ocupação próprios de seu trabalho. [...] cada qual deve ser útil e prestativo aos outros com seu ofício ou ocupação, de forma que múltiplas ocupações estão todas voltadas para uma comunidade, para promover corpo e alma, da mesma forma com que os membros do corpo servem todos um ao outro.16 Este chamado é uma aplicação de Colossenses 3.17, 22-25. Tudo o que fazemos deve ser para Deus e em nome do Senhor Jesus Cristo. E isso é para todos os crentes, ou seja, a convocação divina para o cumprimento do mandato cultural não é uma opção. 3.1.4  O  problema  dos  cristãos  sadios  na  doutrina  e  doentes  na  prática   Alguns de nós já ouviram falar de ortodoxia. Ortodoxia é o ensino conforme a sã doutrina, fiel à Palavra de Deus. O oposto de ortodoxia é heterodoxia ou heresia. Por isso o heterodoxo é chamado de herege. Ao longo de sua história a igreja dedicou esforços significativos ao combate às heresias e estabelecimento da ortodoxia. Poucos ouviram falar de ortopraxia. No vocabulário médico, ortopraxia é a “correção mecânica de deformações”.17 Na vida cristã, é a prática conformada à sã doutrina, ou seja, obedecer a Deus. O oposto de ortopraxia é heteropraxia, viver contrário à vontade de Deus revelada na Bíblia, ou seja, desobediência. Cristãos podem ser sadios na doutrina e doentes na prática, aceitando as doutrinas relativas à salvação e descartando o chamado para o serviço. É possível dizer que amamos a Deus nos esquivando da palavra de Cristo: Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele (Jo 14.21). 14 Lehfeldt foi um dentre os vários cristãos pesquisados por Schwarz. Cf. op. cit., p. 29-31. 15 Até 1993, mais seis pessoas haviam sido acrescentadas à lista. Ibid., p. 30. 16 LUTERO, Martinho. À Nobreza Cristã da Nação Alemã, p. 81, apud BOBSIN, Oneide. Luteranos na Ética Protestante, in Revista Eletrônica do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Protestantismo (NEPP) da Escola Superior de Teologia, v. 6, jan.-abr. de 2005, p. 12. Disponível em: <http://www3.10 est.edu.br/nepp>. Acesso em: 22 out. 2012. 17 FERREIRA, op. cit., loc. cit.
  • 15. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  15   A saúde da igreja é prejudicada quando os seus membros não atendem ao chamado para o serviço em todas as suas dimensões. Isso é muitas vezes respaldado pelo desconhecimento ou compreensão deficiente do ensino da Bíblia sobre o sacerdócio universal. 3.2  O  CHAMADO  E  O  SACERDÓCIO  UNIVERSAL   A gente acha normal Deus ter chamado Abraão ou Gideão no passado, mas entende que hoje as coisas são diferentes. Talvez “chamado” seja para missionários ou pastores, mas não para os crentes em geral. “Quem sabe” — pensamos — “isso de Deus chamar cada cristão para viver absolutamente dentro de sua vontade não passe de fábula”. 3.2.1  O  clericalismo  como  distorção  da  doutrina  do  chamado   A ideia comum é que os crentes são separados em duas categorias: Os clérigos (especialistas) e leigos (cristãos comuns — tabela 01). A ideia popular sobre o chamado para o serviço OS CLÉRIGOS — O CLERO OS LEIGOS — O LAICATO Únicos chamados para o serviço sacerdotal Especialistas em Teologia Chamados para sustentar a igreja e os clérigos Desconhecedores ou alheios à Teologia Serviço remunerado Serviço voluntário esporádico Tabela 01. Cristãos clérigos e leigos Esse modo de enxergar as coisas é antibíblico. No NT klēros significa “uma parte” — um pedaço ou porção (At 1.17). Nos primeiros dias da igreja os cristãos se autodenominavam “clero” por entender que eram “escolhidos para serem de Deus, a ‘parte’ [ou porção] do SENHOR (como em Dt 32.9)”.18 Menos de dois séculos depois, “já nos tempos de Tertuliano [klēros] era usada em referência aos oficiais ordenados da igreja, ou seja: Bispos, sacerdotes e diáconos”.19 O termo “clérigo” passou a identificar o indivíduo “chamado por Deus” e que pertence à classe eclesiástica; o sacerdote, pastor ou obreiro remunerado da igreja. Os leigos são também chamados laicato, por causa da palavra grega laos, “povo” (laikos, laico ou leigo, é o que provém do laos).20 O dicionário define “leigo” como alguém “que é estranho ou alheio a um assunto; desconhecedor”.21 Na igreja, trata-se da pessoa que não se ocupa da Teologia, ou seja, o crente que não foi chamado para o ministério. O que cabe a este é sustentar a igreja com seus dízimos e ofertas, além de frequentar esporadicamente as reuniões. Alguns “leigos” podem até ajudar como voluntários, mas esse não é o procedimento padrão, uma vez que o trabalho de Deus deve ser feito pelos clérigos. Esse entendimento errôneo da igreja como clero e laicato é chamado de clericalismo. 