(1) A televisão leva imagens e sons de todo o mundo até milhões de lares e é um dos meios de comunicação mais importantes. (2) Existem televisão comercial, estatal e educativa, cada uma com características e objetivos diferentes. (3) A televisão é usada não só no lar, mas também em escolas, empresas, hospitais e para segurança através de circuitos fechados e abertos.
3. A Televisão
Índice
Televisão no Lar ........................................................................................5
Televisão Comercial....................................................................................6
Televisão Estatal........................................................................................7
Televisão Educativa....................................................................................7
Aplicações Especiais...................................................................................7
Produção de programas de televisão...........................................................8
Planejamento e preparação........................................................................9
Colocação do programa no ar...................................................................11
Como Funciona a Televisão.......................................................................14
Televisão em Outros Países.......................................................................19
História....................................................................................................19
A Torre do Silêncio...................................................................................20
Breves considerações Históricas...............................................................24
À Respeito da TV.......................................................................................26
Texto gentilmente cedido por Gisele K. Pereira (leleli@sti.com.br).............39
.................................................................................................................39
www.sti.com.br.........................................................................................39
4.
5. Televisão
Televisão, ou Tevê, é uma dos meios de comunicação mais importantes para o
homem. Ela leva imagens e sons de todo o mundo até milhões de lares. Com um
aparelho de televisão, e sem sair de casa, uma pessoa pode acompanhar o discurso do
presidente da República ou sua visita a um país estrangeiro. Pode ver os combates de
uma guerra distante e assistir às discussões dos estadistas que tentam obter a paz. Os
telespectadores dos estadistas podem ver e aprender a respeito de povos, lugares e coisas
de países longínquos. A TV leva os seus espectadores até mesmo para fora da Terra. Ela
lhes trás, por exemplo, a exploração do espaço pelos astronautas.
Além de todas essas coisas, a televisão leva a seus espectadores um fluxo
contínuo de programas planejados para entretê-los. Na verdade, a TV fornece muito mais
programas de entretenimento que de outra espécie. Eles incluem dramas cheios de ação;
comédias leves; novelas; acontecimentos esportivos; espetáculos de variedades;
perguntas e desenhos animados; e filmes.
Nos países em que a TV é de uso comum, cada televisor fica ligado, em média,
cerca de seis horas por dia. Desta forma, a televisão tem um influência importante sobre
o emprego que as pessoas fazem do seu tempo, e igualmente sobre o que elas vêem e
aprendem.
Por causa da sua popularidade, a televisão tornou-se uma forma importante
de atingir as pessoas com mensagens publicitárias. A maioria das estações de televisão
leva ao ar centenas de comerciais por dia. No Brasil, em 1978, 56,2% do investimento
total em publicidade foram destinados à televisão, e os 20 maiores anunciantes gastaram
com este veículo uma média de 70% de sua verba.
A palavra televisão vem da palavra grega tele que significa longe, e do verbo
latino videre, que significa ver. Assim, televisão quer dizer visão à distância. A maioria
das imagens e sons recebidos por um aparelho de televisão são enviados de uma estação
através de sinais eletrônicos denominados ondas eletromagnéticas. O televisor converte
novamente essas ondas em imagens e sons.
Televisão no Lar
O número de televisores em uso no Brasil aumenta continuamente. Em 1954,
havia 120.000; Em 1970, seis milhões (2,4 milhões no grande Rio e em São Paulo). Em
termos absolutos, o Brasil é o nono país do mundo em número de receptores de tevê. Na
América Latina é o primeiro, seguido do México e do Argentina. Com a audiência média
de três a 3,5 pessoas por aparelho, calcula-se que 20% da população sejam atingidos
pela televisão. Em 1970, 50 milhões de brasileiros assistiram, via satélite, á transmissão
da Copa do Mundo, no México.
O número de emissoras passou de três, em 1953, para mais de 75 em meados
da década de 1970. Existem três grandes cadeias nacionais de televisão no Brasil: Rede
Tupi, a mais antiga, com 20 emissoras espalhadas pelo país, liderada pela Tevê Tupi de
São Paulo; Rede Globo, a maior cadeia de comunicações da América do Sul, dominando
60% do mercado brasileiro. Inaugurada em 1965, no Rio de Janeiro, é composta por 31
emissoras, em todo território nacional, das quais cinco pertencem a Globo e as demais
são filiadas. Trabalha com enlace reversível Rio - São Paulo, que permite projetar
simultaneamente imagem colhidas nas duas cidades; e Rede Bandeirantes, formadas por
13 emissoras espalhadas pela Tevê Bandeirantes de São Paulo.
6. Televisão Comercial
Em todo o mundo, as estações comerciais de televisão transmite muito mais
programas de entretenimento que de outra espécie. De um modo geral, a programação
inclui seriados leves ou cheios de ação, cujos personagem podem ser mocinhos,
detetives, médicos ou advogados; telenovelas; espetáculos de variedades que exibem
comediantes, dançarinos e cantores; e filmes, inclusive alguns feitos especialmente para
a tevê. No horário diurno, são mostrados desenho animados.
Um outro tipo de programa de televisão comercial é uma apresentação de
informação dramática, mas não ficcional. Alguns documentários de televisão divertem ao
mesmo tempo que informam. Esses documentos podem tratar de povos, animais e coisas
de lugares distantes. A tevê também apresenta documentos sem diversão, como os
estudos sobre alcoolismo, uso de drogas, pobreza, preconceito racial, situação das
prisões ou outros assuntos.
As estações comerciais de televisão também transmitem programas de
entrevistas, nos quais um entrevistador ouve pessoas dos mais diferentes modos de vida.
As estações comerciais de televisão fazem ainda, a cobertura de quase todos os
tipos de eventos esportivos, desde beisebol e o futebol ao tênis de mesa ou pára-
quedismo. A cada quatro anos, a tevê leva aos seus espectadores os coloridos Jogos
Olímpico, muitas vezes realizados do outro lado do mundo.
Todas as estações comerciais levam ao ar, diariamente noticiários locais,
nacionais e internacionais. Muitas estações também interrompem sua programação
normal para apresentar extensas coberturas de acontecimentos extraordinários, como
lançamentos espaciais, pronunciamentos políticos importantes ou guerra e revoluções.
A publicidade constitui uma parte integrante da programação da televisão
comercial. Os comerciais de televisão aparecem no meio dos programas ou nos intervalos
entre eles. A grande maioria dos comerciais tenta convencer os telespectadores a
comprarem algum tipo de produto de sabonetes e cigarros a automóveis e apartamento.
Em certos países a propaganda de cigarros e medicamentos pela televisão é proibida.
Em outros, os candidatos a algum cargo eletivo podem comprar à emissora
um horário para pedir às pessoas que votem neles.
Uma pequena porcentagem da propaganda em tevê é de utilidade publica. Os
anúncios de utilidades pública incluem, por exemplo, apelos às pessoas para que dirijam
com cuidado.
No brasil, o conjunto dos programas de todas as emissoras totaliza mais de
cinco mil horas por semana: 3.736 horas de programas produzidos aqui e 1.351 horas de
importados. Do total de 5.088 horas, 2.377 são de filmes, 1.711 de vídeo - teipes e mil
horas de programação ao vivo. Em televisão, porém, a constante é a publicidade. Os
comerciais nas emissoras brasileiras chegaram a tal quantidade que, em 1973, o tempo
máximo de propaganda foi fixado em 10min por hora, Da década de 1960 para a de
1970. O gênero telenovela evoluiu do dramalhão para temas mais amplos, com filmagens
externas, recursos até então exclusivo do cinema. Os personagens tornaram-se mais
complexos, e a novela, mais crítica do que contemplativa diante da sociedade. Os
grandes jornais de tevê ou telejornais são atualmente transmitidos em cadeias nacionais
e apresentam simultaneamente, para vários Estados, fatos ocorridos no país e no
mundo.
A televisão comercial atrai imensas audiências. Muitas vezes, mais de 50
milhões de pessoas assistentes a um programa de entretenimento ou a um
acontecimento esportivo mais importantes. Os críticos, porém, dizem que a televisão
comercial apresenta um programas de entretenimento, e uma quantidade insuficiente de
programas destinados a informar, educar ou promover destinados a informar, educar ou
prover enriquecimento cultural. Esses críticos também afirma que boa parte desse
7. entretenimento é de qualidade ruim, já que o objetivo principal é atingir maior audiência
possível. Eles reclamam, ainda, dos noticiários de televisão, considerando os muitos
breves para transmitir o significado real das notícias.
Os responsáveis pela decisão do que aparece na televisão comercial discordam
dessas críticas. Argumentaram que a televisão comercial só podem manter-se como
empresa se vender muitos horários de publicidade, a preços altos, Para isto, os
programas têm que atrair grande número de pessoas. As estatísticas mostram que o
número de telespectadores de espetáculos populares e de noticiários curtos é muito
superior ao número dos que assistem aos programas mais sofisticados e aos noticiários
aprofundados.
Televisão Estatal
Muitos países, como o Brasil, possuem canais de televisão controlados pelo
governo, que existem paralelamente aos canais comerciais. A televisão estatal
caracteriza-se por ser propriedade de Estado, sem fins lucrativos. Como não tem
anúncios, a televisão estatal não é obrigada a atrair grandes audiências e pode focalizar
principalmente, em sua programação pode abranger uma ampla gama de assuntos,
desde literatura e física até culinária e ioga. Alguns programas constituem verdadeiras
aulas, semelhantes ás que são recebidas na escola. Outros focalizam principalmente o
entretenimento, mas sua realização é de nível superior ao das emissoras comerciais.
Certos programas combinam divertimento com enriquecimento cultural. Apresentação de
peças de dramaturgos importantes, balés, sinfonias ou exposições sobre arte e história
podem atrair milhões de espectadores. Embora a audiência da televisão comercial, o
número de pessoas que assiste a esse tipo de espetáculo é bastante superior ao da
platéia de um teatro ou de uma sala de concerto.
Muitas estações de televisão estatal não transmitem noticiários regulares, mas
acontecimentos recentes, com jornalista experientes e pessoas ligadas ao assunto em
questão.
Televisão Educativa
No Brasil, datam de década de 1950 os primeiros programas culturais
apresentados por emissoras comerciais. Em 1965, o Ministério de Educação e Cultura
reservou para fins educativos 100canais de televisão, número ampliado para 131, em
1971, o governo criou a F.C.B.T.V.E. (Fundação Centro Brasileiro de Televisão
Educativa), com sede no Rio d Janeiro, para produzir, adquirir, distribuir e coordenar,
em âmbito nacional, material audiovisual destinado a tevês educativas. Em 1968, o
governo do Estado de São Paulo criou Fundação Padre Anchieta, que recebeu em
concessão a TV Cultura.
Em 1970, tornou-se obrigatória a difusão gratuita, pelas emissoras
comerciais, de 5h por semana de programas educacionais, cuja execução ficou a cargo
da F.C.B.T.V.E. Através de um convênio, ela recebeu da Fundação Konrad Adenauer, da
Alemanha Ocidental, uma doação no valor de 2,5 milhões de dólares para instalar o
Centro Nacional de Produção do MEC, a maior matriz da tevê educativa da América
Latina. Em 1971, a F.C.B.T.V.E. já estava produzindo e distribuindo 45% dos programas
para os horários obrigatórios e, em 1972, o telecentro doado começou a funcionar.
Aplicações Especiais
Além da transmissão de programas para o lar, a televisão possui muitas
outras aplicações. As escolas, as empresas, os hospitais e muitas outras organizações
usam a TV para objetivos especiais.
