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UMA VIDA PELA
FOTOGRAFIA
Entrevista com a fotógrafa
e Professora Ana Rita. 06
APARTAMENTO
302
Confira o ensaio com nu
artístico de Jorge Bispo. 10
CLICKS DA HISTÓRIA
NOS CLICKS DO MOUSE
A página no facebook
Imagens Históricas e o
compartilhamento destas
fotografias. 16
A CAMINHADA DE
EVANDRO TEIXEIRA
Um pouco da história do
fotojornalista marcado
pelo preto e branco em
suas fotos. 18
06
10
ÍNDICEApartamento 302
Uma vida pela fotografia
18
16Clicks da História
nos Cliks do Mouse
A Caminhada de
Evandro Teixeira
Se você está folheando essa revista em uma
banca, em um stand ou em na sala de espera de
um consultório (pensei em dizer na mesa de
centro da casa de um amigo, mas seria pretensão
prodígia demais para um início de um trabalho e
não soaria bem), talvez pensasse pela capa que se
tratava de uma revista que aborde “50 tons de
cinza”ou afins, já que é a nova onda do momento.
Não te culpo, já que temos uma garota nua em
uma pose sugestiva e em preto e branco na capa.
Se você está folheando em um stand especializa-
do em fotografia, talvez atingimos nosso objetivo
e despertamos sua curiosidade não só pela
garota.
O fanzine Revista Perspectiva surgiu dentro da
Universidade Federal de Goiás, nos corredores da
Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia.
Três amigos, colegas de curso na disciplina de
Arte Publicitária II, tinham a missão de diagramar
uma revista como trabalho final.
A missão se tornou diversão a partir do momento
em que o tema escolhido para abordar foi a
fotografia. Essa primeira edição dedicamos à
fotografia preto e branco e nada como a matéria
principal ser dedicada ao genial Jorge Bispo, um
dos fotógrafos brasileiros mais bem sucedidos da
atualidade, com seu cobiçado Apartamento 302,
não só pelas garotas de beleza verdadeira, mas
também pela grandiosidade de todos os seus
trabalhos e intimidade com a máquina fotográfi-
ca. Aproveitamos para falar um pouco sobre a
carreira do grandiosíssimo Evandro Teixeira e
tivemos um bate-papo com a professora Ana Rita.
Outras coisas muito curiosas para você que gosta
de fotografia ou para você que pegou a revista
por engano, estão nas próximas páginas. Espera-
mos que tenhamos cumprido nosso objetivo e
que você se divirta assim como nós nos diverti-
mos fazendo.
Anderson Rafael Reis
Estudante de Publicidade e Propaganda na UFG tem como paixão
o cinema. Entrou para a disciplina de fotografia para aprimorar e
entender melhor sobre o tema para aplicação no cinema e desco-
briu um novo hobby. Torcedor do Fluminense, espera poder dar
um pouco mais de cor as próximas edições para a Revista Perspec-
tiva que estão por vir.
Karoline Santos
Assim como os colegas, faz Publicidade e Propaganda na UFG. Do
trio é a que possui um espírito empreendedor mais aguçado e não
pensou duas vezes em tomar as rédeas de produção e arrecadação
de verba para tornar esse sonho realidade. Nas horas vagas, claro,
dá os seus clicks, tendo como companheira inseparável a sua
Nikon D3100.
Frederico Abreu
Corintiano e também estudante de Publicidade e Propaganda,
não hesitou ao sugerir o tema fotografia preto e branco para a
edição da Revista Perspectiva. Começou a estudar fotografia para
entender melhor a direção de arte na publicidade. Atualmente faz
intercâmbio em Perth, Austrália, para aprimorar suas técnicas.
Karoline Santos
EDITORIAL
04
PRETO E BRANCO
Ana Rita Vidica
Uma vida pela
fotografia
31 anos. Fotógrafa. Publicitária. Mestre em
Cultura Visual. Doutoranda em História.
Professora do curso de Comunicação Social UFG
Ana Rita, professora de Fotografia na UFG, fala um pouco sobre vários âmbitos
da fotografia contemporânea
05
por Anderson Rafael Reis
Professora, fotógrafa, apaixonada. Talvez essas
três palavras sejam os adjetivos que melhor defi-
nem Ana Rita Vidica, publicitária por formação,
que abdicou da vida em agências de propaganda
para seguir uma vida acadêmica como professora
de fotografia do curso de Comunicação Social -
Publicidade e Propaganda e coordenadora do
Núcleo de Pesquisa em Teoria da Imagem vincu-
lado à UFG, em paralelo com os estúdios fotográf-
icos. Mestre em Cultura Visual UFG, a professora
fotógrafa de 31 anos ainda tem tempo para o seu
doutorado, dessa vez em História. Como fotógra-
fa ganhou o prêmio I Concurso Internacional
sobre Periodismo e Gênero, participou de
exposições coletivas regionais, nacionais e inter-
nacionais e uma exposição individual, intitulada
"Obra Marginal", contemplada pela Bolsa de
Apoio à produção artística no Brasil, da FUNARTE.
Confira o bate-papo que a Revista Perspectiva
teve com a a Professora Ana Rita.
Revistas Perspectiva: Com qual vertente da
fotografia você se identifica?
Ana Rita: É difícil responder esta questão, pois
esbarro em classificações por gêneros da fotogra-
fia, como fotografia documental, publicitária,
artística ou grandes temas como, retratos, pais-
agem, natureza morta, still life. E, me identifico
não pelos rótulos das fotografias, mas pelo que
elas expressam, pelo que elas me provocam.
Desse modo, posso dizer que me identifico pela
fotografia que estabelece um diálogo comigo,
independente da sua classificação.
