O discurso presidencial da ditadura militar brasileira
1.
2. Sobre a autora: Freda Indursky
• Local de Nascimento: Porto Alegre;
• Graduação em Letras na UFGRS (atualmente é professora no
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas no Instituto
de Letras);
• Mestrado em Besançon – França;
• Doutorado na Unicamp;
• Atualmente trabalha no programa de pós-graduação em
Letras, onde ministra disciplinas relacionadas à Análise do
Discurso, bem como orienta trabalhos vinculados à mesma
área.
3. Sobre o livro
• O livro é resultado de uma pesquisa realizada no âmbito do
Programa de Pós Graduação do Instituto de Estudos de
Linguagem, na Unicamp, da qual resultou a tese de Freda
Indursky, intitulada “A fala dos quartéis e as outras vozes: uma
análise do discurso presidencial da Terceira República
(196401984), apresentada e defendida em dezembro de
1992.
4. O tema
Dentre as várias consequências do Golpe de Estado de 1964
destaca-se a suspensão das formas constitucionais de
representatividade, substituídas no exercício do poder pelas
Forças Armadas. Estas elaboraram a doutrina da segurança e
do desenvolvimento militar que se perpetuou por vinte anos no
poder, instaurando o autoritarismo no Brasil.
Neste contexto, o trabalho propõe-se a examinar o discurso
presidencial da República Militar Brasileira à luz da Análise do
Discurso (AD).
5. Reflexão sobre o objetivo
• “Espero contribuir para iluminar as práticas discursivas
daquele período que não deve jamais ser esquecido. A
esse propósito, vale lembrar que, no entendimento de
Courtine, ‘memória e esquecimento são indissociáveis da
enunciação do político’. Por isso, transcrevo aqui o
poema de Maiakowski, que esclarece apropriadamente
porque julguei que esse livro ultrapassa o limiar do
interesse puramente acadêmico.” (Freda Insdursky)
6. Maikowski
Na primeira noite
eles se aproximam
e colhem uma flor
de nosso jardim
e não dizemos nada
Na segunda noite,
já não mais se escondem;
pisam nas flores
matam o nosso cão
e não dizemos nada
Até que um dia
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada
já não podemos dizer nada.
“Lembrar, neste caso, é a condição do dizer” (Freda Indursky. Porto Alegre, agosto de
1994)
7. Questionamentos iniciais
• O discurso presidencial da República Militar Brasileira é único,
uniforme e homogêneo, daí resultando um espaço
hermeticamente fechado sobre si mesmo?
• O discurso presidencial da República Militar Brasileira é
heterogêneo, não constituindo um espaço discursivo
impermeável a outros discursos do campo político?
8. Metodologia
• Investigação do discurso autoritário e sua relação com o
discurso da República Militar Brasileira;
• Exame do corpus discursivo;
• Relação dos discursos presidenciais da República Militar
Brasileira com outros discursos;
• Exame do corpus de acordo com o discurso-outro.
9. Estrutura do trabalho
• Preparando a análise: questões teóricas e metodológicas
que embasam o livro;
• O funcionamento do discurso presidencial: construção do
sujeito presidencial, construção discursiva do outro e processo
de interlocução discursiva que se instaura nesse espaço
discursivo;
• A construção da homogeneidade imaginária e suas
rupturas: análise das propriedades desse discurso.
10. Campo discursivo
O discurso como objeto de estudo (ORLANDI)
O objeto específico da AD é o discurso, e não a língua,e sua
unidade de análise é o texto, e não o signo ou a frase. “Não
em seu aspecto extensional, mas qualitativo, como unidade
significativa da linguagem em uso, logo unidade de natureza
pragmática” (Orlandi, 1986).
A partir dessa concepção, o campo discursivo decorre de três
regiões do conhecimento científico: materialismo histórico,
linguística e teoria do discurso.
11. 1. Materialismo histórico
• O discurso não reflete a ideologia como algo que lhe é
exterior, mas a mostra, enquanto efeito de sentido, porque ela
é constitutiva da prática discursiva. Vale dizer que o efeito
de sentido funciona como indício da interioridade da ideologia.
• Pensar ideologia no âmbito da AD consiste em deslocar a
relação imaginária com o mundo real para o interior dos
processos de significação.
