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11/02/2013 08h56 - Atualizado em 12/02/2013 06h52
Papa Bento XVI vai renunciar ao pontificado em 28 de fevereiro
Ele fez o anúncio pessoalmente nesta segunda-feira (11) no Vaticano.
Pontífice disse que deixa o cargo por não ter mais forças para exercê-lo.
Do G1, em São Paulo

O Papa Bento XVI vai renunciar a seu pontificado em 28 de fevereiro.
Bento XVI anunciou a renúncia pessoalmente, falando em latim, durante um encontro de cardeais no Vaticano.
O surpreendente discurso foi feito entre as 11h30 e 11h40 locais (8h30 e 8h40 do horário brasileiro de verão), segundo o
Vaticano. A Rádio Vaticana publicou o áudio.
A Santa Sé anunciou que o papado, exercido pelo teólogo alemão desde 2005, vai ficar vago até que o sucessor seja
escolhido, o que se espera que ocorra "o mais rápido possível" e até a Páscoa, segundo o porta-voz Federico Lombardi.
Em comunicado, Bento XVI, que tem 85 anos, afirmou que vai deixar a liderança da Igreja Católica Apostólica Romana
devido à idade avançada, por "não ter mais forças" para exercer as obrigações do cargo.
O Vaticano negou que uma doença tenha sido o motívo da renúncia.
O pontífice afirmou que está "totalmente consciente" da gravidade de seu gesto.
"Por essa razão, e bem consciente da seriedade desse ato, com total liberdade declaro que renuncio ao ministério como
Bispo de Roma, sucessor de São Pedro", disse Joseph Ratzinger.
Na véspera, Bento XVI escreveu em sua conta no Twitter: "Devemos confiar no maravilhoso poder da misericórdia de
Deus. Somos todos pecadores, mas Sua graça nos transforma e renova".
Sucessor de João Paulo II, Bento XVI havia assumido o papado em 19 de abril de 2005, com 78 anos.

O Vaticano afirmou que a renúncia vai se formalizar às 20h locais de 28 de fevereiro (17h do horário brasileiro de verão),
uma quinta-feira.
Até lá, o Papa estará "totalmente encarregado" dos assuntos da igreja e irá cumprir os compromissos já agendados,
segundo a Santa Sé.