8. A maioria das aplicações da tevê envolvem a televisão de circuito fechado. Os
sinais são enviados, através de cabos, apenas a certos aparelhos de televisão. Por outro
lado, a teledifusão que nos atinge em casa é uma forma de televisão de circuito aberto.
Isso significa que os sinais podem ser recebidos por todos os aparelhos instalados dentro
da área abrangida pela emissora.
(1) Escolas
Em alguns países, muitas escolas têm nas salas de aula aparelhos de tevê que
recebem, por meio de um circuito fechado de televisão, aulas especialmente preparadas.
Em outros, somente certos estabelecimentos de ensino superior dispõem desse recurso.
(2) Empresas e Hospitais
As empresas e os hospitais fazem grande uso da televisão, instruindo seus
empregados e realizando cursos para vendedores por intermédio de programas pré-
gravados. Algumas vezes, colocam-se câmeras de televisão em salas de operação em
hospitais, que enviam a estudantes de medicina, imagens de operações reais.
(3) Segurança e Vigilância
Muitos bancos apontam câmeras de tevê sobre os clientes de modo que os
guardas possam perceber tentativas de roubo. Nas prisões, as câmeras de televisão
possibilitam que um só guarda tome conta de muitos prisioneiro ao mesmo tempo. Em
volta da Terra, circulam satélites norte-americanos e soviéticos que estão equipados com
câmeras de tevê. As câmeras desses satélites podem detectar operações militares, como
formações e deslocamentos de tropas. Elas também transmitem imagens de nuvens e de
outros fenômenos meteorológicos, o que ajuda os meteorologistas a fazerem suas
previsões com maior número de dados.
(4) O videocassete
É um dos mais recentes aperfeiçoamentos e televisão de circuito fechado. Um
videocassete é um programa de tevê gravado em uma fita um pouco maior que as de
música. Essa fita é guardada em uma caixa do tamanha de um livro. O usuário introduz
a caixa em uma abertura do aparelho de videocassete, que transmite os programa para
os receptores ou receptor de televisão do usuário. Hoje em dia, a maioria das pessoas
possuem um aparelho de vídeo em casa. Além dos programas de tevê, há no mercado
filmes e outros programas variados para diversão e cultura dos usuários. O crescimento
desse mercado resultou num outro tipo de comércio: a locação de fitas para vídeo
cassete, que é um dos negócios mais comuns em todo o mundo.
Produção de programas de televisão
A produção (realização) de um programa de televisão é um processo
extremamente complicado. Um programa requer planejamento cuidadoso, muita
preparação e os esforços combinados de muitos trabalhadores com capacidade técnica e
artística.
A maior parte das produções para televisão se faz nos estúdios da estação.
Mas também se fazem programas em estúdios de cinema em ruas da cidade, em
estádios, em selvas e desertos, e até mesmo embaixo d’água. Diz-se que esses
programas são feitos em locação externa, isto é, fora do estúdio. As emissoras
transmitem alguns programas ao vivo (na hora em que eles acontecem). Mas a maioria
dos programas de televisão - incluindo quase todos os de entretenimento - são pré-
9. gravados, para transmissão posterior. A gravação pode ser feita em videoteipe ou em
filme.
Muitos programas são gravados ininterruptamente, do começo ao fim, como
uma peça de teatro. Mas também se usa o método da indústria cinematográfica. Nesse
método, cada cena é gravada separadamente, e depois as várias cenas já gravadas são
montadas, isto é, unidas em uma seqüência.
As duas primeiras partes desta seção - Planejamento e preparação e Colocação
do Programa no Ar - acompanham o desenvolvimento de um programa de entretenimento
produzido em um estúdio de televisão e gravado em videoteipe. Contudo, boa parte das
informações que se seguem pode aplicar-se a todas as produções de tevê. A última parte
desta seção descreve as diferenças existentes em outros métodos de produção.
Planejamento e preparação
O planejamento de programas de televisão começa no departamento de
programação das redes e emissoras.
Os membros desses departamentos decidem que programas suas
companhias transmitirão. A maioria é produzido pelas próprias redes e estações. Mas,
em alguns países, existem produtores independentes que criam outros programas e os
vendem às redes e estações. Em ambos os casos, uma vez que o departamento de
programação tenha aprovado uma idéia para um programa, um produtor assume
completa responsabilidade pela sua produção.
Produtor
Geralmente começa seu trabalho encomendando um script (roteiro) e
escolhendo um diretor. Algumas vezes - especialmente em programas simples - o próprio
produtor escreve o roteiro. Ele também pode fazer o papel de diretor - nesse caso é
chamado produtor-diretor. Contudo, mais freqüentemente, o produtor transfere atarefa de
escrever o roteiro para um roteirista ou uma equipe de roteiristas, e a tarefa de direção
para um diretor profissional. O produtor e o diretor selecionam o elenco (atores, atrizes e
outras pessoas que aparecerão no programa). O produtor também escolhe os
especialistas em produção necessários para o programa. Estas pessoas podem incluir
um diretor artístico, um figurinista e um compositor. Além disso, o produtor trabalha
junto com o diretor durante todo o processo de produção.
Roteiristas
Preparam os roteiros para programas de televisão. Um roteiro de televisão é
um relato escrito do que deve ser dito e feito durante o programa. A quantidade de
detalhes contidos em um roteiro varia, dependendo do programa. O roteiro de uma
entrevista, por exemplo, pode incluir apenas a abertura a ser feita pelo entrevistador,
algumas das perguntas principais apresentadas ao entrevistado e normas para
quaisquer acontecimentos extraordinários que possam ocorrer durante o programa.
Durante a maior parte do tempo, os participantes falam entre si de improviso (sem
planejamento). Já o roteiro de um capítulo de novela, por exemplo, inclui cada palavra
que deve ser pronunciada pelos atores e atrizes. Ele também descreve as ações que eles
devem realizar.
Diretor
Quando o roteiro fica pronto, o diretor lê e tenta visualizar sua transformação
em um programa real. Ele pensa como os personagens devem falar, mover-se e
comportar-se de um modo geral. Decide que lances de câmera são necessários para criar
os efeitos que ele visualiza. Algumas vezes, o diretor conta com um artista que prepara
um esboço (série de desenhos) que mostra como serão as cenas principais do programa.
Especialistas de Produção
10. O produtor e o diretor convocam muitos especialistas de produção. Um diretor
de arte, auxiliado por artistas e operários, planeja e constrói o cenário do espetáculo. Um
figurinista cria ou adquire as roupas necessárias à produção. Um aderecista obtém itens
especiais denominados adereços para o programa.. Esses itens incluem, por exemplo,
mobília, vasos de flores ou armas de fogo. Os especialistas em trabalho técnico também
desempenham um papel fundamental no processo de produção. Eles aconselham o
produtor e o diretor sobre os tipos de câmeras, microfones e luzes necessários. Um
coordenador de produção toma as providências necessárias para que todo o material
requerido esteja disponível, quando necessário.
Elenco
É constituído de todas as pessoas que aparecem nos programas de televisão:
atores, atrizes, locutores de noticiários, locutores esportivos, entrevistadores,
apresentadores e assim por diante.
A seleção do elenco é uma das etapas fundamentais no planejamento de um
programa de televisão. O produtor e o diretor levam a cabo essa importante tarefa. Se a
pessoa for um grande astro ou estrela, pode conseguir papéis na televisão por causa de
sua fama e da sua capacidade já provada. Contudo, geralmente um artista deve fazer um
teste de audição para o que ele deseja representar. Durante um teste de audição, o
diretor e o produtor podem solicitar à pessoa um teste de desempenho (à frente das
câmeras).
O artista que recebe um papel fica com uma cópia do roteiro para que possa
estudar seu texto. Um ator ou atriz pode ter menos de uma semana para decorar as suas
intervenções em um programa com uma hora de duração. Aqueles que participam de
programas diários na tevê têm apenas umas poucas horas por dia para decorar suas
intervenções.
Algumas produções de televisão fazem uso de deixas para ajudar o artista a
representar o seu papel. Uma deixa geralmente é um pedaço grande de papelão ou
material similar com um texto escrito sobre ele. Esse texto pode ser uma palavra ou
frase, ou então uma passagem completa do script. Um auxiliar de palco segura o cartão
para que o artista possa vê-lo.
Compositores e Músicos
A maioria dos programas de televisão inclui música. O produtor e o diretor
decidem se é necessária uma composição musical original para o seu programa. Em caso
afirmativo, o produtor contrata um compositor. O compositor discute com o produtor e o
diretor o tema, o clima e os trechos de clímax (pontos mais dramáticos do programa. O
compositor baseia sua composição sobre o que ele sabe do programa. Muitas vezes, os
produtores e diretores decidem usar música já existente. Para isso, eles devem obter
permissão de quem tem os direitos autorais sobre a música e pagar-lhe uma importância
em dinheiro.
O produtor contrata músicos e um maestro para tocar a música. Em
programas pré-gravados, muitas vezes os músicos fazem sua gravação depois que o
programa real foi produzido. Sé então os técnicos combinam a música com o resto do
programa.
Ensaios
São sessões práticas dos programas de televisão. A maioria dos programas de
tevê requer, no mínimo, um ensaio. As produções complicadas muitas vezes precisam
bem mais.
Durante um ensaio, os participantes - sob a orientação do diretor - dizem seus
textos e praticam as ações que lhes cabem, O diretor também orienta a ação dos
operadores de câmera e de outros trabalhadores que não aparecem no vídeo.
11. O ensaio de uma produção dramática pode iniciar-se com a leitura do script.
Depois o diretor pode convocar um ensaio sem equipamentos e sem vestuário. Muitos
ensaios se fazem numa sala apropriada, a qual tem, no chão, marcações que indicam
onde ficarão coisas como portas, cadeiras ou mesas durante a produção real. Um diretor
pode acompanhar um ensaio através de um visor de diretor. Este dispositivo parece-se
com o visor de uma câmera fixa. Isto possibilitam que o diretor obtenha uma idéia de
como as cenas aparecerão na televisão.
Por fim, o diretor convoca um ensaio com vestuário, ou ensaio com câmera, já
no estúdio. O objetivo desse tipo de ensaio é alcançar um desempenho que seja igual à
produção final. Algumas vezes, o diretor grava tanto o ensaio como a produção real. Na
revisão das duas gravações, ele pode decidir que partes do ensaio resultam melhores que
a produção real. Pode então substituir pelas partes do ensaio de que gostou, mais as
partes correspondentes da produção.
Os ensaios de televisão dão ênfase especial à cronometragem. Uma peça de
teatro pode ultrapassar em cinco minutos ou mais o tempo previsto. Mas um programa
de televisão deve obedecer a um tempo exato. O programa não pode ultrapassar nem
mesmo uns poucos segundos d duração prevista, porque esse tempo já está reservado
para o programa seguinte.
Colocação do programa no ar
Na hora de gravar um programa, tudo o que será necessário ao processo, é
reunido em um estúdio de televisão. Os operários colocam o cenário e os adereços no
lugar correto do estúdio. Eletricistas instalam no ponto certo os holofotes e refletores.
Durante a produção, os técnicos ligam ou desligam essas lâmpadas e aumentam ou
diminuem sua luminosidade, a fim de obter o efeito desejado nas diversas cenas. Muitas
vezes, uma única cena televisada requer cerca de 20 tipos diferentes de instrumentos de
iluminação. Um ou mais microfones são postos no lugar. Os trabalhadores trazem as
câmeras de televisão - geralmente duas, no mínimo, e algumas vezes quatro ou cinco -
para o estúdio. Os responsáveis pela parte técnica da produção colocam-se a postos na
sala de controle. Esta sala situa-se ao lado do local onde o programa se desenrola.
Alguns estúdios possuem filas de cadeiras, da mesma forma que um teatro.
