1) O documento discute a importância da inteligência hormonal no contexto psicopedagógico e como os hormônios afetam o aprendizado.
2) A autora apresenta um estudo de caso de uma adolescente com dificuldades de aprendizagem e aparência andrógena para ilustrar como os hormônios podem influenciar a cognição.
3) Ela argumenta que os psicopedagogos devem entender neurologia, endocrinologia e feminologia para melhor compreender os desafios de aprendizagem relacion
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
A inteligência Hormonal no Setting Psicopedagógico
1. 1
A INTELIGÊNCIA HORMONAL NO SETTING PSICOPEDAGÓGICO
Simone Núñez Reis1
Maria Beatriz Jaques Ramos2
RESUMO
Este texto trata sobre a importância do psicopedagogo perceber o quociente
intelectual hormonal como parte da dualidade, expresso pelo feminino universal,
manifesto freqüentemente em questões de aprendizagem pelos pacientes nos mais
diferentes papéis sociais femininos, a serem estudados e tratados pelo campo da
Psicopedagogia Clínica e Institucional. Faz referência também, à importância da
pesquisa acerca de áreas como neurologia, endocrinologia e feminologia como
fundamentais e embasadoras na construção do olhar psicopedagógico. Ilustra este
artigo, trechos de alguns casos pertencentes ao meu estágio no NAEPP-FACED-
PUCRS, de 2005 a 2006, período em que pude observar as variantes desta
Inteligência Hormonal, manifesta pela paciente que apresentava uma biotipologia
andrógena, a qual dei-lhe o codinome: Anna Karenina.
Palavras-chave: Duo, Códigos Universais, Mito Feminino, Útero,
Neuroendocrinologia, Transdisciplinariedade, Hormônios,
Adolescência, Quociente Hormonal, Quociente Emocional,
Quociente Intelectual, Hormonograma, Hormoniobiografia.
1
Graduanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, 2006. E-mail: sica@cpovo.net
2
Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Coordenadora
do Curso de Psicopedagogia Clínica e Institucional na mesma universidade, Docente, Psicanalista e
Psicopedagoga.
2. 2
ABSTRACT
This text deals with on the importance psicopedagogo to perceive the
hormonal intellectual quotient as part of the duality, feminine Express for universal,
the manifest one frequently in questions of learning for the patients in the most
different feminine social papers, to be studied and treat for the field to the Clinical
and Institutional Psicopedagogic. It also makes reference, to the importance of the
research concerning areas as neurology, endocrinology and feminologia as basic
and embasadoras in the construction of the psicopedagógic look. It illustrates this
article, stretches of some pertaining cases to my period of training in the NAEPP-
FACED-PUCRS, of 2005 the 2006, period where I could observe the variants of this
Hormonal Intelligence, manifest for the patient who presented a androgeny
biotipologie, which I gave codename to it: Anna Karenina.
Key-words: Duo, Universals Codes, Feminine Myth, Uterus, Neuroendocrinology,
Transdisciplinerity, Hormones, Adolescence, Hormonal Quotient,
Emotional Quotient, Intellectual Quotient, Hormonogram,
Hormoniobiografic.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo é fruto de minha inquietação acerca das variadas formas
de expressão da inteligência durante minhas observações nos atendimentos
realizados em meu estágio no NAEPP-FACED-PUCRS. Inquietação esta, agregada
à sugestão da temática proposta de modo brilhante e inusitado pela Dra Vanda
Spiecker (supervisora de estágio anterior) sobre hormonalidade e aprendizagem
que, ao discorrer, debater e questionar sobre o surgimento da menarca em
pacientes adolescentes, motivou-me a querer compreender mais sobre as
interessantíssimas interelações e implicações do desenvolvimento intelectual
paralelo ao hormonal em questões de aprendizagem. O ponto de partida deste
artigo, fala da embriogênese para então abordar a hormonalidade como matriz de
nossas futuras decodificações escolares até a teoria da QH ou Inteligência
3. 3
Hormonal. Percorro cadeias conceituais como o duo, mito feminino, útero até
chegar na produção da hormonalidade feminina, que revoluciona padrões e
parâmetros comportamentais relacionados às questões cognoscentes. Conhecer a
hormonalidade assim como suas funções sobre a inteligência, racionalidade e
emocionalidade humanas é libertar a função ignorante sobre nossa própria condição
que nos delata e desvela. Relacionar estes conhecimentos teóricos com meu
estudo de caso foi tarefa de puro encantamento, pois a transdisciplinariedade me
convoca a mais esta missão psicopedagógica: Ver, Rever e Transver o Outro, sob
as variantes lentes da pesquisa psicopedagógica, inserida num milênio tão científico
e tecnológico como novo campo de possibilidade profissional devotado a
rehumanização planetária.
A INTELIGÊNCIA HORMONAL NO SETTING PSICOPEDAGÓGICO
Ao assistir o documentário misto de ficção, intitulado Quem Somos Nós? 3
reflito sobre a origem humana, seja Bigbangueana ou Darwiniana que
constantemente nos depara perante o conceito do duo, ao deixar diferentes marcas
na humanidade, usuária eterna deste duo, através dos infinitos códigos universais,
simplesmente tentando entender de onde viemos, para onde vamos, porque criamos
tais códigos ou estamos sempre a resignificá-los. Em tempos de Códigos Da Vinci 4,
verifico tal necessidade como movimento universal, em que pessoas de todas as
partes do mundo rumam ao pretérito remoto buscando decodificações, traduções,
versões e explicações ao seu próprio caos existencial. Processo se geralmente dá-
se pela via do gênero, pois carecemos de figuras tranferênciais míticas, lendárias,
heróicas, fracionadas num imaginário materno/ paterno. Estamos sempre como que
buscando um retorno ao útero, através de personagens históricos tipo: Adão e Eva
que codificaram suas sentenças biográficas para humanidade, transmitidas através
de textos bíblicos traduzidos por instituições denominadas cristãs. Conhecer o
pretérito, nos remete o pensar em categorias deste duo/dual manifesto em
terminologias ou nominalizações como: Masculino / feminino; Beleza / Feiúra;
Normalidade / Anormalidade; Códigos Binários, Yn/ Yang ; Certo / Errado; Vida /
3
Quem Somos Nós?: Documentário e ficção exibido recentemente nos cinemas brasileiros
(legendado, Playarte, 108 min, EUA)
4
Código da Vinci: Filme de Suspense (legendado, 115 min EUA).