• A ideologia consiste na representação da relação imaginária
com o mundo real no interior dos processos discursivos. O
analista, ao debruçar-se sobre o discurso, depara-se com a
materialidade discursiva que é concomitantemente linguística
e ideológica.
12. ... Materialismo Histórico
• A ideologia não promove “ocultação” ou “engano”, mas produz
o “desconhecimento de sentidos” através de processos
discursivos cuja materialidade linguística podemos discernir.
Podemos compreender a ideologia como o fato de que os
sentidos são fixados historicamente em uma direção
determinada. (Orlandi, 1990).
Tais sentidos resultam da produção de um certo imaginário, ou
seja, de uma interpretação que aparece como necessária e
que destina sentidos fixos para as palavras num certo
contexto sócio-histórico. E a produção desse imaginário
resulta das “relações entre poder e sentidos”
13. 2. Linguística
• A linguística é entendida como o estudo dos mecanismos
sintáticos e dos processos de enunciação;
• Fenômenos linguísticos de dimensão superior à frase podem
efetivamente ser concebidos como um funcionamento, desde
que se tenha a clareza e que tal funcionamento não é
integralmente linguistico. Pêcheux
• O discurso não deve ser visto como veículo de transmissão de
informação, mas como efeito de sentidos entre interlocutores,
enquanto parte do funcionamento social geral. Orlandi
14. ... Linguística
A ENUNCIAÇÃO se preocupa com quatro aspectos:
• locutor: quem é o sujeito da enunciação
• Interlocutor: pra quem o discurso é produzido
• situação em que a enunciação é produzida: marcas espaço-
temporais de produção do discurso
• referente do discurso: sobre o que o discurso trata
• “O enunciado tem por característica colocar o dito
consequentemente rejeitar o não dito. Essa concepção
estabelece fronteiras entre o que é selecionado e precisado
pouco a pouco e o que dele é rejeitado”. Pêcheux & Fuchs
15. 3. Teoria do Discurso
• Teoria da determinação histórica dos processos semânticos;
• A teoria do discurso é o que irá produzir o corpo teórico
necessário para que a AD possa instaurar e operar sobre esse
objeto heterogêneo que é o discurso.
• “A construção de meios de análise linguística e discursiva
supõe uma reflexão sobre aquilo que opera na e sob a
gramática, na margem discursiva da língua”. Pêcheux
16. Quadro teórico de referência
Formação Discursiva (FD):
• Um enunciado pertence a uma FD, como uma frase pertence a
um texto. A regularidade de uma frase é definida pelas leis de
uma língua, enquanto a regularidade dos enunciados é definida
pela formação discursiva que estabelece, para os enunciados,
uma lei de coexistência. Foucault
• O sujeito é essencialmente é essencialmente representação,
dependendo das formas de linguagem que ele enuncia e que de
fato o enunciam.
• Uma palavra ou uma expressão ou mesmo uma proposição não
têm sentido próprio, literal. Seu sentido decorre das relações que
tais elementos pertencentes à mesma FD. Pêcheux
• Preconstruido: a FD é constitutivamente invadida por elementos
que vêm de outro lugar (isto é, de outras FD) e se repetem nela.
Pêcheux
17. Quadro teórico de referência
• O sujeito de um enunciado é um lugar determinado e vazio que
pode efetivamente ser ocupado por indivíduos diferentes.
Foucault
• O sujeito do discurso decorre da relação que se estabelece entre
o discurso, a língua e a ideologia sendo, ao mesmo tempo, o
sujeito ideológico. Courtine
• Nos discursos autoritários “a relação com a referência é
exclusivamente determinada pelo locutor: a verdade é imposta”.
Orlandi
• Em toda fala, sempre, sob nossas palavras, outras palavras se
dizem. O discurso é constitutivamente atravessado pelo discurso
do outro. Authier
• A memória discursiva aqui é a memória social inscrita no seio das
práticas discursivas.Ela decorre de uma relação entre a repetição
de um enunciado discursivo e a regularização de seu sentido.