Os espectadores podem vir a esses auditórios e acompanhar ao vivo o programa que está
sendo produzido.
Antes do início do programa, os maquiladores aplicam maquilagem aos
integrantes do elenco. A maquilagem ajuda as pessoas a parecerem naturais ante a
câmera. Os participantes colocam trajes especiais, caso o programa necessite desses
trajes. Por último, eles vêm para o estúdio e realizam a produção diante das câmeras.
Câmeras
As câmeras utilizadas para gravar a produção são instrumentos grandes e
pesados. Elas são montadas sobre dispositivos com rodas, de modo que os operadores
possam deslocá-los através do estúdio para mudar a direção das tomadas de imagens.
Muitas câmeras podem ser abaixadas e elevadas mecanicamente para evitar os ângulos
verticais. Além disso, todas as câmeras de teledifusão possuem uma lente que permite ao
operador variar as cenas televisadas sem mover a câmera. Esse dispositivo é chamado
lente zum (zoom). Apertando um botão ou girando uma manivela, o operador ajusta a
lente. Esses ajustes permitem variar gradualmente uma cena, passando do close (tomada
de perto do rosto) de um artista a uma visão ampla da cena inteira. O efeito zum
(afastamento e aproximação graduais) é amplamente utilizado na televisão.
Uma câmera de teledifusão também possui um visor (pequeno aparelho de
televisão) sobre ele. O visor mostra ao operador a cena exata que sua câmera está
gravando.
12. Microfones
A maioria das produções de tevê em estúdio envolve o uso de um tipo de
microfone especial chamado bum ou girafa, o qual é preso a um braço comprido de
metal. Por meio de dispositivos mecânicos, um operador movimento para cima e diante
da pessoa que está falando. Certas produções exigem o emprego de mais de um
microfone. Em programas de cunho dramático, é essencial que o microfone mantenha-se
afastado do ângulo de visão da câmera. Imagine uma cena der novela na qual um ator
está exausto em um deserto muito quente, bradando por socorro. Se, de repente,
surgisse na tela o microfone que está suspenso acima dele, a cena pareceria ridícula.
Algumas vezes, usam-se em televisão microfones ocultos, que são escondidos dentro ou
atrás do cenário e dos adereços.
Os programas de entrevista e outras produções não dramáticas podem ser
feitos com girafas. Mas eles também incluem microfones visíveis pelos telespectadores.
Estes podem ser microfones de mesa, que ficam em mesas na frente dos participantes e
microfones de mão, seguros por quem os use. Um outro tipo de microfone, o microfone de
lapela, é pendurado em torno do pescoço de uma pessoa ou preso à sua roupa. ele pode
aparecer na tela, ou então ficar escondido.
Sala de controle
Durante um programa de televisão, cenas de todas as câmeras do estúdio
aparecerão na tela do telespectador. As imagens de outras fontes de vídeo, inclusive os
comerciais filmados e os slides que mostram títulos também serão vistas. A tarefa de
determinar quais cenas aparecerão em cada momento é realizada na sala de controle.
Um programa também pode incluir sons de diversas fontes. Os técnicos de controle de
áudio da sala de controle regulamos sons do programa. Além disso, engenheiros operam
equipamentos que mantêm a qualidade das imagens e dos sons.
A sala de controle possui diversos monitores (aparelhos de televisão). Cada
monitor mostra as cenas de uma câmera diferente ou de outra fonte de vídeo. O diretor
acompanha os monitores, escolhendo que cenas irão ao ar. A imagem que está no ar em
qualquer instante aparece em um monitor chamado monitor principal.
Uma importante peça de equipamento na sala de controle é o comutador. Este
instrumento tem muitos botões, inclusive os que controlam cada câmera de estúdios e
todas as outras fontes de imagem. Sob o comando do diretor,, um diretor técnico aperta
botões para mudar a cena televisada. Se o diretor quer exibir a cena que está sendo
tomada pela câmera número 1, pede ao diretor técnico que pressione o botão
correspondente. Para mudar para a câmera número 2, o diretor técnico aperta o botão
número 2, e assim por diante. Este processo de comutação continua durante todo o
programa. Mas é feito de maneira tão suave que os telespectadores dificilmente se dão
conta dele.
O comutador também tem alavancas. Movendo-as de formas diversas, o
diretor técnico pode combinar cenas de duas ou mais câmeras, ou de outras fontes de
vídeo. Essas combinações são chamadas efeitos especiais. Eles incluem mudança
gradual, a superposição, a legendação e vários outros tipos de efeitos especiais.
A mudança gradual transforma uma imagem em outra fazendo com que as
duas se sobreponham brevemente. Uma mudança gradual pode ocorrer lenta ou
rapidamente, dependendo da rapidez com que o diretor técnico move as alavancas. Os
diretores usam a mudança gradual para passar suavemente de uma cena para outra e,
por vezes, indicar a passagem de tempo.
A superposição é a mistura de duas cenas. Muitas vezes, a televisão usas esse
artifício para mostrar cenas de sonhos. Uma câmara faz a tomada de perto do rosto de
uma pessoa dormindo, e a outra mostra a cena que a pessoa está sonhando.
13. A legendação é uma técnica utilizada para mostrar títulos e outros objetos
sobre uma cena. As letras dos títulos provêm de um cartão, de um slide ou de uma
máquina eletrônica que faz letras. A imagem sobre a qual as letras aparecem vem de
uma câmera de estúdio, de um filme ou de uma gravação.
O computador também possibilita que as emissoras de televisão passem
instantaneamente do programa para comerciais filmados, e que voltem novamente ao
programa.
As entradas de som de um programa de televisão são controladas por um
aparelho denominado mesa de áudio. Um engenheiro de som opera esse equipamento.
Ele empurra botões e move alavancas para escolher e misturar diversas entradas de
som. Por exemplo, uma cena de duas pessoas em um automóvel pode necessitar que o
engenheiro de som misture sons gravados do motor do automóvel, trânsito externo e
música alegre. O engenheiro de som também controla o volume dos sons.
Gravação de Programas
O programa produzido no estúdio e na sala de controle é imediatamente
gravado em uma máquina de videoteipe. Esta máquina fica em uma parte especial do
estúdio chamada controle principal. O diretor revisa a gravação depois de terminada e os
editores de gravação corrigem todos os erros importantes que encontrarem. Depois, a
gravação é guardada até a hora marcada para a transmissão do programa.
Controle Principal
É o centro nervoso eletrônico de uma estação de televisão. Boa parte do
equipamento eletrônico que ajuda a criaras imagens de televisão está localizado ali. Um
programa é transmitido por cabos ou microondas, do controle principal até o
transmissor. Em seguida, o transmissor irradia o programa até os telespectadores. O
controle principal também possui equipamento para comutação de um programa para
outro. Estes programas incluem aqueles que se originam na estação, em centrais de
redes de televisão e em lugares distantes.
Outros métodos de Produção
Uma produção de televisão pode diferir do método descrito acima, assumindo
quatro formas principais:
(5) Os produtores de televisão fazem alguns programas por montagem,
em lugar de fazê-los de uma só vez.
(6) Eles criam muitos programas com câmeras de filmagem, em vez de
câmeras de tevê.
(7) Transmitem muitos programas ao vivo, em vez de gravá-los primeiro.
(8) Criam programas em locais fora de estúdios, isto é, em transmissões
remotas.
O Método de Montagem
Envolve a gravação de um programa em videoteipe ou filme, cena por cena,
com intervalos entre elas. Cada cena gravada é uma tomada. Após cada tomada, o diretor
pode voltar atrás a fita ou filme e examinar sua qualidade. Caso goste da tomada, passa
para outra. Caso ela não lhe agrade, pode pedir que a cena seja refeita. O método de
montagem também permite que os diretores fotografem as cenas fora de ordem. Se, por
exemplo, a primeira e última cenas de uma peça de tevê acontecem no mesmo lugar, o
diretor pode fotografá-las uma imediatamente após a outra. No fim, os editores do filme
ou da fita emendam todas as cenas na ordem adequada, a fim de criar uma história
contínua.
Filmagem de Programas de Televisão
14. As Câmeras de filmagem podem ser movidas e operadas com mais facilidade
que as câmeras de televisão. Por isto, muitos produtores de televisão usam câmeras de
filmagem para fazer programas que se desenvolvem em diversos locais. Por exemplo, os
noticiários de televisão, que fazem reportagens sobre acontecimentos em vários locais,
usam câmeras de filmagem. Além disto, os estúdios cinematográficos criam muitos
programas de entretenimento com câmeras de filmagem.
Depois que os operadores filmam um programa, as emissoras os transmitem
de uma unidade de telecine.
Transmissões ao vivo
As transmissões ao vivo incluem, por exemplo, a cobertura de discursos de
pessoas importantes ou de acontecimentos esportivos. A parte dos noticiários em que
falam os locutores também é transmitida ao vivo. Mas a maioria das cenas das notícias
mostradas nesses programas vem de filmes ou gravações em fita.
As emissoras geralmente fazem videoteipe dos programas ao vivo, no mesmo
instante em que elas os estão transmitindo. Isto permite repetir uma programa mais
tarde, no todo ou em parte. Por exemplo, as partes mais importantes da transmissão ao
vivo de um discurso do presidente da República são muitas vezes reprisadas
posteriormente nos noticiários. Os videoteipes de acontecimentos esportivos transmitidos
ao vivo permitem aos comentaristas de esportes repassarem e analisarem as jogadas
mais importantes, imediatamente depois de terem acontecido. Este processo é chamado
replay instantâneo.
Transmissões Remotas
Quase todas as transmissões remotas são emitidas ao vivo. Os produtores
destes programas usam câmeras de televisão de tamanho comum. Mas eles também
usam câmeras suficientemente pequenas para serem deslocadas com facilidade. Estas
câmeras portáteis ajudam as equipes de televisão a cobrirem grande área de um campo
de esportes, por exemplo. As emissoras estacionam um caminhão perto do lugar em que
as imagens estão sendo tomadas. Esse caminhão contém os equipamentos da sala de
controle e do controle principal necessários à criação dos sinais de tevê. Os sinais viajam
por microondas ou por cabos, do caminhão ao transmissor.
Como Funciona a Televisão
Uma pessoa que observa uma cena a vê toda de uma só vez. Mas a televisão
não pode enviar uma cena completa de uma só vez. Ela só pode enviar uma minúscula
parte da imagem, seguida por uma outra parte minúscula, até completar o conjunto.
Uma câmera de televisão divide a imagem em várias centenas de milhares de partes
minúsculas, através de um processo denominado varredura. Quando varre a imagem, a
câmera gera sinais eletrônicos para cada parte dela.
O aparelho de televisão usa esses sinais para recompor a imagem na sua tela.
O processo de varredura reconstitui a figura, parte por parte. Uma pessoa que olha para
a tela de um aparelho de tevê não percebe que isto está acontecendo. O processo de
varredura funciona tão rapidamente que o espectador só vê a imagem completa.
A emissão de imagens e sons de televisão envolve três etapas básicas:
(9) A luz e as ondas sonoras da cena que está sendo televisada devem
ser transformadas em sinais eletrônicos.
(10) Estes sinais devem ser transmitidos para o receptor de televisão.
(11) O receptor deve ordenar os sinais e transformá-los em volta em
cópias da luz e das ondas sonoras provenientes da cena original.
Geração dos Sinais de Televisão
15. Um sinal de televisão começa quando a luz da cena que está sendo televisada
entra em uma câmera de televisão. A câmera transforma a luz em sinais eletrônicos. Ao
mesmo tempo, um microfone capta os sons vindos da cena e transforma-os em sinais
eletrônicos. Os engenheiros de televisão dominam os sinais da câmera de vídeo e os
sinais do microfone de áudio.