4. 4
Morte; Pai / Mãe; Gordo / Magro; Macho/Fêmea; Côncavo / Convexo; Branco /
Preto; Positivo / Negativo; Batman / Robin; Romeu / Julieta, Claro / Escuro; Luz /
Treva; Bem / Mal; Gêmeos; Xipófogos; Bipolaridade, Dupla Personalidade,
Hermafroditismo, Bissexualismo; Sílabas; Números Pares; Duplicação; Dicotomia...
Culturalmente somos educados para que sejamos pares e não singulares.
Estas terminologias e nominalizações apontam que nossa gênese lingüística vem
impregnada deste duo5, como necessidade vital, pronto a ser decodificado pela
inteligência humana. Independentemente de qual gênero pertençamos, viemos do
dual cromossômico, produzido por um par, duo/duplicidade a se dicotomizar
geneticamente. Em nossa passagem pelo útero materno carregamos esta verdade
embriogênica, matemática e dualística, donde provém a base hormonal da
cognição. Útero, concebido como primeiro espaço áulico, objeto dos primeiros
estudos de Freud e Charcot6 que buscavam através deste decodificar sintomas
histéricos, multiplicados no universo feminino durante o período da revolução
industrial. Nossa empírica sabedoria sobre a mítica do feminino, parte deste
dualismo, antigo objeto de estudo de civilizações como Judaicas, Greco-Romanas,
Indiana e Chinesa, pois grandes filósofos, sábios e profetas abasteciam-se da
sábia uterinidade de Thanatus, Psiqué e Hedoné 7, fertilizando ao mundo seus
conhecimentos Lógicos, Dialéticos, Hermenêuticos, Propedêuticos, Maiêuticos,
Védicos e Tao8 sobre o ato de pensar sobre questões do gênero.
Figura 1 - Mandala útero
Figura 2 - Útero
5
Duo: o mesmo que dueto, que remete a dois, duas partes.
6
Freud: Médico e criador da psicanálise, Charcot: Médico e Hipnólogo colega de Freud.
7
Thanatus, Psiqué e Hedoné: Deusas da mitologia Grega.
8
Lógica, Dialética, Hermenêutica, Propedêutica: Ciências pertencentes às escolas filosóficas:
Aristotélica e Socrática que ensinam a raciocinar, pensar, argumentar, interpretar e fazer longas
introduções em obras, sobre leis antigas e textos sagrados, Védicos: Livros sagrados dos hindus,
escritos em linguagem sânscrita, orações e fórmulas de consagração e expiação, Tao: Doutrina,
mandamentos do Taoísmo.
5. 5
A arte, cinema, literatura, filosofia, antropologia, ontologia, psicanálise,
psicologia, psiquiatria, psicopedagogia e pedagogia vêm se constituindo ao longo
do tempo de bases femininas protagonizadas, personificadas por divas, deusas,
intelectualidades e celebridades contemporâneas como: Simone de Beauvoir, Hilda
Hüst, Anaïs Niin, Melanie Klein, Maria Montessory, Sara Paín, Emília Ferreiro, Nise
de Oliveira, Ana Freud, Frida Khalo, Marylin Monroe, Annie Sullivan, Maria Bonita,
Joana D’ark, Clarice Lispector, Chiquinha Gonzaga ou Zilda Arns. 9 Elas assim como
muitas outras, inscreveram ou ainda lançam seu olhar feminino sob a esfera do
público, conferindo novos paradigmas à história do mundo. Deixaram-nos e ainda
deixam seus legados, fruto de seus processos de conhecimento empírico e teórico,
que analisado sob a ótica feminina, obedece a um determinismo naturalmente
cíclico. O ato de conhecer constitui-se então como rito de passagem pendular do
nosso hemisfério criativo. Parte do perfil humano é configurada pela ordem do
feminológico como elemento constitutivo e arbitrário em homens e mulheres. Pensar
o conhecimento usando esta nossa força dualística, leva-nos a avançar, transitar,
recuar, retornar, transpassar, transgredir, regredir, criar, construir, circular,gerar,
gerir e evoluir. O evento da menarca é um destes codificadores como a gestação
e menopausa são marcos da história hormonal trazidos em nossa sabedoria
existencial. Pois legitimam o feminino como conhecimento afirmador da identidade
sexual da humanidade. Saber que somos oriundos da dualidade, realça estes mitos
imaginários e reais de feminilidade tal força que nos cabe entender como tais
processos mesclam-se às questões universais de aprendizagem, comumente
trazidas ao setting psicopedagógico 10. Conhecimento que nos pede momentos de
profunda reflexão e pesquisa, como psicopedagogos, pois lidamos com inúmeros
conceituais da ordem dual, revestidos de fracassos escolares 11, inibições
9
Simone de Beauvoir: filósofa, feminista e escritora. Hilda Hüst: Jornalista e romancista. Anaïs
Niin: escritora, Melanie Klein: psicanalista, Maria Montessory: pedagoga, Sara Paín: filósofa,
psicopedagoga, Emília Ferreiro: pedagoga, Nise de Oliveira: psiquiatra, Ana Freud: psicanalista,
Frida Khalo: artista plástica, Marylin Monroe: artista do cinema hollywoodiano, Annie Sullivan:
PNEE (portadora de necessidades especiais) escritora, surda, cega e muda, Maria Bonita: heroína
do Cangaço nordestino, casada com lampião, Joana D’ark: mártir da história francesa, Clarice
Lispector: escritora, Chiquinha Gonzaga: pianista e compositora ou Zilda Arns: criadora da
pastoral da criança.
10
Setting psicopedagógico: Espaço físico,temporal e psicológico onde se dão os atendimentos
psicopedagógicos entre terapeuta (psicopedagogo) e paciente/familiares (sala ou consultório de
Clínicas, Hospitais, Escolas, Ong’s, Centros Comunitários, Postos de Saúde, Standes, Ônibus
etc...)
11
Fracasso escolar: Sintoma, demonstrado pela falta de desejo pela aprendizagem.