RP: O que te levou a seguir a carreira acadêmi-
ca?
Acredito que tenha sido a possibilidade de refletir
sobre o que faço. Pra mim, a produção de
imagens pode se tornar mais interessante
quando se mistura à reflexão sobre o que fiz ou
fizeram para se conseguir tal enquadramento ou
uma luz específica ou as motivações até mesmo
pessoais, ou seja, perceber o processo de criação
e não só o resultado final, no meu caso, de uma
fotografia ou uma série fotográfica.
06
Foto: Ana Rita
RP: Você percebe interesse dos alunos do
curso pela área da fotografia publicitária?
Não só pela fotografia publicitária, mas pela
fotografia de maneira geral. Embora, hoje, os
alunos tenham acesso facilitado à produção de
imagens fotográficas, em geral, têm vontade de
descobrir mais, o que está por trás daquela
fotografia, tanto do ponto de vista técnico
quanto estético. E, embora muitos alunos este-
jam em sala pra cumprir mais uma disciplina, há
aqueles que alimentam as aulas com vontade de
experimentar o fazer fotográfico, mesmo que,
não necessariamente, se torne um fotógrafo pub-
licitário profissional.
RP: Como você percebe o mercado de fotogra-
fia publicitária no mundo, no Brasil e em
Goiás?
O mercado de fotografia publicitária, indepen-
dente da abrangência geográfica, sempre foi e é
bastante competitivo. Contudo, é importante
que o fotógrafo publicitário se especialize em
uma determinada área, moda, produto, culinária,
para que seu nome posso ser mais facilmente
lembrado ou até mesmo uma referência em um
determinado assunto, o que não impede que ela
faça “de tudo um pouco”. A diferença que vejo,
entre os mercados, mundial, brasileiro e goiano
está no valor pago pelo serviço. O mercado
goiano ainda remunera mal os profissionais da
área em relação a outros mercados no país e no
mundo.
RP: O mercado está sendo prejudicado pelos
bancos de imagem?
Não vejo como prejuízo, mas acredito que os
bancos de imagem sejam também uma opor-
tunidade para o fotógrafo que pode comercial-
izar suas fotografias para um banco de imagens.
O mercado goiano
ainda remunera mal os
profissionais da área
em relação a outros
mercados no país e no
mundo
“
”
07
Ana Rita - Fotógrafa e Professora
Foto: Ana Rita
RP: Como você concilia o trabalho de fotógra-
fa com a vida acadêmica?
Não é tarefa fácil, pois ambos os trabalhos exigem
muita dedicação, mas a conciliação se dá por
meio da reflexão da minha produção fotográfica,
como no caso do projeto fotográfico “Obra Mar-
ginal”, realizado a partir de bolsa de produção
artística no Brasil, da FUNARTE (Fundação Nacio-
nal de Arte) que envolveu uma exposição
fotográfica na Marginal Botafogo. A partir deste
trabalho escrevi alguns textos acadêmicos
buscando a reflexão sobre a relação entre
fotografia e intervenção urbana. Além disso,
organizo exposições fotográficas e saídas com
produções fotográficas ligadas a projetos de
extensão, cadastrados na universidade, unindo,
assim, a produção fotográfica à academia.
RP: Com o advento da fotografia digital o que
mudou na fotografia em preto e branco?
Pra mim, a fotografia digital mudou a relação com
a fotografia, pelo menos com a fotografia
preto-e-branco. Aprendi a fotografar com
câmeras analógicas e a revelar minhas próprias
fotos p&b. Então, ao fotografar, não via as fotos,
esperava por elas, imaginava como tinham ficado
até elas surgirem pelo químico revelador. Então,
esse tempo de espera e surgimento da imagem
não existe no digital.
RP: Qual a sua opinião sobre a intenção de
fotógrafos que abrem mão da foto digital colori-
da para considerar o preto e branco?
Esta pergunta me remonta à primeira resposta
que dei. Acredito que não exista uma intenção
que eu classificaria como certa ou errada, mais
louvável que a outra. O fazer fotográfico, na
minha opinião, transcende os rótulos ou pré-de-
terminações do melhor modo de se fazer. O
importante é usar a fotografia, seja colorida, p&b,
digital ou analógica ou mesmo se apropriar de
fotografias que não são suas para expor um pens-
amento, um sentimento, enfim algo que encon-
tra ressonância com as possibilidades semânticas
que a fotografia dá, que transborda, inclusive, as
palavras.
08
me identifico não
pelos rótulos das
fotografias, mas pelo
que elas expressam,
pelo que elas me
provocam
“
”Ana Rita - Fotógrafa e Professora
Foto: Ana Rita
Foto: Ana Rita
3
APARTAMENTO
302
Fotógrafo Jorge Bispo leva para a web mulheres clicadas em seu apartamento
Projeto Apartamento 302 reúne imagens de meninas anônimas
“Não existe mulher absolutamente perfeita, ainda bem!”, dispara Jorge
Bispo. Foi do seu amor pela imperfeição, “um dos grandes charmes do
ser humano”, que o fotógrafo carioca decidiu criar oTumblr Apartamen-
to 302. Nele, retrata mulheres – geralmente, garotas anônimas que ele
conhece de diversas maneiras – sempre no mesmo ambiente: em frente
a uma das paredes da sala de seu apartamento (daí o nome do blog),
nuas. O resultado são fotografias em preto e branco que mostram a
beleza verdadeira, e real, de mulheres comuns – e que ilustram com
perfeição esta matéria, que fala sobre a ditadura do corpo perfeito. Para
selecionar as retratadas, Bispo avisa: “Observo duas principais carac-
terísticas nelas: uma é vaidade, a outra é um sentido de liberdade, de
poder se expressar através do seu corpo independentemente do
padrão, de como ele seja”.