18 MORRIS, L. Clérigos. In: ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova. 1988, p. 290-291. v. 1 A—D. 19 MORRIS, op. cit., p. 291. Grifo nosso. 20 Na cultura ocidental, “leigo” é o oposto de religioso. A Bíblia usa laos para referir-se a povo em geral, mas insiste em qualificar os crentes como povo especial de Deus. “Deus tomou dentre os ethnē [grupos étnicos ou nações] um laos para o seu nome (At 15.14)” (BIETENHARD, H. Povo. In: COENEN, Lothar; BROWN, Colin. (Orgs.). Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2ed. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 1743. v. 2). Cf. ainda: NASCIMENTO FILHO, Antonio José do. O Laicato na Teologia e Ensino dos Reformadores. Disponível em: <http://www.thirdmill.org/files/portuguese/31822~9_18_01_3-22-31_PM~laicato.htm>. Acesso em: 21 fev. 2013. 21 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Leigo. In: Dicionário Aurélio Eletrônico 7.0. Curitiba: Editora Positivo, 2009. CD-ROM). Grifos nossos.
  • 16. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  16   Larry Richards propõe um esquema visual do clericalismo, reproduzido com pequenas modificações na figura 06: Em primeiro lugar, a igreja é o pastor. (Quantas vezes falamos de uma igreja local nestes termos: “A igreja do pastor tal, no centro”?) Em segundo lugar, visualiza-se os membros leigos da igreja assim, como normalmente estão, sentados em fileiras, encarando o pastor, prontos para serem servidos. Depois podemos imaginar os líderes leigos de um lado, porque são invisíveis para a congregação que nem sabe para que eles existem, a não ser quando se reúnem em diretoria uma vez por mês ou servem a ceia.22 Observe os detalhes: “O pastor — o que serve. Os leigos — não servem, mas são servidos. Líderes [e voluntários] leigos — presentes, mas com função incerta”.23 Figura 06. Como funciona uma igreja que assume o clericalismo O clericalismo não é assumido por má fé. Muitos dos que entendem o chamado para o serviço dentro desta moldura clerical o fazem na melhor das intenções. A questão é que isso não é bíblico, e aquilo que não é bíblico provoca problemas sérios. Considerar apenas o pastor capaz de realizar o ministério produz uma distorção. Todo o trabalho da igreja é centralizado nele e os leigos são tidos como seus colaboradores e vivendo em sua órbita. Ele é não apenas o clérigo ou vocacionado. Ele também é remunerado e os crentes, sem perceber, assumem mais e mais o papel de clientes que cobram o bom serviço pastoral sem engajar-se diretamente no trabalho da igreja. O papel do pastor é apresentar “todo homem perfeito em Cristo” (Cl 1.28). Isso implica em treinar os crentes para que estes sirvam em suas áreas de chamado. Uma das tarefas do pastor, conforme a Bíblia, é investir nos crentes que querem trabalhar, capacitando-os para o desempenho do seu serviço (Ef 4.11-12). O clericalismo, no entanto, produz igrejas acomodadas e pastores que se encaixam na descrição sugerida por Kyle Hasselden: “Escoteiro agradável, sempre prestativo, sempre pronto para ajudar; como o querido das senhoras idosas e como suficientemente reservado com as mais jovens; como a imagem paternal para os moços e companheiro para os homens solitários; como o cordial recepcionista afável nos chás e nos almoços dos clubes cívicos”. Se isto, de algum modo, retrata a realidade, mesmo que as pessoas gostem do pregador, certamente não irão respeitá-lo.24 22 RICHARDS, Lawrence O. Teologia da Educação Cristã. 3ed. Reimp. 2008. São Paulo: Vida Nova, 1996, p. 107. 23 RICHARDS, op. cit., loc. cit. 24 HADELSEN, Kyle. The Urgency of Preaching, p. 88-89, apud ROBINSON, Haddon W. Pregação Bíblica: O Desenvolvimento e a Entrega de Sermões Expositivos. 1ed. Atualizada e Ampliada. Reimp. 2011. São Paulo: Vida Nova, 2002.
