1) O documento discute a necessidade de reconstrução de Campinas após períodos difíceis e gestões ruins que quase arruinaram a cidade.
2) Defende a investigação de irregularidades e a punição de desvios de conduta para assegurar a lisura dos processos municipais.
3) Alertam para os riscos da especulação imobiliária sobre as áreas de proteção ambiental e a falta de planejamento para acompanhar as transformações urbanas.
1. A reconstrução de Campinas
Após mais um triste período de nossa história, todos os filhos de Campinas aguardamos
a concretização de novos tempos. Fomos varridos, terrivelmente, por mais uma desgraça
que se abateu sobre nós. Nossa terra, sempre generosa, acolheu e foi desmerecida;
diversos foram os seus maus tratos e prejuízos. O pior deles, a traição política. Houve
consequentemente, o interromper de um caminho condutor ao sucesso e ao
desenvolvimento pleno: sustentável e com qualidade de vida.
Estamos vivendo um necessário momento de limpeza, herança de gestões que quase
arruinaram nossa cidade. Vivenciamos um pesadelo: a imobilização da sociedade
democrática e plena em seus direitos; fomos aviltados e tolhidos ao acesso e usufruto do
retorno que todos merecemos como cidadãos, pagadores de impostos e cumpridores de
deveres.
O papel que todos esperamos desta atual gestão municipal é o de permitir a investigação
dos órgãos competentes, de ocorrências e fatos irregulares. A detecção, a punição e a
alteração das práticas de desvio de conduta e de procedimento são inquestionáveis. A
lisura, por exemplo, em processos de licenciamentos de obras realizadas em Campinas
deve ser garantida. A preocupação com a legislação, com as consequências futuras
sobre a estrutura urbana, a qualidade de vida e a sustentabilidade são premissas da
aprovação técnica de projetos.
Presenciamos e estamos estarrecidos com a disputa a tapas e socos da presidência do
Conselho Gestor das Áreas de Proteção Ambiental de Campinas. A ameaça
especulatória da construção civil sobre elas é cada vez mais evidente. As APAs acolhem
remanescentes de vegetação, compõe o berço de mananciais extremamente frágeis em
uma região industrial, a cada dia, com menor disponibilidade hídrica.
Interesses excusos ameaçam manter a estrutura que permitiu a execução de uma
infinidade de empreendimentos que estão sendo questionados pela sociedade. Alguns
deles já foram embargados, outros enfrentam grande repercussão negativa, como o Vila
Abaeté. O perfil municipal se transforma de horizontal para vertical vertiginosamente.
O planejamento e a reestruturação física e ambiental do espaço, além dos serviços
públicos para acompanhar essa alteração, inexistem. A avaliação de impactos, a
exigência de medidas mitigadoras e compensatórias é realizada de maneira pontual e
deficiente, quando reflete sobre todo o território regional.
Campinas, em sua história vivenciou inúmeras tragédias. Dentre elas, os surtos de febre
amarela que dizimaram e expulsaram parcela significativa de sua população e, o
assassinato do Prefeito Antonio da Costa Santos – profundo conhecedor de nossas
necessidades urbanas e sociais. Esses terríveis episódios nos obrigam à reflexão dos
rumos que queremos tomar enquanto sociedade.
Em nossos momentos de catástrofe, a maior força do campineiro foi demonstrada pela
união, luta, sabedoria e ação. Phoenix, ave mitológica que renasce de suas cinzas, não é
nosso símbolo por acaso; ela serve de exemplo ao demonstrar recuperação, avanço e
recomposição de sua dignidade. Uma sociedade apática é a mesma que permite a
entrada, a penetração estrutural e a ação de seus algozes.
Que cada cidadão deste solo se sinta chamado internamente a participar da reconstrução
de nosso município. Os conselhos da cidade precisam ser ocupados por verdadeiros
incansáveis, apaixonados e contribuidores.
Podemos transformar Campinas, contribuindo com o melhor que sabemos fazer,
exercendo o controle social e participando ativamente, com muito trabalho, amor e
esperança. A exigência da transparência é necessária em todas as ações públicas.
2. Um grande jardim arborizado seria uma boa ideia em nossa realidade. Ao final do ciclo
decompositor e reciclador de diversos materiais imprestáveis, a natureza se encarrega de
renovar as condições para a vida, transformando lixo em alimento. Quem sabe
aproveitemos desses mesmos princípios para nos revitalizar e reciclar conjuntamente;
nesse sentido, só podemos florescer e frutificar prodigamente.
José Hamilton de Aguirre Junior – Engenheiro Florestal, especialista em
sustentabilidade e mestre em arborização urbana. Teresa Cristina Moura Penteado – Pós
graduada em Gestão Ambiental e Perita Judicial Ambiental.