Palestra a respeito das mudanças climáticas e a sua relação na gestão das cidades. Apresentação realizada pela diretora da Defesa Civil de Santo André, Débora Diogo, no Centro de Referência em Saneamento Ambiental do Semasa.
4. As mudanças climáticas tem uma causa global e um impacto local,
causam impactos econômicos em escala mundial.
Assim as medidas para promover a adaptação devem ser
gerenciadas por meio de uma governança que inclua os três níveis
da federação, exigindo estratégias complementares e sinérgicas do
governo federal, estadual e municipal.
Isto significa que para definição de medidas eficazes de adaptação
também é necessário uma governança vertical.
Além de afetarem setores, os impactos da mudança do clima
também tem uma natureza territorial bastante enunciada, em que
seus efeitos vão variar de acordo com as características ambientais e
sociais do território sobre as quais incidem.
Assim, políticas de adaptação devem ter uma natureza setorial e
territorial integrada.
Ação integrada
5. O 5.º relatório do IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas,
confirmou com ainda maior certeza que os anteriores que a ação humana é
responsável pelo atual aquecimento do planeta, e alertou que os perigos da
inação se tornaram mais graves. Entre as principais conclusões do relatório
estão:
• O aquecimento é inequívoco. O mundo aqueceu em média 0,85ºC entre 1880
e 2012. A atmosfera e os mares aqueceram, o gelo e a neve diminuíram, e as
concentrações de gases do efeito estufa aumentaram. A manifestação do
fenômeno sobre o mundo, e seus efeitos, não é uniforme, o Ártico é onde o
aquecimento ocorre com maior intensidade.
• A principal causa do aquecimento presente é a emissão de gases estufa pelas
atividades humanas, com destaque para a emissão de gás carbônico. A
evidência indicando a origem humana do problema se fortaleceu desde o
relatório anterior.
• As três últimas décadas foram as mais quentes desde 1850. O aumento da
temperatura entre a média do período 1850-1900 e a média do período
2003–2012 foi em média 0,78ºC.
Dados do 5.º Relatório do IPCC
7. O gelo está em recuo acelerado na maior parte das regiões frias do mundo.
O regime de chuvas, as correntes marinhas e o padrão dos ventos estão sendo
perturbados, aumentando a tendência de secas e enchentes.
Os efeitos se combinam para gerar novas causas, tendendo a amplificar em
cascata o aquecimento e agravar suas consequências.
Mesmo que as emissões cessassem imediatamente, haveria um aquecimento
adicional pela lentidão de algumas reações e pelos efeitos cumulativos. O
aquecimento produz efeitos de longo prazo e pode afetar toda a biosfera.
Se as emissões continuarem dentro das tendências atuais, o aquecimento vai
aumentar, podendo chegar a 4,8ºC até 2100, os efeitos negativos se
multiplicarão e perturbarão todos os componentes do sistema climático, com
graves repercussões sobre o bem estar da humanidade e de todas as outras
formas de vida. O mar subiria mais, ficaria ainda mais quente e mais ácido,
haveria mais perda de gelo, as chuvas ficariam mais irregulares e os episódios de
tempo severo, mais frequentes e intensos, entre outras consequências.
Evitar que as previsões mais pessimistas se concretizem exigirá uma rápida e
significativa redução nas emissões.
O que está em jogo: relatório IPCC
8. Previsão Câmbios Climáticos IPCC
Crédito: Resumo para Tomadores de Decisão, Quinto Relatório Resumido de Avaliação do IPCC, Figura SPM.7
10. • Os oceanos têm acumulado a maior parte do aquecimento, servindo como um
amortecedor para o aquecimento da atmosfera, estocando mais de 90% da
energia do sistema do clima e muito gás carbônico. É certo que os 700 metros
superiores do oceano aqueceram entre 1971 e 2010, e provavelmente
também tenha sido afetado até o seu fundo. No entanto, à medida que o
oceano aquece, ele perde capacidade de absorver gás carbônico, o que pode
acelerar os efeitos atmosféricos quando ele atingir a saturação.
• O mar está se tornando mais ácido pela continuada absorção de gás
carbônico.
• O nível do mar aumentou em cerca de 19 cm entre 1901 e 2010 devido à
expansão térmica das águas. No cenário mais pessimista, a elevação pode
chegar a mais de 80cm até 2100.