  • 17. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  17   3.2.2  O  clericalismo  é  corrigido  pelo  sacerdócio  universal  dos  crentes   A Bíblia ensina o sacerdócio universal dos crentes. No AT o sacerdote era o mediador entre Deus e Israel. Com sua obra redentora, Jesus assumiu o ofício de sumo sacerdote dos cristãos (Hb 5.5-10). Em seguida, por seu sangue, ele “nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai” (Ap 1.6). Isso quer dizer, em primeiro lugar, que não há mais uma classe sacerdotal distinta da igreja como um todo; todos os crentes podem achegar-se a Deus oferecendo “sacrifício de louvor” aceitável por meio de Cristo (Hb 13.15; cf. Rm 12.1-2). Em segundo lugar, o serviço a Deus, que no AT era restrito aos sacerdotes e levitas, agora é atribuído a cada um dos crentes, de modo que a igreja-serva é estabelecida como bênção de Cristo ao mundo (Lc 24.48; Jo 17.20-23; At 1.8; Ef 3.10-12 — figura 07). Figura 07. O sacerdócio de todos os crentes Sendo assim: Permanece, no entanto, um sacerdócio que pertence àqueles que, pela fé, foram unidos com Cristo. Costuma-se chamá-lo “o sacerdócio de todos os crentes”. [...] É por isso que somos exortados a “apresentar os nossos corpos”, isto é, a nós mesmos, “por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”(Rm 12.1); e, ao nos sacrificarmos de boa vontade, expressamos o nosso sacerdócio espiritual nos atos de louvor e gratidão, e no serviço altruísta ao nosso próximo, quando ministramos às suas necessidades.[...] [O reino de Cristo], acima de tudo, não possui nenhum sistema sacerdotal. Não interpõe nenhuma tribo ou classe sacerdotal entre Deus e o homem, por cujo exclusivo intermédio Deus é reconciliado e o homem perdoado. Cada membro individual tem comunhão pessoal com a Cabeça Divina. A pessoa tem responsabilidade imediata diante dele, e é diretamente dele que ela obtém perdão e adquire força.25 O que isso nos diz? Nós somos um corpo de sacerdotes (1Pe 2.9-10). Deus nos chama para o serviço que ele “de antemão preparou” para nós (Ef 2.10; Jr 1.4-5; Gl 1.15-17). Sendo assim, podemos declarar como o autor do Catecismo de Heidelberg: “Como sacerdote, ofereço minha vida a ele como sacrifício vivo de gratidão” (pergunta 32). RESUMO  DA  AULA  3   Em todo chamado divino devem ser consideradas duas coisas (exemplificadas em Mc 3.13-15), relacionamento e serviço. 25 HUGHES, P. E. Sacerdócio. In: ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 329. v. 3 N—Z.