6. 6
cognitivas12, transtornos e outras co-morbidades que orbitam em torno de hipóteses,
diagnoses e intervenções13. O psicopedagogo lida com estas forças múltiplas de
imagens femininas, através dos diferentes papéis sociais como: cuidadora, mãe,
avó, professora, diretora, pedagoga, orientadora, madrinha, tutora, juíza, assistente
social, tia; trazidos nas biografias dos pacientes. Papéis muitas vezes
reconstruídos pelo psicopedagogo através de anamneses, genetogramas,
sóciogramas, histórias vitais e intervenções 14. Tenho refletido sobre a importância
do conhecimento por parte do psicopedagogo, acerca das questões neuronais,
endocrinológias e feminológicas relacionadas com a ordem do dual feminino e
dificuldades de aprendizagem. Recentemente, em meu estágio realizado no
NAEPP/FACED/PUCRS15, atendendo a crianças, adolescentes e adultos com
dificuldades escolares, acadêmicas; recebi uma paciente adolescente com
dificuldades em matemática, que também produzia trocas fonético-silábicas em
palavras. Adolescente chegara diagnosticada como TDAH 16, atualmente com 13
anos, a qual dei-lhe o codinome Anna Karenina (homenagem à heroína do romance
Tolstóiano). Menina de aparência andrógena 17, fato que me despertou para a
pesquisa sobre endocrinologia, desencadeante de estudos paralelos como:
fisiologia, neurobiologia, neuroanatomia e feminologia 18. Através de Anna Karenina,
pude entender a importância de exames e avaliações interdisciplinares como:
hormoniobiografia e hormonograma19 importantíssimos na construção da anamnese.
12
Inibição cognitiva: Sintoma que configura um quadro de não aprendizagem, manifesto por
comportamentos como: falta de interesse, desatenção, falta de concentração, timidez, silêncio,
irritação, sentimento de culpabilidade em relação ao erro, frustração, sensibilidade acentuada
causando queda na produtividade epistêmica e escolar do aluno.
13
Hipóteses: Suposições de algo possível e impossível para se chegar a uma conclusão, Teoria
demonstrável, Diagnoses: Conhecimento das doenças, resultante da observação dos sintomas e
Intervenções: tratamento ativo usado em procedimentos pela área clínica.
14
Anamnese: Entrevista sobre recordações, eventos de vida, biografia passada e presente do
paciente, Genetograma: estudo organizado através de mapa conceitual, legendado, sígneo e
pictográfico sobre a estrutura, formação e história da árvore genealógica, familiar, Sóciograma:
Estudo através de mapa conceitual pictográfico que mostra as relações sociais, História Vital:
Registro de fatos e eventos da historiografia do paciente, realizado através de entrevista
estruturada e semi-estruturada.
15
NAEPP/FACED/PUCRS: Núcleo de Atendimento e Estudos Psicopedagógicos da Faculdade De
Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, coordenado pela Dra,
docente, psicopedagoga e psicanalista Maria Beatriz Jaques Ramos e equipe.
16
TDAH: Transtorno de Défcit de Atenção e Hiperatividade: distúrbio neurocomportmental mais
comum na infância que atinge de 3 a 6 % da população em idade escolar.
17
Andrógena: Originada da palavra Androgenia (andros: homem e genos : geração, androgynus:
vêm do grego e que participa dos dois sexos).
18
Fisiologia: estudo as funções das células e órgãos do corpo humano e animal, Neurobiologia:
estudo das células, corpos organizados em cadeias vivas e estruturais pertencentes ao cérebro,
Neuroanatomia: estudo da anatomia neurológica e Feminologia: estudo da feminilidade.
7. 7
Figura 3 - Cérebro feminino e masculino Figura 4 - Deusa hindu da sabedoria
Figura 5 - Eixo hipotalamo hipófise Figura 6 - Hipófise
Figura 7 - Hipotálamo Figura 8 - Puberdade
19
Hormoniobiografia: Estudo gráfico com coleta de dados e registro sobre a manifestação
hormonal ao longo do desenvolvimento glandular e durante o desenvolvimento e vida do paciente,
Hormonograma: gráfico de registros, organizados sobre as fases e sintomas hormonais
semanais, mensais e anuais em que se contra o paciente.
8. 8
Figura 9 - Hormonioluterinizante
Constato que a puberdade desta paciente à espera da menarca, seu
comportamento e relação com o conhecimento se encontravam relacionados
diretamente com suas mudanças hormonais. Diagnosticando e respeitando sua
hormoniedade em questão, pude entender que Anna Karenina não decodificava as
representações numéricas, tampouco dominava operações de divisão e
multiplicação porque sua feminilidade está ainda unívoca, à espera da confirmação
biológica, pelo evento da menarca 20. Fato que a dualizará num futuro próximo e fará
com que a partir daí, ela passe a decodificar a si mesma e conseqüentemente às
questões universais implícitas em sentenças matemáticas. Anna Karenina, ainda
não escolheu seu gênero definitivo mas ainda traz em sua matriz sexual
referenciais materno-paternais de modo fuso. Esta matriz, produz a sintomatização
sob forma de condutas negativas, baixa-estima, bloqueios e sentimento de ódio
pela matemática não absorvida como sistema representativo que faz uso de
símbolos e signos. Entender este processo foi tarefa árdua da psicopedagogia, mas
desafiadora, porque me desacomodou e surpreendeu-me.Anna Karenina se
mostrava envolvida por uma rede de influências da ordem do feminino em seu orbe
psíquico-social. Desde a professora, orientadora, mãe, avó, madrinha, primas até
tias exerciam importantes cobranças e pressões culturais/sociais quanto a seu
desempenho intelectual, comportamental e emocional. Anna Karenina trazia ao
20
Menarca: primeira menstruação da mulher púbere.
9. 9
setting Pp, um conflito no qual o fator desencadeante fora o luto paterno, pois havia
internalizado o corpo do pai como objeto transacional 21, relacionando fixamente
nesta perda, um deprimir-se de seu próprio existir. Trazia constantemente, questões
sobre morte, cadáveres, túmulos,cemitérios, filmes de suspense, terror, vampiros e
morcegos; pois sua função ignorante sintomatizara a morte do masculino (parte do
dual), como equação ou incógnita existencial, passando a transferi-la como
dificuldade de tradução e domínio da linguagem e funções representativas da
matemática. Anna karenina trazia inúmeros símbolos fálicos em suas produções
gráfico-discursivas. Ao longo dos atendimentos presenciei muitas crises da
adolescente, em sua rebeldia, agressividade, silêncio profundo, refrações,
expressões, movimentos, uso de expressões, melancolia, distração, sentimentos
endógenos22, infantilizações, irritação, sensibilidade e carência afetiva. Sua
expressividade foi preservada e respeitada pela ética do setting psicopedagógico.
