Arqueologia da Animação - Material prático & didático é uma publicação produzida pelo Coletivo Ora Bolas com o apoio do FAC-DF. É destinada a estudantes, professores e educadores interessados em explorar os sentidos da ficção e da realização do cinema, de construção da memória imagética.
4. equipeeditorial
Ilustração: Julia Libânio
Pesquisa e texto: Julia Libânio,Raquel Piantino e Tamara e Costa
Projeto gráfico e diagramação: Eduardo Pootz
Revisão: Tamara e Costa
Arqueologiadaanimação-Material prático & didático
Impresso no Brasil
1ª Edição / 2015
Licença Creative Commons
para uso não comercial
5. Dedicadoatodososeducadoreseescolasquetornaram
esse projeto realidade.
E, principalmente, aos artistas mirins, nossa maior
inspiração: nossa luz e sombra.*
*conceitocinematográficomuitoimportante.
Dedicadoatodososeducadoreseescolasquetornaram
esse projeto realidade.
E, principalmente, aos artistas mirins, nossa maior
inspiração: nossa luz e sombra.*
*conceitocinematográficomuitoimportante.
6.
7.
8.
9. INTRODUÇÃO
MuitoantesdoCINEMA,daFOTOGRAFIA
oudaLUZELÉTRICA,aspessoasjásereuniam
para registrar a dinâmica da vida, os MOVI-
MENTOS heróicos,as jornadas épicas ou até
mesmo as guerras.
Em cavernas ou igrejas,pinturas ou foto-
grafias,nóshumanossemprenosencantamos
por narrativas e mitos e tudo o que remete
ao movimento da ANIMA.
Anima (em latim) é ALMA, que também
quer dizer “o que anima”. Anima significa
também VIDA, ESPÍRITO e SEDE DO PEN-
SAMENTO.
Existem alguns conceitos básicos que
precisamos conhecer para compreender a
DINÂMICA do movimento:
Okey. Mas o que tudo isso tem a ver com o
desenho animado ou o cinema?
Okey. Mas o que tudo isso tem a ver com o
desenho animado ou o cinema?
//7
10. luzesombra
A SOMBRA é como o silêncio, a pausa, o
descanso. Se não houvessem repousos para
a mente,a música,o trabalho ou os estudos,
omundoseriasobrecarregadodeinformações
supersaturadas sem contorno ou forma.
Luz e sombra são como o yin yang.A sin-
tonia perfeita entre duas polaridades.
Antes do séc. 19, quando não havia luz
elétrica, nascidades, sombrasoscilavamcom
as labaredas das fogueiras, tochas, lareiras,
velas e candelabros.
Com a descoberta da eletricidade, as
sombras ficaram rígidas–sem movimento.
Você tem medo do escuro? Já viu
uma sombra em movimento? A
sombra de uma árvore na janela
do quarto escuro que parecesse
mais o monstro cabeludo do
além? Teve medo?
Vejamos:numdesenho,asombraéquem
dá profundidade. Num ser humano, a
sombra é uma característica da personali-
dade-e cada um tem sua própria sombra.
E no Cinema,a sombra é um dos princí-
pios da PROJEÇÃO DA IMAGEM.
Luz e sombra, tempo e movimento,
espaçoeilusãosãoconceitosfundamentais
para entender como uma imagem estática
pode se movimentar.
//8
11. Sevocêobservarestamesmamaçãnas
mesmas circunstâncias ao longo do dia, irá
perceberavariaçãodaposiçãodestasombra...
Vocêconsegueimaginar essaexperiência
no tempo das cavernas?
// EXPERIMENTE
Sevocêcolocarumamaçãemfrenteasua
janela,permitindo que a luz do Sol entre in-
cidindosobreamesacujamaçãestáapoiada,
vai perceber que ela projeta uma sombra,
certo?
E se você levar a maçã para uma fogueira
dentrodeumacaverna,aoscilaçãodaslaba-
redas dará a impressão de que a maçã está
em movimento,correto?
LUZESOMBRA
TEMPOEMOVIMENTO
ESPAÇOEILUSÃO
//9
12. ASPINTURAS
RUPESTRES
Registrosarqueológicosnosmostramque
nossosancestraispintavamdentrodascaver-
nasaquiloquegostariamdecaçar. Nosrituais,
pinturasjánosderampoderessobrenaturais
e garantiram o bom sucesso da caça.