Dados do 5.º Relatório do IPCC
11. O Ártico é onde o aquecimento ocorre com maior intensidade
12. CHINA
USA
EU-25
Russia
Gráfico histórico das emissões de GEE de 1900 a 2010:
India
Russia
ZAR
Brasil
Vejam a diferença entre as emissões provocadas
pelas nações ricas e pobres!
13. As mudanças climáticas já são realidade. Por isso, iniciativas de adaptação às
alterações do clima são necessárias e urgentes. Porém, o que ocorre
atualmente é que as nações que sofrem e/ou sofrerão impactos menos intensos
já estão se preparando, enquanto aquelas mais vulneráveis não conseguem
implementar estratégias para se adaptarem aos fenômenos climáticos.
Portanto, é urgente o apoio financeiro de países desenvolvidos às populações
mais pobres e que vivem em áreas de risco.
ONU calcula que seria necessário um investimento imediato de valores entre
US$ 50 bilhões e US$ 70 bilhões por ano, mas os custos reais para adaptação
podem ser de duas a três vezes maiores do que essas estimativas.
O desafio da adaptação
14. Eventos climáticos extremos estão aumentando em frequência,
abrangência e intensidade em todos os continentes
15. Interconexões entre os principais conceitos de gerenciamento de
riscos de desastres IPCC
16. O termo Adaptação tem sido usado por cientistas para designar o ajuste em
sistemas naturais ou humanos em resposta aos efeitos da mudança do clima
atual ou futura, que pode moderar os danos causados ou explorar
oportunidades oriundas da mudança do clima (IPCC, 2007).
A adaptação é uma estratégia de resposta de qualquer sistema à mudança do
clima, no esforço para lidar com possíveis impactos e explorar eventuais
oportunidades.
A Política Nacional Sobre Mudança do Clima define “Adaptação” como:
Iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e
humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima;
A elaboração de uma estratégia de adaptação, em linhas gerais, envolve a
identificação da exposição a impactos, atuais e futuros com base em projeções
e cenários climáticos, a identificação e análise da sensibilidade a esses
possíveis impactos, a definição de medidas adaptativas. Existem também
impactos aos quais não é possível ou viável se adaptar, estes são considerados
categorias de perdas e danos (Decisão 2/COP19).
Conceito de Adaptação às Mudanças do Clima
18. Os países mais pobres são os mais vulneráveis às alterações climáticas.
É essencial que as mudanças climáticas sejam totalmente integradas na
política de desenvolvimento e que os países ricos honrem o seu
compromisso de aumentar o apoio aos países em desenvolvimento.
O financiamento internacional deverá também apoiar o melhoramento da
informação regional sobre os impactos das alterações climáticas e a
investigação de novas variedades de colheita que sejam mais resistentes às
secas e às inundações.
Mudanças Climáticas e a questão socioeconômica
19. Mudanças climáticas, agricultura e
biodiversidade estão intimamente
ligadas: o avanço das monoculturas e o
aumento no uso de fertilizantes
químicos, além da destruição de
habitats, têm contribuído para a perda
da biodiversidade, que faria o sequestro
de gases de Efeito de Estufa, GEE.
Monoculturas químicas são menos
resistentes ao clima instável e não são
sistemas confiáveis para garantir
alimentos em tempos de incerteza.
O processo de adaptação às alterações
climáticas requer diversidade em todos
os níveis e, sistemas biodiversos não
são apenas mais resistentes às
mudanças climáticas, como também
mais produtivos em termos de nutrição
por hectare.
Mudanças Climáticas, agricultura e biodiversidade
21. Japão elimina paletós e gravatas para reduzir consumo com ar-condicionado
Crianças em Matathirta (Nepal) aprendem como se abrigar usando as carteiras escolares
em caso de terremoto.
Todos precisam se adaptar, mas os países mais pobres têm
mais dificuldades
22. Japão constrói “muralha” contra tsunamis
A construção terá 12,5 metros de altura e se estenderá por mais de 400 quilômetros na
costa noroeste do país.
A muralha é feita de cimento e formada por uma cadeia de paredes menores e blocos
que facilitam a construção.