Estive muito atenta à suas manifestações, gestuais, expressões, linguagem discurso
e mensagens subliminares assim como suas produções. Anna Karenina passou por
períodos tempestuosos enquanto seu inconsciente decodificava seu ainda não rito
de passagem em relação ao dual de morte e vida, como se fosse um pêndulo
movendo-se de um extremo ao outro: Do materno (_Tic!) ao paterno (_Tac!), da
morte (_Tac!) para a vida (_Tic!). Entender que Anna Karenina trazia obnublações
em relação á sua primeira decodificação sígnea, ou seja, da sua própria
diferenciação genérica, foi entender o quanto fora perturbadora sua castração
simbólica23, fase a qual enfrentou muitas dúvidas dicotomizantes 24 entre seu
referencial masculino oriundo do paterno X feminilidade trazida pelo
puberal/hormonal. A cultura, moda, arte e mídia também abordam e exploram a
21
Objeto transacional: Símbolo de um aspecto da experiência de um bebê,se define por ser uma
posse, um tipo de espólio, mas não qualquer posse escolhida. Objeto que designa a área
intermediária da experiência. Segundo Winnicot, o objeto transacional pode ser uma palavra, uma
melodia e não existe a necessidade deste encarnar um objeto real.
22
Endógeno: elemento anatômico que nasce no interior do órgão que o gera.
23
Castração simbólica: É quando ocorre a entrada do terceiro elemento, e o direcionamento do
outro para este que entra na relação, até então díade mas passando a ser tríade. Este terceiro traz
a marca da diferenciação e do comum, como se fizesse um buraco, furo para o imperfeito,
incompleto que só se justifica por outras marcas desejantes no sujeito. Neste furo causado pela
entrada do terceiro autorizado, surge o sujeito experimentando a dependência e o desejo deste
outro que ocupa tal lugar de código nomeando as diferentes sensações até um certo período de
sua vida. Nestas marcas ficam estabelecidas faltas, que mais tarde ecoarão em forma de
referências construtoras da identidade sexual deste sujeito.
24
Dicotomizante: classificação que divide cada coisa na proposição de duas, subdividindo cada uma
destas em outras duas e assim sucessivamente.
10. 10
Androgenidade de modos muito diferentes e criativos, como os trechos citados
abaixo:
...Androgenia, este é o tema da coleção. Tem mulher com carinha de homem, ou
homem com carinha de mulher, ou homens e mulheres com carinhas em comum.
Para ambos os sexos, cores claras, regatas bem cavadas, roupas que quase não
transparecem as formas do corpo de tão soltinhas.
Destaque para o sapatênis e para vestidos e saias com abotoamento traseiro. O
pano do blazer vira saião, que tem drapeados, texturas e sutis camadas.
O tomara que caia vem com texturização, camadas de babados e amarrações.
A risca de giz é coqueluche da estação junto a saias balonées de tecidos fininhos,
bermudas e cordões feitos do próprio tecido.
As calças são curtas, por dobras ou cortes mal acabados...
(trecho e imagens extraídas do site de moda
www.modaterra.com.br
Figura 10 - Menarca Figura 11 - Banda Garbage
Figura 12 - Boneca andrógena Figura 13 - Androgenia arte
11. 11
Figura 14 - Maternidade Figura 15 - Moda Androgena
Androgenia
(Banda Garbage)
Quando tudo está errado
E você não consegue ver a razão pra continuar...
Nada na vida está tem lugar certo,
Não há nada que não possa ser mudado.
Ninguém quer ficar sozinho,
Todo mundo quer amar alguém.
Na árvore você poderia pegar uma ameixa
Por que todos nós não podemos simplesmente nos dar bem?
(Meninos)
Meninos no vestiário feminino
(Meninas)
Meninas no vestiário masculino.
Você liberta sua mente em sua androgenia.
(Meninos)
Meninos no salão.
(Meninas)
Elas estão ficando mais difíceis
Libertarei sua mente em sua androgenia.
Você não conseguiria encontrar um sabor mais doce
Do que a fruta madura na videira.
Nunca houve uma ostra tão divina,
Um rio fundo que nunca seca.
O que você precisa?
Os pássaros e as abelhas cantam juntas
Como tesouros que cintilam no sol.
Embargue e divirta-se,
Pegue o que precisa pra te excitar
12. 12
(Meninos)
Meninos no vestiário feminino
(Meninas)
Meninas no vestiário masculino.
Você liberta sua mente em sua androgenia.
(Meninos)
Meninos no salão.
(Meninas)
Elas estão ficando mais difíceis
Libertarei sua mente
Libertarei sua mente.
Libertarei sua mente.
Libertarei sua...
(Meninos)
Por trás das portas fechas e sob as estrelas
(Meninas)
Não importa onde vocês estão
(Meninos)
Coletando jóias que chamam atenção
(Meninas)
Não deixe uma alma gêmea passar por você.
Sobre hormonalidade, a neuroendocrinologia 25 diz que possuímos
esquematicamente três cérebros:
1. Tronco cerebral Responsável pelos reflexos e
automatismos básicos como comer,
lutar e reproduzir-se.
2. Sistema límbico Responsável pelas emoções.
3. Sistema néocortex Responsável pela razão e capacidade
de ter uma linguagem simbólica,
matemática, elaboração de objetos
úteis e inúteis e da de si mesmos, do
pensamento e elaboração lingüísticos.
Segundo Berestein (2001) homens e mulheres possuem estas três estruturas
denominadas de superiores e inferiores, sendo que as são as “superiores” que
sempre dominam as “inferiores”, ou seja, nossos reflexos são controlados por nossa
vontade, racionalidade e estímulos genéticos, ação que se dá pela bioquímica.
Nosso sistema nervoso basicamente serve para perceber pelos órgãos do sentido,
25
Neuroendocrinologia: Ciência que estuda o sistema nervoso e hormonal assim como as doenças
que os cometem.
13. 13
organizar estas percepções, elaborá-las e utilizá-las para agir e mover-se, o que
denominamos Psicomotricidade26. Na concepção de GOFF (1985) nossos
pensamentos e emoções produzem reflexos no tônus muscular, gerando tensões,
variações, digestão, reprodução. Pensar então influi em todas nossa funções
orgânicas. A Hormonioterapia27 vem então revolucionar novos desígneos e caminhos
para solucionar problemas da humanidade neste sentido. Vejamos no quadro
abaixo um exemplo de hormonograma que pode servir de excelente material para
qualificarmos a anamnese e diagnose de nossos pacientes adolescentes e adultos
no setting Pp clínico.