  • 18. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  18   O chamado para o serviço na igreja é uma convocação a amar a Deus amando aos irmãos, nos termos de 1João 4.7-8. Isso implica em trabalhar nas coisas ligadas ao culto, à liderança cristã e aos esforços gerais e comuns do corpo de Cristo. Nós somos chamados à missão. Não há desculpa para negligenciarmos a evangelização. O chamado para a missão não é uma opção. Por fim, nós somos chamados para cumprir o mandato cultural — glorificar a Deus no desempenho de nossa carreira ou trabalho. A ideia comum é que os crentes são separados em duas categorias: Os clérigos (especialistas) e leigos (cristãos comuns). Esse modo de enxergar as coisas é antibíblico. Tal entendimento errôneo da igreja como clero e laicato é chamado de clericalismo. No clericalismo apenas o pastor é considerado capaz de realizar o ministério. Todo o trabalho da igreja é centralizado nele e os leigos são tidos como seus colaboradores e vivendo em sua órbita. Só ele é considerado vocacionado. Isso produz distorções, pois, de acordo com Efésios 4.11-12, uma das tarefas do pastor é investir nos crentes que querem trabalhar, capacitando-os para o “desempenho do seu serviço”. De fato, a doutrina do sacerdócio universal dos crentes ensina que o serviço a Deus, que no AT era restrito aos sacerdotes e levitas, agora é atribuído a cada crente, de modo que a igreja-serva é estabelecida como bênção de Cristo ao mundo.
  • 19. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  19   4ª  aula   MOLDADOS  E  CHAMADOS  PARA  O  SERVIÇO  CONTENTE   E Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras (At 7.22). VISÃO  GERAL  DA  4ª  AULA   Informações contidas neste capítulo:  O chamado e a providência.  O chamado, o contentamento e a fidelidade. 4.1  O  CHAMADO  E  A  PROVIDÊNCIA   Além do significado relacionado à vida religiosa, entende-se vocação como uma “disposição natural e espontânea que orienta uma pessoa no sentido de uma atividade, uma função ou profissão; pendor, propensão, tendência”.26 É nesse sentido que dizemos que uma pessoa tem vocação para as artes, a medicina ou os negócios. Vocações são formatadas a partir das experiências da infância e no contexto das relações com nossos pais. Wolfgang Amadeus Mozart demonstrou genialidade musical desde cedo. Aos 14 anos compôs Mitridate, sua primeira ópera de grande sucesso. Ele foi influenciado por seu pai, o músico e compositor Leopold Mozart.27 De modo semelhante, é difícil dissociar as figuras de Neymar da Silva Santos Júnior (o jogador que empolga os torcedores do Santos e da Seleção Brasileira) e Neymar da Silva Santos, seu pai e empresário.28 Vocação infundida na relação pai-filho. No 6º episódio da 1ª temporada da série The Following, a agente do FBI Debra Parker afirma que nós somos “definidos” por nossos pais. Ela tornou-se uma especialista no estudo de seitas porque, na infância, foi distanciada de seus pais que se tornaram seguidores fanáticos de um guru sedento de poder.29 De fato, até os erros humanos contribuem para a definição da vocação. Como afirma Stevens: Os tapetes artesanais persas são repletos de erros. Mas os tapetes acabam sendo lindos porque quando o mestre-artesão vê um erro na trama, incorpora, junto com seus ajudantes, o erro em traçado agora alterado. Nosso Deus soberano nunca comete um erro, nunca falha.30 Isso equivale a dizer que a vocação ou chamado para o serviço cumpre o propósito divino revelado em sua criação e providência. Deus nos criou e nos inseriu no lar em que crescemos. Ele permitiu que passássemos por cada experiência a fim de nos moldar para 26 HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Sales. (Ed.). Vocação. In: Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0. Editora Objetivo Ltda., 2009. CD-ROM). 27 SUA PESQUISA.COM. Mozart: Biografia de Mozart, Suas Principais Obras, Óperas, Sonetos, Concertos, Composições Para Piano, Sonatas, Serenatas e Outras Composições Musicais. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/pesquisa/mozart.htm>. Acesso em: 1 mar. 2013. 28 Cf. NEYMAR JÚNIOR: OFICIAL. Carreira. <http://www.neymaroficial.com/nav/carreira.php>. Acesso em: 1 mar. 2013. 29 THE FOLLOWING. Produção de Kevin Williamson. Local: Estados Unidos, 2013, episódio 6: The Fall. 30 STEVENS, Paul. A Hora e a Vez dos Leigos. São Paulo: ABU Editora, 1998, p. 91. Grifo nosso.