Esta seção descreve como uma câmera de tevê gera os sinais de vídeo. Ela
também explica como os sinais de vídeo são produzidos por telecine (filme de televisão) e
videoteipe.. Os sinais de áudio de tevê são gerados da mesma forma que os sinais de
rádio.
Os sinais de vídeo transmitidos pela maioria das estações de televisão são
sinais a cores compatíveis. Estes sinais produzem uma imagem colorida, quando
recebidos por um aparelho a cores. Os mesmos sinais também produzem uma imagem
em preto e branco. A televisão a cores usa as três cores primárias da luz para produzir
imagens de todas as cores. Uma mistura adequada dessas três cores pode produzir
qualquer outra cor de luz. Por exemplo, uma mistura de luz verde e vermelha produz luz
amarela. Quantidades equivalentes de luzes vermelha, azul e verde produzem a luz
branca.
Câmera de Televisão
Para produzir um sinal a cores compatível, uma câmera de tevê deve:
(12) Captar a imagem da cena que está sendo irradiada;
(13) Gerar sinais de vídeo a partir da imagem;
(14) Codificar os sinais a cores para a transmissão.
Para realizar essas tarefas, uma câmera de televisão usa uma lente, um
sistema de espelhos, tubos e complexos circuitos eletrônicos. Nem todos circuitos
eletrônicos usados pela câmera estão no seu interior. Eles tornariam a câmera muito
mais volumosa e pesada. Em vez disso, a maior parte desses circuitos estão localizados
em algum lugar da estação de tevê e ligam-se às câmeras através de cabos.
(15) Captação de Imagem
A lente capta a imagem da cena em frente à câmera. Assim como as lentes de
outras câmeras e como o olho humano, a lente da câmera de tevê focaliza (reúne e dirige)
os raios de luz da cena para formar uma imagem nítida. Esta imagem contém todas as
cores da cena. Contudo, para produzir os sinais a cores, a câmera deve dividir a imagem
com todas as cores em três imagens separadas - uma para cada cor primária.
A câmera usa dois espelhos dicróicos para separar a imagem nas cores
primárias. O primeiro espelho reflete a luz azul e permite a passagem das luzes vermelha
e verde. O segundo espelho reflete a imagem vermelha, deixando apenas a luz verde.
Outros espelhos dentro da câmera refletem cada uma das imagens até um tubo
separado.
(16) Geração de sinais de vídeo
um tubo de câmera transforma a imagem luminosa em sinais de vídeo. Uma
câmera preto e branco possui apenas um tubo. As câmeras a cores possuem no mínimo
três desses tubos - um para cada cor primária. Esses tubos geram um sinal de vídeo
separado para cada uma das cores primárias. Algumas câmeras a cores tem um quarto
tubo que produz uma imagem preto e branco. Os tubos, na maioria das câmeras a cores,
são tubos plumbicon, uma versão melhorada de um tubo chamado vidicon. Para maior
simplicidade, esta seção descreve o funcionamento de um tubo vidicon.
Um tubo vidicon possui uma placa plana de vidro na parte da frente. Atrás do
vidro está um revestimento transparente denominado placa de sinal. Uma segunda
placa, chamada alvo, fica atrás da placa de sinal. O alvo consiste em uma camada de
16. material fotocondutor que conduz eletricidade quando é exposto à luz. No fundo do tubo
está um dispositivo denominado canhão de elétrons.
A luz da imagem atinge o alvo depois de passar pelo vidro e pela placa de
sinal. A luz faz com que partículas de carga negativa, chamadas elétrons, do material
fotocondutor movam-se em direção à placa de sinal. Este movimento deixa a parte
traseira do alvo com uma carga elétrica positiva. A intensidade de carga elétrica positiva
em qualquer área do alvo corresponde à intensidade da luz que iluminou aquela área.
Quanto mais forte à luz, maior a carga positiva. O tubo da câmera transforma, assim, a
imagem luminosa coletada pela lente em uma imagem elétrica idêntica, de cargas
positivas, no fundo do alvo.
O canhão de elétrons atira um feixe de elétrons através da parte traseira do
alvo. O feixe move-se através do alvo segundo um modelo ordenado denominado padrão
de varredura. Quando o feixe se move através do alvo, ele atinge áreas com diferentes
quantidades de carga positiva. As áreas do alvo que têm uma carga mais forte atraem
mais elétrons do feixe. Isto ocorre assim porque as partículas de carga elétrica desigual
atraem-se mutuamente. As outras áreas do alvo e fazem com que uma corrente elétrica
flua na placa de sinal. A voltagem dessa corrente varia a toda instante, conforme o feixe
esteja sobre uma parte clara ou escura da imagem. Essa voltagem variável é o sinal de
vídeo.
O canhão de elétrons varre o alvo de modo semelhante ao de uma pessoa que
lê - da esquerda para a direita, de cima para baixo. Contudo, ao contrário do que faz
uma pessoa quando lê o feixe eletrônico salta uma linha sim, outra não, sobre o alvo.
Após varrer a linha superior, o feixe volta rapidamente para a esquerda. Depois varre a
terceira linha, a quinta linha, e assim por diante. Quando o feixe chega à parte inferior
do alvo, volta rapidamente para cima e então varre a segunda linha, a quarta linha, e
assim por diante.
Cada um dos três tubos vidicon converte sua cor primária particular em um
sinal de vídeo através do processo de varredura. Os sinais são levados por meio de fios a
circuitos eletrônicos da câmera, os quais os amplificam (aumentam). Os três sinais
passam, então, ao codificador.
(17) Codificação dos sinais a cores
No codificador, os três sinais de vídeo são combinados com outros sinais para
produzir um sinal a cores compatível. A primeira etapa desse processo envolve a
combinação dos três sinais de vídeo em dois sinais a cores codificados são denominados
sinais de luminância. Um circuito do codificador, denominado matriz, realiza essa função.
Um outro circuito do codificador, chamado somador combina os sinais de
crominância e de luminância e, neste processo, adiciona um pulso de cor e um sinal de
sincronismo. O pulso de cor possibilita que um aparelho de tevê a cores separe a
informação de cor dos sinais de crominância. Essa informação, junto ao sinal de
luminância, produz uma imagem com todas as cores sobre a tela de tevê. O sinal de
sincronismo encadeia o aparelho receptor com o padrão de varredura usado pela câmera.
Telecine
O telecine é um filme mostrado em televisão. Uma estação de tevê usa uma
combinação de um projetor de cinema e uma pequena câmera de televisão para gerar um
sinal de vídeo a partir de um filme. O projetor é apontado diretamente sobre a câmera de
televisão, a qual converte as imagens luminosas em um sinal de vídeo pelo método há
pouco descrito. Uma unidade de telecine típica tem dois projetores de cinema e um ou
dois projetores de slides colocados em torno de uma câmera.
Gravação em videoteipe
17. A Gravação em videoteipe guarda imagens e sons de televisão na forma de
impulsos magnéticos sobre uma fita. A contrário dos filmes, que precisam ser revelados,
um videoteipe pode ser levado imediatamente ao ar.
Os gravadores de videoteipe usados por estações de tevê gravam
transversalmente os sinais de vídeo no centro de uma fita magnética com 5 cm de
largura. O som e os sinais de controle são gravados ao longo da borda da fita.
(18) Transmissão dos Sinais de Televisão
A maioria dos sinais de televisão são transmitidos pelo ar. Os engenheiros em
uma estação de televisão usam um aparelho chamado transmissor para produzir um
sinal de tevê a partir dos sinais de vídeo e de áudio separados. O sinal então é levado por
cabos até uma antena para ser irradiado. O sinal é denominado onda eletromagnética.
Estas ondas podem viajar pelo ar à velocidade da luz, cerca de 299.792 km/s.
Entretanto, o sinal só ode ser recebido com clareza dentro de um raio de cerca de 250
km. Para enviar os sinais de tevê a uma distância maior, devem ser usados outros meios
de transmissão. Eles incluem os cabos coaxiais, a s microondas e os satélites.
Transmissão
Antes de um sinal de televisão ser irradiado, o transmissor aumenta a sua
freqüência (velocidade de vibração). Um sinal de tevê necessita de uma alta freqüência
para transportar a informação de imagem através do ar. O transmissor amplifica o sinal,
dando-lhe potência suficiente para atingir uma grande área.
O transmissor aumenta a freqüência dos sinais de vídeo e de áudio através de
um processo denominado modulação. As ondas eletromagnéticas de alta freqüência ,
denominadas ondas portadoras, são primeiro geradas no transmissor. O transmissor usa
o sinal de vídeo para variar a amplitude1
das ondas portadoras, a fim de produzir a parte
de vídeo do sinal de tevê. Esse processo é conhecido como amplitude modulada (A.M.). O
sinal de vídeo é então amplificado para uma potência de mil a 100 mil watts.
O transmissor usa os sinais de áudio para modular uma outra onda
portadora, que se torna a parte de áudio do sinal de televisão. Esse processo, conhecido
como freqüência modulada (F. M.), faz variar levemente a freqüência da onda portadoras
moduladas de vídeo e de áudio para formar o sinal de televisão.
Um fio denominado linha de transmissão era o sinal de televisão até a antena
transmissora, que emite o sinal para o ar. As estações de televisão erguem suas antenas
em altos edifícios, torres ou montes, para que o sinal possa ir o mais longe possível. O
alcance máximo da maioria dos sinais de televisão vai de 100 a 250 km, conforme o
projeto da antena, a potência de transmissão e as condições topográficas da região.
As estações de televisão da mesma área transmitem em freqüência diferentes,
para que os seus sinais não interfiram uns nos outros. O grupo de freqüência sobre as
quais uma estação irradia é conhecido como canal.
Cabo Coaxial
O cabo coaxial é usado para levar sinais de televisão a grandes distâncias ou
para áreas que têm dificuldade de recepção de sinais. As cadeias de televisão muitas
vezes enviam programas às suas estações filiadas então irradiam os programas a seus
telespectadores.
Microondas
São ondas eletromagnéticas, similares aos sinais de televisão. Torres
restransmissoras elevadas, espaçadas por cerca de 50 km de distância, levam os
programas das redes para as estações filiadas, usando essas ondas. O equipamento de
uma torre recebe, amplifica e retransmite automaticamente o sinal de microonda até a
1 Amplitude: intensidade.
18. torre seguinte. As estações filiadas devem transformar de volta os sinais de microondas
em sinais de tevê, antes que eles possam ser recebidos por um aparelho ordinário de
televisão.
Satélites
Os satélites transmitem os sinais de televisão entre estações onde não podem
ser colocados cabos ou torres de microondas. Por exemplo, os satélites retransmitem
sinais através dos oceanos e conectam estações de continentes diferentes. Os satélites
funcionam como torres de retransmissão instaladas no espaço. Eles recebem sinais de
televisão codificadas de uma estação terrestre especial, amplificando-os e emitindo-os
para uma outra estação terrestre. As duas estações podem estar afastadas por milhares
de quilômetros.
No Brasil, a transmissão por satélite é feita através da Embratel2
, que
construiu em Itaboraí (RJ) a estação de Tanguá. Esta começou a operar comercialmente
em 1969 e, em 1971, estava ligada a nove estações da Europa e da América. Programas
de tevê produzidos em qualquer cidade brasileira podem ser transmitidos para o resto do
mundo, via Intelsat. Para isso, em 1971, a Embratel instalou 26 centros de tevê, onde se
realizam o controle e a distribuição dos sinais de vídeo.
(19) Recepção dos Sinais de Televisão
O sinal de um transmissor é introduzido em um receptor de televisão por meio
de uma antena de recepção. O aparelho usa o sinal para fazer cópias das imagens e dos
sons provenientes da cena televisada. Ma reprodução de um programa, um aparelho de
televisão usa um setor de canais, amplificadores e separadores, e um tubo de imagem.
