O documento discute a importância da preservação dos arquivos das quintas do Douro e estratégias para tal. Defende que a salvaguarda deve passar pelo reconhecimento do valor da informação contida nos arquivos e pelo desenvolvimento de parcerias entre proprietários e arquivos municipais, que podem fornecer apoio técnico especializado.
3. ATAS das 2as
CONFERÊNCIAS MUSEU DE LAMEGO / CITCEM - 2014
Quintas do Douro: História, Património e Desenvolvimento
Disponível online em www.museudelamego.pt
ABREVIATURAS
AMVR – Arquivo Municipal de Vila Real
ASCR – CQ - Amigos do Solar dos Condes de Resende
– Confraria Queirosiana
ASRAVD – Associação de Desenvolvimento da Rede
de Aldeias Vinhateiras do Douro
CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar
Cultura, Espaço e Memória
CNRS – Centre National de la Recherche Sciéntifique,
Lyon
DL – Diocese de Lamego
DRCN – Direção Regional de Cultura do Norte
FCSH – UNL – Faculdade de Ciências Sociais e Huma-nas
da Universidade Nova de Lisboa
FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto
GHAP - Gabinete de História, Arqueologia e Património
MD – Museu do Douro
ML – Museu de Lamego
5. Conferência de Abertura
Índice
Gaspar Martins Pereira (FLUP/CITCEM)
Quintas do Douro: História, Património e Desenvolvimento .........................................................09
Mesa-redonda
QUINTAS DO DOURO: MEMÓRIA E RECURSO
António Martinho (Membro da Direção da Douro Generation – Associação de Desenvolvimento)
A História e o património das quintas do Douro como valor de recurso para o Turismo ...........................21
Celeste Pereira (Greengrape - consultoria)
A importância do vinho do Porto na valorização do enoturismo e do território Douro ............................29
Painel 1
O PATRIMÓNIO DAS QUINTAS DO DOURO
Natália Fauvrelle
(Museu do Douro – Coordenadora dos Serviços de Museologia (em licença). Bolseira de doutoramento FCT/MD:
Investigadora CITCEM)
As quintas vinhateiras na construção do património paisagístico do Douro.........................................35
Carlota Cabral (Mestre FCSH-UNL)
Quinta do Paço de Monsul: um património singular ...................................................................53
Nuno Resende (DCTP- FLUP)
Santos da casa: capelas, devoção e poderes a sul do Douro no memorialismo paroquial ..........................61
J,A, Gonçalves Guimarães (arqueólogo; coordenador do Gabinete de História, Arqueologia e Património – ASCR-CQ)
Da intervenção arqueológica ao museu de sítio: a experiência da Quinta de Ervamoira...........................81
6. 6
Painel 2
QUINTAS DO DOURO: PATRIMÓNIO VITIVINÍCOLA, ENOTURISMO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Nuno Magalhães (UTAD)
O papel e importância das “quintas” na investigação e desenvolvimento da vitivinicultura duriense......... 105
Painel 3
QUINTAS DO DOURO: DOS ARQUIVOS À HISTÓRIA
Paula Montes Leal (CITCEM)
Arquivos de quintas do Douro: os casos de Santa Júlia e da Pacheca .............................................. 117
Pedro Peixoto (diretor do Arquivo Municipal de Vila Real)
Os arquivos das quintas do Douro: que estratégias de salvaguarda?............................................... 125
Otília Lage (CITCEM)
Dos arquivos patrticulares, património a preservar, à história da Quinta da Alegria de Cima (Carrazeda de An-siães,
1890-2014) ....................................................................................................... 129
Painel 4
ARQUEOLOGIA DAS QUINTAS DO DOURO
Pedro Pereira (CITCEM; UMR 5138 Archéométrie et Arqchéologie – ULLII/CNRS)
A importância da Arqueologia para a história da vinha e do vinho na região do Douro .......................... 143
7. 125
Quintas do Douro:
História, Património e Desenvolvimento
texto: Pedro Abreu Peixoto
Arquivo Municipal de Vila Real
Diretor
ppeixoto@cm-vilareal.pt
Nota biográfica:
Pedro Abreu Peixoto
É licenciado em História pela FCSH da Universidade Nova de Lisboa e pós-graduado
em Ciências Documentais pela Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa.
Desde 1988 que, no âmbito do Instituto Português de Arquivos, desenvolve
estudos na área dos Arquivos de Família, tendo publicado várias monografias,
instrumentos de descrição e artigos sobre a matéria.
Em 2004 assume a direcção do Arquivo Municipal de Vila Real, tendo
implementado o sistema de gestão arquivístico actual, o qual, através de
regulamento próprio, leva às primeiras actividades de selecção, avaliação e
eliminação documental.
No âmbito do Arquivo Municipal, tem dado particular importância à actividade
da difusão da informação no quadro da transparência da administração pública e
da sua proficiência, bem como às parcerias entre o público e o privado no que
respeita aos arquivos privados.
É investigador na área da selecção e avaliação documental e da história
administrativa e política portuguesa do século XIX.
Resumo
A salvaguarda dos arquivos das Quintas do Douro
passa pelo reconhecimento da primazia do valor da
informação através do seu cruzamento com outras
fontes documentais, públicas e privadas, e pelo
desenvolvimento de parcerias entre os proprietários
dos fundos documentais e dos Arquivos Municipais,
enquanto arquivos de proximidade e como forma de
aceder a cuidados técnicos especializados.
