O documento resume os principais resultados de um estudo que mostra que pessoas soropositivas que fazem tratamento com antirretrovirais podem viver tanto quanto pessoas saudáveis. O estudo, realizado na África, mostrou que a expectativa de vida de homens que fazem tratamento é de 57 anos e de mulheres é de 67 anos. Para que o tratamento seja eficaz, é necessário ampliar o acesso a testes e medicamentos.
1. Saúde na mídia Brasília, 19 de julho de 2011
Correio Braziliense/BR
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Mais vida para soropositivos
SAÚDE
Universidade da Columbia Britânica/Divulgação
A maior pesquisa feita com grupos populacionais in-
fectados pelo HIV mostra que é possível viver com o
vírus além da expectativa. O estudo diz que é preciso
fazer testes, seguir o tratamento e ampliar o acesso
» MAX MILLIANO MELO
Há três décadas, quando surgiram os primeiros casos
de Aids no mundo, os tratamentos para combater a
doença ainda não existiam e ser contaminado era
uma sentença de morte. Desde então, pesquisadores
de várias nacionalidades têm unido esforços, tanto na
busca de tratamento mais eficazes para os pacientes
que contraíram o HIV, quanto para produzir uma va-
"Essa diferença drástica entre homens e mulheres deve-se ao fato de que,
tradicionalmente, os homens aderem mais tarde ao tratamento. E também cina. Depois de diversos estudos confirmarem que al-
por receberem menos cuidados ao longo da vida"Edward Mills, médico da
Universidade da Columbia Britân gumas formas de tratamento são capazes de diminuir
em 96% as chances de se transmitir o vírus, uma pes-
quisa publicada na edição de hoje do periódico
norte-americano Annals of Internal Medicine apre-
senta mais um avanço - mostra que, com o uso de
Radu Sigheti/Reuters - 1/12/03 antirretrovirais já disponíveis no mercado, a ex-
pectativa de vida dos pacientes - que antes dos anos
2000 era de10 anos, podeser amesma depessoas sau-
dáveis, se esse tratamento não sofrer interrupção.
A descoberta reforça ainda mais a necessidade de se
ampliar o acesso aos remédios a populações carentes
de diversas partes do mundo. Agora, de-
finitivamente, a Aids deixa de ser sinônimo de ates-
tado de óbito. O estudo divulgado hoje é o primeiro
em grande escala a medir o impacto na expectativa de
vida dos pacientes soropositivos que utilizam me-
dicamentos antirretrovirais. Feito com cerca de
22.315 voluntários, com idade acima de 14 anos, em
Nos países africanos estão localizados os maiores grupos populacionais Uganda, na África, os pesquisadores consideraram a
contaminados pelo HIV. Um dos motivos é a falta de acesso a testes e a
drogas expectativa de vida em 35 anos de idade, quando na
região é de 62 anos.
Os homens que utilizavam as drogas para o controle
da doença tiveram uma expectativa de vida de 57
anos, eas mulheres de67. "Essa diferença drásticaen-
tre homens e mulheres deve -se ao fato de que, tra-
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dicionalmente, os homens aderem mais tarde ao No entanto, para que o coquetel de antirretrovirais
tratamento. E também por receberem menos cui- possa se efetivar como a principal arma tanto na me-
dados ao longo da vida", disse em entrevista ao lhoria da qualidade de vida dos pacientes como alia-
Correio o médico canadense Edward Mills, da Uni- do para impedir o surgimento de novos casos, é
versidade da Columbia Britânica, principal autor do preciso ampliar a oferta de testes. O Ministério da
estudo. Saúde estima que apenas no Brasil 250 mil pessoas
estão contaminadas pelo HIV e não sabem disso. No
América Latina planeta, esse número chega a 34 milhões de pessoas -
metade dos soropositivos do mundo - e a grande
Para ele, a constatação de que o tratamento permite o maioria deles habita regiões pobres, como parte da
soropositivo viver aproximadamente o mesmo tem- América Latina e África, onde a oferta de exames ain-
po de uma pessoa saudável, também pode ser apli- da não é eficiente.
cada à América Latina e a outros países da África,
onde a epidemia ainda é um problema grave. "U- Esperança
tilizamos métodos de investigação propostos pela
Organização Mundial de Saúde. Além disso, os Segundo o representante no Brasil do Programa Con-
medicamentos usados em Uganda, são os mesmos junto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids),
adotados em outras regiões do continente e do mun- Pedro Chequer, esta é a segunda revolução de tra-
do", explica o pesquisador. "Por isso, acreditamos tamento naepidemia dadoença, após 30 anos decom-
que os resultados são os mesmos, in- bate. "A primeira revolução ocorreu em 1996,
dependentemente da região ter uma expectativa de quando surgiram as primeiras drogas que ampliaram
vida maior. Na verdade, acreditamos que em regiões a expectativa de vida dos pacientes", explica. "A-
onde o acesso aos medicamentos é maior, essa di- gora, temos uma nova revolução, já que, somando o
ferença na expectativa de vida de soropositivos e sau- tratamento com a proteção do preservativo po-
dáveis deva ser ainda melhor", acrescenta Mills. deremos, pela primeira vez, acabar com as novas
contaminações", completa Chequer.
A boa notícia veio enquanto cientistas e entidades se
reúnem na Itália para debater os rumos das pesquisas Para que isso ocorra, no entanto, ainda há um longo
em combate ao HIV, na 6ª Conferência da Sociedade caminho a ser seguido. "Nas regiões da África, onde
Internacional de Aids sobre Patogenia, Tratamento e o estudo mostrou que a expectativa de vida pode ser
Prevenção, que segue até amanhã, em Roma. O tra- prolongada, ou mesmo em outros lugares do planeta,
tamento da doença é o centro das discussões do even- o que inclui, de certa forma, o Brasil, ter-se cons-
to, depois que pesquisas mostraram que ao utilizar ciência de que se está infectado ainda demora muito",
medicamentos de forma correta o paciente tem 96% observa o especialista. "O país precisa empreender
menos chance de transmitir a Aids. uma verdadeira cruzada, permanente, para que todas
as pessoas contaminadas saibam disso e possam co-
A novidade já havia sido adiantada pelo Correio em meçar a se tratar e a usufruir desses tratamentos.
30 de maio, em entrevista com Willy Rozenbaum, Além disso, será preciso repensar quando iniciar o
médico francês que ajudou a descobrir a Aids. "Uma uso de medicamentos. Isso deve acontecer de ma-
pessoa que sabe que foi contaminada pode se be- neira mais precoce", alerta Pedro Chequer.
neficiar do tratamento, e esse tratamento permite, in-
clusive, não transmitir a doença em 96% dos casos", Metodologia aplicada
adiantou o pesquisador na época.
A expectativa de vida aos 35 anos foi escolhida por-
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que, no decorrer dos anos, essa taxa varia muito. Se- para baixo. Por fim, na vida adulta, quando a chance
gundo os especialistas, ao nascer, a esperança de vida de morrer por motivos de violência não impacta na ta-
da pessoa é mais baixa, pois na região são comuns as xa, as doenças passam a ser o fator preponderante na
mortes por problemas de desnutrição e de de- longevidade. E isso possibilita medir com mais efi-
sidratação. Na adolescência, a expectativa de vida ciência o impacto do tratamento da Aids.
cresce pois esses problemas não puxam mais o índice
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