Achard
18. Segunda Parte: O funcionamento do discurso presidencial
1. A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO PRESIDENCIAL
1.1. O imaginário do sujeito presidencial
De acordo com Pêucheux (1969), o discurso produzido por um sujeito
(A) sempre pressupões um destinatário (B) que se encontra em
determinado lugar na estrutura social. Este lugar está representado
nos processos discursivos a partir de uma série de formações
imaginárias que designam o lugar que A e B se atribuem
mutuamente, ou seja, a imagem que fazem do seu próprio lugar e do
lugar do outro.
Para examinar essas formações imaginadas, Pêcheux propõe quatro
questões que lhe subjazem. Duas referentes a imagem de A e duas
refentes a imagem de B.
19. Exames da imagem de A (sujeito do discurso presidencial - D1)
IA(A) (imagem do lugar de A para o sujeito situado em A): « Quem
sou eu para lhe falar assim? »
IA(B) (imagem do lugar de B para o sujeito situado em A): « Quem é
ele para que eu lhe fale assim? »
As duas formações imaginárias presidem o funcionamento
discursivo do corpus. A primeira sustenta a construção discursiva dos
diferentes lugares enunciativos que representam lugares institucionais
a partir dos quais o sujeito do discurso presidencial (D1) realiza sua
prática discursiva, enquanto a segunda, consequência da primeira,
decorre da construção discursiva das diferentes representações do
destinário, presentes em D1.
O exame de IA(A) permitiu identificar quatro diferentes imagens, a
partir da auto-representação em primeira pessoa do singular:
1.) IA(A)1 - o presidente democrata.
2.) IA(A)2 - o presidente militar.
3.) IA (A) - o presidente autoritário.
4.) IA (A)4 – o presidente injustiçado.
20. IA(A)1 – A imagem do presidente democrata
Esta imagem está presente nos cinco domínios discursivos em
análise. O que pode ser observado nos recortes das sequências
discursivas seguintes:
CB1 – Espero (...) possa entregar, ao iniciar-se o ano de 1966, ao
meu sucessor legitimamente eleito pelo povo, em eleições livres,
uma nação coesa (...). (CB1 – 11/04/64 – após ser eleito pelo
Congresso).
CS1 – Meus intuitos democráticos e minha preocupação com o
ordem constitucional não podem ser postos em dúvida. (CS2 –
03/10/66 – Congresso Nacional, após eleição).
M1 – Neste momento, eu sou a oferta e a aceitação. Não sou a
promessa. Quero ser verdade e confiança, ser coragem, a humildade,
a união. A oferta de meu compromisso ao povo perante o congresso
de seus representantes, quero-a um ato de reverdecimento
democrático. (M1 – 30/10/69 – Discurso de posse).
G1 – Que Deus me dê forças a mim, e clarividência e energia, para
levar avante esse legado superior de consciência cívica e de
pragmatismo criado para o bem de nossa pátria e bem-estar de nosso
povo. (G1 – 15/3/74 – Palácio do Planalto, posse).
21. IA(A)1 – A imagem do presidente democrata
F1 – (...) Mas tenho também diante de mim um compromisso, que
assumi antes mesmo de tomar posse a presidência da República. E,
mais que compromisso um juramento que fiz após assumir a
presidência da República: disse por mais de uma vez que iria
transformar este país numa democracia. (F2 – 04/10/79 –
MG/Itajubá - improviso).
O exame do recorte discursivo revela que no discurso presidencial
da República Militar Brasileira, de um modo geral, é construída a
imagem de um presidente democrata que acredita no jogo democrático
e em suas instituições. Esta imagem demonstra o desejo de ir ao
encontro do imaginário da opinião pública para qual o presidente deve
ser um democrata. Tal procedimento mostra a busca de autenticidade
para o regime.
Essa auto-representação consiste na construção de um simulacro a
partir da imagem que o sujeito de D1 supõe ser a imagem que a
opinião pública constrói de presidente.
Nesse sentido a questão formulada por Pêcheux – “Quem sou eu
para lhe falar?” – deve ser reformulada no dircurso político para:
“Qual a imagem de presidente desejada pelos brasileiros
democratas?”.
22. IA(A)1 – A imagem do presidente democrata
É a partir daí que o simulacro do presidente democrata se constrói.
Isso quer dizer: a imagem analisada anteriormente é construída sobre
a suposta imagem que os brasileiros possuem de um presidente
democrata.