A obra custou algo em torno de US$ 6,8 bilhões (mais de R$ 21 bilhões) e visa evitar um
desastre parecido com o ocorrido em março de 2011, no qual um tsunami provocado
por um terremoto no Oceano Pacífico destruiu comunidades costeiras e a usina nuclear
de Fukushima, deixando um total de 19 mil mortos.
23. Para alguns é difícil reconhecer que não temos tudo sob controle, e a Terra nos diz hoje:
olhe, você não é mais do que um convidado na minha casa. Podemos deter o
aquecimento global? Só se mudarmos de modo radical nosso sistema capitalista,
defende a ensaísta Naomi Klein. Ela explica por que chegou o momento de abandonar
os pequenos passos a favor de um enfoque radicalmente novo, tal como detalha em seu
livro “Isso muda tudo: capitalismo vs clima”.
A mudança climática reflete o sistema capitalista
25. Os impactos da mudança do clima afetam o cotidiano das cidades e de suas
populações, ameaçam os espaços construídos, aumentam os riscos de
ocorrência de desastres em decorrência de inundações e deslizamentos de
terra, ameaçam os ativos e setores econômicos (IPCC, 2014).
Desta forma os impactos da mudança do clima tem uma natureza
transetorial que afeta diferentes setores econômicos em diferentes agendas
de governo: energia, cidades, recursos hídricos, florestas, agricultura, saúde,
proteção civil, economia, transportes, habitação, ciência e tecnologia, infra
estrutura, comércio, turismo, etc.
A característica transetorial é uma das primeiras premissas das políticas de
adaptação e por isso as medidas de adaptação tem de envolver a
convergência entre diversos setores.
A incorporação da dimensão climática nas políticas setoriais é um fator
chave para a efetividade das medidas adaptativas e da tomada de decisão,
resultando em uma solução de governança horizontal convergente.
Necessidade de ações e políticas transetoriais
27. “Vivemos em um mundo no qual a humanidade pode ter se
tornado uma força geológica, ou seja, um fenômeno capaz de
transformar a paisagem planetária.
Uma influência tão evidente que já se discute a inclusão de mais
uma época, o Antropoceno na tabela do tempo geológico da Terra.
No entanto, para que essa nova época não traga, em si, a
destruição da espécie que lhe dá o nome, os seres humanos
precisam utilizar sua capacidade intelectual para a harmonização
de suas sociedades com os limites ambientais do planeta que as
sustenta.”
Bruno Martini - Programa de Doutorado em Sistemas Costeiros
e Oceânicos, Centro de Estudos do Mar, Universidade Federal do
Paraná Catherine Gerikas Ribeiro
A Era do Antropoceno
28. A cratera Sedan, no deserto de Nevada, nos Estados Unidos, não tem origem natural. É a
maior cratera criada pelos seres humanos: foi produzida pela explosão de uma bomba
atômica a 194 m abaixo da superfície e tem 390 m de largura (o que equivale ao
comprimento de cerca de quatro campos de futebol)e 100 m de profundidade.
Antropoceno
29. Canadenses vão às ruas exigir ação contra mudanças climáticas
"É preciso escolher entre cuidar do clima ou explorar as areias betuminosas: as
duas coisas são incompatíveis".
Mobilização e participação popular
30. Mobilização e engajamento social: pela justiça ambiental e por uma economia limpa,
cerca de 400 mil pessoas participaram da Marcha do Povo pelo Clima em Nova Iorque
400 mil pessoas marcham contra as mudanças climáticas
31. Um novo terremoto atingiu o Nepal na manhã de 12 de maio, apenas três semanas
depois do tremor que matou mais de 8 mil e feriu quase 18 mil pessoas.
Povos e países mais pobres são e serão os mais atingidos
Número de mortos em terremotos no Nepal
passa de 8.500 e bate recorde
33. Com toda a discussão sobre mudança climática, por que há tanta
dificuldade de adaptação?
O motivo é que a adaptação está intimamente ligada com a vida, o uso dos
recursos, a infraestrutura local de cada país. Ainda que se possa pensar em
ações e tecnologias para serem aplicadas em qualquer lugar, medidas de
adaptação são por definição locais. Além disso, há uma diferença
fundamental entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os
primeiros já há várias décadas criaram mecanismos para adaptar as
atividades econômicas aos desastres naturais do presente, Já a maioria dos
países em desenvolvimento ainda é muito mal equipada para conviver com
a variabilidade climática existente hoje. E imagine que, em cima dessa
variabilidade, vamos ter as mudanças climáticas com mais extremos.