10
por Anderson Rafael Reis e Karoline Santos
“Sempre recebi amigos aqui em casa e alguns são
artistas. Cliquei algumas capas de CD e ensaios
aqui. Queria que que fosse um pouco: "passa lá em
casa pra fazer uma foto". Daí para fazer um Tumblr
e ele ser focado em mulheres e nus foi um pulo pra
algo que gosto de fotografar”— ele explica.
“A gente lida com muita pressão, ainda mais aqui
no Rio de Janeiro. Você está sempre na praia,
cercada de pessoas lindas. Tem dias em que me
sinto um lixo. Mas sei que tem a ver com a minha
cabeça. Quando estou bem, não me sinto mal com
meu corpo”diz Júlia, uma das fotografadas.
Na busca por esse acordo com a autoestima, a
designer decidiu reencontrar a própria beleza e
topou ser retratada nua pelo fotógrafo Jorge Bispo
no projeto Apartamento 302.
Nada de modelos perfeitas em paisagens exuber-
antes, exibindo seus corpos impecáveis e super-
sensuais. Não. Em Apartamento 302, mulheres
não-famosas, com seus corpos não-perfeitos e
suas posturas não-vulgares posam completa-
mente nuas contra uma parede branca chapada –
o mesmo cantinho do apartamento 302, destina-
do à beleza de tudo o que não é perfeito e edita-
do.
As fotos falam sobre naturalidade e simplicidade.
É tudo singelo e sincero. Gabriela, Isabel, Sandra,
Pollyana... Os nomes das moças se posicionam
debaixo de suas fotos, só pra gritar: "Somos
pessoas de verdade. Temos nomes, dobrinhas,
ossinhos e somos lindas!".
É um exercício de poesia e arte, mas acima de
tudo, de aceitação.
Roberta
Júlia
11
O projeto deve virar livro e exposição.
“Fotografei algumas atrizes aqui em casa que são
conhecidas, mas sempre tive dúvidas sobre isso.
Esse é um trabalho com anônimas. Só coloco o
primeiro nome da mulher por isso. Quero fazer um
livro de formato pequeno, simples, e uma
exposição com fotos e vídeos. Mas, para mim, o
trabalho é esse processo, o durante, com o público
acompanhando. Vou postando as meninas na
ordem em que elas comparecem ao apartamento.”
Apesar de atualmente estar marcado por esse
trabalho que tem sido até o momento bem suce-
dido e despertado a atenção de públicos variados
(as meninas entram em contato para serem clica-
das), Bispo tem uma carreira sólida com fotogra-
fias com mais peças de roupas envolvidas. Porém,
não esconde que é um processo natural do
fotógrafo alguma vez na vida se aventurar pelo
lado mais natural do ser humano.
“Todo fotógrafo, em algum momento, clica nus.
Seja namorada ou amiga. Tenho também uma
relação profissional com o nu, mas o projeto do
apartamento 302 é diferente. É um híbrido entre
retrato e fotografia de nu.”
O processo se mostra natural. As garotas não são
atrizes globais, modelos de passarela, ex-BBB ou
panicats e não recebem pela exposição. É um
trabalho artístico que se desenrola de acordo com
o feeling entre modelo e fotógrafo.
“Meu limite quem determina é a modelo. Sugiro,
peço, negocio, mas é ela que bate o martelo. Bom
senso e bom gosto deveriam ditar isso” — diz
Bispo.
Atualmente Bispo está preparando um livro de
retratos de personagens da cena cultural, a ser
lançado pela editora Ouro em Azul. São fotos
feitas nos últimos 14 anos durante intervalos de
trabalhos, sobras de estúdio e sessões especiais
para o livro — várias delas inéditas, de David
Lynch a Michel Gondry, de Chico Buarque a
Criolo, de David Byrne a Milton Nascimento. Mas
experiência de autopublicação numa plataforma
digital, no entanto, tem sido proveitosa. “É
bastante diferente. Tem mais retorno e me sinto
parceiro do público, pressionado pela expectativa
deles. Perde a distância que deixa você um pouco
inatingível. Sinto que posso ser influenciado pelo
espectador, que deixa de ser espectador e vira
agente ativo do trabalho. Eu me sinto um pouco
Lygia Clark, que nos anos 1970 trocou artista por
propositora como nome de sua função.”
14
Maria Ribeiro
CLICKS DA HISTÓRIA
CLICKS DO MOUSE
Das mazelas do nazismo à ditadura brasileira, passando por olimpíadas e histórias de per-
sonalidades que tiveram os 15 minutos de fama eternizados: a página Imagens Históricas
no Facebook é fonte de entretenimento e conhecimento através da colaboração coletiva.
O Facebook nunca mais foi o mesmo desde a
criação da página Imagens Históricas. Não que
isso tenha sido uma revolução no modo de usar a
internet e as redes sociais, mas com certeza é um
atrativo para quem já estava com “preguiça” de
passar horas vendo o espetáculo do nada na
grande rede.
A página (facebook.com/HistoricasImagens)
conta com um acervo de quase 4 mil imagens que
variam de fotografias tiradas de várias tipos de
câmeras fotográficas com a tecnologia da época
até imagens de pinturas que retratam momentos
marcantes e eternizados com a técnica disponível
na época.
Tão interessante quanto as fotografias que conge-
laram momentos únicos da história são seus
textos de legenda. Muitos desses textos não se
limitam apenas o momento, quem tirou e o que é
retratado na fotografia, o que já é uma fonte de
informação riquíssima, mas contam todo o
contexto da época, o que levou ao acontecimen-
to, curiosidades do momento exato do clique, a
repercussão e a conclusão dos acontecimentos.