  • 20. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  20   sermos e fazermos as obras que ele “preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). Sendo assim, “é bom discernir a soberania de Deus em nossa formação e maneira de ser. É melhor viver para Deus no lugar em que estamos, seja onde for. Nisso reside o crescimento e a graça”.31 Essa compreensão é vital para a saúde da fé e das emoções (figura 08). Figura 08. Diversas influências para o chamado Pensemos em José do Egito. Deus esteve com ele em todos os momentos. José passou um tempo preso, em uma situação que não havia escolhido, para a qual não estava naturalmente adaptado e que certamente era desagradável. Sua vocação, o resultado de todo o processo histórico de sua vida, não era o resultado de uma série de escolhas indolores e alegres. Podemos nos sentir profissionalmente frustrados ou vocacionalmente insatisfeitos mas, mesmo assim, temos de saber que nossa vida transcorre debaixo do controle de um Deus soberano. Em outras palavras, é possível passar por dificuldades e enxergar motivos de frustração, mesmo quando estamos no centro da vontade divina. A aceitação serena deste fato é o que separa o infantilismo da maturidade (figura 09). Figura 09. A criação, a providência e o chamado [11] Teu, SENHOR, é o poder, a grandeza, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu, Senhor, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos. [12] Riquezas e glória vêm de ti, tu dominas sobre tudo, na tua mão há força e poder; contigo está o engrandecer e a tudo dar força (1Cr 29.11–12). 31 STEVENS, op. cit., p. 90.
  • 21. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  21   Outro exemplo disso é Moisés. Ele “foi vocacionado e preparado para receber e comunicar grandes verdades da revelação de Deus. De maneira erudita, e com unção especial, ele transmitiu à sua gente aquilo que recebera do céu”.32 Ele foi preservado do infanticídio ordenado pelo Faraó, acolhido na corte egípcia, nutrido e criado em sua primeira infância por sua própria mãe israelita e, em seguida, pela filha do Faraó (Êx 1.8-16, 22; 2.1-10). Da afirmação de Atos 7.22 depreende-se que ele recebeu treinamento de alto nível, provavelmente “ao lado de herdeiros reais da Síria e outras terras”.33 Santos sugere que: Sem dúvida Moisés desenvolveu-se no campo da filosofia, religião, legislação, geometria, escrita e tudo o que os mais sábios de então poderiam oferecer-lhe. Era a provisão de Deus para o homem que deveria ser príncipe de um povo em formação durante quarenta anos em um deserto. Mas sua missão era ainda maior do que a de um príncipe. Seria o portador da revelação divina e o iniciador do seu registro; introduziria conceitos de pecado, redenção, perdão e santificação que formariam o arcabouço para toda a revelação divina posterior; assentaria as bases da religião judaica, a qual conteria em si os princípios das verdades divinas que seriam desenvolvidas nos séculos seguintes e alcançariam sua plenitude na vinda do Messias. Assim, deveria receber preparo espiritual suficiente para torná-lo varão de Deus. Onde melhor que um deserto?34 O chamado divino pode nos dirigir a experiências aparentemente novas, para a qual entendemos não ter habilidades ou recursos (Êx 4.10; cf. 2Co 2.16). Por outro lado, o chamado sempre tem a ver com a totalidade daquilo que somos, definida por nossa experiência histórica, talentos e qualificações. 4.2  O  CHAMADO,  O  CONTENTAMENTO  E  A  FIDELIDADE   O cristão frutífero é alegre. Ele ora e se regozija mesmo diante das coisas negativas (Fp 1.3-4, 17-18). Ele aprende a alegrar-se em Deus para o bem de sua alma (Fp 3.1). Quem não consegue alegrar-se não produz fruto, pois a amargura impede a frutificação (Hb 12.14-17; 13.17). Mas o cristão deve ir além. Ele precisa chegar ao contentamento: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp 4.11). 