É o que vemos, por exemplo, em São Paulo, que até hoje não encontrou
uma solução para as frequentes inundações no verão?
Dificuldades de adaptação
38. Conferência de Sendai
187 Estados compareceram à Terceira Conferência Mundial da ONU para a Redução de
Riscos de Desastres, em Sendai (Japão), adotaram a Declaração de Sendai e o Marco para
a Redução de Riscos de Desastres 2015-2030.
Os países participantes da Conferência acreditam que com a adoção do novo Marco,
mortes, destruição e deslocamentos causados por desastres naturais podem ser
significativamente reduzidos até 2030. Eles também reafirmaram a necessidade de
antecipar, planejar e reduzir o risco de proteger pessoas, comunidades e países de forma
mais efetiva, bem como construir uma maior resiliência é “urgente e crítica”.
Para que o novo Marco seja adotado de forma bem-sucedida, é necessário forte
comprometimento, envolvimento político e foco em quatro prioridades: entender os
riscos de desastres; fortalecer o gerenciamento dos riscos; investir na redução dos riscos
e na resiliência, além de reforçar a prevenção de desastres e dar respostas efetivas.
39. Metas a serem alcançadas nos próximos 15 anos: destaque para redução
substancial da mortalidade global em desastres, a diminuição do número de
pessoas afetadas e das perdas em relação ao produto interno bruto (PIB)
global, entre outras.
O Marco de Sendai abrange riscos de pequena e grande escala, de frequência
intensa ou eventual, desastres súbitos e de caminhamento lento, causados
pelos riscos naturais e os de ação antrópica bem como os riscos e perigos
ambientais, tecnológicos e biológicos relacionados. Tem por objetivo guiar o
gerenciamento dos desastres a partir de um enfoque multirrisco e
multissetorial.
O novo Marco tem um foco maior na prevenção do risco, estabelece
diretrizes principais, propõe sete metas, estabelece uma articulação clara
entre as ações à nível nacional, local e regional, e global, destaca as ações de
reconstrução e saúde, e define as responsabilidades de todas as partes
interessadas.
Marco de Ação de SENDAI
40. O Brasil e as Mudanças do Clima
O Governo Federal lançou em agosto de 2012 em Brasília
o Plano Nacional de Gestão de Risco e Respostas a
Desastres Naturais, que está liberando recursos para ações
de prevenção aos estragos causados nas cidades por
deslizamentos de terra e enchentes decorrentes de
fenômenos climáticos intensos. Foram inauguradas novas
instalações do Centro Nacional de Gerenciamento de
Risco e Desastres (CENAD), ligado à Defesa Civil.
O Plano tem quatro eixos:
Prevenção - que inclui obras nos municípios listados no
cadastro dos mais vulneráveis, como drenagens e
contenção de encostas.
Mapeamento – com o levantamento de áreas de risco
onde podem ocorrer deslizamentos e enchentes nas
cidades do Brasil.
Resposta - que envolve socorro, assistência humanitária,
evacuação de áreas para a proteção civil
Fortalecimento do sistema de monitoramento de eventos
climáticos. Comunicação preventiva e orientação aos
gestores e moradores.
41. Desastres na região Serrana do RJ 2011
Teresópolis teve 9.110
desalojados e 6.727
desabrigados; Petrópolis
(incluindo Itaipava) somou
6.223 desalojados e 191
desabrigados; e Nova
Friburgo contabilizou 3.220
desalojados e 2.031
desabrigados.
Total de 911 mortos
43. Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas
O Plano Nacional de Adaptação (PNA) é um documento em construção, que
vem sendo elaborado no âmbito do Grupo de Trabalho em Adaptação (GT
Adaptação) do Ministério do Meio Ambiente e envolve todos os demais setores
estratégicos.
Conservação e recuperação de ecossistemas serão adotadas como medidas
para atenuar impactos da mudança climática.
O Plano deve sair até julho/2015 e vai propor metas e ações em pelo menos
dez grandes áreas: energia, zona costeira, recursos hídricos, desastres
naturais, segurança alimentar/agropecuária, ecossistemas, cidades,
transporte e logística, indústria e saúde.