Um bom entretenimento para quem está com um
tempinho“zapeando”pelo Facebook. No mínimo,
mais conhecimento adquirido enquanto poderia
estar se entregando às mazelas do mundo virtual.
nos
16
por Anderson Rafael Reis
Colaboração coletiva
Como tudo nas redes sociais a página Imagens
Históricas só funciona por causa de uma grande
colaboração coletiva. Quem acompanha a página
pode sugerir fotos e/ou textos para a legenda.
Além disso, não é sempre que é possível para os
controladores da página terem a fonte da foto
para dar créditos de sua origem. Nessas fotos, há
sempre o recado “Imagem: A equipe do Imagens
Históricas buscou informações a respeito de
maiores referências da imagem, para creditá-la.
Entretanto, nada foi encontrado. Caso a encon-
trem, gostaríamos que nos alertassem via e-mail,
por gentileza: imagenshistoricas@r7.com.”.
Preto no branco
Com todas as imagens disponíveis, o que dá o
charme para a página e deixa como seu maior
ícone são as tradicionais e saudosistas imagens
não-coloridas. O motivo acaba sendo, além da
simplicidade e o glamour, a falta de restrições ou
impedimentos que os tempos atuais determinam
para tirar fotos de personalidades e acontecimen-
tos. Além disso, talvez pela falta de acesso da
época, essas fotografias ganham importância
pela raridade e exclusividade.
Entre as mais marcantes temos a visita de Walt
Disney ao Rio de Janeiro, Che Guevara bebendo
sua Coca-cola, o famoso time de pelada de Chico
Buarque e um gostoso papo entre Cora Coralina e
Jorge Amado.
17
A CAMINHADA DE
EVANDRO TEIXEIRA
Um pouco da história do fotojornalista marcado pelo preto e branco em suas fotos
18
por Anderson Rafael Reis
De desfiles de escolas de samba aos velóri-
os dos generais da ditadura. De casamen-
tos à história dos sobreviventes de Canu-
dos. Tanto os momentos históricos,
quanto as banalidades do cotidiano já
foram registradas pelas lentes de Evandro
Teixeira, um dos maiores nomes do foto-
jornalismo brasileiro.
Em mais de 50 anos de carreira, Evandro,
como gosta de ser chamado, testemunhou
as transformações da fotografia, a perda
do glamour do jornalismo e os aconteci-
mentos mais importantes no Brasil e no
mundo. Baiano de Jequié, desde criança a
arte esteve presente em sua vida. Quando
menino, improvisava um cinema com uma
caixa de papelão e exibia filmes trazidos
de Salvador. Na adolescência, considerou a
idéia de ser escultor, mas ao ver uma série
de fotografias em uma edição do jornal O
Cruzeiro, Evandro descobriu que seria
fotógrafo.
19
As célebres fotos de Jean Manzon e José
Medeiros na revista O Cruzeiro, uma das
mais conhecidas publicações do jornalis-
mo brasileiro nos anos 1950, despertaram
uma grande paixão pelas artes fotográfi-
cas. "Aquilo [o ensaio de O Cruzeiro]
mudou a minha vida!".
Ainda na Bahia, Evandro aprendeu os
primeiros passos da profissão com o
fotógrafo Nestor Rocha, tio do cineasta
Glauber Rocha. Pouco depois foi estudar
em Salvador, fez estágio no Diário de Notí-
cias. Em 1957, chegou ao Rio de Janeiro
com a indicação de um amigo para procu-
rar estágio no Diário da Noite, onde ficou
encarregado de registrar casamentos.
"Mal cheguei já me disseram que eu seria
fotógrafo de casamentos. Aí, ficava corren-
do o dia inteiro atrás de cerimônia”.
Em 1962, Evandro foi convidado a
trabalhar no Jornal do Brasil, segundo ele,
a elite do jornalismo na época. Até hoje
está no jornal e concilia o dia-a-dia da
redação com a publicação de docu-
mentários e livros. Desde então, sua carrei-
ra passou a ser fortemente marcada com o
Jornal do Brasil que publicou muitas de
suas fotografias mais famosas. Teixeira
ficou no diário até o fim de sua veiculação
impressa, em 2010.
Hoje, Evandro Teixeira dedica-se as suas
publicações de livros e suas exposições
fotográficas. Ao todo já são sete livros edit-
ados, entre os mais marcantes Fotojornal-
ismo (1983) e Canudos 100 anos (1997).
20
Foto: Evandro Teixeira: Canudos 100 anos (1997)
Foto: Evandro Teixeira: Canudos 100 anos (1997)
Foto: Evandro Teixeira: Canudos 100 anos (1997)
Fotografias famosas
Muita gente pode até não conhecer ou ter
ouvido falar em Evandro Teixeira, mas cer-
tamente conhece muitas de suas fotos
sem saber a autoria.
Com Copas no Mundo, velórios, desfiles de
escolas de samba e a história dos sobrevi-
ventes de Canudos, Teixeira, talvez, tenha
tido o seu momento mais marcante na
carreira nos anos de chumbo da ditadura
militar brasileira, cobrindo não só a ditadu-
ra do Brasil, mas de vários países da améri-
ca latina.
Quem não conhece a foto de um homem
caindo em uma tentativa de fuga da
repressão da polícia? Ou então a foto de
manifestantes, também na ditadura, em
frente a Igreja da Candelária no Rio de
Janeiro?
Além dessas fotos, temos registros mar-
cantes, como da rainha Elizabeth no Brasil.
Evandro Teixeira também clicou a Garota
de Ipanema.