O novo Papa será escolhido pelo conclave de cardeais, como de costume.
Decisão surpreendente
O porta-voz do Vaticano disse que a decisão do Papa surpreendeu a todos do seu círculo mais róximo.
Lombardi afirmou que, após a renúncia, Bento XVI vai à residência papal de verão, em Castel Gandolfo, próximo a Roma, e
depois irá morar em um mosteiro dentro do Vaticano, que vai ser reformado para recebê-lo.
Lombardi também disse que Bento XVI não vai participar do conclave.
O porta-voz afirmou que Bento XVI mostrou "grande coragem" no seu gesto e descartou que uma depressão tenha sido o
motivo da renúncia.
Lombardi também descartou que Bento XVI vá interferir no papado de seu sucessor.
Aparência frágil
Nos últimos meses, o Papa parecia cada vez mais frágil em suas aparições públicas, muitas vezes precisando de ajuda
para caminhar.
Em seu livro de entrevistas publicado em 2010, Bento XVI já havia falado sobre a possibilidade de renunciar caso não
tivesse condições de continuar no cargo.
Georg Ratzinger, irmão do Papa, afirmou à France Presse que o pontífice já planejava a renúncia havia alguns meses.
O diretor do jornal do Vaticano, o 'L'Osservatore Romano', Giovanni Maria Vian, disse que a decisão foi tomada há quase
um ano.
Crises no pontificado
Bento XVI, ou Joseph Ratzinger, foi eleito para suceder João Paulo II, um dos pontífices mais populares da história.
Ele foi escolhido em 19 de abril de 2005, quando tinha 78 anos, 20 anos mais idoso do que seu predecessor quando foi
eleito.
O papado do conservador alemão foi marcado por algumas crises, com várias denúncias de abuso sexual de crianças e
adolescentes e acobertamento por parte do clero católico em vários países, que abalou a igreja, por um discurso que
desagradou aos muçulmanos e também por um escândalo envolvendo o vazamento de documentos privados por
intermédio de seu mordomo pessoal, o chamado "VatiLeaks", que revelou os bastidores da luta interna pelo poder na
Santa Sé.
Os escândalos de pedofilia o levaram, em várias ocasiões, a expressar um pedido de perdão público às vítimas e parentes
e a reconhecer, durante sua viagem a Portugal, em maio de 2010, que a maior perseguição que sofria a Igreja não vinha
de seus "inimigos externos" e sim de seus "próprios pecados". Na ocasião, ele prometeu que os culpados responderiam
"ante Deus e a justiça ordinária" pelos crimes.
Como Papa, Bento XVI tomou medidas que confirmaram o seu perfil conservador, como autorizar a missa em latim, em
setembro de 2007.
Em janeiro de 2009, ele suspendeu a excomunhão de quatro bispos integristas do movimento ultraconservador de Marcel
Lefebvre, entre eles o britânico Richard Williamson, que nega a existência do Holocausto nazista.
Em duas ocasiões, Bento XVI visitou a América Latina.
A primeira em maio de 2007, para assistir à assembleia geral da Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe
(Celam), celebrada na cidade de Aparecida, São Paulo.
Nessa ocasião, ele negou que a religião católica tivesse sido imposta pela força aos povos americanos, o que lhe valeu
duras críticas de religiosos e laicos que recordaram as atrocidades cometidas pelos conquistadores da América em nome
da fé.
Ele também canonizou Frei Galvão, primeiro santo brasileiro.
Em março de 2012, ele visitou o México e Cuba, onde defendeu a liberdade e os direitos da Igreja e recordou a primeira
e histórica visita de João Paulo II à ilha comunista em 1998.
Nas questões morais, ele se manteve inflexível como seu antecessor.
Em nome da defesa da vida, Bento XVI manteve a condenação do aborto, da manipulação genética, da eutanásia e do
casamento gay.
Segundo ele, o cristianismo só é crível se for exigente. Bento XVI prefere uma Igreja minoritária e convencida a uma grande
comunidade de fé vaga.
Livros e encíclicas
Entre 2007 e 2012, o papa teólogo publicou três livros sobre a vida de Jesus, a partir de dados fundamentais oferecidos nos
Evangelhos e em outros escritos do Novo Testamento.
Neles, reflete sobre a figura de Jesus Cristo na qualidade de teólogo, não como sumo pontífice da Igreja Católica, um
imponente exercício intelectual, que, além disso, foi um êxito internacional de vendas.
Bento XVI escreveu três encíclicas: "Deus caritas est" (Deus é caridade, 2005), sobre a caridade e o amor divino, "Spe
salvi" (Salvos pela esperança, 2007), na qual faz uma autocrítica ao cristianismo moderno e analisa principalmente o
pessimismo e o materialismo que sacode os europeus, e "Caritas in veritate" (Na caridade e na verdade, 2009).
O Papa era aguardado no Rio de Janeiro em julho deste ano, onde iria participar da Jornada Mundial da Juventude,
que vai reunir jovens católicos do mundo inteiro.
A Arquidiocese do Rio afirmou que a renúncia do Papa não vai mudar a programação do evento.
O Vaticano vai fazer uma cerimônia de despedida para Bento XVI antes do término de seu pontificado, à qual devem
comparecer fiéis de todo o mundo e autoridades "de muitos países", disse o cardeal decano, Angelo Sodano.
Leia a íntegra do discurso em que o Papa anunciou sua renúncia:
"Caros irmãos:
Convoquei-os para este consitório, não apenas para as três canonizações, mas também para comunicar a vocês uma
decisão de grande importância para a vida da Igreja. Após ter repetidamente examinado minha consciência perante Deus,
eu tive certeza de que minhas forças, devido à avançada idade, não são mais apropriadas para o adequado exercício do
ministério de Pedro. Eu estou bem consciente de que esse ministério, devido à sua natureza essencialmente espiritual,
deve ser levado não apenas com com palavras e fatos, mas não menos com oração e sofrimento. Contudo, no mundo de
hoje, sujeito a mudanças tão rápidas e abalado por questões de profunda relevância para a vida da fé, para governar a
barca de São Pedro e proclamar o Evangelho, é necessário tanto força da mente como do corpo, o que, nos últimos meses,
se deteriorou em mim numa extensão em que eu tenho de reconhecer minha incapacidade de adequadamente cumprir o
ministério a mim confiado. Por essa razão, e bem consciente da seriedade desse ato, com plena liberdade, declaro que
renuncio ao ministério como Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, confiado a mim pelos cardeais em 19 de abril de
2005, pelo qual a partir de 28 de fevereiro de 2013, às 20h, a Sé de Roma, a Sé de São Pedro, vai estar vaga e um
conclave para eleger o novo Sumo Pontífice terá de ser convocado por quem tem competência para isso.
Caros irmãos, agradeço sinceramente por todo o amor e trabalho com que vocês me apoiaram em meu ministério, e peço
perdão por todos os meus defeitos. E agora, vamos confiar a Sagrada Igreja aos cuidados de nosso Supremo Pastor,
Nosso Senhor Jesus Cristo, e implorar a sua santa mãe Maria para que ajude os cardeiais com sua solicitude maternal,
para eleger um novo Sumo Pontífice. Em relação a mim, desejo também devotamente servir a Santa Igreja de Deus no
futuro, através de uma vida dedicada à oração.
Vaticano, 10 de fevereiro de 2013.
BENEDICTUS PP. XVI"