48. Mudanças Climáticas e o aumento de doenças como a dengue
Os cientistas afirmaram que, à medida que o planeta aquece, a dengue pode alcançar
grandes porções da Europa e regiões montanhosas da América do Sul, áreas hoje muito
frias para abrigar os mosquitos durante o ano inteiro. A previsão é que casos podem se
espalhar nas regiões central e ocidental do continente africano, onde o saneamento
básico e o serviço de saúde são insuficientes.
49. Aumento de eventos extremos nas cidades brasileiras:
Xanxerê, SC A Defesa Civil de Santa Catarina
trabalha no levantamento de
danos financeiros causados
pelo desastre natural.
Conforme os relatórios oficiais,
em Xanxerê os prejuízos em
residências alcançam R$ 49,5
milhões. Nas empresas, os
danos superam os R$ 45,3
milhões. Já as edificações
públicas tiveram danos
financeiros de R$ 9, 7 milhões.
A soma é de R$ 104,5 milhões.
Os números de Ponte Serrada
são de prejuízos estimados na
ordem de R$ 885 mil em
edificações públicas e de R$ 8,1
milhões em residências e
empresas.
51. Aumento de eventos extremos nas cidades brasileiras
Salvador, 27/04/2015:
Só no bairro Alto do Peru, na região
da San Martin, choveu 198 mm,
local com maior volume
pluviométrico registrado na cidade
no período, segundo informações
da Defesa Civil de Salvador
(Codesal). E, para se ter uma ideia
do volume de chuvas que atingiu o
local, a previsão para todo o mês
de abril era de 309 mm, ou seja, em
apenas 24 horas choveu quase 200
mm, número muito acima do
esperado.
Um dos 15 pluviômetros
automáticos espalhados pela
cidade fica exatamente na San
Martin.
52. Chegou a 19 o número de vítimas fatais em decorrência dos deslizamentos de
terra que aconteceram devido a forte chuva que atingiu Salvador em duas
semanas, entre abril e maio.
Militares do Exército e funcionários de outras 13 instituições dos governos
municipal e estadual iniciaram a operação de retirada dos moradores das áreas
de risco iminente de deslizamento de terra ou desabamento de imóvel.
Mortes e perdas materiais exigem tomada de decisão imediata
53. O poder público deverá estabelecer a obrigatoriedade de avaliação da
dimensão climática nos processos decisórios referentes às políticas públicas, de
forma a estabelecer:
• Ampliação da capacidade de observação sistemática e modelagem climática,
geração de cenários futuros causados pelo aquecimento global e influência
relativa do processo de urbanização;
• Implantação de uma rede de monitoramento climático na RMSP;
• Avaliação dos impactos das mudanças climáticas sobre a saúde humana,
promovendo medidas para redução ou prevenção dos impactos;
• Formatação de um banco de dados climático, incorporando informações
históricas (séries históricas) bem como os registros a serem gerados pela rede
de monitoramento da região;
• Desenvolvimento de estudos sobre “ilhas de calor urbano”, com apoio de
universidades e instituições, para fins de planejamento urbano e regional,
considerando a eficiência climática da região em diferentes períodos do ano;
• Estabelecimento de práticas visando promover a eficiência energética em
todos os setores e regiões, incluindo a definição de padrões mínimos de
eficiência energética para produtos e processos;
Ações Setor público
58. • Investimentos na melhoria dos sistemas de capacitação e aparelhamento para
fiscalização e punição de atividades emissoras de gases de efeito estufa (GEE), conforme
proposto pelo Observatório do Clima (2009);
• Atração de investimentos para a implantação de projetos de Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo e de outros mecanismos internacionais do mercado de carbono
conforme proposto pelo Observatório do Clima (2009);
• Análise, promoção e implementação de incentivos econômicos para setores
produtivos que assumam compromissos de redução de emissões de GEE ou sua
absorção por sumidouros (com a ampliação das áreas florestais remanescentes ou de
reflorestamento e implementação de medidas efetivas para manutenção dos estoques
de carbono);
• Implementação do Plano de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê, envolvendo os
municípios da RMSP e a sociedade (com revisão e apresentação de custos comparativos
judicialmente auditados entre grandes obras de engenharia e a implantação de
alternativas como, por exemplo, de parques lineares);
• Aplicação de recursos vinculados destinados à pesquisa científica no estudo das causas
e consequências do aumento de temperatura e mudanças dos regimes hidrológicos,
especialmente os extremos, bem como em pesquisa tecnológica visando a busca de
alternativas para a redução da poluição atmosférica, poluição dos corpos d’água e do
solo, elaboração de modelos hidrológicos, ou seja, estudos voltados à adaptação da
sociedade às mudanças do clima.