Mesmo com a tecnologia disponível, o
fotógrafo tem suas fotos ligadas ao preto e
branco (talvez pelas publicações em
jornal?) que, além de marcantes historica-
mente, são de técnica única e charme que
remetem ao que o próprio Teixeira classifi-
ca como época do glamour do jornalismo.
21
Foto: Evandro Teixeira: Ditadura Militar1964)
Foto: Evandro Teixeira: Rainha Elizabeth em visita ao Rio
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Fotografia preto e branco em revista universitária

  • 1. UMA VIDA PELA FOTOGRAFIA Entrevista com a fotógrafa e Professora Ana Rita. 06 APARTAMENTO 302 Confira o ensaio com nu artístico de Jorge Bispo. 10 CLICKS DA HISTÓRIA NOS CLICKS DO MOUSE A página no facebook Imagens Históricas e o compartilhamento destas fotografias. 16 A CAMINHADA DE EVANDRO TEIXEIRA Um pouco da história do fotojornalista marcado pelo preto e branco em suas fotos. 18
  • 3. 18 16Clicks da História nos Cliks do Mouse A Caminhada de Evandro Teixeira
  • 4. Se você está folheando essa revista em uma banca, em um stand ou em na sala de espera de um consultório (pensei em dizer na mesa de centro da casa de um amigo, mas seria pretensão prodígia demais para um início de um trabalho e não soaria bem), talvez pensasse pela capa que se tratava de uma revista que aborde “50 tons de cinza”ou afins, já que é a nova onda do momento. Não te culpo, já que temos uma garota nua em uma pose sugestiva e em preto e branco na capa. Se você está folheando em um stand especializa- do em fotografia, talvez atingimos nosso objetivo e despertamos sua curiosidade não só pela garota. O fanzine Revista Perspectiva surgiu dentro da Universidade Federal de Goiás, nos corredores da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia. Três amigos, colegas de curso na disciplina de Arte Publicitária II, tinham a missão de diagramar uma revista como trabalho final. A missão se tornou diversão a partir do momento em que o tema escolhido para abordar foi a fotografia. Essa primeira edição dedicamos à fotografia preto e branco e nada como a matéria principal ser dedicada ao genial Jorge Bispo, um dos fotógrafos brasileiros mais bem sucedidos da atualidade, com seu cobiçado Apartamento 302, não só pelas garotas de beleza verdadeira, mas também pela grandiosidade de todos os seus trabalhos e intimidade com a máquina fotográfi- ca. Aproveitamos para falar um pouco sobre a carreira do grandiosíssimo Evandro Teixeira e tivemos um bate-papo com a professora Ana Rita. Outras coisas muito curiosas para você que gosta de fotografia ou para você que pegou a revista por engano, estão nas próximas páginas. Espera- mos que tenhamos cumprido nosso objetivo e que você se divirta assim como nós nos diverti- mos fazendo. Anderson Rafael Reis Estudante de Publicidade e Propaganda na UFG tem como paixão o cinema. Entrou para a disciplina de fotografia para aprimorar e entender melhor sobre o tema para aplicação no cinema e desco- briu um novo hobby. Torcedor do Fluminense, espera poder dar um pouco mais de cor as próximas edições para a Revista Perspec- tiva que estão por vir. Karoline Santos Assim como os colegas, faz Publicidade e Propaganda na UFG. Do trio é a que possui um espírito empreendedor mais aguçado e não pensou duas vezes em tomar as rédeas de produção e arrecadação de verba para tornar esse sonho realidade. Nas horas vagas, claro, dá os seus clicks, tendo como companheira inseparável a sua Nikon D3100. Frederico Abreu Corintiano e também estudante de Publicidade e Propaganda, não hesitou ao sugerir o tema fotografia preto e branco para a edição da Revista Perspectiva. Começou a estudar fotografia para entender melhor a direção de arte na publicidade. Atualmente faz intercâmbio em Perth, Austrália, para aprimorar suas técnicas. Karoline Santos EDITORIAL 04 PRETO E BRANCO
  • 5. Ana Rita Vidica Uma vida pela fotografia 31 anos. Fotógrafa. Publicitária. Mestre em Cultura Visual. Doutoranda em História. Professora do curso de Comunicação Social UFG Ana Rita, professora de Fotografia na UFG, fala um pouco sobre vários âmbitos da fotografia contemporânea 05 por Anderson Rafael Reis
  • 6. Professora, fotógrafa, apaixonada. Talvez essas três palavras sejam os adjetivos que melhor defi- nem Ana Rita Vidica, publicitária por formação, que abdicou da vida em agências de propaganda para seguir uma vida acadêmica como professora de fotografia do curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda e coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Teoria da Imagem vincu- lado à UFG, em paralelo com os estúdios fotográf- icos. Mestre em Cultura Visual UFG, a professora fotógrafa de 31 anos ainda tem tempo para o seu doutorado, dessa vez em História. Como fotógra- fa ganhou o prêmio I Concurso Internacional sobre Periodismo e Gênero, participou de exposições coletivas regionais, nacionais e inter- nacionais e uma exposição individual, intitulada "Obra Marginal", contemplada pela