4.2.1  O  desafio  do  contentamento  e  a  ameaça  do  cinismo  eclesiástico   Contentar-se é dar-se por satisfeito. Em outras palavras, sentir-se pleno. Nada mais é necessário. Estamos bem; estamos satisfeitos. Isso nada mais é do que a prática da Palavra de Deus: “Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu” (Sl 40.8). E ainda: “Bem-aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para que assista nos teus átrios; ficaremos satisfeitos com a bondade de tua casa — o teu santo templo” (Sl 65.4). Aplicado ao serviço da igreja, contentar-se é satisfazer-se “com a bondade” da igreja! Lembre-se do vilão que assombra o serviço cristão, o cinismo eclesiástico. Esta doença nos torna especialistas em enxergar os defeitos da igreja e nos impede de ver sua bondade. Há “bondade” na igreja porque o Redentor reside nela. A casa do Redentor é boa. A igreja é a casa de Cristo, a casa do Pai e a casa do Espírito Santo. Ela abriga vidas transformadas. Ela abriga vidas imperfeitas que desfrutam, todas as semanas, do perdão divino. Ela abriga a Palavra e os sacramentos. Na comunhão da igreja Deus dispensa sua bênção (Sl 133.3). Falar 32 SANTOS, Jonathan F. dos. O Culto no Antigo Testamento: Sua Relevância Para os Cristãos. São Paulo: Vida Nova, 1986, p. 7. 33 SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 49. 34 Op. cit., p. 11-12.
  • 22. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  22   mal da igreja é criticar a noiva de Cristo. Quem insiste nisso seca de dentro para fora; não produz flor, muito menos fruto (cf. Mt 21.18-19). Quando olhamos apenas os defeitos da igreja nós nos afastamos do serviço ou servimos por obrigação ou maliciosamente, quais urubus, deliciando-nos com o falatório acerca dos erros de outras pessoas — geralmente sem reconhecer nossos próprios erros. Isso é contradizer o verdadeiro chamado divino. O rei Davi ensinou que o crente deve ter fé, alimentar-se da verdade e agradar-se do Senhor (Sl 37.3-5). O salmista une o serviço a Deus à alegria (Sl 100.2). Os setenta voltaram de seus trabalhos alegres (Lc 10.17-20). Paulo, ainda que suportando adversidades, expressava satisfação no ministério de Cristo (2Co 6.4-10). Dito de outro modo, a obediência ao chamado de Deus produz autarkeia, “contentamento”; “suficiência”, ou seja, “um espírito contente com a sua sorte ou porção”.35 Como afirma Hybels: Nunca conheci um único líder [e isso se aplica a todo cristão] que tenha se arrependido por ter aceitado e cumprido um chamado difícil. Eles chegam ao fim da vida e dizem: “Puxa, foi demais. Sabe, foi demais”. Eles têm histórias para contar, livramentos que podem atribuir a Deus. Respostas de oração. Eles têm uma coleção valiosa de lembranças da fidelidade e da grandeza de Deus.36 4.2.2  A  heresia  da  idolatria  da  satisfação  de  nossos  desejos   A alegria pode decorrer da afinidade da tarefa recebida com aquilo que nós gostamos de fazer. Eu conheço cristãos que amam surfe e iniciaram um ministério de testemunho a surfistas. Outros confeccionam artesanato, organizam coleções, praticam esportes ou conversam com pessoas. Deus pode inclinar os nossos corações para determinadas coisas e então nos chamar para servi-lo com elas. O chamado cristão, no entanto, vai além de meramente nos inserir em serviços condizentes com nossos gostos ou habilidades. Isso precisa ser muito bem esclarecido porque a igreja de Cristo tem sido iludida com uma heresia. Esta heresia é, na verdade, uma versão pseudoevangélica de uma ideia popular: Dizem que a gente é feliz quando faz o que gosta. Este é o