Ações Setor público
59. Reforçar alguns instrumentos propostos pelo DAEE (2009), onde por meio de
uma ação conjunta, DAEE, Defesa Civil e Prefeituras Municipais da região
deverão criar instrumentos de restrição à impermeabilização das áreas urbanas,
tais como:
• Coibir a construção de edifícios (novas construções) em áreas com declividade
acentuada e de preservação permanente através do controle de alvarás e
licenças; embargos de obras; bem como incentivos fiscais para quem respeitar
as regras ao longo dos anos de ocupação (redução progressiva do IPTU);
• Introduzir nos regulamentos de outorga já existentes, que caberia ao DAEE a
outorga para obras civis que possam resultar em impactos sobre o regime de
deflúvios superficiais na bacia;
• Implantar um de Sistema de Alerta a Enchentes, Inundações e Deslizamentos
na Bacia do Alto Tietê, envolvendo a população, a defesa civil e órgãos
competentes.
Instrumentos de comando e controle
61. A adaptação à mudança climática não é exatamente um problema a ser
resolvido, mas um processo a ser gerenciado.
A resposta a esses impactos envolve um processo interativo de gestão do
risco que inclui tanto a mitigação como a adaptação.
No caso da saúde, a adaptação inclui a redução da exposição ao risco – com
políticas legislativas e alteração nas construções ou no ambiente natural.
Inclui também a prevenção de fatores adversos, com sistemas de alerta
preventivo, monitoramento e vigilância, programas de controle de vetores e
educação pública e divulgação.
Como atacar o problema?:
62. 2015 é um ano crucial para o nosso futuro
As mudanças climáticas constituem uma séria ameaça aos esforços para o
desenvolvimento sustentável e para a redução da pobreza.
A continuidade da trajetória atual de aquecimento deixará um legado ao
planeta, de irreversível transformação, com temperaturas excedendo
amplamente os 2ºC e potenciais impactos devastadores. Se atuarmos rápida e
corajosamente, podemos começar imediatamente a descarbonizar a economia
global e limitar as mudanças climáticas.
Para isso, porém, as lideranças políticas de todos os países devem agir,
resolutamente este ano, para garantir um melhor futuro para as gerações
vindouras e para todas as demais espécies.
E por essas razões é que nós, da Earth League (Liga da Terra)-uma rede
internacional de cientistas de mudanças globais-estamos lançando hoje a
“Declaração da Terra”, um conjunto de oito ações essenciais as discussões da
Cúpula do Clima (COP21), em Paris, no mês de dezembro. São elas:
Declaração da Terra
63. Metas da declaração da Terra
O documento alinha 8 pontos essenciais para que o novo acordo climático global e as
associações associadas garantam a efetiva mitigação e adaptação às mudanças
climáticas:
64. 1. Limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC, sendo este o limite máximo de
aquecimento para evitar o risco de mudanças climáticas perigosas.
2. O máximo que a humanidade pode emitir no balanço global de carbono isto
é, o limite de emissões futuras de dióxido de carbono—deve ficar abaixo de 1
trilhão de toneladas (1000 Gt CO2) para termos uma chance razoável de
ficarmos abaixo da linha de 2º C.
3. Ações de descarbonização profunda, de início imediato, para que atinjamos
uma sociedade de “zero-carbono” em meados do século, ou um pouco depois,
é condição chave para prosperidade futura.
4. Todos os países devem desenvolver planos de descarbonização de suas
economias. Os países ricos e as indústrias modernas podem e devem assumir a
responsabilidade de descarbonizar bem antes de meados do século.
Declaração da Terra
65. 5. Devemos desencadear uma onda de inovação climática para o bem global e permitir
o acesso universal às soluções de tecnologia já existentes.
6. As mudanças climáticas já estão acontecendo. Nós precisamos aumentar, de forma
maciça, o apoio público para as estratégias de adaptação e medidas de redução de
perdas e danos nos países em desenvolvimento.
7. Devemos proteger sumidouros de carbono e ecossistemas vitais, nossos melhores
amigos na luta contra as mudanças climáticas.