Já em M1 e F1, percebe-se nos recortes discursivos o desejo de
instaurar a democracia. Desejo esse que mostra que a imagem de
democrata repousa sobre uma cópia destituída de semelhança, ou
seja, sobre seu simulacro.
23. IA(A)2 – A imagem do presidente militar
Presente nos cinco domínios discursivos do corpus da autora.
Esta segunda imagem mostra como os presidentes se vêem e
desejam ser vistos: “soldados” convocados para cumprirem uma
missão militar. Esta imagem aponta para o assujeitamento do soldado
de decisões hierarquicamente superiores. As pistas para sua
identificação decorrem da natureza do léxico empregado que remete
para o campo semântico militar. Exemplos: cumprir a missão, desertar,
acatar, encargo, imposição, etc.
A imagem em questão busca representar a presidência como missão
que não se postula, mas à qual é preciso sujeitar-se. Ela vem eivada
de desprendimento, sacrifício, modéstia, buscando contrapor-se ao
fausto que a imagem presidencial costuma evocar, retirando daí sua
autoridade e respeitabilidade.
É daí que se constrói a doutrina da salvação nacional e embasa-se a
a relação idealizada que o governante pretende manter com seus
governados.
Os governantes comandam (por direito) nos moldes militares e os
governados devem obedecer (por dever), tal quadro fundamenta a
tomada do poder eo monopólio do governo por parte das castas
militares.
24. IA(A)3 – A imagem do presidente autoritário
Resultado do confronto entre as duas imagens anteriores.
Do aparente conflito entre a imagem do presidente democrata e a
imagem do presidente militar, instaura-se uma terceira imagem que
mostra essa tensão.
CB3 – Obrigado a usar dos poderes da legislação em vigor, que
me autoriza a decretar o recesso do Congresso Nacional, cumpre-me
dirigir-me à nação.(CB3 – 20/10/66 – RJ – À nação).
F3 – Porque cumpro o que prometo, não prometo milagres... Sou
homem da ponderação e da prudência. Mas não hesitarei em aplicar
as leis existentes diante de situações que ameacem a
tranquilidade da família brasileira ou possam conduzir à desordem
social. (F2 – 01/5/79 – TV).
A imagem do presidente autoritário mostra como o sujeito de D1
percebe-se e deseja ser percebido por seus interlocutores.
Para analisar a fusão das duas primeiras imagens é preciso partir de
sua característica comum: os deveres. Na primeira apresentam-se
como deveres cívicos e, na segunda, como deveres militares. Na fusão
dessas duas imagens, os deveres transformam-se em poderes.
Essa terceira imagem assume a forma de um presidente civil, marca
oriunda da primeira imagem, dotado de autoridade, força e
desprendimento, características da segunda imagem.
25. IA(A)4 – A imagem do presidente injustiçado
Esta imagem foi observada pela autora em: Figueiredo (ocorrência
abundante), Castelo Branco (um único registro por ocasião se sua
última reunião ministerial) e em Costa e Silva (também uma única
ocorrência após a edição do AI-5).
A análise em questão ateve-se às ocorrências singulares referentes
aos dois últimos domínios supracitados, isso porque elas produzem um
efeito de sentido diferente daquele produzido no discurso de
Figueiredo.
CB4 – Não quis nem usei o poder como instrumento de prepotência.
Não quis nem usei o poder para a glória pessoal ou a vaidade dos
falsos aplausos. Dele nunca me servi. Use,i sim, para salvar as
instituições, defender o princípio da autoridade, extinguir os privilégios
(...) E se não me foi permitido fazê-lo, pois jamais é penoso
cumprirmos o nosso dever, a verdade é que nunca faltam os que
insistem preferir sacrificar a segurança do futuro em troca de efêmeras
vantagens do presente, bem como os que põem as ambições pessoais
acima dos interesses da pátria. De uns e de outros desejo esquecer-
me. Pois a única lembrança que conservarei para sempre é a do
extraordinário povo (...). (CB4 – 14/3/67 – Palácio do Planalto -
Ministério).