Na Pré-História, imagens estáticas pro-
duzidas nas cavernas Altamira (Espanha),
Lascaux ou Font-de-Gaune (sul da França),
até hoje parecem se movimentar. Nesses
locais, à medida que alguém com uma lan-
terna se locomove a uma determinada velo-
cidade, parte das figuras ficam na sombra e
parte se iluminam, resultando na ilusão de
que as imagens se movimentam.
Talvez,emsuasrepresentações,ohomem
das cavernas não estivesse apenas reprodu-
zindo imagens de sua caça como prática ri-
tualística,masORGANIZANDOquadrosem
um espaço e tempo específicos. Ou seja,
criando neste exercício de pintar o que hoje
podemos reconhecer como os princípios
básicos do Cinema e da Animação.
Vamos viajarpelotempo!!!!
VRUMMMMM
//10
13. Assista: COMO A ARTE FEZ O
MUNDO - documentário de 5 episó-
dios produzido pela BBC em 2005 -
especialmente oEPISÓDIO2-ODIA
EM QUE AS IMAGENS NASCERAM.
//11
14. DACAVERNAAOTEATRO
DOTEATROAOCINEMA EraenãoeraumaveznaChina,na
dinastia Han (por volta de 200 a.C.),
umimperadorchamadoWuti.Deses-
peradoapósperdersuaamadadança-
rina num fatal acidente, pediu a um
mágicoqueatrouxessedevoltaavida.
Impossibilitado pela própria física, o
mágico então usou a imaginação:
pegou uma fina escama de peixe e
cortounoformatodabelajovem.Com
aimagem(cortada) damulherproje-
tadaemumlençolbranco,fezressurgir
emsuavidaalembrançavivadadança
edoencanto.
//12
15. Aproximadamente5.000a.C.,noOriente,
nascia o Teatro de Sombras. Era então uma
espéciedeprojeção,emcortinasbrancas,de
silhuetas de bonecos articulados e manipu-
lados por varetas.
O teatro de sombras chinês,também co-
nhecido como Chinauaka, é uma arte muito
antigaqueatéhojeépraticadaporgruposde
maisde20paises.Étambémconsideradoum
dos primórdios do Cinema.
Sombrio,não?!
Maseocinemaeaanimação?
// TEATRO DE SOMBRAS
Sombrio,não?!
Maseocinemaeaanimação?
//13
16. Oquesão
brinquedos
ópticos?
Tudo começa com brincadeiras lúdicas
quedesencadearammaravilhososobjetosde
pesquisaeestudo.Oschamados“brinquedos”
ópticos provocam, fundamentalmente, a
ilusãoqueosolhoseaimaginação produzem.
Os dispositivos ópticos mecânicos, ou
brinquedosópticos,foramaparelhosdesen-
volvidos no período Pré-Cinema, que possi-
bilitavamverimagensanimadassemneces-
sariamenteautilizaçãodeenergiaelétricae/
ou projeção.
Estes instrumentos,que apresentavam a
animaçãodeformamecânica,deramgrande
contribuiçãoparaatecnologiadaAnimação
e do Cinema como conhecemos hoje.
Graças a descobertas divertidas como
estas,hojepodemosnosdeliciarcomosinú-
merosprogramasquepassamnatelinha do
Cinema ou da TV*.
Contudo, os brinquedos ópticos foram
criados independentes do Cinema. Seus
criadoresnãopodiampreverqueaindacon-
tinuariam aencantaresurpreenderpessoas
que nasceram depois do cinema à cores.
ouqualqueroutrodispositivo*//14
17. Existe uma teoria chamada persistência
retiniana. Ela explica que o olho humano
retém uma imagem por uma fração de se-
gundos(aproximadamente1/10desegundo)
enquantooutraimagemestásendopercebi-
da; e que o olho vê um único movimento ao
ver várias imagens em sequência exibidas
rapidamente.
// TAUMATRÓPIO
Criado 1825, quem leva o crédito pela in-
venção deste brinquedo é John Ayrton Paris,
físicoematemáticobelga.Eleéextremamen-
tesimplesenãosugereummovimento,mas
exemplifica bem a teoria da persistência reti-
niana. O aparelho consiste em um disco
pequeno,comumdesenhonafrenteeoutro
no verso, preso por duas cordas amarradas.
As cordas, ao serem torcidas, fazem duas
imagens se fundirem.