Bolsa de Apoio à produção artística no Brasil, da FUNARTE. Confira o bate-papo que a Revista Perspectiva teve com a a Professora Ana Rita. Revistas Perspectiva: Com qual vertente da fotografia você se identifica? Ana Rita: É difícil responder esta questão, pois esbarro em classificações por gêneros da fotogra- fia, como fotografia documental, publicitária, artística ou grandes temas como, retratos, pais- agem, natureza morta, still life. E, me identifico não pelos rótulos das fotografias, mas pelo que elas expressam, pelo que elas me provocam. Desse modo, posso dizer que me identifico pela fotografia que estabelece um diálogo comigo, independente da sua classificação. RP: O que te levou a seguir a carreira acadêmi- ca? Acredito que tenha sido a possibilidade de refletir sobre o que faço. Pra mim, a produção de imagens pode se tornar mais interessante quando se mistura à reflexão sobre o que fiz ou fizeram para se conseguir tal enquadramento ou uma luz específica ou as motivações até mesmo pessoais, ou seja, perceber o processo de criação e não só o resultado final, no meu caso, de uma fotografia ou uma série fotográfica. 06 Foto: Ana Rita
  • 7. RP: Você percebe interesse dos alunos do curso pela área da fotografia publicitária? Não só pela fotografia publicitária, mas pela fotografia de maneira geral. Embora, hoje, os alunos tenham acesso facilitado à produção de imagens fotográficas, em geral, têm vontade de descobrir mais, o que está por trás daquela fotografia, tanto do ponto de vista técnico quanto estético. E, embora muitos alunos este- jam em sala pra cumprir mais uma disciplina, há aqueles que alimentam as aulas com vontade de experimentar o fazer fotográfico, mesmo que, não necessariamente, se torne um fotógrafo pub- licitário profissional. RP: Como você percebe o mercado de fotogra- fia publicitária no mundo, no Brasil e em Goiás? O mercado de fotografia publicitária, indepen- dente da abrangência geográfica, sempre foi e é bastante competitivo. Contudo, é importante que o fotógrafo publicitário se especialize em uma determinada área, moda, produto, culinária, para que seu nome posso ser mais facilmente lembrado ou até mesmo uma referência em um determinado assunto, o que não impede que ela faça “de tudo um pouco”. A diferença que vejo, entre os mercados, mundial, brasileiro e goiano está no valor pago pelo serviço. O mercado goiano ainda remunera mal os profissionais da área em relação a outros mercados no país e no mundo. RP: O mercado está sendo prejudicado pelos bancos de imagem? Não vejo como prejuízo, mas acredito que os bancos de imagem sejam também uma opor- tunidade para o fotógrafo que pode comercial- izar suas fotografias para um banco de imagens. O mercado goiano ainda remunera mal os profissionais da área em relação a outros mercados no país e no mundo “ ” 07 Ana Rita - Fotógrafa e Professora Foto: Ana Rita
  • 8. RP: Como você concilia o trabalho de fotógra- fa com a vida acadêmica? Não é tarefa fácil, pois ambos os trabalhos exigem muita dedicação, mas a conciliação se dá por meio da reflexão da minha produção fotográfica, como no caso do projeto fotográfico “Obra Mar- ginal”, realizado a partir de bolsa de produção artística no Brasil, da FUNARTE (Fundação Nacio- nal de Arte) que envolveu uma exposição fotográfica na Marginal Botafogo. A partir deste trabalho escrevi alguns textos acadêmicos buscando a reflexão sobre a relação entre fotografia e intervenção urbana. Além disso, organizo exposições fotográficas e saídas com produções fotográficas ligadas a projetos de extensão, cadastrados na universidade, unindo, assim, a produção fotográfica à academia. RP: Com o advento da fotografia digital o que mudou na fotografia em preto e branco? Pra mim, a fotografia digital mudou a relação com a fotografia, pelo menos com a fotografia preto-e-branco. Aprendi a fotografar com câmeras analógicas e a revelar minhas próprias fotos p&b. Então, ao fotografar, não via as fotos, esperava por elas, imaginava como tinham ficado até elas surgirem pelo químico revelador. Então, esse tempo de espera e surgimento da imagem não existe no digital. RP: Qual a sua opinião sobre a intenção de fotógrafos que abrem mão da foto digital colori- da para considerar o preto e branco? Esta pergunta me remonta à primeira resposta que dei. Acredito que não exista uma intenção que eu classificaria como certa ou errada, mais louvável que a outra. O fazer fotográfico, na minha opinião, transcende os rótulos ou pré-de- terminações do melhor modo de se fazer. O importante é usar a fotografia, seja colorida, p&b, digital ou analógica ou mesmo se apropriar de fotografias que não são suas para expor um pens- amento, um sentimento, enfim algo que encon- tra ressonância com as possibilidades semânticas que a fotografia dá, que transborda, inclusive, as palavras. 08 me identifico não pelos rótulos das fotografias, mas pelo que elas expressam, pelo que elas me provocam “ ”Ana Rita - Fotógrafa e Professora Foto: Ana Rita Foto: Ana Rita