26. IA(A)4 – A imagem do presidente injustiçado
CS4 – Valeram-se (...) todos os tipos de inimigos da democracia
(...) cujas vozes se harmonizaram no coro formado para apresentá-los,
inversamente, como defensores da liberdade e a nós, que de fato a
defendíamos, como tiranos e usurpadores do poder (...) Derrubar a
“ditadura”, que não existia, e “substituir o regime” eram palavras de
ordem que circulavam celeremente, ganhando adeptos entre
carreiristas, aventureiros, corruptos e subversivos de profissão que
habilmente compensavam a falta de apoio popular pela estridência da
propaganda e a ousadia da ação. (CS3 – 15/3/69 – Mensagem ao povo
– TV – Segundo aniversário de governo).
Ao contrário das imagens anteriores, que representam o modo como
o sujeito de D1 deseja ser visto pelos interlocutores, esta quarta
imagem reflete o modo como o sujeito de D1 sente-se em função do
efeito de sentido que seu discurso produziu e das reações discursivas
que provocou.
Ou seja, pode-se dizer que, em certo sentido, que a quarta imagem é
decorrente do efeito perlocutório que o sujeito de D1 provocou em seus
interlocutores afetados por FD2. Trata-se de uma imagem que reflete a
mágoa, o sentimento de injustiça que invade D1.
27. Considerações finais das formações imaginárias do sujeito de D1
QUADRO SÍNTESE 1
Formações Imaginárias
I1 I2 I3 I4
CB + + + *
CS + + + *
M + + + -
G + + + -
F + + + +
(+) indica ocorrência da imagem;
(-) assinala sua ausência;
(*) aponta para as ocorrências únicas.
28. Considerações finais das formações imaginárias do sujeito de D1
SUJEITO DO DISCURSO
PRESIDENCIAL
Está ancorado em três imagens
Presidente Autoritário: Presidente Militar:
Resultante da tensão Mostra em que seu
entre as outras duas perfil democrático
imagens – corresponde distingue-se da
ao que de fato é. Vale concepção vulgar de
dizer que que entre a presidente democrata
idealidade e o real Presidente Democrata:
interpõe-se o poder. Modo como deseja ser
visto
29. A construção discursiva do outro
2. A construção discursiva do outro
Se a dispersão do sujeito funciona para opacificar sua figura solo, a
dispersão do outro produz aí uma outra opacidade: enquanto o sujeito
de D1 nega, em sua enunciação, a diferença de classe, seu discurso
reinstaura, pelo viés da fragmentação do outro, tais diferenças que não
são apenas de classe, mas que também o são.
No corpus, quando o outro é costruído de modo consensual, é
representado por diferentes itens lexicais genéricos como: brasileiros,
povo e, muito raramente, cidadão. Enquanto cidadão, por ser dotado
de conteúdo historicamente cristalizado, passou a representar um uso
incômodo e, por isso, pouco frequente em D1. Pelo mesmo motivo e de
forma diretamente proporcional, povo constituiu-se em um verdadeiro
instrumento político, pois seu sentido, construído historicamente, foi ao
encontro do jogo ilusório que a enunciação de tal discurso produz.
Assim, cidadão foi discursivamente apagado e povo passou a ser
expressivamente empregado como forma de representação do outro.
É assim que as difentes confugurações do outro apontam para
revolucionários, não-revolucionários, contra-revolucionários, classe
trabalhadora, sociedade civil organizada, classes produtoras, dentre
outros estratos da sociedade.
30. A construção discursiva do outro
Quando o outro é costruído no dissenso, é representado por itens
lexicais como: adversário da revolução (CB), contra-revolucionários
(CS), inimigo do regime (M), subversivo e corrupto (G), agitador (CB),
etc.
Assim sendo, no discurso presidencial o outro só tem duas
possibilidades extremas de representação: a primeira, com um outro que
acata plenamente todas as decisões tomadas pela revolução (condição
para ser enquadrado como cidadão); a segunda representando um outro
desprovido de qulquer traço positivo de caráter, ou seja, o anticidadão,
“subversivo”, “inimigo do regime”.
3. A interlocução discursiva
No corpus em questão, a terceira-pessoa discursiva representa o
outro na qualidade de interlocutor indeterminado, o qual participa, a esse
título, da interlocução discursiva.
A interlocução discursiva não implica a presença do interlocutor, nem
sua representação clara e objetiva. Mas, nem por isso, esse pólo da
interlocução desaparece ou deixa de ser determinado para o sujeito do
discurso. Sua indeterminação é um efeito que se constrói através do
trabalho discursivo.
