O documento discute o desempenho superior das crianças asiáticas no Brasil devido ao maior tempo dedicado aos estudos, comparando-o com as crianças brasileiras. Aponta também que as escolas públicas brasileiras enfrentam desafios como superlotação e falta de respeito dos alunos, enquanto culpa indevidamente os professores pelos problemas educacionais.
2. Outro dia, folheando a revista Veja num
consultório médico, li uma reportagem
bastante interessante que mostrava,
com estatísticas, que as crianças de
origem asiática, que vivem no Brasil,
apresentam um desempenho escolar
superior ao dos estudantes brasileiros.
3. O texto explicava que, nas
classes em que elas são
maioria, o silêncio e a
atenção são uma
constante.
Ouve-se claramente a voz
do professor explicando a
matéria.
4. Dizia também
que essas
crianças
dedicam nove
horas diárias
ao estudo
(cinco na
escola e quatro
em casa),
enquanto que
as nossas,
apenas cinco
(as da escola).
5. Quando chegam em casa, essas
crianças pegam seus cadernos e
livros e estudam. Fazem os deveres
de casa que o professor passa,
leem, treinam equações
matemáticas, etc.
7. Com isso, os
asiáticos do
nosso país estão
conseguindo os
melhores postos
de trabalho (que
são justamente
aqueles que
exigem maior
qualificação e
preparo)...
8. em empresas com ótima
remuneração, assistência médico-
hospitalar e condições de ascensão
profissional.
9. E tudo isso me fez lembrar de uma
menina brasileira que morava no
Japão e veio visitar os parentes que
ficaram aqui.
A tia dela era Orientadora na escola
onde lecionávamos.
10. Certo dia estávamos em nossas
classes, tentando dar aula e
explicar a matéria para os alunos
que, como sempre, só conversavam
e brincavam de costas para a
lousa...
11. enquanto isso, a tia , nossa
orientadora, vagava com a
garota pelos corredores da
escola, procurando uma classe
mais calma, onde a sobrinha
pudesse ficar resolvendo as
questões de uma provinha de
terceira série que ela (tia)
havia preparado, para verificar
o aproveitamento e a
adaptação da menina na
escola japonesa.
12. Mas a menina ficou aterrorizada com
a gritaria dos nossos alunos e
preferiu resolver a prova na
Biblioteca, alegando que não
conseguiria concentrar-se com aquela
bagunça ...
13. Perguntamos então o que acontecia,
na escola dela, com os alunos que só
queriam brincar, não estudavam e
não respeitavam o professor em sala
de aula.
18. Nas escolas públicas, as salas de aula
são superlotadas, com até 45 alunos por
classe.
Para esse auditório, o professor tem
que ensinar:
o conteúdo das disciplinas
(Matemática, Português, História, Geogr
afia, Ciências)
+ cidadania+ valores + educação
sexual + higiene +saúde + ética +
pluralidade cultural.
19. Deverá, também, funcionar como
psicólogo, assistente social, orientador
educacional e orientador pedagógico, e
desempenhando todos os deveres
familiares que a sociedade (?) resolver
transferir para a escola.
20. Nossos alunos dizem que as aulas são
chatas e alegam que não gostam de ler,
que ler não é divertido...
que jogar bola e empinar pipa é
melhor...
E todos logo gritam em coro:
Culpa dos professores que não dão uma
aula divertida e atraente para as
crianças.
21. O Governo surge em cena alegando que
o aluno que temos é assim mesmo e que
os professores precisam aprender a
ensinar...
Rotula o magistério oficial como
“professores nota zero”.
22. O que querem esconder é que temos em
classe crianças (filhos de eleitores) que
recebem o livro didático, cadernos e até
mochilas, mas “esquecem” em casa para
ficar brincando durante a aula...
Crianças que não fazem lição de casa, não
estudam e nem sequer prestam atenção
as explicações do professor em classe.
23. Para agradar os pais eleitores, o Governo
encaminha os professores para cursos de
“capacitação”, alegando que eles não têm
mais capacidade para ensinar.
Contratam firmas para dar esses cursos
que, segundo eles, tem o poder de
transformar “profissionais despreparados”
em professores criativos, prontos para dar
uma aula eficaz, envolvente, estimulante e,
ao mesmo tempo, divertida, capaz de fazer
com que os alunos gostem mais da escola
do que das partidas de futebol, mais de
leitura do que dos jogos no computador.
24. É claro que esse discurso de
responsabilizar o professor e varrer a
sujeira pra baixo do tapete não vai levar
a Educação a lugar nenhum.
Mas serve perfeitamente para justificar,
junto a opinião pública, os baixos
salários pagos aos profissionais do
ensino.
25. Imagine que você está doente, vai ao médico
e ele prescreve determinado remédio. Você
não toma o medicamento, não faz a sua
parte e culpa o médico por não melhorar.
Assim acontece nas escolas públicas: o
professor ensina e os alunos não prestam
atenção, não estudam, não fazem os deveres
de casa, como nossos amiguinhos asiáticos
Daí vem o governo e culpa o professor pelo
mau desempenho dos “estudantes”.
26. Ninguém quer sugerir aos eleitores a
receitinha das crianças asiáticas:
- fazer a lição de casa,
estudar,
- empenhar-se,
- dedicar-se.
Enfim, fazer sua parte!
27. A verdade é que o educador deixou de
ser modelo para os jovens:
ganham mal, se vestem mal e são alvos
constantes da crítica social .
Hoje, modelo para os jovens são os
milionários jogadores de futebol,
artistas, pagodeiros e outros mais que é
preferível nem relacionar aqui...
28. Vamos combinar: não dá para falar em
Educação de Qualidade enquanto o
profissional da educação for
sistematicamente desvalorizado, tratado
pelo governo, pelas famílias e pela mídia em
geral como um inimigo público, um
vagabundo, etc.
Nessas condições , que aluno
vai querer ouvir o que uma
pessoa assim tem a dizer?
29. Os professores não tem voz na
mídia, mas é preciso que a
população saiba o que acontece
nas escolas brasileiras.