Antena de Recepção
Uma boa antena capta um sinal suficientemente forte para que o rceprtor
produza uma imagem. O tipo de antena necessária depende da distância entre ela e a
antena transmissora. Um dipolo, (antena em forma de V) coleta sinal suficiente dentro de
uns poucos quilômetros de distância do transmissor. À distâncias maiores, pode ser
necessário uma antena mais elaborada, montada sobre o telhado. A melhor recepção
ocorre quando a antena está apontada em direção à estação desejada.
Seletor de Canais
Os sinais da antena são introduzidos no seletor de canais do aparelho. Ele
seleciona apenas o sinal da estação que a pessoa deseja receber, eliminando os outros.
Amplificadores e Separadores
Vindo do seletor, o sinal de televisão passa para um grupo de complicados
circuitos eletrônicos do aparelho. Estes circuitos amplificam o sinal e separam as partes
do áudio e de vídeo. Os sinais de áudio são transformados em ondas sonoras por meio
de um alto-falante. Os sinais de vídeo vão até o tubo de imagem, ou cinescópio, onde são
usados para recompor a imagem.
Legislação no Brasil
A televisão brasileira é objeto de uma série de leis, cuja não observação
acarreta multa, suspensão até 30 dias, cassação de concessão e detenção dos
responsáveis. São proibidas transmissões de filmes não-dublados, com exceção de
reportagens jornalísticas, desenhos animados e musicais. Para cada oito filmes
estrangeiros, deve ser transmitido um nacional de longa-metragem. Todos os programas
sofrem censura prévia, e qualquer modificação no programa, depois de censurado, é
responsabilidade do artista.
O Contel (Conselho Nacional de Telecomunicações) fiscaliza o cumprimento do
Código Nacional de Telecomunicações. Ele autoriza concessões ou permissões, que
2 Embratel: Empresa Brasileira de Telecomunicações
19. podem ser revistas a qualquer momento; revê ou substitui freqüências; e autoriza
contratos com empresas estrangeiras. Compete exclusivamente ao governo federal dispor
sobre qualquer assunto de radiodifusão. No interesse nacional, as emissoras podem ser
convocadas para a formação de redes.
Televisão em Outros Países
A televisão desenvolveu-se com maior lentidão nas outras partes do mundo,
em comparação com os EUA Durante a década de 1950, existiam mais aparelhos de
televisão nesse país do que em todos os outros juntos. Mas, por volta de 1960, houve
uma grande expansão da televisão em muitas nações.
Hoje em dia, os programas de televisão atingem quase todas as partes do
mundo onde existe eletricidade. A programação de televisão varia de país a país.
Contudo, em todas as nações, os programas consistem em diversão, enriquecimento
cultural, educação, notícias e acontecimentos especiais.
Os governos de todos os países controlam as emissoras de alguma forma.
Contudo, de uma maneira geral, os governos democráticos concedem às emissoras muita
liberdade. Os governos antidemocráticos controlam rigidamente a teledifusão, usando-a
como um instrumento para promover as crenças e a política governamentais.
História
Desenvolvimento Inicial
Muitos cientistas contribuíram para o desenvolvimento da televisão, de
maneira que não se pode dizer que alguém foi o seu inventor. A televisão tornou-se
possível no século XIX, quando o homem aprendeu a enviar sinais de comunicações
através do ar, na forma de ondas eletromagnéticas. Este processo é chamado
radiocomunicação, ou radiodifusão.
Os primeiros operadores de rádio enviavam sinais em código através do ar. No
início do século XX, os operadores já podiam transmitir palavras. Entretanto, muitos
cientistas tinham realizado experiências que envolviam a transmissão de imagens. Em
1884, o alemão Paul Gottlieb Nipkow já havia inventado um dispositivo de varredura que
enviava imagens a curtas distâncias. Seu sistema funciona eletronicamente. Em 1922, o
norte americano Philo T. Farnsworth aperfeiçoou um sistema de varredura.
Vladimir K. Zworykin foi talvez quem trouxe as contribuições mais
importantes à televisão, tal como a conhecemos hoje em dia. Em 1923, esse cientista
norte-americano, russo de origem, inventou o iconoscópio e o cinescópio. O iconoscópio
foi o primeiro tubo de câmera de televisão adequado à teledifusão. O cinescópio é o tubo
de imagem usado em receptores de televisão. Zworykin mostrou o primeiro sistema
prático de televisão completamente eletrônico em 1929.
Começo da Teledifusão
No fim da década de 1920 e na década de 1930, fizeram-se muitas teledifusões
experimentais. A Corporação Britânica de Radiodifusão, na Grã-Bretanha, e a CBS e a
NBC, nos EUA, foram os condutores das transmissões experimentais. A Segunda Guerra
Mundial e os problemas econômicos que a ela se seguiram levaram a Grã Bretanha a
abandonar essas transmissões. Os EUA ficaram bem à frente do resto do mundo no que
se refere à teledifusão. As primeiras teledifusões norte-americanas regulares começaram
em julho de 1936. Com entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, foram
interrompidas em 1941 e retomadas em 1945.
A América Latina foi invadida pela televisão a partir de 1950, ano em que foi
ao ar a primeira estação de televisão no Brasil - a tevê Tupi, de São Paulo, pertencente à
20. rede jornalística dos Diários Associados.. Em 1951, foi inaugurada a tevê Tupi do Rio de
Janeiro . Desde seu início, a televisão brasileira foi acompanhada pelo Ibope, entidade
particular que fornece dados de audiência, através de amostragens.
Avanços Tecnológicos
realizados durante as décadas de 1950 e 1960, ajudaram a melhorar a
qualidade das transmissões. Nos televisores antigos, a maioria das telas media sete ou
dez polegadas (18 ou 25 cm) de diagonal. Na atualidade, são comuns as telas de 21 e 25
polegadas (53 e 64 cm). As melhorias nos equipamentos de transmissão e recepção
deram origem a imagens de televisão muito melhores que as do passado. Antigamente,
todos os programas eram transmitidos em preto e branco. A transmissão a cores
começou em 1953, nos EUA. Em 1972, ela foi introduzida no Brasil, tendo sido escolhido
o sistema alemão PAL3
, em que o aparelho pode transmitir em preto e branco ou a cores.
Os avanços tecnológicos também resultaram em métodos de produção que
beneficiaram os telespectadores. No início, a maioria das transmissões eram produzidas
ao vivo ou filmadas. A revelação do filme leva tempo. Por outro lado, os equipamentos e
as técnicas usadas produziam imagens e sons de má qualidade. Em meados da década
de 1950, os programas começaram a ser gravados em videoteipes são produzidos
instantaneamente, e resultam em quase nenhuma perda de qualidade. Eles também
permitem uma maior flexibilidade no planejamento da programação, e possibilitam
recursos como os replays instantâneos de lances esportivos. Posteriormente, os
cientistas desenvolveram equipamentos e técnicas de filmagem que evitavam quase
totalmente a perda de qualidade na produção.
O primeiro satélite comercial de comunicações, o Early Brid, foi lançado em
1965. Os satélites tornaram possível a teledifusão de âmbito mundial. Através deles, os
telespectadores puderam ver conhecimentos como o primeiro desembarque do homem na
Lua. No mesmo ano do lançamento do Early Bird, o Brasil passou a integrar, com 1% das
ações, o sistema Intelsat.
Televisão na Atualidade
Continua a ser uma fonte de entretenimento, mais do que qualquer outra
coisa. Mas também vem cumprindo o seu papel de cobrir acontecimentos importantes.
Através dos anos, as emissoras de televisão geralmente evitaram temas
controvertidos, tais como aborto, alcoolismo, divórcio, abuso de drogas, sátira política,
preconceito racial e sexo. Em alguns países, isso acontecia por medo de uma queda de
audiência; em outros, pelo rigor da censura. Mas, do fim da década de 1960 em diante,
algumas emissoras passaram a lidar cada vez mais com esses temas, nem sempre de
maneira séria e esclarecedora. A quantidade de violência ou de sexo na tevê tem atraído
um grande número de críticas, assim como a superficialidade no tratamento de assuntos
importantes.
A Torre do Silêncio
Deslocadora de traços culturais de valor tradicionalmente estabelecidos, a TV
é um elemento que perturba e intriga.
Tem sido objeto de preocupações, ora atribuídas ao conteúdo de suas
mensagens, ora localizadas na massa que a recebe.
Devido à contradições que encerra, as televisão tem impressionado mais pelo
lado do reforço do status quo, a serviço do qual existe, do que pelo lado transformador
que também apresenta.
3 PAL: Phase Alternation Line ou, em português, Linha de Alternância de Fase
21. O jornal A Folha de São Paulo, de 31 de janeiro de 1984, publicou, de
Fortuna4
, uma montagem fotográfica em que apareciam lado a lado a Catedral da Sé da
cidade de São Paulo e a Torre da TV Globo, localizada sobre o edifício da Gazeta, na Av.
Paulista.
De bonito efeito visual, acompanhava a montagem a seguinte legenda: As
Torres da Sé e da Catedral do Silêncio.
Catedrais de diferente épocas, marcos simbólicos de momentos históricos
diferentes, como que postos em confronto. À Catedral do Silêncio como que
corresponderiam as torres da Sé. Estas, caberia perguntar, como Catedral da
Comunicação? E se tanto, comunicação de quê, entre quem? Aquela, Catedral do
Silêncio, de quem? Entre o púlpito e a câmera, que pontos comuns, que diferenças?
Situemo-las na época atual em sua coexistência.
Que caracteriza cada uma delas? Um trabalho de bens simbólicos, para serem
distribuídos a uma público seguidor, através de seus respectivos discursos.
A Igreja produz, com base em uma doutrina preestabelecida e inquestionada,
enquanto tal, orientações de conduta, que pretendem ser mobilizadoras da ação de seus
fiéis.
A TV, por sua vez, enquanto canal de notícia, a informação, o entretenimento e
campanhas que visam mobilizar a ação do público. Sua produção encontra-se a serviço
do sistema social em que se localiza. Portanto, também a sua produção baseia-se na
doutrina social, ou na ideologia do sistema, que não é posta em questão.
Promove a difusão dos bens simbólicos que produz através de uma
programação que, apesar de variada, apresenta uma constância estrutural trazida nos
tipos de apresentações levadas ao ar: comerciais, jornais, novelas, shows,
documentários, programas de auditório, entrevistas, reportagens, transmissões de
eventos.
Inserida numa sociedade de capitalismo dependente, terceiro-mundista,
organizada com base em princípios de liberdade de pensamento e de crença, traduzidos
em normas constitucionais, orientada pela ética capitalista correspondente à ideologia
dominante, visa antes e acima de tudo o lucro, a partir do qual tudo se justifica.
Veicula, ao longo de todo o tempo de transmissão, valores e princípios da ética
capitalistas, como o individualismo, a competição, o materialismo, virtuosamente
concretizados nas cenas do comercial, da novela ou do jornal.
Silenciam ambas as torres, catedral e TV, sobre suas doutrinas. Desenvolvem
as duas um trabalho que se pode qualificar de “cataquético”, junto a seus seguidores.
Divergem entre si nos seguintes aspectos:
(20) A TV utiliza apenas a comunicação eletrônica, que no momento em
que se processa inviabiliza o questionamento ou o aparte entre
emissor/receptor, enquanto a Igreja utiliza também os trabalhos de grupo;
(21) A TV expressa a fragmentação de ações, valores, características da
organização da sociedade capitalista, quando através de suas diferentes
transmissões representa as contradições do real, enquanto a Igreja busca
alcançar, através de seu trabalho de base, a unidade ou coerência de ações
de seus fiéis;
(22) A igreja constitui, portanto, um dos inúmeros fragmentos desse tipo
de sociedade e que busca a sua coerência interna através da tentativa de
4 Pseudônimo de colaborador eventual do jornal citado. Este tem por norma não revelar o nome, por isso deixamos de
indicá-lo.