pressuposto por detrás da maioria dos testes vocacionais; encontre algo de que goste e mergulhe nisso. Quem faz o que gosta é feliz. Esta ideia atrativa tem uma versão aparentemente cristã. Deixe eu explicar melhor. Há quase 20 anos eu ouço que os serviços da igreja devem ser orientados por dons. Essa é uma maneira de sugerir que, conforme os dons espirituais sejam detectados, devemos organizar o serviço em torno deles. Isso dá origem ao serviço iupi! A proposta é articulada mais ou menos assim: “Se eu gosto desenhar, Deus me deu dons artísticos, por isso, meu chamado é para o ministério de arte cristã”. Ao fazer o que eu gosto na igreja eu sou feliz ou, em outras palavras, eu me realizo no ministério cristão”. Como isso funciona na prática? Você gosta de música? Lidere o louvor. Gosta de pintar? Faça cartazes. Gosta de organizar? Lidere uma sociedade interna. Os resultados são, às vezes, desastrosos, porque tal ensino, apesar de simpático, é antibíblico. 35 LOUW, Johannes P.; NIDA, Eugene Albert. Greek-English Lexicon Of The New Testament: Based On Semantic Domains. Electronic ed. of the 2nd edition. New York: United Bible Societies, 1996, 298. v. 1. 36 HYBELS, op. cit, p. 7.
  • 23. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  23   O primeiro problema desta ideia é que ela estabelece um alvo de vida equivocado. Ela me diz que meu alvo nesta existência deve ser feliz “ponto”, ou seja, a felicidade é assumida como meta final. Nós nos desdobramos para sermos “felizes”. Você já deve ter ouvido pais — inclusive pais cristãos — dizendo: “O que eu quero para meus filhos é que eles ‘sejam felizes’”. Líderes de igrejas se esforçam para que os crentes “sejam felizes” — o alvo supremo de alguns Conselhos é “fazer suas igrejas felizes”. Isso resulta na síndrome da pesquisa de satisfação. Aqueles que deviam ser guias espirituais da igreja circulam entre a membresia perguntando: “O que você está achando do louvor, ou das pregações? O que podemos fazer para você sentir-se mais confortável e feliz?” O que eles deviam perguntar de fato é: “Você está cumprindo seu chamado com serviço contente?” Essa ênfase na felicidade egoísta como resultado último da vida é tanto agradável de dizer e ouvir, quanto absolutamente anticristã. No mundo esta ideia favorece, de modo neutro, a especialização. As pessoas mergulham cada vez mais nos detalhes de suas áreas de interesse, desprezando aquilo com que não se identificam. Negativamente, a mesma ideia fomenta o canto da sereia na chamada crise da meia-idade: “Eu tenho de sair desta profissão ou casamento; eu mereço ser feliz”. Surge o descontentamento eclesiástico. No trato com o serviço do reino, a felicidade torna-se o padrão de medida de nosso envolvimento. “Se eu não estiver feliz, então Deus não me chamou para isso”. Pastores agora assumem campos somente se a tarefa encaixar-se em suas habilidades e preferências: “Meu dom é o ensino; eu não posso trabalhar neste ponto de pregação que exige as habilidades de um evangelista”. Ou ainda “meu dom é administração; eu não posso visitar”. Ou: “Gosto de trabalhar com jovens; Deus não me chamou para ajudar aquela congregação de adultos”. E pior: “Deus me chamou para um ministério rural; não posso assumir uma igreja urbana”, ou vice-versa. Dizem que isso é a aplicação do princípio de ministérios orientados por dons. Eu chamo isso de deturpação da doutrina do chamado cristão. Uma heresia. 