31. A interlocução discursiva
Na interlocução discursiva o sujeito fragmenta-se, fica difuso e disperso.
O mesmo ocorre com o outro , seu destinatário que, além de
fragmentado, difuso e disperso, se constrói sobre o modo da
indeterminação.
O cenário discursivo do corpus, localizado na esfera pública, também é
construído na modalidade da indeterminação, resultando daí que uma
mesma sequência discursiva pode dirigir-se a vários destinatários,
afetados por FD antagônicas, revestindo-se de um efeito de
performatividade que articula promessa e ameaça a um só tempo, por
exemplo.
O discurso presidencial da República Militar Brasileira caracteriza-se
pelo trabalho da prática discursiva que conduz da determinação à
indeterminação.
32. Terceira Parte: A constituição da homogeneidade imaginária e
suas rupturas
1. Da determinação a sobredeterminação
Objetivo: Examinar o trabalho discursivo de construção da
determinação do discurso presidencial.
O processo de determinação discursiva instaurado em D1 é descrito
pela autora como o trabalho de construção discursiva da delimitação do
que pode/deve ser dito, bem como do que pode, mas não convém ser
dito em um discurso.
Tal determinação é decorrente da relação que o sujeito do discurso
estabelece com a FD que o afeta.
A determinação discursiva trabalha com a individualização
imaginária do espaço discursivo, produzindo o efeito de discurso
único, homogêneo.
2. Sobre a heterogeneidade do discurso presidencial
Objetivo: estudar a heterogeneidade do discurso em análise e os
efeitos por ela produzidos.
Um discurso é heterogêneo porque sempre comporta
constitutivamente em seu interior outros discursos.
33. Terceira Parte: A constituição da homogeneidade imaginária e
suas rupturas
Parte-se da ideia de que o sujeito, ao construir seu discurso,
incorpora enunciados preconstruídos que, uma vez inseridos no discurso
provocam o esque cimento de sua incorporação e produzem o efeito de
ali se originarem. Para isso, é preciso que o discurso esteja dotado do
efeito de homogeneidade.
No corpus, Indursky, observa o discurso relatado, a negação e as
incisas discursivas como funcionamentos para remontar ao exterior e
escapar da ilusória homogeneidade.
34. Terceira Parte: A constituição da homogeneidade imaginária e
suas rupturas
QUADRO SÍNTESE 7
Heterogeneidade
Topologia da Heterogeneidade
Domínio Discurso Negação Incisas
Relatado Discursivas
+ + + +
CB - + + -
+ + +
CS - - + - -
+ + +
M - - - - +
+ + +
G + + + - +
+ + + +
F - + + +
35. CONCLUSÃO
Contribuições para o estudo linguístico:
- O trabalho propôs o exame de fatos linguísticos em seu duplo
funcionamento, visando compreender a diferença entre o
funcionamento linguístico e o funcionamento discursivo.
- Procurou analisar como a língua em seu funcionamento concorre
para que o sujeito do discurso possa representar a si e ao outro,
examinando as relações que esse sujeito estabelece com o que
enuncia e com aqueles a quem enuncia.
- Considerando o conjunto das análises, Freda Indursky, entretanto,
centra suas últimas considerações sobre os dois trabalhos
discursivos que atravessam todo o corpus e que apontam para as
modalidades de representação determinada e indeterminada.
7.Das definições
Os processos de enunciação constroem uma fronteira entre o dito
e o não-dito, mas este dito não apenas sofre sucessivas
determinações, mas tais determinações estão na base da construção
discursiva da inderteminação.
36. CONCLUSÃO
A determinação discursiva consiste no trabalho discursivo de
determinação do que pode/deve ser dito, bem como do que pode,
mas não convém ser dito e ainda do que não pode ser dito,
devendo ser refutado pelo sujeito do discurso. Ou seja, a
determinação discursiva decorre de sucessivas determinações
que vão dede o nível linguístico, passam pelo fio do discurso,
projetam-se no processo discursivo e afetam as propriedades do
discurso. Sendo assim, constrói as fronteiras discursivas que
fecham imaginariamente o espaço discursivo, promovendo sua
ilusória individuação, responsável pelo efeito de homogeneidade
de um discurso.