  • 9. 3
  • 10. APARTAMENTO 302 Fotógrafo Jorge Bispo leva para a web mulheres clicadas em seu apartamento Projeto Apartamento 302 reúne imagens de meninas anônimas “Não existe mulher absolutamente perfeita, ainda bem!”, dispara Jorge Bispo. Foi do seu amor pela imperfeição, “um dos grandes charmes do ser humano”, que o fotógrafo carioca decidiu criar oTumblr Apartamen- to 302. Nele, retrata mulheres – geralmente, garotas anônimas que ele conhece de diversas maneiras – sempre no mesmo ambiente: em frente a uma das paredes da sala de seu apartamento (daí o nome do blog), nuas. O resultado são fotografias em preto e branco que mostram a beleza verdadeira, e real, de mulheres comuns – e que ilustram com perfeição esta matéria, que fala sobre a ditadura do corpo perfeito. Para selecionar as retratadas, Bispo avisa: “Observo duas principais carac- terísticas nelas: uma é vaidade, a outra é um sentido de liberdade, de poder se expressar através do seu corpo independentemente do padrão, de como ele seja”. 10 por Anderson Rafael Reis e Karoline Santos
  • 11. “Sempre recebi amigos aqui em casa e alguns são artistas. Cliquei algumas capas de CD e ensaios aqui. Queria que que fosse um pouco: "passa lá em casa pra fazer uma foto". Daí para fazer um Tumblr e ele ser focado em mulheres e nus foi um pulo pra algo que gosto de fotografar”— ele explica. “A gente lida com muita pressão, ainda mais aqui no Rio de Janeiro. Você está sempre na praia, cercada de pessoas lindas. Tem dias em que me sinto um lixo. Mas sei que tem a ver com a minha cabeça. Quando estou bem, não me sinto mal com meu corpo”diz Júlia, uma das fotografadas. Na busca por esse acordo com a autoestima, a designer decidiu reencontrar a própria beleza e topou ser retratada nua pelo fotógrafo Jorge Bispo no projeto Apartamento 302. Nada de modelos perfeitas em paisagens exuber- antes, exibindo seus corpos impecáveis e super- sensuais. Não. Em Apartamento 302, mulheres não-famosas, com seus corpos não-perfeitos e suas posturas não-vulgares posam completa- mente nuas contra uma parede branca chapada – o mesmo cantinho do apartamento 302, destina- do à beleza de tudo o que não é perfeito e edita- do. As fotos falam sobre naturalidade e simplicidade. É tudo singelo e sincero. Gabriela, Isabel, Sandra, Pollyana... Os nomes das moças se posicionam debaixo de suas fotos, só pra gritar: "Somos pessoas de verdade. Temos nomes, dobrinhas, ossinhos e somos lindas!". É um exercício de poesia e arte, mas acima de tudo, de aceitação. Roberta Júlia 11
  • 12.
  • 13.
  • 14. O projeto deve virar livro e exposição. “Fotografei algumas atrizes aqui em casa que são conhecidas, mas sempre tive dúvidas sobre isso. Esse é um trabalho com anônimas. Só coloco o primeiro nome da mulher por isso. Quero fazer um livro de formato pequeno, simples, e uma exposição com fotos e vídeos. Mas, para mim, o trabalho é esse processo, o durante, com o público acompanhando. Vou postando as meninas na ordem em que elas comparecem ao apartamento.” Apesar de atualmente estar marcado por esse trabalho que tem sido até o momento bem suce- dido e despertado a atenção de públicos variados (as meninas entram em contato para serem clica- das), Bispo tem uma carreira sólida com fotogra- fias com mais peças de roupas envolvidas. Porém, não esconde que é um processo natural do fotógrafo alguma vez na vida se aventurar pelo lado mais natural do ser humano. “Todo fotógrafo, em algum momento, clica nus. Seja namorada ou amiga. Tenho também uma relação profissional com o nu, mas o projeto do apartamento 302 é diferente. É um híbrido entre retrato e fotografia de nu.” O processo se mostra natural. As garotas não são atrizes globais, modelos de passarela, ex-BBB ou panicats e não recebem pela exposição. É um trabalho artístico que se desenrola de acordo com o feeling entre modelo e fotógrafo. “Meu limite quem determina é a modelo. Sugiro, peço, negocio, mas é ela que bate o martelo. Bom senso e bom gosto deveriam ditar isso” — diz Bispo. Atualmente Bispo está preparando um livro de retratos de personagens da cena cultural, a ser lançado pela editora Ouro em Azul. São fotos feitas nos últimos 14 anos durante intervalos de trabalhos, sobras de estúdio e sessões especiais para o livro — várias delas inéditas, de David Lynch a Michel Gondry, de Chico Buarque a Criolo, de David Byrne a Milton Nascimento. Mas experiência de autopublicação numa plataforma digital, no entanto, tem sido proveitosa. “É bastante diferente. Tem mais retorno e me sinto parceiro do público, pressionado pela expectativa deles. Perde a distância que deixa você um pouco inatingível. Sinto que posso ser influenciado pelo espectador, que deixa de ser espectador e vira agente ativo do trabalho. Eu me sinto um pouco Lygia Clark, que nos anos 1970 trocou artista por propositora como nome de sua função.” 14 Maria Ribeiro
  • 15.