Após renúncia do Papa, imprensa faz revelações constrangedoras para a Santa Fé


Redação Portal IMPRENSA | 15/02/2013 13:00
A inesperada renúncia de Bento XVI gerou uma "onda" de revelações constrangedoras sobre questões que a Santa
Sé havia mantido em sigilo nos últimos meses, como as condições de saúde do papa, corrupção e traições,
informou O Estado de S. Paulo, nesta sexta-feira (15/2).

Queda                                                     no                                              México
Na última quinta (14/2), jornais italianos revelaram que, em uma viagem ao México em abril, o papa caiu e bateu a
cabeça, que teria sangrado muito. Na ocasião, o incidente foi abafado e o Vaticano não revelou detalhes do caso à
imprensa, nem aos repórteres que viajavam com Bento XVI.

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, foi obrigado a confirmar o acidente, mas desmentiu a versão do jornal
de que a queda contribuiu para a decisão do papa de renunciar.

Marca-passo
No dia anterior, a imprensa italiana revelou que o papa, com 85 anos, havia passado por uma intervenção médica
para                 trocar               uma               bateria              no               marca-passo.

Lombardi confirmou a cirurgia, jamais informada ao público. Mas não deu a data da intervenção, apenas citou que
teria ocorrido no fim de 2012. Além disso, teve de explicar que Bento recebeu o marca-passo após um ataque sofrido
quando ainda era cardeal, algo também jamais revelado.

Corrupção
Segundo a revista italiana Panorama, o papa tomou a decisão de renunciar após conhecer o resultado de parte da
investigação que havia ordenado para determinar como documentos pessoais dele acabaram nas mãos de
jornalistas italianos e que escancararam a corrupção na Cúria.
Na época, o caso foi apresentado como um ato isolado de um mordomo que queria expor a corrupção e alertar ao
papa de coisas que ele não saberia. Mas uma investigação mais profunda entregue a Bento XVI no dia 17 de
dezembro revelaria que a trama era bem maior.

"O relatório trazia uma imagem imperdoável da Cúria Romana", diz a revista. O resultado mostrou uma resistência
generalizada contra as mudanças e à maior transparência exigida pelo papa. O roubo dos documentos poderia ter
envolvido até 30 pessoas. Bento XVI teria ficado tão impressionado com o resultado da investigação que apenas
comentou o caso com seu irmão. A revista aponta como isso acelerou sua decisão de renunciar.

Outro segredo bem guardado: a casa onde ele vai morar no Vaticano após a renúncia já estava selecionada pelo
próprio papa desde outubro, quando uma ordem de freiras foi retirada do local e uma reforma foi iniciada. Poucos
sabiam para quem era a reforma.




A história secreta da renúncia do papa
publicada sexta-feira, 15/02/2013 às 15:56 e atualizada sexta-feira, 15/02/2013 às 15:56


Por Eduardo Febbro, na Carta Maior


Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado,
depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da
École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu
predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada
espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo
massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro. O Vaticano era um ninho de hienas
enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações,
traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições
religiosas.


Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados
mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos,
mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas. Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um
continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos
importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995
a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro
mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão
reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.


O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito
paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a
verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente. Depois do escândalo provocado pelo vazamento da
correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer
Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg
Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox. Burke tinha por
missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito
tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica.


A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas
outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação
contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar
em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram
afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de
redesenhar.


Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública
sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura
do Papa. Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as
sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por
conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as
ditaduras de ultradireita do mundo.


Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe
Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a
primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira. O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das
querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta
é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.


Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto
para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na
Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate,
publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais
transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças
do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais
conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo
norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos
investimentos do Vaticano na época.


João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é
de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR
para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou
seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos,
além de vários cadáveres. No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em
Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa
trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como
P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.


Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi
demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão. Tedeschi saiu do banco poucas
horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo
investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro. Na verdade, a expulsão de Tedeschi
constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a
elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de
“políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da
Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas.
Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima
de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um
inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. Sua
destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos
roubados do papa.


Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem
compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e
ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma
imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos:
corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é
mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema.


Tradução: Katarina Peixoto

Igreja Católica inicia nova fase após renúncia do papa, diz professor de direito canônico


Brasília – A Igreja Católica Apostólica Romana inicia uma nova etapa no dia 28 deste mês, quando o papa Bento
XVI, de 85 anos, renuncia ao pontificado. Segundo o professor de direito canônico Paulo Bosco, da Universidade
Católica de Brasília (UCB), há uma necessidade latente de renovação na Igreja, mas ocorre em meio a uma série de
expectativas sobre o sucessor de Bento XVI. Segundo o professor, o próximo papa deve ser, sobretudo, um
“agregador”.


“É uma nova etapa da Igreja que se inicia sob o ponto de vista da esperança, pois há uma necessidade de
renovação”, disse Bosco à Agência Brasil. “O papa é o sucessor de São Pedro, aquele que deve saber lidar com a
diversidade e ser agregador. Deve ter também o poder de congregar”, ressaltou.


O processo de escolha do novo papa começa imediatamente após a renúncia. O padre jesuíta Luís Corrêa Lima,
professor da Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), explicou que essa fase inicial é chamada
de período de conversas prévias. Pela legislação que rege a eleição, há um prazo de 15 dias para esperar pelos
ausentes até que comece o conclave, o que deve ocorrer de 15 a 20 de março.


O conclave – expressão que vem do latim e significa “com chave” – reúne os cardeais que têm menos de 80 anos.
No total, são 209 cardeais, mas apenas 117 votarão no conclave. O processo de escolha começa com um juramento
de segredo absoluto sobre todos os procedimentos. Dos eleitores, 50 foram nomeados por João Paulo II e 67, por
Bento XVI.


No conclave, estarão representados os cinco continentes: Europa, com 61 cardeais; América Latina, com 19;
América do Norte, com 14; África, com 11; Ásia, com 11; e Oceania, com um. Os países que têm mais cardeais
eleitores são a Itália, com 28, os Estados Unidos, com 11, a Alemanha, com seis, o Brasil, a Espanha e a Índia, com
cinco cada um.


Corrêa Lima lembra que, durante o conclave, os cardeais ficam isolados e que a votação ocorre também de maneira
sigilosa. No momento de votar, em um pequeno pedaço de papel retangular, no qual está a frase Eligo in Summum
Pontificem (Elejo como Sumo Pontífice), o cardeal deve escrever na parte inferior, procurando disfarçar a letra, o
nome do seu candidato.


A cédula de votação é dobrada duas vezes e levada para o altar. Todo o processo segue um rito. A cédula é
depositada no altar no qual está uma urna em que cada cardeal pronunciará: “Invoco como testemunha Cristo
Senhor, o qual me há de julgar, que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo deve ser eleito.”


Se não houver consenso, haverá votações de manhã e à tarde. Caso não haja acordo depois de três dias,
estabelece-se prazo de 24 horas de interrupção para oração. O período de um dia é chamado de reflexão espiritual.
Em seguida, são retomadas as votações. Sem êxito, após um período máximo de nove dias, os cardeais eleitores
serão convidados a dar sua opinião sobre o modo de proceder em busca de consenso.


Edição: Nádia Franco

17/02/2013 às 11h13
Em missa após renúncia, papa pede por renovação da Igreja Católica
Por Agência Brasil com agências internacionais
A Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano, foi tomada hoje (17) por fiéis que se concentraram no local para a
penúltima missa dominical do papa Bento XVI, primeira celebração dominical do pontífice após o anúncio da
renúncia. Na missa, o papa, que falou em várias línguas, apelou para a renovação e reorientação da Igreja Católica
Apostólica Romana. A polícia fechou à circulação da Via della Conciliazione - a maior avenida de Roma, a capital
italiana – que dá acesso ao Vaticano. A estimativa é que cerca de 100 mil pessoas se concentraram na praça.

O papa apelou para a renovação da Igreja Católica Apostólica Romana e a rejeição do orgulho e do egoísmo. Bento
XVI pediu aos fiéis para não instrumentalizar a fé em seu próprio benefício, "dando mais importância ao êxito e aos
bens materiais".

A Oração do Angelus se destinou a homenagear o papa Bento XVI. Não há previsão de audiência específica
concedida pelo papa para hoje com autoridades. No final da tarde, Bento XVI dará início a uma semana de
meditações – que terminarão apenas no próximo dia 23. No próximo sábado, ele receberá, em audiência privada e
de despedida, o presidente da Itália, Giorgio Napolitano.