Nossa,essesbrinquedossãomaneiros!
Mas...comofuncionam?
Nossa,essesbrinquedossãomaneiros!
Mas...comofuncionam?
//15
18. // FENAQUITOSCÓPIO
Idealizadoem1828,ofenaquitoscópio
éumbrinquedocomdoisdiscosparalelos
presos a uma haste. Ao girar o disco, ob-
servando através das frestas, as imagens
ganham movimento.
// ESTROBOSCÓPIO
Idealizado em 1832, o estroboscópio
consiste em um único disco com frestas
abertas entre as imagens. O observador
vê as imagens através das frestas com o
dispositivo em frente a um espelho.
// ZOOTROPO
Idealizado em 1834, o zootropo é um
tubo giratório com frestas em que o ob-
servador,aogiraroaparelho,temailusão
de que os desenhos em sequência feitos
em tiras de papel estão em movimento.
// FENAQUITOSCÓPIO
//16
19. // KINEÓGRAFO, OU FLIP BOOK
Simples, barato e até hoje bastante
popular, o flip book,idealizado em 1868,
éhojeofamosolivrodefotosoudesenhos
emsequência. Aopassaraspáginasrapi-
damentecomamão,vemosumasequên-
cia de imagens em movimento.
// PRAXINOSCÓPIO
Idealizadoem1877,opraxinoscópioé
um aparelho semelhante ao zootropo,
mas,nolugardasfrestas, temumespelho
internoondeoobservadorvêasequência
de imagens em movimento.
// KINEÓGRAFO, OU FLIP BOOK
LANTERNA MÁGICA
Alanternamágicaficouconhecidano
século17,quandoopadrejesuítaalemão,
AthanasiusKircher, adescreveuecomeçou
autilizá-la.Oaparelhoeraconstituídode
uma fonte de luz gerada por uma chama
dequeroseneeumespelhocurvodentro
deumacaixa,queprojetavaimagenspin-
tadas com cores transparentes - em
pedaços de vidro-,em uma tela branca.
//17
20. Para fazer o estroboscópio
você vai precisar de:
-uma tesoura
-um percevejo
-um palito grande
(churrasco ou sushi)
façavocêmesmo
3-Fure o palito em uma
das extremidades;
4-Fure o centro do disco com o
percevejo deixe o percevejo
perfurado no disco e agora
encaixe no furo do palito;
5-O seu estroboscópio
está pronto!
//Dúvidas? acesse:
arqueologiadaanimacao.blogspot.com.br
1-Recorte o disco desenhado;
2-Recorte as frestas na borda;
//18
21. Para fazer seu Tau-
matrópio,recorte o círculo
onde está o Oliver Bernard.
Depois, faça dois furinhos
nas laterais e coloque duas
cordinhas.Gire as cordas
com as mãos e veja nosso
amiguinho no espaço.
Whohooo!
22.
23. Com a projeção da lanterna mágica
somada ao mecanismo dos brinquedos
ópticos,e o surgimento da fotografia (1826),
temos o Cinema como conhecemos hoje.
AssimnasceuL'Arrivéed'unTrainàLaCiotat
(A chegada do trem na cidade), dos irmãos
Lumière, considerado o primeiro filme da
história do Cinema.
Dosbrinquedos
aocinema
Equandoopúblicoviuotrememdireçãoàcâmerapela
primeiraveznahistória,todaaplateialevouomaior
sustão!UHAuhauahHA.Imaginasó?!
//21
24. // LUMIèRE
OsirmãosLumièrenãoeram«cineastas»
de primeira.Na verdade,eles eram bons co-
merciantes.Filhosdeumfotógrafoevendedor
depapéisfotográficos,osdoisirmãossoube-
ram tirar proveito da clientela vendendo
filmes e câmeras que eles mesmos faziam.
O grande sucesso dos irmãos Lumière na
disputatecnológicadaépoca,eraqueoCine-
matógrafo (artefato criado por eles) funcio-
nava como projetor, câmera e ainda podia
fazer cópias a partir dos negativos.
Seusfilmesnãocontavamumahistorinha
linear,compersonagensfictíciosouqualquer
dramaturgiaaparente.Eramfilmesdocumen-
tais,“filmesderegistro”.Como,porexemplo,
os funcionários saindo da fábrica - além de
outras documentações.
Equemforam?