22. superação das contradições a que estão sujeitas todas as instituições, na
ordem social vigente;
(23) A TV, enquanto canal de comunicação da sociedade em que se
insere.
Apreendendo a questão focalizada por esse ângulo de compreensão e análise,
torna-se no mínimo inadequado identificar a TV com a Catedral do Silêncio.
Ela é o único canal social a funcionar como espelho da realidade em que se
encontra, pelo qual veiculam “despudorosamente” as contradições e fragmentações
existentes. Isso, seguramente, não é sinônimo de silêncio; antes, trata-se da “quebra do
silêncio”.
O silêncio existe sim, como já vimos. As suas raízes, porém, encontram-se em
outro local.
É preciso descobrir-lhe com precisão a matriz geradora. A verdadeira Torre do
Silêncio impõe um silêncio tão grande que recai sobre si mesma, no sentido de nunca
revelar-se. Enquanto o meio de televisão constitui o bode expiatório de graves problemas
sociais que por ele transitam, a importante matriz, em torno da qual gravitam,
permanece inabalável ou inquestionável.
A real Torre do Silêncio é a Torre Ausente, que preenche a lacuna entre as
apresentadas por Fortuna e marca de maneira significativa os modos de vida das
sociedades atuais.
Descobri-la implica buscar no processo histórico que engendrou a organização
atual dessa sociedade a sua origem. Num corte histórico, poderíamos localizar o seu
início na Revolução Industrial, cujos desdobramentos sedimentaram em torno da
indústria o modo de produção calcado no modelo capitalista, tal como conhecemos hoje.
Interpõe-se, pois entre a Torre da Sé e a Torre do Silêncio, um terceira, a
alterar s imagem de Fortuna.
Para a compreensão do fenômeno em causa, que exigências a Torre Oculta
introduz no quadro de Fortuna?
A primeira delas é a análise das relações desta com a TV e suas implicações.
Uma fábrica é uma unidade de produção de bens. Criada e mantida pelos
proprietários dos meios de produção, reúne em seu interior um grande contingente
humano, que vende a sua força de trabalho. Trabalhadores qualificados e não
qualificados distribuem-se pelas diferentes tarefas da produção.
As Torres da Sé
As Torres da Fábrica
ou
A Verdadeira Torre do Silêncio
A Torre da Quebra do
Silêncio
23. Marcada pela linha de montagem e pela fabricação em série, hierarquiza a
participação do homem no processo de produção, de maneira fragmentada, propiciadora
da perda de visão, apreensão e compreensão da situação no todo.
Basta, a grandes contingentes populacionais, um saber específico, ligado à
sua tarefa repetitiva e reprodutora. Constituem eles as camadas subordinadas da
população, numerosa mão-de-obra excluída do Poder Decisório de suas respectivas
unidades de trabalho.
O modo de sociedade de uma dada sociedade funciona como uma matriz
geradora da própria forma de organização da vida social. Assim, esse grande contingente
populacional encontra-se praticamente excluído do Poder Político dos países que lhje
conferem a nacionalidade. Constituído uma grande máquina ou engrenagem, tal poder
requer, para ser acionado, saberes específicos diversos, e hierarquizados, a que a maior
parte da população não tem acesso.
Alijados os trabalhadores do Poder Decisório de suas unidades de trabalho,
participam perifericamente do Poder Político, por meio do voto, cujo exercício coloca a
camada dominada da população diante da fragilidade de seu saber/poder político.
A TV é uma indústria de produção de bens simbólicos. Enquanto tal, reveste-
se das mesmas características que acabamos de descrever.
Seu produto, entretanto, encerra uma diferença radical dos demais produtos
industrializados. Uma fábrica de automóveis, por exemplo, coloca mas mãos do
consumidor um objeto que ele usa e troca, um objeto em função do qual organiza sua
vida, um objeto que, além do valor utilitário, distingue o proprietário dentro de uma
“escala de valores” completamente desvinculada da utilidade do “bem” oferecido.
Por sua vez, a TV coloca o telespectador diante da imagem de “um homem com
automóvel”. Esta imagem é o produto televisivo.
Uma TV, a serviço de uma sociedade capitalista enfatiza diretamente as
características da “mercadoria carro”. Uma vez que:
(24) presta serviços à indústria viabilizando o comércio de seus produtos;
(25) está a serviço do comércio oferecendo seus produtos ao consumidor.
Ao mesmo tempo, ao vender a imagem do dono do carro como pessoa de
prestígio, transforma em mercadoria o possuidor do carro. Conseqüentemente,
metamorfoseia o telespectador em mercadoria, uma vez que coloca a seu alcance e em
diferentes doses o prestígio, ou seja, o seu valor, no mundo das trocas sócio-econômicas,
no mercado de trabalho.
O que se percebe é uma relação harmoniosa entre unidades produtoras de
bens diversos, que compõe o atual parque industrial.
Uma diferença básica entre os produtos da TV e das demais indústrias de
bens de consumo põe em risco esta harmonia: enquanto a indústria colocam nas mãos
do consumidor o seu produto, a TV coloca o consumidor diante de si próprio, como
consumidor. Apesar do efeito reforçador que tal situação possa ter, fica como
possibilidade o efeito revelador que o “espelho” encerra sempre.
Aqui surge uma significativa contradição de possibilidades da indústria da TV:
fazer do ser humano uma mercadoria, e ao mesmo tempo, colocá-lo diante desta mesma
realidade.
Assim, a indústria TV tanto está a serviço das demais indústrias quanto, pelo
menos em termos de possibilidade, a seu desserviço.
Como compreender tal impasse? É a primeira vez que ocorre? Ou podemos
encontrá-los em outros momentos?
24. Breves considerações Históricas
Um breve recuo histórico é revelador de que o conflito e a contradição
integram sempre a própria dinâmica social da história do mundo ocidental.
Já vimos que os valores sobre os quais se apóia o modo de produção industrial
opõem-se os valores da igreja. Coexistem, em contradição permanente. Pontificam
diferentes períodos históricos. Também a Igreja, nos seus primórdios, por cerca de cinco
séculos, até impor-se como marco de um período (Idade Média, séc. V a séc. XV)
contrapôs-se aos valores preconizados pela Torre dos Castelos Romanos. E durante os
dez séculos da Idade Média, quando se constituiu em marco de período, não deixou de
enfrentar tradições. Nos primórdios dessa época, é para os bárbaros invasores que a
Igreja se volta no afã de convertê-los ao Cristianismo. Uma vez reconstituídos os Novos
Impérios (após o esfacelamento do Império Romano), com o apoio que a Igreja prestou
aos reis bárbaros, ao longo da primeira fase da Idade Média, passam a coexistir a Torre
da igreja e a Torre do Palácio. Experimentam, daí para diante, nobreza e clero, uma
situação de equilíbrio instável.
O desenvolvimento da vida urbana, do comércio, o rompimento do isolamento
geográfico (cruzadas, grandes navegações) são acontecimentos da segunda metade da
Idade Média que vão acentuar a instabilidade entre as instituições poderosas.
As grandes navegações dos séculos XV e XVI, inicialmente financiadas, são
apoiadas e estimuladas pelos nobres, dão origem a um novo segmento social, o dos
burgueses, comerciantes rapidamente enriquecidos, mas despojados do Poder.
Interpõe-se às Torres da igreja e do Castelo uma terceira: o mastro dos navios,
redefinindo o equilíbrio das forças sociais e imprimindo suas marcas na Idade Moderna,
o novo período histórico decorrente.
Hábeis manobras políticas, nesse novo jogo de forças da Idade Moderna, fazem
o equilíbrio pender para o lado da nobreza, através da consolidação do Absolutismo e da
configuração das monarquias nacionais, abalando progressivamente o poder da Igreja.
Se a Idade Moderna é o período em que o poder da nobreza se consolida
perante o poder do clero, ela é também o período em que aquela se defronta com a
ascensão do povo ao poder. Ainda que dele estivessem excluídas as camadas populares
que apenas circunstancialmente se uniram à grande burguesia enriquecida, na luta
contra os privilégios dos nobres, isso significou que a nobreza, embora vitoriosa sobre o
clero, já enfrentava os germes ameaçadores da sua hegemonia, representados por uma
outra soberania que principiava sua história.
A sua extensão às camadas populares era apenas uma questão de tempo, uma
vez que o excedente econômico gerado pelas ações dos burgueses já vinha de algum
tempo propiciando descobertas e invenções que alteravam profundamente os modos de
produção. Esse período de transformações gerado pelas grandes invenções, iniciado na
Idade Moderna e que se convencionou chamar Revolução Industrial, com características
tão radicais e transformadoras do processo de produção, teve repercussões inevitáveis na
vida social.
Crescimento fenomenal da população ocorreu nos séculos XIX e XX ligados
mesmo à melhoria da qualidade devida, propiciado por todo o avanço tecnológico.
Um espantoso aumento na produção teve como conseqüência a popularização
de produtos antes destinados a uma elite, e o complementar surto de expansão
imperialista, em busca de novos mercados consumidores, responsável pelo surgimento
do neocolonialismo.
Alterações no próprio processo produtivo, com a introdução das linhas de
montagem e da fabricação em série, condenam o trabalhador a repetir rotineiramente,
durante todo o dia, uma tarefa simples e monótona, em etapas estanques e
compartimentadas.
25. Dessa forma, a fábrica neutraliza as situações se contato que propiciou, pela
reunião dos trabalhadores nesse estabelecimento, ao criar um modo de trabalho que se
traduz numa ação simples e padronizada, cuja importância ou significação no produto
final pode ser perdida de vista.
Em meio a todas essas alterações surge a TV, canal de comunicação cujo uso
se populariza em pouco menos de um quarto de século e através de outras formas de
vida social, especialmente da classe média (pela própria organização da TV). A população
em geral toma conhecimento de fatos, ocorrências, eventos culturais e políticos,
movimentos sociais e políticos, idéias em debate, polêmicas da atualidade de seu país e
de outras partes do mundo.
Ainda que toda essa informação seja crivada pela própria forma de
organização da TV e pelo caráter seletivo de consumo, de novo é a possibilidade de
rompimento de isolamento que se instaura, a partir dessa Nova Torre.
Enquanto as outras torres pontificadoras dos períodos da história da
civilização ocidental introduziram impasses e conflitos que lentamente gestaram-se e
difundiram-se (a Igreja levou cinco séculos até se instaurar como marco histórico;
durante dez séculos disputou com o Castelo a supremacia, os Mastros dos Navios
despenderam quatro séculos na disputa com os Castelos até conseguirem desembocar
na Torre da Indústria, que contraditoriamente os reforça ao mesmo tempo que os
ultrapassa), ocasionando ajustes que adequaram ao longo do tempo as modificações
decorrentes dos limites desejados e suportáveis, a TV:
(26) Irrompe nas histórias das Torres da Humanidade, como e enquanto
indústria;
(27) em menos de 25 anos difunde-se de maneira praticamente universal;
(28) espelha para a humanidade as contradições e conflitos das e entre as
instituições que reflete;
(29) revela conflitos e tensões num ritmo mais acelerado do que as
expectativas supunham;
(30) introduz mudanças de comportamento que superam as expectativas;
(31) atropela as diferentes cogitações e modos de compreensão que são
socialmente construídos sobre ela.