Em decorrência da semana de meditações, o papa cancelou todas as atividades. Segundo especialistas, a semana
de retiro do papa neste período de Quaresma é habitual. O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que, ao
longo da semana, o papa deverá ter reuniões com o secretário particular, Georg Ganswein, para despachar assuntos
mais urgentes.

À imprensa italiana, o cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício, reconheceu que a renúncia do papa
fez com a Igreja Católica Apostólica Romana viva "horas complicadas", mas, segundo ele, a situação "será
superada”.

Após oito anos de pontificado, Bento XVI anunciou que renunciará no próximo dia 28. Segundo ele, sofre com a falta
de “força” e a “idade avançada”. No dia 27, o papa fará sua despedida. Após sua renúncia começa o processo de
escolha do sucessor.
Renúncia do papa

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Renúncia do papa

  • 1. 11/02/2013 08h56 - Atualizado em 12/02/2013 06h52 Papa Bento XVI vai renunciar ao pontificado em 28 de fevereiro Ele fez o anúncio pessoalmente nesta segunda-feira (11) no Vaticano. Pontífice disse que deixa o cargo por não ter mais forças para exercê-lo. Do G1, em São Paulo O Papa Bento XVI vai renunciar a seu pontificado em 28 de fevereiro. Bento XVI anunciou a renúncia pessoalmente, falando em latim, durante um encontro de cardeais no Vaticano. O surpreendente discurso foi feito entre as 11h30 e 11h40 locais (8h30 e 8h40 do horário brasileiro de verão), segundo o Vaticano. A Rádio Vaticana publicou o áudio. A Santa Sé anunciou que o papado, exercido pelo teólogo alemão desde 2005, vai ficar vago até que o sucessor seja escolhido, o que se espera que ocorra "o mais rápido possível" e até a Páscoa, segundo o porta-voz Federico Lombardi. Em comunicado, Bento XVI, que tem 85 anos, afirmou que vai deixar a liderança da Igreja Católica Apostólica Romana devido à idade avançada, por "não ter mais forças" para exercer as obrigações do cargo. O Vaticano negou que uma doença tenha sido o motívo da renúncia. O pontífice afirmou que está "totalmente consciente" da gravidade de seu gesto. "Por essa razão, e bem consciente da seriedade desse ato, com total liberdade declaro que renuncio ao ministério como Bispo de Roma, sucessor de São Pedro", disse Joseph Ratzinger. Na véspera, Bento XVI escreveu em sua conta no Twitter: "Devemos confiar no maravilhoso poder da misericórdia de Deus. Somos todos pecadores, mas Sua graça nos transforma e renova". Sucessor de João Paulo II, Bento XVI havia assumido o papado em 19 de abril de 2005, com 78 anos. O Vaticano afirmou que a renúncia vai se formalizar às 20h locais de 28 de fevereiro (17h do horário brasileiro de verão), uma quinta-feira. Até lá, o Papa estará "totalmente encarregado" dos assuntos da igreja e irá cumprir os compromissos já agendados, segundo a Santa Sé. O novo Papa será escolhido pelo conclave de cardeais, como de costume. Decisão surpreendente O porta-voz do Vaticano disse que a decisão do Papa surpreendeu a todos do seu círculo mais róximo. Lombardi afirmou que, após a renúncia, Bento XVI vai à residência papal de verão, em Castel Gandolfo, próximo a Roma, e depois irá morar em um mosteiro dentro do Vaticano, que vai ser reformado para recebê-lo. Lombardi também disse que Bento XVI não vai participar do conclave. O porta-voz afirmou que Bento XVI mostrou "grande coragem" no seu gesto e descartou que uma depressão tenha sido o motivo da renúncia. Lombardi também descartou que Bento XVI vá interferir no papado de seu sucessor. Aparência frágil Nos últimos meses, o Papa parecia cada vez mais frágil em suas aparições públicas, muitas vezes precisando de ajuda para caminhar. Em seu livro de entrevistas publicado em 2010, Bento XVI já havia falado sobre a possibilidade de renunciar caso não tivesse condições de continuar no cargo. Georg Ratzinger, irmão do Papa, afirmou à France Presse que o pontífice já planejava a renúncia havia alguns meses. O diretor do jornal do Vaticano, o 'L'Osservatore Romano', Giovanni Maria Vian, disse que a decisão foi tomada há quase um ano.