Circunstâncias Restritivas
Hormônios Sociais Motivação Positiva
Sociais
Progesterona Gestar Anticoncepção
Maternar Produzir
Cooperar Preservar Competir
Depredar
Estrógenos Feminilizar Masculinizar
Amar Possuir
Intuir Racionalizar
Subjetivar Objetivar
Sonhar Realizar
Analisar Sintetizar
Andrógenos Virilizar Seduzir
Possuir Conquistar
Violar Pedir
Atalhar Curtir
Prolactina Amamentar Enfrentar
Cuidar do outro Cuidar de si
Acarinhar Ser acarinhado
Instrospectar-se Socializar-se
Priorizar o bebê Conquista profissional
Gratificação subjetiva Deveres objetivos
Tempo biológico Tempo cronológico
No caso de ausência da feminilidade em Anna Karenina observada no
primeiro semestre dos atendimentos Pps, pude acompanhar intensamente suas
26
Psicomotricidade: Ciência eu estuda a cinestesia ou movimento do corpo humano e suas
relações com a psiqué.
27
Hormonioterapia: Terapia de reposição hormonal que faz uso de hormônio naturais e sintéticos
objetivando a cura de doenças e ou estética corporal.
14. 14
transformações hormonibiográficas. Atualmente repetindo a 4ª série na mesma
escola estadual, fora envolvida num novo contexto relacionado á sua melhora de
avaliação em sua vida escolar, da ordem do feminino: A troca de professora, fato
que lhe trouxe alegria e qualidade nas relações como: mais autonomia, expectativa
e auto-estima manifestas pelos colegas, família, amigos inclusive no setting Pp.
Anna Karenina antes de começar os atendimentos Pp clínicos, quase não possuía
amizades do sexo feminino e sua relação com mãe e era conflituosa, assim como
seu modo de vestir tendia para um estilo esportivo, composto por peças de
vestuário em sua maioria unissex 28 tendendo para um padrão mais masculinizado,
geralmente sem nada de adornagens, perfumes, acessórios, maquilagens que a
diferenciasse de meninos. Com o avançar dos atendimentos psicopedagógicos,
Anna Karenina possui seu estojo de maquiagem, usa acessórios como: tiaras e
anéis e telefona para avó intencionando saber combinações entre cores de roupas
e tons de acessórios. Segundo relatos da mãe, anda imitando ídolos femininos da
música, games, esportes, desenhos, minisséries e personagens da tv. Suas ídolas
preferidas são as personagens da novela Rebeldes 29 Anaí e Michele, exibida pelo
SBT. Aos poucos, vem exercendo sua feminilidade passo a passo rumo à menarca.
Fato que tem aproximado Anna Karenina da linguagem matemática, e influenciado
para que suas notas nesta disciplina, aumentassem significativamente. Neste
semestre ficou com nota 8,3 e Português 6, 5, numa escola que adota média 5, 0.
Anna Karenina tem recebido elogios da nova professora e sua mãe encontra-se
satisfeita com a filha, hoje mais carinhosa, bem humorada, até nos atendimentos
psicopedagógicos. A leitura que faço neste caso é a de que, Anna Karenina
apropriou-se de sua capacidade decodificadora experiênciando o luto traumático
como ruptura necessária rumo ao dual. Após, conseguiu livrar-se do sentimento de
culpa catarseado em sua má relação com o conhecimento normativo, regrado e
sistematizado da matemática e português. Sua função ignorante, já transita pelo
cognocere30 como se bebesse um saboroso milk-shake com sua mais recente
amiga: A matemática. O caso de Anna Karenina fez-me levantar alguns
questionamentos devido sua rápida transformação corporal, aumento de peso,
estatura, medidas, etapas, flutuações de humor, aumento da sensibilidade, apetite,
28
Unissex: Estilo de moda que serve para ambos os sexos, com ênfase nas peças de vestuário
masculino (calças, bermudas, camisas, camisetas, jaquetas, abrigos, tênis).
29
Rebeldes: Novela exibida pelo SBT (Sistema Brasileiro de Televisão, canal 5).
30
Cognocere: Ato de adquirir o conhecimento, epistemologia do desejo aprendente.
15. 15
oriundos de sua revolução hormonal pela qual passa com algum grau de sofrimento.
Manifesta metaforicamente ainda uma certa dor relacionada à perda do seu corpo
infantil. As repercussões deste processo influem em sua problemática de
aprendizagem, fazendo com que, como futura psicopedagoga, eu sentisse
necessidade de estar mais bem preparada teoricamente, para identificar suas
ações e contextualizá-las em seus momentos hormonais, tão difíceis em seu
desenvolvimento.Vejamos no quadro abaixo um exemplo de hormonobiografia:
Medicação ou
Fenômeno
QI QE QH paliativo em
Físico
uso
Muco cervical Escola Tesão Estrógenos Champagne,
Pele boa Estress Andrógenos cerveja, vinho,
Carência Progesteron suco de
a maracujá, chás,
Saudades
fitoterápicos
Inchaço Preguiça Expectativa Estrógeno Chocolate
Dor nos seios X Escola Irritação Progesteron
Agitação a
Andrógenos
Cólicas Férias Calma Estrógenos Analgésico
Repouso Introspecção Progesteron
Ler a
Berenestein (2001) nos alerta que se moléculas podem influenciar nossa
mente e nossos sentimentos, nossos pensamentos e ações podem influenciar as
nossas moléculas, pois os hormônios dos quais somos constituídos, são produzidos
pelas glândulas adrenais, tiróide, pâncreas, fígado, baço e rins a circularem pelo
corpo possuindo missões distintas: dar manutenção ao peso e controlar nosso
crescimento e defesas imunológicas31.Toda substância hormonal é um mensageiro
bioquímico que parte de seu local de origem através da corrente sanguínea em
direção a um tecido ou célula que necessite de sua ação. Produzimos mais de 400
tipos de hormônios que interferem nas mais diferentes funções de outros órgãos
para manter o equilíbrio ou executar tarefas específicas a pedido do nosso corpo. Os
31
Imunológicas: Defesas naturais e celulares do organismo em combate às doenças infecto–
contagiosas.
16. 16
hormônios são controlados por mecanismos de feedback 32 ou retroalimentação. Nós
mulheres, produzimos o estradiol, através das células dos ovários que necessitam
do estímulo do ciclo menstrual para produzir o FSH (Hormônio Folículo Estimulante)
numa primeira fase. Numa segunda fase produzimos o LH (Hormônio Luteinizante)
ambos produzidos pela hipófise33, localizada sob a face inferior do nosso cérebro.