Já a indeterminação discursiva promove o trabalho discursivo de
opacificação do indizível. É resultado de sucessivas operações de
indeterminação que vão do nível linguístico, passam pelo fio do
discurso, projetam-se no processo discursivo e afetam as
propriedades do discurso. Sendo assim, constrói a opacificação do
que não pode/não deve ser dito pelo sujeito, tornando-se a
modalidade discursiva que promove a travessia do indizível pelas
fronteiras imaginariamente fechadas do espaço discursivo,
instaurando o imperceptível heterôgeneo em seu interior.
37. CONCLUSÃO
“(...) Tanto a construção discursiva da determinação como a da
indeterminação representam diferentes relações que o sujeito
do discurso político estabelece com o que enuncia e com
aqueles para quem enuncia aquilo que enuncia”
(INDURSKY, 1997, p.254).
2. O entrelaçamento interdiscursivo da determinação e da
indeterminação
Determinações e indeterminações são as duas faces do mesmo
trabalho discursivo de construção do discurso. De tal modo que
quanto mais fortemente é rejeitado o indizível, mais ele reflui nas
dobras da construção discursiva da indeterminação. De sorte que
estas construções, aparentemente excludentes, são
necessariamente complementares.
Algumas evidências do entrelaçamento promovido pelo trabalho
discursivo (observadas nas análises):
38. CONCLUSÃO
2.1 Determinação e indeterminação no funcionamento discursivo
A segunda parte do trabalho da autora (funcionamento do discurso
presidencial) apresenta-se claramente determinado no primeiro nível
do processo de interlocução discursiva – a interlocução enunciativa.
Nela sabe-se quem enuncia, para quem enuncia e o que enuncia. Ou
seja, está no nível da determinação discursiva.
No entanto, sobre esta construção ancora-se um outro nível de
interlocução – a interlocução discursiva – em que a determinação cede
lugar a indeterminação. Para observá-la é preciso passar dispersão do
sujeito do discurso que, ao representar-se como nós, simula o efeito
da palavra comum que é estancada quando, esse mesmo sujeito,
representa-se como se fosse o outro por meio da quarta-pessoa
discursiva.
Tal processo culmina com o apagamento da estrutura dialógica: onde
não há sujeito, não há interlocutor. É o domínio do monologismo,
obtido pelo trabalho de indeterminação discursiva do sujeito e e da
interlocução.
Também o outro da interlocução discursiva é, igualmente,
indeterminado. O grau máximo que sua indeterminação é alcança é
quando o outro é representado pela terceira pessoa discursiva:
simulando referir-se ao outro, de fato, a ele se dirige. Onde não há
interlocutor, não há diálogo.
39. CONCLUSÃO
2.2 A indeterminação no processo de determinação discursiva
O processo de determinação discursiva, que trabalha para
construir os limites e a extensão do dizível, acaba por instaurar
uma zona de opacidade no interior do formulável: “os bons
brasileiros”, “os brasileiros de responsabilidade” correspondem
ao que pode ser dito. Já “os maus brasileiros” pode, mas não
convém ser formulado.
Pelo recalcamento do que poderia ser dito, cria-se uma zona de
indeterminação no interior do próprio processo discursivo. Ou seja,
a indeterminação é fruto de um processo de determinação.
2.3 Determinação e indeterminação na negação discursiva
A negação instaura um processo de delimitação de dois espaços
discursivos diversos. De modo que, mesmo que indiretamente, por
seu viés acaba-se por determinar o dizível de um discurso.
Por outro lado, a negação do discurso do outro constrói o não-dito
do discurso presidencial pelo viés do discurso transverso, o que
quer dizer que o discurso-outro penetra no discurso presidencial
como um implícito, caracterizando sua natureza indeterminada.
40. CONCLUSÃO
2.4 Determinação e indeterminação nas incisas discursivas
Para que o discurso do outro possa instalar-se na formulação do
sujeito do discurso, é preciso laborar discursivamente para que
essa presença seja invisível. Esse trabalho de apagamento dos
vestígios pode ser visto como a determinação do discurso do
sujeito ou como a indeterminação do discurso do outro.
Por outro lado, a negação do discurso do outro constrói o não-dito
do discurso presidencial pelo viés do discurso transverso, o que
quer dizer que o discurso-outro penetra no discurso presidencial
como um implícito, caracterizando sua natureza indeterminada.