  • 2. Crises no pontificado Bento XVI, ou Joseph Ratzinger, foi eleito para suceder João Paulo II, um dos pontífices mais populares da história. Ele foi escolhido em 19 de abril de 2005, quando tinha 78 anos, 20 anos mais idoso do que seu predecessor quando foi eleito. O papado do conservador alemão foi marcado por algumas crises, com várias denúncias de abuso sexual de crianças e adolescentes e acobertamento por parte do clero católico em vários países, que abalou a igreja, por um discurso que desagradou aos muçulmanos e também por um escândalo envolvendo o vazamento de documentos privados por intermédio de seu mordomo pessoal, o chamado "VatiLeaks", que revelou os bastidores da luta interna pelo poder na Santa Sé. Os escândalos de pedofilia o levaram, em várias ocasiões, a expressar um pedido de perdão público às vítimas e parentes e a reconhecer, durante sua viagem a Portugal, em maio de 2010, que a maior perseguição que sofria a Igreja não vinha de seus "inimigos externos" e sim de seus "próprios pecados". Na ocasião, ele prometeu que os culpados responderiam "ante Deus e a justiça ordinária" pelos crimes. Como Papa, Bento XVI tomou medidas que confirmaram o seu perfil conservador, como autorizar a missa em latim, em setembro de 2007. Em janeiro de 2009, ele suspendeu a excomunhão de quatro bispos integristas do movimento ultraconservador de Marcel Lefebvre, entre eles o britânico Richard Williamson, que nega a existência do Holocausto nazista. Em duas ocasiões, Bento XVI visitou a América Latina. A primeira em maio de 2007, para assistir à assembleia geral da Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam), celebrada na cidade de Aparecida, São Paulo. Nessa ocasião, ele negou que a religião católica tivesse sido imposta pela força aos povos americanos, o que lhe valeu duras críticas de religiosos e laicos que recordaram as atrocidades cometidas pelos conquistadores da América em nome da fé. Ele também canonizou Frei Galvão, primeiro santo brasileiro. Em março de 2012, ele visitou o México e Cuba, onde defendeu a liberdade e os direitos da Igreja e recordou a primeira e histórica visita de João Paulo II à ilha comunista em 1998. Nas questões morais, ele se manteve inflexível como seu antecessor. Em nome da defesa da vida, Bento XVI manteve a condenação do aborto, da manipulação genética, da eutanásia e do casamento gay. Segundo ele, o cristianismo só é crível se for exigente. Bento XVI prefere uma Igreja minoritária e convencida a uma grande comunidade de fé vaga. Livros e encíclicas Entre 2007 e 2012, o papa teólogo publicou três livros sobre a vida de Jesus, a partir de dados fundamentais oferecidos nos Evangelhos e em outros escritos do Novo Testamento. Neles, reflete sobre a figura de Jesus Cristo na qualidade de teólogo, não como sumo pontífice da Igreja Católica, um imponente exercício intelectual, que, além disso, foi um êxito internacional de vendas. Bento XVI escreveu três encíclicas: "Deus caritas est" (Deus é caridade, 2005), sobre a caridade e o amor divino, "Spe salvi" (Salvos pela esperança, 2007), na qual faz uma autocrítica ao cristianismo moderno e analisa principalmente o pessimismo e o materialismo que sacode os europeus, e "Caritas in veritate" (Na caridade e na verdade, 2009). O Papa era aguardado no Rio de Janeiro em julho deste ano, onde iria participar da Jornada Mundial da Juventude, que vai reunir jovens católicos do mundo inteiro. A Arquidiocese do Rio afirmou que a renúncia do Papa não vai mudar a programação do evento.
  • 3. O Vaticano vai fazer uma cerimônia de despedida para Bento XVI antes do término de seu pontificado, à qual devem comparecer fiéis de todo o mundo e autoridades "de muitos países", disse o cardeal decano, Angelo Sodano. Leia a íntegra do discurso em que o Papa anunciou sua renúncia: "Caros irmãos: Convoquei-os para este consitório, não apenas para as três canonizações, mas também para comunicar a vocês uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Após ter repetidamente examinado minha consciência perante Deus, eu tive certeza de que minhas forças, devido à avançada idade, não são mais apropriadas para o adequado exercício do ministério de Pedro. Eu estou bem consciente de que esse ministério, devido à sua natureza essencialmente espiritual, deve ser levado não apenas com com palavras e fatos, mas não menos com oração e sofrimento. Contudo, no mundo de hoje, sujeito a mudanças tão rápidas e abalado por questões de profunda relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e proclamar o Evangelho, é necessário tanto força da mente como do corpo, o que, nos últimos meses, se deteriorou em mim numa extensão em que eu tenho de reconhecer minha incapacidade de adequadamente cumprir o ministério a mim confiado. Por essa razão, e bem consciente da seriedade desse ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério como Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, confiado a mim pelos cardeais em 19 de abril de 2005, pelo qual a partir de 28 de fevereiro de 2013, às 20h, a Sé de Roma, a Sé de São Pedro, vai estar vaga e um conclave para eleger o novo Sumo Pontífice terá de ser convocado por quem tem competência para isso. Caros irmãos, agradeço sinceramente por todo o amor e trabalho com que vocês me apoiaram em meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. E agora, vamos confiar a Sagrada Igreja aos cuidados de nosso Supremo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, e