A história da hegemonia popular no mundo ocidental vem se construindo
desde a Idade Moderna, tendo assumido contornos mais nítidos em alguns momentos,
como na Revolução Francesa. Mas foi só com o surgimento do proletariado, a partir da
Revolução Industrial, que passou a incorporar todas as camadas dominadas, ou dizer
respeito a elas.
Trata-se de uma história que vem se tecendo com a lentidão de séculos,
articulando-se na medida de suas forças organizadoras e desarticulando-se na medida
da recomposição das forças hegemônicas.
É-nos, por exemplo, pesaroso reconhecer que apesar de imprensa ter sido
invenção de meados do século XV; de ela ter se imposto como um valor cultural
altamente reforçado com o desenvolvimento da vida urbana e do processo de
urbanização; de ela poder ser um meio eficiente de comunicação, não vem sendo
plenamente utilizada.
Ainda que movimentos sociais, como a Reforma, a Revolução Francesa,
tenham já reivindicado a escolaridade para toda a população, reconhecendo e
referendando a necessidade de estender o conhecimento do código escrito a todos, hoje
cinco séculos depois enfrentamos, especialmente nos países do Terceiro Mundo, o sério
problema de altas taxas de analfabetismo. Enquanto em cinco séculos os meios
26. impressos ainda não se fizeram acessíveis a extensas camadas da população, em um
quarto de século o meio televisivo atingiu a todos.
À Respeito da TV
Do lado da produção televisiva, a questão da tão propalada hegemonia da
classe dominante, a serviço da qual se encontra a TV, encerra a preocupação real que se
concentra embutida na afirmação segundo a qual a TV é “via de mão única”.
Atesta Mendonça (1982:92) que hegemonia é a “direção político-ideológica que
a visão e os interesses da classe dominante dão ao contexto geral da sociedade”. Alerta
também para o fato de que a ideologia dominante não é única formação ideológica num
contexto social. No embate com as demais, não é algo absoluto, pois é historicamente
determinada e sujeita às contradições de uma sociedade em movimento.
É preciso considerar que, da mesma maneira, a ideologia e as formas de
expressão das classes subalternas são sujeitas às mesmas contradições que as da classe
burguesa, pois como as desta, são também historicamente determinadas.
Através de tal quadro conclui-se pelo caráter movediço do terreno da
comunicação por toda a extensa área de localizações na nossa sociedade.
A incorporação desse conflito nos produtos culturais apresentados pelos meios
de comunicação de ,assa é o ingrediente especificamente responsável, segundo
Mirada (1978), pela maior generalidade ou universalidade do objeto cultural simbólico-
industrializado, que assim fica dotado de amplas possibilidades conotativas, a partir da
variada gama de significados que possa comportar.
Assinala em seu trabalho, com exemplos, considerações teóricas, a
consciência que os profissionais da comunicação têm desse conflito, bem como a
intenção de incluir as suas próprias opiniões no produto acabado e os meios e recursos
de que dispõem para tanto. E afirma que:
“nesse contexto marcado pela intencionalidade ideológica do empresário,
haveria a possibilidade constantemente concretizada de ‘rupturas’, que sem descaracterizar
a ideologia permitiriam contudo uma leitura crítica, ou, ainda, que o leitor passasse por alto
certas conotações ideológicas não correspondentes a seu próprio estereótipo. (Miranda,
1978:120)”.
Um outro aspecto importante a ser considerado no estudo do pólo emissor diz
respeito à representação fragmentada da realidade que o meio é freqüentemente acusado
de fazer.
A respeito desta fragmentação, cumpre indagar se o meio é seu promotor ou a
espelha, desvelando-a. Pondera-se que ao fazê-lo sem críticas, referenda este estado das
coisas. Cogita-se também do provável efeito da fragmentação da consciência de seus
consumidores, pelas características do produto que apresenta.
Argumenta Miranda (1978) que a produção industrial da cultura distingue-se
das demais produções culturais, em termos de qualidade, pela sua multissignificação e
pela conseqüente leitura polissêmica que possibilita.
É justamente essa característica - que decorre da incorporação dos conflitos
experimentados pelos fragmentos sociais antagônicos participantes do processo de
produção; da consciência que têm deste fato; dos recursos de que dispõem para
expressá-lo através do meio - que faz com que tal produto cultural possa ser recebido por
diferentes camadas sociais, obtendo respostas diversas de cada uma delas.
Como bem coloca Milanesi (1978):
“Através de sondagens, pesquisas de opinião, as respostas vindas de baixo
para cima serão meticulosamente qualificadas e analisadas, sendo possível assim
27. encontrar as respostas do mercado consumidor, as suas preferências e, a partir daí,
estabelecer correções de trajetórias de todos os programas da indústria cultural”.
Não se trata, pois, de o indivíduo ser eliminado do circuito, mas de tomar-se
como referencial um outro modelo de comunicação, tido como de mão dupla de direção,
emissor-receptor, diferente dos já conhecidos modelos de comunicação interpessoal ou
intergrupal.
No caso da TV, trata-se antes de um circuito mais complexo do que os últimos
referidos e que só tem o alcance que se sabe, por não eliminar o indivíduo do circuito;
apenas relaciona-se com ele por uma via indireta, porém muito segura.
Na comunicação de massa, via TV, ocorre uma alteração do processo
interpessoal e intragrupal de comunicação, devido ao número de participantes
envolvidos, o que modifica a própria natureza do processo, tornando-o complexo.
Continua, contudo, sendo de mão dupla, sem o que a própria “Comunicação” não se
efetivaria e a TV não realizaria os seus intentos.
Ousaríamos mesmo dizer que é por considerar o indivíduo em seu circuito que
a TV desperta tanto interesse.
A etapa do social não é queimada no processo de comunicação televisiva.
Siupor isso é pensar o indivíduo como uma tábula rasa, na qual vão ser imprimidos,
mecanicamente, todos os estímulos que recebe.
Sabemos hoje que o consumo de TV é seletivo. E são canais de seleção os
grupos primários, as classes sociais, o nível de escolaridade, as crenças religiosas; em
resumo, as experiências de vida do consumidor. Em outras palavras, é a sua vida social,
a sua experiência grupal que orienta essa seleção (que acontece a despeito de nossa
vontade consciente) e que também “processa” os dados selecionados.
A respeito disso diz Pfromm Netto (1972):
“Hoje predomina entre os especialistas a concepção segundo a qual o indivíduo
exposto aos meios de comunicação de massa é, em primeiro lugar, um seletor ativo de
matéria de meios de comunicação de massa que se vai expor e mesmo durante a exposição
presta atenção seletivamente, variando em função disto o que o indivíduo é capaz de
lembrar. Além disso, o que o sujeito assimila tem diferentes efeitos em função das
necessidades do indivíduo e a qualidade do seu ajustamento à sua situação de vida(...)”
Portanto, o ato de consumir TV começa antes dele próprio, na vida social do
sujeito, e acaba depois dele, na mesma vida social.
É nos grupos que o indivíduo vai trabalhando as impressões, idéias,
informações recebidas via TV; é aí no embate de pontos de vista discrepantes, no
confronto de semelhantes visões e no encontro delas, que se vai apropriando da imagem
que recebeu, a partir da qual elabora a sua imagem própria.
Como McLuhan considera que “a ‘mensagem’ de qualquer meio (por ele
também chamado de tecnologia) é a mudança da escala, de andamento ou de padrão
por ele introduzida nas relações sociais” (apud Coelho, 1985: 50-51), talvez se possa
mesmo concluir, por essa ótica, que a mensagem da TV seja essa mudança de escala do
modelo de comunicação.
Se a intenção entre os agentes sociais, sejam eles duas pessoas, um grupo ou
um grande número diferenciado de indivíduos, realizar-se dentro de uma ordem
autoritária, o uso possível das mensagens produzidas será muito diverso daquele que
pode ocorrer, por exemplo, em uma ordem democrática.
Como a TV permeia as relações sociais, é importante explicitar a natureza da
comunicação visual. Compreender o processo de significação encaminha-nos
necessariamente apara a análise de como operar os signos empregados pela TV, na
aproximação possível entre telespectador e a realidade representada.
28. O que ocorre é uma relação entre o próprio signo (tudo o que representa ou
está no lugar de outra coisa, um representante), o referente (aquilo a que o signo se
refere e é por ele representado) e o interpretante (conceito, imagem mental ou
representação construídos na mente do receptor do signo).
A respeito desse assunto, Teixeira Coelho (1981) faz clarificantes colocações
em seus trabalhos. Sigamos a trilha de seu pensamento.
Os signos não são todos do mesmo tipo, e sucede que a cada tipo tende a
ocorrer uma alteração na qualidade do relacionamento entre ele próprio e o seu receptor.
Os interpretantes transmitidos pela palavra “caveira”, pela fotografia de uma
caveira ou pelo desenho de uma caveira afixada numa tabuleta num cruzamento com
ferrovia dão margem a diferentes aproximações da realidade apresentada.
Para a compreensão de cada um deles, um tipo de solicitação ao receptor.
Um ícone (foto) possibilita ao seu receptor conhecer o objeto representado ou
reconhecê-lo, caso já seja seu familiar. Trata-se, portanto, de um signo que pode ser
revelador de novo, do desconhecido.
Já um índice (tabuleta) nada significa, se o seu receptor ainda não tiver
conhecimento do objeto representado e das relações entre ambos (morte e caveira, no
caso considerado). Trata-se, portanto, de um signo repetidor.
Finalmente o símbolo (palavra) possibilita ao receptor conhecer o objeto
representado através dele; não exige o conhecimento prévio do mesmo, embora não
garanta o conhecimento da coisa representada, tal como ela é. Encerra, portanto, um
certo potencial revelador.
A cada tipo de signo, a possibilidade de um tipo de consciência denominada
pelo autor considerado, respectivamente, de consciência icônica, indicial e simbólica. É a
seguinte topologia por ele elaborada:
A consciência icônica
(32) opera basicamente com o sentir e com o sentimento;
(33) atua através do procedimento analógico;
(34) contenta-se em formar raciocínios não definitivos, não conclusivos;
(35) é a consciência da intuição, das sensações.
A consciência indicial
(36) procura formar algum tipo de juízo;
(37) é uma consciência de constatação;
(38) só revela aquilo que já foi revelado (que já é conhecido).
A consciência simbólica
(39) é interessada na investigação do objeto;
(40) produz as convenções, as normas;
(41) pretende conhecer causas;
(42) é lógica, quer saber a razão.
Pondera o autor em relação à consciência icônica que
“esse modo de conhecimento, baseado da intuição e na empatia (isto é, não
sentir o objeto, mas sentir como o objeto, penetrar no objeto e sentí-lo por dentro),
freqüentemente é aquele que leva às verdadeiras e significativas descobertas, embora não
se possa demonstrá-lo. Grande parte das descobertas feitas pelo homem (senão todas),
29. incluindo as científicas deve-se à prática de uma consciência desse tipo, ou a uma prática
que contém em ampla escala esse tipo de consciência (Coelho, 1981:67)”.
A respeito da consciência indicial, considera que a pessoa que recebe o signo
indicial
“deve praticar certo ato, deve despender alguma energia no processo de
recepção do signo. A recepção do signo indicial implica um certo esforço, físico ou mental.
Sforço que se caracteriza no ato de seguir na direção apontada (Coelho, 1981:68)”.
A televisão, o espaço dos “signos”, por excelência, lida ao mesmo tempo com
os três tipos de signos aqui destacados. Com o ícone e com o símbolo explicitamente,
através das imagens que leva ao ar e da linguagem falada nela presente. Com o índice,
implicitamente, numa operação menos visível, como a análise de um caso pode elucidar.