Também produzimos o estrogênio 34 que cria o estro, ou seja um ambientador do
aparelho reprodutivo interno da mulher. Os efeitos internos dos hormônios podem
ser vistos externamente nas mulheres como mostra o quadro abaixo:
1- Pele sedosa ou pele oleosa
2- Presença ou ausência de pêlos
3- Cabelos
4- Mamas
5- Genitais
6- Tom de voz
7- Emoções
8- Pensamento feminino - Ações femininas que denotam a
feminilidade ou não
No caso de Anna karenina, o que se manifestava era um biótipo de pele
sedosa, traços femininos, mamas em recente crescimento, mas ações e
pensamento pendendo para o masculino. Anna Karenina desenhava figuras
humanas de Bad Boys 35, lutadores36, Samurais37 e em seus momentos lúdicos só
gostava de jogar futebol ou games virtuais com meninos. Sua matéria preferida na
escola é Ciências com ênfase ao estudo do corpo humano. Os androgênios 38
também encontrados nas mulheres e influenciados pela hipófise, produzem desde
32
Feedback: processo de retorno/resposta comunicativa, compreensão e emissão de uma resposta
relacionada a comunicabilidade em questão.
33
Hipófise: Glândula localizada no cérebro que produz os hormônios do crescimento e
desenvolvimento corporal.
34
Estrogênio: Hormônio responsável pela produção do lado anatômico, celular comportamental
feminino, produz a ciclicidade da menstruação, conhecido como estradiol.
35
Bad Boys: nome, apelido dado aos adolescentes que brigam nas ruas e praticam artes marciais e
fisioculturismo, cultuam brigas de cães da raça pittbull e vestem-se com roupas justas mostrando
exibindo seus músculos.
36
Lutadores: guerreiros soldados personagens históricos membros dos exércitos de grandes
reinados.
37
Samurais: lutadores orientais que serviam para a defesa dos imperadores chineses, mongóis.
38
Androgênios: Hormônios que definem os múltiplos aspectos da masculinidade.
17. 17
nossa vida uterina o impulso chamado de Libido 39, que no decorrer da infância vai
sendo moldado pela educação, experiências de vida e meio ambiente até aproximar-
se da puberdade daí toma a forma de sensualidade. No caso Anna Karenina sua
libido direcionada á intelectualização estava bloqueada por questões emocionais
relacionadas ao luto paterno. A relação de Anna Karenina com a professora anterior
era de temor e submetimento ao conteúdismo opressor. O desejo cognoscente de
Anna karenina esteve adormecido por alguns semestres.
Figura 16 - TPM Figura 17 - Neocortex
Polaino (2004) salienta que a sensualidade é que gera nossa consciência
da auto-imagem e cria nossa imagem pública do ser sensual que somos. Nesta fase
nossos hormônios exercem comandos de ação inteligente. Na puberdade 40 de Anna
Karenina por exemplo, manifestada em seu comportamento sexual, a cada dia vai
se definindo através de sua identidade hormonal, reforçada pelo grupo de apoio de
colegas da mesma idade. Pollack (1998) afirma que desde a concepção do bebê,
somos diferenciados pelos cromossomos XX e XY, para recebemos então nosso
sexo gonádico41 feminino ou masculino, no caso de Anna Karenina, recebeu ovários.
Segundo Gallatin (1978) uma menina aos três anos de idade já é influenciada pelos
hormônios estrogênicos ao exercitar, cuidar de suas bonecas, função que executará
mais tarde, quando adulta, ao gestar e amamentar. Nosso comportamento é em
39
Libido: Desejo, pulsão, impulso sexual, instinto nato ou bioquímico.
40
Puberdade: Período da vida humana no qual se produzem mudanças físicas as quais torna
possível a reprodução.
41
Gonádico: Originado do termo Gônadas, pois com 5 dias de idade já apresentamos as células
germinativas primordiais que lá pelos 22-24 dias de gestação migrarão para a crista genital do
feto, associando-se ao tecido mesonéfrico formando nossa gônadas indiferenciadas que se
desenvolverão na puberdade.
18. 18
geral coerente com nossas metas biológicas, pois quando um menino briga com
seus amigos ou brinca de videogame está ensaiando o futuro. Conforme Levisky
(1998) memórias comportamentais, trazidas por moléculas imperam nossas ações.
A Inteligência Hormonal ou (QH) influencia nossa QI (Quociente Intelectual) 42, que
por conseguinte a QE (Quociente Emocional)43 que Freud se referia ao falar sobre os
imperativos bioquímicos. Através do estudo do caso Anna Karenina e das
intervenções psicopedagógicas concomitantes com pesquisas na busca de uma
compreensão mais holística44, menos focada; tenho tentado fazer alinhavos
interdisciplinares, processo que tem sido gratificante. Desde que passei a entender
os efeitos hormonais sobre nossa inteligência racional e emocional, pelo simples
fato de que nosso cérebro se encontra mergulhado em hormônios concretamente,
tenho apostado nesta visão das diferenças físicas e biológicas, encontrando rica
manifestação dos gêneros. Em Anna Karenina, o banho hormonal de seu cérebro
me permitiu pensar em fatores tipo qual a fase da vida a adolescente se encontra e
em qual ciclo se encontra. Anna Karenina não pertença mais à infância, onde os
estrógenos estão em níveis baixos, mas à puberdade, onde provavelmente após sua
menarca ainda não ocorrida, devido à imaturidade do eixo hipotálamo 45 - hipófise -
ovário eclodirão.
Toda mulher possui este eixo neuroendócrino (sistema nervoso/ hormonal)
que controla suas funções femininas e desativa o freio estabelecido na região do
hipotálamo. Na puberdade de Anna Karenina, este freio vem sendo desativado
lentamente, tornando-se ativo até sua produção de progesterona ser regularizada
trazendo o acontecimento da menarca. Como psicopedagogos devemos ter esta
compreensão acerca de cada caso em atendimento no setting clínico, pois
hormônios como estrógenos afetam funções cognitivas diretamente implicadas nos
Problemas de não-aprendizagem tais como: memória, cognição, organização,
expressão, ritmo biológico e psicológico típicos da feminilidade. As atividades
lúdicas, corporais e esportivas tão utilizadas em nossas intervenções
psicopedagógicas podem repercutir positivamente na tarefa de integrar hormônios a
42
QI: Quociente Intelectual.