Esse trabalho discursivo de naturalização do discurso-outro
subentende sua determinação e incorporação. Ao mesmo tempo,
pode-se entender o apagamento de vestígios e das condições de
produção do discurso-outro como um trabalho discursivo de
indeterminação do discurso do outro.
41. SÍNTESE FINAL
3 Síntese final
Determinação e indeterminação não possuem limites excludentes,
embora produzam efeitos opostos. São processos em inter-
relação.
Não separação entre os dois processos em um discurso, um está
no outro. Os discursos interpenetram-se constantemente,
instaurando espaços privilegiadamente heterogêneos.
O que existe são efeitos de homogeneidade ou de
heterogeneidade, produzidos em função do modo como a
linguagem é mobilizada pelo sujeito do discurso em seu trabalho
de construção da sua representação, da representação que faz
do outro e da relação que estabelece com o discurso-outro.
Tais representações são determinadas e/ou indeterminadas em
função do imaginário do sujeito do discurso.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Esta segunda parte do livro é dedicada à análise multifacetada do funcionamento discursivo do corpus em questão. Primeiro estabelece as questões que determinam o sujeito presidencial, depois, em um segundo capítulo, examina a construção dou outro nesse espaço discursivo e, por fim, analisa o processo de interlocução discursiva que aí se trava.
Trabalho em questão limita-se às formações imaginárias de A, ou seja, do sujeito de D1, pois trabalha apenas com discursos presidenciais. Tais imagens compõem as diferentes representações da figura do presidente dirigidas aos diferentes destinatários instituídos por tais discursos.
Simulacro: uma cópia de cópia, um ícone infinitamente degradado, uma semelhança infinitamente afrouxada (...) A cópia é uma imagem dotada de semelhança, o simulacro uma imagem sem semelhança, mas que produz efeito de semelhança.
Tanto em CB quanto em em CS esta imagem do presidente democrata é extensiva ao regime: um regime é democrata à medida que seu presidente tb o é. A partir de Médici essa sobreposição é desfeita, marcando a transformação que FD1 sofreu após a edição do AI-5.
Castas: termo escolhido pela autora
1. Num primeiro momento poder-se-ia pensar que a primeira é incompatível com a FD que afeta o sujeito desse discurso. Entretanto, após a análise a autora percebeu que de fato trata-se de um simples simulacro de presidente democrata, em consonância com a FD em que o sujeito de D1 inscreve-se.
2. É a relação entre frustração e poder que explica as ocorrências singulares dessa imagem em CB e CS.
Os processos de enunciação consistem em uma série de determinações sucessivas , realizadas por mecanismos sintáticos, através das quais o enunciado se constitui, colocando que foi dito e rejeitando o não-dito , ou seja, aquilo que poderia ter sido dito mas nào foi. A enunciação estabelece uma fronteira entre o que o sujeito e constitui a materialidade de seu discurso e o que dele se configura excluído. Essa é uma concepção discursiva da determinação e constitui o trabalho discursivo da construção da determinação.
Os processos de enunciação consistem em uma série de determinações sucessivas , realizadas por mecanismos sintáticos, através das quais o enunciado se constitui, colocando que foi dito e rejeitando o não-dito , ou seja, aquilo que poderia ter sido dito mas nào foi. A enunciação estabelece uma fronteira entre o que o sujeito e constitui a materialidade de seu discurso e o que dele se configura excluído. Essa é uma concepção discursiva da determinação e constitui o trabalho discursivo da construção da determinação.
Os processos de enunciação consistem em uma série de determinações sucessivas , realizadas por mecanismos sintáticos, através das quais o enunciado se constitui, colocando que foi dito e rejeitando o não-dito , ou seja, aquilo que poderia ter sido dito mas nào foi. A enunciação estabelece uma fronteira entre o que o sujeito e constitui a materialidade de seu discurso e o que dele se configura excluído. Essa é uma concepção discursiva da determinação e constitui o trabalho discursivo da construção da determinação.
4. O destinatário n é explicitado nem é unico, tendo um elevado grau de revezamento da figura do destinatário discursivo.
2.2. parte III cap. 1
2. É a relação entre frustração e poder que explica as ocorrências singulares dessa imagem em CB e CS.