implorar a sua santa mãe Maria para que ajude os cardeiais com sua solicitude maternal, para eleger um novo Sumo Pontífice. Em relação a mim, desejo também devotamente servir a Santa Igreja de Deus no futuro, através de uma vida dedicada à oração. Vaticano, 10 de fevereiro de 2013. BENEDICTUS PP. XVI" Após renúncia do Papa, imprensa faz revelações constrangedoras para a Santa Fé Redação Portal IMPRENSA | 15/02/2013 13:00 A inesperada renúncia de Bento XVI gerou uma "onda" de revelações constrangedoras sobre questões que a Santa Sé havia mantido em sigilo nos últimos meses, como as condições de saúde do papa, corrupção e traições, informou O Estado de S. Paulo, nesta sexta-feira (15/2). Queda no México Na última quinta (14/2), jornais italianos revelaram que, em uma viagem ao México em abril, o papa caiu e bateu a cabeça, que teria sangrado muito. Na ocasião, o incidente foi abafado e o Vaticano não revelou detalhes do caso à imprensa, nem aos repórteres que viajavam com Bento XVI. O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, foi obrigado a confirmar o acidente, mas desmentiu a versão do jornal de que a queda contribuiu para a decisão do papa de renunciar. Marca-passo No dia anterior, a imprensa italiana revelou que o papa, com 85 anos, havia passado por uma intervenção médica para trocar uma bateria no marca-passo. Lombardi confirmou a cirurgia, jamais informada ao público. Mas não deu a data da intervenção, apenas citou que teria ocorrido no fim de 2012. Além disso, teve de explicar que Bento recebeu o marca-passo após um ataque sofrido quando ainda era cardeal, algo também jamais revelado. Corrupção Segundo a revista italiana Panorama, o papa tomou a decisão de renunciar após conhecer o resultado de parte da investigação que havia ordenado para determinar como documentos pessoais dele acabaram nas mãos de jornalistas italianos e que escancararam a corrupção na Cúria.
  • 4. Na época, o caso foi apresentado como um ato isolado de um mordomo que queria expor a corrupção e alertar ao papa de coisas que ele não saberia. Mas uma investigação mais profunda entregue a Bento XVI no dia 17 de dezembro revelaria que a trama era bem maior. "O relatório trazia uma imagem imperdoável da Cúria Romana", diz a revista. O resultado mostrou uma resistência generalizada contra as mudanças e à maior transparência exigida pelo papa. O roubo dos documentos poderia ter envolvido até 30 pessoas. Bento XVI teria ficado tão impressionado com o resultado da investigação que apenas comentou o caso com seu irmão. A revista aponta como isso acelerou sua decisão de renunciar. Outro segredo bem guardado: a casa onde ele vai morar no Vaticano após a renúncia já estava selecionada pelo próprio papa desde outubro, quando uma ordem de freiras foi retirada do local e uma reforma foi iniciada. Poucos sabiam para quem era a reforma. A história secreta da renúncia do papa publicada sexta-feira, 15/02/2013 às 15:56 e atualizada sexta-feira, 15/02/2013 às 15:56 Por Eduardo Febbro, na Carta Maior Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro. O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas. Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas. Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno. O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente. Depois do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox. Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica. A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação
  • 5. contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar. Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa. Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo. Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira. O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual. Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época. João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres. No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus. Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão. Tedeschi saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro. Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas.