43
QE: Quociente Emocional.
44
Holístico: Pensamento filosófico que acredita que tudo no mundo existencial está relacionado
entre si.
45
Hipotálamo: Órgão que governa a expressão das emoções, medindo aproximadamente o
tamanho de uma ervilha, localiza-se sobre a região do Tálamo ajustando o organismo a variações
externas.
19. 19
outros elementos, por exemplo: estrógenos e progesterona estão ligados a produção
de endorfinas que tem ação regulamentadora da temperatura do nosso corpo (rubor,
calor e frio) atuantes sobre o sistema vascular e respiratório. São ativadoras da
transpiração, aliviam dores e interferem no humor e atividade locomotora. As
endorfinas também reduzem o estresse, aumentam a ingestão de alimentos e água,
diminuem psicoses e alucinações esquizofrênicas. Na falta das endorfinas podemos
observar sintomas como insônia, ansiedade, depressão, nervosismo, irritabilidade e
dores musculares e nas articulações. Com os andrógenos, categoria da qual o
principal hormônio é a progesterona são estimulados comportamentos como: uso da
lógica, sensatez, sintetismo, belicismo, bom humor e irritação. Os androgênios
melhoram a cognição e estimulam a fantasia, novidade e autoconfiança. No caso da
Gonadotrofina Coriônica, só é produzido se a mulher estiver grávida e produz
comportamentos como: não rejeitar a presença de outro ser em seu organismo,
sensibilidade, cooperação, defender a fragilidade da criança, enjôos, intolerância
ao fumo, drogas e álcool. Já a falta deste hormônio pode produzir aborto. A
Prolactina, produzida pela Hipófise produz comportamentos como: melhora da
performance sexual, inibição da lubrificação feminina, leva a depressão, fadiga e
diminuição de atenção. No caso da adrenalina que é um neurotrnasmissor, pode
apresentar: distúrbio de sono, enfartes agudos. Fadiga crônica, estresse. Já a
Serotonina produz euforia, desejo de comer doce, modula o desejo sexual, inibindo
seu impulso, aumento de virilidade ou feminilidade, comportamentos instáveis. A
Ocitocina hormônio ligado ao contato físico, ao toque no momento do parto, coito e
amamentação, abraço e carinho com pessoas que amamos, caso contrário não
produziremos Ocitocina. Quanto aos ferormônios, são responsáveis pela rede de
comunicação química silenciosa e distante entre os seres vivos. Pois as fêmeas
produzem e emitem ferormônios que viajam a milhares de quilômetros de distância,
induzindo os machos em direção a fonte emissora, como um atrativo sexual, esta
substância é liberada para demarcar território, emitir sinais de alarme e outros tipos
de mensagens, regula o mecanismo neuroendócrino de receptores determinando-
lhes comportamentos sutis, produzem atração ou repulsa pelo parceiro e seu odor e
é um importante componente da inteligência hormonal, pois produz atratividade
bioquímica.Compreendendo mais profundamente estes conceituais pude construir
hipótese de que nossos hormônios produzem nossos comportamentos e
desenvolvimento sóciopsicossomático, pois equilibrar as 3 inteligências: Racional,
20. 20
Emocional e Hormonal é passo para construção de uma identidade estável e
saudável, pois agimos impulsionados por hormônios de forma razoável ou coerente.
Ao cursarmos a disciplina de Psicologia da Vida Adulta, ministrada pelo professor
Juan José Mouriño Mosquera, aprendi a importância da construção do
autoconhecimento da subjetividade como processo a ser estimulado, ou senão um
dos mais ricos materiais da intervenção psicopedagógica. O professor nos fala que
se auxiliarmos nossos pacientes a auto-conhecerem-se, necessitaremos usar as
ferramentas do saber fisiológico, neurológico e endocrinológico para uma educação
do 3º milênio. Neste processo orientador e condutor psicopedagógico, encontrarmos
etapas como: reconhecimento da auto-imagem e da auto-estima, em sintonia com o
uso equilibrado da racionalidade e emocionalidade por crianças, adolescentes e
adultos jovens e maduros. Naisbitt (1993) tem chamado a atenção de que a
ciclicidade hormonal na mulher também pode vir acometida de aciclicidades que
estão ligadas ao sistema nervoso central. Questões como infertilidade 46,
anovulação47, pré-menopausa48, menopausa49 e climatério50 poderão ser
identificados pelo psicopedagogo que tiver este conhecimento acerca dos
comportamentos trazido pelos papéis femininos ao setting psicopedagógico clínico
pelos pacientes adolescentes, adultos, adultos maduros e da 3ª idade. STEINER
(1998) acredita que se o terapeuta, conhecer estas situações fisiológicas pertinentes
de cada caso clínico, terá maior amplitude do olhar clínico sobre as sintomáticas
femininas, principalmente quanto ao uso de suas inteligências racional, emocional e
hormonal,que não se prejudicam mas administram-se impulsionadas pelas
experiências, aprendizagens e conhecimento ao longo dos anos de vida feminina.
Conhecer a inteligência hormonal segundo Charbonneau (apud BERENSTEIN,
2001) conduz-nos a uma harmonização destas três inteligências que terão produtos
mentais (emoções, pensamentos e impulsos) constituídos conscientemente mas
caracterizados por cada hormônio. Ou seja, que o modo de pensar, agir e se
relacionar com o mundo de cada mulher estará relacionado ao seu perfil hormonal.
46
Infertilidade: Masculina ou feminina. Caracteriza-se pela dificuldade reprodutiva sexual manifesta
sem o uso de anticonceptivos.
47
Anovulação: Repetidas falhas na ovulação, por estado disfuncional, caracterizado por alterações
menstruais. Tem origem no SNC (Sistema Nervoso Central), Hipotálamo e Hipófise.
48
Pré-menopausa: Fase que anteceda a menopausa.
49
Menopausa: Fase em que a mulher para definitivamente de menstrual devido a baixa da
produção hormonal.
50
Climatério: Período da vida da mulher em que os ovários começam a deixar de produzir
quantidades adequadas de hormônios por volta dos 40 a 45 anos de idade.