Antes de passarmos a esta análise de um programa de TV, não é possível
desconsiderar um atributo do pólo destinatário que tem colocado estudiosos do
problema da telecomunicação industrial em posições diametralmente opostas.
Trata-se da questão do prazer, do gosto, sempre presente mo ato de assistir à
TV, ato voluntário e generalizado, identificado com o lazer.
Numa tentativa de reunir os diferentes tipos de programação apresentados na
TV (bem como por toda a indústria Cultural) em categorias, que nos permitam melhor
desvendar a natureza do seu papel na vida social, pode-se afirmar que ela trabalha
basicamente com “informação” e “entretenimento”.
Segundo Miranda (1978:117), “o que tipifica a cultura de massa não é a
indústria das informações e sim a indústria do lazer”. Pondera que o recurso ao lazer 9e
ao prazer dele decorrente) como forma de aliviar as tensões do cotidiano e recuperar as
energias é recurso secularmente utilizado pela humanidade.
Considera, a seguir, que nos dias atuais a industrialização proporciona
enorme quantidade de lazer, acompanhado de sua valorização social e da apresentação
dessa expansão como se fosse uma conquista da humanidade.
Acredita que toda essa oferta tenha por finalidade “fazer derivar as
insatisfações e ocultar a inexistência ou morosidade de conquistas sociais concretas”
(Miranda, 1978:162).
E afirma de maneira conclusiva:
“o que é novíssimo é propor a substituição do ato de amor constituído pelo
esforço de construir uma sociedade mais capaz de satisfazer as aspirações humanas pelo
ato masturbatório de obter satisfação individual por esforço mínimo de imaginação em um
pseudo-universo isolado”.
Tantas afirmações, tantas as questões suscitadas.
Por que tal expansão da oferta de um recurso aliviador de tensões e
recuperador de energias não seria de alta importância social e uma conquista da
humanidade e da era tecnológica?
Por que não seria m recurso salutar na manutenção do equilíbrio psíquico e
social do ser humano e conseqüentemente na manutenção em bom estado da sua
capacidade de construir cultura, de significar-se (ainda que nos limites da historicidade
de suas relações sociais) e de poder assumir-se produto e produtor da história?
O ato de amor, de construir uma sociedade mais capaz de satisfazer as
aspirações humanas, que requer esforço (enorme esforço) não se reduz a penas e
sacrifícios. Sua significação gera prazer, muito prazer. Suas lides, porém, produzem
cansaço. Enorme cansaço!
30. Por que colocar, então, como antagônicos ou excludentes os esforços de
construção de uma sociedade mais justa com as oportunidades oferecidas pela
sociedade que se quer transformar?
Esforço/cansaço e lazer/prazer/recuperação das energias não seriam em vez
de situações antagônicas, situações complementares?
Finalmente, quem é que propõe a substituição de uma situação pela outra?
Não seria a própria indústria Cultural, de cujo produto o conflito subjacente
às formas de produção da sociedade capitalista emerge (no caso da informação) ou é
representado 9 no caso do lazer), ainda segundo a análise de Miranda?
A propósito da mesma questão do prazer, aponta-nos Coelho (1981) que “é
muito comum ler uma crítica que exige seriedade e engajamento da TV ou do rádio, ao
invés de diversão, esquecer totalmente essa exigência quando por exemplo se trata de
um filme de Fellini”.
Comenta a seguir que tudo se permite quando se trata da “cultura de elite”,
não ocorrendo o mesmo quando se trata das demais culturas, tidas como inferiores.
Destas, exige-se seriedade. Chega em seguida à questão central em toda essa
argumentação. Comenta com ironia: “a massa é ignorante e portanto não pode perder
tempo com prazer; temos, nós, de torná-la culta, através da seriedade”(Coelho, 1981).
Com isso nos remete: ao conceito de massa como sinônimo de aglomerado de
indivíduos amorfos e passivos com o qual não nos identificamos e nem tampouco
Miranda (1978); evidencia a “substituição do esforço construtor pela derivação das
insatisfações vis lazer/prazer”, afirmada por Miranda como uma discriminação criada
pela cultura de elite; alerta para a relação mecânica TV-receptor que fica igualmente
suposta de maneira implícita naquela crítica.
Reafirma a importância da saúde psicossocial, destacando a função do prazer
nesse processo. Alerta para o equívoco contido nas críticas anteriores que necessita ser
superado a fim de que se possa colocar a Indústria Cultural a serviço da sociedade.
Fica, pois, em aberto que será o uso social que se consiga fazer desse prazer
colocado ao alcance de todos que definirá o seu significado social, e não a sua mera
existência.
A meta final pretendida nesse trabalho e trazer alguma contribuição, referente
ao uso e à produção dos objetos culturais simbólicos veiculados pela TV, no âmbito
recepção.
Preocupamo-nos com o desenvolvimento da consciência real, histórica, em
detrimento de ‘consciências outorgadas’.
Entendemos que a emergência das consciência crítica ou histórica deve fluir
das próprias classes subalternas. Entendemos ainda, enquanto estudiosos da questão e
educadores, termos um papel a desempenham que não se confunde com a “outorga de
uma representação da consciência”. Mas se identifica com ações que podemos e devemos
desenvolver na instituição escola, com a população de diversas origens que a freqüentam
e que poderão acelerar esse processo de conscientização.
Esta tarefa só será possível através de uma dada concepção de escola e de
uma compreensão tão ampla quanto possível, no nível do concreto, das mensagens ou
dos objetos culturais simbólicos que nos são oferecidos.
A análise de um programa de TV na qual se tente dar conta das questões aqui
consideradas - hegemonia, razão, prazer - poderá nos aproximar bastante no intento que
pretendemos alcançar.
31. Durante o período de 19/08/81 a 21/10/83, foi levado ao ar pelas TV’s o
programa “O Povo na TV”. Tratava-se de um show de entretenimento, voltado para as
camadas populares.
Razões de várias ordens encaminharam a escolha de um programa desse tipo
para se efetuar a análise do potencial alienante e/ou revelador do meio TV.
O índice de audiência que alcançava na época era revelador de seu amplo
consumo; o apresentar-se como um serviço à disposição da população que dele
necessitasse, o fato de colocar no ar os telespectadores que dele se serviam, o fato de ser
um programa que interagia com seu público (parte dele presente no auditório, parte dele
presente através da comunicação telefônica que estabelecia), transformando-o também
em espetáculo, a sua composição, caracterizada pelas variedades que levava ao ar, eram
características altamente sugestivas para este estudo.
No dia 13 de maio de 1983, doze quadros diferentes compuseram o show.
(43) Garota seduzida casa-se e é abandonada pelo “suposto” marido;
(44) Soldado responsável pelo policiamento de trânsito é elevado à posição
de assessor imediato do diretor de trânsito do RJ;
(45) Discurso do apresentador sobre as dificuldades enfrentadas pelo
Presidente da República na administração de um país como o nosso;
(46) Apresentador entrevista o Presidente da Conerj;
(47) A personagem de TV Sérgio Malandro apresenta a figura exótica
denominada “rei do tá tá tá”;
(48) Senhora ludibriada na confecção de uma moldura de retrato do pai;
(49) Uma avó idosa que busca auxílio para sua sobrevivência, emprego
para uma filha contadora e roupa para uma netinha ser dama de honra
num casamento;
(50) Apresentador entrevista o secretário de obras do Rio de Janeiro;
(51) Apresentação de um ladrão de ferro velho;
(52) Apresentador apresenta três comissários de bordo em homenagem ao
dia do comissário;
(53) Uma senhora acompanhada de sua filha pede a volta do marido;
(54) Mãe solteira procura uma solução para seu caso, pois não pode
trabalhar com o bebê.
A temática aliada à ordem estabelecida projetava ao longo de toda a duração
do programa a ideologia dominante.
Oferecia informações:
Legais e Religiosas no primeiro quadro, além dos valores urbanos que colocava
à disposição da garota, em choque com os da mãe, tradicionais; Político-administrativas,
nos quadros em que se entrevistavam autoridades; Profissionais, como no quadro dos
comissários de bordo.
O apresentador, com seu programa, coloca-se como o guardião das leis, das
normas. Quem era o povo que estava presente, como convidado?
Representantes das camadas subalternas, em sua maioria, e alguns
representantes do poder (ou presentes como convidados ou trazidos à presença, pelas
referências que a eles se fazem).
32. Não se trata da oportunidade do encontro e do diálogo entre as partes
presentes. Entre o povo e os representantes do poder, o apresentador e os seus
assessores, a equipe da televisão. E o senhor Hilton Franco e sua equipe dirigindo-se à
“essa gente de casa humilde”, analisando e julgando a partir de sua ótica, os casos
apresentados, dando-lhes suas soluções; aos portadores deles, às reprimendas ou os
elogios.
Através do programa televisivo focalizado, dados em grande quantidade sob
diferentes assuntos foram ao ar; porém em cada um deles apenas um aspecto ou
sentido singular era considerado sem se cuidar de sua compreensão mais ampla.
Assim, a TV cumpre outras funções, além de incentivar o consumo, todas
reificantes, como: narcotizante, dando ênfase ao divertimento, camuflando realidades
intoleráveis, oferecendo oportunidades de escapismo; de reforço das normas
estabelecidas; a de simplificar os produtos que apresenta de modo a suscitar uma
atitude passiva do consumidor; de assumir uma atitude paternalista, dirigindo o
consumo; de promover a deturpação do gosto popular.
Trata-se, em princípio de um processo alienador.
Lazarsfels e Merton afirmam:
“A extensão da influência que os MCM têm exercido sobre a platéia deriva não
só do que é dito, porém, mais significativamente, do que não é dito. Pois estes meios não
apenas continuam a afirmar o status quo, mas, na medida, deixam de levantar questões
essenciais sobre a estrutura da sociedade.”
Que foi que não ficou dito no programa analisado? Os aspectos essenciais dos
problemas ali tratados, que trariam para a reflexão pontos cruciais da nossa organização
social, como; questões de previdência social, do menor abandonado, da segurança, do
desemprego como um dos aspectos da crise maior vivida pelo país.
Assim foi, nos quadros que tratavam da família.
Os múltiplos aspectos que configuravam a cena da avó com a netinha e
refletiam a situação econômica do país na época ficaram reduzidos à situação singular
do “cupim no pé da máquina de costura da senhora”.
O fato de a avó idosa ainda tem de ficar curvada sobre a máquina para
garantir o sustento próprio e o de sua família sequer é mencionado. Pelo contrário, o seu
esforço é enfatizado e comove profundamente todos os presentes. A produção sabe disso,
e o apresentador explora esse aspecto para mobilizar pessoas a consertar o pé da
máquina da vovó, chegando mesmo a conseguir a doação de uma máquina com motor.
No caso da senhor separada do marido, nenhum dados dos tantos oferecidos
por ela de sua vida sofrida (sofrimento na mão do marido, perda do pai que suicidou-se e
perda do lar) é considerado. Trata-se mais uma vez de um caso fatal: a doença dos
nervos.
O problema da mãe solitária é apresentado a partir do gato de ela não ter
voltado para a família que a criavam quando já num orfanato, se arrependera dessa
ação. O fato de ela ter sido criança abandonada e sofrer experiência ruim no orfanato são
desconsiderados.
A sedução da garotinha pelo rapaz da cidade grande é focaliza através da
posição singular da mãe que quer que esta se case, quando a menina não mais deseja
fazê-lo. O problema passa a ser o preconceito e a intransigência da mãe.
O choque de valores vivido pelas pessoas no processo de migração interna não
é objeto de cogitação. A origem cultural de mãe e filha, procedentes do interior de
Pernambuco, a pouca idade da jovem, possibilitando mudança mais rápida de valores e
modos de vida, pela aculturação menos completa ao meio de origem, passam
despercebidas.