8. Os governos precisam dar apoio suplementar aos países em desenvolvimento para
que possam lidar com as mudanças climáticas, em um nível pelo menos comparável
àqueles da assistência global ao desenvolvimento.
Declaração da Terra
66. O Brasil tem se destacado, mundialmente, na redução de 36% das emissões nos últimos
anos, cortando suas emissões brutas de 2,36 Gton CO2 equivalente em 2005 para 1,52
Gton CO2 equivalente em 2012, de acordo com as estimativas do MCTI. Isso ocorreu,
principalmente, pela redução de cerca de 80% dos desmatamentos da Amazônia e, em
menor grau, pela redução também no bioma cerrado. O Plano de Agricultura de Baixo
Carbono (ABC) sinaliza caminhos para a sustentabilidade da agricultura brasileira, na
direção de redução das emissões, diminuição da pressão sobre ecossistemas e, ao mesmo
tempo, aumento de produtividade, equação esta que fecha com a intensa utilização de
conhecimento, tecnologias e inovação no campo e que pode levar ao desmatamento
(quase) zero.
No setor de energia, a descarbonização passa pelo aumento da eficiência energética e da
utilização maciça de energias renováveis, notadamente energias eólica e solar - na matriz
elétrica brasileira. China e Índia têm planos de acrescentar enormemente estas formas de
energia renovável, nos próximos 10 anos, e o Brasil deve seguir o exemplo.
O Brasil, potência ambiental, deve apoiar e defender, na COP21, um acordo ambicioso,
equitativo e cientificamente embasado, limitando o aquecimento a 2ºC.
Carlos A Nobre - Climatologista, com doutorado pelo MIT, é Diretor do CEMADEN-MCTI e
membro da Earth Legue
Declaração da Terra
68. Organismos e eventos internacionais
Assembleia Geral da ONU sobre Mudanças Climáticas
Este será o primeiro encontro sobre mudanças climáticas a ser realizado na sede das
Nações Unidas, em Nova York, depois do grande evento que mobilizou milhares de
pessoas nas ruas em setembro de 2014. O objetivo desta nova reunião é ajudar os países
a entrar num acordo sobre estratégias e políticas a serem estabelecidas na 21ª
Conferência das Partes (COP21), que acontecerá em Paris, em dezembro de 2015.
69. Organismos Internacionais que tratam do tema
Durante a 21a Conferência das Partes da ONU
sobre Mudanças Climáticas, em Paris, líderes
globais devem assinar um novo compromisso
para limitar o aumento da temperatura do
planeta a 2oC acima da média pré-industrial.
Este será o mais aguardado e importante
encontro mundial para mitigar os efeitos do
aquecimento global.
DATA 30/11/2015 a 11/12/2015
EVENTO 21a Conferência das Partes das Nações
Unidas para Mudanças Climáticas (COP21)
LOCAL Paris, França
70. Lançado em 2010, o Fórum Anual sobre Resiliência Urbana e Adaptação - “Resilient
Cities”acontece sempre na cidade alemã de Bonn. O objetivo é conectar líderes de
governos locais e especialistas em mudanças climáticas para discutir os desafios das
grandes cidades frente ao aquecimento global. A intenção é fomentar parcerias e
disseminar dados e informações. O tema deste 6º encontro é “ICT solutions for
disaster risk management, resilient public health systems and integrated climate
actions”.
DATA 08/06/2015 a 10/06/2015
EVENTO Resilient Cities 2015: 6th Global Forum on Urban Resilience and Adaptation
LOCAL Bonn, Alemanha
71. A população tem que se preparar e agir, já que muitas das políticas são feitas pelo
governo, e o governo é eleito pela população. As pessoas têm todo o direito de
reclamar quando alguma coisa não é bem feita – quando uma obra é mal
construída, quando moram em áreas de risco…
É o governo que toma esse tipo de decisão, mas a população deve fiscalizá-lo.
Outro ponto importante é que precisamos reduzir o consumo de recursos
naturais. Temos que diminuir o gasto de água; usar mais o transporte público e
menos o carro para tentar reduzir a emissão de gases de efeito estufa… Há várias
coisas que as pessoas podem fazer para ajudar.
*José Marengo – cientista INPE
A adaptação é a única forma de enfrentar a mudança do clima