  • 6. Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. Sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos roubados do papa. Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema. Tradução: Katarina Peixoto Igreja Católica inicia nova fase após renúncia do papa, diz professor de direito canônico Brasília – A Igreja Católica Apostólica Romana inicia uma nova etapa no dia 28 deste mês, quando o papa Bento XVI, de 85 anos, renuncia ao pontificado. Segundo o professor de direito canônico Paulo Bosco, da Universidade Católica de Brasília (UCB), há uma necessidade latente de renovação na Igreja, mas ocorre em meio a uma série de expectativas sobre o sucessor de Bento XVI. Segundo o professor, o próximo papa deve ser, sobretudo, um “agregador”. “É uma nova etapa da Igreja que se inicia sob o ponto de vista da esperança, pois há uma necessidade de renovação”, disse Bosco à Agência Brasil. “O papa é o sucessor de São Pedro, aquele que deve saber lidar com a diversidade e ser agregador. Deve ter também o poder de congregar”, ressaltou. O processo de escolha do novo papa começa imediatamente após a renúncia. O padre jesuíta Luís Corrêa Lima, professor da Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), explicou que essa fase inicial é chamada de período de conversas prévias. Pela legislação que rege a eleição, há um prazo de 15 dias para esperar pelos ausentes até que comece o conclave, o que deve ocorrer de 15 a 20 de março. O conclave – expressão que vem do latim e significa “com chave” – reúne os cardeais que têm menos de 80 anos. No total, são 209 cardeais, mas apenas 117 votarão no conclave. O processo de escolha começa com um juramento de segredo absoluto sobre todos os procedimentos. Dos eleitores, 50 foram nomeados por João Paulo II e 67, por Bento XVI. No conclave, estarão representados os cinco continentes: Europa, com 61 cardeais; América Latina, com 19; América do Norte, com 14; África, com 11; Ásia, com 11; e Oceania, com um. Os países que têm mais cardeais eleitores são a Itália, com 28, os Estados Unidos, com 11, a Alemanha, com seis, o Brasil, a Espanha e a Índia, com cinco cada um. Corrêa Lima lembra que, durante o conclave, os cardeais ficam isolados e que a votação ocorre também de maneira sigilosa. No momento de votar, em um pequeno pedaço de papel retangular, no qual está a frase Eligo in Summum
  • 7. Pontificem (Elejo como Sumo Pontífice), o cardeal deve escrever na parte inferior, procurando disfarçar a letra, o nome do seu candidato. A cédula de votação é dobrada duas vezes e levada para o altar. Todo o processo segue um rito. A cédula é depositada no altar no qual está uma urna em que cada cardeal pronunciará: “Invoco como testemunha Cristo Senhor, o qual me há de julgar, que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo deve ser eleito.” Se não houver consenso, haverá votações de manhã e à tarde. Caso não haja acordo depois de três dias, estabelece-se prazo de 24 horas de interrupção para oração. O período de um dia é chamado de reflexão espiritual. Em seguida, são retomadas as votações. Sem êxito, após um período máximo de nove dias, os cardeais eleitores serão convidados a dar sua opinião sobre o modo de proceder em busca de consenso. Edição: Nádia Franco 17/02/2013 às 11h13 Em missa após renúncia, papa pede por renovação da Igreja Católica Por Agência Brasil com agências internacionais A Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano, foi tomada hoje (17) por fiéis que se concentraram no local para a penúltima missa dominical do papa Bento XVI, primeira celebração dominical do pontífice após o anúncio da renúncia. Na missa, o papa, que falou em várias línguas, apelou para a renovação e reorientação da Igreja Católica Apostólica Romana. A polícia fechou à circulação da Via della Conciliazione - a maior avenida de Roma, a capital italiana – que dá acesso ao Vaticano. A estimativa é que cerca de 100 mil pessoas se concentraram na praça. O papa apelou para a renovação da Igreja Católica Apostólica Romana e a rejeição do orgulho e do egoísmo. Bento XVI pediu aos fiéis para não instrumentalizar a fé em seu próprio benefício, "dando mais importância ao êxito e aos bens materiais". A Oração do Angelus se destinou a homenagear o papa Bento XVI. Não há previsão de audiência específica concedida pelo papa para hoje com autoridades. No final da tarde, Bento XVI dará início a uma semana de meditações – que terminarão apenas no próximo dia 23. No próximo sábado, ele receberá, em audiência privada e de despedida, o presidente da Itália, Giorgio Napolitano. Em decorrência da semana de meditações, o papa cancelou todas as atividades. Segundo especialistas, a semana de retiro do papa neste período de Quaresma é habitual. O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que, ao longo da semana, o papa deverá ter reuniões com o secretário particular, Georg Ganswein, para despachar assuntos mais urgentes. À imprensa italiana, o cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício, reconheceu que a renúncia do papa fez com a Igreja Católica Apostólica Romana viva "horas complicadas", mas, segundo ele, a situação "será superada”. Após oito anos de pontificado, Bento XVI anunciou que renunciará no próximo dia 28. Segundo ele, sofre com a falta de “força” e a “idade avançada”. No dia 27, o papa fará sua despedida. Após sua renúncia começa o processo de escolha do sucessor.