21. 21
Goldstein (1995) aponta que se o cérebro masculino estruturasse artificialmente
sob o estrogênico, produziria um produto mental feminilizado, e se e generais
tivessem a progesterona, demonstrariam influências afetivas, cooperativas e
protetoras e possivelmente não existiriam guerras como ainda temos. Em minha
pesquisa acerca dos fenômenos neuroendócrinos descobri que as questões
hormonais exercem muita influencia nas questões de aprendizagem, pois a
menstruação sempre deve ser identificada e pontuada como relevante durante a
anamnese ou história vital de nossa pacientes. Co-morbidades e transtornos
reconhecidos pelo DSM e CID 1051 como: TPM52, depressão, blues puerperal53,
obsesidade54, alcoolismo55, bipolaridade56, déficit de atenção, hipotireodismo 57,
hipertireodismo58, diabetes59 são trazidos ao setting psicopedagógico clínico,
revestidos de sintomas relacionados aos transtornos e aprendizagem. Conhecer o
ciclo sexual humano, em destaque o feminino, desde a libido produzida por ações
andrógenas estrógenas, como observar o grau de sensualidade erotismo,
gratificações implicadas nas relações destes pacientes com o mundo é necessário
em nosso olhar psicopedagógico transdisciplinar. Em 2004 eu atendi no
NAEPP/FACED/PUCRS uma adolescente, aluna da rede pública estadual,que além
do quadro de comprometimento neurológico, apresentava pêlos faciais espessos
nas regiões do buço,queixo, sobrancelhas, braços e pernas em sintomas do
Hirsutismo60. A jovem sentia-se muito constrangida e inferiorizada em sala de aula.
Apelidada de bigoduda, sintomatizou um processo de Inibição Cognitiva ao
desinteressar-se, distrair-se e querer faltar aulas. Após conversar com sua mãe e
perguntar-lhe se a garota já havia menstruado, obtive a informação de que a jovem
51
DSM e CID 10: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais e Classificação
Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados.
52
TPM: Tensão pré-menstrual ou depressão: conjunto de sintomas físicos, psíquicos e
comportamentais que acometem a mulher em sua fase de vida reprodutiva.
53
Blues Puerperal: Também conhecida como depressão pós-parto, estado nostálgico e depressivo
que caracteriza intensa crise feminina nos momentos e dias que seguem ao nascimento da
criança.
54
Obsesidade: excesso de peso, que pode trazer outras complicações de saúde.
55
Alcoolismo: compulsão comportamental, vício por substâncias de teor alcoólico.
56
Bipolaridade:Transtorno de personalidade oscilante entre humor e estados melancólicos
depressivos.
57
Hipotireodismo: Doença causada por níveis altos ou mal controlados de glicose no sangue.
Apresenta sinais e sintomas como; sede, urinar muitas vezes, perda de peso, fome exagerada.
58
Hipertireodismo: é um funcionamento excessivo da glândula tireóide, causando profusão dos
olhos (exoftalmo) e lesões na pele. Pode ser desencadeada por estress.
59
Diabetes: baixa ou ausente função pancreática na produção de insulina.
60
Hirsutismo: Distúrbio hormonal causador de crescimento de pêlos em excesso, na face, mamas,
braços, pernas, axilas e virilhas.
22. 22
nunca freqüentara o ginecologista. Pedi a esta mãe que fizesse uma avaliação e
consulta da adolescente, que passou por prescrição médica passou a receber
hormônio(sob forma de pílula) reduzindo consideravelmente a quantidade dos pêlos
faciais. A garota durante tratamento hormonal passou ter melhor desempenho e
comportamento na escola, recuperando sua auto-estima, auto-imagem e bom
humor em relação aos colegas e professores. Por conseguinte conseguiu um
namorado e os apelidos maldosos cessaram. Graças ao conhecimento a respeito do
QH desta adolescente, seu caso teve êxito ao passar por um olhar psicopedagógico
mais apurado. Desde então a temática da QH, ou Inteligência hormonal tem me
inquietado e mobilizado para a pesquisa transdisciplinar. Fato que muito tem
somado para minhas variantes experimentações acadêmicas, mas que formam
novas bases solidificantes em minha profissionalização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando escolhi a temática deste artigo acredito que estou democratizando
um modesto mas bem intencionado conhecimento sobre Inteligência Hormonal,
beneficiando estudantes, leigos, cientistas, políticos, professores e demais
profissionais, pois usando estas informações já consagradas em benefício da
qualidade de vida e saúde da mulher, por conseguinte esta saúde se expandirá
através das futuras gerações de ambos os gêneros. Como psicopedagogia apuro
meu olhar fisiológico diante do feminino, modulado por hormônios,aplacando parte
de um vazio existencial humano, pois o que assistimos é a exploração demasiada e
precoce do erotismo, da sexualidade infantil nesta atualidade. Creio ter a função ou
papel de orientar, divulgar, mediar, sedimentar, ajustar, conjugar parte desta
sociedade na qual vivemos, sobre tais manifestações relacionadas com a
sexualidade humana. Acredito que todos possuímos tal tarefa: A de aprendermos
a aprender pelo viés corporal e orgânico. Importante passo de aquisição de
racionalidade saudável, diante do caótico e erótico frenesi midiático. Busco construir
nestes espaços discursivos, via artigo, objetivando mais reconstrução e
harmonização planetária. Escolho esta temática, ousando semear minhas hipóteses
ao mundo, afim de que produzam algum efeito homeostático, mesmo que
silencioso, desejante de incidir sob universo feminino tão violento, marginalizado,
23. 23
exposto, comercializável porém, ansioso por processos de re-dignificação. É neste
sentido que entra o valioso e importante papel psicopedagógico: De qualificadores
de vida transeuntes nas instituições escolares e familiares, como interlocutores
deste desconhecimento ou função ignorante em relação ás demandas do duo
humano. Transformar esta dualidade em autoconhecimento desejante, configura-se
num karma epistemológico resultante na produção de um saber legitimado, livre e
autônomo. Este artigo é somente a fruição, como diria nosso Rubem Alves, de
realizações pessoais conquistadas pelos estudos casuísticos. Neste sentido
contribuo à profissionalização e dignificação de nossa classe e espaço de trabalho,
vislumbrando novas perspectivas acerca da pluralizantes e diversificantes
manifestações da inteligência. Acredito na psicopedagogia! Principalmente de
fizermos desta uma ciência voltada para o mundo! Neste término, já sinto o que
sou, ou posso ainda ser: o exato fio, a vislumbrar outros fios, na surpreendente teia
da vida. Fio texturizado e tingido pelas cores da Psicopedagogia Clínica e
Institucional, que a cada novo dia, vestirá de magnitude a epistemologia humana!
24. 24
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