Frei Beto decreta que neste Natal as pessoas devem se doar aos necessitados ao invés de trocar presentes, e que as festividades devem refletir a simplicidade do Menino Jesus, sem ostentação ou consumismo. Ele também decreta que as crianças não recebam brinquedos mas sim doem o que possuem aos pobres, e que as famílias desliguem aparelhos eletrônicos para orar e refletir.
7. renas e trenós por carroças repletas de alimentos não perecíveis;
8. e se algum Papai Noel sobrar por aí, que apareça de bermuda e chinelas.
9. Fica decretado que as crianças, em vez de brinquedos e bolas, pedirão bênçãos e graças,
10. abrindo seus corações para destinar aos pobres todo o supérfluo que entulha armários e gavetas.
11. A sobra de um é a necessidade de outro, e quem reparte bens partilha Deus.
12. Fica decretado que, pelo menos um dia, desligaremos toda a parafernália eletrônica, inclusive o telefone e, recolhidos à solidão, faremos uma viagem ao interior de nosso espírito,
13. lá onde habita Aquele que, distinto de nós, funda a nossa verdadeira identidade.
15. Fica decretado que, despidas de pudores, as famílias farão ao menos um momento de oração, lerão um texto bíblico, agradecendo ao Pai de Amor o dom da vida,
16. as alegrias do ano que finda, e até dores que exacerbam a emoção sem que se possa entender com a razão.
17. Finita, a vida é um rio que sabe ter o mar como destino, mas jamais quantas curvas, cachoeiras e pedras haverá de encontrar em seu percurso.
18. Fica decretado que arrancaremos a espada das mãos de Herodes e nenhuma criança será mais condenada ao trabalho precoce, violentada, surrada ou humilhada.
19. Todas terão direito à ternura e à alegria, à saúde e à escola, ao pão e à paz, ao sonho e à beleza.
20. Fica decretado que, nos locais de trabalho, as festas de fim de ano terão o dobro de seus custo convertido em cestas básicas a famílias carentes.
21. E será considerado grave pecado abrir uma bebida de valor superior ao salário mensal do empregado que a serve.
22. Como Deus não tem religião, fica decretado que nenhum fiel considerará a sua mais perfeita que a do outro,
23. nem fará rastejar a sua língua, qual serpente venenosa, nas trilhas da injúria e da perfídia.
24. O Menino do presépio veio para todos, indistintamente, e não há como professar o "Pai Nosso" se o pão também não for nosso, mas privilégio da minoria abastada.
25. Fica decretado que toda dieta se reverterá em benefício do prato vazio de quem tem fome,
26. e que ninguém dará ao outro um presente embrulhado em bajulação ou escusas intenções.
27. O tempo gasto em fazer laços seja muito inferior ao dedicado a dar abraços .