4.2.3  No  chamado  divino  a  felicidade  está  na  fidelidade   A verdade é que os serviços da igreja devem ser orientados pelo chamado divino, e a execução do chamado de Deus nem sempre é acompanhada de alegria juvenil. Jeremias não transbordou de alegria ao servir (Jr 8.18, 21; 16.1-2; 20.7-9). Muito menos Jonas (Jn 1.1-3). Cumprir o chamado divino foi doloroso e desgastante para o Senhor Jesus Cristo e seus apóstolos (Lc 22.44; cf. Mt 26.38; Gl 4.19). A alegria natural decorre de eu fazer o que gosto e quero. O contentamento ou alegria espiritual decorre de eu fazer a vontade de Deus, ainda que esta contrarie aquilo que eu escolheria naturalmente (Mt 26.39, 42). Dito de outro modo, o alvo da vida cristã é ser feliz desfrutando de Deus (1ª pergunta do Breve Catecismo de Westminster). Nós não devemos nos desdobrar para sermos felizes e sim para sermos obedientes e fiéis (Ap 2.10). Na comunhão obediente com Deus, desfrutamos da experiência apontada pelo salmista: “Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl 16.11). Calvino podia fazer sua vontade, dedicando-se aos estudos acadêmicos, mas Deus o levou para a igreja pouco amigável de Genebra. William Carey podia deliciar-se com os recursos da sociedade inglesa, mas Deus o mandou para a Índia. Simonton podia ter estabelecido um próspero negócio nos Estados Unidos, mas Deus ordenou que ele viesse ao Brasil para estabelecer a Igreja Presbiteriana do Brasil e morrer com menos de 40 anos de idade. Mais: Jesus podia ter continuado em sua glória, mas veio ao mundo sofrer afrontas e morrer em uma cruz. Biblicamente falando, ser útil é melhor do que ser feliz.
  • 24. O  CRISTÃO  FRUTÍFERO  —  P.  24   Sendo assim, abandonemos a falácia da “geração jujubinha da felicidade”. Nosso alvo na existência é cumprir o chamado de Deus. O que os pais crentes devem desejar para seus filhos é que eles sejam obedientes à vontade de Deus. Os líderes de igrejas devem esforçar-se para que os crentes sejam fiéis. Isso pode ser desagradável de dizer e ouvir, mas é absolutamente bíblico e, portanto, cristão: “Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa” (Hb 10.36). Na próxima aula nós finalizaremos a primeira parte deste curso, estudando sobre os conflitos vocacionais do cristão e realizando um teste de averiguação de nosso chamado. RESUMO  DA  AULA  4   A vocação ou chamado para o serviço cumpre o propósito divino revelado em sua criação e providência. Sendo assim, é bom discernir a soberania de Deus em nossa formação e maneira de ser. Essa compreensão é vital para a saúde da fé e das emoções. O chamado divino sempre tem a ver com aquilo que somos, com a totalidade de nossa estrutura, definida por nossa experiência histórica, talentos, qualificações e anseios. O cristão frutífero é alegre. Quem não consegue alegrar-se não produz fruto, pois a amargura impede a frutificação. Mas o cristão deve ir além. Ele precisa chegar ao contentamento. Quando olhamos apenas os defeitos da igreja nós nos afastamos do serviço ou servimos por obrigação ou maliciosamente. Isso é contradizer o verdadeiro chamado divino. As igrejas cristãs tem sido iludidas com a heresia de que a gente é feliz quando faz o que gosta, ou seja, na igreja, os serviços da igreja devem ser orientados por dons. A verdade é que os serviços da igreja devem ser orientados pelo chamado divino, e a execução do chamado de Deus para o serviço nem sempre é acompanhada de alegria juvenil. A alegria natural decorre de eu fazer o que gosto e quero. O contentamento ou alegria espiritual decorre de eu fazer a vontade de Deus, ainda que esta contrarie aquilo que eu escolheria naturalmente (Mt 26.39, 42). Nós não devemos nos desdobrar para sermos felizes e sim para sermos obedientes. Sendo assim, abandonemos a falácia da “geração jujubinha da felicidade”. Nosso alvo na existência é cumprir o chamado de Deus. O que os pais crentes devem desejar para seus filhos é que eles sejam obedientes à vontade de Deus. Os líderes de igrejas devem esforçar-se para que os crentes sejam fiéis.