Abstract
The preservation of the archives of Quintas do Douro
(Douro farms) implies acknowledging the primacy of
the value of information through its junction with
other documentary sources, public and private, and
the development of partnerships between the owners
of the documentation and Municipal Archives, while
institutions of proximity and as a means of access to
qualified care.
8. 126
As sociedades organizadas têm a
necessidade de conservar a sua
memória histórica. Uma memória cujo
melhor garante é o arquivo, depositário
de prova das atividades desenvolvidas pelo ser humano.
O património documental é um dos mais
importantes de toda a sociedade. O seu valor atinge
todo o potencial através de programas de organização
e difusão dos fundos documentais, aproximando a
comunidade dos arquivos.
Tal torna-se possível organizando atividades
de conteúdo cultural, que levam conhecimento à
sociedade, permitindo-lhe valorizar o seu passado,
despertando uma atitude de reflexão crítica, perante
as realidades passadas e presentes da comunidade.
A experiência em países com grande tradição
arquivística, sobre a ativa função cultural dos arquivos,
remonta a algumas décadas atrás.
Superado o debate sobre a oportunidade de
incluir no trabalho arquivístico a faceta da difusão
cultural e aceite esta como de uma importância
similar aos trabalhos descritivos ou de conservação
dos fundos documentais, encontros teóricos e
práticas arquivísticas neste sentido sucedem-se a nível
internacional desde os anos cinquenta, momento a
partir do qual o Conselho Internacional de Arquivos
começa a tomar posições claras neste campo.
Juntam-se uma série de atividades e publicações
em países como a França, Itália, Grã-Bretanha e nos
antigos países socialistas, que permitirão avançar e
refletir sobre as ações postas em marcha, procurando
fórmulas mais de acordo com as novas teorias sobre a
ação cultural nos arquivos.
Veremos surgir junto das instituições de arquivo,
também em Portugal, serviços com denominações
variadas como de “educação”, de “extensão”, de “ação
cultural” ou outras, que pretendem ir para além da
missão base atribuída aos arquivos.
Estes serviços, - por vezes apenas simples ações
conforme a dimensão das instituições -, são a
concretização da inclusão da faceta da difusão cultural,
enquanto fazendo parte da missão dos arquivos, junto
da comunidade onde se inserem.
Esta dinâmica de ação e difusão cultural esteve
desde o início presente nos Arquivos Municipais.
Os arquivos dos municípios conheceram um
desenvolvimento muito diferenciado ao longo do
tempo, sofrendo um impulso decisivo na última
década, através da implementação do PARAM nos
seus diversos eixos de apoio.
Este programa de apoio aos arquivos municipais
dotará o país de uma rede de arquivos que, para além da
sua modernidade em infraestruturas e equipamentos,
revelar-se-á de enorme importância em termos da sua
proximidade aos cidadãos.
Ao exigir a dotação dos serviços de arquivo de
profissionais da área, o programa de apoio concorre
para que, pouco a pouco, as atividades dos arquivos
municipais passem a ser vistas numa perspetiva
integradora. Se, por um lado, a sua principal missão
é a gestão da informação documental do município,
na qual assume uma ação técnica e administrativa,
compete-lhe igualmente atuar enquanto agente
cultural.
No papel de agente cultural, a ação do arquivo
promove uma atividade que, de acordo com as
estratégias do município, procura proporcionar aos
cidadãos melhores conhecimentos para se situarem de
forma consciente no contexto social que lhes é próprio,
com o intuito de contribuir para a sua evolução. A
ação cultural dos arquivos municipais deve, assim,
transmitir o valor do património documental comum,
como parte fundamental da herança cultural do
município, e converter-se num centro de ação cultural,
que possa oferecer aos cidadãos elementos úteis para
a valorização e análise da sociedade atual e das suas
possibilidades futuras.
Os projetos de salvaguarda do património
documental produzido no espaço privado
devem incluir-se nesta vertente de ação cultural,
estrategicamente assumida no decorrer da missão
dos arquivos municipais enquanto arquivos de
proximidade.
Partindo das premissas de apoio à salvaguarda,
mas também à divulgação do património documental
produzido no espaço privado - onde se inserem
os arquivos das Quintas do Douro - e no apoio
à investigação e divulgação da história local,
continuamos a conviver com um grande número de
fundos e coleções privadas que, por razões de vária
índole, se encontram inacessíveis e/ou em risco.
Considerando a existência de diálogo entre o
interesse público e o interesse dos proprietários destes
fundos documentais, os arquivos municipais deverão
desenvolver projetos cujas premissas se baseiem na
importância vital da informação e da sua comunicação,
libertando-se da parte patrimonial e dos aportes mais
9. 127
ou menos subjetivos que transportam, reservando aos
proprietários o direito a ficar com a documentação,
sendo que os mesmos devem assegurar as condições
físicas para a sua salvaguarda.
Num encontro de interesse público/privado,
os arquivos municipais deverão disponibilizar o
tratamento técnico dos fundos documentais, enquanto
os proprietários asseguram a disponibilização integral
da informação e a possibilidade de comunicação da
mesma.
Com o desenvolvimento de projetos com estas
premissas, os proprietários de fundos documentais
privados asseguram a valorização da informação e, em
parceria com os arquivos municipais, desenvolvem uma
estratégia de salvaguarda e divulgação do património
documental, apoiando igualmente a investigação e a
história local, bem como preparam as fontes primárias
para a escrita da história das instituições.