  • 16. CLICKS DA HISTÓRIA CLICKS DO MOUSE Das mazelas do nazismo à ditadura brasileira, passando por olimpíadas e histórias de per- sonalidades que tiveram os 15 minutos de fama eternizados: a página Imagens Históricas no Facebook é fonte de entretenimento e conhecimento através da colaboração coletiva. O Facebook nunca mais foi o mesmo desde a criação da página Imagens Históricas. Não que isso tenha sido uma revolução no modo de usar a internet e as redes sociais, mas com certeza é um atrativo para quem já estava com “preguiça” de passar horas vendo o espetáculo do nada na grande rede. A página (facebook.com/HistoricasImagens) conta com um acervo de quase 4 mil imagens que variam de fotografias tiradas de várias tipos de câmeras fotográficas com a tecnologia da época até imagens de pinturas que retratam momentos marcantes e eternizados com a técnica disponível na época. Tão interessante quanto as fotografias que conge- laram momentos únicos da história são seus textos de legenda. Muitos desses textos não se limitam apenas o momento, quem tirou e o que é retratado na fotografia, o que já é uma fonte de informação riquíssima, mas contam todo o contexto da época, o que levou ao acontecimen- to, curiosidades do momento exato do clique, a repercussão e a conclusão dos acontecimentos. Um bom entretenimento para quem está com um tempinho“zapeando”pelo Facebook. No mínimo, mais conhecimento adquirido enquanto poderia estar se entregando às mazelas do mundo virtual. nos 16 por Anderson Rafael Reis
  • 17. Colaboração coletiva Como tudo nas redes sociais a página Imagens Históricas só funciona por causa de uma grande colaboração coletiva. Quem acompanha a página pode sugerir fotos e/ou textos para a legenda. Além disso, não é sempre que é possível para os controladores da página terem a fonte da foto para dar créditos de sua origem. Nessas fotos, há sempre o recado “Imagem: A equipe do Imagens Históricas buscou informações a respeito de maiores referências da imagem, para creditá-la. Entretanto, nada foi encontrado. Caso a encon- trem, gostaríamos que nos alertassem via e-mail, por gentileza: imagenshistoricas@r7.com.”. Preto no branco Com todas as imagens disponíveis, o que dá o charme para a página e deixa como seu maior ícone são as tradicionais e saudosistas imagens não-coloridas. O motivo acaba sendo, além da simplicidade e o glamour, a falta de restrições ou impedimentos que os tempos atuais determinam para tirar fotos de personalidades e acontecimen- tos. Além disso, talvez pela falta de acesso da época, essas fotografias ganham importância pela raridade e exclusividade. Entre as mais marcantes temos a visita de Walt Disney ao Rio de Janeiro, Che Guevara bebendo sua Coca-cola, o famoso time de pelada de Chico Buarque e um gostoso papo entre Cora Coralina e Jorge Amado. 17
  • 18. A CAMINHADA DE EVANDRO TEIXEIRA Um pouco da história do fotojornalista marcado pelo preto e branco em suas fotos 18 por Anderson Rafael Reis
  • 19. De desfiles de escolas de samba aos velóri- os dos generais da ditadura. De casamen- tos à história dos sobreviventes de Canu- dos. Tanto os momentos históricos, quanto as banalidades do cotidiano já foram registradas pelas lentes de Evandro Teixeira, um dos maiores nomes do foto- jornalismo brasileiro. Em mais de 50 anos de carreira, Evandro, como gosta de ser chamado, testemunhou as transformações da fotografia, a perda do glamour do jornalismo e os aconteci- mentos mais importantes no Brasil e no mundo. Baiano de Jequié, desde criança a arte esteve presente em sua vida. Quando menino, improvisava um cinema com uma caixa de papelão e exibia filmes trazidos de Salvador. Na adolescência, considerou a idéia de ser escultor, mas ao ver uma série de fotografias em uma edição do jornal O Cruzeiro, Evandro descobriu que seria fotógrafo. 19
  • 20. As célebres fotos de Jean Manzon e José Medeiros na revista O Cruzeiro, uma das mais conhecidas publicações do jornalis- mo brasileiro nos anos 1950, despertaram uma grande paixão pelas artes fotográfi- cas. "Aquilo [o ensaio de O Cruzeiro] mudou a minha vida!". Ainda na Bahia, Evandro aprendeu os primeiros passos da profissão com o fotógrafo Nestor Rocha, tio do cineasta Glauber Rocha. Pouco depois foi estudar em Salvador, fez estágio no Diário de Notí- cias. Em 1957, chegou ao Rio de Janeiro com a indicação de um amigo para procu- rar estágio no Diário da Noite, onde ficou encarregado de registrar casamentos. "Mal cheguei já me disseram que eu seria fotógrafo de casamentos. Aí, ficava corren- do o dia inteiro atrás de cerimônia”. Em 1962, Evandro foi convidado a trabalhar no Jornal do Brasil, segundo ele, a elite do jornalismo na época. Até hoje está no jornal e concilia o dia-a-dia da redação com a publicação de docu- mentários e livros. Desde então, sua carrei- ra passou a ser fortemente marcada com o Jornal do Brasil que publicou muitas de suas fotografias mais famosas. Teixeira ficou no diário até o fim de sua veiculação impressa, em 2010. Hoje, Evandro Teixeira dedica-se as suas publicações de livros e suas exposições fotográficas. Ao todo já são sete livros edit- ados, entre os mais marcantes Fotojornal- ismo (1983) e Canudos 100 anos (1997). 20 Foto: Evandro Teixeira: Canudos 100 anos (1997) Foto: Evandro Teixeira: Canudos 100 anos (1997) Foto: Evandro Teixeira: Canudos 100 anos (1997)
  • 21. Fotografias famosas Muita gente pode até não conhecer ou ter ouvido falar em Evandro Teixeira, mas cer- tamente conhece muitas de suas fotos sem saber a autoria. Com Copas no Mundo, velórios, desfiles de escolas de samba e a história dos sobrevi- ventes de Canudos, Teixeira, talvez, tenha tido o seu momento mais marcante na carreira nos anos de chumbo da ditadura militar brasileira, cobrindo não só a ditadu- ra do Brasil, mas de vários países da améri- ca latina. Quem não conhece a foto de um homem caindo em uma tentativa de fuga da repressão da polícia? Ou então a foto de manifestantes, também na ditadura, em frente a Igreja da Candelária no Rio de Janeiro? Além dessas fotos, temos registros mar- cantes, como da rainha Elizabeth no Brasil. Evandro Teixeira também clicou a Garota de Ipanema. Mesmo com a tecnologia disponível, o fotógrafo tem suas fotos ligadas ao preto e branco (talvez pelas publicações em jornal?) que, além de marcantes historica- mente, são de técnica única e charme que remetem ao que o próprio Teixeira classifi- ca como época do glamour do jornalismo. 21 Foto: Evandro Teixeira: Ditadura Militar1964) Foto: Evandro Teixeira: Rainha Elizabeth em visita ao Rio Foto: Evandro Teixeira: A Garota de Ipanema