//22
25. // MéLIèS
Muitoscineastaserammágicosdeforma-
ção e usavam o cinema como um dos seus
númerosdeilusionismo.Porissoforamcha-
mados detrickfilms(filmes de truques),cuja
característica principal eram os cortes e
ediçõesmuitoelaboradas;comodesapareci-
mentos,mutilações e metamorfoses.
George Méliès foi um marco para os
trickfilms.Éconsideradooprimeirocineasta
de ficção.
Contudo, seus filmes passaram a perder
público quando o Cinema encontrou uma
narrativa própria e fez com que o ex-mágico
entrasse em falência no ano de 1913.
// Émile Reynaud
Inventor do praxinoscópio e do Teatro
Óptico,ofrancêsÉmileReynaudfezaprimei-
ra projeção pública de um espetáculo de
imagens animadas no dia 28 de outubro de
1892, três anos antes da conhecida primeira
projeção do Cinematógrafo realizada pelos
Irmãos Lumière.
OTeatroÓpticoeraumavolumosaenge-
nhocaqueutilizavatirasflexíveisdeimagens
enroladas em um carretel que, passando
diantedalentedeumalanternamágica,pro-
jetava uma animação.
Alémdeinventor,Reynauderaumgrande
artistae seunovoaparelhofoiutilizadopara
exibição de seu espetáculo chamado Panto-
mimes Lumineuses. Com aproximadamente
1.500 imagens coloridas pintadas à mão, o
espetáculo continha narrativa, ação dramá-
tica,personagens,trilhasonoraeparticipação
dopúblicoe,durantealgunsanos, fezimenso
sucesso. Devido a este acontecimento, hoje
em dia, pessoas de todo o mundo comemo-
ramodia28deoutubrocomooDiaInterna-
cional da Animação.
//23
26. bibliografia
MASCARELLO,Fernando (org).HistóriadoCinemaMundial.Campinas: Papirus,2007.
LUCENA JUNIOR,Alberto.ArtedaAnimação–técnicaeestéticaatravésdaHistória.
São Paulo: Senac,2002.
MANNONI,Laurent.AGrandeArtedaLuzedaSombra:arqueologiadocinema.São
Paulo: Senac/Unesp,2003.
MACHADO,Arlindo–Pré-cinemaspós-cinemas.Campinas/SP: Papirus,1997.
CASATI,Roberto.Adescobertadasombra.São Paulo: Companhia das letras,2001.
WILLIAMS,Richard.TheAnimator’sSurvivalKit.Londres: Faber and Faber Ltd.,2001.
CAMPBELL,Joseph.OHeróideMilFaces.São Paulo: Editora Cultrix/Pensamento,1995.
27. SOBRE O PROJETO
Este material acompanha o projeto “Arqueologia da Animação”, realizado pelo Coletivo Ora Bolas, em
Brasília (DF). A iniciativa contemplada pelo Fundo de Apoio à Cultura do DF inclui uma exposição itinerante
de brinquedos ópticos, além de oficinas criativas, por escolas públicas e instituições privadas. A publicação é
destinadaaestudantes,professoreseeducadoresinteressadosemexplorarossentidosdaficçãoedarealização
do Cinema,de construção da memória imagética.
Você sabia?
Desde o dia 27 de junho de 2014, o uso de recursos audiovisuais passou a ser obrigatório em escolas da
educação básica do Brasil. A regra passou a integrar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (lei nº
4.394).A diretriz é: escolas devem exibir filmes nacionais por, no mínimo, duas horas mensais, como com-
ponente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola.
arqueologiadaanimacao.blogspot.com.br
www.coletivoorabolas.com.br
VENHA NOS VISITAR!
28. Apresentação Realização Apoio
“... É simples: quando acordo aterrorizado, vendo as
grandes sombras incompreensíveis erguerem-se no meio
do quarto, quando a pequena luz se faz na ponta dos
dedos, e toda a imensa melancolia do mundo parece
subir do sangue com a sua voz obscura... Começo a fazer
meu estilo. Admirável exercício, este. Às vezes uso o pro-
cesso de esvaziar as palavras. Sabe como é? Pego numa
palavra fundamental. Palavras fundamentais, curioso...
Pego numa palavra fundamental: Amor, Doença, Medo,
Morte, Metamorfose. Digo-a baixo vinte vezes. Já não
significa. É um modo de alcançar o estilo.”
Herberto Helder (1930-2015)